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ANKERSMIT, Frank. Meaning, truth, and reference in historical representation.

Nova York: Cornell


University Press, 2012.

Capítulo 1 – Historicism

“There is one basic assumption underlying this entire book: that the historicist account of historical
writing, here associated primarily with the writings of Leopold von Ranke and Wilhelm von Humboldt, is
basically correct”.
No entanto, o livro quer menos expor novamente as bases do historicismo desses autores, mas sim
em, reconhecendo que suas ideias sobre a representação histórica eram corretas, traduzir a linguagem que
eles utilizavam (marcada pelo idealismo e romantismo dos anos 1820 e 1830) para termos mais
contemporâneos.

“Historicism, as I will use the term here, is the view that the nature of a thing lies in its history”.
Lembra algumas passagens de Herder, Ranke e Dilthey que expressam essa posição. Em comum,
está a ideia que a manifestação presente de um indivíduo, época, nação, etc., é apenas uma sombra, e só o
seu passado é que pode nos ensinar sobre sua natureza e identidade.
“The implication is that the objects investigated by the historian cannot be defined apart from their
history”.
Em história, o estudo de algum processo histórico (o autor dá o exemplo da Guerra Fria) não se dá
primeiramente pela manifestação presente e só depois reconstituindo o seu passado. Nos casos como o da
Guerra Fria as identidades seguem da escrita da história em vez de precedê-la.

“In this way history undoubtedly clashes with how the world and its objects are given to us in daily
experience. History is an abstraction from our experience of daily reality no less than science is. Given the
definition of historicism adopted here, the relationship between na object and its history is inevitably
circular. But this circle is not a vicious one, since the very process of endlessly moving within it is how
historical knowledge and truth come into being—as is best exemplified by Dilthey’s hermeneutic circle”

Nesse sentido, o historicismo é a contraparte do historiador frente ao cientificismo do cientista. Este


afirma que só a ciência pode oferecer um conhecimento confiável sobre as coisas do mundo, E na medida
em que a história de alguma coisa tem alguma relevância, pode-se inferir a partir do que essa coisa é
atualmente como, como geólogos podem inferir a história da terra a partir de seu estado atual. Isto é o exato
oposta da posição historicista, onde a natureza da coisa só pode ser apreendida estudando a sua história.
“However, historicism and scientism are, at bottom, ontological positions, and these cannot be
assessed on the basis of epistemological considerations about the uses of evidence”.

O autor destaca duas conclusões: 1) Historicismo e cientificismo são posições mutuamente


excludentes; e 2) Nenhum historiador pode evitar em subscrever a posição historicista, pois sem ele não
haveria nenhum sentido o esforço do historiador.

A chamada crise do historicismo tem a ver com o neokantismo. Heidegger intervém e apresenta uma
resposta ao neokantismo, apresentando o conceito de historicidade (em sua posição ontológica e, segundo
Ankersmit, também anti-epistemológica).
No entanto, como também lembra Ankersmit, essa noção de historicidade em Heidegger está ligado
sobretudo à experiência individual do ser no mundo. Dessa maneira, Heidegger conseguiu superar os
dilemas do neokantismo (sobretudo em relação à moral e à epistemologia), mas ao preço de restringir a
história à dimensão do ser humano individual.
Por isso: “This rendered historicism’s final victory over neo-Kantianism useless for the purpose of
historical writing”. Lembra ainda que Adorno (em A dialética negativa) já havia assinalado que seria
impossível produzir uma escrita da história a partir dos parâmetros de Ser e Tempo.
“The question whether Heidegger’s ontological turn can meaningfully be related to historical writing
as it has been practiced since Ranke’s days is therefore still very much on the agenda”.
“This may explain why historicity survived in Heidegger’s Existenz-Philosophie in a form that was
of so little use for historians and the historical profession. For historians are primarily interested in what
happens not in but between individuals”
“So we are now in need of a more satisfactory conception of historicity in order to make Rorty’s
dreams of a new agenda for philosophy of language come true. And this will require us to return to the
tradition of German historicism”.

Manheim já havia destacado que a principal revolução efetivada pelo historicismo foi de transformar
uma concepção estática de sociedade para uma outra concepção dinâmica. Nessa visão, o “normal” seria não
a permanência mas a mudança.
No entanto, para que seja possível medir essa mudança, algo deve permanecer. Isso levou ao difícil
problema de o que pode ser considerado como essa estrutura invariável.
A resposta dada por Ranke e Humboldt foi de propor a noção de “ideia histórica” (historical idea).
Cada “coisa” histórica (nação, época, civilização, etc.) possui uma ideia histórica, uma enteléquia, específica
para essa coisa e que não está sujeita à mudança.

Sobre essa noção de ideia histórica, destaca-se 4 argumentos:


1) Nenhuma análise ou dedução filosófica pode nos levar à ideia histórica, mas somente a
investigação histórica empírica, a partir de documentos e outros traços do passado (nisso o historicismo
desembocou na profissionalização da história);
2) A ideia histórica de uma nação ou época expressa o que é único e característico. E o que é único e
característico é a sua “essência”, ou sua identidade que é melhor capturada em sua histórica, por uma
narração de como ela se tornou.
3) Ao apresentar a ideia histórica de uma nação ou época, o que o historiador faz é explicar essa
história. “Historical phenomena are explained by relating them to the historical idea that defines a nation’s
or an epoch’s uniqueness or identity, just as we may explain a person’s actions by relating them to his
character”;
4) Como faz explicitamente Humboldt, a explicação causal é preterida por uma explicação em
termos de ideias históricas. Entre elas há uma hierarquia em que a segunda é superior à primeira. Só a ideia
histórica pode expressar a essência ou identidade em si mesma.
“And indeed, much of the practice of historical writing can be fitted within the framework provided
by these four claims about the historical idea”.

Apesar disso, nenhum historiador contemporâneo aceita de bom grado a noção de Ranke e Humbldt
sobre a “ideia histórica”. Na verdade, a tendência é considera-la redundante.
Ankersmit, porém, afirma que é possível concordar com essa crítica da ideia histórica historicista, e
ao mesmo tempo discordar dos fundamentos sobre os quais ela emergiu. O autor se refere à tese (para ele
falsa) do paralelismo entre linguagem e realidade.
Seguindo Mink, Ankersmit assinala que o passado não é meramente uma “história não contada”
(“untold story”). “Stories are not lived, but told” como afirma a fórmula de Mink. Isso significa que a
narrativa histórica possui uma autonomia, que rompe com a tese realista do paralelismo.
Para Ankersmit, o mesmo se dá com a ideia histórica historicista. “We should not locate it in the past
itself — as the historicists mistakenly did themselves—nor should we reject it as a redundancy offending our
realist belief in a parallelism of language and reality. Instead we must situate it in the historian’s language
about the past. It is not an entelechy determining the temporal development of historical objects but rather
the principle structuring the historian’s stories of the past. Moreover, we must avoid the assumption that the
past itself contains some real counterpart to this structuring principle”.
Ao situar a ideia histórica no discurso do historiador, o que os historicistas como Ranke e Humboldt
dizem sobre a ideia histórica assume toda a sua força.
“Yes, in history the focus is on the individual, since each historical text has its own individuality. Yes,
individuum est ineffabile since the historical text’s individuality can never be exhaustively defined. Yes,
history always has to do with development, since this is the essential property of historical narratives. Yes,
the historicist’s main claim that a thing’s history is in its past is correct, for its nature or identity is defined by
a historical narrative. Yes, we have good reason to be skeptical about efforts to translate history into a
science as long as there is no science of historical texts. Yes, presenting a past object’s historical idea may
explain that object, because the narratives structured by the historical idea possess explanatory power. And,
finally, yes, the historian’s breath permeates the past as presented by him, in much the same way that the
pantheist God is present in His creation”.

Capítulo 2 – TIME

“The unprecedented intellectual revolution effected by historicism in the early decades of the
nineteenth century endowed all of human existence with a temporal dimension, with irreversible
ramifications for how we conceive of ourselves and of our world even today”.

No entanto, a escrita da história historicista quase nunca chegou a pensar o tempo como tal. O
historicista vê tudo em perspectiva temporal; mas talvez por isso se tornou quase “impossível” falar sobre o
tempo.
Neste capítulo, “I will try to give an explanation of why historicist historians were basically right
when showing so little interest in the topic of history and time”.

Capítulo 3 – INTERPRETATION

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