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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO

PROC. Nº 0000410-97.2013.5.02.0074-4ª TURMA

RECURSO ORDINÁRIO DA 74ª VARA DO TRABALHO DE


SÃO PAULO

RECORRENTE: LUCAS ALBERTO DA SILVA ALVARENGA

RECORRIDOS: ATENTO BRASIL S/A; E BRADESCO VIDA


E PREVIDÊNCIA S/A

DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. FATOS NARRADOS NA


PETIÇÃO INICIAL. NÃO COMPROVOÇÃO. ÔNUS DO
AUTOR. IMPROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO MANTIDA.
Narra a petição inicial, em linhas gerais, que
o reclamante, no final do expediente do dia
29/01/2013, foi discriminado pelo segurança
que trabalhava nas dependências da reclamada.
No entanto, o autor não se desincumbiu do ônus
de comprovar os fatos discriminatórios
narrados na petição inicial. Isso porque o
depoimento da testemunha ouvida a rogo do
reclamante apresentou graves contradições em
relação ao próprio depoimento pessoal do
laborista, não merecendo, pois, credibilidade
nesse aspecto. Ante o exposto, fica mantida a
improcedência da pretensão de condenação do
empregador ao pagamento de indenização por
danos morais.

I – R E L A T Ó R I O

Adoto o relatório da r. sentença, às fls.


115/116, que julgou improcedente a ação.

Recurso Ordinário interposto pelo reclamante,


às fls. 119/120, pretendo a reforma do julgado
originário, a fim de que seja reconhecido o vínculo
empregatício período de treinamento, anterior ao
registro, compreendido entre 10/01/2013 a 23/01/2013.
Refere, outrossim, ser de rigor o reconhecimento da
rescisão indireta do contrato de trabalho e a

(Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo/SP – processo nº 0000410-97.2013.5.02.0074 - Página 1)L

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condenação da reclamada ao pagamento das verbas
rescisórias daí decorrentes, assim como de indenização
por dano moral, por ter sido vítima de preconceito e
discriminação.

Recurso isento de preparo, por ser o


recorrente beneficiário da justiça gratuita.

Contrarrazões dos réus, às fls. 123/127 e


134/137.

É o relatório.

II - V O T O.

1. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.

Presentes os pressupostos de admissibilidade,


conheço do recurso ordinário interposto pelo
reclamante.

2. FUNDAMENTAÇÃO.

2.1. Vínculo de emprego de período anterior ao


registro.

Recorre o reclamante pretendendo o


reconhecimento do vínculo empregatício com a primeira
reclamada em relação ao período de treinamento,
anterior ao registro, compreendido entre 10/01/2013 a
23/01/2013.

O inconformismo da parte autora prospera.

No caso vertente, a primeira reclamada


admitiu, na contestação, que no período anterior ao
registro o reclamante participou do programa conhecido
como “Bem Vindo Atento”, que seria um “programa
regular de integração, através do qual os
interessados em trabalhar na empresa visitam as
instalações (...), com a intenção de conhecer a
atividade e o dia-dia dos empregados que ali
trabalham” (fl. 45).

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Aduz, ainda, que o “ingresso na reclamada é


sempre precedido de processo seletivo, com aplicação
de provas e testes, no intuito de verificar se o
perfil do candidato se enquadra aos padrões exigidos
nas atividades da empresa”. (fls. 46).

No entanto, a par das alegações da reclamada,


a testemunha trazida pelo autor comprovou a existência
de treinamento antes da anotação do contrato de
trabalho na CTPS ao asseverar que:

“(...) começou e encerrou a prestação de serviços


no mesmo dia que a reclamante; que fizeram
treinamento juntas por cerca de 1 mês; que após
houve uma prova, passando a reclamante, sendo que a
depoente foi aprovada posteriormente; que quem
passava em tal prova, era contrato; que a
recuperação da depoente durou 1 dia; (...)”. (fls.
20 verso)

Com efeito, o período destinado a treinamento


deve integrar o contrato de trabalho, porquanto o
autor permaneceu à disposição do empregador,
desempenhando atividades com o intuito de capacitá-lo
para a prestação de serviços ligados à atividade
econômica da empresa, para o qual a lei prevê ajuste
por meio de contrato de experiência.

Nesse sentido já decidiu esta E. Turma:

VÍNCULO DE EMPREGO. PERÍODO DE TREINAMENTO.


INTEGRAÇÃO AO CONTRATO DE TRABALHO. O período de
treinamento deve integrar o contrato de trabalho,
já que, nesse interregno o empregador toma da mão
de obra do empregado, visando capacitá-lo para a
prestação de serviços, confundindo-se, portanto,
com o período de experiência, não sendo lícito ao
empregador considerar o contrato de trabalho
somente após esse lapso. (RS nº
00010911620125020070 (20121103433), 4ª Turma do TRT
da 2ª Região/SP, Rel. Paulo Sérgio Jakutis.
unânime, DOe 28.09.2012).

Ante o exposto, reformo a decisão para

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reconhecer como termo inicial do contrato de trabalho
o dia 10/01/2013, devendo o empregador providenciar a
retificação dos dados lançados na CTPS do autor, o que
deverá ser feito após o trânsito em julgado, no prazo
de 10 dias contados da intimação da disponibilização
nos autos, pelo reclamante, de sua CPTS, sob pena de
multa diária de R$ 100,00 (cem reais).

O reconhecimento do vínculo de emprego a


partir de 10/01/2013 acarreta pagamento de salário do
período de 10/01/2013 a 23/01/2013, assim como de
diferenças de vale refeição, já que não há prova das
respectivas quitações.

Fica indeferido o pleito de diferenças de vale


transporte, porquanto o reclamante confessou que
recebeu o benefício no período acima indicado (fls. 20
verso).

Por fim, o incorreto registro do contrato de


trabalho consubstancia infração administrativa, motivo
pelo qual determino, após o trânsito em julgado, a
expedição de ofícios à Delegacia Regional do Trabalho,
Caixa Econômica Federal e Instituto Nacional do Seguro
Social, a fim de que sejam tomadas as medidas
administrativas cabíveis, bem como ao Ministério
Público a fim de que seja apurada eventual prática de
infração penal.

Recurso provido parcialmente.

2.2. Modalidade da rescisão contratual.

Aduz o reclamante na petição inicial que seu


contrato de trabalho foi rescindido por culpa do
empregador em 29/01/2013, eis que nesse dia foi vítima
de preconceito e discriminação praticados por
segurança da reclamada.

A reclamada, por sua vez, argumenta que não há


falar em rescisão indireta, porque o contrato de
experiência foi rescindido antecipadamente pelo
empregador em 04/03/2013, oportunidade em que “todas
as verbas rescisórias foram devidamente adimplidas”.

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Examina-se.

No caso vertente, o empregador confessou que,


em 04/03/2013, rescindiu antecipadamente o contrato de
experiência do autor. Considerando que esse contrato
contém cláusula assecuratória do direito recíproco de
rescisão, devem ser aplicados os princípios que regem
a rescisão dos contratos por prazo indeterminado, nos
exatos termos do art. 481 da CLT.

Assim, como o reclamante continuou prestando


serviços à reclamada até o dia 04/03/2012 - data em
que foi imotivadamente dispensado - não se mostra
viável o acolhimento da pretensão de rescisão indireta
do contrato de trabalho em 29/01/2012.

Por outro lado, ao contrário do que alegou o


empregador na contestação, as verbas rescisórias não
foram regularmente quitadas, porquanto não houve a
aplicação dos princípios que regem a rescisão dos
contratos por prazo indeterminado, conforme determina
o art. 481 da CLT, consoante facilmente se constata do
Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho de fls.
78/79.

Ante o exposto, reformo a decisão de origem


para deferir ao reclamante as verbas próprias da
dispensa imotivada, quais sejam: (a) aviso prévio
indenizado; (b) saldo salarial; (c) 13º salário
proporcional (considerando-se a projeção do aviso
prévio); (d) férias proporcionais, acrescidas de um
terço (considerando-se a projeção do aviso prévio);
(e) multa rescisória de 40% sobre os depósitos
fundiários.

Tendo em vista a modalidade da rescisão


contratual, autoriza-se a liberação do FGTS, que
deverá estar integralmente depositado na conta
vinculada do autor, sob pena de execução direta.

Fica autorizada, ainda, a dedução dos valores


quitados por títulos iguais aos deferidos, desde que a
comprovação tenha vindo aos autos na fase de

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conhecimento.

2.3. Dano moral. Indenização.

Sabe-se que a prática de ação que resulte


prejuízo a outrem enseja o dever de indenizar por
danos materiais ou morais, de conformidade com a
gravidade dos fatos e a intensidade dos danos causados
à pessoa ou ao seu patrimônio, o que encontra amparo
constitucional, art. 5º, V e X, da Constituição
Federal.

Nesse sentido, vale transcrever as lições de


Carlos Alberto Bittar:

“As ações humanas lesivas a interesses alheios


acarretam, no plano do Direito, a necessidade de
reparação de danos havidos, como desde os tempos
imemoráveis, se tem assentado na consciência dos
povos, diante de exigências naturais da própria
vida em sociedade”. (in Reparação Civil por Danos
Morais, 3ª ed. Revista dos Tribunais, p. 13).

No que se refere, especificamente, aos danos


morais, estes podem ser qualificados como “os danos
em razão da esfera da subjetividade, ou do plano
valorativo da pessoa na sociedade em que repercute o
fato violador, havendo-se, portanto, como tais
aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da
personalidade humana (o da intimidade e da
consideração pessoal), ou o da própria valoração da
pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou
da consideração social)” (BITTAR, ob. cit. 41)

Consoante doutrina Sergio Cavalieri, “o dano


moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do
próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a
ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à
guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis
ou facti, que decorre das regras da experiência comum.
(in Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. São
Paulo: Malheiros. 1998, p. 80).

Portanto, o dano moral dispensa prova em


concreto, pois se passa no interior da personalidade,
tem presunção absoluta.

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Provada a existência do fato ilícito,


ensejador do constrangimento, mostra-se devido o
ressarcimento civil por dano moral, nos moldes dos
artigos 186 e 927 do Código Civil.

No caso vertente, narra a petição inicial, em


linhas gerais, que o reclamante, no final do
expediente do dia 29/01/2013, foi discriminado pelo
segurança que trabalhava nas dependências da
reclamada, o qual indagou à recepcionista do local se
ela havia percebido que o autor era um travesti e se a
empresa estava contratando “esse tipo de pessoa”,
dizendo, ainda, isto era “um nojo”.

Sobre os fatos relacionados ao dano moral, o


reclamante, no seu depoimento pessoal, esclarece o
seguinte:

“(...) que quando foi efetivamente contratada


indicaram como local da prestação de serviços a
unidade da Barra Funda por volta dos dias 26 ou 27
de janeiro; que quando o depoente encerrou o dia de
trabalho passou pela portaria e o segurança pediu o
documento da depoente; que em seguida o segurança,
Sr Junior, comentou com a recepcionistas, Srª
Priscila, que havia tratado muito bem a depoente,
que a depoente era um travesti; que a
recepcionistas negou, dizendo que a depoente era
mulher e muito simpática; que em seguida o
segurança disse que viu o documento e que a
depoente era um travesti e que era ‘um nojo’ que a
empresa contratasse pessoas nessas condições; que
todas as pessoas presentes ficaram revoltadas e
chocadas com a situação; que as pessoas perguntaram
à depoente se a mesma iria reclamar, mas a depoente
ficou constrangida e foi para sua residência; que
no dia seguinte voltou à empresa e foi recebida por
supervisora cujo nome não se recorda, que tratou a
depoente muito bem, todavia a depoente solicitou
que fosse transferida para a unidade do Belém e não
foi atendida, entendendo que não poderia permanecer
naquela unidade; que quando retornou à empresa
alguns colegas, que tinham feito o treinamento com
a depoente, questionaram se a depoente era do sexo

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masculino e a depoente negou, sentindo-se
constrangida com os questionamentos decorrentes dos
incidentes no dia anterior; (...)”

A testemunha ouvida a rogo da parte autora,


por sua vez, asseverou o seguinte:

“(...) que a reclamante era conhecida como


‘Giovana’; que no dia da agressão verbal na qual
foi chamada de ‘traveco’ na portaria da empresa
pelo segurança, acreditando que tenha sido na 2ª
semana de serviço do 2º mês após o treinamento; que
acredita que o ocorrido tenha se dado por volta das
12h; que, em razão de não portar o crachá, a
reclamante teve de expor seu R.G. ao aludido
segurança que assim se manifestou: ‘Nossa, a
empresa agora deu de contratar esse tipo de pessoa,
de traveco!’; que não houve nenhuma outra
manifestação além da mencionada e posteriormente a
reclamante retornou ao trabalho; (...) que, na
ocasião, havia mais cerca de 3 funcionários no
local e ninguém se manifestou.”

Com efeito, o autor afirmou que: a


discriminação ocorreu no final do expediente; as
pessoas que presenciaram se manifestaram perguntando
se não “iria reclamar”; em razão do constrangimento
foi para sua residência. No entanto, a testemunha, em
franca contradição, disse que: o fato teria ocorrido
por volta do 12h; que nenhum dos presentes se
manifestou; e que o autor voltou a trabalhar depois do
ocorrido.

Destarte, o depoimento da testemunha trazida


pelo autor não merece credibilidade quanto aos fatos
relacionados ao dano moral. Isso porque apresenta
graves contradições sobre pontos relevantes com o
depoimento pessoal do laborista.

Ante o exposto, porque não comprovado os fatos


discriminatórios narrados na petição inicial, ônus que
incumbia ao autor, por se tratar de fato constitutivo
do seu direito, nego provimento ao apelo obreiro no
tópico.

2.4. Responsabilidade da segunda reclamada.

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Em sendo a segunda reclamada beneficiária dos


serviços prestados pela reclamante [fato
incontroverso], deverá responder subsidiariamente pelo
pagamento dos créditos trabalhistas decorrentes do
vínculo de emprego com o prestador de serviços, com
fulcro no princípio jurídico geral da vedação ao abuso
do direito, na teoria do risco empresarial, na
prevalência constitucional ao valor social do trabalho
e aos direitos juslaborativos, e, por fim, nos exatos
termos do preceito sumular n. 331, IV, do C. TST.

Além dos preceitos principiológicos e


normativos suso mencionados, a responsabilização
subsidiária da segunda reclamada decorre também das
culpas in eligendo e in vigilando.

Evidencia-se na espécie a culpa in eligendo do


tomador dos serviços, eis que cabia a ele ter sido
cauteloso na escolha de sua contratada no que toca à
idoneidade econômico-financeira ou na ocorrência de
fraude aos direitos dos empregados.

Por sua vez, imputa-se a culpa in vigilando,


prevista no artigo 186 e 927, parágrafo único, do
Código Civil vigente, aplicado subsidiariamente por
força da disposição contida no parágrafo único do
artigo 8º da Consolidação das Leis do Trabalho,
porquanto era do tomador a obrigação de vigiar o
cumprimento, pela prestadora, das obrigações
trabalhistas em relação aos obreiros que são
disponibilizados para a prestação dos serviços,
obrigação esta de natureza objetiva (dever de
fiscalização do contrato).

Nesse contexto, fica reconhecida a


responsabilidade subsidiária da 2ª reclamada, em
conformidade com o disposto no inciso IV do Enunciado
331 do TST.

2.5. Questões de ofício.

A reforma parcial do julgado de origem remete


à fixação de critérios a serem observados em

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liquidação de sentença, relativamente correção
monetária, juros de mora, recolhimento e comprovação
das contribuições fiscais e previdenciárias.

a) Correção monetária:

A correção monetária será apurada de


conformidade com as regras do artigo 39 da Lei
8.177/91, combinado com o artigo 459 da CLT e Súmula
381 do Tribunal Superior do Trabalho.

b) Juros de mora:

Os juros de mora são calculados a partir da


distribuição da ação à razão de 1% ao mês, nos termos
do artigo 883 da CLT, artigo 39 da Lei 8.177/91 e
Súmula nº 200 do Colendo Tribunal Superior do
Trabalho.

c) Contribuições previdenciárias e fiscais:

As contribuições fiscais e previdenciárias


devem ser suportadas pelo titular do direito da
obrigação, cabendo ao autor arcar com o pagamento do
imposto de renda e de sua quota parte relativa às
contribuições previdenciárias. Incidência da OJ 363 da
SBDI-1 do C. TST:

EMENTA: DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS.


CONDENAÇÃO DO EMPREGADOR EM RAZÃO DO INADIMPLEMENTO
DE VERBAS REMUNERATÓRIAS. RESPONSABILIDADE DO
EMPREGADO PELO PAGAMENTO. ABRANGÊNCIA.(DJ
20.05.2008)
A responsabilidade pelo recolhimento das
contribuições social e fiscal, resultante de
condenação judicial referente a verbas
remuneratórias, é do empregador e incide sobre o
total da condenação. Contudo, a culpa do empregador
pelo inadimplemento das verbas remuneratórias não
exime a responsabilidade do empregado pelos
pagamentos do imposto de renda devido e da
contribuição previdenciária que recaia sobre sua
quota-parte.

Ademais, na apuração dos descontos fiscais


deverá ser observado o regime de competência, levando-
se em consideração as alíquotas e descontos próprios

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do mês em que o crédito deveria ser pago, nos termos


do art. 12-A da Lei n.º 7.713, de 22/12/1988, com a
redação dada pela Lei nº 12.350/2010, regulamentado
pela IN RFB n. 1127/2011.

Neste sentido, aliás, segue a nova redação do


item II da Súmula 368 do C. TST:

“É do empregador a responsabilidade pelo


recolhimento das contribuições previdenciárias
e fiscais, resultante de crédito do empregado
oriundo de condenação judicial, devendo ser
calculadas, em relação à incidência dos
descontos fiscais, mês a mês, nos termos do
art. 12-A da Lei n.º 7.713, de 22/12/1988, com
a redação dada pela Lei nº 12.350/2010”.

Insta salientar, por fim, que os juros de mora


são parcelas de natureza indenizatória sobre as quais
não incidem contribuições fiscais (OJ 400 da SDI-1 do
C. TST).

III – D I S P O S I T I V O.

POSTO ISSO,

ACORDAM os Magistrados da 4ª Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da 2ª Região em CONHECER do
recurso ordinário interposto pelo autor e, no mérito,
DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO para condenar a 1ª
reclamada, e de forma subsidiária a 2ª reclamada, a
providenciar a retificação dos dados lançados na CTPS
do autor, para fazer constar como termo inicial do
contrato de trabalho o dia 10/01/2013, o que deverá
ser feito após o trânsito em julgado, no prazo de 10
dias contados da intimação da disponibilização nos
autos pelo reclamante de sua CPTS, sob pena de multa
diária de R$ 100,00 (cem reais), bem como ao pagamento
de: salário do período de 10/01/2013 a 23/01/2013;
diferenças de vale refeição; aviso prévio indenizado;
saldo salarial; 13º salário proporcional

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(considerando-se a projeção do aviso prévio); férias
proporcionais, acrescidas de um terço (considerando-se
a projeção do aviso prévio); e multa rescisória de 40%
sobre os depósitos fundiários. Fica autorizada a
dedução dos valores quitados por títulos iguais aos
deferidos, desde que a comprovação tenha vindo aos
autos na fase de conhecimento. Autoriza-se, ainda, a
liberação do FGTS, que deverá estar integralmente
depositado na conta vinculada do autor, sob pena de
execução direta. Correção monetária, juros de mora,
contribuições previdenciárias e fiscais na forma da
fundamentação do voto da Relatora. Custas processuais
a cargo das reclamadas, no importe de R$ 100,00 (cem
reais), calculadas sobre o valor da condenação, ora
fixado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

MARIA ISABEL CUEVA MORAES


Desembargadora Federal do Trabalho
Relatora

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