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ACOPLADORES DE ANTENA Prater HORTENCIO PEREIRA DA SILVA NETO* orcbtali igre A razao de ser dos “Acopladores de Antena” — que nao constituem uma “panacéia”, mas contribuem valiosamente para otimizar a transferéncia de energia e, ao mesmo tem- po, protegem os transceptores transistorizados contra os danos causados por uma alta relagdo de ondas estacionarias. (COMO muitas vezes ja se disse: “o acessdrio ‘mais importante de uma estacdo 6, sem diivida, a antena’. Ela é a responsdvel pela transferéncia ao éter do sinal que se pretende irradiar. Portanto, tudo 0 que se fizer para melhorar sua eficiéncia seré revertido em melhor aproveitamento da esta- cao. i Mas, como melhorar a antena? Como fazer a estacéo render 0 maximo? Sim, alguma coisa po- dera ser feita: 1°) Diminuir a relagao de ondas es- tacionérias, abreviadamente r.ofe. (ou SWR, em inglés), ao primeiro sintoma de que alguma defi- ciéncia existe. Os livros sobre o assunto nos dao instrucées, formulas, graficos, etc., de como proceder para pro- jetar uma boa antena. A surpresa vem depois, na prética, com as antenas “feitas sob medida", as quais muitas vezes, depois de instaladas, apresen- tam baixa irradiagéo e elevada r.o.e. Isto acon- tece porque as formulas mateméticas séo vélidas para instalagdes ideals, ou Seja, quando a antena é instalada no campo, longe de drvores, paredes, telhados, obstéculos, etc. Essas condicdes ideais so impraticéveis nas cidades, e 0 caso se agrava ainda mais para aqueles que residem em aparta- mentos Em tais casos, 0 minimo que se deve fazer é procurar instalar a antena tao elevada quanto pos- sivel. Se conseguirmos elevar a nossa antena pelo menos a 1/4 de onda, e afasté-la de qualquer obs- tdculo & sua volta, nessa mesma proporcdo, jé te- remos conseguido alguma coisa. 2°) No caso de antenas dipolo, 6 muito impor- tante que se empregue ndilon para os esticadores dos extremos, a fim de evitar perdas de RF. A li- nha de alimentacao (geralmente coaxial) deve des- cer perpendicularmente, o tanto quanto possivel, ou, no minimo, na extensdo de 1/4 de onda, a con- tar do isolador central, Para aqueles que ainda no aprenderam a cal- cular 0 comprimento de onda, damos a formu- la (N.A.1): 300.000 Le kHz f (em kHz) Onde L é 0 comprimento da onda em metros; 300.000, uma constante (a velocidade das ondas hertzianas 6 de 300.000 km por segundo); f, a fre- qiéncia, em kHz. Exemplo: Qual 0 comprimento de 1/4 de onda, na faixa dos 40 metros? N.A.1 — Note-se que a formula acima nfo & adequada para © eélculo do comprimento fisico de antenas. 66 — ELETRONICA POPULAR erspavolen ber A faixa dos 40 abrange de 7.000 a 7.300 kHz centro da faixa, para efeito de cdlculo pratico, seria 7.150 kHz. Aplicando a férmula 300.000 ieee 42 metros (aprox.) 7.150 Portanto, 1/4 de 42 seria = 10,5 metros. 3°) Quando se tratar de dipolos de meia onda, leve em consideragéo que a sua impedancia cen- tral 6, quando completamente livre de obstéculos, de 739. Na pratica, porém, tais antenas se adap- tam melhor com cabo de 50 ou 52, levando-se em consideraco que a proximidade de obstéculos tende a diminuir a impedancia. 4°) © uso de “balun” (N.R.1) 6 amplamente recomendavel, para a grande maioria dos tipos de antenas, com excecao das verticais. O nome “ba- lun” vem do inglés: BAL (“BALanced") UN (“UN- balanced"), isto 6, permite o casamento da antena (elemento simétrico ou “balanceado”) com o coa- xial (elemento assimétrico ou “desbalanceado”) 5°) Se, a despeito de todos os esforcos, nao tiver sido possivel alcangar uma baixa relaco de ondas estacionérias (r.o.e.), ou quando notamos que hé dificuldade de estabelecermos QSO — pois @ nossa antena nao esté irradiando bem — outra alternativa nao nos resta sendo a de empregar um acoplador de antena. Quem ler revistas especializadas, estrangeiras principalmente, vai encontrar uma diversidade de aniincios desses acessérios, amplamente recomen- dados pelos fabricantes, com os nomes de “An- tenna Match”, “Antenna Tuner", “Transmatch”, “Match Box", etc. Mas, 0 que é um acoplador de antena? Qual a sua importéncia? Como funciona? Bem, 0 assunto é extenso. Vamos tentar re- sumi-lo, com 0 minimo emprego de formulas ma- teméticas, para melhor compreensio de todos. Vamos supor que conseguimos o “milagre” de constatar que a nossa antena apresenta a impe- dancia de 50, no ponto de alimentacdo, em de- terminada freqiéncia; que 0 coaxial 6 também de (*) Engenheiro da ““Soundy Indistria Eletronica Ltda." N.R.1 — Apesar de ja proposta para este dispo- sitivo a denominacao de dessimetrizador, continua- se adotando a designacao inglesa (balun) com subs- titui¢éo por eme do n final: balum. JANEIRO, 1981 — Pag. 66 502, € que a saida de nosso transmissor, idem Teriamos a situacao “Ideal”, ou seja, a r.o.e. neste caso estaria em 1:1; toda a poténcia do transmis- sor seria irradiada pela antena (sem levarmos em: consideracéo as minimas perdas apresentadas pelo cabo). Nenhum problema ha para se conseguir ca- bo de 50Q (N.R.2). Com o transmissor, também no havera problema, pois sao padronizados para apresentar essa mesma impedancia a sua saida (vide observacdes no final deste artigo). Entre- tanto, dificilmente se conseguiré que a antena apre~ sente impedancia igual a de ambos, ou seja, a “Ideal”, quando a Max Eff (maxima eficiéncia) é condicionada a Zp ser = Zo = Zs. Onde Zp € a im- pedancia do transmissor, Zo a do cabo, e Zs a da carga (antena) Para melhor elucidacdo, vamos, por analogia, supor que a bala (projétil) de um revélver deve percorrer 0 cano do mesmo, sendo este ultimo constituido por duas segdes em série (Fig. 1) Digamos que o projétil vai ser impelido pela poténcia de RF. do transmissor. O didmetro do projétil representa a impedancia de sada. O dia metro interno da primeira secao do cano do revol- ver, a impedancia da linha de transmissao. A se- gunda seoéio seria a impedancia da antena. O alvo representa a estacao com a qual desejamos nos comunicar. Se 0 diametro externo do projétil for igual ao diametro interno das duas secdes do cano, ele o atravessaré sem problemas ¢ alcancard o alvo dis- tante (neste caso, a estacdo) Porém, se a segunda secao do cano for de dia- metro menor que o do projétil, este vai encontrar muita resisténcia quando alcancar a segunda segao Como, porém, € constituido de chumbo, apesar do atrito, e dada a forca que-o impele, sem duvida sera projetado em direcdo ao alvo. Porém, nao o aleangar. © mesmo ocorreré se invertermos os. diame- tros de qualquer um dos trés elementos citados. E isto, por analogia, 0 que ocorre com o sis- tema transrhissor—linha de alimentaco—entena. N.R.2 — Precaucdes quanto a cabos coaxiais em total desacordo com a impedancia especificada sao objeto de artigo do Eng? |. Th. Haldsz, PY2AH, a pag. 621 de E-P de junho de 1980. JANEIRO, 1981 — Pag. 67 FIG, 1 — A relagdo de impedancias entre ax segdes de um sistema @ 8 saida do emissor pode ser compar Propagagéo\ Aberta © local mais apropriado para a instalacéo de um acoplador de antena seria na intersecdo entre © cabo e a antena. Tal pratica, porém, somen- te € vidvel nas instalagdes méveis, onde 0 aco- plador ou adaptador de impedancias pode ser lo- calizado préximo & antena (como se descreve mais adiante). Em se tratando de estacdes fixas, quan- do a instalago é feita no “shack”, o acoplador "ve" a impedancia resultante, ou seja: Z= Zs Zo Exemplo: vamos supor que Zs vale 32@, ¢ Zo, 500 Z= 32x50 = 1.600 Z= 400 O nosso transmissor, cuja impedancia de saida foi projetada para ser de 50, nao vai se adaptar adequadamente a impedancia resultante (40), a menos que haja algum meio de “acomodar” as impedancias diferentes. Isto € conseguido gracas a acao dos acopladores de antena. NECESSIDADE DO USO DO ACOPLADOR Nos transmissores que ainda adotam valvule no estagio de poténcia, 0 acoplamento ao sistema aéreo é menos critico, devido a sintonia, que é varidvel (circuito em “pi"), propiciando, pois, al- gum ajuste extra, embora dentro de estreitos li- mites. Porém, nos transmissores totalmente transis- torizados, cuja impedancia de saida 6 fixa e foi projetada para ser de 50, 6 altamente recomen- davel 0 uso do acoplador de antena. Isto ocorre. Por exemplo, nos atuais modelos da Kenwood (18-120 e TS-180), Yaesu (FT-7 e FT-7B), Drake {TR-7), Atlas (210-X e 215-X), etc. Os proprios fabricantes, zelosos pela eficiéncia de seus trans- ceptores, recomendam enfaticamente o uso dos acopladores de antena. Tal recomendacdo é encon- trada nos préprios manuais de operaco, ou mes- mo em publicagées separadas (como ocorre, por exemplo, com a Kenwood, que publicou em diver sos exemplares do “Ham Radio Magazine” — nov. 1979, pag. 7 — detalhadas explicacdes e recomen- dacdes para o uso de Acoplador de Antena, em seus ESTACAO, Dist. adiante ja a uma arma de fogo com projétli ¢ didmetros de cano di rentes, ELETRONICA POPULAR. 67 Bene pare aE i AAS LS A iit tesa > AD MCE TP Ye eS ee ik, EO vaparelhos). Para resumir esses motivos principais, idiremos que hé necessidade do uso do acoplador: 41°) Porque a impedancia foi fixada em 50, sendo {bastante dificil, na prética, encontrar um. sistema ‘aéreo com carga idéntica (quando a estacionaria seria de 1:1); 2°) Porque, mesmo que fosse pos- sivel obter da antena a impedancia de 50Q, esta seria vélida apenas para a freqiiéncia de resso- nancia; a estaciondria apareceria nos extremos da fi 3°) Porque a poténcia de saida dos atuais transceptores (principalmente) 6 func3o da esta~ ciondria apresentada pelo sistema aéreo. Quanto maior a estaciondria, menor a saida e maior o risco de avarias dos transistores de poténcia! Sem entrar em detalhes de como isto ocorre, vamos apenas dar “uma olhada” na tabela de Po- tencia Versus Estacionaria (Tabela 1), extraida de um manual técnico (transceptor Atlas 210-X): TABELA | roe. x POTENCIA DE SAIDA (W) 40:1 _ 100 Att - 98 42:4 a 95 oe 90 - 80 = 50 = 20 Por ai vemos que, quando a r.o.e, do sistema aéreo 6 de 3,0:1, a poténcia de saida, que normal- mente 6 de 100W, fica reduzida a apenas 20 W! © QUE SE DEVE ESPERAR DE UM = ACOPLADOR DE ANTENA Na. verdade, a idéia de escrever este artigo nasceu de uma conversa “corujada” em 11 me- tros. Um operador “PX" espalhava na faixa que estava usando uma direcional para 11 metros ¢ um acoplador de antena. “Com o mesmo podia sair em qualquer faixa, inclusive nas de radioamador, com aquela direcional.” Imediatamente tivemos vontade de desmentir ou censurar. Trocamos, porém, a “ira” inicial pelo desejo de escrever este artigo, visando contribuir para elucidar o assunto, Os acopladores de antena, mesmo os melho- Tes, néo fazem tal milagre! Sao projetados para reduzir a relagao de ondas estaciondrias, mesmo que estejam a 5:1, ao nivel minimo (1:1), isto sim, porém em antenas projetadas para a faixa corres- pondente aquela que foi selecionada no transmis- sor. Isto quer dizer que néo se devem esperar bons resultados de um acoplador, quando a antena foi projetada para operar em 20 metros, por exemplo, e dela se pretende tirar rendimento na faixa dos 80! Os acopladores sao! de grande utilidade quando usados com antenas multifaixa, ou quando nao foi possivel, por questéo de espaco, erigir um dipolo de meia onda em condigdes ideals, e também para outros tipos de antenas, tais como: “V" invertido, direcionais, verticais, etc., mesmo que apresentem elevada r..e., pelos motivos j4 explicados no inicio deste artigo. 68 — ELETRONICA POPULAR Propagatao\Aberta Igualmente as antenas do tipo “fio estirado” (random wire"), to curtas quanto 1/4 de onda, podem irradiar perfeitamente bem, com o auxilio dos acopladores. Tal sistema, alids, 6 empregado fm todos os equipamentos de radio HF, de alta responsabilidade, instalados nos modernos_ jatos. onde, por motivos dbvios, a sintonia do acoplador 6 auiomatica. O radioperador escolhe a frei © acoplador de antena, que é conjugado a um sis tema mecanico-eletrdnico, se encarrega de pro- curar a menor r.o.e., quando entéo péra automati- camente, TIPOS DE ACOPLADORES Os mais antigos usavam um sistema baseado num indutor variavel, comandado pelo painel, atra- vés de uma manivela. Alem do indutor, havia os dois varidveis responsdveis pelas sintonias reativa e resistiva. Tal sistema esté quase em desuso pelo motivo de néo ser pratico. Além da possibilidade de dar sintonias “errdticas”, forca 0 amador a per- der muito tempo para manejar trés controles. Os acopladores mais convenientes sao os do tipo uni- versal, isto é, podem ser empregados com qualquer modelo de transceptor (observando-se, apenas, a limitagao de poténcia), e também com a maioria das antenas conhecidas. Tais acopladores usam circuitos especiais, onde o indutor varidvel foi substituido por circuitos previamente calculados (circuitos L/C), selecionados por uma chave, cor- respondente a faixa de operagao desejada. Apenas dois capacitores Variéveis, responsaveis pelas sintonias reativa e resistiva, teraéo que ser manu- seados, 0 que simplifica a operagao. Alguns, mais completos, incorporam wattimetro e medidor de r0.e, ACOPLADORES PARA USO MOVEL Os acopladores empregados em estagdes fixas, como 0s modelos descritos linhas atras, so ge- ralmente projetados para aceitar cargas (impedan- clas resultantes) que variam entre 1u @ 250. En- wetanto, a antenas moveis (e tambem as antenas Verticals tixas) sao propensas a apresentar impe- dancias mais baixas que 500, podendo mesmo chegar a valores tao baixos quanto 3{2. Portanto, outro tipo ae acoplador, tambem conhecido como adaptagor de impedancias’, e aliamente recomen- daao para instalagao em veiculos, pelo tato de ser Projetado para selecionar induténcias baixas, evi- tando ao radioamador a necessidade de dimensio- nar 0 comprimento do cabo, para cada talxa que pretenda usar, e outros artificios para reduzir a r.0.e. com 0 objetivo de conseguir o maximo apro- veitamento da sua estagao movel em HF. O tipo de acoplador a que nos reterimos 6 constituido por um transtormador toroidal com diversas derivagoes, selecionaveis por intermédio de uma chave. Uma vez encontrada a posigao otima para uma deter- minada faixa, ndo sera preciso retoques; apenas sera necesséria outra posi¢éo quando se pretender mudar a faixa de operagao. E, como nos referimos has atrés, este Ultimo tipo de acoplador 6 alta~ mente eficiente, pois permite ser instalado no Ponto mais conveniente do circuito, ou seja: entre a antena ea linha de alimentacio. (OR 1742) JANEIRO, 1981 — Pag. 68

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