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PARADIGMAS INOVADORES EM PLANEJAMENTO URBANO E GESTÃO*

B E A T R I Z F L E U R Y E SILVA 1
2
L U I Z A N T Ô N I O N. F A L C O S K I

SILVA, B. F. e; F A L C O S K I , L. A. N. P a r a d i g m a s i n o v a d o r e s em p l a n e j a m e n t o u r b a n o e gestão Semina:


Ci. E x a t a s / T e c n o l . Londrina, v. 2 1 , n. 4, p. 7 7 - 8 2 , dez. 2 0 0 0 .

R E S U M O : O presente artigo discute a necessária revisão do processo do planejamento e políticas públicas,


no alcance a um maior conhecimento e definição de estratégias de controle urbano, podendo tratar os
conflitos decorrentes da produção da cidade e antecipar as relações e reações do sistema urbano. Deste
modo, s e r á apresentada algumas iniciativas municipais, que abordam novas metodologias de investigação,
contemplando processos democráticos de planejamento e gestão urbana.

PALAVRAS-CHAVE: Planejamento urbano, gestão urbana, políticas públicas, revisão metodológica.

INTRODUÇÃO s i m u l a ç ã o de cenários e a s s i m , auxiliar na


construção de desempenhos desejáveis.
A a t u a ç ã o do planejamento u r b a n o nas cidades Neste sentido, p r e t e n d e - s e discutir novos
brasileiras, t e m se limitado a d e c i s õ e s isoladas, i n s t r u m e n t o s de r e n o v a ç ã o u r b a n í s t i c a , através da
f r a g m e n t a d a s , desatualizadas e por c o n s e q u ê n c i a , i n c o r p o r a ç ã o c a d a v e z m a i s c r e s c e n t e por parte
se u t i l i z a n d o de instrumentos i n c a p a z e s de tratar de iniciativas municipais, de n o v o s processos e
o p r o c e s s o de p r o d u ç ã o e uso do e s p a ç o c o m o i n s t r u m e n t o s i n f o r m a t i z a d o s e d e m o c r á t i c o s de
resultado de i n t e r f a c e s de um m e s m o c o n t e x t o p l a n e j a m e n t o e gestão u r b a n a .
sócio-espacial e ambiental.
Há u m a n e c e s s i d a d e de tratar os conflitos
sociais d e c o r r e n t e s da p r o d u ç ã o e u s o do e s p a ç o 1 POR UMA RENOVAÇÃO NO PROCESSO DE
da c i d a d e e de a n t e c i p a r as r e l a ç õ e s e reações do PLANEJAMENTO E GESTÃO URBANA
sistema u r b a n o f r e n t e a q u a l q u e r e s t í m u l o , para
melhor p r o v ê - l o de i n f r a - e s t r u t u r a s , s e r v i ç o s e O p l a n e j a m e n t o u r b a n o h o j e é u m a prética em
e q u i p a m e n t o s u r b a n o s . Estes conflitos resultam crise, não assegurando o controle das t r a n s f o r m a ç õ e s
de a t i v i d a d e c o t i d i a n a e n e c e s s i t a m , a s s i m , de u r b a n a s cada vez m a i s c o m p l e x a s , havendo
m e c a n i s m o s e instrumentos c o m p a t í v e i s c o m esta n e c e s s i d a d e de se rever não só s u a s ações, m a s
dinâmica, o q u e t o r n a evidente um p r o c e s s o de s e u s instrumentos e p r i n c i p a l m e n t e o m o d e l o de
realimentação periódica de informações urbanas c i d a d e q u e t e m o s hoje.
para p o s s i b i l i t a r d e c i s õ e s mais r á p i d a s , t r a t a n d o Rolnik (1997), adverte q u e o m o d e l o de c i d a d e
com s i m u l t a n e i d a d e o s p r o b l e m a s u r b a n o s . que trabalhamos metodologicamente é baseado
Esta necessária revisão, caminha para a utilização na c i d a d e ideal, que se c o n f r o n t a c o m a c i d a d e
de métodos de avaliação sob a f o r m a de indicadores r e a l , u m a vez que este m o d e l o não leva em
urbanos e não mais sob a forma de dados simplificados c o n s i d e r a ç ã o a cidade c o m o p a l c o de conflito p e l a
sobre a c i d a d e . T r a b a l h a r c o m i n d i c a d o r e s q u e apropriação do solo e pelas oportunidade e c o n ô m i c a s ,
c o n t e n h a m u m a resposta d e q u a l i d a d e u r b a n a , a l é m disso n ã o t e m o s u m i n s t r u m e n t o d e m e d i ç ã o
capazes d e a n t e c i p a r a s r e a ç õ e s cotidianas d o d e s t e conflitos. D e f e n d e u m m o d e l o urbanístico
sistema u r b a n o frente a q u a l q u e r estímulo, h e t e r o g ê n e o e pluridimensional, b a s e a d o na noção
possibilitando a s s i m a previsão de impactos, d e c i d a d e s m í l t i p l a s , q u e c o n t é m o lado f o r m a l

* Este artigo foi desenvolvido a partir da dissertação de mestrado em Engenharia Urbana - UFSCar, defendida pela autora em 2000,
intitulada — SIAD — Sistemas de indicadores de Avaliação de Desempenho Urbano e Ambiental.
1
Arquiteta, Mestre em Engenharia Urbana, Professora da UEL, Campus Universitário, Caixa postal 6001 - CEP 86051-990 —
Londrina - PR. Tel. (43) 322 5422. e-mail: <bfsilva@uel.br>.
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Arquiteto, Doutor em Arquitetura, Professor da UFSCar Via Washington Luís, km 235 - Caixa postal 676 - CEP 1 3565-905 - São
Carlos - SP. Tel. (16) 260 8292. e-mail: <falcoski@power.ufscar.br>.

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(legal) e informal (parcela da c i d a d e de formação C o m p l e m e n t a n d o a discussão anterior, a
ilegal). contribuição de Portas (1993) vem de e n c o n t r o
O modo como vimos regulando estas disparidades c o m a renovação do planejamento urbano,
(ideal x real), não passa em n e n h u m momento por t r a t a n d o dos novos paradigmas existentes hoje
um g u i a estratégico e de prioridades para a cidade, s o b r e o assunto:
u m a v e z que n ã o e s t a b e l e c e m e c a n i s m o s d e
gestão democrática, através do qual pode-se chegar
a u m a relação mais próxima c o m interesses reais.
As operações de planejamento devem possibilitar
d e c i s õ e s políticas t o m a d a s p e l a s ações de
d e s e n v o l v i m e n t o de cada c i d a d e . Planos mais
estratégicos e menos pré-deterrminados, formulando
p r o p o s t a s para setores c o n s i d e r a d o s prioritários
e q u e m u d a m de cidade p a r a c i d a d e . D e v e m
t a m b é m ser mais integradores, identificando áreas
de intervenção, estabelecendo urn zoneamento
políticos programado de ação e m a i s desenhados,
pois a forma urbana não pode ser reduzida a s o m a
de intervenções isoladas, m a s s i m resultados de Sefaz portanto oportuno, inserir novas abordagens
u m a estrutura de continuidade, a l é m de resultar na investigação do e s p a ç o urbano e sua g e s t ã o ,
em um processo democrático de gestão urbana. a v a n ç a n d o e m d i s c u s s õ e s que proponham u m a
Rolnik salienta também, q u e o planejamento renovação conceitual, metodológica e instrumental
urbano deve considerar dois enfoques indissociáveis: de alcance aos processos dinâmicos e de
o equilíbrio s ó c i o - a m b i e n t a l e a j u s t i ç a sócio- t r a n s f o r m a ç ã o da estrutura urbana da cidade.
ambiental, dentro de um modelo urbanístico inovador, O u t r a a b o r d a g e m q u e deve ser referenciada é
democrático, expressando um n o v a ordem ética e a c o n v e r g ê n c i a t r a n s d i c i p l i n a r de e s t u d o e
estético-simbólica, baseado na co-responsabilidade, p r o d u ç ã o de n o r m a s prescritivas, dentro de u m a
na retomada do espaço público e essencialmente r e v i s ã o e r e q u a l i f i c a ç ã o urbanística, e n q u a n t o
no renascimento da dimensão pública da cidade c a m p o disciplinar e cognitivo do conhecimento.
p a r a todos. C o n t r i b u i ç õ e s de o r d e m teórico-conceitual e
Atualmente, o que v e m o s são administrações m e t o d o l ó g i c a a p o n t a m para uma nova integração
m u n i c i p a i s que não estão c o r r e s p o n d e n d o as conceitual das ciências do território, e n v o l v e n d o
q u e s t õ e s colocadas c o m o f u n d a m e n t a i s p a r a n o v a s abordagens de urbanismo, geografia
qualificação dos espaços u r b a n o s e sua u r b a n a , ecologia, e n g e n h a r i a urbana, a m b i e n t a l ,
c o m p o s i ç ã o como espaço s o c i a l da cidade. O g e r e n c i a m e n t o u r b a n o e desenho urbano. E s t a
d e s c a s o e a ausência de p o l í t i c a s púbiicas no revisão disciplinar permite requalificar o c o n c e i t o
t r a t a m e n t o destes espaços, é um indicativo do "espaço físico" para "espaço e desenho ambiental".
d e s c o m p a s s o entre c r e s c i m e n t o real da forma Paralelamente a todas estas novas conceituações
urbarna e os instrumentos utilizados para intervenção e pesquisas surgem campos disciplinares e
d e s t a realidade. profissionais, integrados a novos instrumentos de
representação e análise espacial e territorial.

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ENGENHARIA URBANA, PLANEJAMENTO, URBANISMO E GESTÃO TERRITORIAL

1.1 I n s t r u m e n t o s I n o v a d o r e s d e P l a n e j a m e n t o indicadores urbanos, possibilitando maior


Urbano e Novas Territorialidades e n t e n d i m e n t o e m e d i ç ã o dos i m p a c t o s a d v i n d o s
do s i s t e m a u r b a n o e não mais se u t i l i z a n d o de
As transformações urbanas vividas no País, d a d o s s i m p l i f i c a d o s e acabados sobre d e t e r m i n a d a
desencadeiam p r e o c u p a ç õ e s de dois níveis: é área o u t e m a .
preciso m e d i r o s conflitos s o c i a i s d e c o r r e n t e s d a É i m p o r t a n t e ressaltar que o uso q u e se faz
produção do e s p a ç o e prever as reações do s i s t e m a destes i n d i c a d o r e s urbanos p r e s e n t e s nas
urbano frente a q u a i s q u e r e s t í m u l o s . C o m o e s t e s e x p e r i ê n c i a s m u n i c i p a i s nacionais a c o n t e c e n o
conflitos s ã o d e c o r r e n t e s d e a t i v i d a d e s c o n t í n u a s , s e n t i d o de p o d e r antecipar, r e c o n h e c e r , m e d i r e
o s instrumentos t a m b é m d e v e m ser d e s t a n a t u r e z a interpretar p r o b l e m a s urbanos, auxiliar n a a n á l i s e
assim c o m o o território u r b a n o , q u e p r e c i s a ser de d e s e m p e n h o s , tendências e i m p a c t o s de
tratado sob n o v a r e p r e s e n t a ç ã o e s p a c i a l p a r a s e d e t e r m i n a d a s políticas, sendo que estes
conhecer e atuar de acordo c o m suas particularidades. i n d i c a d o r e s d e v e m ser utilizados c o n s i d e r a n d o
Os instrumentos inovadores de planejamento alguns critérios como:
urbano tem a c o m p a n h a d o n o v a s t e n d ê n c i a s de — P o s s u i r r e l e v â n c i a para as p r o p o s t a s u r b a n a s ;
territorialização-representação espacial, p l a n e j a n d o , — Ser de fácil compreensão, capazes de suprir
gerenciando e m o n i t o r a n d o o d e s e n v o l v i m e n t o da um a m p l o entendimento da saúde ambiental,
estrutura u r b a n a a t r a v é s d a d i v i s ã o t e r r i t o r i a l / e c o n ô m i c a e social da c i d a d e ;
macrozoneamento do solo urbano, configurando- — M e d í v e i s , c a p a z e s de mostrar a m a g n i t u d e do
se como um p r o c e s s o de s u p o r t e a d e c i s ã o na problemas;
busca d e m a i o r d o m í n i o d e s t e s conflitos a c i m a . — C o n f i á v e i s , devendo possuir d e m o n s t r a ç ã o
Juntamente c o m estas n o v a s territorialidades, convincente, que objetivos estão sendo encontrados;
tern sido c a d a v e z mais p r e s e n t e nas e x p e r i ê n c i a s — F l e x í v e i s d e v e n d o se alterar a m e d i d a q u e
municipals u m a leitura da c i d a d e s o b a ó t i c a de houver necessidade;

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- S e m a m b i g u i d a d e , d e v e n d o possuir claras incorporando a cidade consolidada de o c u p a ç ã o
definições e objetivos; intensiva e a cidade de ocupação rarefeita.
- Independentes, possuir um indicador para cada Em s e u Modelo Espacial, o Município de Porto
objetivo; Alegre divide-se em Áreas de O c u p a ç ã o Intensiva
- Devem ser aplicados c o n s i d e r a n d o a análise e Á r e a s de O c u p a ç ã o R a r e f e i t a . E s t a s á r e a s
em tempos distintos: curto, m é d i o e longo. d i v i d e m - s e em Unidades de Estruturação U r b a n a ,
Portanto, devem possuir os indicadores uma M a c r o z o n a s e R e g i õ e s de P l a n e j a m e n t o -
caracterização multivariável, instrumentos essenciais unidades de divisão territorial para fins de
de planejamento urbano e g e s t ã o , considerados descentralização da gestão participativa do
mais do que um produto, um processo, explicitando o d e s e n v o l v i m e n t o urbano ambiental.
comportamento do sistema u r b a n o e direcionando Outro aspecto inovador do 2° PDDUA
medidas de planejamento, diagnósticos, avaliações pertencente ao Sistema de Planejamento, que tem
de d e s e m p e n h o configuracional e processos de c o m o objetivo articular as políticas públicas c o m
gestão urbana. as d e m a n d a s da sociedade, é a criação do Sistema
Alguns exemplos referenciais tanto de de Avaliação de Desempenho Urbano-SADU,
propostas territoriais de gestão, quanto utilização p r o p o s t o c o m o um instrumento de suporte a
de indicadores urbanos c o m o ferramenta no decisão das avaliações de implantação de
processo de planejamento, encontram-se no Plano atividades especiais, empreendimentos de impacto,
Diretor de Desenvolvimento U r b a n o e Ambiental m o n i t o r a m e n t o de d e s e n v o l v i m e n t o u r b a n o e
de Porto Alegre-RS - 2° P D D U A , no Programa de e l a b o r a ç ã o de estudos com vistas à predição de
Indicadores Urbanos e Habitacionais-Monitoramento situações
d e A s s e n t a m e n t o s H u m a n o s d a Prefeitura d e Diante da criação de um Modelo Espacial e do
Recife , no Índice de Q u a l i d a d e de Vida Urbana S i s t e m a d e Planejamento, a b r e m - s e c a m i n h o s
de B e l o H o r i z o n t e - I Q V U e n o s P r o j e t o s de para a reestruturação das práticas de planejamento
Estruturação Urbana do Rio de Janeiro - PEUS. c o m n o v o s instrumentos de gestão, garantindo um
g e r e n c i a m e n t o mais eficaz d i r e c i o n a d o a o
1.1.1 A Experiência de P o r t o A l e g r e - 2° P D D U A desenvolvimento sustentável e, c o n s e q u e n t e m e n t e
m e l h o r i a da qualidade de vida.
A Administração M u n i c i p a l de Porto Alegre,
através da Secretaria de P l a n e j a m e n t o Municipal, 1.1.2 A E x p e r i ê n c i a de R e c i f e — P r o g r a m a de
a p r o v o u o 2° P D D U A - P l a n o Diretor de Indicadores Urbanos e Habitacionais
Desenvolvimento Urbano Ambiental, ficando
apenas para ser aprovado a l g u n s elementos de Vinculado a Secretaria de Planejamento do Estado
ordem operacional, a i n d a e m d i s c u s s ã o . e q u e integra o Sistema Gestor M e t r o p o l i t a n o ,
O 2° PDDUA, trata a cidade de Porto Alegre atendendo ao desdobramento regional da Estratégia
de f o r m a global, incorporando as áreas informais de Desenvolvimento Sustentável para o Estado de
a chamada cidade formal. R e c o n h e c e as diferentes Pernambuco até ano 2010, encontra-se o P r o g r a m a
cidades que existem dentro da cidade, tracando de Indicadores Urbanos e Habitacionais de Recife.
diretrizes para o d e s e n v o l v i m e n t o equilibrado de Seu princípio metodológico se baseia no planejamento
c a d a u m a delas, dentro de um conceito de cidade p a r t i c i p a t i v o e c o n s t i t u i e x p e r i ê n c i a í m p a r no
"sustentável", destacando o q u e de melhor existe processo de planejamento metropolitano, envolvendo
em cada uma de suas regiões, buscando em sua elaboração técnicos, universidade, especialistas
potencializá-las. e organizações governamentais.
De maneira geral o 2° P D D U A compõe-se de O Plano trabalha com a perspectiva da metrópole
sete estratégias b á s i c a s : estratégia de d e s e j a d a , objetivos, diretrizes, estratégias de ação
Estruturação Urbana; e s t r a t é g i a de Mobilidade e m o d e l o de gestão, ou seja, introdução de n o v o s
Urbana; estratégia de Uso do Solo Privado; p r o c e s s o s de gestão que estejam s e n d o tratados
estratégia de Qualificação A m b i e n t a l ; estratégia de c o m b a s e no planejamento estratégico, flexível de
Produção Econômica; estratégia da Produção da a c o r d o c o m u m a leitura da cidade ou região que
Cidade; sistema de G e s t ã o e de Planejamento. se quer ter.
D i a n t e d e s t a s d i r e t r i z e s , foi e l a b o r a d o u m O P r o g r a m a constitui-se em um d o c u m e n t o de
Modelo Espacial, que por s u a s características de n a t u r e z a estatística elaborado pelo D e p a r t a m e n t o
o c u p a ç ã o do solo, d i n â m i c a e fluxos u r b a n o s , de I n f o r m a ç õ e s e P r o j e ç õ e s da S e c r e t a r i a de
merecem tratamento especial q u a n t o aos m o d o s P l a n e j a m e n t o Urbano e Ambiental ( S E P L A M ) da
de desenvolvimento e controle de crescimento, Prefeitura da Cidade de Recife, para atender

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s o l i c i t a ç ã o d a S e c r e t a r i a d e Política U r b a n a d o e a a c e s s i b i l i d a d e da p o p u l a ç ã o local. Consiste
Ministério do Planejamento e Orçamento c o m o na elaboração de i n d i c a d o r e s de qualidade e
contribuição para a Conferência das N a ç õ e s quantidade d a o f e r t a d e d e t e r m i n a d o s serviços,
U n i d a s s o b r e A s s e n t a m e n t o H u m a n o s ( H a b i t a t II), através de i n f o r m a ç õ e s georeferenciadas em
o c o r r i d a e m 1 9 9 6 , e m Istambul. unidades espaciais da cidade estruturadas em
O P r o g r a m a foi e l a b o r a d o em d e z m ó d u l o s - índices locais e s e t o r i a i s i n t e g r a d o s e que
relativos aos aspectos: Urbanos, T r a n s p o r t e s , configuram o I Q V U d e c a d a unidade e s p a c i a l .
C o n t r o l e A m b i e n t a l , G o v e r n o Local e H a b i t a ç ã o O IQVU r e p r e s e n t a u m a i n o v a ç ã o q u a n t o aos
da cidade de Recife. índices t r a d i c i o n a i s , p o i s a l é m de medir a oferta
D e n t r o d e s t a p e r s p e c t i v a , a cidade foi d i v i d i d a localizada, mede o quanto esta oferta é c o m p a r t i l h a d a
e m r e g i õ e s político-administrativas, m i c r o r r e g i õ e s na cidade. Este índice, c o m o característica peculiar
e bairros. de informação georreferenciada, possibilita monitorar
O s i s t e m a de o b t e n ç ã o das i n f o r m a ç õ e s p o d e e avaliar p e r m a n e n t e m e n t e o processo de e x p a n s ã o
ser feito via Internet, através de consulta de a m b i e n t e urbana, não s ó i n d i c a n d o d e m a n d a d o s serviços
interativo-imagens gráficas e banco de d a d o s , o n d e e os resultados da a ç ã o p ú b l i c a , c o m o a avaliação
o u s u á r i o i n d i c a a região de interesse r e l a c i o n a d a e s i m u l a ç ã o d a s i n t e r v e n ç õ e s sobre o s i s t e m a
e m u m m a p a d a cidade que surge n a tela o u p r o c u r a viário e t r a n s p o r t e c o l e t i v o .
p e l a letra inicial d o bairro, que consta a b a i x o d o Este índice foi e l a b o r a d o a partir da e s t r u t u r a ç ã o
m a p a . De a c o r d o c o m o módulo s e l e c i o n a d o , de 81 u n i d a d e s e s p a c i a i s de p l a n e j a m e n t o — UP,
e x i s t e u m a lista de informações bairro a b a i r r o . que foram d e f i n i d a s c o n s i d e r a n d o alguns critérios
para a definição do c o n t o r n o das Regiões
1.1.3 A E x p e r i ê n c i a de R i o de J a n e i r o — P r o j e t o s Administrativas de Belo Horizonte, grandes
de Estruturação Urbana barreiras físicas naturais ou construídas,
continuidade de o c u p a ç ã o e padrão de o c u p a ç ã o .
O u t r a e x p e r i ê n c i a interessante, i n s t i t u í d a e m Assim foram definidas as unidades espaciais
1 9 9 2 , é o P l a n o Diretor Decenal da C i d a d e do R i o (recortes d o e s p a ç o u r b a n o ) e m u n i d a d e s c o m
d e J a n e i r o , q u e e m b o r a c o m críticas e p o l ê m i c a s relativa h o m o g e n e i d a d e para efeito de
em r e l a ç ã o à s u a t r a m i t a ç ã o e a p r o v a ç ã o , e s t á c o m p a r a ç õ e s . A s f a v e l a s ( e x c e t o a s m e n o r e s que
f u n d a m e n t a d o e m u m modelo espacial a t r a v é s d o s foram i n c o r p o r a d a s às UP próximas) e os
P r o j e t o s de E s t r u t u r a ç ã o U r b a n a - P E U S . O p l a n o conjuntos habitacionais foram considerados
p r e v ê u m a r e v i s ã o d o s modelos u r b a n o s v i g e n t e s independentes d e s t a s unidades.
c o m p r o p o s t a s d e t r a t a m e n t o das e s p e c i f i c i d a d e s O I Q V U a p r e s e n t a - s e c o m o i n s t r u m e n t o de
e p o t e n c i a l i d a d e s de c a d a área. Se c o n s t i t u e m em medição d e c o n d i ç õ e s d e v i d a nos locais intra-
alternativas para adequar o conjunto de leis urbanos de B e l o H o r i z o n t e no m o m e n t o de sua
u r b a n í s t i c a s e edilícias à dinâmica d a s á r e a s e aplicação e a s s i m , p r i o r i z a r os recursos de f o r m a
s u a s t r a n s f o r m a ç õ e s a o longo dos a n o s , a l é m d e objetiva, e m o n i t o r a r o p l a n o diretor identificando
i n c o r p o r a r a participação dos m o r a d o r e s nas possíveis erros nos parâmetros e ações
d i s c u s s õ e s , p r o m o v e n d o gestão d e m o c r á t i c a , urbanísticas i m p l e m e n t a d a s . Constitui-se a s s i m ,
p a r t i c i p a t i v a , q u e t r a b a l h a c a d a setor d a c i d a d e além d e u m s i s t e m a c a d a s t r a l d e i n f o r m a ç ã o , c o m
c o m d e t a l h a d a a t e n ç ã o para suas t r a n s f o r m a ç õ e s . u m a e s t r u t u r a o r g a n i z a c i o n a l e o p e r a c i o n a l de
variáveis e atributos q u e g e r a m índices q u e podem
1.1.4 A E x p e r i ê n c i a de B e l o H o r i z o n t e — í n d i c e estar c o n s t a n t e m e n t e s e n d o v i s u a l i z a d o s por
de Qualidade de Vida Urbana qualquer tipo de u s u á r i o , um instrumento de
suporte à d e c i s ã o l e v a n d o u m a gestão a adquirir
A S e c r e t a r i a Municipal de P l a n e j a m e n t o de caráter interativo.
Belo H o r i z o n t e — M G , a s s e s s o r a d a pela P o n t í f i c e
U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a d e Minas G e r a i s — P U C ,
propôs um modelo de gestão urbanístico, para 2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
avaliar a qualidade ambiental de f r a g m e n t o s
u r b a n o s e m o n i t o r a r os i m p a c t o s d a s a ç õ e s e Acredita-se q u e c o m e s t e s e x e m p l o s , s e tenha
intervenções públicas, denominado índice de ilustrado as r e c e n t e s t e n d ê n c i a s de se planejar e
Q u a l i d a d e d e V i d a U r b a n a - I Q V U , previsto n o P l a n o gerir a c i d a d e , i n d i c a n d o u m a r e n o v a ç ã o na
Diretor do M u n i c í p i o de Belo Horizonte. t o m a d a de d e c i s õ e s d a s políticas p ú b l i c a s , por
A p r o p o s t a é avaliar a qualidade de v i d a de um meio de m e t o d o l o g i a s e i n s t r u m e n t o s que
lugar, c o n s i d e r a n d o a distribuição d i f e r e n c i a l de permitem g e r e n c i a r e m o n i t o r a r c o n t i n u a m e n t e as
s e r v i ç o s e r e c u r s o s h u m a n o s públicos e p r i v a d o s , diversas a ç õ e s d o s a g e n t e s sociais.

Semina: Ci. Exatas/Tecnol., Londrina, v. 21, n. 4, p. 77-82, dez. 2000 81


Deverá ser visto na perspectiva de u m a reforma resgatando a credibilidade do processo técnico-
urbana ( q u e c o n t e m p l e a p a r t i c i p a ç ã o , a a ç ã o político da g e s t ã o do p l a n e j a m e n t o e de seu
c o m u n i c a t i v a e a consulta interativa dos d i v e r s o s instrumental normativo, em substituição ao
agentes sociais) e administrativa m u n i c i p a l , p l a n e j a m e n t o técnico-tradicional.

82 Semina: Ci. Exatas/Tecnol., Londrina, v. 2 1 , n. 4, p. 77-82, dez. 2000

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