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B

Á boca de um beco
na bica do Belo
Um bravo cadelo
berrava: bau, bau.

Um bêbado, um botas
de bolsa e rabicho,
embirrava com o bicho,
bateu-lhe com um pau.

Foi grande a balbúrdia,


a turba se ria,
o bruto bramia,
e o broma a bater.

Com o pau sobre o pobre,


e bumba e mais bumba,
parece um zambumba.
Bendito beber.

Na toca de uma coruja


numa casa escangalhada
corria de canto a canto
certa cobrinha cintada.

Encontra um pinto calçudo


que por ali andava à caça
das moscas e sevandijas
e que ao ver a cobra embaça.

"Comadre", diz o coitado


lá no seu queriquiqui,
"vem caçar? Eu já cacei.
Entre que eu saio daqui".

Torna a cabeça escancarando


a boca: "caçaste? E eu não.
Mas ambos temos faxina,
compadre do coração..."

Um doido destes de pedras,


por nome Andrónico André,
Casado com dona Aldonça,
Que em vez de dois, tinha um pé.

Dia de corpo de Deus,


disse à esposa: "Aldonça, andai
adornai com as gualdrapas,
que herdei de Adão meu padrasto".

"Dai-me a capa de bedel,


o casaco de mandil,
o meu chapéu de dedal,
e a bengala d´aguazil."

"Gravata dura (que é duplex),


meu relógio de cadeia.
O meio-dia oiço dar!
Põe-me já depressa a ceia."

"Venha o pudim de bedum,


que a dona Dulce nos deu,
e o presunto quadrilongo,
do quadrúpede sandeu."

E assim ceado a asseado.


O tal Andrónico André,
saracoteando os quadris,

Florência, Francisca, Eufrásia,


todas de fraldas de folhos,
foram fazer uma festa
de filhós, bifes, repolhos.

Três tafuis, três franchinotes,


deitaram-lhes fel nos molhos,
por tal feito que as três,
fartas de fome e de zanga,
só comeram dessa vez,
fígados fritos de franga.

Eugénio Gomes da Gama


e Gil Gonçalves Bugio
brigaram num desafio
pela grulha de uma dama.

Grande desgraça e muito digna


de lágrimas bem gerais!
Seus golpes foram mortais,
e aquela magana indigna
mangou nos seus funerais.
J

Um janízaro em jejum
viu num jardim um jarreta,
que estava a jantar peru,
gergelim e ginja preta.

De júbilo encheu-se todo,


e pregou-lhe uma peta
que tirou o pé do lodo
e gamou tudo ao jarreta.

Pondo loja de capela,


Pantaleão do Cardeal,
alardeia o que tem nela,
pregando-lhe um edital:

"linhas, lonas, alfinetes,


lamparinas, chalés, luvas,
lenços, lâmpadas, colchetes,
leques, luto de viúvas.

Lustres, lacre, lã, palitos,


ferrolhos, lápis, lanternas,
papel, galões, passarinhos,
ligas de enlaçar as pernas!"

Com esta longa parlanda,


o feliz Pantaleão
já tem pilhado um milhão
e vai comprar a outra banda.

Amaro Simão de Sousa


tem mendiga muito fatal:
semeando qualquer coisa,
jamais lhe nasce outra igual.

Suponhamos que semeia


mostarda ou manjericão:
vem-lhe malvas, vem-lhe aveia,
ou melancia ou melão.

Malmequeres dão-lhe amoras,


amoras dão-lhe marmelos:
marmelos criam-lhe esporas,
e estas moncos amarelos.
Teima e afirma muita gente
de moleirinha machucha
que esta mendiga indecente
foi manobra de uma bruxa.

Pedro Paulo Pinto Pereira,


pobre pintor português,
pinta portas paredes e painéis,
por preços populares,
para poder partir para Paris,
pois pode praticar Ping-Pong,
que é desporto parco,
mas de prática particularmente perversa.

Comprei um pinto em prata


(que não há preço mais módico)
uma pipa uma pata,
um pote, um pente, um periódico.

Depois pus tudo isto à venda,


que parvo negócio fiz!
um rapaz moço de tenda
prometeu-me uma de xis.

Qu

Quem há que queira comprar


em Queluz um bom quintal?
No Verão é muito quente;
no Inverno tal e qual.

Tem quinze árvores de quina,


quarenta cardos de coalho,
quatro flores de quaresma
que não requerem trabalho.

Dá três alqueire e Quarta


de quássia e doze de milho,
e do líquido que esquenta:
seis quartolas e um quarlilho.

Qualquer pessoa querendo ver


este prédio esquisito
pode falar com o quinteiro
Quirino Joaquim Cabrito.

Que eco que há aqui!


Que eco é?
É o eco que há aqui.
O quê, há eco aqui?!
Há eco, há.

Comprei na feira do Rato,


no largo das amoreiras,
arroz de peru num prato
arranjado pelas freiras.

Sabia a chouriço moiro;


era comer e gritar!
Carne, rins, recheio coiro,
roí sem resto deixar.

Porém, fiquei muito doente,


tanto que o doutor Cabral
me receitou para o ventre
raspas de unicórnio e tal.

Um rato roendo roía


o rabo do rodovalho
e a Rosa Rita Ramalho
de o ver roer se ria.

O rato roeu a rolha da real garrafa


do rei da Rússia.
O Borges relojoeiro ruminara
roendo raspas de raiz de romãzeira.
O tambor rufará rápido:
três rufos e seis batidas,
para o remador desamarrar rente o remo
e remar contra a corrente.
O doutor receitou remédios drásticos:
três colheres de óleo de rícino
e raspas de rosa rara.
O livro raro traz trais trechos
que rapidamente se o rasga.

Nasce-se, cresce-se, desce-se...


os senhores as senhoras...
os senadores as senadoras...

Se os seis sábios são susceptíveis,


seguramente sereis satisfeito.
Céus! se Cecília sabe,
seus sentimentos serão sempre sinceros.

Os assassinos sobre seus seios


sugavam sangue sem cessar.

Susana! Se saíres sai só.


Sou o sempre seu
Serafim Sá de Sousa.

S (z)

Um rapaz tendo uma Zebra


metida num casarão,
desancou-lhe um dia a febra
que a pôs magra como um cão.

A azêmola era cinzenta,


e, depois daquela tosa,
ficou da cor da pimenta
e a atirar para fanhosa.

Triste trolha atrapalhado


de taipar tanta trapeira,
consertar tanto telhado,
estragar tanta goteira.

Na festa de Santo Entrudo


entra trôpego e zoupeiro,
de tamancos, tosco e rude,
no interior do seu palheiro.

Sentou-se num tamborete,


sem dizer nem chus nem bus
e pôs-se a entrudar sozinho
com tripas de atum de truz.

Eis trinta cães famintos


(outros dizem trinta e seis)
entram de tropel ladrando.
Que estrago!... Agora o vereis.

Trastes, trancas, tocos, troncos,


estoiram...tudo é tropel.
Bater, latir, tombos, roncos
terminam este aranzel.

V
Vinde ouvir caros ouvintes.
Vale a pena!
Era uma vez Vitorino Vaz Ventura
dos Arcos de Valdevez.

Vai ele um dia e vestiu-se


com a véstia verde-gris,
luva nova cor de couve
e verónica de Aviz.

Adivinhais o motivo
porque assim se ataviou?
É porque ia a Vila Verde
à voda do pai-avô.

- Como vens viçoso e grave!


Diz o pai-avô.
- Trago-vos trovas em verso,
lhe volve o vivo camelo.

E tais trovas e tais versos


dum livro lhe vomitou
que virou de uma vez o bucho
ao ciso do pai-avô.

Excelente chá da China


em caixotes de charão
trouxe a charrua xarroco,
que é xaveco de feição.

Além deste chá de luxo,


mil coisas muito curiosas
trouxe da China. Por exemplo
Chambres roxos, seda fina.

Chibatas e chifarotes,
lenços para chischisbéus,
Chorinas de franchinotes,
frascos de óleo de xaréus.

Xargões, enxergas, enchovas,


enxofre, enxós, chocolate,
enxúdias, enxertos, lixas,
lagartixas e um orate.

Xavier consignatário,
chineiro gordo e convexo,
vendo tanta esquisitice
dizem que ficou perplexo.

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