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O Projeto de Lei nº 6722/10, que institui o Programa Nacional de Fomento e Incentivo

à Cultura – Procultura, estabelece diversos avanços em relação à atual legislação


brasileira de fomento à cultura, tanto para o acesso aos recursos do Fundo Nacional
de Cultura – FNC, quanto para o acesso ao incentivo fiscal. Com a finalidade de
mobilizar e aplicar recursos para apoiar projetos culturais em todo o país e no exterior,
referida lei, até hoje não votada pelo Congresso, visa ampliar os recursos da área,
assim como diversificar os mecanismos de financiamento e os investidores.

Elaborado para substituir a Lei Rouanet, o Procultura tenta tornar o arcabouço legal da
cultura mais abrangente e dinâmico ao prever novas fontes de recursos para a
Cultura, como os provenientes da Loteria Federal, por exemplo.
O projeto renova e aperfeiçoa o Fundo Nacional de Cultura, que a partir de sua
aprovação será dividido em nove Fundos Setoriais: das Artes Visuais; das Artes
Cênicas; da Música; do Acesso e Diversidade; do Patrimônio e Memória; do Livro,
Leitura, Literatura e Humanidades; de Ações Transversais e Equalização; do
Audiovisual; e de Incentivo à Inovação do Audiovisual.

O texto do projeto de lei também tenta estabelecer critérios um pouco mais objetivos e
transparentes para avaliar a dimensão simbólica, econômica e social para o uso do
recurso público por projetos que buscam incentivos. Tenta também criar critérios na
relação entre Estado e sociedade civil para uma melhor destinação dos recursos.
Estabelece que no mínimo trinta por cento dos recursos do FNC serão repassados a
fundos públicos estaduais e municipais. Um grande avanço na diversificação e
regionalização da produção cultural.

Caso aprovado, o Procultura fará do Fundo Nacional de Cultura o principal mecanismo


de financiamento do setor, garantindo que os recursos públicos cheguem diretamente
aos proponentes. Tudo isso ampliando a participação da sociedade, por meio da
Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC). E derivarão da CNIC outras
comissões setoriais que abrangerão os nove fundos existentes e terão elas uma
composição paritária do governo e da sociedade civil.

Outro avanço do Projeto de Lei é que tanto pessoas físicas como jurídicas, com ou
sem fins lucrativos, terão o direito de apresentar projetos. Ou seja, não se exigirá mais
que a instituição tenha de ter na descrição de suas atividades a natureza cultural. O
que será necessário será apenas a natureza cultural da iniciativa proposta.

Para muitos produtores culturais, o estabelecimento do prazo de 30 dias (prorrogáveis


por igual período) para que o Ministério da Cultura conclua a avaliação de cada projeto
cultural é o maior dos avanços, pois atualmente a espera por meses e meses não é
incomum.

As ressalvas em relação aos avanços do Procultura começam a aparecer em relação


à tentativa de diminuir a burocracia para aprovação dos projetos e para a prestação de
contas. É bem certo que ambos os processos parecem que serão menos
burocratizados, mas é preocupante que além dos atuais convênios sejam concedidas
bolsas e prêmios. E que a prestação de contas tenha foco nos resultados do projeto e
não em seus aspectos contábeis. São boas iniciativas, mas são preocupantes em
relação à idoneidade, probidade, lisura, transparência, etc.

Uma nebulosa também paira em relação aos FICARTs, fundos financeiros de


aplicação na bolsa de valores. O Procultura, pelo atual texto do projeto de lei,
estabelece que os FICARTs possam eleger diretamente quais projetos querem apoiar.
Tudo sem necessidade de editais, nem comissões, nem eleições, nem seleções etc. E
não param por ai os privilégios dos FICARTs. Eles oferecem 100% de incentivo fiscal
para quem aplicar em fundos na bolsa de valores. Portanto, distorções como o
patrocínio com incentivo público a eventos como o Rock in Rio e outras grandes
produções continuarão existindo. E em todos esses casos não precisarão retornar
nenhum centavo ao FNC ou aos setores mais fragilizados. Não é demais recordar que
esses tipos de projetos costumam ter alto retorno comercial e que são por si só
autofinanciáveis. Sem contar que com a possibilidade de “seleção direta” os projetos
“dos amigos” sejam financiados sem o menor constrangimento. A contradição fica
ainda mais perceptível quando recordamos que não há, por exemplo, 100% de
incentivo para se produzir um livro ou uma peça de teatro.

Lamentavelmente o Procultura não avança na direção de mitigar um dos maiores


celeumas da atividade cultural no país: a excessiva concentração de recursos públicos
incentivando projetos do eixo Rio – São Paulo. Quase sempre para o mesmo pequeno
grupo de produtoras e produtores. Tomando como exemplo o setor audiovisual nos
anos de 2010 e 2011, mais de 90% dos recursos captados por leis de incentivo foram
para produtoras do Rio de Janeiro e de São Paulo.

O Procultura também não avança a não enfrentar a maior disfunção da atual lei, que
permite que as empresas decidam a seu bel prazer quais manifestações culturais
merecem ser patrocinadas. Fazendo uso de um dinheiro público, essas empresas
fazem, com toda a liberdade que lhes dá a lei, sua escolha (quase sempre comercial),
por eventos que certamente trarão maior visibilidade para suas próprias marcas. Ou
seja, no meu entender: o governo continuará a abrir mão de sua prerrogativa e de seu
dever de decidir para onde irá o financiamento público cultural, para que as empresas
privadas decidam por ele, baseadas em suas metas publicitárias.

Para dar um exemplo concreto, recorro ao setor que melhor conheço: o audiovisual.
As leis de incentivo, que deveriam, prioritariamente, fomentar a produção
independente, acabam beneficiando as empresas que já dominam o mercado. Tanto
na Lei Rouanet, quanto na Lei do Audiovisual e na MP 2.228-1 essa distorção
acontece. Na Lei Rouanet e em dois artigos da Lei do Audiovisual, as empresas
privadas utilizam dinheiro público para promover suas marcas. Ou seja, escolhem os
filmes a financiar segundo a possibilidade de retorno publicitário para suas marcas,
aspecto regido quase sempre pela possibilidade de sucesso comercial tendo em vista
a ligação (indireta e às vezes oculta) com os grandes grupos midiáticos que
oferecerão divulgação em seus meios.

Outro tipo de distorção criada pelas próprias leis de fomento ao audiovisual vem de
dois outros artigos da Lei do Audiovisual e também da MP no 2.228-1. No primeiro
caso a lei permite a dedução de 70% do imposto devido à Receita Federal, oriundo
das remessas ao exterior dos lucros obtidos no Brasil por essas empresas
estrangeiras, caso se invista em co-produções com produtoras independentes
brasileiras. No segundo caso, a MP permite o não pagamento da contribuição
Condecine para aquelas empresas que investirem, em co-produção com produtora
brasileira, os 3% dos lucros que seriam enviados ao exterior em virtude da bilheteria
feita no Brasil com filmes estrangeiros. O problema é que, em ambos os casos, como
essas empresas distribuidoras têm a preferência na utilização desses recursos
públicos, são elas, as empresas estrangeiras, que fazem a gestão dessas políticas
públicas de fomento ao audiovisual. E como são elas as donas do cofre do dinheiro
público, estabelecem contratos inviáveis para os produtores independentes.
Essas duas leis e a MP também criam distorções que favorecem enormemente as
tevês abertas, detentoras de concessões públicas, o que já é um enorme privilégio,
fortalecendo ainda mais uma concentração de mercado.

*Com a colaboração de Jaime Lerner, presidente da Associação Brasileira de


Documentaristas e Curtametragistas (ABD-Nacional)
Procultura: aprimoramentos importantes
Enviado por Kluk Neto • maio 21, 2012 • LEI ROUANET ,PONTOS DE
VISTA • 0 Comentários
O projeto de Lei que cria o Procultura em substituição a Lei Rouanet foi forjado no
trabalho de muita discussão e propõe alterações que traduzem esforços importantes
para atender demandas que a atual Lei Federal de Incentivo à Cultura não contempla.

Para combater a concentração regional de recursos propõe a aplicação de uma


proporção mínima de 10% de aplicação de recursos do Fundo Nacional de Cultura em
cada região brasileira e direciona também a aplicação dos recursos segundo a
proporção populacional dos estados.
Para direcionar recursos para regiões pouco atendidas atualmente, cria os “Territórios
Certificados” áreas prioritárias, com incentivo adicional para implantação e
manutenção de equipamentos culturais e suas programações, cujos projetos terão
benefício de 100% de abatimento do IR, com possiblidade adicional desses recursos
serem lançados como despesa operacional no balanço das empresas caso o
equipamento cultural seja novo ou tenha menos de 10 anos de existência. Isso
equivale a criar para esses projetos, nos territórios certificados, uma categoria de
incentivo dentro da Lei Federal extremamente atraente, só comparável ao incentivo
máximo que é dado generosamente hoje às produções de Cinema.

O projeto propõe inovações que certamente poderão ampliar o mercado de patrocínio.


Ao aumentar o limite de renúncia fiscal de 4% para 8% para empresas com
faturamento inferior à R$ 300 milhões, potencializa a capacidade de financiamento a
projetos via IR das empresas médias o que pode também, gerar reflexos positivos no
financiamento de projetos de pequeno porte, que estarão ao alcance dos recursos
incrementais dessas empresas.

O projeto de lei abre a possibilidade de ampliar-se também o montante possível de ser


aplicado por pessoa física em projetos incentivados, já que o limite de abatimento do
imposto que antes era de 6% para esse tipo de apoiador passa agora a ser de 8%.

Para aumentar os recursos do Fundo Nacional de Cultura, traz algumas inovações


engenhosas, permitindo que o limite de abatimento do imposto devido das empresas
passe de 4% do valor do IR devido à 6%, sendo que o primeiro 1% adicional deve ser
aplicado no Fundo Nacional da Cultura e o segundo 1% adicional pode ser alcançado
e mantido caso a empresa utilize 5% e continue aplicando desse último 1% extra,
20% no FNC no 1º ano, 30% no 2º ano, 40% no 3º ano e 50% no 4º ano após a
publicação da Lei. Na prática, isso significa que o governo quer estimular as empresas
que já usam o incentivo no seu limite a buscar aplicar mais recursos em projetos
culturais desde que também direcionem recursos para o FNC em proporções
crescentes após a publicação da nova lei. Após o 4º ano de publicação da lei, esse
mecanismo irá permitir que as empresas que hoje usam 4% do imposto no incentivo
fiscal consigam chegar à usar 4,5% para o patrocínio de projetos desde que
direcionem 1,5% para o FNC.
Esse mecanismo é no mínimo curioso já que cria uma via para fazer com que o que
antes era o fluxo de recursos do mecanismo do Mecenato da Lei Rouanet, passe a
abastecer o Fundo Nacional da Cultura para ampliar o seu orçamento. Parece-nos
uma maneira bastante criativa de superar uma barreira interna que o Ministério da
cultura certamente encontra para ampliar os recursos do orçamento via negociação
com a Fazenda Federal.

Há no texto da proposta, todavia, algumas aparentes contradições no que tange à


definição de competências e atribuições. Uma delas delega à CNIC o poder de avaliar
e determinar que um projeto com suposta “capacidade comercial” seja negado para
enquadramento no mecanismo de Incentivo Fiscal (antigo Mecenato da Lei Roaunet
que foi renomeado) e seja direcionado para o mecanismo dos Ficart que é próprio
para projetos com finalidade lucrativa. Assim, a CNIC se imbuiria da função de
“consultora de negócios culturais” avaliando aqueles que prescindem do apoio do
mecanismo de incentivo por serem robustos o suficiente para encarar o mercado sem
o colchão que o patrocínio possibilita para reduzir os riscos da produção. Será que
esse é o papel da CNIC? A mesma teria competência técnica para fazer tal tipo de
avaliação?

Outra contradição observada é o fato de se permitir que o FNC aplique recursos em


projetos com fins de lucro participando de cotas com possiblidade de auferir ganhos
assemelhados aos ganhos de capital empregado em tais projetos. Isso parece estar
na contramão da ideia de que o FNC teria a função de atender prioritariamente aos
projetos que, por não terem o devido apelo comercial requerido pelo mercado de
patrocínio das empresas, não conseguem recursos via mecanismo da renúncia fiscal
e, portanto, precisam do Fundo. O mecanismo para financiamento de
empreendimentos culturais com fins de lucro é o Ficart e não o FNC. Aqui parece que
o texto da lei permite uma inversão de papeis.

O projeto tem o mérito de preservar o limite máximo de 100% de dedução fiscal para
projetos de produtores independentes e esmera-se em bem definir o que é
considerado produção independente.
Para os demais, cria uma série de requisitos que devem ser atendidos para que sejam
definidos níveis de dedução nos patamares de 30%, 50% e 100% de dedução fiscal
aos seus patrocinadores.

Para que um projeto consiga manter sua classificação no patamar de 100% de


dedução fiscal para o seu patrocinador, deve atender pelo menos 12 (doze) dos 19
(dezenove) critérios elencados na Lei. Treze desses critérios estão definidos na lei (ver
abaixo) e outros 5 (cinco) serão diretrizes a serem definidas pelo Conselho Nacional
de Política Cultural.

Abaixo os critérios que estão dispostos no projeto de lei:


1. gratuidade do produto ou serviço cultural resultante do projeto;
2. ações proativas de acessibilidade;
3. ações proativas de inclusão sociocultural e produtiva;
4. ações educativas e de formação de público;
5. formação de gestores culturais ou capacitação profissional e empreendedora na
área artística e cultural;
6. desenvolvimento de pesquisa e reflexão no campo da cultura e das artes e da
economia criativa no Brasil;
7. projetos artísticos com itinerância em mais de uma região do país;
8. difusão da cultura brasileira no exterior, incluída a exportação de bens e serviços,
bem como geração de possibilidades de intercâmbio cultural no Brasil e no exterior;
9. impacto do projeto em processos educacionais, com desenvolvimento de
atividades, conteúdos e práticas culturais dentro e fora da escola, para professores e
estudantes das redes públicas e privadas;
10. licenciamento não exclusivo e pelo tempo de proteção da obra, que disponibilize
gratuitamente o conteúdo do produto ou serviço cultural resultante do projeto, para uso
não comercial, com fins educacionais e culturais;
11. pesquisa e desenvolvimento de novas linguagens artísticas no Brasil;
12. incentivo à formação e à manutenção de redes, coletivos, companhias artísticas
e grupos socioculturais;
13. ações artístico-culturais gratuitas na internet.

Caso o projeto só atenda até 8 (oito) dos 19 (dezenove) critérios, o limite de


abatimento fiscal ao seu patrocinador será de 30% do valor aplicado no projeto. Caso
o projeto atenda entre 9 (nove) e 11 (onze) dos critérios, o limite de abatimento será
de 50%.

Posto que os critérios estabelecidos não são de trivial cumprimento para toda a classe
de projetos e produtores, é extremamente importante defender a manutenção
incondicional das cláusulas do projeto de lei que protegem os produtores
independentes, mantendo o enquadramento dos seus projetos no limite de 100% de
abatimento.

Para calcular o efeito que esse mecanismo potencialmente teria na diminuição do


volume de recursos para a produção cultural, seria necessário avaliar qual o
percentual dos atuais proponentes e o volume que eles propõem e captam atualmente
e que não seriam mais enquadrados como projetos de produtores independentes.

Caso as cláusulas de proteção ao limite de 100% de abatimento para os


independentes seja retirada do texto, o prognóstico quanto à redução significativa de
recursos para mecanismo de incentivo fiscal poderá ser considerado extremamente
desanimador, sendo certa uma grande redução no fluxo de recursos para esta
modalidade.

Depois de muitos embates ideológicos que permearam a discussão do projeto de lei


que nasceu para reformar e melhorar o maior e mais bem sucedido mecanismo de
financiamento à cultura criado pelo governo federal nas últimas décadas, pode-se
dizer que o Procultura, teve ao longo do processo de sua conformação diversas
arestas aparadas. Embora ainda com algum espaço para melhoria, chega hoje ao
Congresso, em um formato que expressa um real aprimoramento da legislação federal
de incentivo à cultura com importantes avanços para o setor cultural e o financiamento
à sua produção.

Procultura – Incentivos para FNC e Ficart


Enviado por Mônica Herculano • julho 25, 2013 • DESTAQUE ,LEI
ROUANET • 0 Comentários
O Projeto de Lei que institui o Procultura pretende trazer mudanças significativas ao
cenário do incentivo à cultura no Brasil. Tendo em vista tirar o Mecenato do papel de
protagonista da história, o substitutivo do deputado federal Pedro Eugênio (PT-PE) –
protocolado na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados no dia
15 de maio de 2013 – propõe colocar em cena os outros dois mecanismos previstos
na Lei Rouanet: o Fundo Nacional de Cultura e os Ficart (Fundos de Investimento
Cultural e Artístico). O primeiro mal passou de figurante. O último nunca saiu do
caderno do roteiro.
O FNC foi criado na Lei Rouanet com o objetivo de estimular a distribuição regional
dos recursos a serem aplicados na execução de projetos culturais artísticos, a
produção regional e artistas e produtores que não encontram amparo no mercado. Os
Ficart foram idealizados para solucionar questões de infra-estrutura da indústria
cultural, como construção de estúdios, de casas de espetáculos, importação de
equipamentos, e serem utilizados em eventos de grande porte, como musicais, turnês
de artistas internacionais e festivais – ações que acabaram, com o tempo, se
acomodando no Mecenato.
O FNC recebe recursos de instituições públicas e privadas e os repassa aos projetos,
por meio de editais. Os Ficart seriam formados por recursos do mercado financeiro e o
valor das cotas não poderia ser deduzido do Imposto de Renda.

De acordo com o Projeto de Lei Orçamentária para 2013, o Fundo Nacional da Cultura
terá neste ano R$ 370 milhões – os recursos destinados ao Mecenato somam R$ 1,7
bilhão.

O PL que cria o Procultura propõe que a taxa de renúncia fiscal para pessoa jurídica
passe dos atuais 4% do imposto devido para até 6%. O primeiro 1% (que representa
20% da renúncia total) iria para o FNC. E como um atrativo para os patrocinadores
doarem recursos próprios para o fundo, se fizerem doações de recursos próprios para
o fundo, poderão alcançar 6% de renúncia. “É um mecanismo que associa incentivos
às empresas doarem recursos próprios ao Fundo com transferências voluntárias.
Quem não quiser, continua a utilizar os 4% como é hoje, mas quem quiser ter mais
renúncia terá que colocar recursos próprios no Fundo e compartilhar parte da renúncia
com o Fundo. Crescem assim tanto o FNC quanto o Mecenato. É mais recurso para a
cultura”, afirmou o deputado Pedro Eugênio em entrevista a este Cultura e
Mercado em abril de 2012.
Os recursos do FNC serão aplicados em três modalidades: não-reembolsável, para
apoio a projetos culturais, transferências para fundos de cultura dos Estados, Distrito
Federal e Municípios e equalização de encargos financeiros e constituição de fundos
de aval nas operações de crédito; reembolsável, destinada ao estímulo da atividades
produtivas das empresas de natureza cultural e pessoas físicas, mediante concessão
de empréstimos, limitados a 10% dos recursos do fundo; investimento, por meio de
associações a empresas e projetos culturais e da aquisição de cotas de fundos
privados, com participação econômica nos resultados.

Os critérios de aplicação dos recursos do Fundo prevêem no mínimo 10% em cada


região do país, sendo que cada Estado e o Distrito Federal deverão receber, no
mínimo, o mesmo percentual de sua população em relação à população brasileira,
limitado a 2%.

De acordo com o substitutivo, no mínimo 30% de recursos do FNC deverão ser


destinados, por meio de transferência direta, a fundos públicos de Municípios, Estados
e do Distrito Federal. Do montante geral destinado aos Estados, 50% será repassado
aos seus Municípios, por meio de transferência direta aos fundos municipais de
cultura, num prazo máximo de 180 dias. Para isso é necessário que existam os fundos
de cultura aptos a efetuar a transferência, plano de cultura em vigor e órgão colegiado
oficialmente instituído.

“É importante aumentar o fluxo de recursos privados para a cultura tanto quanto é


fundamental aumentar a participação da pasta nos orçamentos públicos de todas as
instâncias – municipal, estadual e federal”, acredita Gui Afif, sócio da empresa de
consultoria e gestão de patrocínios Guaimbé Bureau de Cultura. Para descentralizar e
democratizar o investimento cultural, não apenas a produção e o acesso, ele defende
a extensão às empresas que trabalham em regime de lucro presumido. “Desta forma
seria possível a criação de fundos municipais que reunissem recursos do comércio,
indústria e serviços locais de diversas regiões do Brasil, apoiando pequenos projetos
de maneira homogênea e democrática”, afirma.

Com relação aos Ficart, a Lei Rouanet não traz nenhum incentivo fiscal. Já o novo
projeto permite que as pessoas físicas e pessoas jurídicas tributadas com base no
lucro real deduzam do imposto de renda devido até 100% do valor despendido para
aquisição de cotas dos Ficart, nos anos-calendário de 2013 a 2017. “Essa é a
mudança mais importante”, diz o deputado Pedro Eugênio.

Para o advogado Fábio de Sá Cesnik, sócio do escritório Cesnik, Quintino & Salinas,
especializado na área cultural, criar um incentivo para uma indústria que precisa se
desenvolver parece uma medida saudável, se bem direcionada. “Se ele for realmente
direcionado nos eixos que devem ser estimulados, ao desenvolvimento da indústria do
entretenimento ao vivo, por exemplo, pode ser uma propulsão diferente e
interessante”. No entanto, 100% de benefício voltado a fundos de investimento,
segundo ele, parece um retrocesso. “Acho bacana que a gente consiga criar um
incentivo para tirar o Ficart da inércia, mas não faz muito sentido pensar em dar 100%
de benefício para operações comerciais. É um desvirtuamento”, afirma.

Afif acredita que os fundos setoriais são um dos pilares da atuação do Estado no
financiamento à cultura e devem continuar sendo sempre incentivados. Mas tem
dúvidas sobre a eficácia da ação do Estado na atração do capital privado no “atacado”.

Para ele, com a globalização da produção cultural, o financiamento ao setor orientado


para resultados e com uma visão de mercado é o futuro. E em algum momento todos
os setores da economia criativa se beneficiarão, desde os mais vendáveis e lucrativos
até os mais fechados. “Para estes últimos, os mecanismos governamentais
funcionarão mais eficientemente, pois terão menos concorrência com os projetos
comerciais – que hoje também têm dificuldade de se financiar, por isso recorrem aos
incentivos. Neste cenário futuro, a importância do papel do FNC e dos Ficarts
aumenta, pois o governo poderá atuar utilizando os resultados de iniciativas
comerciais rentáveis financiadas por ele para incentivar iniciativas prioritárias para
suas políticas.”

*No dia 17 de agosto, Cultura e Mercado e Cemec promovem o II Seminário


#Procultura, que irá debater essas e outras questões referentes ao projeto que
substitui a Lei Rouanet. Participe: http://bit.ly/16vmgnj.

Finalmente, o Procultura
Enviado por Leonardo Brant • janeiro 29, 2010 • LEI
ROUANET • 0 Comentários

Disfarçado como “Nova Lei Roaunet” chega em versão oficial o Procultura, projeto que
revoga o maior instrumento de financiamento à cultura. Assinado pelo presidente, será
entregue ao Congresso em breve. A surpresa que se confirmou, e sequer foi colocada
em consulta pública, é a exclusão dos 100% para projetos de natureza cultural. A
indústria e os projetos comerciais continuarão gozando do benefício, através do Ficart,
o que contraria todo o discurso pela diversidade, utilizado em defesa da lei até agora.
O Projeto de Lei que substitui a Lei Rouanet (Lei nº 8.313/1991) entra na pauta do
Congresso Nacional no retorno do recesso parlamentar, em fevereiro. Quarta-feira, 27
de janeiro, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, encaminhou à Câmara
dos Deputados o texto que, se aprovado, esvaziará o mecenato a projetos culturais.

O Ministério da Cultura distribuiu um release de imprensa “vendendo” a ideia de que a


lei tornará a “cultura mais abrangente e dinâmica”. A peça de propaganda disfarçada
de jornalismo diz ainda que os “objetivos centrais são ampliar os recursos da área e,
ao mesmo tempo, diversificar os mecanismos de financiamento de forma a
desenvolver uma verdadeira Economia da Cultura no Brasil.”

Talvez esteja se referindo ao fato de que o governo propõe cortar os 100% para
projetos de cunho cultural, mantendo apenas para o Ficart – Fundo de Investimento
em Cultura e Arte, que financiará projetos comerciais. Isso significa que, além do
audiovisual, que já conta com uma lei que beneficia o investidor com 100% de
desconto no Imposto de Renda, sem contar a possível participação nos lucros, os
projetos culturais terão um novo concorrente, o show business.

O MinC apresenta a renovação do Fundo Nacional de Cultura (FNC) como grande


novidade. O que o Procultura faz, no entanto, é dividir o que já existia em vários
fundos setoriais. Entre outras coisas bizarras, cria o setor do “Acesso e Diversidade”.
Ou seja, acesso será considerado setor econômico e não uma questão inerente à
atividade cultural. O mesmo se aplica para o termo diversidade, que já foi utilizado
para tudo no novo vocabulário do MinC.

Outro ponto alardeado pelo órgão é o “estabelecimento de critérios objetivos e


transparentes para a avaliação das iniciativas que buscam recursos”. No entanto, o
que o texto da lei traz é uma série de princípios, diretrizes e valores que qualquer
projeto precisa ter. Os projetos serão avaliados por critérios como “expressão da
diversidade cultural brasileira (vai saber o significado disso); contribuição à pesquisa e
reflexão; e promoção da excelência e da qualidade”, entre outras pérolas.

A propaganda diz, ainda, que a nova lei transformará o Fundo Nacional de Cultura
(FNC) “no mecanismo central de financiamento ao setor, criando formas mais
modernas de fomento a projetos”. Como não há qualquer garantia de fontes de
recurso para o Fundo, a tal centralidade só pode ser garantida com o esvaziamento do
mecenato, já em pleno vapor.

“Garante-se, assim, que os recursos cheguem diretamente aos proponentes, sem


intermediários e com maior participação da sociedade, por meio da Comissão
Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), que dará origem a comissões setoriais”,
promete o MinC. Mas quem garante?

O projeto obriga os estados a distribuir 50% dos recursos do Fundo aos municípios,
mas desobriga a federação de distribuir qualquer percentual aos estados.

O que o release não conta é que o projeto, entre outras surpresas e pegadinhas que
vamos revelando durante o processo de discussão do Procultura no Congresso, é que
o Procultura institui, em seu artigo 66, o Programa Prêmio Teatro Brasileiro, para
fomentar: I – núcleos artísticos teatrais com trabalho continuado; II – produção de
espetáculos teatrais; e III – circulação de espetáculos ou atividades teatrais.

Imagino que seja uma espécie de Lei de Fomento ao Teatro, só que em âmbito
nacional. Trata-se de uma bem sucedida experiência da cidade de São Paulo,
replicada de forma estapafúrdia, sem contexto e regulamentação no Procultura,
apenas para atender aos movimentos teatrais como contrapartida ao apoio concedido
durante o período de consulta pública, exigindo o fim da Lei Rouanet.

Um bom gancho para todas as outras áreas que ficaram de fora do acordo brigarem
por prêmios e concessões. É hora de fazer barulho!

Leia a íntegra do Projeto de Lei.

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