Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Saúde Pública
Incidentes Provocados por
Substâncias Químicas
Docente
Discentes
Janeiro de 2012
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 4
Índice
Índice de Ilustrações.............................................................................................................................. 4
Introdução ............................................................................................................................................. 5
Saúde Pública ........................................................................................................................................ 6
Proteção Civil......................................................................................................................................... 6
Definição ........................................................................................................................................... 6
Objetivos da Proteção Civil ................................................................................................................... 7
Acidente Químico .................................................................................................................................. 7
Mecanismos de Lesão ....................................................................................................................... 7
Incêndios ........................................................................................................................................... 7
Explosão ............................................................................................................................................ 8
Toxicidade ......................................................................................................................................... 8
Traumas Psicológicos ........................................................................................................................ 8
Fases do Ciclo de Gestão de Emergência .............................................................................................. 8
Prevenção ......................................................................................................................................... 9
Preparação ...................................................................................................................................... 11
Resposta.......................................................................................................................................... 12
Recuperação ........................................................................................................................................ 13
Conclusão ............................................................................................................................................ 13
Referências Bibliográficas e Outras..................................................................................................... 15
Bibliográficas ................................................................................................................................... 15
Internet ........................................................................................................................................... 15
Índice de Ilustrações
Ilustração 1 – Protecção Civil ................................................................................................................ 6
Ilustração 2 – Ciclo de Gestão da Emergência ...................................................................................... 8
Ilustração 3 - Configuração Genérica de Zonas de Resposta .............................................................. 12
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 5
Introdução
A evolução humana, ao longo de tempos imemoriais, sustentou-se na capacidade inerente de
observar o mundo, inquirindo-se sobre o porquê da relação entre as causas e os efeitos
observados.
Chegado ao segundo milénio da nossa era, o Homem actual, considera tão normal como o acto de
respirar e comer, o uso do telemóvel e da internet, o deslocar-se entre continentes em menos de
um dia, o ser socorrido em qualquer local em tempo útil, o ser curado de doenças que há cinquenta
anos eram incuráveis, o ter acesso a uma infinitude de medicamentos, o ter disponível veículos
produzidos no Japão, o comer kiwis da Nova Zelândia, camarões de Madagáscar, carne da
Argentina, vinho Chileno, molho de soja da China, insecticidas e herbicidas para a agricultura, o ter
combustível extraído no Médio Oriente para a sua deslocação, etc. Muito deste mundo novo não
seria possível sem investigação científica, domínio tecnológico e descoberta de novas substâncias e
compostos químicos passíveis de classificação “perigoso”.
O presente trabalho abordará o tema “Incidentes provocados por substâncias químicas” nas
diversas fases do desastre.
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 6
Saúde Pública
A Saúde Pública pode ser definida como as medidas organizacionais (públicas ou privadas) para
prevenção da saúde, visando prolongar a vida de uma população no seu conjunto global, com níveis
de qualidade comummente aceites. As actividades desenvolvidas em Saúde Pública, visam
providenciar as condições através das quais as pessoas podem ser mais saudáveis focalizando as
acções em toda a comunidade e não em doentes particulares ou doenças. A Saúde pública dedica-
se à totalidade do sistema e não com a erradicação de uma doença particular.
Proteção Civil
O que é a Proteção Civil? O termo é de conhecimento geral, mas importa perguntar: Conheceremos
o seu significado? A finalidade principal da proteção civil assenta na prevenção dos riscos coletivos
e não dos individuais.
RISCO ADMISSÍVEL: Nível de perdas que uma sociedade considera aceitável, ponderando as
condições sociais, económicas, políticas, culturais e ambientais, nela existente.
Definição
1
“A proteção civil é a atividade desenvolvida pelo Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais,
pelos cidadãos e por todas as entidades públicas e privadas com a finalidade de prevenir riscos
coletivos inerentes a situações de acidente grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e
proteger e socorrer as pessoas e bens em perigo quando aquelas situações ocorram”.
1
N.º 1 do artigo 1.º da Lei n.º 27/2006 de 3 de Julho
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 7
Verificamos nos objetivos da Proteção Civil bem ilustradas as diferentes fases do Ciclo de Gestão de
Emergência. A prevenção, a atenuação (mitigação), o socorro (preparação e resposta) e o apoio
(recuperação e reabilitação).
Acidente Químico
Um acidente químico manifesta-se pela libertação descontrolada de uma substância tóxica,
resultando num dano efectivo, ou potencial, para a saúde pública e ambiente2. Um acidente
químico despoleta, usualmente, uma resposta da organização responsável pela saúde pública,
incluindo uma avaliação da vulnerabilidade e do risco e/ou emissão de avisos às autoridades
públicas ou ao público.
Mecanismos de Lesão
Os incidentes químicos podem causar lesão em pessoas através de quatro mecanismos básicos:
Incêndio
Explosão
Toxicidade
Traumas Psicológicos
Estes mecanismos de lesão ainda que de aparência distinta, na realidade encontram-se bastante
interrelaccionados.
Incêndios
2
Glossário da “Health Protection Agency”, Reino Unido (http://www.hpa.org.uk)
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 8
consequência do aquecimento dos invólucros que contém químicos. Qualquer grande incêndio
deve ser considerado como um acidente químico.
Explosão
Uma explosão produz lesões traumáticas, devido a causas mecânicas, através da onde de choque,
libertação de fragmentos e projéteis. Como efeito secundário, uma explosão pode resultar em
incêndios ou perca de contenção de tóxicos químicos com exposição de pessoas a substâncias
perigosas (Ex: penetração de fragmentos de metal num reservatório de Cloro produzindo-se o
denominado “Efeito dominó”.)
Toxicidade
A toxicidade manifesta-se pelo contacto humano com substâncias químicas libertadas dos seus
recipientes de contenção, em armazenamento ou transporte, ou pela reacção entre elementos
químicos ou compostos ou produtos de uma combustão. A toxicidade pode causar danos por
diversos mecanismos numa amplitude entre queimaduras químicas a asfixia e neurotoxicidade.
Traumas Psicológicos
Os efeitos na saúde não são somente determinados pela exposição aos químicos, aos incêndios ou
explosões mas igualmente à exposição das vítimas ao evento em si. A exposição ao evento pode
produzir efeitos duradouros com manifestação ao nível da saúde mental. Incidentes severos
possuem o potencial para destroçar a vida das vítimas através dos ferimentos, da perca de
familiares, de bens, emprego ou ruptura social. Existem vários registos de afectação das vítimas,
numa proporção substancial, ao nível da manifestação de efeitos de longo prazo da saúde mental.
Para facilitar a compreensão das diferentes fases do Ciclo de Gestão de Emergência descreve-se o
significado atribuído a cada uma das fases:
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 9
Verificado o significado de cada uma das fases do Ciclo de Gestão de Emergência, revela-se
importante distinguir os termos acidente grave ou catástrofe. Eis o seu significado:
Da leitura dos dois conceitos pode concluir-se que um acidente grave é um acontecimento
relativamente limitado no espaço (rua, bairro, uma indústria, etc.) e no tempo (um dia, uma
semana). Uma catástrofe, não sendo caracterizada em termos de espaço e tempo, distingue-se do
acidente grave pela provocação de elevados prejuízos com afetação das condições de vida da
sociedade, os seus efeitos afetam um maior número de variáveis indispensáveis à vida do dia-a-dia
das populações (escolas, energia elétrica, distribuição de gás, fecho de unidades industriais, etc.).
Prevenção
A fase da prevenção visa a redução da manifestação da probabilidade de ocorrência de acidentes
com substâncias químicas, reduzindo a severidade dos efeitos caso estes ocorram. Assim procura-
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 10
se atingir, por meio de medidas pró-ativas, a eliminação estrutural das causas dos acidentes como
elemento primário da prevenção. Quando tal não é possível a prevenção focaliza-se na redução da
probabilidade, reduzindo a vulnerabilidade, com desenvolvimento de estratégias de aumento da
resiliência das populações expostas a evento com substâncias químicas.
Nesta fase devem ser adoptadas medidas técnicas de proteção por camada. Existem várias técnicas
de proteção. Estas podem ser a arquitetura e engenharia do processo com definição dos controlos
básicos, dos processos de alarme e mecanismos de supervisão. Outra camada poderá ser a
definição de níveis para activação de alarmes critícos e intervenção manual, podendo ser
adicionados mecanismos de deteção e resposta automática, elementos de libertação de pressão,
barreiras físicas, planeamento de resposta de emergência e resposta da comunidade.
A fase da prevenção e o estudo das técnicas de proteção por camada deve suportar-se numa
análise de cenários e avaliação de impactes.
Os códigos construtivos servem para uniformizar uma tipologia construtiva com padrões mínimos
de segurança para a ocorrência de sismos e incêndios.
As bases de dados de instalações com matérias perigosas contém informação sobre as substâncias
ou compostos que apresentam perigos para a saúde pública, saúde ocupacional e ambiental,
obrigando os operadores a registarem os produtos perigosos, com identificação dos químicos,
misturas ou categorias de químicos, o seu potencial de contaminação e dano para a saúde e
ambiente. Contudo inúmeros acidentes ocorrem em pequenas instalações, não identificadas, como
pequenos armazéns, piscinas, oficinas sendo desejável, ao nível local, identificar as pequenas
instalações que possam manusear substâncias perigosas.
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 11
A gestão de resíduos industriais perigosos e os locais de deposição dos resíduos são objecto de
regulamentação própria, com cobertura do registo dos operadores, dos processos inspectivos, do
controlo das cargas, da vigilância sanitária dos trabalhadores e dos programas de treino, prevendo-
se mecanismos de punição quando infringidas as normas em vigor.
Para garantir a execução das normas legais existem entidades governamentais de fiscalização que
visam garantir a implementação dos requisitos de segurança, focalizando a sua acção sobre o
processo de gestão de substâncias químicas no geral. As equipas de inspectores devem verificar e
analisar todos os aspectos dos planos de segurança.
Preparação
O programa deve identificar os locais de prestação dos cuidados de saúde, onde os profissionais de
saúde devem ser sensibilizados para organizarem modelos de resposta no caso de acidentes com
substâncias químicas, dada a especificidade do tipo de ocorrência. Os profissionais de saúde devem
preparar-se para responder a cenários de libertação de substâncias tóxicas ao ar livre, explosões e
incêndios, epidemias ou pandemias, adotando procedimentos de ativação de equipas para
mobilização para o terreno de operações de modo a possibilitar uma triagem primária e secundária,
com despacho das vítimas para os locais de receção de sinistrados, que se encontram previamente
ativados para receção das vítimas.
Ao nível dos Agentes de Proteção Civil devem ser previstos protocolos de comunicação para
disseminação da informação de modo a implementar a estratégia definida no plano de prevenção.
Resposta
A fase da resposta implica a existência de uma organização de resposta interna dos
estabelecimentos que laboram com substâncias perigosas ou das entidades com missão
operacional nas áreas da proteção e socorro e da saúde.
A Organização Mundial de Saúde indica oito passos sequenciais a realizar na fase da resposta:
3
Ilustração 3 - Configuração Genérica de Zonas de Resposta
3
Autoridade Nacional de Proteção Civil. Diretiva Operacional Nacional n.º 3 - NRBQ, 2010.
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 13
5. Conduzir uma avaliação dos melhores resultados para as acções de curto e longo prazo.
6. Disseminar informação e as melhores práticas para as equipas de primeira intervenção,
população e órgãos de comunicação social.
7. Efetuar registo de toda a população exposta (estudo epidemiológico), recolhendo amostras
para eliminar futuras fontes de exposição.
8. Conduzir investigação quanto às causas.
Recuperação
Um acidente envolvendo substâncias perigosas, à semelhança do ocorrido em Bhopal, Índia (1984),
onde 500.000 pessoas foram afetadas pela explosão de um reator, com libertação de Metil
Isocianato para as populações vizinhas e ambiente, pode perdurar e fazer manifestar os seus
efeitos durante longos anos após a sua ocorrência. Durante este tempo, dezenas, centenas ou
milhares de pessoas poderão necessitar de acompanhamento médico, quer por manifestação de
efeitos mais ou menos duradouros no seu organismo, quer por ingestão de alimentos – vegetais ou
animais – produzidos em terrenos contaminados ou por ingestão de água captada em cursos de
água contaminada (superfície ou subterrânea). No processo de recuperação, as entidades políticas,
suportadas em estudos técnicos, poderão ser confrontadas com a incapacidade, teórica ou efetiva,
de recuperação de uma área afectada, com toda a alocação de recursos e capacidade de gestão
que tal processo exige na condução dos destinos das populações afetadas. Assim o processo de
recuperação é um processo de largo espectro, que se inicia imediatamente após a conclusão, ainda
que com limites difusos, das operações de gestão operacional da emergência.
Este processo adquire dimensão palpável assim que se iniciam os cuidados de garantia das
condições mínimas de sobrevivência para as pessoas afetadas, podendo concretizar-se através da
instalação de um campo de desalojados, onde são construídas e instaladas valências similares à
vida normal do quotidiano das pessoas. Ex: espaço escolar e lúdico, espaço para cuidados médicos
e apoio psicológico, posto dos correios, infraestruturas de saneamento, lugar para culto religioso
e/ou reuniões coletivas, etc.
Podemos concretizar que um plano de recuperação deve cuidar de vectores como a saúde,
incluindo a monitorização de aparecimento de manifestações tardias de doenças relacionadas com
a exposição a substâncias tóxicas, reconstrução dos alojamentos destruídos e reparação dos
danificados no caso de ser viável a vivência da população no meio ambiente afetado pelo acidente
grave ou catástrofe, podendo ser necessário impedir a reconstrução nos locais afectados, sendo
necessário providenciar o realojamento das pessoas noutros locais não afetados; garantir a
qualidade de vida mínima, com reabilitação de espaços comunitários, como parques, teatros ou
instalações desportivas; garantir o fornecimento dos serviços essenciais como o fornecimento de
água, saneamento, infraestruturas de telecomunicações e serviços e transportes públicos; o
restabelecimento da viabilidade para desenvolvimento de actividades económicas, com
recuperação das infraestruturas de transportes (estradas, vias férreas); e implementação de um
sentimento de segurança e confiança, com comunicação das causas do acidente, eventuais
processos legais a instaurar e quais as medidas a adoptar para não repetição do evento.
Conclusão
Na Gestão da Emergência, na vertente da saúde pública e em cenários de acidentes graves ou
catástrofes envolvendo substâncias químicas, é determinante a consciencialização por parte dos
gestores de emergência e dos profissionais da área da saúde da não encapsulação dos saberes
técnicos de cada área do saber (Gestão da Emergência vs. Saúde) em detrimento de um trabalho
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 14
aberto, em rede e com partilha de saberes para encalço dos objectivos superiores da segurança das
populações. O conhecimento interpessoal dos actores envolvidos no processo de planeamento é
fortemente potenciador dos resultados finais, magnificando, fruto de interligações sinergéticas,
que despontarão no fluir dos trabalhos a realizar pelas equipas constituídas para a concretização
das tarefas associadas às diversas fases do Ciclo de Gestão da Emergência - prevenção, preparação,
resposta e recuperação.
As entidades públicas oficiais adquirem assim uma dimensão crítica para alcance da necessária
eficácia, quando os eleitos, os dirigentes nomeados ou os funcionários nos seus diferentes níveis e
áreas não possuem uma formação base sólida interdisciplinar que permita a diminuição de
barreiras legais, burocráticas ou administrativas, ou tão simplesmente o desconhecimento da
importância associada ao processo global de planeamento de emergência, que deve interligar a sua
vocação de abrangência total, com os subníveis de planeamento sectorial das diversas áreas como
o licenciamento, o ordenamento do território, a criação de códigos construtivos, a regulamentação
de transporte e armazenagem, a segurança e higiene do trabalho, a criação de bases de dados
sobre instalações com matérias perigosas, a gestão de resíduos industriais perigosos e os locais de
deposição, a gestão ambiental, a fiscalização a estabelecimentos classificados com nível de
perigosidade, etc.
Em suma, importa, na fase da prevenção, que todas as áreas identificadas incorporem vectores e
níveis de traduzam cuidados e instrumentos de inibição de instalação de um estabelecimento
perigoso junto a uma escola, hospital ou população, ou num leito de cheia, ou numa zona sísmica,
ou caso seja impossível impedir a sua localização em solos geomorfologicamente não vocacionados
para garantir uma menor probabilidade de ocorrência de eventos sísmicos, a sociedade deve
permitir-se, por via dos códigos construtivos, garantir o melhor nível de construção em função de
um zonamento de risco. Os agentes de protecção e socorro e da área da saúde também não devem
estar instalados em zonas de possível influência em caso de uma libertação tóxica, explosão ou
grande incêndio, prevenindo-se eventos perniciosos, novamente pela adoção de medidas ativas e
passivas da legislação contra-incêndios em edifícios.
Com estes exemplos pretende-se concluir afirmando que cabe ao Homem enquanto espécie e
agente modelador da realidade, construir, em interacção com o meio e com outros Homens, os
instrumentos legais, de conhecimento e de boas práticas para buscar permanentemente a
sabedoria para estudar e implementar a melhor forma (à época) de diminuição dos riscos para as
pessoas, enquanto primado superior, e para a saúde pública.
Incidentes Provocados por Substâncias Químicas 15
Bibliográficas
Albuquerque, M. José. “Apontamentos do Curso de Engenharia da Protecção Civil”, ISEC,
2011, Lisboa.
ANPC. “Diretiva Operacional Nacional n.º 3 – NRBQ”, 2010.
Macedo, Mário. “Noções Básicas de Toxicologia”, 2008.
Macedo, Mário. “Riscos Químicos”, 2008.
World Health Organization. “Manual for the public health management of chemical
incidents”, 2009.
Internet
http://www.prociv.pt/