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PROCESSO: RO Nº 433627 - Recurso Ordinário UF: CE JUDICIÁRIA


Nº ÚNICO: 433627.2010.606.0000 MUNICÍPIO: FORTALEZA - CE N.°
Origem: 433627 PROTOCOLO: 223192010 - 04/08/2010 15:36
RECORRENTE: FRANCISCO DAS CHAGAS RODRIGUES ALVES
ADVOGADO: FRANCISCO GILDÁSIO RODRIGUES DE LIMA RECORRIDO:
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RELATOR(A): MINISTRO MARCELO
HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA ASSUNTO: IMPUGNAÇÃO AO
REGISTRO DE CANDIDATURA - RRC - CANDIDATO - INELEGIBILIDADE -
REPRESENTAÇÃO OU AIJE JULGADA PROCEDENTE PELA JUSTIÇA
ELEITORAL - DEPUTADO ESTADUAL

Ao julgar em plenário o primeiro caso concreto em que se discute o


indeferimento de um registro de candidatura por condição de inelegibilidade
prevista na chamada Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010), o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) firmou entendimento no sentido de que a Lei é aplicável para as
eleições gerais deste ano, mesmo tendo sido publicada a menos de um ano da
data das eleições.

Por 5 votos a 2 os ministros entenderam que, no caso, a Lei da


Ficha Limpa não viola o princípio da anterioridade ou anualidade previsto no
artigo 16 da Constituição Federal. Tal dispositivo afirma que “a lei que venha a
alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, mas
não se aplicará à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”.

A discussão em plenário teve início com o julgamento de um recurso


interposto por Francisco das Chagas Rodrigues Alves, candidato a deputado
estadual no Ceará, que teve seu registro de candidatura negado pelo Tribunal
Regional Eleitoral daquele estado (TRE-CE) com base na Lei da Ficha Limpa.
O julgamento começou no último dia 12 de agosto e foi retomado hoje para
apresentação de voto-vista do presidente da Corte.

O ministro Ricardo Lewandowski considerou que a Lei da Ficha


Limpa não promoveu alteração no processo eleitoral que rompesse com as
regras atuais, mas apenas que foi criado um novo regramento linear e
isonômico que levou em conta a vida pregressa dos candidatos, de forma a
procurar preservar a moralidade das eleições no que chamou de princípio da
prevenção.

Na avaliação do presidente do TSE, questões relativas à


inelegibilidade não se inserem naquelas que alteram o processo eleitoral, como
normas que tratam de votos, cédulas e urnas eletrônicas e a organização das
seções eleitorais e de escrutínio.

Segundo Lewandowski, o artigo 16 da Constituição pretende vedar


“mudanças casuísticas”, que possam beneficiar este ou aquele candidato, o
que em sua avaliação não ocorre no caso da Lei da Ficha Limpa. Assim, o
ministro-presidente afastou a alegada violação do artigo 16 da Constituição
Federal pela LC 135/2010, sendo acompanhado pelos ministros Arnaldo
Versiani, Cármen Lúcia, Aldir Passarinho Junior e Hamilton Carvalhido.
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Anualidade

Já os ministros Marcelo Ribeiro (relator) e Marco Aurélio entenderam


que a LC 135/2010 é inaplicável nas eleições gerais deste ano. Para eles, ao
estabelecer causas de inelegibilidade a LC 135/2010 interfere no processo
eleitoral e fere o princípio da anualidade previsto no artigo 16 da Constituição.
“Se disciplina de inelegibilidade não altera o processo eleitoral, que disciplina
então altera esse mesmo processo eleitoral?”, indagou o ministro Marco Aurélio
ao se referir às novas condições de inelegibilidade criadas a partir da edição da
Lei da Ficha Limpa. Segundo o ministro, a LC 135 também fere o princípio da
irretroatividade da lei, que em sua avaliação é uma condição de segurança
jurídica. Para ambos os ministros, a inelegibilidade não significa pena do ponto
de vista penal, mas também não deixa de ser do ponto de vista eleitoral.

Mérito

Ao iniciar o julgamento do mérito do recurso interposto por Francisco


das Chagas, o relator da matéria, ministro Marcelo Ribeiro votou pelo
provimento do recurso para derrubar a inelegibilidade imposta pelo TRE-CE e
deferir o registro de candidatura para Francisco das Chagas.

Para o ministro Marcelo Ribeiro a lei não poderia retroagir para


aplicar sanção que não foi tratada quando da prolação da sentença. “Penso
que nos casos em que a configuração da inelegibilidade decorrer de processo
em que houver apuração de infração eleitoral, não se pode aplicar nova lei
retroativamente para cominar sanção não prevista na época dos fatos,
alcançando situações já consumadas sob a égide de lei anterior, sobretudo
quando acobertadas pela intangibilidade da coisa julgada”, ressaltou Marcelo
Ribeiro.

Já o ministro Arnaldo Versiani divergiu e negou provimento ao


recurso, mantendo a decisão do TRE do Ceará que julgou Francisco das
Chagas inelegível, com base na Lei da Ficha Limpa. Para Versiani, de
qualquer forma Francisco das Chagas estaria inelegível até 2012, com base na
Lei das Inelegibilidades (LC 64/90), uma vez que a condenação se deu em
2004 e o tornou inelegível por 8 anos.

Segundo Versiani, inelegibilidade não é pena e as únicas formas em


que a lei se refere a esse tipo de sanção é quando há abuso de poder
econômico, abuso de poder político ou uso indevido dos meios de
comunicação, o que não se verifica no caso em análise que foi de captação
ilícita de votos.

O julgamento foi interrompido quando a votação estava em 1x1 e a


ministra Cármen Lúcia pediu vista.
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O caso

Francisco das Chagas foi condenado por captação ilícita de votos


com base no artigo 41-A da Lei das Inelegibilidades (LC 64/90). A decisão
transitou em julgado em 2006 e ele foi considerado inelegível por oito anos a
contar das eleições de 2004, quando disputou o cargo de vereador pelo
município de Itapipoca (CE) e foi julgado por crime eleitoral – captação ilegal de
votos.

Nas eleições de 2010 ele pretendia disputar o cargo de deputado


estadual, mas como foi considerado inelegível teve seu registro indeferido.
Inconformado recorreu ao TSE. É este recurso que está em discussão no
plenário da Corte.

(25/08/2010) O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concluiu hoje o


primeiro caso concreto em que se discute o indeferimento de um registro de
candidatura por condição de inelegibilidade prevista na chamada Lei da Ficha
Limpa (LC 135/2010). O Plenário manteve decisão do Tribunal Regional
Eleitoral do Ceará (TRE-CE) que indeferiu o registro de candidatura de
Francisco das Chagas Rodrigues Alves, que pretendia disputar uma vaga de
deputado estadual nas eleições deste ano.

Por maioria de votos (5x2) o Plenário negou provimento ao recurso


em que Francisco das Chagas tentava obter seu registro e decidiu que a Lei da
Ficha Limpa pode alcançar casos anteriores à sua vigência para alterar período
de inelegibilidade, adotando-se os prazos previstos pela nova lei. Antes da Lei
da Ficha Limpa, o político condenado pela Justiça Eleitoral ficava inelegível por
três anos. Agora a nova norma amplia o período de inelegibilidade para oito
anos.

Ao concluir a votação, o ministro Ricardo Lewandowski ressaltou a


necessidade da idoneidade moral para o exercício de cargo eletivo. "O
Congresso Nacional entendeu que não pode exercer o mais elevado múnus
público que alguém pode exercer na sociedade, que é um mandato político,
aquele que foi condenado por determinadas infrações", observou o presidente
do TSE.

Foi o caso de Francisco das Chagas. Condenado por captação ilícita


de votos nas eleições de 2004 com base no artigo 41-A da Lei das Eleições
(9.504/97), ele estava inelegível por três anos. Mas a partir da edição da nova
lei, sua condição de inelegível passou para oito anos a contar das eleições de
2004, quando disputou o cargo de vereador pelo município de Itapipoca (CE).

Casos pretéritos

No julgamento de hoje, o TSE firmou entendimento de que a Lei da


Ficha Limpa pode alcançar casos pretéritos, como no caso de Francisco das
Chagas, e abranger condenações por crime eleitoral anteriores à entrada em
vigor da nova lei. O julgamento foi retomado para apresentação de voto da
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ministra Cármen Lúcia, que no último dia 17 de agosto havia pedido vista dos
autos para analisar melhor o caso.

Até então o julgamento estava empatado por 1x1. O relator do


recurso, ministro Marcelo Ribeiro, votou no sentido de que a lei não poderia
retroagir para aplicar sanção que não foi tratada quando da prolação da
sentença. “Penso que nos casos em que a configuração da inelegibilidade
decorrer de processo em que houver apuração de infração eleitoral, não se
pode aplicar nova lei retroativamente para cominar sanção não prevista na
época dos fatos, alcançando situações já consumadas sob a égide de lei
anterior”, afirmou naquela ocasião o ministro-relator ao proferir seu voto.

Em sentido contrário votou o ministro Arnaldo Versiani, segundo o


qual inelegibilidade não é pena, mas apenas uma consequência da sentença.
Para o ministro, as únicas formas em que a lei se refere a esse tipo de sanção
é “quando há abuso de poder econômico, abuso de poder político ou uso
indevido dos meios de comunicação, o que não se verifica no caso em análise
que foi de captação ilícita de votos”, afirmou naquela data.

Voto-vista

Ao apresentar o seu voto-vista a ministra Cármen Lúcia reforçou o


entendimento do ministro Versiani, no sentido de que inelegibilidade não é
pena e que a Lei da Ficha Limpa pode sim alcançar casos passados, sem que
haja violação ao princípio constitucional da irretroatividade da lei.

Para a ministra Cármen Lúcia, a inelegibilidade é mero ato


declaratório consequente de uma sentença. “A meu ver não se está diante de
aplicação de punição pela prática de ilícito eleitoral, mas de delimitação no
tempo de uma consequência inerente ao reconhecimento judicial de que o
candidato, de alguma forma, não cumpre os requisitos necessários para se tê-
lo como elegível”, ressaltou.

Na avaliação da ministra Cármen Lúcia, a afirmação da condição de


elegibilidade de um interessado é aferida rigorosamente no momento em que
ele requer o seu registro de candidatura. “O registro eleitoral é aceito se e
quando atendidos os requisitos previstos na legislação vigente no momento de
sua efetivação”, observou a ministra. Na mesma linha votaram os ministros
Aldir passarinho Junior, Hamilton Carvalhido e o presidente da Corte, Ricardo
Lewandowski.

Acompanhando o relator do recurso, ministro Marcelo Ribeiro, votou


o ministro Marco Aurélio no sentido de que a LC 135/2010 não poderia
alcançar casos anteriores à sua entrada em vigor. “Creio que precisamos ter
presente a primeira condição de segurança jurídica que é a irretroatividade
normativa”, salientou Marco Aurélio ao votar pelo provimento do recurso de
Francisco das Chagas para garantir-lhe o registro de candidatura. Mas o
entendimento de Marco Aurélio e Marcelo Ribeiro foi vencido pela corrente
defendida pelos demais integrantes da Corte.
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Anualidade

Também por cinco votos a dois foi o entendimento da Corte de que a


Lei da Ficha Limpa pode ser aplicada para as eleições gerais deste ano,
embora a mesma tenha sido aprovada e entrado em vigor no ano em curso da
eleição. A decisão foi tomada no último dia 17 de agosto, quando o Tribunal
debateu questão de fundo à concessão ou não do registro a Francisco das
Chagas. A Corte após amplo debate entendeu que, no caso, a Lei da Ficha
Limpa não viola o princípio da anterioridade ou anualidade previsto no artigo 16
da Constituição Federal.

Tal dispositivo afirma que “a lei que venha a alterar o processo


eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, mas não se aplicará à
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”. Segundo o presidente
do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, a Lei da Ficha Limpa “não promoveu
alteração no processo eleitoral que rompesse com as regras atuais, mas
apenas criou um novo regramento linear e isonômico que levou em conta a
vida pregressa dos candidatos, de forma a procurar preservar a moralidade das
eleições”.

Na entendimento do ministro Ricardo Lewandowski, o artigo 16 da


Constituição pretende vedar “mudanças casuísticas”, que possam beneficiar
este ou aquele candidato”, o que em sua avaliação não ocorre no caso da Lei
da Ficha Limpa. Assim, o ministro-presidente afastou a alegada violação do
artigo 16 da Constituição Federal pela LC 135/2010, sendo acompanhado
pelos ministros Arnaldo Versiani, Cármen Lúcia, Aldir Passarinho Junior e
Hamilton Carvalhido.

Contrariamente a essa corrente votaram os ministros Marcelo


Ribeiro e Marco Aurélio. Segundo eles, ao estabelecer causas de
inelegibilidade a LC 135/2010 interfere no processo eleitoral e fere o princípio
da anualidade previsto no artigo 16 da Constituição. Defenderam ainda que a
inelegibilidade não significa pena do ponto de vista do direito penal, mas
também não deixa de ser do ponto de vista eleitoral.

O Tribunal Superior Eleitoral ao concluir hoje o julgamento do


recurso de Francisco das Chagas decidiu que ele não poderá participar das
eleições do dia 3 de outubro, porque está inelegível por oito anos a contar das
eleições de 2004. Ele foi condenado por captação ilícita de sufrágio e
enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Assessoria TSE

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