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Direito

Internacional Público
I. Introdução

1. Conceito de Direito Internacional Público
O direito internacional compreende processos de formação específicos,
diferentes dos de direito interno. Singulariza-se pelo papel mais extenso do
costume, pela ausência de lei como ato normativo, autoritário e centralizado e
pelo significado peculiar de fatores convencionais – fatores que derivam das
condições próprias da vida internacional, dos modos e das circunstâncias como
nela se inserem os Estados e os demais sujeitos, bem como as conexões entre
eles e as pessoas físicas.

2. Direito Internacional Público e Direito Global
Direito global responde a insuficiências do DIP, portanto, ou o DIP supera essas
insuficiências, ou o direito global vai ocupar grande parte do seu espaço.

Evolução do Direito Internacional Público
DIP nasce por volta do século XVII (contudo, há provas que o DIP existia antes,
por exemplo, o tratado de Tordesilhas) no entanto, só no século XVII é que nasce
um direito que regula as relações entre os estados, pois só nessa altura é que
nasce o conceito de estado. Ou seja, desde sempre que existem relações de DIP
(já existiam tratados, por exemplo), mas o DIP como nós o conhecemos hoje é um
produto do Estado Moderno. Quando e onde quer que haja Estado, e Estado que
mantenha qualquer tipo de relações, mais ou menos duradouras, com outro ou
outros Estados (ou entidades afins) tornam-se necessárias normas jurídicas para
as estabelecer e fazer subsistir.

No primeiro período, dito de direito internacional clássico, dominam as
relações entre os Estados e os Estados são (com a Santa Sé, aliás em união com
os Estados Pontifícios) os únicos sujeitos de Direito Internacional. Além do
costume, quase só há tratados de comércio, de navegação, de aliança e de paz. O
DIP nasce com Hugo Grotius (o direito da Guerra e da Paz ) e o que o
caracterizava era o facto de ele ser um direito que regulava as relações entre
Estados. No congresso de Viena, revela-se o modo de olhar o DIP – regulando as
relações entre estados. Mas que estados? As chamadas nações civilizadas. O
direito das nações civilizadas, era encontros que se faziam entre líderes
europeus, e que ali definiam, á luz dos interesses e da forma de olhar o mundo
destes países, a política mundial. Todos os outros, ou estavam dominados pelo
colonialismo ou seguiam esta forma de atuar.

Isto muda com a primeira guerra mundial, que foi um marco importante. O
direito internacional contemporâneo inicia-se em 1919, e nele os Estados –
embora continuem a desempenhar um papel primacial – têm de concorrer com
sujeitos de novo tipo, as organizações internacionais. O individuo adquire
também, em certas condições, subjetividade internacional. Multiplicam-se os
tratados multilaterais sobre as mais variadas matérias e as organizações
internacionais criam também verdadeiras normas jurídicas. Vinculativas dos
Estados e dos indivíduos.

Contudo, o Prof. Gonçalo Matias acha que o verdadeiro marco foi o fim da
segunda guerra mundial, com a criação das Nações Unidas. As nações unidas já
não são um grupo elitista de estados, mas sim dos povos das nações unidas (“Nós,
os povos das nações unidas”, em vez de “nações civilizadas”). Com isto nasceu uma
das facetas mais importantes da ONU (que não existia antes na ideia de DIP):
proteção dos direitos humanos, pois foram criadas 18 convenções especializadas
em direitos humanos. Portanto, a preocupação das nações unidas centrou-se nas
pessoas, em vez de nos estados. Substitui-se os castelos das nações civilizadas
pelo principio da auto-determinação dos povos, que é a negação das nações
civilizadas, ou seja, todos os povos têm o direito á sua auto-determinação, têm
uma voz, um lugar e um voto na Assembleia Geral das nações unidas. Deu-se o
surgimento de novos países, produto da descolonização, ou seja, o mundo
tornou-se mais dinâmico, com mais debate e mais pontos de vista.
No pós segunda guerra mundial, cai um dos pilares do DIP clássico; a guerra, pois
antes disso, a guerra era considerada um direito, e agora é proibida.

Os sujeitos do direito internacional são os Estados (só os Estados podem
celebrar tratados etc...). Contudo, se continuarmos a assentar que o DIP é o
direito que regula as relações entre os Estados e organizações internacionais
(como fazia o DIP clássico), estaremos a afastar os restantes players
internacionais, como empresas e pessoas. É aqui que entra a interseção com o
Direito Global/Transnacional. Este é o direito que, independentemente das
fronteiras do estado, regula as relações jurídicas transfronteiriças.

Onde é que estão as fontes do direito? Na Constituição e lei de cada país. A
esmagadora maioria das leis que vincula uma pessoa são as leis do seu país de
residência. Os tratados que os Estados celebram entre si não servem apenas para
regular as suas relações recíprocas. Versam também sobre questões civis,
direitos humanos e acabam por interferir na vida de cada um. As nossas fontes
complexificam-se.

Relações horizontais à Entre as pessoas
Relações verticais à Entre o Estado e as pessoas



Antes, se um individuo tivesse de contactar outro Estado, precisava de o fazer
por mediação do Estado. Agora não é necessária esta mediação. Qualquer
individuo pode contactar com outro Estado.
Como é que isto complica as fontes? Ora, há aqui uma redução do relevo das
fontes tradicionais; por um lado, os acordos formais entre estados têm menos
relevância, assim como a própria lei interna e o conceito de soberania.

O Direito Global tem, por um lado, o problema de desafiar as fontes
tradicionalmente conhecidas. Este direito é hoje mais importante do que muitas
fontes tradicionais.

Exemplo do McDonalds:
• Símbolo da globalização
• Expansão da empresa assenta em várias coisas; implica contratos de
financiamento e de franchising de larga medida internacionais; e assenta
na aplicação de regras jurídicas nacionais (direitos do trabalhador etc...)
• Há fontes de direito internacional, fontes de direito interno, e também há
direito global

Haverá espaço para a globalização do Direito noutras áreas, como o Direito
Constitucional ou Administrativo, por exemplo?
Direito Administrativo à Nós criamos estruturas administrativas globais (por
exemplo a União Europeia, embora essa seja regional). A organização mundial do
comércio é uma organização administrativa á escala global. Ou seja, temos hoje
um direito administrativo que é global.
Direitos Humanos à os direitos humanos estão consagrados em vários
documentos universais. O ius cogens é direito internacional imperativo, ou seja,
aplica-se independentemente da vontade dos Estados. Há uma crise de
legitimidade e de juridicidade do DIP. Desde há muito a juridicidade é contestada
devido à tese voluntarista: o DIP só é vinculativo na medida em que os Estados
aceitem essa vinculatividade. Os tratados só vinculam os estados que os
ratificarem. O Direito Internacional Público não têm coercibilidade

3. Direito Internacional Público e Direito Interno
Há duas grandes doutrinas relativamente a esta relação. São elas: o monismo e o
dualismo. O monismo divide-se em monismo com primado do direito interno, e
monismo com primado do direito internacional. O monismo caracteriza-se por
ser uma corrente que olha para o DIP e o DI como uma continuidade, uma
mesma ordem, perfeitamente interligados. O dualismo olha para as relações
entre o DIP e o DI como duas ordens distintas sem conexão.

Monismo com primado no Direito Interno à negação da existência do direito
internacional; o DIP é um mero reflexo do Direito Interno, as normas são uma
mera projeção no DIP de normas do DI (DIP como miragem)
Monismo com primado do DIP à há um conjunto de normas de DIP que se
projetam por si próprias na ordem jurídica interna e que se impõe com a sua
força. As normas de DIP vigoram no DI sem necessidade de intermediação

Porque no dualismo as ordens são autónomas, vamos ter normas de DI, normas
de DIP, contudo estes dois sistemas não se cruzam. Uma norma de DIP para
vigorar na ordem interna, tem de ser transposta para essa ordem interna. Tem
de haver intermediação.






Qual destas correntes é, hoje em dia, mais adoptada? E qual é adoptada em
Portugal?
Na ordem jurídica Portuguesa, é adoptado o monismo com primado do direito
internacional (artigo 8º da CRP).
Artigo 8.º
Direito internacional
1. As normas e os princípios de direito internacional geral ou comum fazem parte
integrante do direito português.
2. As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou
aprovadas vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto
vincularem internacionalmente o Estado Português.
3. As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais
de que Portugal seja parte vigoram diretamente na ordem interna, desde que tal se
encontre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos.
4. As disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas
das suas instituições, no exercício das respectivas competências, são aplicáveis na
ordem interna, nos termos definidos pelo direito da União, com respeito pelos
princípios fundamentais do Estado de direito democrático.

As normas e princípios de Direito Internacional, integram a ordem jurídica
portuguesa, ou seja, os tribunais devem respeito ás ordens de direito
internacional como ás de direito interno.
O nº1 do artigo 8º diz respeito ao direito internacional geral ou comum, que são
aqueles princípios e normas que resultam da prática entre os Estados. Estamos a
falar sobre o costume.
A nossa Constituição só admite dois tipos de Convenções: tratados solenes e
acordos. Por isso, o nº2 fala em convenções, para abranger as duas realidades.
Os tratados são ratificados e os acordos são aprovados. As normas entram em
vigor diretamente na ordem jurídica interna e vinculam, enquanto vincularem o
Estado Português.
Exemplo: Acordo Internacional de Pesca que determina limites à pesca da
sardinha. Um indivíduo um dia pescou mais sardinhas do que era permitido. Pode
uma empresa concorrente ir contra o armador dizer que ele violou os limites?
A partir do momento em que o Direito Internacional regula relações entre
privados, o tribunal pode e deve aplicar porque a Constituição assim o
determina, e os tribunais têm de as aplicar como se fossem ordens de direito
Português.
No nº3 do artigo 8º, falamos de normas secundárias. São normas que resultam
de um órgão de uma organização internacional (exemplo: normas emitidas pelos
órgãos da União Europeia; uma diretiva ou regulamento são um produto da
decisão da organização internacional, mas vinculam os Estados membros a atuar
daquela forma e fazem parte integrante do direito interno).
O nº4 (provém da última revisão constitucional) vai trazer-nos o chamado
primado do Direito da União Europeia. Para que serve o nº4? O artigo não é
redundante?

Ius
Cogens

Direito da União
Europeia

Constituição

Convenções

Lei

E depois da entrada em vigor de uma lei constante de Tratado Internacional?


Qual o problema da fiscalização sucessiva? (Artigo 281º)
Há um principio internacional fundamental, pacta sunt servanta (os pactos são
para ser cumpridos).

O parâmetro de validade de uma lei interna é a Constituição.

O DUE foi constituído pela teoria do primado, que se alargou á própria
constituição dos Estados. Como havia duvidas sobre isto, e houve acórdãos que
não negavam o primado, mas impunham restrições, a constituição europeia que
foi pensada por volta de 2003, tinha um artigo que determinava o Tratado.
Portugal alterou a constituição para inserir o primado no nº4. Mas, a constituição
Europeia morreu, nunca foi aprovada. Conclusão; não há constituição europeia,
mas há nº4 do artigo 8º.

Em Portugal, na crise financeira, o Governo usou as medidas de austeridade,
usando a União Europeia como argumento. Estas medidas resultam de
obrigações específicas de legislação Europeia. Á luz do DUE quem é que tinha
razão?

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