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Saad STO et al Rev. bras. hematol. hemoter.

2007;29(3):299-303

Artigo / Article

Complicações hepáticas na doença falciforme


Hepatic complications in sickle cell disease

Fabíola Traina Doentes falciformes podem apresentar alterações hepáticas agudas ou crônicas. As
agudas são caracterizadas por dor no quadrante superior direito e icterícia. O diag-
Sara T. O. Saad
nóstico diferencial inclui crise aguda de falcização hepática, seqüestro hepático, colestase
intra-hepática, colelitíase, coledocolitíase, colecistite e hepatite viral aguda. Estas com-
plicações devem ser diagnosticadas precocemente, através de história clínica, testes de
função hepática e exames radiológicos, e o tratamento deve ser prontamente iniciado.
Transfusão sangüínea é essencial para o tratamento das manifestações agudas causa-
das pelo processo de vaso-oclusão, como seqüestro hepático e colestase intra-hepáti-
ca. As alterações hepáticas crônicas são freqüentemente causadas pela hemólise crôni-
ca e múltiplas transfusões. Para prevenção, diagnóstico precoce e orientação terapêu-
tica da alteração hepática crônica, os doentes falciformes devem ser submetidos a
exames de rotina: testes de função hepática, sorologia para hepatite B e C, dosagem
sérica de ferritina e ultra-sonografia de abdômen. A biópsia hepática deve ser realiza-
da em pacientes com hepatite viral e em pacientes com alterações hepáticas crônicas
acentuadas e persistentes, afora das manifestações agudas. Rev. bras. hematol. hemoter.
2007;29(3):299-303.

Palavras-chave: Doença falciforme; alterações hepáticas.

Introdução vasculares secundárias à falcização presente na doença


falciforme.3
Alterações hepáticas são freqüentes em doentes A avaliação de setenta pacientes com doença falciforme
falciformes, ocorrendo predominantemente em pacientes em acompanhamento ambulatorial no Hemocentro da Unicamp
homozigotos para anemia falciforme e em menor freqüência revelou a ocorrência de Hepatite viral em 13 pacientes (dez
em indivíduos com hemoglobinopatia SC ou Sß talassemia. hepatite C, dois hepatite C e B e um hepatite B); colelitíase em
Os doentes falciformes podem apresentar alterações hepáti- 13 pacientes e antecedente de colecistectomia em 27 pacien-
cas agudas, que exigem tratamento e suporte imediato, ou tes. Alterações hepáticas à ultra-sonografia foram detecta-
alterações hepáticas crônicas. Estudos sobre incidência e das em 26 indivíduos, sendo esteatose em cinco indivíduos,
etiologia das alterações hepáticas crônicas em doentes hepatomegalia em 19 e cirrose em três. Elevação de ferritina
falciformes vivos são raros e limitados a um pequeno número (> 500 ng/dL) associada a transfusões crônicas foi observa-
de doentes.1-4 Somente quatro estudos com detalhamento da em 13 indivíduos e elevação de ALT em nove pacientes.
clínico, bioquímico, sorológico e histopatológico em pacien- Biópsia hepática foi obtida em vinte pacientes com altera-
tes vivos com diagnóstico de hepatopatia e doença hepato- ções hepáticas crônicas. Não ocorreram complicações asso-
biliar são descritos.1-4 Três destes estudos1,2,4 sugeriram que ciadas ao procedimento. Dezenove das vinte biópsias obti-
disfunção hepática está principalmente relacionada a causas das apresentaram algum grau de lesão vascular. Outros acha-
não vasculares, como hepatite viral ou obstrução crônica de dos histológicos encontrados estavam associados a hemos-
trato biliar. Entretanto, um destes estudos sugeriu que as siderose ou hepatite B ou C, incluindo inflamação portal,
lesões hepáticas são principalmente causadas por alterações hepatite crônica ou cirrose.

Centro de Hematologia e Hemoterapia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Clínica Médica.

Correspondência: Sara T. O. Saad


Rua Carlos Chagas, 480, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Caixa Postal: 6198
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Fax: (55-19)3289-1089
E-mail: sara@unicamp.br

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Alterações hepáticas secundárias ao da (TTPA), elevação da uréia e creatinina, trombocitopenia e


processo de falcização acidose lática.5,9
O tratamento da colestase intra-hepática deve ser reali-
Doentes falciformes podem apresentar alterações agu- zado com transfusão de troca e transfusão de plasma fresco
das causadas pelo processo de falcização caracterizadas por congelado para controle da coagulopatia.10,11
dor no quadrante superior direito e icterícia. O diagnóstico
diferencial inclui crise aguda de falcização hepática, seqües- Alterações hepáticas secundárias à hemólise
tro hepático e colestase intra-hepática. Outras manifestações crônica e múltiplas transfusões
que devem ser consideradas no diagnóstico diferencial são
as manifestações clínicas agudas como colelitíase e coledo- Colelitíase e coledocolitíase
colitíase com obstrução do ducto biliar comum, colecistite e A elevada excreção constante de bilirrubina resulta em
hepatite viral aguda.5,6 formação freqüente de cálculos biliares. A colelitíase é mais
freqüente em indivíduos homozigotos para anemia falciforme
Crise aguda de falcização hepática (58%) se comparados a indivíduos com hemoglobinopatia
Pacientes apresentam-se com dor no quadrante superi- SC ou Sß talassemia (17%) e a prevalência aumenta com a
or direito, náusea, hepatomegalia dolorosa, febre e icterícia. idade. Coledocolitíase tem sido descrita em 18% dos pacien-
aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase tes submetidos à colecistectomia.12
(ALT) raramente excedem 300 IU/L. Bilirrubina sérica eleva- Colecistectomia deve ser realizada em pacientes com
se em torno de 15mg/dL. O processo é autolimitado e reverte- sintomas decorrentes de colelitíase para prevenir sintomas
se em 3 a 14 dias com analgesia e hidratação.5 recorrentes e evitar dúvidas no diagnóstico diferencial en-
tre outras complicações hepáticas e cólica biliar ou cole-
Seqüestro hepático cistite. O procedimento deve ser realizado após a ocorrên-
O seqüestro hepático caracteriza-se por dor no qua- cia de uma crise de cólica biliar, mas não no episódio agudo
drante superior direito, hepatomegalia, queda no hematócrito, de dor. O adiamento da cirurgia por tempo prolongado pode
aumento dos reticulócitos e pouca alteração das enzimas favorecer a inflamação crônica da vesícula biliar e dificultar
hepáticas. Ultra-sonografia e tomografia computadorizada de o procedimento cirúrgico.
abdômen revelam apenas hepatomegalia.7 A reversão do se- A indicação de colecistectomia profilática, na presença
qüestro hepático com conseqüente liberação de hemácias à de colelitíase e ausência de sintomas clínicos, ainda é con-
circulação sangüínea pode resultar em um aumento dos ní- troversa. O procedimento cirúrgico está associado ao risco
veis de hemoglobina, hipervolemia e hiperviscosidade.8 O de síndrome torácica aguda (10%) e crises álgicas (5%). A
tratamento do seqüestro hepático deve ser feito com trans- freqüência de complicações é semelhante entre o preparo
fusão de troca. A transfusão simples é uma opção terapêuti- pré-operatório realizado com transfusão simples para eleva-
ca, mas deve ser utilizada com cautela pelo risco de hiper- ção da hemoglobina para 10 g/dL ou transfusão de troca para
volemia.5 redução da HbS < 30 %.13,14
A indicação de colecistectomia por laparotomia ou
Colestase intra-hepática laparoscopia deve ser individualizada. A colecistectomia
A colestase intra-hepática resulta de um processo de laparoscópica apresenta as vantagens de menor incisão ab-
falcização intra-sinusoidal, hipoxemia e isquemia dos hepa- dominal, redução no período de internação, redução no perí-
tócitos com conseqüente edema dos hepatócitos e colestase odo de analgesia e redução na morbidade peri-operatória.
intracanalicular. As manifestações clínicas são semelhantes Desvantagens potenciais do procedimento laparoscópico
à crise aguda de falcização hepática, com dor no quadrante incluem a necessidade do uso de dióxido de carbono que
superior direito, náusea, vômito, hepatomegalia dolorosa, pode favorecer a falcização, compressão do diafragma difi-
febre e leucocitose. Entretanto, ocorre um aumento acentua- cultando a respiração, redução do volume cardíaco devido à
do da bilirrubina, acompanhado de insuficiência renal, compressão da veia cava inferior, dificuldade na detecção de
coagulopatia e encefalopatia hepática.5,9 sangramento e cálculos no ducto biliar.15 Colangiopancrea-
A dosagem sérica de ALT varia de 34 a 3070 IU/L, a tografia retrógrada endoscópica seguida de colecistectomia
dosagem sérica de AST varia de 100 a 6680 IU/L. Achado endoscópica é uma boa opção para pacientes com coledo-
característico é a acentuada elevação da bilirrubina, com pre- colitíase e colelitíase.16
domínio de bilirrubina conjugada na maioria dos casos. A Elevados níveis séricos de bilirrubina indireta e cole-
elevação da bilirrubina ocorre como conseqüência da hemó- litíase têm sido observados em doentes falciformes homo-
lise, colestase intra-hepática e alteração renal. A dosagem zigotos para a Síndrome de Gilbert se comparados aos hetero-
sérica de lactato desidrogenase está normalmente elevada zigotos ou normais.17,18 Dessa forma, a Síndrome de Gilbert é
(660 - 7760 IU/L). São freqüentes o prolongamento do tempo um fator de risco para a ocorrência de colelitíase em doentes
de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativa- falciformes.

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Hemocromatose causada por doença não hepática.5,28 Elevação de bilirrubinas,


O nível sérico de ferritina pode estar elevado na pre- LDH e AST podem ser atribuídas ao processo de hemólise
sença de crise de falcização, inflamação ou doença crônica.19 que ocorre nos doentes falciformes,1 a elevação da fosfatase
A ferritina sérica persistentemente elevada em doente falci- alcalina pode ser de origem óssea e não hepática29 e a eleva-
forme fora da crise aguda de falcização pode correlacionar-se ção da gama-glutamiltransferase pode estar associada ao uso
com o número de concentrado de hemácias transfundidos e de álcool e drogas.30 Desta forma, níveis plasmáticos de ALT
depósito hepático de ferro.20 Ressonância nuclear magnética são os melhores indicadores laboratoriais de lesão hepática
é útil na quantificação do depósito hepático de ferro e pode crônica em doentes falciformes.
ser utilizada em substituição da biópsia hepática na quanti-
ficação do ferro hepático.21 Quelação de ferro com desfero- Exames radiológicos para avaliação hepática
xamina resulta em um aumento da excreção urinária e biliar de A ultra-sonografia de abdômen é útil na avaliação he-
ferro, com conseqüente redução nos níveis de ferritina e ALT.22 pática de hepatomegalia, cirrose hepática e coletitíase. A
O uso de eritocitaférese, em substituição à transfusão sim- hepatomegalia detectada à ultra-sonografia pode ser conse-
ples, retarda o acúmulo de ferro em doentes falciformes.23 qüência da expansão do sistema reticuloendotelial hepático
secundário à hemólise crônica.31 A ultra-sonografia de abdô-
Hepatite viral men deve ser realizada a cada 12 ou 24 meses como exame de
Hepatite viral tem a mesma apresentação clínica em do- rotina. A tomografia computadorizada de abdômen deve ser
entes falciformes e na população geral, exceto pelo elevado indicada em casos específicos para o diagnóstico diferencial
nível de bilirrubina decorrente da hemólise crônica no doen- da dor no quadrante superior de abdômen, podendo detectar
te falciforme. A incidência de hepatite B está relacionada à hepatomegalia, abscessos hepáticos, infarto hepático,
epidemiologia da doença viral. A incidência da hepatite C sangramentos e alterações pulmonares em base direita.32 A
está associada às transfusões sangüíneas.24-26 A hepatite C ressonância nuclear magnética pode ser útil para avaliação
crônica está associada a manifestações extra-hepáticas que do depósito hepático de ferro e deve ser realizada quando
incluem vasculite, crioglobulinemia, púrpura, artralgia e glome- disponível.21
rulonefrite.
Todos os doentes falciformes devem ser submetidos a Biópsia hepática
testes sorológicos de rotina para hepatite B e C. Os doentes Um estudo recente descreve que biópsia hepática con-
falciformes negativos para hepatite B devem ser submetidos fere um risco a pacientes com alterações hepáticas agudas,
à vacinação. Os doentes falciformes com sorologia positiva mas são úteis na avaliação de alterações hepáticas crôni-
para hepatite B ou C devem ser encaminhados a infecto- cas.33 Os achados histológicos primariamente causados pelo
logistas e gastroenterologistas para definição da necessida- processo de falcização têm sido reafirmados em vários estu-
de de biópsia hepática e tratamento específico. O tratamento dos2-4,34 e incluem falcização intrasinusoidal, hiperplasia das
da hepatite não deve ser contra-indicado em função da ane- células de Kupffer, eritrofagocitose e dilatação sinusoidal
mia ou hemólise. O hematologista deve acompanhar o trata- proximal. Não é descrita correlação entre intensidade de
mento junto com o infectologista ou gastroenterologista e falcização intrasinusoidal e níveis de AST e ALT. Outros acha-
transfundir o paciente se necessário. dos histológicos freqüentes estão associados a hemos-
A hepatite auto-imune deve ser considerada no diag- siderose, hepatite B ou C, incluindo inflamação portal, hepa-
nóstico diferencial de hepatite no doente falciforme. As ma- tite crônica ou cirrose. Dessa forma, biópsia hepática pode
nifestações clínicas observadas podem ser alteração persis- contribuir para o manejo clínico dos pacientes com doença
tente de enzimas hepáticas, gamopatia policlonal e manifes- falciforme.33 A biópsia hepática deve ser realizada em pacien-
tações extra-hepáticas como artropatia e rash cutâneo. O di- tes com hepatite viral, quando indicada pelo infectologista
agnóstico é confirmado através de biópsia hepática. O trata- ou gastroenterologista para guiar o tratamento, e em pacien-
mento com imunossupressor pode reverter o processo auto- tes com alterações hepáticas crônicas acentuadas e persis-
imune.27 tentes.

Investigação de doença hepática Outras modalidades terapêuticas

Exames laboratoriais para avaliação hepática O aumento da sobrevida dos doentes falciforme asso-
Em doentes falciformes, testes de função hepática po- ciado a maior experiência dos procedimentos de transplante
dem apresentar alterações agudas importantes, caracterizan- hepático propiciou a realização deste procedimento em al-
do diferentes complicações hepáticas conforme detalhado guns doentes falciformes. Entretanto, o procedimento este-
na descrição das alterações hepáticas agudas. Os testes de ve associado à alta morbidade e mortalidade relacionado prin-
função hepática tradicionais podem estar cronicamente alte- cipalmente a complicações vasculares da doença falciforme.
rados, entretanto a alteração crônica destes testes pode ser O regime de transfusão regular para manter HbS < 20% não

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foi suficiente para evitar as complicações vasculares nos submetidos à vacinação para hepatite B. Os doentes com
casos descritos.35,36 Dessa forma, até a presente data, o trans- hepatite viral devem ser encaminhados a especialistas e tra-
plante hepático apresenta maus resultados no tratamento tados com interferon e/ou ribavirina, apesar do risco de piora
das complicações hepáticas crônicas da doença falciforme. da anemia.
• A biópsia hepática deve ser realizada em pacientes
Recomendações finais com hepatite viral, quando indicada pelo infectologista ou
gastroenterologista para guiar o tratamento, e em pacientes
• As complicações hepáticas agudas devem ser com alterações hepáticas crônicas acentuadas e persisten-
diagnosticadas precocemente e o tratamento deve ser pron- tes, fora da manifestação aguda de alteração hepática.
tamente iniciado. • A pesquisa da Síndrome de Gilbert deve ser realiza-
• O diagnóstico diferencial de dor no quadrante su- da em todos os doentes falciformes, pois é um fator de risco
perior direito do abdômen inclui crise aguda de falcização para a ocorrência de colelitíase.
hepática, seqüestro hepático, colestase intra-hepática, cole- • Dosagem plasmática de ALT é o melhor indicador
litíase, coledocolitíase com obstrução do ducto biliar comum, laboratorial de lesão hepática crônica em doentes falciformes.
colecistite e hepatite viral aguda. As alterações crônicas de AST, fosfatase alcalina, gama-
• Todos os pacientes com dor no quadrante superior glutamiltransferase e bilirrubinas podem ser secundárias à
direito do abdômen devem ser submetidos a exames labo- hemólise crônica e não representar doença hepática.
ratoriais incluindo hemograma completo, contagem de reti- • Transplante hepático é uma modalidade terapêuti-
culócitos, TP, TTPA, dosagem de AST, ALT, bilirrubinas, uréia ca de alta morbidade e mortalidade ao doente falciforme.
e creatinina. O exame de ultra-sonografia de abdômen auxilia
no diagnóstico diferencial. As alterações características de
cada manifestação clínica estão descritas no texto. Abstract
• A crise hepática aguda de falcização deve ser trata-
Patients with sickle cell disease may present acute or chronic
da com analgesia e hidratação.
hepatopathy. The acute syndrome is characterized by right upper
• O seqüestro hepático deve ser tratado idealmente quadrant abdominal pain and jaundice. The differential diagnoses
com transfusão de troca; a transfusão simples pode ser rea- include acute sickle hepatic crises, hepatic sequestration, sickle
lizada com cautela para evitar a hipervolemia. cell intrahepatic cholestasis, cholecystitis, choledocholithiasis and
• A colestase intra-hepática aguda deve ser tratada acute viral hepatitis. These alterations can be differentiated by a
com transfusão de troca, correção da coagulopatia com trans- careful history, liver function tests and hepatobiliary imaging
fusão de plasma fresco congelado e suporte para as altera- studies. The specific treatment must be promptly initiated. Red
ções renais. blood cell transfusion is essential for the treatment of the clinical
• Os doentes falciformes devem ser submetidos a syndromes caused by the sickling process such as hepatic
sequestration and sickle cell intrahepatic cholestasis. Chronic liver
exame de ultra-sonografia de abdômen a cada 12 ou 24 meses
disease is frequently caused by chronic hemolysis and multiple
para avaliação do parênquima hepático e presença de
transfusions. In an attempt to prevent, early diagnosis and
colelitíase. treatment of chronic liver disease, sickle cell disease patients must
• A colelitíase deve ser tratada com cirurgia. A cole- be routinely submitted to liver function tests, serologic tests for
cistectomia deve ser realizada após um episódio de crise hepatitis B and C, serum ferritin levels and abdominal ultrasound.
biliar, fora do episódio agudo. A indicação de laparotomia Liver biopsy may be indicated in patients with virus hepatitis and
ou cirurgia laparoscópica deve ser individualizada, a de- in patients with persistent and accentuated alterations in liver
pender das características do paciente e da experiência do function tests, out of acute sickle cell hepatic crises. Rev. bras.
serviço. O suporte transfusional pré-operatório pode ser hematol. hemoter. 2007;29(3):299-303.
realizado com transfusão simples para elevação da
Key words: Sickle cell disease; hepatopathy.
hemoglobina para 10 g/dL ou transfusão de troca para re-
dução da HbS < 30%.
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• Todos os doentes falciformes devem ser submeti- Vascular lesions of the liver in sickle cell disease. A clinico-
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