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Organizações Sociais

Seminário discute papel das organizações sociais no espaço público; STF indefere
liminar pedida na ação direta de inconstitucionalidade

Situar o lugar já ocupado pelas organizações sociais na prestação de serviços públicos


não exclusivos do Estado e discutir as perspectivas do modelo para o futuro. Esses
foram os objetivos principais do seminário “As organizações sociais no novo espaço
público brasileiro”, que aconteceu dia 1º de agosto em São Paulo. No mesmo dia, o
plenário do Supremo Tribunal Federal indeferiu a liminar pleiteada na ação direta de
inconstitucionalidade contra a lei que instituiu as OSs.

A reunião, à semelhança da concepção em que se baseia o modelo OS, foi uma parceria
entre entes públicos – a secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São
Paulo e a secretaria de Negócios Jurídicos do Município de São Paulo – e um ente
privado -- o escritório de advocacia Rubens Naves, Santos Jr, Hesketh. Estruturado em
quatro principais painéis, o seminário se iniciou com a palestra “A renovação do Estado
e do Espaço Público no Brasil”, pelo vice-governador de Minas Gerais, Antonio
Augusto Junho Anastasia, apontado como responsável pela modernização da gestão
pública por que passa seu Estado nos últimos cinco anos. Os debates começaram após a
palestra, com o primeiro painel, intitulado “Avaliação do Modelo OS sobre o Prisma da
Eficiência”, em que Lúcia Melo, presidente do CGEE, apresentou a experiência das OSs
ligadas ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

“Queremos mostrar os bons exemplos das OSs no que diz respeito à gestão –
competente, porque atinge os resultados; e transparente, porque possibilita controle
social”, explicou o organizador Rubens Naves a Notícias do CGEE. “Estamos diante de
um modelo institucional que responde às demandas da Constituição pela criação do que
chamamos espaço público não estatal”, afirma o advogado.

A programação e os participantes
Passados quase dez anos desde sua introdução no ordenamento jurídico brasileiro, as
organizações sociais se consolidaram principalmente na área de ciência e tecnologia
(C&T) – no sistema federal, entre as sete organizações sociais credenciadas, cinco são
de C&T --, e na administração da saúde. Por isso, o segundo painel, “Avaliação do
Modelo OS sob o prisma da Satisfação dos Usuários”, teve como um dos debatedores
Nivaldo Carneiro Junior, especialista em Saúde Pública, que acompanha os resultados
do uso de OSs na gestão de hospitais no Estado de São Paulo.

O terceiro painel abordou o tema “Natureza Jurídica do Contrato de Gestão”. O contrato


de gestão, instrumento previsto pela lei das OSs, por meio do qual a organização se
vincula a um Ministério, é fundamental para garantir ao Estado e à sociedade a
possibilidade de avaliação de suas atividades, por estabelecer as tarefas que lhe são
delegadas, as metas a serem cumpridas e o prazo de seu cumprimento. O quarto painel
tocou em ponto controverso: que mecanismos de controle Estado e sociedade têm sobre
as OSs? Aqui, os organizadores convidaram para o debate Luiz Augusto Fraga Navarro
de Britto Filho, secretário-executivo da Controladoria-Geral da União (CGU); e o
advogado Eduardo Szazi, consultor jurídico do Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas. Mediará esse debate o diretor executivo da Transparência Brasil, Cláudio
Weber Abramo.
Finalmente, o advogado Rubens Naves e os secretários da Justiça e da Defesa da
Cidadania do Estado de São Paulo, Luiz Antonio Guimarães Marrey, e dos Negócios
Jurídicos do município, Ricardo Dias Leme, encerraram os trabalhos com o tema:
“Futuro das OSs – Oportunidades e Ameaças”.

O pano de fundo
A constitucionalidade do modelo das Organizações Sociais está em discussão no
Supremo Tribunal Federal (STF). A Lei 9637, que as criou, entrou em vigor em 15 de
maio de 1998; em 1º de dezembro do mesmo ano, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o
Partido Democrático Trabalhista (PDT) propuseram uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade contra ela. Na ocasião, os partidos também pediram ao Tribunal,
como medida cautelar, a suspensão imediata da vigência da Lei e da alteração que
promoveu na Lei 8666, das licitações. No dia 1 de agosto, o plenário indeferiu a medida
cautelar. Agora, entra em julgamento o mérito da ADI.

No dia 18 de junho, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a


Academia Brasileira de Ciências (ABC) decidiram pedir ao STF para participarem da
ação, na condição de Amicus Curiae, “Amigo da Corte” (leia mais em Notícias CGEE
edição 5). A presidente do Supremo, Ministra Ellen Gracie, decidiu incorporar
imediatamente o documento aos autos; mas não admitiu a participação das entidades
nesta fase do processo – do julgamento sobre a medida cautelar, já iniciado. Mesmo
assim, o documento foi citado durante o julgamento do dia primeiro.

Como a lei define as Organizações Sociais


A lei define uma OS não como um novo tipo de personalidade jurídica; mas sim como
uma qualificação que determinadas “pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
lucrativos”, se cumprirem nove requisitos listados no artigo segundo da lei, podem
receber do Poder Público se este achar oportuno e conveniente concedê-la. Um outro
exemplo de qualificação que o Estado já concede: utilidade pública federal. Com
entidades qualificadas como organização social, o poder público pode firmar um
contrato de gestão – essa sim, uma figura nova no direito brasileiro –, que atribui à OS a
execução de serviços determinados no contrato e para a qual estabelece metas objetivas
e cronogramas. Para que a OS realize esses serviços, recebe do Poder Público recursos
financeiros e bens; o Poder Público pode também lotar nelas funcionários seus. O artigo
quinto da lei define o contrato de gestão como um instrumento firmado entre Poder
Público e entidade qualificada como OS, que tem o objetivo de formar parceria para o
fomento e execução de atividades. O objetivo de formar parceria leva a outra
determinação da lei: de que o contrato de gestão seja “elaborado de comum acordo”
entre entidade privada e poder público.

Assim, um Ministério das áreas de atividade cobertas pela lei – ensino, C&T, saúde,
cultura, meio ambiente – pode escolher uma entidade qualificada como Organização
Social (que é privada e sem fins lucrativos) e repassar a ela os recursos necessários para
que execute certos serviços bem determinados. Para garantir que o uso dos recursos
públicos seja o melhor possível, a lei impõe controles externo e interno: a governança
por meio de um conselho de administração em que tem assento o próprio poder público
e a sociedade civil; determina que as contas sejam publicadas no Diário Oficial da
União; manda o Conselho de Administração acompanhar a execução dos serviços
inclusive por contratação de auditoria externa; e ainda submete a OS à comissão de
avaliação do contratante.
As organizações sociais do Ministério da Ciência e Tecnologia
Desde que a lei entrou em vigor, o MCT credenciou e celebrou contratos de gestão com
cinco organizações sociais: o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE); o
Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA); o Instituto de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá (IDSM); com a Associação Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
(RNP); e com a Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron, que gere o
Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS).

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