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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO

TRABALHO DA 1ª REGIÃO 1ª Turma

PROCESSO nº 0010737-22.2014.5.01.0001 (RO)

RECORRENTE: PEDRO ANDRE DA COSTA

RECORRIDO: BOM DE PAPO BAR E RESTAURANTE LTDA. - ME

RELATOR: MÁRIO SÉRGIO M. PINHEIRO

RECURSO ORDINÁRIO. INÉPCIA DO PEDIDO. INEXISTÊNCIA. A


possibilidade de declaração da inépcia justifica-se, evidentemente,
nos princípios mais basilares do processo, pelos quais as partes
devem ser tratadas em igualdade de condições e devem poder
exercer, de forma ampla, o direito de formular resposta adequada às
pretensões que lhes são apresentadas em juízo. Verificando-se,
porém, que o pedido foi claro, inexiste fundamento para a declaração
da inépcia. Dou provimento. DA JUSTA CAUSA. A justa causa
provoca consequências terríveis na vida profissional do trabalhador,
devendo, por isso, ser cabalmente comprovada, ônus do qual não se
desincumbiu a Ré. Dou parcial provimento. DAS HORAS EXTRAS.
Nos termos do do art. 74, § 2º, da CLT, para os estabelecimentos de
mais de dez trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de
entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico,
conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho,
devendo haver pré-assinalação do período de repouso. Assim, é
ônus do empregador a apresentação dos controles de ponto tão
somente quando possuir mais de dez empregados, não havendo
falar, portanto, em inversão do ônus da prova. Nego provimento. DO
DANO MORAL. A imputação de justa causa, na verdade, inexistente,
além de frustrar direitos do trabalhador, tem efeito danoso à
dignidade do empregado; ofende e macula a honra subjetiva e
objetiva do trabalhador, ensejando a reparação por dano moral. Dou
provimento.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso


ordinário, em que são partes PEDRO ANDRE DA COSTA, como Recorrente, e BOM DE PAPO
BAR E RESTAURANTE LTDA - ME, como Recorrido.
I - RELATÓRIO

Trata-se de recurso ordinário interposto pelo Autor, sob o ID 85b7fbd,


contra a sentença da MM. 1ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, de lavra da Juíza ADRIANA
MALHEIRO ROCHA DE LIMA, que extinto, sem resolução do mérito, o pedido "i" e julgou
improcedentes os demais pedidos (ID 35230c6).

O recorrente pugna pela reforma da sentença, a fim de ver afastada a


inépcia do seu pedido de estimativa das gorjetas, alegando que houve causa de pedir específica
sobre a matéria, no item 8 da petição inicial; ainda, pretende seja afastada a justa causa que lhe
foi aplicada, ao argumento de que o juízo a quose equivocou na distribuição do ônus da prova;
outrossim, requer o pagamento de horas extras, asseverando que a Ré não comprovou ter menos
de 10 empregados em seu quadro, motivo pelo qual deveria ser presumida verdadeira a jornada
declarada na exordial; por fim, pleiteia indenização por danos morais, ante a suposta
irregularidade da justa causa que lhe foi aplicada.

Contrarrazões ID be13302.

Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho por


não configurada hipótese de sua intervenção.

É o relatório.

VOTO

II - CONHECIMENTO

Conheço do recurso por preenchidos os pressupostos legais de


admissibilidade.

III - FUNDAMENTAÇÃO - MÉRITO

DA INÉPCIA DO PEDIDO DE ESTIMATIVA DE GORJETAS


O juízo a quo julgou extinto o pedido de de alínea "i" da petição
inicial, ao argumento de que não teria sido mencionada lesão sobre o fato, tampouco qualquer
outra causa de pedir.

Irresignado, o Autor recorre alegando que houve causa de pedir


específica quando na petição inicial alegou "no mesmo passo, o obreiro faz jus ao recebimento da
estimativa das gorjetas proporcionais aos dias trabalhados no mês de março de 2013, esta que
deveria compor a sua remuneração juntamente com o saldo de salário na ocasião em que foi
operada a sua rescisão contratual". Além disso, ressaltou que conta nos contracheques juntados
pela Ré o pagamento de estimativa das gorjetas.

Os limites dentro dos quais se dá a função jurisdicional em sede


recursal advêm do princípio tantum devolutum quantum appellatum,o qual encontra-se
materializado nos artigos 515 e 516 do CPC. Esses dispositivos processuais, em conjunto, "fixam
os lindes dentro dos quais o tribunal há de exercer cognição" (José Carlos Barbosa Moreira, in
Comentários ao código de processo civil, volume V. 7.ed., p. 448).

A profundidade do efeito devolutivo dos recursos, no dizer de José


Carlos Barbosa Moreira (mesma obra, p. 439), "como resulta dos §§ 1º e 2º, é amplíssima". Sob
essa perspectiva, a devolução não se limita às questões efetivamente resolvidas na sentença
recorrida, alcançando forçosamente as questões que nela poderiam tê-lo sido elucidadas, em seu
conteúdo e forma.

Em razão da "amplíssima" devolução recursal, tem a Corte Revisora


autoridade legal para dar ao caso concreto solução compatível com a realidade emergente dos
autos.

Muito bem. Não se nega que, para cada pretensão (pedido) dirigida à
parte em face de quem se vindica a tutela do Estado deve haver uma motivação (causa de pedir),
sob pena de inépcia da inicial (art. 295, § único, inciso I, CPC). A inépcia igualmente ocorre
quando a narração dos fatos pelo demandante é de tal modo genérica que impede o exercício
regular do direito de defesa e a correta compreensão da lide pelo órgão julgador. Do mesmo
modo é inepta a peça jurídica que carece de logicidade. Isto tudo justifica-se, evidentemente, nos
princípios mais basilares do processo, pelos quais as partes devem ser tratadas em igualdade de
condições e devem poder exercer, de forma ampla, o direito de formular resposta adequada às
pretensões que lhes são apresentadas em juízo.

O processo é dialético. E se o Autor da ação inviabiliza tal


dialeticidade, frustrando, em última análise, o exercício da ampla defesa e do contraditório, o
provimento que essa conduta reclama é, sem dúvida, a declaração da inépcia do pedido. Não se
trata, assim, de medida de caráter punitivo, mas, tão somente, de provimento assecuratório do
exercício das garantias constitucionais do processo.

A decisão recorrida, porém, não me parece a solução mais adequada


à hipótese.

A simplicidade que norteia o processo do trabalho autoriza sejam


dispensados os rigores e formalismos a que está sujeita a petição inicial no processo civil.

In casu, a narrativa do Autor foi suficientemente clara. O obreiro


requereu o pagamento de verbas rescisórias pela reversão da justa causa e logo em seguida
asseverou que, independentemente da modalidade de demissão, fazia jus às diferenças de
FGTS, bem como ao recebimento da estimativa das gorjetas proporcionais aos dias
trabalhados no mês de março de 2013, esta que deveria compor a sua remuneração
juntamente com o saldo de salário na ocasião em que foi operada a sua rescisão
contratual. É clara a pretensão do Autor em demonstrar que quando da rescisão contratual
houve diferenças no pagamento uma vez que a Ré teria pago somente o saldo de salário, não
tendo pago a verba "estimativa de gorjetas" proporcionalmente aos dias trabalhados.

O parágrafo terceiro do art. 515 do CPC autoriza o Tribunal a julgar


desde logo a lide, se a causa versar sobre questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento, sendo este dispositivo aplicável ao caso em tela, não havendo
falar portanto em supressão de instância.

Verifico da análise dos contracheques juntados sob o ID 6cdf25a que


a "estimativa de gorjeta" era paga habitualmente ao Autor e que no TRCT (ID eaee85f) constou
apenas o saldo de 18 dias de salário do mês de março. Assim, deverá a Ré pagar ao Autor a
"estimativa de gorjeta" proporcional aos 18 dias trabalhados do mês de março, devendo ser
observado para tanto a média da verba paga nos contracheques juntados aos autos.

Dou provimento.

DA JUSTA CAUSA

O Autor afirmou na exordial ter sido dispensado sob a alegação de


justa causa por ter sido vítima de perseguição e preconceito pelo fato de ser homossexual.
Alegou que a sra. Berenice falava para seus colegas de trabalho que "não suporto esse viado",
"não aguento essa bicha", "aqui não é lugar para travesti", entre outras agressões verbais e que
no dia 18/03/2014 teria se envolvido em discussão acalorada com a sra. Berenice, em razão dos
supostos xingamentos e que "após a briga ter sido apartada por outros colegas de trabalho, o
autor foi demitido por justa causa" (ID54f7c7a).

A Ré, por sua vez, na contestação, alegou que Autor era querido
pelos proprietários da Ré e seus prepostos, mas teria mudado seu comportamento a partir de
janeiro de 2014, quando teria recebido uma advertência por mau comportamento, tendo
posteriormente tido comportamento agressivo contra outra funcionária, a sra. Erenilde Magalhães
Neves, cozinheira da Ré, contra a qual teria desferido um sono na nuca, conforme Termo
Circunstanciado juntado aos autos. Ainda, assevera que o Autor tenta justificar sua atitude
agressiva em suposto preconceito e perseguição mas não prova as suas alegações.

Na petição ID 412d826 o Autor reiterou as suas alegações feitas na


petição inicial, ressaltando que jamais desferiu soco na sra. Erenilde e que na discussão ocorrida
não teve qualquer contato físico.

O juízo a quojulgou improcedente o pedido, sob o fundamento de que


admitido que houve agressão física, seria ônus do Autor comprovar que teria agido em legítima
defesa. Além disso fundamentou que "milita a favor da reclamada a própria contratação do
reclamante. Porque, fosse o empregador hostil aos homossexuais, não teria o contratado. E,
nesse perfil de contratação também não é razoável presumir que deixaria o ambiente de trabalho
se tornar inadequado" (ID 35230c6 - Pág. 3).

Entendo que a r. sentença merece reforma.

Por ser a justa causa a mais severa punição imposta ao empregado,


o Judiciário deverá apurá-la cautelosamente, analisando os pormenores do conjunto probatório
produzido pelas partes. Somente poderá ser reconhecida no momento que não mais pairar
dúvidas quanto à prática ilícita imputada.

É cediço que, para o reconhecimento da justa causa, necessário se


faz o cometimento pelo empregado de falta grave e atual e, ainda, que haja relação de causa-
efeito entre o ato praticado pelo empregado e a resolução do contrato. Além disso, a falta
cometida há de impossibilitar a continuidade da relação empregatícia e ser demonstrada de forma
robusta, não bastando, para tanto, meros indícios, tendo em vista os efeitos avassaladores que
podem advir para a vida profissional do trabalhador.

Diante do entendimento consubstanciado na Súmula nº. 212, do


C.TST, cabe ao empregador o ônus de provar o término do contrato de trabalho, tendo em vista o
Princípio da Continuidade da Relação de Emprego.

Na contramão do que fundamentou a sentença, o Autor não admitiu


ter ocorrido agressão física em legítima defesa. O obreiro apenas admitiu que houve acalorada
discussão, tendo inclusive negado ter havido agressão física, na sua petição de ID 412d826.
Assim, é ônus da Ré comprovar que teria, de fato, havido a agressão que gerou a justa causa.

No entanto, a única prova produzida é o Termo Circunstanciado,


juntado sob os ID's 8a721a1 e 773c9d1, que traz a narrativa da sra. Elenilde nos seguintes
termos:

"Que narra a declarante que a mesma trabalha no restaurante Cheiro Verde,


localizado na Avenida Tenente Coronel Muniz de Araguão, 894 - loja 115/116 -
bairro Anil, na função de Cozinheira; Que na data de ontem, dia 18/03/2014, por
volta das 12:00 h , a mesma fora agredida por um soco na nuca, a qual não gerou
lesão , bem como fora ameaçada de morte por um garçon, seu colega de trabalho.
Que tal fato fora testemunhado pelo seu gerente. Que a declarante deseja
representar criminalmente contra o acusado, bem como toma ciência de que a
mesma deverá comparecer ao juizado especial em audiência preliminar, quando
agendado."

Ocorre que o Termo Circunstanciado, por si só, não tem o condão de


fazer prova das alegações ali contidas.

Cumpre ressaltar que no mesmo termo, a sra. Erenilde assinou o


compromisso de comparecer ao 16 Juizado Especial Criminal de Jacarepaguá, no dia
19/05/2014, às 15h, para audiência preliminar. No entanto, em consulta ao site do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro, verifiquei que a audiência não ocorreu por ausência tanto do Autor
quanto da Ré, motivo pelo qual o Ministério Público opinou pelo arquivamento do feito,
posteriormente ratificado pelo Juízo. Assim, não houve sequer qualquer deslinde ao Termo
Circunstanciado, não podendo o mesmo, como já dito, se prestar a comprovar suposta agressão
do Autor.

Frise-se, para que a justa causa ocorra, faz-se necessária a presença


simultânea de três elementos essenciais: a falta grave propriamente dita, a imediatidade da
aplicação da sanção e a proporcionalidade entre o ato faltoso e a pena aplicada.

Na presente lide, não se pode falar sequer em falta grave, pois não
robustamente comprovada.
O despedimento por justa causa foi, de fato, excessivo, uma vez que
a única prova que se tem é de que houve uma discussão acalorada entre as partes.

Além disso, se realmente ocorreu algum deslize do Autor, uma


simples advertência seria mais adequada, para que tal comportamento não se repetisse, tendo
em vista o histórico funcional do obreiro, que segundo a própria Ré declarou em contestação,
"sempre foi um funcionário muito querido".

Pelo exposto, dou parcial provimento, para afastar a justa causa e


determinar que a resolução contratual se deu imotivadamente. Como consectário lógico da
conversão da justa causa em dispensa imotivada, condeno a Ré ao pagamento das seguintes
verbas: aviso prévio, férias proporcionais acrescidas do terço constitucional, décimo terceiro
salário proporcional, FGTS + 40%, multa do art. 477 da CLT, nos termos da Súmula 30 deste E.
TRT; bem como a proceder à tradição das guias do FGTS e seguro-desemprego.

Quanto à multa prevista no art. 467 da CLT, o que faz surgir o direito
é o não pagamento das verbas incontroversas, na primeira audiência, caso diverso dos autos, em
que as parcelas tidas como incontroversas pelo empregador foram apuradas no TRCT. A
existência de parcelas controvertidas, impugnadas na contestação, afasta o direito ao
recebimento da multa, desde que se trate, é claro, de controvérsia válida.

DAS HORAS EXTRAS E REFLEXOS

O Autor pretende a reforma da sentença, a fim de ver acolhida a


jornada de trabalho declinada na exordial, ao argumento de que a Ré não comprovou ter menos
de 10 funcionários para que pudesse, assim, omitir os controles de jornada.

Sem razão.

Nos termos do do art. 74, § 2º, da CLT, para os estabelecimentos de


mais de dez trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de entrada e de saída, em registro
manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do
Trabalho, devendo haver pré-assinalação do período de repouso. Assim, é ônus do empregador a
apresentação dos controles de ponto tão somente quando possuir mais de dez empregados.

No caso em tela, o Autor afirma que a Ré não teria comprovado ter


menos de dez funcionários, no entanto o obreiro confessou tal fato em audiência, quando do
depoimento do preposto da Ré. Transcrevo:

"que houve a dispensa do reclamante por justa causa, porque agrediu outro colega
bruscamente, inclusive se mostrou agressivo com todos os demais colegas, vindo,
por isso, a ser advertido pelo gerente, mas mesmo assim culminou com o fato que
resultou na aplicação da justa causa; que o reclamante agrediu a cozinheira; que a
cozinheira foi a vítima, motivo pelo qual ela não foi dispensada;que o reclamante
trabalhava no seu horário contratual e tudo era anotado no livro, porque tem menos
de 10 empregados, o que foi confirmado pelo reclamante" (ID fb2730e)

Além disso, muito embora o preposto afirme que o horário de trabalho


era anotado em livro - fato ressaltado pelo Autor em suas razões recursais -, não haveria amparo
legal para justificar a obrigação de juntada da Ré do suposto livro, mesmo porque o mesmo não
significaria um controle de ponto oficial, assinado pelo obreiro, etc.

Não se nega, contudo, que o Autor pudesse comprovar a sua jornada


por outros meios que não a tentativa de inversão do ônus da prova. Ocorre que nenhuma
contraprova produziu, no sentido de que laborasse na jornada alegada.

Enfim, o conjunto probatório foi analisado a contento pelo julgador de


primeiro grau, que concluiu, acertadamente, pela improcedência do pedido de horas extras e
reflexos.

Nego provimento.

DO DANO MORAL

A sentença indeferiu o pedido de condenação da Ré ao pagamento


de indenização por dano moral, pelo constrangimento a que teria sido exposta no dia em que
dispensada por alegação de justa causa.

Com razão a Autora.

Primeiramente, cumpre esclarecer que a apreciação do dano moral


se pauta tão somente no constrangimento gerado pela injusta dispensa por justa causa, uma vez
que as razões recursais não versaram sobre supostas discriminações de gênero. Até porque não
houve provas nos autos de que ocorridas as alegadas ofensas.

O dano moral tem origem quando se verifica afronta aos deveres de


lealdade, probidade e boa fé que as partes devem guardar na conclusão dos contratos, assim
como, durante sua execução (art. 422 do Código Civil). A inobservância desse modo de proceder,
pelos contratantes, pode resultar em dano moral (art. 186 do CC), em especial quando a conduta
se revelar abusiva (art. 187 do CC).

Por força do art. 769 da CLT, os preceitos contidos na norma do art.


422 do Código Civil aderem ao contrato de trabalho, assim como, as dos artigos 186 e 187 do
Código Civil, que podem ser aplicadas para justificar a condenação de dano moral, quando
ocorrer violação aos deveres contidos no art. 422 do Código Civil.

É o caso dos autos, onde se verifica, comprovadamente, a dispensa


da empregada com aplicação de uma inexistente "justa causa", com a finalidade de frustrar
direitos do trabalhador, um vez que a empresa não logrou demonstrar, substancialmente, os fatos
atribuídos ao Autor.

A justa causa provoca consequências terríveis à vida profissional do


trabalhador, devendo ser aplicada realmente nos limites da CLT. Ocorrendo imputação desta
natureza, não só haveria dano material (tentativa de subtrair parcelas devidas pela normal
resilição do pacto), como também ofensa à dignidade do empregado, valor constitucionalmente
protegido (art. 1º, III, CF), pois atribui ao empregado o cometimento de um fato sabidamente
inverídico, especialmente, tratando-se de condutas típicas que ensejariam justa causa (art. 482
da CLT), todas graves e desabonadoras, inclusive restritivas na recolocação do trabalhador no
mercado de emprego, especialmente por ser a obreira da área de saúde, o que, visivelmente,
ofende e macula a honra subjetiva e objetiva do empregado, ensejando condenação em dano
moral.

A fixação do valor da condenação por danos morais é matéria que se


situa na esfera do poder discricionário, que o parágrafo único do art. 953 do Código Civil,
subsidiariamente aplicado ao Direito do Trabalho, confere ao Juiz.

O valor da indenização por danos morais não deve ser ínfimo a ponto
de deixar de se observar o caráter punitivo-pedagógico que a condenação judicial exige. Todavia,
cediço é, também, que tal valor não deve ser excessivo de forma a denotar enriquecimento sem
causa do lesado nem tão módico a ponto de não atingir o escopo do instituto. A reparação por
danos morais visa prevenir ocorrências futuras similares por parte da Ré, bem como proporcionar
ao ofendido uma reparação, ainda que não ideal, da dor sofrida. Tudo sem deixar de lado o
princípio da razoabilidade, sem tornar o evento danoso vantajoso para o ofendido a ponto de este
desejar sua repetição e, ao mesmo tempo, sem fixar indenização irrisória a ponto de se traduzir a
própria indenização em nova ofensa ao trabalhador.
Sob essa ótica, importa considerar as condições pessoais do Autor, a
capacidade econômica da Ré, o grau de culpa, a intensidade e a gravidade da lesão, os meios
utilizados para provocá-la e as consequências do dano.

Nesse contexto, considerando as condições mencionadas e a


imputação de agressão física não comprovada, arbitro como valor razoável e coerente a quantia
de R$ 5.000,00, em atenção ao equilíbrio entre os dois pilares que norteiam o valor da reparação
pecuniária em questão - o caráter punitivo e pedagógico e o limite para não configurar
enriquecimento ilícito.

Assim, dou provimento, para fixar a indenização por danos morais em


R$ 5.000,00 (cinco mil reais), observando-se, quanto à atualização, os termos da Súmula 439 do
C. TST.

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E FISCAIS

Para os efeitos do § 3º do art. 832 da CLT, com a redação dada pela


Lei nº 10.035/2000, todos os títulos possuem natureza salarial, à exceção das parcelas
excepcionadas no art. 28, § 9º, da Lei 8212/91.

Cotas previdenciárias e imposto de renda, onde cabíveis, deverão ser


apresentados atualizados e separadamente, na forma da lei.

Os recolhimentos previdenciários deverão observar os ditames da


Súmula 368, III, do C. TST, tendo o empregador assegurado o direito de descontar a cota-parte
de responsabilidade do empregado.

Por ocasião da disponibilidade do crédito devido à parte autora,


deverá a ré apresentar o cálculo da dedução do Imposto de Renda sobre as parcelas tributáveis,
apresentando a planilha de cálculo com base no disposto no § 9º, do art.12-A, da Lei 7713 de 22
de dezembro de 1988, regulamentado pela Instrução Normativa RFB nº 1127, de 07 de fevereiro
de 2011, observando-se, outrossim, quanto aos juros de mora, a previsão da Orientação
Jurisprudencial nº 400, da SDI-I, do C. TST, tudo de acordo com a aplicação das
deduções/isenções pertinentes e a faixa de incidência estipulada pela Receita Federal.
JUROS DE MORA

Os critérios para cálculo de juros e correção monetária são os


adotados por este Egrégio Tribunal, juros simples de 1% ao mês, nos termos da Lei 8.177/91.

CORREÇÃO MONETÁRIA

A correção monetária de parcela salarial inicia-se a partir do


momento em que a obrigação vencida e não cumprida tornou-se exigível. Logo, o índice a ser
aplicado não é o mês de competência a que se refere à obrigação, mas sim o primeiro dia do mês
em que venceu a obrigação e caracterizou-se o inadimplemento, sendo irrelevante para o
cômputo mensal o primeiro ou quinto dia.

Neste sentido é a Súmula 381 do C. TST:

"CORREÇÃO MONETÁRIA. SALÁRIO. ART. 459 DA CLT. (conversão da


Orientação Jurisprudencial nº 124 da SDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005. O
pagamento dos salários até o 5º dia útil do mês subsequente ao vencido não está
sujeito à correção monetária. Se essa data limite for ultrapassada, incidirá o índice
da correção monetária do mês subsequente ao da prestação dos serviços, a partir
do dia 1º."

IV - DISPOSITIVO

A C O R D A M os DESEMBARGADORES DA 1ª TURMA DO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO, por unanimidade, CONHECER do
recurso e, no mérito, também por unanimidade, DAR PARCIAL PROVIMENTO para condenar a
Ré a pagar ao Autor a "estimativa de gorjeta" proporcional aos 18 dias trabalhados do mês de
março, devendo ser observado para tanto a média da verba paga nos contracheques juntados
aos autos; bem como para afastar a justa causa e determinar que a resolução contratual se deu
imotivadamente. Como consectário lógico da conversão da justa causa em dispensa imotivada,
condeno a Ré ao pagamento das seguintes verbas: aviso prévio, férias proporcionais acrescidas
do terço constitucional, décimo terceiro salário proporcional, FGTS + 40%, multa do art. 477 da
CLT, nos termos da Súmula 30 deste E. TRT; bem como a proceder à tradição das guias do
FGTS e seguro-desemprego; e fixar a indenização por danos morais em R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), observando-se, quanto à atualização, os termos da Súmula 439 do C. TST. Arbitro o valor
da condenação em R$ 20.000,00, fixando as custas em R$ 400,00, pela Ré, invertido o ônus da
sucumbência.

Rio de Janeiro, 07 de julho de 2015

Mário Sérgio M. Pinheiro

Desembargador do Trabalho

Relator

MSMP/YBGS

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