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Boa noite senhores pais, diretores, professores e formandos.

No dia em que a minha turma me convidou para ser o orador, ela não fazia idéia de como isso
seria difícil para mim.

Quando eu repeti de ano, acabei caindo de pára-quedas no meio de vocês e para ser sincero,
na época eu não estava muito disposto a fazer novos amigos. Sentia como se todos fossem
intrusos na minha vida e por isso me comportei de formas agressivas tantas vezes. Falo isso
porque imagino que tenham sido poucos os que eu não agredi, seja da minha sala, da
coordenação ou até da diretoria. A verdade é que lá no fundo eu queria que todos revidassem,
mas no lugar disso, vocês me acolheram. E por causa disso hoje eu finalmente consigo vir aqui,
sem precisar contar piadas, para dizer o que sinto.

Ser orador é difícil para mim porque tenho que me despedir de todos vocês, as pessoas que
me receberam.

E agora? O que será do mês que vem?

No mês que vem, vamos acordar e nos trocar. Mas não acordaremos para a escola, nem
iremos nos vestir para ela. Vamos sair de casa, mas quando chegarmos onde queremos não
iremos cruzar com a Débora na recepção da Diogo Jácome. Vamos conversar uns com os
outros, mas não será bem cedo, antes das aulas, durante elas ou 10h05, no intervalo. No mês
que vem, acordaremos e perceberemos que existe um futuro para cada um, mas já não existe
um futuro para “nós”.

Não que “nós” não vamos mais nos encontrar, tenho certeza que iremos. Mas “nós” não
vamos mais dividir a mesma sala, não vamos ocupar o mesmo corredor. “Nós” não iremos
mais chegar segunda feira para ter aula de Ética e Cidadania com o professor Beto Candelori.
“Nós” não teremos mais aulas à tarde na turma X, Y ou Z. Não iremos mais tomar café da
manha com o Jorge depois de tanto 10 tirados em um boletim só. Não iremos mais receber a
professora de Física Glorinha de todas as suas próximas voltas do LHC. “Nós” não torceremos
mais pelo time do terceiro ano na final do campeonato na quadra da escola. “Nos” não vamos
mais ser surpreendidos pelo professor de Matemática Blaidi dizendo que vamos ao Hopi Hari
em plena época da ansiedade pré-vestibular.

Acordaremos mês que vem e hoje já será passado.

E, com o tempo, vamos começar a esquecer. Primeiro, dos detalhes como quem sentou atrás
da gente, a ordem em que as músicas e as cenas foram apresentadas nesta cerimônia. E,
depois, conforme os dias passarem, começaremos a nos esquecer de coisas cada vez maiores,
coisas que gostamos e não queremos que desapareçam. Mas não precisamos depender da
memória para ter em nós aquilo que amamos.

Na sala de aula de Português, há uma frase do escritor Guimarães Rosa que diz: ”O mais
importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas
vão sempre mudando”. A primeira vez que li a frase eu não havia entendido. Achava que, se
mudasse, estaria perdendo parte de mim. Mas hoje sei o que esse escritor mineiro quer dizer
e posso afirmar que “o mais importante e bonito” de nossas vidas aconteceu na Móbile, por
que foi nesta instituição que mais nos descobrimos, acertando e errando, nos inventando e
nos reinventado. Mudamos, aprendemos e crescemos. E tudo isso graças aos nossos
professores, que nos ajudaram a ficar ”cada dias mais inteligentes” (Glorinha), sabendo mais
sobre conteúdos programáticos e sobre nós mesmos. Mesmo que o tempo afaste algumas
memórias, ele não conseguirá afastar tudo aquilo que aprendemos. O conhecimento que
adquirimos faz parte de nos agora, e essa é uma marca que a Móbile e os professores deixam;
marcas que carregaremos para sempre.

Em cada ação minha, vejo uma influência dos meus amigos e desta escola. Perceber isso é um
“prazer inenarrável” (Blaidi). Não importa o tempo que passe, guardarei em mim todos vocês,
porque, como escreveu o poeta Vinicius de Moraes, “eu sinto que em meu gesto existe o teu
gesto e em minha voz a tua voz”. Não é verdade “Parceirinho“ (Beto)?

Agora eu começo a sentir o gosto daquilo que o poeta Drummond chamou de ausência:

Por muito tempo achei que a ausência é falta

“E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.”

Agora é hora do exercício do sentir. Olhe para os seus grandes amigos. Olhe para o amigo do
lado. Mesmo com a distancia, ele nunca poderá ir por completo, porque são nossos amigos
que nos ajudam a construir quem somos; mesmo quando partem, deixam uma marca em nós.
Hoje, quando vocês abraçarem seus amigos para se despedir deles, estarão levando muito
mais do que podem imaginar. Daqui para frente, a cada nova escolha que tomarmos será
como se pudéssemos olhar para nossos amigos como olhamos agora e dizermos: “satisfação
em revelo” (Augusto).

E o que eu levo de vocês é algo que lhes serei eternamente grato. Posso dizer que a mudança
que essa turma causou em mim com toda alegria que vocês têm foi a mais “bela e importante”
da minha vida. Vocês conseguiram me mostrar que, apesar de tudo, a vida é linda.

Sem vocês, (mesmo assim) no mês que vem eu poderei sorrir, mas graças a vocês.

Obrigado.

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