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Rotinas

Uma hora antes da primeira aula na escola primária de Forks, fui acordar
Renesmee, a minha filha:
- Ness, acorda... – sussurrei, ternamente.
- Humm...
Apesar de ter completado quatro anos de idade em Setembro passado,
Renesmee aparentava ser uma rapariga de oito anos, alta, elegante, graciosa
(neste ponto, saía à sua tia Alice, que se sentia muito orgulhosa por a sobrinha
ter herdado esta sua qualidade) e espantosamente bonita.
- Vamos lá, hoje tomas o pequeno-almoço aqui em casa, porque os avós, os
tios e o pai foram caçar. – informei-a, enquanto abria as cortinas.
- Está bem, mãe, ganhaste, vou levantar-me... – disse Nessie,
espreguiçando-se, já fora da cama. – Como está o tempo hoje?
- Enevoado e chuvoso, como sempre, mas a tua tia previu que a partir do meio
da manhã, as temperaturas rondassem os 17º. – declarei, enfadada com
aquela resposta de rotina.
Podia ter mudado em muitos aspectos físicos e intelectuais, desde a minha
transformação em vampira, mas não mudara a minha aversão ao tempo
característico de Forks, embora fosse consciente que era o necessário para que
nós, os Cullen, nos pudéssemos manter à vista da população humana.
- Tens razão, como sempre... – resmungou a minha filha, suspirando logo de
seguida. – O Jake já chegou?
- Ah, é verdade, hoje sou eu que te vou levar à escola. O Jacob teve de ir
delimitar umas fronteiras com a alcateia do Sam, por isso está previsto que
falte à primeira aula, Nessie. – respondi.
Tinha desistido de proibir toda a gente de chamar Nessie ou Ness à minha
filha...afinal, o diminutivo nem era assim tão mau, e até lhe ficava bem, pois,
quando era mais nova, Renesmee era um verdadeiro monstrinho.
- Veste-te filha, enquanto vou preparar o teu copo. Já começas a ficar com
umas olheiras um pouco incómodas e que te estragam esse perfil maravilhoso.
O único sangue que temos pertence a herbívoros. Aliás, o teu pai foi caçar
propositadamente para te arranjar mais sangue de carnívoros. Todos sabemos
que este sangue que temos hoje não sacia ninguém.
- OK, mãe, vou já! – disse Renesmee, com uma voz normal, quase sussurrada,
que ouvi perfeitamente, apesar de me encontrar do outro lado do terreno da
nossa pequena casa de campo, onde tínhamos construído um anexo onde
armazenávamos sangue para emergências para toda a família. Uma das
qualidades de ser vampira era poder ouvir sussurros a quilómetros de distância,
sem ter sequer de forçar a minha apurada audição.
Nesta altura, a casa de campo estava decorada com fotografias de família, de
todos os membros, assim como com retratos a óleo, a carvão e a guache
aprimorados por Jasper, o melhor pintor da família.
Todos os membros adultos da família Cullen (não contando com Renesmee),
tinham qualquer coisa com que se entreter e em que eram magnificamente
bons: Edward tocava piano, lia e estudava Ciências e Línguas diversas; Carlisle
ficara entusiasmadíssimo com Nahuel e Huilen, os vampiros que nos tinham
salvo num Outono muito distante, porque Nahuel era também da mesma raça
híbrida de Renesmee, pelo que ele e Esme faziam viagens até à Amazónia onde
este estudava diversas raças híbridas, com a ajuda dos amigos nómadas; por
outro lado, quando estava em casa, Esme dedicava-se à decoração de
interiores, quando viajava com o marido dedicava-se ao ensinamento do
“vegetarianismo” a outros clãs de vampiros, tendo algum êxito; Alice passava
todo o seu tempo livre a arrumar e limpar todos os cantos da imaculada casa
branca dos Cullen, assim como a aperfeiçoar todas as peças de roupa da nossa
casa grande e também da casa de campo ou ainda a embelezar Renesmee.
Embora tal parecesse impossível, Alice não parava de me surpreender, obtendo
sempre resultados mais perfeitos do que os anteriores; Jasper passava o seu
tempo livre a observar Alice, para depois a retratar, ou ainda a seguir-me,
enquanto eu cirandava para cá e para lá, nos meus afazeres. Edward afirmava
que aquelas perseguições nada tinham a ver com alguma aversão, mas sim
com relutância em afirmar que eu, apesar de ser mais nova que o meu irmão,
era bastante mais controlada; Rosalie era parecida com Alice na forma como
tratava Nessie. Tal como uma bonequinha de porcelana. Por isso, desde o
nascimento da minha filha que as minhas irmãs faziam todas as semanas
prolongadas expedições em busca de roupa que assentasse perfeitamente no
corpo da sobrinha. Por vezes, durante a noite, Rosalie também se dedicava a
compôr melodias no piano, que tocava para toda a família, ao serão; Emmett
perdia todo o seu tempo no computador, pesquisando acerca de carros mais
velozes do que os que já possuíamos, alguns que estavam ainda a ser
estreados na Ásia, não tendo sequer chegado à Europa, quanto mais aos
Estados Unidos.
Só eu não fazia nada no meu tempo livre, ainda não tinha descoberto a minha
obsessão, dentre todos os passatempos quotidianos do mundo “normal”, dizia
Edward.
Andava a pensar seriamente em cultivar legumes e frutos numa pequena horta,
por trás da minha casa de campo, mas ainda teria de me informar muito bem
sobre todos os prós e contras...
- Estou pronta, mãe! – informou a minha filha, sobressaltando-me, de tão
absorta que estava nestes meus pensamentos. – Assustei-te? Parecias
surpreendida...
- Estava só a pensar na vida, Ness, não te preocupes. Esta coisa da eternidade
dá muito que pensar, sabes. Mas vá, despacha-te a esvaziar o copo que está
em cima da banca. Acabei de o arranjar. – justifiquei-me, admirada com a
perspicácia que a minha filha tinha herdado de Edward.
- Tudo bem, já bebo. Vai indo para a casa grande. Eu lavo a louça e já te
apanho. Não te preocupes.
- Até já, então. Não te sujes! – adverti.
- Até já, mãe!
O dia estava enevoado, mas com a minha apurada visão, podia constatar que o
que Alice tinha visto era verdade. Ao longe, talvez a uns duzentos metros do
prado de Edward, era-me possível visualizar um rasgo de luz do Sol.
Corria a toda a velocidade, como me sabia bem...
Conseguia ouvir os lobos, perto da reserva, a uivar. “O que se passará?”
“Não deve ser nada de mal. Não te preocupes, Bella. O Jake sabe tratar de si.”
Lá estava a grande casa branca, sem ninguém. Nenhum ruído, nenhuma
respiração. Dirigi-me à garagem, onde estavam estacionados cinco lustrosos
carros topo de gama e uma moto brilhante, acinzentada. Retirei com agilidade
a chave do carro e carreguei no botão para destrancar o Volvo do meu marido.
“Pelo menos, é menos vistoso que o meu Ferrari.” Tal como tinha prometido,
Edward cumprira a sua condição do meu “carro para depois”, um Ferrari F430,
vermelho e muitíssimo exuberante. Sentei-me no Volvo, à espera de Nessie,
relembrando por momentos o dia em que tinha entrado naquele carro pela
primeira vez, em Port Angeles, quando estava rodeada por uns psicopatas que
me queriam fazer muito mal. Edward tinha salvo a minha vida, assim como eu
salvara a dele mais de um ano depois, em Itália.
Um calafrio percorreu-me a espinha ao evocar a imagem dos vampiros com a
pele quebradiça cor-de-azeitona envoltos em mantos pretos, que sempre me
vinha à cabeça quando pensava naquele maldito dia em que o meu amado se
tinha tentado matar.
- Podemos ir, mãe, já cá estou. – refilou Renesmee.
- Caramba! És rápida, filha! Espero que o copo esteja bem lavado. – respondi,
na brincadeira.
Chegámos num piscar de olhos. A obsessão que a minha família de vampiros
tinha por conduzir a alta velocidade tinha-me conquistado. Comecei a confiar
imenso na minha condução, quando dei conta que os meus reflexos eram cem
mil vezes melhores que quando era humana. E Renesmee parecia deliciar-se ao
observar as árvores a passar a uma velocidade vertiginosa.
- Chegámos, Ness. Desejo-te um bom dia de aulas! Não te atrases! –
recomendei-lhe.
- Adeus, mãe. – despediu-se a minha filha, dando-me um beijo caloroso na
face. A seguir, tocou-me na mão, mostrando-me uma sala de aulas com,
calculei, a sua turma e, numa carteira, estava sentada a minha filha, triste, a
pensar, obviamente, em Jacob.
Quando eu e Edward inscrevemos Renesmee na escola primária de Forks,
Jacob deixou a escola da reserva, embora já não frequentasse as aulas há
muito tempo ainda lá estava matriculado, e fixou-se no liceu da nossa cidade,
para passar mais tempo com a sua alma gémea, o alvo da sua marcação. Este
facto ainda me punha muito confusa, não sabendo como uma meia-vampira
conseguiria viver ao lado de um jovem lobisomem. Depois, decidi deixar isso
para o futuro, como fazia sempre que algo me preocupava.
A vida estava tremendamente melhorada para Jacob porque, ainda por cima, a
escola primária frequentada pela minha filha ficava “colada” ao liceu, podendo
Jacob e Nessie estar juntos muitas vezes ao longo do dia.
- Ele volta, não te preocupes. Nem vais dar pelo tempo a passar. – animei-a,
sorrindo. E fiquei a vê-la ir embora, recordando os meus anos na escola ao
lado, sem dúvida os melhores da minha vida humana.
Ao longe, avistei o Citroen de 1990 cor-de-rosa da minha “amiga” Jessica
Stanley, que certamente ia trazer o seu Jason para a escola.
- Bella, há quanto tempo!! – exclamou Jess, admirada com a minha presença.
- Olá, Jess! – cumprimentei educadamente. – Bom dia Jason!
- Bom dia, Sra. Cullen. – saudou Jason, timidamente. – Adeus, mãe, tenho de
ir para as aulas. – despediu-se, pondo-se em bicos de pés para dar um beijo
terno à sua mãe, visivelmente orgulhosa.
- Oh, Jess, é fantástico saber que a operação correu tão bem! – exclamei.
- Bella, tu nem imaginas como eu e o Mike nos sentíamos sempre que
pensávamos na possibilidade do Jay não se adaptar e assim e... – exclamou
Jess, entristecida com aquelas lembranças. – E como vai o Edward? –
perguntou, já preparada para a fofoquice, coisa para que eu não tinha a
mínima paciência.
- Ele está muito bem, obrigado, assim como o resto da minha família. –
declarei, enfadada. – E o Mike, como está?
- Também está bom. Como sabes, ele está a trabalhar na agência de mobiliário
de Olympia e foi recentemente promovido! Quer dizer, já foi há um mês ou
dois, mas já não te vejo há tanto tempo que não tinha como te dar a notícia.
Não costumas trazer a tua Nessie à escola... No teu lugar, tenho visto aquele
rapaz, o Jacob. Ele nunca muda, pois não? – questionou, não dando muita
importância à sua própria pergunta.
- Nem por isso. Mas ouvi dizer que o Jason vai ter um irmãozinho...! –
exclamei, fingindo surpresa, pois já sabia disto há muito tempo, visto que Alice
tivera uma visão em que Carlisle estava a fazer o parto de Jessica.
- Oh! Como é que já sabes? – perguntou, verdadeiramente espantada.
- As notícias correm depressa numa cidade tão pequena como Forks, sabias??
– declarei, justificando-me.
- Pois, tens razão. O Mike está eufórico com a expectativa de ter uma menina.
E eu também preferia. Para não ficar com dois rapazes, percebes? Mas com isto
tudo esqueci-me de te fazer uma pergunta que não pode esperar mais... –
tagarelou, misteriosa.
- Uma pergunta? Acerca de quê? – perguntei, já mais interessada.
- É assim... O Mike faz anos daqui a duas semanas, certo? Então eu estava a
pensar juntar todos os nossos amigos do liceu, para lhe fazermos uma festa
surpresa. É claro que também convidarei os amiguinhos mais chegados do
Jason, como por exemplo a tua filha, os Cheney e até os gémeos dos
York...que dizes? Vens? – explicou Jessica, de um só fôlego.
- É claro, Jess. Lá estaremos. Mas achas que posso levar tambem os tios da
Renesmee? A Rose, o Em, o Jazz e a Alice, quero dizer? – perguntei,
aproveitando a oportunidade para poder integrar mais os meus irmãos
adoptivos.
- C-claro! – gaguejou Jess, surpreendida. – Que venham todos!
- Fantástico! Obrigada, Jessica!
E, de um só movimento, entrei dentro do carro e acelerei rumo à minha casa.
Via passar diversas imagens à minha frente. Os Cheney? Quer dizer que
também eles estavam casados e tinham filhos? Os York? Agora, parecia-me
deveras disparatada a minha aversão ao casamento precoce. Que figuras tinha
eu feito para com Edward. Realmente, ele tinha razão. Quando duas pessoas se
amam verdadeiramente, o compromisso é só uma insignificante amostra do
amor que nutrem uma pela outra. Tinha de pedir desculpa ao meu marido
pelas figuras que tinha feito enquanto humana. Ele devia ter pensado que eu
duvidava do nosso amor. Telefonar-lhe-ia. Naquele exacto momento.
Já conseguia avistar a casa branca. Acelerei um pouco mais e em três segundos
estava na garagem dos Cullen. Peguei no telemóvel e carreguei na marcação
rápida. Alguém atendeu ao primeiro toque:
- Estou, Bella? Algum problema?
- Edward, oh, Edward! Desculpa!
- Bella! O que se passa, meu amor?
- Quando vens para casa? – perguntei, ofegante.
- Na verdade, já estamos no meu prado. Demoro um minuto. – só ouvi o vento
a passar.
- Vem ter comigo à nossa casa de campo, Edward. Até já. – despedi-me,
envergonhada.
Desatei numa corrida desenfreada até ao nosso quarto branco, onde Edward já
me esperava:
- Bella! Vem cá! – exclamou o meu marido, preocupado.
- Edward, desculpa, desculpa! Eu fui tão estúpida! – exclamei, pronta a
desabafar.
- Tem calma, meu amor. Agora, diz-me o que se passa. Com calma. – com
estas palavras tão doces, o ritmo da minha respiração acelerada amainou,
deixando-me espaço para falar.
- Já estou mais calma. Edward, eu quero pedir-te desculpa. Provavelmente,
não entendes porquê, mas eu explico. – esforcei-me por retirar o escudo
mental da minha cabeça, e pensei com todas as minhas forças na minha
conversa com Jessica e nos meus devaneios seguintes.
- Ah! – exclamou Edward, já mais aliviado. – Minha querida Bella, tu achas que
alguma vez fiquei zangado contigo, por estares tão relutante em casar comigo?
– perguntou, com uma pequena nota de humor na sua reprimenda.
Acenei com a cabeça.
- Eu agi mal, Edward. Queria evitar o teu sofrimento a todo o custo, mas sei
que fiz ainda pior. Devia ter aceitado o teu pedido, porque era isso que queria
fazer. Sabia que sim! Mas importei-me demasiado com a opinião dos outros.
Sou um monstro e...! – Edward silenciou-me com os lábios, distraindo-me do
meu monólogo, por momentos. Correspondi ao beijo, de forma ausente.
Depois, Edward falou:
- Não te preocupes. Eu perdoo-te. – declarou, com o meu sorriso enviesado
preferido. E envolveu-me com os braços num abraço apertado. Passado dois
segundos, já estávamos ao lado de Esme, na casa branca.
- Tenho um convite para vos fazer. – anunciei, apertada pelos braços de
Edward, que me envolviam a cintura. – Em, Jazz, Rose, apesar de estarem um
ano à nossa frente na escola, devem lembrar-se de um rapaz que tinha
algumas aulas comigo, um tal de Mike Newton...
- Aquele que me punha os nervos em franja, sempre que andava atrás da Bella
– interrompeu Edward, com um tom de repugnância na voz, apertando-me
ainda mais contra si.
- Sim, é claro que nos lembramos dele. Pelo menos eu lembro-me muito bem.
Sempre que esse rapaz estava ao teu lado, ou perto de ti, Bella, era uma
enxurrada de emoções românticas que até me punham maluco. – relembrou
Jasper, com um sorriso sarcástico.
- Não é que tu não sejas romântico – interrompeu-o Alice, trepando-lhe para
as costas e beijando-o na testa, apaixonadamente.
- Pronto, esse mesmo. Bem, ele faz anos daqui a duas semanas e a sua
mulher, Jessica Stanley, também devem saber quem era, a maior fofoqueira da
escola, decidiu organizar uma festa surpresa para ele. Ela convidou-nos a
todos. Que acham? – expliquei, com um sorriso esperançoso. Apesar de ser
vampira, não queria perder os meus amigos humanos. – E a Renesmee
também foi convidada, para estar com Jason Newton, o filho deles. Então,
alinham?
- Por mim, tudo bem. Vamos à festa! – zombou Emmett, com uma gargalhada
estrondosa.
- Por nós, também. Certo, Alice? – confirmou Jasper, olhando para cima.
- Claro, iremos todos.
- Esme, Carlisle, têm a certeza que não querem companhia? – perguntou Rose,
preocupada.
- Oh, Rosie, já temos idade para ficar sozinhos. Além disso, somos os vossos
pais. – assentiu Esme, com ironia.
- Oh, vai ser divertidíssimo. Bella, mete-te no carro. Vamos correr todas as
lojas de vestidos para encontrar alguma coisa especial para ti. Vamos, Rose! –
apressou-nos Alice, desmontando das costas do seu amado.
- Alice, tu nunca perdes uma oportunidade para importunares toda a família
com o teu gosto de nos vestir, como se fôssemos uns bonequinhos de
porcelana, pois não? – questionou Edward, sorrindo com ternura.
- Ah. Também queres vir Edward?! – exclamou Alice, gozando.
Lancei-lhe o que pensei ser um olhar suplicante, como que dizendo “Não me
deixes sozinha agora, Edward!” e ele pareceu perceber.
- Sim, eu também vou. Além disso, preciso de comprar uns livros de
agricultura. Acho que alguém está a pensar fazer uma pequena horta, não? –
respondeu, lançando-me um sorriso tão terno que por momentos pensei não
me conseguia dominar, lançando-me ao seu pescoço, num abraço apaixonado.
Mas, finalmente, lá amainou a minha vontade. Tinha deixado escapar a minha
ideia da horta, quando retirara o escudo da minha cabeça, há uns minutos. Lá
se ia a surpresa planeada... – E que tal se esperássemos que a Nessie
terminasse as aulas por hoje? Assim, íamos todos juntos. Em, Jazz, vocês não
vêm?
- Não gostamos de rondas pelas lojas. Coisas de raparigas, sabes? – gozou
Emmett.
- Sei, sim. Muito aborrecido. – respondeu Edward, ignorando a piada.
Passei algumas horas a ajudar Esme, enquanto ela trazia para a grande sala de
estar dezenas de caixotes com acessórios. Desde carteiras a bandoletes ou até
a minúsculos brincos, a variedade era tão grande que o mais difícil para mim foi
escolher. Havia colares e pulseiras de estilo contemporâneo ou de estilo
medieval.
- Como é que as tuas irmãs e a Esme conseguiram reunir tudo isto em apenas
um século de existência? É impossível. – comentei para Edward, estupefacta.
- Seria impossível se elas fossem criaturas normais e se a Alice não existisse.
– respondeu ele calmamente, não parando de tocar a minha canção de
embalar. Depois, levantou-se e foi abrir a porta, com uma saudação:
- Ness, já chegaste! Estivemos a tarde toda à tua espera! – exclamou o meu
marido. – Olá, Jacob.
- Olá, Edward. Bella! Olá! – disse, como que dando ênfase à distinção que fazia
entre mim e o meu marido, enquanto seus amigos.
- Olá, Jacob! Como correu a delimitação de fronteiras com a alcateia do Sam?
– perguntei, sempre atenta.
- Correu bem, felizmente. Mas é óbvio que o Paul se enervou connosco. –
respondeu, sem dar muito interesse à situação.
- O quê? Alguém se magoou? – perguntei, ofegante.
- Não, Bella, ninguém se magoou. É só que o Jacob gosta de te assustar. –
explicou o meu marido, sempre protector, tentando acalmar-me, ao mesmo
tempo que lançava um olhar feroz ao meu melhor amigo.
- Que susto me pregaste, Jacob Black! – exclamei.
- Bem, chega de conversas. Metam-se no carro! – ordenou Alice,
interrompendo a troca de olhares fulminantes entre Edward e Jacob.
- Certo. Vamos, Bella. – disse Edward, abraçando-me e pegando na mão da
nossa filha.
- Hoje, vamos no meu carro. – determinou Alice, orgulhosa do seu Porsche
incrivelmente vistoso, em amarelo fluorescente.
- Boa, Alice. Não tens nada mais exuberante? – perguntei, sarcasticamente.
- Não! – exclamou a minha irmãzinha, gozando com a situação.
- Onde vamos, mãe? – perguntou Nessie, confusa.
- Oh, filha, com esta coisa do Jake e da tua tia tão irritante – disse eu,
levantando a voz na palavra “irritante” para ter a certeza que Alice a ouviria –
esqueci-me de te dizer. A mãe do teu amigo Jason convidou-nos para a festa
de aniversário do Mike Newton, o pai dele. Vamos a Seattle comprar vestidos
para todas e o teu pai decidiu acompanhar-nos. – expliquei rapidamente.
- Ah, já sei, o Jay já me tinha explicado. – recordou, sem interesse aparente,
mas com um brilhozinho nos olhos.
Jason Newton era um amigo íntimo da minha filha. Tinha percebido esta
amizade porque, nos primeiros dias em que a minha filha frequentara aquela
escola, mostrara uma grande curiosidade perante os meus amigos, Jessica e
Mike, pressionando-me a responder a muitas perguntas sobre eles, desde a sua
maneira de ser até qual era o seu emprego e onde viviam.
Jacob mostrara-se apreensivo com esta amizade, dizia ele, porque não queria
que Jay sofresse quando a minha filha e o meu melhor amigo namorassem,
mas calculei desde o princípio que eram ciúmes.
- Estava com esperanças de não ter de dizer nada, já que o pai leria os meus
pensamentos e os transmitiria. – replicou, envergonhada.
- Deves sempre dizer-nos aquilo que pensas ou que queres, para que eu e a
tua mãe te compreendamos melhor. – ensinou Edward, beijando Ness na testa.
Percebia-se à distância que a felicidade de Edward era infinita, pois tinha uma
família enorme, com os seus pais e muitos irmãos, comigo e com uma filha
saudável que nunca esperou vir a ter. Torci-me toda para o beijar levemente
nas costas da mão que envolvia o meu cabelo.
- Chega de conversa. Já chegámos! – exclamou Alice, interrompendo Edward
enquanto este murmurava para o meu ombro as palavras “Eu amo-te.”
Suspirei e respondi a Edward com um beijo rápido e apaixonado.
Seattle estava diferente desde a última vez que a tinha visitado. Na verdade,
pensando bem, nem sabia quando tinha sido a minha derradeira visita ali,
enquanto ainda era humana. Pareciam tudo memórias gastas e translúcidas,
que recordava a partir de um vidro fosco que não me permitia visualizar bem as
imagens que queria, como se já se tivessem passado há séculos, literalmente.
Desde a última vez que lá tinha ido, via toda a cidade com a minha visão
humana, o que me levava a ver apenas meros prédios cinzentos e alguns
jardins, casas e carros e muitas pessoas.
Agora, com a minha visão extremamente melhorada, conseguia distinguir o que
cada habitante de uma casa estava a ver na televisão, conseguia ouvir as
conversas que decorriam nas diversas lojas e até o bater das folhas das
árvores, nos jardins, umas nas outras, ao passar por elas uma leve brisa. Por
momentos, fiquei ofuscada pelas memórias antigas e as mais recentes, mas
logo acordei com o puxão suave de Nessie, que parecia ter saído a Alice e a
Rosalie, com a sua vontade insaciável de fazer compras, praticamente todos os
dias.
Passámos o resto do dia a entrar e a sair das lojas, até todas elas já estarem
fechadas. Conclusão: cada uma de nós tinha já um vestido e Edward tinha
comprado pelo menos dois sacos cheios de mais adereços para a festa e ainda
alguns livros sobre agricultura. O meu vestido era simples. Cinzento escuro, a
cair para o preto, com um laço enorme, também preto, na zona do peito. Não
tinha alças. Alice encontrou uns sapatos pretos com muitas tirinhas que ficavam
maravilhosamente bem com a minha pele, dizia Rosalie.
Alice adquiriu também um vestido bastante curto e preto, ainda mais simples
que o meu, com apenas uma fitinha cor-de-rosa com um laço a realçar a sua
cintura perfeita.
Rose optou antes pelos vestidos compridos. Descobriu um no seu tamanho,
azul-clarinho, que se prendia ao pescoço por uma fita brilhante. Na minha
opinião, nenhuma outra vampira perto dela conseguiria superar a sua beleza de
deusa. O vestido tinha alguns buracos ao longo da barriga, que a faziam ainda
mais bela. Encontrou uns sapatos prateados pelos quais ficou absolutamente
louca.
A minha filha encontrou um vestido que lhe ajustava perfeitamente. Era de
diferentes tom de azul começando por tons mais claros e acabando num azul-
escuro muito bonito. Era largo até aos joelhos e depois tinha uma tira de
aproximadamente cinco centímetros que se ajustava à barriga da perna.
Encontrou umas sabrinas pretas com um laço que lhe comprámos com o maior
prazer. Tivemos de voltar a Forks, pois Renesmee já estava a ficar sonolenta,
acabando por adormecer a meio da viagem.
- Quando dorme, a Nessie é quase tão bonita como tu. – comentou Edward,
observando ternamente a nossa filha.
- Ela é linda de todas as formas. – suspirei.
- Chegámos. – murmurou Rose, não querendo acordar a adorada sobrinha.–
Levem-na para a cama. Não quero que fique gelada. Boa noite!
- Bella, não te esqueças dos teus sacos. Leva as tuas roupas e as da Nessie
para o teu roupeiro, para que não se estraguem. São absolutamente
maravilhosas! – observou Alice, com um sorriso delicado, dirigindo-se a casa de
mão dada com Rose, graciosamente.
- Vamos? – perguntou Edward, ao meu ouvido, pegando cuidadosamente na
nossa filha e puxando-me para mais perto de si. Depois, arrancámos numa
corrida desenfreada, até estancarmos em frente à porta da frente. Abri-a num
só movimento e a seguir movemo-nos calmamente até ao quarto de Renesmee,
onde a depositámos carinhosamente na sua cama e a beijámos suavemente na
testa.
Dirigi-me rapidamente ao nosso quarto, para pousar os sacos e quando dei por
mim, era de manhã, e estava nos braços do meu marido, que me beijava sem
cessar, até ouvirmos a nossa filha a bocejar. Vestimo-nos rapidamente, Edward
deu-me a mão e fomos ter com a nossa filha, prontos para a continuação do
nosso único dia de eternidade.

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