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Jânio quadros

Política

Em 13 de março de 1961, Jânio anunciou os rumos de sua política econômica em discurso transmitido
por cadeia de rádio e televisão. Anunciou também uma reforma cambial que atendeu aos interesses do
setor exportador e dos credores internacionais, punindo fortemente os grupos nacionais que haviam
contraído financiamento externo durante a vigência da taxa anterior. Apesar da melhoria obtida na
situação orçamentária, a reforma cambial foi combatida pelos partidos de oposição. Entretanto, esse
conjunto de medidas do governo Jânio foi muito bem recebido pelos credores estrangeiros e resultou em
novos acordos financeiros.

No dia 7 de julho de 1961, Jânio reuniu todo o seu ministério para estudar as reformas do imposto de
renda e dos códigos penal, civil e de contabilidade. Enquanto desenvolvia uma política interna
considerada conservadora e plenamente aceita pelos Estados Unidos, procurou afirmar no plano externo
os princípios de uma política independente e aberta a relações com todos os países do mundo. Essa
orientação provocou protestos de inúmeros setores e grupos que o apoiavam.

Também levou adiante seu projeto de estabelecer relações com as nações do bloco socialista. Em maio,
recebeu no palácio do Planalto a primeira missão comercial da República Popular da China enviada ao
Brasil. O mesmo fato se repetiu em julho com a missão soviética de boa vontade, que pretendia
incrementar o intercâmbio comercial e cultural entre o Brasil e a União Soviética. As primeiras
providências para o reatamento diplomático entre os dois países começaram a ser tomadas em 25 de
julho, mas o processo só seria concluído durante o governo Goulart.

As relações entre os países americanos e os Estados Unidos foram debatidas em agosto na reunião
extraordinária do Conselho Interamericano Econômico e Social, conhecida como Conferência de Punta
del Este. Ao fim da reunião, Ernesto Che Guevara, ministro da Economia de Cuba, viajou para a
Argentina e, depois, para o Brasil a fim de agradecer a posição tomada por esses dois países para
impedir a discussão de qualquer tema político na conferência. Jânio aproveitou o encontro com Guevara
para pedir, com êxito, a libertação de 20 padres espanhóis presos em Cuba e discutir as possibilidades de
intercâmbio comercial por meio dos países do Leste europeu. Finalmente, em 18 de agosto condecorou o
ministro cubano com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, o que provocou a indignação dos setores civis
e militares mais conservadores.
Havia sido deflagrada uma grave crise política. A posse de João Goulart, então em visita oficial à China,
seria o desdobramento legal da renúncia de Jânio Quadros. No próprio dia 25 de agosto ocorreram as
primeiras manifestações populares. No dia 27 o presidente demissionário embarcou em um navio com
destino a Londres, levando os chefes militares a cogitarem o envio de um barco de guerra para forçar seu
desembarque em Salvador, onde tomaria um avião militar de volta a Brasília, plano que não foi
concretizado. O Congresso aprovou o Ato Adicional promulgado em 3 de setembro, garantindo o mandato
de Goulart até 31 de janeiro de 1966 em regime parlamentarista. Goulart foi finalmente empossado no dia
7 de setembro.

Jânio retornou da Europa a tempo de disputar o governo paulista e foi lançado pelo Partido Trabalhista
Nacional (PTN) e pelo Movimento Trabalhsita Renovador (MTR). Entretanto, não conseguiu unir
novamente as forças que o haviam apoiado na eleição anterior, sofrendo sua primeira derrota eleitoral e
ficando em posição relativamente marginal à vida política nacional até a eclosão do movimento político-
militar que derrubou o governo Goulart em 31 de março de 1964.

Teve seus direitos políticos cassados em 10 de abril de 1964 por decisão do Comando Supremo da
Revolução, passando, então, a dedicar-se a atividades privadas. Nesse período, participou da vida
política de forma moderada e indireta, acompanhando candidatos e distribuindo declarações à imprensa,
assinadas por sua esposa Eloá Quadros.

Com a política de distensão implantada pelo presidente Ernesto Geisel a partir de 1974, Jânio voltou a
aparecer com alguma freqüência no noticiário político. Ao longo de 1977 e 1978, defendeu a convocação
de uma assembléia nacional constituinte que promovesse a institucionalização do movimento de 1964 e
implantasse uma "democracia forte".

Com o início da organização de novos partidos políticos no segundo semestre de 1979, manifestou
simpatia pelo Partido Trabalhsita Brasileiro (PTB), no qual ingressou oficialmente em 15 de novembro de
1980, sendo lançado candidato ao governo paulista na convenção realizada pela agremiação em abril de
1981. Com a divulgação da informação de que o governo proibiria coligações partidárias nas eleições de
1982, publicou um manifesto em 26 de junho de 1981, comunicando seu afastamento do PTB e
defendendo a fusão de todos os partidos de oposição.

Depois de recusar convites dos partidos Democrático Trabalhista (PDT) liderado por Leonel Brizola e
Democrático Republicano (PDR), que não chegou a obter registro definitivo na Justiça Eleitoral, Jânio se
filiou novamente ao PTB em 3 de novembro e, no fim desse mês, anunciou que concorreria à Câmara dos
Deputados e não ao governo paulista. Entretanto, voltou atrás dessa decisão e aceitou reassumir sua
candidatura nos moldes anteriores. No pleito de novembro de 1982, concorreu ao governo de São Paulo
na legenda do PTB, sofrendo aí a segunda derrota eleitoral em toda sua carreira política.

Em 1985 retornou ao centro da política lançando-se candidato à prefeitura de São Paulo pelo PTB, no
pleito de 15 de novembro desse ano. Eleito, foi empossado em janeiro de 1986.

Concluiu seu mandato na prefeitura em dezembro de 1988. Em abril de 1989, realizou viagem de turismo
pela Europa e Oriente Médio. Após seu retorno ao Brasil, em maio, filiou-se ao Partido Social Democrata
(PSD).

Em novembro de 1990, já sofrendo problemas de saúde, Jânio foi abalado pela morte de sua esposa,
Eloá do Vale, com quem teve dois filhos. Nos dois anos posteriores, seu estado de saúde agravou-se,
vindo a falecer em 16 de fevereiro de 1992 em São Paulo.

Jânio Quadros e João Goulart foram empossados, respectivamente, na presidência e na vice-presidência


da República, em 31 de janeiro de 1961. Para os ministérios militares, Jânio escolheu elementos ligados
aos opositores do grupo nacionalista; na política econômica, adotou o receituário ortodoxo recomendado
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas escolhas deixaram claro para Jango a impossibilidade
de construir um bom relacionamento com o presidente.

A principal proposta de governo janista era a instauração de uma cruzada moralizadora no país. Suas
primeiras medidas - a instauração de inquéritos comandados por militares – destinavam-se a criar uma
imagem de inovação dos costumes e saneamento moral, tendo a administração pública como alvo
principal. Em maio de 1961, o próprio Jango viu-se envolvido nos inquéritos instaurados no Serviço de
Alimentação da Previdência Social (SAPS) e no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários
(IAPB). O vice-presidente era nominalmente acusado de ser um dos principais beneficiários da
propaganda eleitoral no IAPB às custas do dinheiro público. Todavia, a acusação não teve nenhum
desdobramento prático.

Enquanto, no plano interno, Jânio desenvolvia uma política considerada conservadora e alinhada com os
Estados Unidos, sua política externa seguia os princípios de uma linha independente, aberta a todos os
países do mundo. Um dos marcos dessa independência foi a posição assumida pelo Brasil contrária a
ações armadas dos americanos em Cuba, que se havia declarado socialista. Além disso, aproximou-se
dos países socialistas do Leste europeu, preparando o caminho para o estabelecimento de relações
comerciais e diplomáticas com aquelas nações, condenou o colonialismo e reafirmou sua posição a favor
da autodeterminação dos povos.

A atuação no plano internacional, paralelamente à perda gradual do apoio da UDN e ao aparecimento de


limites e contradições do seu esquema político, levou Jânio a reorientar suas estratégias econômicas,
voltando-as para o desenvolvimentismo, e a um aprofundamento da política externa independente. Tais
mudanças o aproximaram do vice-presidente.

Foi nesse contexto que João Goulart recebeu um convite oficial para visitar a República Popular da China.
Naquele país, a comitiva brasileira visitou Hanchow, Cantão e Pequim, e foi recebida pessoalmente pelo
presidente Mao Tsé-Tung. Em 25 de agosto, já em Cingapura, Jango foi avisado da renúncia de Jânio.

A renúncia encetou uma grave crise política no país. Resistências de setores militares a Goulart
resultaram em grande mobilização pró e contra sua posse na presidência da República. De acordo com a
Constituição, no caso de vacância do cargo de presidente, o substituto imediato era o vice-presidente, e
na impossibilidade deste, o presidente da Câmara dos Deputados. Assim, dada a ausência do vice-
presidente, ainda no dia 25, Pascoal Ranieri Mazzilli assumiu interinamente o poder.

A oposição dos ministros militares e de parcelas da sociedade civil à posse de Jango, sob a alegação de
que ela significaria séria ameaça à ordem e às instituições, polarizou a sociedade brasileira, colocando os
partidários do veto e os defensores da legalidade frente à frente. O impasse durou vários dias, chegando
a haver reais possibilidades de confronto militar entre os dois lados.

O principal foco de resistência ao veto militar localizou-se no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, o
governador Leonel Brizola, contando com o apoio do general José Machado Lopes, comandante do III
Exército, iniciou uma campanha de alcance nacional pela posse de Goulart. Foi então formada a Cadeia
da Legalidade, rede de mais de cem emissoras de rádio que exortava a população a se mobilizar em
defesa da posse de Goulart.

No Congresso Nacional, as pretensões militares também encontraram obstáculos. Os parlamentares


rejeitaram o pedido de impedimento de Jango e, em seguida, propuseram a adoção de uma solução
conciliatória: a implantação do regime parlamentarista. Simultaneamente, ampliava-se o apoio à posse de
Goulart entre estudantes, intelectuais e trabalhadores. Nos meios políticos, a defesa da legalidade
ganhava novas e importantes adesões, como a dos governadores Nei Braga, do Paraná, e Mauro Borges,
de Goiás.

Enquanto ferviam as negociações, Jango, informado do rumo dos acontecimentos, aproximava-se do


território brasileiro. De Cingapura, seguiu para Paris, e da capital francesa para Nova Iorque, onde chegou
em 30 de agosto. Nessa cidade, concedeu uma entrevista à imprensa onde declarou que seguiria para a
Argentina e chegaria ao Brasil pelo Rio Grande do Sul. No dia seguinte viajou para Buenos Aires, onde foi
impedido de desembarcar, em virtude de forte dispositivo militar armado pelo governo argentino. Nesse
mesmo dia, rumou para Montevidéu, onde era esperado pelo embaixador brasileiro

Valder Sarmanho, cunhado de Getúlio Vargas. Na capital uruguaia, Goulart decidiu aceitar a fórmula
parlamentarista, mesmo contando com o apoio de importantes setores que rejeitavam essa solução
conciliatória.

A profunda crise instalada no país com a renúncia de Jânio chegava ao fim, e sem derramamento de
sangue. No dia 2 de setembro, o Congresso Nacional aprovou a emenda parlamentarista e, finalmente,
no dia 7, João Goulart foi empossado na presidência da República.

Fonte: www.cpdoc.fgv.br

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