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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DO DF

Autos nº 00189358120178070015
(Processo antigo nº 20170110594503)

DECISÃO
Autos n. 20170110594503 - . IPs n. 2471/2007 - Departamento de Polícia
Federal/Superintendência Regional de São Paulo
Registro Criminal: 2017061379
Executado : PAULO SALIM MALUF, filho de Maria Stefano Maluf

Cuida-se de pedido de concessão de prisão domiciliar humanitária excepcional,


formulado pela Defesa de PAULO SALIM MALUF, filho de Maria Stefano Maluf,
alegando, em síntese, que o sentenciado é idoso, contando com 86 (oitenta e seis) anos
de idade, bem como que se vê acometido de doenças graves, como câncer de próstata,
hérnia de disco, além de padecer de problemas cardíacos, que, aliados à idade
avançada, tornam inviável seu recolhimento ao cárcere sem prejuízo às suas
integridades física e moral (fls. 408/430).

O pedido veio acompanhado de documentos (fls. 431/486).

Após determinar a alocação do sentenciado na ala B do Bloco V do Centro de


Detenção Provisória - CDP, destinada aos presos vulneráveis, bem como sua submissão
a perícia médica no IML, logo que transferido para este Distrito Federal, solicitei
informações preliminares à autoridade custodiante quanto à possibilidade de prestar a
assistência de saúde demandada pelo reeducando, considerando toda a documentação
trazida aos autos pela Defesa (fl. 488).

Ouvido, o Ministério Público manifestou-se pela incompetência deste Juízo


para apreciação dos pedidos formulados pela Defesa (fls. 497/498).

Imediatamente após a transferência do sentenciado para esta Capital, facultei à


Defesa a indicação de assistentes técnicos para acompanhar a perícia que seria
realizada no IML, além de determinar a imediata vinda das já aludidas informações
preliminares do CDP. Outrossim, estabeleci prazo para a resposta aos eventuais quesitos
apresentados (fls. 513/513v), quesitos estes que foram trazidos às fls. 533/534,
juntamente com a indicação de assistentes.

Sobrevieram, então, as informações de fls. 523/524, à vista das quais, depois


de assentar a competência desta VEP para a apreciação do incidente, indeferi o pedido
cautelar de prisão domiciliar, além de não conhecer do pedido de sobrestamento da
execução inicialmente formulado, sem prejuízo de posterior reavaliação da medida após
a necessária instrução do feito, com informações vindas dos profissionais vinculados ao
sistema prisional e dos peritos do IML, seguidas das necessárias manifestações do

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Ministério Público e da Defesa (fls. 537/541).

A Defesa apresentou parecer médico às fls. 551/577.

Vieram aos autos, então, o Laudo nº 52111/17, emanado do IML, de que


constou que, embora acometido o sentenciado de doenças graves e incuráveis, os
cuidados exigidos poderiam ser prestados no estabelecimento prisional, desde que
disponibilizado acompanhamento ambulatorial especializado (fls. 597/599).

Às fls. 602/602v, indeferi o pedido de acesso dos assistentes técnicos ao


sentenciado e às instalações do sistema prisional, ao fundamento de que, se o caso,
deveriam ter acompanhamento a perícia realizada no IML, além de poderem obter todas
as informações a respeito do cárcere que entendessem pertinentes por meio de posterior
quesitação.

Vieram aos autos, em seguida, as primeiras considerações da equipe médica


do CDP acerca do estado de saúde do sentenciado, além de novos dados sobre a
estrutura do estabelecimento prisional (fl. 609 e 611).

Seguiu-se, então, parecer ministerial pelo indeferimento do pedido de prisão


domiciliar humanitária (fl. 614).

A Defesa apresentou quesitos complementares (fls. 618/625), encaminhados


ao IML e ao CDP para resposta em 10 (dez) dias (fls. 627/627v).

Em virtude do óbito de dois internos do estabelecimento penal em que


recolhido o sentenciado, a Defesa pediu que os novos quesitos fossem respondidos "em
tempo hábil" (fl. 653), restando mantido, pelo Juízo, o prazo anteriormente concedido
para as respostas (fl. 677).

Vieram aos autos, então, as respostas aos quesitos formulados (fls. 680/685v,
687/688 e 713/714v).

Manifestaram-se as partes sobre o conteúdo acrescido, pugnando o Parquet


pelo indeferimento da benesse, (fls. 725), ao passo em que a Defesa reiterou o pedido de
concessão do benefício (fl. 728/834), vindo os autos conclusos para decisão.

É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO .

O pedido de prisão domiciliar humanitária não merece acolhimento.

Com efeito, como já assinalei na decisão que proferi relativamente ao pedido


cautelar, uma das previsões legais do benefício é aquela inserta no art. 318 do CPP.

Na ocasião, assim me decidi:

"Contudo, é de se esclarecer, de saída, que o mencionado comando legal


prevê a possibilidade de substituição da prisão preventiva pela domiciliar
quando o agente for maior de 80 (oitenta) anos, ou ainda, quando estiver
extremamente debilitado por motivo de doença grave.

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Todavia, trata-se de previsão legal aplicável à prisão cautelar, quando


ainda inexiste certeza acerca da prática delitiva pela pessoa do acusado.
Demais disso, orienta-se a aludida substituição pela ótica da suficiência
para o alcance de um dos objetivos que podem justificar a segregação
cautelar ou medida distinta (art. 312 do CPP)".

Vê-se da mencionada previsão legal, assim, que o Juiz poderá substituir a


custódia cautelar quando presente uma das hipóteses lá mencionadas, e tal substituição
não trouxer prejuízo às finalidades que se busca alcançar por meio da constrição cautelar
da liberdade do investigado ou réu.

Portanto, restringe-se a hipótese de substituição, repita-se, às situações de


encarceramento cautelar, e não definitivo.

Na decisão anterior, igualmente fiz constar:

"Por outro lado, também a Lei de Execuções Penais, em seu art. 117, traz
a possibilidade de aplicação da prisão domiciliar, restringindo-a, contudo,
para aquele reeducando que já se encontra em regime aberto".

Todavia, como também já havia assinalado quando da primeira provocação da


Defesa, a despeito da impossibilidade de enquadramento da situação alegada em uma
ou em outra previsão legal, os Tribunais - e também este Juízo - têm ampliado a
concessão do benefício da prisão domiciliar a presos definitivos sujeitos aos regimes
fechado ou semiaberto.

Entretanto, tal alargamento demanda, necessariamente, que o quadro de


saúde do reeducando reclame cuidados que não possam ser prestados no interior de
estabelecimento prisional. A propósito, colaciono, mais uma vez, a ementa que orienta
este Juízo na apreciação de pedidos congêneres. Confira-se:

"EXECUÇÃO PENAL. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 214 DO CP.


SENTENCIADO CUMPRINDO PENA NO REGIME SEMI-ABERTO.
PRISÃO DOMICILIAR.

I- A prisão domiciliar, em princípio, só é admitida quando se tratar de réu


inserido no regime prisional aberto, ex vi do art. 117 da Lei de Execução
Penal (Precedentes do Pretório Excelso).

II- Excepcionalmente, porém, esta Corte tem entendido que mesmo no


caso de regime prisional diverso do aberto é possível a concessão de
prisão domiciliar, em face de comprovada doença grave, se o
tratamento médico necessário não puder ser ministrado no presídio em
que se encontra o apenado (Precedentes do STJ).

III- O fato de o recorrido ser pessoa idosa, que precisaria assistir


pessoalmente a esposa gravemente doente, não se enquadra
entre as excepcionais hipóteses de concessão da prisão domiciliar a
condenado ao cumprimento de pena em regime semi-aberto.

Recurso provido"

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(REsp 661.323/RS, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, Rel.


p/ Acórdão Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
17/03/2005, DJ 01/07/2005, p. 608 - grifei).

Logo se vê, pois, que o fator idade, por si só, não autoriza maior elasticidade
das previsões legais já mencionadas, tanto assim que o sistema carcerário do Distrito
Federal conta, hoje, com cerca de 144 (cento e quarenta e quatro) internos idosos .

E não poderia ser diferente, aliás, sob pena de se admitir a existência de


verdadeiro salvo-conduto para que pessoas idosas acima de 70 anos (idade estabelecida
para a possibilidade da prisão domiciliar prevista na LEP (art. 117, inciso I) persistam ou
se iniciem na atividade criminosa, firmes na crença de que, se condenadas, não serão
penalizadas com nenhuma outra medida que o recolhimento em seu próprio lar.

Assim, para que se cogite da prisão domiciliar fora das hipóteses legalmente
previstas é preciso, repito, que se veja o sentenciado acometido de doença grave e(não
"ou") que tal condição demande tratamento médico que não possa ser prestado
intramuros, ainda que com recurso eventual às redes pública ou privada de saúde.

Como já assinalei, a Defesa ampara seu pedido, dentre outros pontos, na


grande debilidade física decorrente de limitação dos movimentos imposta ao sentenciado
em virtude da idade avançada e da hérnia de disco de que acometido, bem assim das
doenças cardiovasculares de que é portador. Alia tais fatos à suposta falta de estrutura
do núcleo de saúde do CDP para fazer frente a eventual situação de emergência em que
se veja o sentenciado.

No caso em apreço, é incontroverso que o sentenciado padece de doenças


graves e permanentes, todas elas descritas pormenorizadamente na resposta ao
segundo quesito formulado inicialmente pela Defesa (fls. 597/598).

Contudo, no que se refere às restrições de movimento do reeducando e aos


cuidados necessários em virtude de problemas que tem na coluna lombar , tenho, com
supedâneo na substanciosa prova técnica, que não se vê ele no estado de tamanha
debilidade que busca ostensivamente demonstrar.

Com efeito, é fato público e notório que, no último mês de outubro, o


custodiado foi entrevistado pelo jornalista Roberto Cabrini, do SBT, para o programa
Conexão Repórter, que foi ao ar em 15.10.2017.

Àquela ocasião, o reeducando se movimentou com aparente destreza, apesar


da idade avançada, jamais se apoiando, durante a entrevista, na bengala de que passou
a se servir desde que emanada a ordem de prisão do c. STF.

Isso não bastasse, aos 43 minutos e 50 segundos do vídeo da reportagem,


c u j a í n t e g r a e s t á d i s p o n í v e l e m
http://www.sbt.com.br/jornalismo/conexaoreporter/noticias/98348/Nao-houve-nenhum-
prefeito-com-tanta-aprovacao-quanto-eu-diz-Paulo-Maluf.html (link consultado no dia de
hoje), quando perguntado acerca do segredo de sua juventude, afirmou: "eu ando, no
mínimo, todo dia, três quilômetros".

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Além disso, também em sua página de Facebook, foram postados pelo


reeducando alguns vídeos, igualmente registrados em outubro último, que revelam vigor
em uma das inúmeras sessões deliberativas da Câmara dos Deputados de que participou
ao longo de todo o ano de 2017.

Reforçam tais conclusões as respostas aos quesitos defensivos


complementares "1.c", "1.d" e "1.f" (fls. 683/683v), que seguem, com destaques:

"c) O periciado necessita de órtese para deambular? Em caso


afirmativo, esse recurso está disponível no local?

RESPOSTA: Não necessariamente. Todavia, para minimizar os riscos


de queda e melhorar o conforto para deambular, é de bom alvitre que o
mesmo continue fazendo uso do dispositivo de auxílio à marcha
apresentado no exame pericial (muleta canadense)".

"d) O periciado necessita ou pode vir a necessitar de cadeira de


rodas para se locomover? Em caso afirmativo, esse recurso está
disponível no local?

RESPOSTA: No momento não necessita de cadeira de rodas para se


locomover. A evolução de sua patologia pode ter diversos desfechos,
entre eles a possibilidade de necessitar de tal equipamento para
locomoção. Entretanto,é pouco provável que no curto ou médio
prazo evolua com tal necessidade ".

"f) O periciado necessita ou pode vir a necessitar de auxílio de terceiros


para levantar ou mudar de posição? Em caso afirmativo, há no local
cuidador capaz de prestar tal auxílio?

RESPOSTA: Não necessita. Embora seja possível que possa vir a


necessitar de tal auxílio, seu exame pericial configura ser pouco
provável que isso ocorra no curto ou médio prazo".

De toda sorte, ainda que se reputem genuínas as limitações de movimento


demonstradas nos últimos dias pelo reeducando e que se tenham por imprescindíveis
assistência direta para locomoção , colhe-se do laudo do IML:

"a) Em função desses agravos, o periciado tem risco aumentado


de quedas, quando comparado com indivíduos hígidos de mesma
idade?

RESPOSTA: Não. Todavia o risco de queda nesta faixa etária é mais


elevado que entre os adultos não-idosos. Fundamentam nossa resposta
os achados periciais de que, apesar da doença degenerativa da coluna

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lombar, o periciado apresentou, no exame de 22 de dezembro de 2017:


bom tônus muscular, boa motricidade, ausência de sinais de
instabilidade ou desequilíbrio na marcha, ausência de déficit visual
relevante (e que não seja corrigido por lentes) e, apesar da claudicação
e discreta redução da força cm membro inferior direito, o periciado
conseguiu manter equilíbrio e deambulou sem dificuldades, com o uso
de órtese do tipo muleta canadense. A avaliação de um idoso
fundamenta-se não na comparação de um indivíduo doente com
outro com saúde perfeita, como quer postular o enunciado do
quesito, mas, antes, na avaliação do grau de necessidade de
assistência para desempenhar as tarefas do cotidiano. Nesse
diapasão o periciado é independente para as atividades e vida
diária, inclusive a deambulação, e tem risco de queda ordinário,
semelhante ao de inúmeros outros idosos".

Isso considerando, a despeito de tais conclusões, o certo é que o sistema


carcerário como um todo, e o bloco em que acomodado o sentenciado, em particular,
estão preparados para fazer frente a eventuais limitações de movimento que ele venha a
apresentar.

Com efeito, nas respostas encaminhadas a este Juízo pelo CDP, em especial
daquela constante na fl. 611, esclareceu-se, dentre outros pontos, que a cela em que o
custodiado está alocado dispõe de condições de acessibilidade, salientando-se a
possibilidade de instalação de suportes e barras de proteção.

Não é demais ressaltar que, durante inspeção mensal ordinária em todo o


sistema penitenciário local por mim realizada ontem, dia 16.01.2018, no CDP, em
companhia da Juíza Titular desta VEP, Leila Cury, constatei, ao inspecionar a ala em que
recolhido o reeducando, que tais barras de proteção foram efetivamente instaladas no
banheiro de sua cela, como se observa das fotografias que seguem. Observei, ainda, que
a direção do estabelecimento prisional teve, desde logo, o cuidado de alargar
sobremaneira a entrada do banheiro, além de suprimir, por completo, degrau que
separava a área do chuveiro e o restante do recinto, tudo de modo a minimizar o risco de
quedas.

Constatei, ainda in loco , que, na cama treliche ocupado pelo sentenciado,


existe uma escada que dá acesso às camas superiores, item que acaba por servir de
obstáculo contra eventuais quedas durante o sono, o que importa anotar diante da
preocupação revelada no quesito 1, i (fl. 623).

No mais, também com vistas a proteger o reeducando contra o risco de quedas


decorrente de sua idade avançada, poderá ele se servir de calçados antiderrapantes,
como sugerido pelos peritos do IML (quesito 1, l , fl. 683v).

É de se ressaltar, ademais, que há custodiados classificados para prestar


auxílio a outros com necessidades especiais, como no caso do apenado (fl. 611). Nesse
tocante, registro que, durante a inspeção mensal ordinária realizada na data de ontem,
também tive contato com o interno que foi classificado para auxiliar o apenado em tela -

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interno este que, diga-se de passagem, é médico -, constatando que aquele lhe auxilia
na execução de qualquer atividade que seja mais complexa.

Saliento que, diversamente do sustentado pela Defesa, não se cuida de fiar-se,


este Juízo, na boa vontade ou na caridade do interno designado para esta tarefa, uma
vez que se trata de trabalho formalmente reconhecido pela direção do presídio,
rendendo-lhe dias de trabalho ensejadores de remição da pena. Trata-se, portanto, de
obrigação imposta ao preso que aceita tal labor (art. 39, inciso V, da LEP), e não de mera
faculdade.

Demais disso, observo que já consta no prontuário do sentenciado, disponível


no SIAPEN, atendimento por fisioterapeuta, valendo destacar, mais uma vez, que
eventuais outros procedimentos que se mostrarem necessários, como infiltrações,
poderão ser realizados com recurso às redes pública ou privada de saúde, desde que
mediante prévio ajuste, por intermédio e mediante concordância da Gerência de
Assistência ao Interno - GEAIT.

Por todos esses motivos, concluíram os peritos do IML que "o risco de quedas
não é fator limitante ou incontornável que impeça a permanência em estabelecimento
prisional, se consideradas a realidade clínica do periciado e as medidas ordinárias para
sua prevenção" (fl. 685).

É de se destacar, por fim, que, apenas no Centro de Internamento e


Reeducação - CIR, que é um dos sete estabelecimentos (além de uma carceragem) que
compõe o sistema carcerário do Distrito Federal, há 27 (vinte e sete) portadores de
necessidades especiais decorrentes de deficiência física , sem que se tenha a notícia
de qualquer intercorrência que diga respeito à saúde de qualquer um deles.

Por outro lado, no que se refere às doenças cardíacas de que acometido o


sentenciado , melhor sorte não se reserva à Defesa.

Nesse ponto, destacou a equipe médica do CDP que "o interno teve um evento
cardiovascular há aproximadamente 20 anos, o que determinou a obstrução arterial
mostrada nos exames feitos em fevereiro de 2017 (...), compensada por circulação
colateral bem desenvolvida", o que leva à conclusão de que "o interno tem baixo risco de
sofrer um evento coronariano grave" (fl. 714 - grifei).

Contrariamente ao sustentado pela defesa, que aponta divergência entre as


conclusões da equipe médica do CDP e dos peritos do IML, concluíram estes últimos,
verbis :

"Da mesma forma, o periciado não preenche critérios para ser


considerado portador de cardiopatia grave, conforme define a II
Diretriz Brasileira de Cardiopatia Grave. Merece destacar que
nenhum sinal ou sintoma relacionado ao aparelho cardiovascular restou
alterado. De acordo diretrizes sobre o tratamento da doença coronariana
crônica e estável, o tratamento clínico com medicamentos e
mudanças no estilo de vida são as recomendações adequadas para
o caso em tela" (fl. 685 - destaquei).

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Salientaram, também, que, de fato, o sentenciado apresenta alto risco para


ocorrência de um evento cardiovascular. Contudo, em consonância com as conclusões
da Dra. Maria Etelvina Pereira Martins, médica do CDP, fizeram a ressalva de que isso "
não tem o mesmo significado de um evento coronariano grave. Por se tratar de um
periciado com uma doença coronariana estável, assintomática e compensada, a
estimativa de risco para a ocorrência de um evento coronariano grave deve ser
subsidiada por algum exame complementar de prova isquêmica do miocárdio como por
exemplo uma cintilografia miocárdica ou um ecocardiograma de estresse farmacológico.
Os escores de cálcio elevados em coronárias tem sua utilidade aplicada a pacientes de
risco baixo e intermediário para um evento cardiovascular. Serão usados para
reclassificar os riscos em tais pacientes. Não existem estudos científicos que definam
categoricamente sua utilidade prática em determinar o risco de um evento coronariano
grave em pacientes com mais de 80 anos e que já tenham um alto risco cardiovascular
definido, como é o caso do periciado" (quesito 2, a , - fls. 683v-684 - grifei).

Destacaram, ainda em sintonia com as considerações da Dra. Maria Etelvina,


que "pelo cateterismo cardíaco (cineangioeoronariografia) realizado pelo periciado,
datado de 15/02/17, as artérias coronárias descendente anterior e tronco de coronária
esquerda encontram-se sem lesões significativas. Até mesmo a coronária direita, que
encontra-se obstruída, possui boa circulação colateral. Caso o periciado apresente um
evento coronariano agudo, é altamente provável que o mesmo ocorra em áreas onde
existem lesões do tipo ateromatosas estenosantes de grau mais severo. As lesões atuais,
excluindo-se a coronária direita - que está compensada por circulação colateral -, não são
significativas (40%) (fl. 684)".

Nem se diga, por outro lado, de falta de estrutura mínima do estabelecimento


prisional para fazer frente às necessidades do preso também quando consideradas as
doenças cardiovasculares de que acometido.

Há que se ter em mente, de saída, que estamos a tratar de um presídio, e não


de um hospital ou de uma unidade de pronto atendimento. Partindo dessa premissa que,
embora óbvia, parece subvertida, temos que, segundo informações prestadas pelos
médicos do CDP, a equipe de saúde daquele ambiente prisional obedece "à Portaria
Interministerial nº 1777, de 09/09/2003 - Ministério da Justiça e Ministério da Saúde,
regulamentada pela Portaria Interministerial nº 1, de 02/01/2014, Portaria Ministério da
Saúde nº 482, de 01/04/2014, e Portaria Ministerial da Saúde nº 77, de 14/02/2017".

Tanto é assim que tal estrutura foi considerada suficiente para atender às
demandas de saúde de outros reeducandos também portadores de problemas cardíacos,
enquanto custodiados no estabelecimento prisional em comento.

Por outro lado, é certo que o sistema carcerário local não conta com médico em
regime de plantão nas vinte e quatro horas do dia. E não poderia ser diferente. Afinal,
repito, estamos falando de um presídio, e não de um hospital ou de uma UTI.

Fica a pergunta, então: tal fato é suficiente para a concessão, ao sentenciado,


da prisão domiciliar perseguida?

Para a indagação, a resposta negativa se impõe. Isso porque, como ressoa


evidente, a alternativa à prisão buscada pela defesa nada mais é que o recolhimento

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domiciliar do reeducando, o que se daria durante as vinte e quatro horas do dia, sete dias
por semana.

Porém, não há nos autos qualquer informação de que, no tempo que precedeu
a prisão, o sentenciado contasse, em sua residência, com médico plantonista, ou mesmo
enfermeiro ou cuidador. Não se aventou, por exemplo, em momento algum, que teria, em
seu lar, desfibrilador automático externo (AED) ou outro equipamento que servisse à
mesma finalidade, ou, ainda, que em seu lar permanecesse pessoa habilitada a utilizá-lo,
se tal uso se mostrasse necessário em uma situação de urgência .

Ao contrário, como se vê do vídeo disponível por meio do link que já colacionei,


o custodiado, repito, movimentava-se com aparente destreza, dizendo de sua boa
condição física, que o permitia caminhar três quilômetros diariamente, tudo a indicar que
era prescindível todo esse aparato médico, tanto que nada foi alegado pelos seus
patronos a respeito da existência de tal estrutura em domicílio.

Merece destaque, ainda, que eventual situação emergencial verificada no


período noturno poderá ensejar o acionamento dos serviços médicos de urgência.
Outrossim, se observada a emergência durante o horário normal de expediente, contaria
o reeducando, de imediato, com todo o apoio dos profissionais que atuam no CDP (fl.
523/524), o que não ocorreria caso submetido à prisão domiciliar.

Aliás, quanto a este ponto, não pude deixar de notar que, no prontuário de
saúde do sentenciado, disponível no SIAPEN, consta a informação de que, a seu pedido,
havia sido agendado atendimento médico para o dia 29.12.2017, mas que, num segundo
momento, recusou-se ele a comparecer à consulta.

À vista de tal informação, indaguei à direção do estabelecimento prisional,


durante a inspeção ordinária, o motivo da recusa. Foi-me informado, então, que o
sentenciado recusara a consulta odontológica (desprovida de urgência) porque ela só
poderia ser realizada em horário diverso do que ele exigira.

Por cautela, então, os administradores do presídio colheram declaração


subscrita pelo reeducando, cuja cópia segue, vertida nos seguintes termos: "Eu, Paulo
Maluf, prontuário (omissis ), declaro, para os devidos fins, que me recuso a receber
atendimento médico e a me submeter a quaisquer procedimentos relativos a saúde,
realizados pela equipe de saúde desta unidade prisional" . Ainda, ao fim da
declaração, anotou, à mão: "foi combinado atendimento as 9,00 - fui informado as
11,00" (sic).

Fia-se a defesa, também, no argumento de que recentes casos de falecimento


de presos do sistema carcerário demonstram a vulnerabilidade do sistema. Contudo, o
que se tem é que, durante todo o ano de 2017, num universo que girou sempre em torno
de quase 16.000 (dezesseis mil)presos, 6 (seis)foram os óbitos ocorridos no sistema
carcerário local, de indivíduos que tinham 24, 26, 29, 32 e 38 anos .

Quanto aos casos mais recentes, com relação aos quais tanto se bate a
defesa, as circunstâncias dos ocorridos ainda estão sendo apuradas em procedimentos
próprios, inexistindo, até o presente momento, qualquer evidência de que os óbitos teriam
decorrido de ausência ou ineficiência do socorro prestado.

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O só fato de, até o presente momento, não terem sido esclarecidas as causas
das mortes, ainda indeterminadas , mostra que se afigura absolutamente prematuro
afirmar que, se presente equipe médica em tempo integral no estabelecimento prisional,
tais lamentáveis episódios teriam sido evitados, mormente quando, repito, as
circunstâncias de tais eventos estão ainda sob investigação.

Além disso, a finitude da vida é inerente à existência humana. Não fosse isso
verdade, jamais haveria qualquer óbito entre aqueles indivíduos que, internados em
hospital, sofrem eventos que põe fim às suas vidas, entre eles paradas cárdio-
respiratórias irreversíveis, a despeito de todos os recursos ali existentes.

Ainda, a fim de ter uma dimensão aproximada do tratamento de sentenciados


acometidos de doenças de maior gravidade, travei contato com os diretores das unidades
prisionais do Distrito Federal, constatando que, entre a população carcerária, existem, em
números aproximados:

- 485 (quatrocentos e oitante e cinco) hipertensos;

- 4 (quatro) cardiopatas ;

- 7 cadeirantes ;

- 7 (sete) sentenciados com bolsas de colostomia;

- 111 (cento e onze) diabéticos;

- 302 (trezentos e dois) asmáticos;

- 87 (oitenta e sete) sentenciados portadores de HIV;

- 1 (um) reeducando portador de hepatite B;

- 12 (doze) reeducandos portadores de hepatite C;

- 11 (onze) sentenciados que padecem de tuberculose;

- 4 (quatro) que padecem de hanseníase; e,

- 1 (um) que necessita rotineiramente de hemodiálise.

Todos recebem o devido acompanhamento médico, inclusive, repito, com


recurso às redes pública e, excepcionalmente, privada de saúde.

Não é demais destacar, ainda, que a cela em que alocado o custodiado


comporta 6 (seis) presos , mas atualmente abriga apenas 4 (quatro) sentenciados ,
além de contar com portas mais alargadas e plenas condições de acessibilidade, o que
em muito facilita o ingresso das equipes médicas em caso de urgência, situação que se
coaduna com sua condição de vulnerável diante das particularidades que lhe são
inerentes.

No que se refere à preocupação demonstrada quanto à dieta do interno, é


importante anotar que todos os sentenciados que apresentam qualquer condição de

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saúde que exija alimentação especial, a exemplo de diabéticos e hipertensos, a ela têm
acesso, e de forma personalizada, como salientado pelo Diretor do CDP, Dr. José
Mundim Júnior, à fl. 611, e rotineiramente constatado por este Juízo nas inspeções
mensais ordinárias.

A título de exemplo, destaco que, na PDF-I, são servidas, diariamente, cerca de


840 (oitocentas e quarenta) refeições especiais; na PDF-II, 1.212 (um mil, duzentas e
doze); na PDFD, cerca de 352 (trezentas e cinquenta e duas); e, no CDP, em torno de
568 (quinhentas e sessenta e oito).

Assim, se o sentenciado tem passado os dias à base de mini pizza,


refrigerante, café e água, como salientado pelo parecerista contratado pela defesa (fl.
756), tal fato decorreu exclusivamente de ação voluntária dele. Isso porque os dois
primeiros itens, vale dizer, mini pizza e refrigerante, jamais compuseram os cardápios
dos internos, e foram livremente adquiridos e consumidos pelo próprio reeducando
.

Nem se alegue que foi imperioso tal consumo pela insuficiência do que ofertado
ao sentenciado nas quatro refeições diárias, sobretudo pelo fato de que os respectivos
cardápios são definidos por nutricionistas. Ademais, sendo esse o seu desejo, poderia
receber alimentos outros, inclusive frutas, por meio de visitantes ou advogados, desde
que abrangidos os alimentos entre aqueles de ingresso permitido no estabelecimento
prisional, mediante prévia aquiescência dos profissionais de saúde.

Isso tudo evidencia que, independentemente do local em que estejam


alocados, os mais de 1000 (mil) sentenciados portadores de doenças graves , dentre
os quais existem, friso, 485 (quatrocentos e oitenta e cinco) hipertensos, 4 (quatro)
cardiopatas e 7 (sete) cadeirantes , recebem os cuidados necessários dos núcleos de
saúde ligados aos respectivos estabelecimentos prisionais, sem notícias de maiores
intercorrências. Não é crível que tal cenário será diferente apenas quanto ao sentenciado
em tela.

Vê-se facilmente, portanto, que, ainda que básico, é existente e eficaz o


atendimento médico prestado aos sentenciados. Não se pode esperar, contudo, que seja
qual o de um hospital - como não o é, repita-se, a própria casa do reeducando.

De mais a mais, não se pode permitir a construção - ou a perpetuação, caso


ela já exista - da ideia censitária de que o sentenciado rico não deve permanecer preso
porque o Estado não é capaz de lhe assegurar a mesma qualidade de vida que ele teria
em liberdade, enquanto o pobre, porque já acostumado à precariedade de habitação, de
atendimento na rede pública de saúde e dos serviços públicos como um todo -
precariedade esta que decorre, em boa medida, da corrupção que assola o país -, estaria
suficientemente amparado por aquilo que o Estado pode oferecer em termos de sistema
prisional.

Além disso, o exercício do altruísmo não pode permitir a conclusão, repito,


censitária, de que tem mais direitos aquele que, antes de ser preso, vivia em melhores
condições. Não pode ser diferente, aliás, sob pena de se admitir que, se o exercício do
altruísmo for genuíno e suficiente para abrandar os rigores da lei penal, então a mesma
cortesia deveria ser estendida aos demais 1.034 (mil e trinta e quatro) portadores de

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doenças graves recolhidos no sistema carcerário desta Capital Federal .

Outrossim, quanto ao câncer de que acometido o reeducando , os necessários


exames periódicos poderão ser regularmente feitos, mediante prévio agendamento,
sempre por intermédio da GEAIT, prosseguindo-se com o necessário tratamento, como já
ocorre com todo e qualquer interno enfermo do sistema prisional.

Por fim, a respeito do grave abatimento emocional alegado , tampouco este


pode ser motivo hábil a justificar o deferimento da prisão domiciliar perseguida, na
medida em que, quero crer, seja efeito natural que invariavelmente se abate sobre todo
aquele indivíduo que é retirado da própria casa e do convívio familiar, em cumprimento a
mandado de prisão, para, não mais do que de repente, ver-se recolhido em uma cela,
sem maior privacidade e com a liberdade cerceada.

Em suma, repisando que a prisão domiciliar humanitária só tem lugar nas


estritas hipóteses em que o apenado não possa receber tratamento no interior do
presídio, bem como que há prova mais que suficiente que esta não é o caso destes
autos, consoante se extrai do contexto fático que atualmente se apresenta, tenho que a
rejeição do pedido defensivo é medida que se impõe.

Ante o exposto, INDEFIRO o pedido de prisão domiciliar do sentenciado


PAULO SALIM MALUF .

Oficie-se ao Excelentíssimo Ministro Relator Edson Fachin, remetendo-lhe


cópia da presente decisão.

Com a mesma finalidade, oficie-se ao Excelentíssimo Desembargador Jesuíno


Rissato, assim complementando as informações já prestada no bojo do HC nº 0717872-
25.2017.8.07.0000, sub sua relatoria.

Remeta-se cópia, ainda, à direção do CDP.

Publique-se. Intimem-se.

Distrito Federal, 17 de Janeiro de 2018.

BRUNO AIELO MACACARI


JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO DO DF

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