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2012

Saúde Pública
Incidentes Provocados por
Substâncias Químicas

Não existe local, em casa ou no trabalho, totalmente livre do risco de exposição a um


incidente envolvendo substâncias perigosas. Os químicos industriais tóxicos são
utilizados e armazenados em grande quantidade junto a zonas urbanas densamente
Nuno Sousa
povoadas. As substâncias químicas são transportadas em larga escala por via rodoviária
Instituto Superior de Educação e Ciências
ou ferroviária, atravessando centros populacionais. Os próprios produtos de utilização
doméstica podem ser perigosos se mal utilizados ou armazenados. Projecto I
Cadeira de
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Incidentes Provocados por Substâncias Químicas
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Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 3

Trabalho Saúde Pública

Incidentes Provocados por


Substâncias Químicas

Docente

Dr.ª Maria José Albuquerque

Discentes

20080712 – Nuno Sousa


20090041 – Vítor Batista
20090231 – Pedro Luís
20090474 – Joana Costa

Janeiro de 2012
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 4

Índice
Índice de Ilustrações.............................................................................................................................. 4
Introdução ............................................................................................................................................. 5
Saúde Pública ........................................................................................................................................ 6
Proteção Civil......................................................................................................................................... 6
Definição ........................................................................................................................................... 6
Objetivos da Proteção Civil ................................................................................................................... 7
Acidente Químico .................................................................................................................................. 7
Mecanismos de Lesão ....................................................................................................................... 7
Incêndios ........................................................................................................................................... 7
Explosão ............................................................................................................................................ 8
Toxicidade ......................................................................................................................................... 8
Traumas Psicológicos ........................................................................................................................ 8
Fases do Ciclo de Gestão de Emergência .............................................................................................. 8
Prevenção ......................................................................................................................................... 9
Preparação ...................................................................................................................................... 11
Resposta.......................................................................................................................................... 12
Recuperação ........................................................................................................................................ 13
Conclusão ............................................................................................................................................ 13
Referências Bibliográficas e Outras..................................................................................................... 15
Bibliográficas ................................................................................................................................... 15
Internet ........................................................................................................................................... 15

Índice de Ilustrações
Ilustração 1 – Protecção Civil ................................................................................................................ 6
Ilustração 2 – Ciclo de Gestão da Emergência ...................................................................................... 8
Ilustração 3 - Configuração Genérica de Zonas de Resposta .............................................................. 12
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 5

Introdução
A evolução humana, ao longo de tempos imemoriais, sustentou-se na capacidade inerente de
observar o mundo, inquirindo-se sobre o porquê da relação entre as causas e os efeitos
observados.

Chegado ao segundo milénio da nossa era, o Homem actual, considera tão normal como o acto de
respirar e comer, o uso do telemóvel e da internet, o deslocar-se entre continentes em menos de
um dia, o ser socorrido em qualquer local em tempo útil, o ser curado de doenças que há cinquenta
anos eram incuráveis, o ter acesso a uma infinitude de medicamentos, o ter disponível veículos
produzidos no Japão, o comer kiwis da Nova Zelândia, camarões de Madagáscar, carne da
Argentina, vinho Chileno, molho de soja da China, insecticidas e herbicidas para a agricultura, o ter
combustível extraído no Médio Oriente para a sua deslocação, etc. Muito deste mundo novo não
seria possível sem investigação científica, domínio tecnológico e descoberta de novas substâncias e
compostos químicos passíveis de classificação “perigoso”.

A extracção, transformação, transporte, recepção, formulação, produção, armazenamento e venda


de substâncias químicas perigosas apresentam riscos para as populações e saúde pública de uma
comunidade.

O presente trabalho abordará o tema “Incidentes provocados por substâncias químicas” nas
diversas fases do desastre.
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 6

Saúde Pública
A Saúde Pública pode ser definida como as medidas organizacionais (públicas ou privadas) para
prevenção da saúde, visando prolongar a vida de uma população no seu conjunto global, com níveis
de qualidade comummente aceites. As actividades desenvolvidas em Saúde Pública, visam
providenciar as condições através das quais as pessoas podem ser mais saudáveis focalizando as
acções em toda a comunidade e não em doentes particulares ou doenças. A Saúde pública dedica-
se à totalidade do sistema e não com a erradicação de uma doença particular.

Proteção Civil
O que é a Proteção Civil? O termo é de conhecimento geral, mas importa perguntar: Conheceremos
o seu significado? A finalidade principal da proteção civil assenta na prevenção dos riscos coletivos
e não dos individuais.

RISCO: A possibilidade de ocorrerem perda de vidas humanas, bens ou capacidade produtiva


quando estes elementos são expostos a um evento destrutivo. O nível de risco depende
especialmente da vulnerabilidade dos elementos exposto a um perigo.

RISCO ADMISSÍVEL: Nível de perdas que uma sociedade considera aceitável, ponderando as
condições sociais, económicas, políticas, culturais e ambientais, nela existente.

Definição
1
“A proteção civil é a atividade desenvolvida pelo Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais,
pelos cidadãos e por todas as entidades públicas e privadas com a finalidade de prevenir riscos
coletivos inerentes a situações de acidente grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e
proteger e socorrer as pessoas e bens em perigo quando aquelas situações ocorram”.

Ilustração 1 – Protecção Civil

1
N.º 1 do artigo 1.º da Lei n.º 27/2006 de 3 de Julho
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 7

Da definição de Proteção Civil verificamos que o desenvolvimento da sua atividade é


responsabilidade de toda a sociedade, desde o Estado ao cidadão, encontrando aqui alguma
similaridade com o conceito da saúde pública que focaliza a sua ação no todo da comunidade
(coletivo).

Objetivos da Proteção Civil


São objetivos fundamentais da proteção civil:

 Prevenir os riscos coletivos e a ocorrência de acidente grave ou de catástrofe deles


resultantes;
 Atenuar os riscos coletivos e limitar os seus efeitos no caso das ocorrências descritas na
alínea anterior;
 Socorrer e assistir as pessoas e outros seres vivos em perigo proteger bens e valores
culturais, ambientais e de elevado interesse público;
 Apoiar a reposição da normalidade da vida das pessoas em áreas afetadas por acidente
grave ou catástrofe.

Verificamos nos objetivos da Proteção Civil bem ilustradas as diferentes fases do Ciclo de Gestão de
Emergência. A prevenção, a atenuação (mitigação), o socorro (preparação e resposta) e o apoio
(recuperação e reabilitação).

Acidente Químico
Um acidente químico manifesta-se pela libertação descontrolada de uma substância tóxica,
resultando num dano efectivo, ou potencial, para a saúde pública e ambiente2. Um acidente
químico despoleta, usualmente, uma resposta da organização responsável pela saúde pública,
incluindo uma avaliação da vulnerabilidade e do risco e/ou emissão de avisos às autoridades
públicas ou ao público.

Mecanismos de Lesão

Os incidentes químicos podem causar lesão em pessoas através de quatro mecanismos básicos:

 Incêndio
 Explosão
 Toxicidade
 Traumas Psicológicos

Estes mecanismos de lesão ainda que de aparência distinta, na realidade encontram-se bastante
interrelaccionados.

Incêndios

Os incêndios provocam lesões através do calor irradiado e da decomposição dos combustíveis em


substâncias tóxicas.

Outro efeito secundário dos incêndios é o fenómeno de sobrepressão (deflagração ou explosão)


devido à cedência mecânica dos invólucros (recipientes, garrafas, tanques, reservatórios) em

2
Glossário da “Health Protection Agency”, Reino Unido (http://www.hpa.org.uk)
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 8

consequência do aquecimento dos invólucros que contém químicos. Qualquer grande incêndio
deve ser considerado como um acidente químico.

Explosão
Uma explosão produz lesões traumáticas, devido a causas mecânicas, através da onde de choque,
libertação de fragmentos e projéteis. Como efeito secundário, uma explosão pode resultar em
incêndios ou perca de contenção de tóxicos químicos com exposição de pessoas a substâncias
perigosas (Ex: penetração de fragmentos de metal num reservatório de Cloro produzindo-se o
denominado “Efeito dominó”.)

Toxicidade
A toxicidade manifesta-se pelo contacto humano com substâncias químicas libertadas dos seus
recipientes de contenção, em armazenamento ou transporte, ou pela reacção entre elementos
químicos ou compostos ou produtos de uma combustão. A toxicidade pode causar danos por
diversos mecanismos numa amplitude entre queimaduras químicas a asfixia e neurotoxicidade.

Traumas Psicológicos
Os efeitos na saúde não são somente determinados pela exposição aos químicos, aos incêndios ou
explosões mas igualmente à exposição das vítimas ao evento em si. A exposição ao evento pode
produzir efeitos duradouros com manifestação ao nível da saúde mental. Incidentes severos
possuem o potencial para destroçar a vida das vítimas através dos ferimentos, da perca de
familiares, de bens, emprego ou ruptura social. Existem vários registos de afectação das vítimas,
numa proporção substancial, ao nível da manifestação de efeitos de longo prazo da saúde mental.

Fases do Ciclo de Gestão de Emergência


A atividade de Proteção Civil integra as várias fases do Ciclo de Gestão de Emergência ao incorporar
as palavras “prevenir”, “atenuar”, “proteger”, “socorrer”.

Vejamos as fases do Ciclo de Gestão de Emergência.

Ilustração 2 – Ciclo de Gestão da Emergência

Para facilitar a compreensão das diferentes fases do Ciclo de Gestão de Emergência descreve-se o
significado atribuído a cada uma das fases:
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 9

PREVENÇÃO: Atividades para evitar um incidente ou para interromper a ocorrência duma


emergência.

MITIGAÇÃO: Atividades adotadas para eliminar ou reduzir a probabilidade do evento ou para


reduzir a sua severidade ou consequências, antes ou a seguir à ocorrência dum
desastre/emergência.

PREPARAÇÃO: atividades, tarefas, programas e sistemas desenvolvidos e implementados


antes dum desastre/emergência, com o intuito de suportar as fases da prevenção, mitigação,
resposta, recuperação e reabilitação decorrentes de desastres/acidentes.

RESPOSTA: atividades, tarefas, programas e sistemas contínuos, concebidos para gerir os


efeitos dum incidente que constitui ameaça para a vida, propriedade, operações ou para o
ambiente.

RECUPERAÇÃO: atividades e programas concebidos para recuperar a curto prazo as condições


mínimas consideradas aceitáveis pela sociedade.

REABILITAÇÃO: atividades e programas concebidos para restituir à sociedade as condições


existentes à altura do incidente, com inclusão de instrumentos de mitigação para impedir
incidentes futuros.

Verificado o significado de cada uma das fases do Ciclo de Gestão de Emergência, revela-se
importante distinguir os termos acidente grave ou catástrofe. Eis o seu significado:

ACIDENTE GRAVE: é um acontecimento inusitado com efeitos relativamente limitados no


tempo e no espaço, suscetível de atingir as pessoas e outros seres vivos, os bens ou o
ambiente.

CATÁSTROFE: é o acidente grave ou a série de acidentes graves suscetíveis de provocarem


elevados prejuízos materiais e, eventualmente, vítimas, afetando intensamente as condições
de vida e o tecido socioeconómico em áreas ou na totalidade do território nacional.

Da leitura dos dois conceitos pode concluir-se que um acidente grave é um acontecimento
relativamente limitado no espaço (rua, bairro, uma indústria, etc.) e no tempo (um dia, uma
semana). Uma catástrofe, não sendo caracterizada em termos de espaço e tempo, distingue-se do
acidente grave pela provocação de elevados prejuízos com afetação das condições de vida da
sociedade, os seus efeitos afetam um maior número de variáveis indispensáveis à vida do dia-a-dia
das populações (escolas, energia elétrica, distribuição de gás, fecho de unidades industriais, etc.).

Prevenção
A fase da prevenção visa a redução da manifestação da probabilidade de ocorrência de acidentes
com substâncias químicas, reduzindo a severidade dos efeitos caso estes ocorram. Assim procura-
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 10

se atingir, por meio de medidas pró-ativas, a eliminação estrutural das causas dos acidentes como
elemento primário da prevenção. Quando tal não é possível a prevenção focaliza-se na redução da
probabilidade, reduzindo a vulnerabilidade, com desenvolvimento de estratégias de aumento da
resiliência das populações expostas a evento com substâncias químicas.

Nesta fase devem ser adoptadas medidas técnicas de proteção por camada. Existem várias técnicas
de proteção. Estas podem ser a arquitetura e engenharia do processo com definição dos controlos
básicos, dos processos de alarme e mecanismos de supervisão. Outra camada poderá ser a
definição de níveis para activação de alarmes critícos e intervenção manual, podendo ser
adicionados mecanismos de deteção e resposta automática, elementos de libertação de pressão,
barreiras físicas, planeamento de resposta de emergência e resposta da comunidade.

A fase da prevenção e o estudo das técnicas de proteção por camada deve suportar-se numa
análise de cenários e avaliação de impactes.

Na definição das estratégias de prevenção, as acções políticas, legistativas e fiscalizadoras a realizar


podem incidir sobre medidas actuantes sobre licenciamento, ordenamento do território, códigos
construtivos, regulamentação de transporte e armazenagem, segurança e higiene do trabalho,
bases de dados sobre instalações com matérias perigosas, gestão de resíduos industriais perigosos
e locais de deposição, gestão ambiental, planeamento de emergência e fiscalização a
estabelecimentos classificados com nível de perigosidade.

A instalação de um estabelecimento industrial perigoso não pode ocorrer sem a aprovação de um


organismo governamental. No processo de licenciamento são garantidas as medidas de segurança,
que em caso de violação podem ser objecto de penalização. O processo de licenciamento pode
exigir a formulação de análises de risco e cenários, com efeitos de dominó na instalação e
instalações vizinhas. Inúmeras vezes é exigida uma colaboração estreita entre os operadores e as
autoridades locais, com participação conjunta deste no processo de planeamento de emergência e
realização de exercícios para validação dos cenários e organização da resposta.

O planeamento sobre o ordenamento do território permite identificar áreas onde os


estabelecimentos industriais perigosos possam ser instalados a distâncias seguras de locais
sensíveis para a segurança humana (escolas) e ambiental (locais de captação de água). Um plano de
ordenamento do território permite definir até onde pode um operador construir uma fábrica ou
por onde poderão transitar matérias perigosas em função de uma cartografia de risco, indicando
áreas especialmente sensíveis a cheias, sismos, tsunamis, deslizamentos de terra, etc.

Os códigos construtivos servem para uniformizar uma tipologia construtiva com padrões mínimos
de segurança para a ocorrência de sismos e incêndios.

A regulamentação de transporte e armazenagem de matérias perigosas obriga à catalogação dos


contentores de transporte e quais as acções a serem realizadas em caso de acidente ou libertação
acidental.

A legislação de segurança e higiene do trabalho obriga o empregador e funcionários a cumprirem


um conjunto de medidas ao nível dos conhecimentos, organização, operação, uso de equipamentos
de protecção individual, formação e treino com o objectivo de eliminar a ocorrência de acidentes
ou exposição a substâncias perigosas com efeitos negativos para os trabalhadores.

As bases de dados de instalações com matérias perigosas contém informação sobre as substâncias
ou compostos que apresentam perigos para a saúde pública, saúde ocupacional e ambiental,
obrigando os operadores a registarem os produtos perigosos, com identificação dos químicos,
misturas ou categorias de químicos, o seu potencial de contaminação e dano para a saúde e
ambiente. Contudo inúmeros acidentes ocorrem em pequenas instalações, não identificadas, como
pequenos armazéns, piscinas, oficinas sendo desejável, ao nível local, identificar as pequenas
instalações que possam manusear substâncias perigosas.
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 11

A gestão de resíduos industriais perigosos e os locais de deposição dos resíduos são objecto de
regulamentação própria, com cobertura do registo dos operadores, dos processos inspectivos, do
controlo das cargas, da vigilância sanitária dos trabalhadores e dos programas de treino, prevendo-
se mecanismos de punição quando infringidas as normas em vigor.

A saúde pública deve socorrer-se igualmente dos instrumentos de medição e avaliação da


qualidade ambiental, nos vectores qualidade do ar, qualidade dos solos, qualidade das águas
interiores e exteriores e produtos alimentares.

O planeamento de emergência é usualmente organizado ao nível local, com integração deste no


planeamento de nível nacional. Este processo deve contemplar as capacidades locais de detecção,
alerta e resposta; papéis de comando e controlo e respectivas responsabilidades; mecanismos de
interligação com as estruturas nacionais, requisitos dos operadores e mecanismos de ligação com
as autoridades locais, treino, exercícios e capacidade operacional para resposta a acidentes com
substâncias perigosas.

Para garantir a execução das normas legais existem entidades governamentais de fiscalização que
visam garantir a implementação dos requisitos de segurança, focalizando a sua acção sobre o
processo de gestão de substâncias químicas no geral. As equipas de inspectores devem verificar e
analisar todos os aspectos dos planos de segurança.

Preparação

Em conjugação com a fase de prevenção, a preparação pretende a capacitação para responder a


acidentes graves ou catástrofes. A fase de preparação implica um processo de planeamento e
preparação, que se suporta na constituição de equipas multidisciplinares, visando a conceção,
estruturação, previsão e aquisição e manutenção de uma capacidade de resposta à emergência.

Os grupos de planeamento constituídos na fase de preparação, inclusive para prevenção da saúde


pública, podem aceder a bases de dados sobre matérias perigosas, a legislação geral e específica, a
manuais de boas práticas, a estudos sobre técnicas e equipamentos para construírem um programa
de preparação dos agentes responsáveis pela execução do programa de preparação.

O programa deve identificar os locais de prestação dos cuidados de saúde, onde os profissionais de
saúde devem ser sensibilizados para organizarem modelos de resposta no caso de acidentes com
substâncias químicas, dada a especificidade do tipo de ocorrência. Os profissionais de saúde devem
preparar-se para responder a cenários de libertação de substâncias tóxicas ao ar livre, explosões e
incêndios, epidemias ou pandemias, adotando procedimentos de ativação de equipas para
mobilização para o terreno de operações de modo a possibilitar uma triagem primária e secundária,
com despacho das vítimas para os locais de receção de sinistrados, que se encontram previamente
ativados para receção das vítimas.

Ao nível dos Agentes de Proteção Civil devem ser previstos protocolos de comunicação para
disseminação da informação de modo a implementar a estratégia definida no plano de prevenção.

Paralelamente deve ser dada atenção à comunicação em situação de emergência, que


preferencialmente assenta numa estrutura nomeada de coordenação, dirigida ou coordenada pelo
Gestor da Emergência, que se relaciona com os meios de comunicação social e será tanto mais
profícua quanto mais capacitada estiver a estrutura de coordenação, podendo esta, apoiar-se no
modelo proposto no guia de campo da OMS - Media Communication during Public Health
Emergencies - que assenta nas sete etapas que se indicam:

1. Avaliar as necessidades da comunicação social, constrangimentos e capacidades de


relacionamento interno com a comunicação social;
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 12

2. Desenvolver objetivos, planos e estratégias;


3. Treinar uma equipa de comunicação;
4. Preparar mensagens;
5. Identificar os meios de comunicação social;
6. Fornecimento de mensagens;
7. Avaliação das mensagens e resultados.

Resposta
A fase da resposta implica a existência de uma organização de resposta interna dos
estabelecimentos que laboram com substâncias perigosas ou das entidades com missão
operacional nas áreas da proteção e socorro e da saúde.

A Organização Mundial de Saúde indica oito passos sequenciais a realizar na fase da resposta:

1. Controlar a fuga, prevenir a disseminação do contaminante e limitar a exposição dos


agentes expostos – pessoas e outros seres vivos.

3
Ilustração 3 - Configuração Genérica de Zonas de Resposta

2. Activar o Sistema de Gestão de Emergências, incluindo as estruturas de resposta no


domínio da Saúde Pública.
3. Providenciar uma avaliação inicial com aviso e alerta aos serviços de saúde pública.
4. Assegurar a coordenação e integração da resposta dos serviços de saúde pública.

3
Autoridade Nacional de Proteção Civil. Diretiva Operacional Nacional n.º 3 - NRBQ, 2010.
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5. Conduzir uma avaliação dos melhores resultados para as acções de curto e longo prazo.
6. Disseminar informação e as melhores práticas para as equipas de primeira intervenção,
população e órgãos de comunicação social.
7. Efetuar registo de toda a população exposta (estudo epidemiológico), recolhendo amostras
para eliminar futuras fontes de exposição.
8. Conduzir investigação quanto às causas.

Recuperação
Um acidente envolvendo substâncias perigosas, à semelhança do ocorrido em Bhopal, Índia (1984),
onde 500.000 pessoas foram afetadas pela explosão de um reator, com libertação de Metil
Isocianato para as populações vizinhas e ambiente, pode perdurar e fazer manifestar os seus
efeitos durante longos anos após a sua ocorrência. Durante este tempo, dezenas, centenas ou
milhares de pessoas poderão necessitar de acompanhamento médico, quer por manifestação de
efeitos mais ou menos duradouros no seu organismo, quer por ingestão de alimentos – vegetais ou
animais – produzidos em terrenos contaminados ou por ingestão de água captada em cursos de
água contaminada (superfície ou subterrânea). No processo de recuperação, as entidades políticas,
suportadas em estudos técnicos, poderão ser confrontadas com a incapacidade, teórica ou efetiva,
de recuperação de uma área afectada, com toda a alocação de recursos e capacidade de gestão
que tal processo exige na condução dos destinos das populações afetadas. Assim o processo de
recuperação é um processo de largo espectro, que se inicia imediatamente após a conclusão, ainda
que com limites difusos, das operações de gestão operacional da emergência.

Este processo adquire dimensão palpável assim que se iniciam os cuidados de garantia das
condições mínimas de sobrevivência para as pessoas afetadas, podendo concretizar-se através da
instalação de um campo de desalojados, onde são construídas e instaladas valências similares à
vida normal do quotidiano das pessoas. Ex: espaço escolar e lúdico, espaço para cuidados médicos
e apoio psicológico, posto dos correios, infraestruturas de saneamento, lugar para culto religioso
e/ou reuniões coletivas, etc.

Podemos concretizar que um plano de recuperação deve cuidar de vectores como a saúde,
incluindo a monitorização de aparecimento de manifestações tardias de doenças relacionadas com
a exposição a substâncias tóxicas, reconstrução dos alojamentos destruídos e reparação dos
danificados no caso de ser viável a vivência da população no meio ambiente afetado pelo acidente
grave ou catástrofe, podendo ser necessário impedir a reconstrução nos locais afectados, sendo
necessário providenciar o realojamento das pessoas noutros locais não afetados; garantir a
qualidade de vida mínima, com reabilitação de espaços comunitários, como parques, teatros ou
instalações desportivas; garantir o fornecimento dos serviços essenciais como o fornecimento de
água, saneamento, infraestruturas de telecomunicações e serviços e transportes públicos; o
restabelecimento da viabilidade para desenvolvimento de actividades económicas, com
recuperação das infraestruturas de transportes (estradas, vias férreas); e implementação de um
sentimento de segurança e confiança, com comunicação das causas do acidente, eventuais
processos legais a instaurar e quais as medidas a adoptar para não repetição do evento.

Conclusão
Na Gestão da Emergência, na vertente da saúde pública e em cenários de acidentes graves ou
catástrofes envolvendo substâncias químicas, é determinante a consciencialização por parte dos
gestores de emergência e dos profissionais da área da saúde da não encapsulação dos saberes
técnicos de cada área do saber (Gestão da Emergência vs. Saúde) em detrimento de um trabalho
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aberto, em rede e com partilha de saberes para encalço dos objectivos superiores da segurança das
populações. O conhecimento interpessoal dos actores envolvidos no processo de planeamento é
fortemente potenciador dos resultados finais, magnificando, fruto de interligações sinergéticas,
que despontarão no fluir dos trabalhos a realizar pelas equipas constituídas para a concretização
das tarefas associadas às diversas fases do Ciclo de Gestão da Emergência - prevenção, preparação,
resposta e recuperação.

As entidades públicas oficiais adquirem assim uma dimensão crítica para alcance da necessária
eficácia, quando os eleitos, os dirigentes nomeados ou os funcionários nos seus diferentes níveis e
áreas não possuem uma formação base sólida interdisciplinar que permita a diminuição de
barreiras legais, burocráticas ou administrativas, ou tão simplesmente o desconhecimento da
importância associada ao processo global de planeamento de emergência, que deve interligar a sua
vocação de abrangência total, com os subníveis de planeamento sectorial das diversas áreas como
o licenciamento, o ordenamento do território, a criação de códigos construtivos, a regulamentação
de transporte e armazenagem, a segurança e higiene do trabalho, a criação de bases de dados
sobre instalações com matérias perigosas, a gestão de resíduos industriais perigosos e os locais de
deposição, a gestão ambiental, a fiscalização a estabelecimentos classificados com nível de
perigosidade, etc.

Em suma, importa, na fase da prevenção, que todas as áreas identificadas incorporem vectores e
níveis de traduzam cuidados e instrumentos de inibição de instalação de um estabelecimento
perigoso junto a uma escola, hospital ou população, ou num leito de cheia, ou numa zona sísmica,
ou caso seja impossível impedir a sua localização em solos geomorfologicamente não vocacionados
para garantir uma menor probabilidade de ocorrência de eventos sísmicos, a sociedade deve
permitir-se, por via dos códigos construtivos, garantir o melhor nível de construção em função de
um zonamento de risco. Os agentes de protecção e socorro e da área da saúde também não devem
estar instalados em zonas de possível influência em caso de uma libertação tóxica, explosão ou
grande incêndio, prevenindo-se eventos perniciosos, novamente pela adoção de medidas ativas e
passivas da legislação contra-incêndios em edifícios.

Com estes exemplos pretende-se concluir afirmando que cabe ao Homem enquanto espécie e
agente modelador da realidade, construir, em interacção com o meio e com outros Homens, os
instrumentos legais, de conhecimento e de boas práticas para buscar permanentemente a
sabedoria para estudar e implementar a melhor forma (à época) de diminuição dos riscos para as
pessoas, enquanto primado superior, e para a saúde pública.
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Referências Bibliográficas e Outras

Bibliográficas
 Albuquerque, M. José. “Apontamentos do Curso de Engenharia da Protecção Civil”, ISEC,
2011, Lisboa.
 ANPC. “Diretiva Operacional Nacional n.º 3 – NRBQ”, 2010.
 Macedo, Mário. “Noções Básicas de Toxicologia”, 2008.
 Macedo, Mário. “Riscos Químicos”, 2008.
 World Health Organization. “Manual for the public health management of chemical
incidents”, 2009.

Internet

 http://www.prociv.pt/

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