Você está na página 1de 14

1

PRÓLOGO

O Brihat (O Grande) yoga Vasishta, ou Yoga Vasistha Maha Ramayana, como também é
denominado, é uma obra de cerca de 32.000 versos sânscritos, tradicionalmente atribuída a
Valmiki, o autor do Ramayana. Trata-se de um diálogo entre o sábio Vasishta e Sri Rama,
no qual é exposta a Advaita (ou doutrina da não-dualidade) em sua pura forma de Ajatavada
(teoria da não origem) com a ajuda de histórias ilustrativas intercaladas. Esta grande obra
foi abreviada há alguns séculos atrás por Abhinanda Pandita, um mestre de Kachemira,
quem a condensou em cerca de 6000 versos, recebendo, então, o nome de Laghu Yoga
Vasishta. Esta é uma obra magistral, da mesma forma que o original Brihat.

Bhagavan Sri Ramana Maharishi costumeiramente se referia com freqüência ao Yoga


Vasishta e inclusive incorporou seis versículos do mesmo ao “Suplemento aos Quarenta
Versos”. (números 21 a 27).

Posteriormente foi feita uma condensação, há bastante tempo atrás, por autor desconhecido,
quem a reduziu para 230 versículos, divididos em dez capítulos e a intitulou Yoga Vasishta
Sara (A Essência do Yoga Vasishta), traduzido pela primeira vez para o espanhol e agora
para o português.

Levando a cabo esta última abreviação, seu autor trouxe um grande auxílio a todos os
buscadores da verdade. Pode-se atribuir a esta pequena obra um valor incalculável.
2

PRIMEIRO CAPÍTULO

DESAPEGO

1 – Saldemos a essa Calma Efulgência que é infindável e não limitada pelo espaço, tempo,
etc., a pura Consciência que somente pode ser conhecida pela experiência.
2 – Nem aquele que é totalmente ignorante, nem aquele que a conhece (a Verdade), são
candidatos ao estudo deste livro. somente aquele que pensa “Estou escravizado, devo
chegar a ser livre” está apto a estudá-lo.
3 – Até que o indivíduo não seja claramente abençoado pelo Senhor Supremo, não achará
um Guru adequado ou a escritura correta.
4 – Da mesma forma que um barqueiro consegue um barco estável, Oh Rama!, assim
também se aprende o método para cruzar o oceano do Samsara associando-se com as
grandes almas.
5 – O grande remédio para a enfermidade do Samsara longo tempo mantida é a
investigação “Quem sou eu? A quem pertence este Samsara?”, que a cura totalmente.
6 – Não se deveria passar um só dia num local que não possua a árvore de um sábio
conhecedor da verdade, com seu bom fruto e sua sombra fresca.
7 – Deve-se aproximar dos sábios, inclusive dos que não ensinam. Até sua fala corriqueira
contém sabedoria.
8 – A companhia dos sábio converte o vazio em plenitude, a morte em imortalidade, a
adversidade em prosperidade.
9 – Se os Sábios somente se preocupassem com sua própria felicidade, aonde poderiam
buscar refúgio os que estão atormentados pelos pesares do Samsara?
10 – O que se transmite a um discípulo digno, que se tornou desapegado, ó alma bondosa, é
a sabedoria real, é o verdadeiro significado dos textos sagrados, assim como a sabedoria
inteligível.
11 – Seguir o método de ensinamento que se está acostumado só se faz para conservar a
tradição. Convencer-se da realidade depende somente da clareza de entendimento do
discípulo.
12 – O Senhor não pode ser visto com auxílio dos textos sagrados ou do Guru. O Ser é
visto somente pelo Ser, com o intelecto purificado.
13 – Todas as artes adquiridas pelos homens se perdem com a falta de prática, porém esta
arte da sabedoria cresce persistentemente uma vez que surja.
14 – Da mesma forma que um adorno ao redor do pescoço se considera perdido quando
esquecemos dele e se recupera quando percebemos o erro, assim também o Ser se alcança
(quando a ilusão é eliminada) pelas palavras do Guru.
15 – É desafortunada a pessoa que, não conhecendo seu próprio Ser, se compraz com os
objetos sensoriais, como aquele que tardiamente descobre ter ingerido alimentos
envenenados.
16 – O homem perverso que, sabendo serem enganosos os objetos mundanos, pensa
entretanto neles, é um asno, não um homem.
17 – Até o mais leve pensamento submerge o homem no sofrimento, quando está vazio de
todos os pensamentos goza de uma beatitude imorredoura.
18 – Da mesma maneira que experimentamos a ilusão de centenas de anos num sonho que
dura apenas uma hora, assim também experimentamos a burla de Maya em nosso estado
desperto.
3

19 – Feliz é o homem cuja mente é interiormente fria e livre de apego e do ódio, e que
contempla (este mundo) como um mero espectador.
20 – Aquele que bem compreendeu como abandonar todas as idéias de aceitação ou recusa
e que realizou a Consciência que se abre dentro do coração mais interno, sua vida é ilustre.
21 – Quando da dissolução do corpo somente o éter (a Consciência) limitada pelo coração
(hrdayam) deixa de existir. O povo lamenta desnecessariamente que o Ser se extinga.
22 – Quando os vasos se rompem, o espaço em seu interior torna-se ilimitado. Assim
também quando os corpos deixam de existir, o Ser permanece eterno e desapegado.
23 – Nada nasce ou morre em nenhuma parte, em nenhum momento. É somente Brahman
que aparece ilusoriamente sob a forma do mundo.
24 – O Ser é mais extenso que o espaço, é puro, sutil, incorruptível e benigno. Assim
sendo, como poderia nascer e como poderia morrer?
25 – Tudo isso é tranqüilo, o Uno sem começo, meio ou fim, sobre quem não se pode dizer
que seja existente ou não existente. Saiba isso e seja feliz.
26 – Oh Rama! , em verdade é mais nobre vagar pelas ruas dos párias (Chandalas)
mendigando com uma caneca de barro na mão, do que viver uma vida impregnada de
ignorância.
27 – Nem a enfermidade, nem o veneno, nem a adversidade, nem qualquer outra coisa do
mundo causa mais sofrimento aos homens que a estupidez engendrada em seus corpos.

SEGUNDO CAPÍTULO

IRREALIDADE DO MUNDO

1 – Da mesma forma como o oceano de leite se acalmou quando a Montanha Mandara (que
foi agitada pelos Devas e Assuras) se acalmou, assim também a ilusão do Samsara chega ao
fim quando a mente se acalma.
2 – O Samsara surge quando a mente se torna ativa e cessa quando esta se acalma. Acalmai
a mente, controlando a respiração e os desejos latentes. (Vasanas)
3 – O Samsara sem valor (literalmente: queimado) nasce de nossa imaginação, e se
desvanece na ausência da imaginação. A verdade é que é absolutamente sem fundamento.
4 – A idéia de que uma serpente pintada num quadro seja viva deixa de existir quando se
conhece a verdade. Similarmente o Samsara deixa de existir (quando se compreende a
Verdade) mesmo quando continue surgindo.
5 – Este fantasma de um Samsara, de longa duração, que é a criação da mente iludida do
homem e a causa de seus sofrimentos, desaparece quando se reflete sobre ele.
6 – Oh Rama!, Maya é de tal sorte que encerra o deleite junto com sua própria destruição,
inclusive deixa de existir ao ser observada.
7 – Caro rapaz, maravilhosa é, na verdade, esta Maya que engana ao mundo inteiro. É por
sua causa que o Ser não é percebido, ainda que permeie todos os membros do corpo.
8 – Tudo o que se vê, não existe verdadeiramente. É como a cidade mítica dos Gandharvas
(Fada Morgana) ou como uma miragem.
9 – Aquilo que não é visto, embora se ache dentro de nós, é chamado o Ser eterno e
indestrutível.
10 – Tal como as árvores da beira de um lago se refletem nágua, assim também todos estes
variados objetos se refletem no vasto espelho de nossa consciência.
4

11 – Esta criação que é um mero jogo da consciência, surge tal como a ilusão de uma corda
que se toma por uma serpente (quando existe ignorância) e termina quando existe o
conhecimento correto.
12 – Ainda que a escravidão não exista realmente, ela se fortalece pelo desejo de gozos
mundanos, quando este desejo diminui, a escravidão se debilita.
13 – Como as ondas que surgem no oceano, a mente instável surge da vasta e estável
extensão do Ser Supremo.
14 – É por causa daquele (Ser Supremo) que, por conta própria, imagina tudo rápida e
livremente, que este espetáculo mágico do mundo é projetado no estado de vigília.
15 – Este mundo, embora irreal, parece existir e é a causa do sofrimento de toda uma vida
para a pessoa ignorante, igual a um fantasma (inexistente) é causa de temor para uma
criança.
16 – Quem não entende de ouro vê somente a pulseira. Não tem idéia que é unicamente
ouro.
17 – Da mesma maneira cidades, casas, montanhas, serpentes, etc. são todos, aos olhos do
homem ignorante, objetos separados. Do ponto de vista absoluto este mundo (Objetivo) é o
próprio sujeito (o Ser), não está separado dele.
18 – O mundo está cheio de miséria para um homem ignorante e cheio de felicidade para
um homem sábio. O mundo é escuro para um cego e brilhante para o que possui olhos.
19 – A felicidade de um homem de discriminação, que rechaçou o Samsara e descartou
todos os conceitos mentais, aumenta constantemente.
20 – Como nuvens que de repente aparecem no céu claro e prontamente se dissolvem, o
universo inteiro surge no Ser e se dissolve nele.
21 – Aquele que reconhece os raios de sol como diferentes dele e entende que são o próprio
sol, se diz que é Nirvikalpa (o homem que não vê diferenças).
22 – Da mesma maneira que a tela quando a investigamos, se percebe que é apenas tecido
trançado, assim também o mundo, quando é investigado se vê que é meramente o Ser.
23 – Este mundo fascinante surge como uma onda no oceano Ambrosíaco da Consciência e
nele se dissolve. Como, pois, pode ser diferente dela (isto é, da Consciência) em seu
interior quando aparece?
24 – Tal como a espuma, as ondas, a bruma e as borbulhas não são diferentes da água,
assim este mundo que surgiu do Ser não é diferente do Ser.
25 – Da mesma maneira que uma árvore que apresenta frutos, folhas, gavinhas, flores,
ramos, botões e raízes existe na sua semente, assim o mundo manifestado existe em
Brahman.
26 – Tal como uma moringa finalmente retorna ao barro, as ondas à água e as jóias ao
ouro, assim também este mundo que surgiu do Ser finalmente torna ao Ser.
27 – A idéia da serpente aparece quando a pessoa não reconhece a corda, desaparece
quando a percebe. Igualmente o mundo aparece quando o Ser não é reconhecido e
desaparece quando o Ser é percebido.
28 – É somente por nosso esquecimento do Ser invisível que surge o mundo, da mesma
maneira que a ignorância da corda faz aparecer a serpente.
29 – Tal como o sonho torna-se irreal no estado de vigília e o estado vigília no sonho, assim
também a morte torna-se irreal no nascimento e o nascimento na morte.
30 – Todos estes fenômenos, portanto, não são nem reais nem irreais. São efeito do
engano, mera impressão que surge de algumas experiências passadas.
5

TERCEIRO CAPÍTULO

OS SINAIS QUE IDENTIFICAM UMA PESSOA LIBERTA


(JIVAN MUKTA)

1 – O conhecimento do Ser é o fogo que queima a erva seca do desejo. Isto em verdade é o
que se chama Samadhi, não a mera abstenção da fala.
2 – Aquele que compreende que todo o universo é na realidade apenas Consciência e
permanece calmo, é protegido pela armadura de Brahman, é feliz.
3 – O yogui que conseguir o estado que jaz mais além de tudo e permanece sempre frio
como a lua cheia, é verdadeiramente o Senhor Supremo.
4 – Aquele que reflete em seu coração interno sobre o sentido dos Upanishads que tratam
sobre Brahman e não se comove pelo gozo ou pesar, não é atormentado pelo Samsara.
5 – Tal como os pássaros e animais que não buscam guarida numa montanha em chamas,
também ao conhecedor de Brahman nunca ocorrem maus pensamentos.
6 – Os sábios semelhantemente aos ignorantes, ocasionalmente encolerizam a outras
pessoas, porém só o fazem afim de provar sua capacidade para controlar seus sentimentos
inatos, quer dizer, para ver até aonde a cólera de outras pessoas lhes podem afetar.
7 – Tal como o tremor do corpo causado pela serpente (imaginária) persiste por algum
tempo até que se compreenda que não há serpente, assim também o efeito do engano
perdura por algum tempo até que se liberte de todos os enganos.
8 – Da mesma forma que um cristal não fica manchado pelo que se reflete nele, assim um
conhecedor da verdade não é realmente afetado pelo resultado de seus atos.
9 – Inclusive quando o conhecedor da verdade se ocupa de ações exteriores permanece
sempre introvertido e extremamente calmo, como quem está dormindo.
10 – Firmemente convencidos da não dualidade e gozando de uma perfeita paz mental, os
ioguis fazem seu trabalho vendo o mundo como se fosse um sonho.
11 – Que a morte chegue ao conhecedor da verdade hoje ou ao final de eons, ele permanece
sem oxidar-se como o ouro enterrado no lodo.
12 – Ele pode deitar seu corpo em Kashi ou na casa de um pária (literalmente aquele que
cozinha carne de cachorro). Aquele que carece de desejos está liberado no mesmo instante
em que consegue o conhecimento de Brahman.
13 – Para quem carece dos desejos da terra, Oh Rama! é tão insignificante como a marca
deixada pela pata de uma vaca, o próprio Monte Meru é um montículo, todo o espaço é tão
insignificante como o contido nem cesto, e os três mundos como um punhado de erva.
14 – Tal como um recipiente vazio no espaço, o conhecedor da verdade está vazio tanto por
dentro como por fora, e ao mesmo tempo está cheio por dentro e por fora, como um vaso
imenso no oceano.
15 – Aquele a quem os objetos que vê não agradam nem desagradam, e que atua no mundo
como quem está adormecido, se diz que é uma pessoa liberada.
16 – Aquele que está livre dos nós dos desejos e cujas dúvidas foram postas de lado, está
liberado inclusive enquanto se acha no corpo (Jivan Mukta). Ainda que pareça estar atado, é
livre. Permanece como uma lâmpada pintada num quadro.
17 – Aquele que eliminou facilmente, tal como num jogo, todas suas tendências egoístas e
abandonou inclusive o objeto da meditação, diz-se estar livre mesmo que habitando um
corpo físico.
6

18 – Aquele que, como um cego, não reconhece ou deixa para trás a seus familiares, que
teme o apego como a uma serpente, que considera como iguais o prazer dos sentidos e as
enfermidades, que valoriza a companhia das mulheres como se fosse um feixe de erva e que
não vê distinção entre amigo e inimigo, experimenta a felicidade neste mundo e no
próximo.
19 – Aquele que lança para fora de sua mente todos os objetos de percepção e, uma vez
adquirida a perfeita serenidade, permanece quieto como o espaço, sem se ver afetado pelo
pesar, é um homem liberto, não importa se pratica ou não a meditação ou se executa ou não
uma ação.
20 – A idéia do Ser no não-Ser é uma escravidão. O abandono dela é libertação. Não há
escravidão nem libertação para o sempre livre.
21 – Ao perceber que os objetos de percepção não existem realmente, a mente se liberta
completamente deles, e a conseqüência é a felicidade suprema da libertação.
22 – O abandono de todas as tendências latentes diz-se ser a melhor ou real libertação para
o sábio, é também o método sem erro para obter a liberdade.
23 – A liberdade não se encontra no outro lado do céu nem no inferno, nem sobre a terra; a
extinção da mente que resulta da erradicação de todos os desejos é considerada como
libertação.
24 – Oh Rama!, não existe intelecto, não há ignorância, não há mente e não há alma
individual (Jiva). Tudo isso é imaginado no Brahman.
25 – Para aquele que está estabelecido no que é infinito, consciência pura, beatitude e não-
dualismo sem ver qualidades, aonde está o dilema de escravidão ou liberdade, visto que não
existe uma Segunda entidade?
26 – Oh Rama!, a mente, por sua própria atividade se escravizou a si própria, mas quando
se acalma é livre.

QUARTO CAPÍTULO

A DISSOLUÇÃO DA MENTE

1 – A consciência, que por natureza não é dividida, imagina objetos desejáveis e corre atrás
deles. É então conhecida como mente.
2 – Do Senhor Supremo onipresente e onipotente surgiu como ondulações na água, o poder
de imaginar objetos separados.
3 – Do mesmo modo que o fogo que surge pela ação do vento e cuja chama é agitado por
este também pode ser extinto por esse mesmo vento; assim também aquilo que nasce da
imaginação é destruído pela própria imaginação.
4 – A mente teve existência através desta (imaginação) em virtude do esquecimento. Do
mesmo modo a experiência de nossa morte durante o sonho deixa de existir quando a
investigamos.
5 – A idéia do Ser no que não é o Ser se deve a uma compreensão errônea. A idéia da
realidade com relação aquilo que é irreal, Oh Rama! É que é a mente (Chittam).
6 – “Isto é ele”, “Eu sou isto”, “Isto é meu”, tais idéias constituem a mente, esta desaparece
quando se reflete sobre estas falsas idéias.
7 – É da natureza da mente aceitar certas coisas e rechaçar outras, isto é escravidão, nada
mais.
7

8 – A mente é o criador; a mente é o indivíduo(Purusha); somente aquilo que é feito pela


mente se considera como realizado, não o que é feito pelo corpo. O braço com que
abraçamos a esposa é o mesmo com o qual abraçamos a filha.
9 – A mente é a causa (quer dizer produz) os objetos da percepção. Os três mundos
dependem dela. Quando se dissolve, o mundo também se dissolve. Há de ser curada (isto
é, purificada) com esforço.
10 – A mente é escravizada pelas impressões latentes (Vasanas). Quando não existem
impressões é livre. Por conseguinte, Oh Rama!, leva à cabo rapidamente, através da
discriminação, o estado no qual não existem impressões.
11 – Tal como uma nuvem suja (quer dizer, parece sujar) a lua, ou uma mancha de tinta
parece sujar uma parede de gesso, assim o mau espírito do desejo macula o homem interior.
12 – Oh Rama!, aquele que, com mente introvertida, oferece os três mundos, como erva
seca, em oblação ao fogo do conhecimento, torna-se livre das ilusões da mente.
13 – Quando uma pessoa conhece a verdade sobre a aceitação e a recusa, e não pensa em
coisa alguma senão que mora em si mesmo, abandonando tudo, sua mente não surge à
existência.
14 – A mente é terrível (Ghoram) no estado de vigília, gentil (Santam) no estado de sonho,
embotada (Mudham) no estado de sono profundo e morta quando não está em nenhum
destes três estados.
15 – Tal como o pó da semente Kataka, quando precipita suas impurezas na água, se
mistura com ela; assim a mente (após eliminar todas as impressões) se mescla no ser.
16 – A mente é o Samsara; também se diz que ela é a escravidão; o corpo é ativado pela
mente do mesmo modo que uma árvore é agitada pelo vento.
17 – Conquista primeiro tua mente, pressionando uma palma contra outra, mordendo um
dente contra outro dente e torcendo os membros com os próprios membros.
18 – Não se envergonha o néscio de vagar pelo mundo a seu bel prazer e falar da
meditação, quando não é sequer capaz de conquistar a mente?
19 – O único Deus que deve ser conquistado é a mente. Sua conquista conduz à obtenção
de tudo. Sem sua conquista todos os outros esforços são estéreis.
20 – Carecer de perturbação é o fundamento do bendito (Sri). Assim se consegue a
libertação. Para os seres humanos, incluindo a conquista dos três mundos, sem a conquista
da mente é tão insignificante como um punhado de mato.
21 – A associação com os sábios, o abandono das impressões latentes, a investigação de si
próprio, o controle da respiração, eis os meios de conquistar a mente.
22 – Para aquele que se acha calçado com sapato de couro, a terra é como se estivesse
coberta de couro. De igual modo para a mente plena (isto é, não dividida) o mundo
transborda de néctar.
23 – A mente se escraviza ao pensar “Não sou Brahman”; liberta-se completamente
pensando “Sou Brahman”.
24 – Quando se abandona (isto é se dissolve) a mente, tudo quanto é dual, ou único, se
dissolve, o que resta depois disso e o supremo Brahman, pacífico, eterno e livre da miséria.
25 – Não existe coisa alguma que iguale o gozo supremo sentido por uma pessoa de mente
pura que alcançou o estado de consciência pura e que superou a morte.
8

QUINTO CAPÍTULO

A DESTRUIÇÃO DAS IMPRESSÕES LATENTES

1 – Oh Rama!, esta investigação do Ser, do tipo “Quem sou eu?” é o fogo que queima as
sementes da árvore do mal que é a mente.
2 – Do mesmo modo que o vento não balança os galhos pintados num quadro, assim as
aflições não afetam aqueles cujo entendimento acha-se fortalecido pela firmeza e sempre se
reflete no espelho da investigação.
3 – Aqueles que conhecem a verdade declaram que a investigação sobre a verdade do Ser é
conhecimento. O que deve ser conhecido está no conteúdo, tal como a doçura no leite.
4 – Para aquele que realizou o Ser através da investigação, Brahma, Vishnu e Shiva são
objetos de compaixão.
5 – Para quem gosta de perguntar-se (constantemente) “Que é este vasto universo?” e
“Quem sou eu?” este mundo torna-se muito irreal.
6 – Da mesma forma que numa miragem a idéia da água não ocorre a quem sabe que é uma
miragem, assim as impressões latentes não surgem na pessoa cuja ignorância foi destruída
por compreender que tudo é Brahman.
7 – Pelo abandono das impressões latentes ou pelo controle da respiração, a mente deixa de
ser a mente. Pratica o que queiras.
8 – Oh alma pura!, ama a associação com os sábios e as verdadeiras escrituras, conseguirás
o estado de Consciência Suprema não no período de meses, mas em dias.
9 – As impressões latentes deixam de ser ativas quando a pessoa se associa aos sábios,
descarta todos os pensamentos do Samsara e recorda que o corpo tem que morrer.
10 – Oh Ragava!, até mesmo as pessoas ignorantes convertem, pela firmeza de sua
convicção, o veneno em néctar e o néctar em veneno.
11 – Quando se considera real este corpo, ele serve ao propósito de um corpo, porém,
quando se considera irreal, torna-se como o espaço (isto é, sem substância).
12 – Oh Rama!, quando deitas numa cama macia vagas em todas as direções com um corpo
de sonhos; porém agora (neste estado de vigília); aonde está esse corpo de sonhos?
13 – Tal como um homem respeitável evita o contato com uma mulher pária que transporta
carne de cachorro, a pessoa deveria rechaçar o pensamento “sou o corpo”, inclusive se
perdesse tudo.
14 – Quando o aspirante (Sadhu) pensa somente em Brahman e permanece calmo e livre de
lamentações, seu egoísmo morre por si mesmo.
15 – Se a pessoa compreende a unidade das coisas em toda parte, sempre permanecerá
tranqüilo, interiormente frio, e puro como o espaço, sem o sentimento do “eu”.
16 – Se uma pessoa estiver interiormente fria, o mundo inteiro estará frio, entretanto se
interiormente estiver quente (isto é, agitada) o mundo inteiro será uma massa ardente.
9

SEXTO CAPÍTULO

A MEDITAÇÃO SOBRE O SER

1 - Eu, a consciência pura, sem mácula e infinita, mais além de Maya (ilusão), vejo este
corpo em atividade como se fosse o corpo de outra pessoa.
2 – A mente, o intelecto, os sentidos, etc. são todos um jogo da consciência. São irreais e
parecem existir somente devido à falta de discernimento.
3 – Sem que me comova a adversidade, amigo de toda a prosperidade do mundo, sem
noções de existência ou não existência, vivo livre da miséria.
4 – Sou inativo, carente de desejos, claro como o céu, livre de ansiedades, tranqüilo, sem
forma eterno e imutável.
5 – Entendi claramente agora que os cinco elementos, os três mundo e eu mesmo somos
pura Consciência.
6 – Estou acima de qualquer coisa, estou presente em toda parte, sou como o espaço; sou
aquilo que realmente existe; sou incapaz de acrescentar nada mais do que isso.
7 – Que as imaginárias ondas do universo se elevem ou caiam sobre mim que sou o oceano
de consciência infinita; não existe em mim aumento ou diminuição.
8 – Como é maravilhoso que surjam em mim, o oceano da consciência, ondas de Jivas
(almas individuais) e que se levantem por algum tempo e desapareçam de acordo com sua
natureza.
9 – O mundo que veio à existência por causa de minha ignorância dissolveu-se em mim.
Agora percebo diretamente o mundo como a beatitude suprema da consciência.
10 – Prostro-me ante mim que estou no interior de todo ser, o Ser sempre livre que habita
como Consciência interna.

SÉTIMO CAPÍTULO

O MÉTODO DE PURIFICAÇÃO

1 – Oh Raghava!, sê externamente ativo, porém internamente inativo, exteriormente um


fazedor, porém interiormente um não-fazedor, e assim representa teu papel no mundo.
2 – Oh Raghava!, abandona interiormente todos os desejos, liberta-te dos apegos e
impressões latentes, faz tudo exteriormente e representa assim teu papel no mundo.
3 – Oh Raghava!, adota um ponto de vista compreensivo, caracterizado pelo abandono de
todos os objetos de contemplação, vive em teu ser inato, liberto inclusive enquanto
permanecer vivo(Jivan-Mukta), e assim representa teu papel no mundo.
4 – Queima o bosque da dualidade com o fogo da convicção, “Eu sou a Consciência pura e
única”, e permanece feliz.
5 – Está atado firmemente por todas as partes com a idéia de “Eu sou o corpo”. Corta a
atadura com a espada do conhecimento: “Sou Consciência” e sê feliz.
6 – Rechaçando o apego ao não-ser, considerando o mundo como total, como carente de
partes, concentrado e com a atenção dirigida para o interior permanece como Consciência
pura.
10

7 – Permanece sempre como Consciência pura, que é tua natureza constante (isto é,
verdadeira) mais além dos estados de vigília, sonho e sono profundo.
8 – Oh Poderoso!, sê sempre livre dos conceitos mentais, como o coração de uma rocha,
ainda que não insensível como ela.
9 – Não sejas aquele que é entendido nem aquele que entende. Abandona todos os conceitos
e permanece sendo o que és.
10 – Elimina um conceito por outro e a mente pela mente, e mora no Ser. “Isto é tão
difícil, oh homem santo?”
11 – Corta a mente, que por suas preocupações se tornou rubra, com a própria mente, que é
como ferro aguçado pelo estudo das escrituras.
12 – Oh Ragava!, que hás de fazer com este corpo inerte e mudo? Porque te sentes
desvalido e miserável por gozos e pesares provocados por ele?
13 – Que enorme diferença entre a carne, o sangue, etc. (que compõem o corpo) e tu, a
encarnação da Consciência! Porque, ainda que sabedor disso, não abandonas a idéia do Ser
neste corpo?
14 – O mero conhecimento de que este corpo é como se fosse um pedaço de madeira ou um
punhado de terra, permite à pessoa realizar o Ser Supremo.
15 – Como é estranho que, enquanto o Brahman real é esquecido pelos homens, o irreal,
chamado Avidya (ignorância) é firmemente conservado por eles (lit. os ata com força).
16 – Quando faças teu trabalho executa-o sem apego, tal como um cristal reflete os objetos
que se acham diante dele, porém não é afetado por eles.
17 – A convicção de que tudo é Brahman conduz a pessoa à libertação. Rechaça portanto a
idéia de dualidade que é ignorância. Rechaça-a inteiramente.

OITAVO CAPÍTULO

A ADORAÇÃO DO SER

1 – Se te separas do corpo e moras com facilidade na Consciência, tornar-te-ás uno ( a


única realidade), tudo mais aparecendo insignificante como a erva.
2 – Ao conhecer aquele por meio do qual conheces este mundo, volta a mente para dentro e
então verás claramente (isto é realizarás) a efulgência do Ser.
3 – Oh Raghava!, aquele por meio do qual percebes som, sabor, forma e cor, sabe que é teu
Ser, o Brahman Supremo, o Senhor dos senhores.
4 – Oh Raghava!, aquele por meio do qual vibram os seres, aquele que os cria, sabe que
este Ser é teu Ser real.
5 – Após rechaçar, por meio do raciocínio, tudo o que possa ser conhecido como “não-
verdade”, o que resta como Consciência pura considera-o como teu Ser real.
6 – O conhecimento não está separado de ti, e aquele que é conhecido não está separado do
conhecimento. Daí que somente existe o Ser, e nada acha-se separado dele.
7 – “Tudo o que Brahma, Vishnu, Shiva, Indra e outros fazem sempre, é feito por mim a
encarnação da consciência”. Pensa desta maneira.
8 – “Sou todo o universo. Sou o incorruptível Ser Supremo. Não existe passado nem futuro
à parte de mim mesmo”. Reflete desta maneira.
11

9 – “Tudo é o Brahman único, a Consciência pura, o Ser de tudo, indivisível e imutável”.


Reflete deste modo.
10 – Não existe eu, nem qualquer outra coisa. Somente Brahman existe, sempre cheio de
beatitude por todas as partes. Medita calmamente sobre isto.
11 – O sentido de perceptor e percebido é comum a todos os seres encarnados, porém o
yogui adora o Ser Único.

NONO CAPÍTULO

EXPOSIÇÃO SOBRE O SER

1 – Quando este conjunto de corpo, sentidos, etc., atua por conta própria, surge a idéia de
“Eu sou isto”. Este é o Jiva (ego) maculado pela imundice da ignorância.
2 – Quando torna-se firme a convicção de que tudo é a Consciência semelhante ao espaço
(quer dizer que tudo permeia), o Jiva (ego) chega a seu fim como uma lamparina sem óleo.
3 – Tal como um Brahmin se desvia e abandona sua própria nobreza e adora a vida de um
Sudra (pária), assim o Senhor assume o papel do Jiva.
4 – Do mesmo modo que um menino vê uma aparição (criada por sua própria fantasia),
também o estúpido Jiva cria, em conseqüência do engano, este corpo irreal e o vê como
separado de si mesmo.
5 – Um menino sobrepõe um elefante (real) sobre um elefante de barro e brinca com ele; de
igual modo um homem ignorante superpõe o corpo, etc. sobre o Ser e leva a cabo suas
atividades.
6 – Uma serpente pintada num quadro não faz com que a temamos quando se compreende
que é somente um quadro. Semelhantemente quando a serpente do Jiva é claramente
compreendida não existe nem miséria, nem causa para miséria.
7 – A serpente superposta a uma grinalda se mescla com ela; de igual modo o sentido de
separação que surge do Ser se mistura com o Ser.
8 – Ainda que vários braceletes, etc. pareçam ser coisas separadas como ouro são uma só
coisa. Igualmente ainda que os derivados sejam muitos, o Ser permanece uno.
9 – Tal como os órgãos do corpo e as modificações da Argka (isto é, as vasilhas de argila), a
não-dualidade aparece como dualidade (quer dizer, multiplicidade) sob a forma de objetos
móveis e imóveis.
10 – Da mesma forma que apenas um rosto é refletido como muitos num cristal, na água ou
no espelho; assim também o Ser único se reflete em muitos intelectos (ou mentes).
11 – Do mesmo modo que o céu parece manchado pela poeira, pela fumaça ou pelas
nuvens, assim também o Ser puro em contato com as qualidades de Maya parece ser
maculado por elas.
12 – Da mesma maneira que o metal em contato com o fogo adquire as qualidades do fogo
(a saber, o calor) assim também os sentidos etc., em contato com o Ser adquirem as
qualidades do Ser.
13 – Tal como o Rahu invisível torna-se visível quando é captado pela lua (isto é, quando
entra em contato com a lua), assim o Ser é conhecido experimentando os objetos de
percepção.
12

14 – Quando a água e o fogo se juntam cada um adquire as qualidades do outro.


Igualmente quando o Ser e o corpo inerte se juntam o Ser parece o não-ser e o não-ser
parece o Ser.
15 – Tal como o fogo quando jogado sobre uma grande lâmina d’água perde sua qualidade,
assim também a Consciência em contato com o irreal e inerte parece perder sua natureza
real e torna-se inerte.
16 – O Ser é realizado no corpo somente com esforço, igual a se obter açúcar de uma cana,
óleo das sementes de sésamo, fogo da madeira, manteiga do leite de vaca e ferro das pedras
(isto é, de um mineral).
17 – De igual modo que um céu é visto num cristal que não se rompeu, o Senhor Supremo
da natureza da Consciência é visto (quer dizer, existe) em todos os objetos.
18 – Tal como uma grande lanterna guardada dentro de um vaso feito de pedras preciosas
ilumina por sua luz tanto dentro como fora, assim também o Ser único ilumina tudo.
19 – Da mesma maneira que o reflexo do sol sobre um espelho ilumina outras coisas, o
reflexo do Ser nos intelectos puros ilumina outras coisas.
20 – Aquele que neste maravilhoso universo aparece como se fosse uma serpente em lugar
de uma corda, é o Ser Eterno e luminoso.
21 – O Ser carece de início ou de fim. É Existência e Consciência imutáveis. Manifesta o
espaço, é a fonte dos Jivas e é mais elevado do que tudo.
22 – O Ser é Consciência pura, eterna, onipresente, imutável e auto efulgente como a luz do
sol.
23 – O Ser onipresente, o substrato de tudo não é diferente da Consciência efulgente, como
o calor não é distinto do fogo. Pode ser somente experimentado (não pode ser conhecido).
24 – A Consciência pura, sem intelecto, o Ser Supremo, o iluminador de tudo, o indivisível,
que tudo permeia, por dentro e por fora, é o firme suporte de tudo.
25 – O Ser é Consciência absoluta. É puro auto consciente, incorruptível, livre de todos os
conceitos de aceitação ou recusa, e não é limitado por espaço, tempo ou gênero.
26 – Tal como o ar do universo que tudo permeia também o Ser, o Senhor, mora sem forma
em todas as coisas.
27 – A Consciência que existe na extensão da terra, nos ornamentos, no céu e no sol, existe
também no interior dos vermes que jazem debaixo da terra.
28 – Não existe nem escravidão nem liberdade, nem dualidade nem não-dualidade. Existe
somente um Brahman, sempre brilhando como Consciência.
29 – Auto conhecer-se é Brahman; o mundo é Brahman; os diversos elementos são
Brahman; eu sou Brahman; meu inimigo é Brahman; meus amigos e familiares são
Brahman.
30 – A idéia de uma Consciência e de um objeto de consciência é escravidão; livrar-se dela
é liberdade. A Consciência, o objeto da consciência e tudo mais, é o Ser; esta é a essência
de todos os sistemas de filosofia.
31 – Aqui só existe Consciência; este universo é apenas Consciência; tu és Consciência; eu
sou Consciência; os mundos são Consciência; esta é a conclusão.
32 – Tudo o que existe e que brilha (isto é que se sabe que existe) é o Ser; tudo mais que
parece brilhar não existe realmente. Somente a Consciência brilha por si mesma. As
idéias de conhecedor e conhecido são postulados vazios.
13

DÉCIMO CAPÍTULO

NIRVANA

1 – A beatitude suprema não pode ser experimentada através do contato dos sentidos com
seus objetos. O estado supremo é aquele no qual a mente é aniquilada através da
investigação numa só direção.
2 – A beatitude que surge do contato dos sentidos com seus objetos é inferior. O contato
com os objetos dos sentidos é escravidão; livrar-se dele é liberdade.
3 – Alcança o estado puro entre a existência e a não existência e mantente nele; não aceites
ou rejeites o mundo interior ou o mundo exterior.
4 – Depende sempre dessa verdadeira realidade que se acha entre o que sente e o inerte, que
é o Coração infinito como o espaço.
5 – A crença num conhecedor e num conhecido é chamada escravidão. O conhecedor é
escravizado pelo conhecido; é libertado quando não existe nada para conhecer.
6 – Abandonando as idéias daquele que vê, o que é visto e a visão, juntamente com os
desejos latentes (Vasanas) do passado, meditemos neste Ser, luz primordial que é a base da
visão.
7 – Meditemos no Ser eterno, a luz das luzes que se acha entre as duas idéias de existência
e não existência.
8 – Meditemos no Ser de Consciência, aquele que outorga os frutos de todos os nossos
pensamentos, o iluminador de todos os objetos radiantes e o limite mais distante de todos os
objetos aceitados.
9 – Meditemos no Ser imutável, nossa realidade, cuja beatitude surge na mente por causa
do íntimo contato entre o que vê e o que é visto.
10 – Se medita-se neste estado que advém no final do estado ( de vigília) e no início do
sonho, experimentar-se-á diretamente a beatitude incorruptível.
11 – O estado semelhante a uma rocha no qual todos os pensamentos estão em calma, e que
é diferente dos estados de vigília e de sonho, é nosso estado supremo.
12 – Tal como o barro encerrado numa vasilha de barro, o Senhor Supremo que é
Existência e Consciência semelhante ao espaço e beatitude, existe por todas as partes não
separado das coisas.
13 – O Ser brilha por si mesmo como o oceano único da Consciência, carente de limites e
nem agitado pelas ondas do pensamento.
14 – Da mesma forma que o oceano não é se não água, o mundo inteiro das coisas não é se
não Consciência que enche todos os pontos cardeais como o espaço infinito.
15 – Brahman e o espaço são semelhantes no que se refere a sua invisibilidade e pelo fato
de serem onipenetrantes e indestrutíveis, porém Brahman é também Consciência.
16 – Existe apenas um único oceano sem ondas e profundo, de puro néctar, doce (isto é,
beatífico) em todas as partes.
17 – Tudo é verdadeiramente Brahman; tudo é este Atmã. Não dividas Brahman ao declara
“Eu sou uma coisa” e “Isto é outra”.
18 – Tão logo se compreenda que Brahman é Onipresente e indivisível, descobre-se que
este imenso Samsara é o Senhor Supremo.
19 – Quem dá-se conta que tudo é Brahman, verdadeiramente torna-se Brahman. Quem
não se tornaria imortal após beber o néctar?
14

20 – Se és sábio tornar-te-ás este Brahman em virtude desta convicção; mas se não tiveres
esta convicção de nada adianta repetires esta verdade várias vezes pois seria tão inútil como
lançar oferendas às cinzas.
21 – Inclusive se conheces a verdade real terás sempre que praticar. A água não se torna
clara simplesmente por pronunciar “fruto de Kataka”.
22 – Se tem-se a firme convicção “Eu sou o Ser Supremo, o incorruptível Vasudeva”, nos
libertamos, caso contrário, permaneceremos escravizados.
23 – Após eliminar tudo afirmando “isto não”, “isto não”, o que resta ou permanece é a
entidade suprema (literalmente o estado) que não pode ser eliminado. Pensa “eu sou Ele” e
sê feliz.
24 – Sabe sempre que o Ser é Brahman, uno e total. Como pode aquele que é indivisível
ser dividido em “eu sou o meditador” e “outro é objeto de meditação”?
25 – Quando uma pessoa pensa “sou consciência pura” , a isto se chama meditação,
quando inclusive se perde a idéia de meditação, é o Samadhi.
26 – O constante fluxo de conceitos mentais relativos a Brahman sem o sentido do eu (ego)
adquirido através de intensa prática de auto investigação (Jnana) é o que se chama
Samprajnhata Samadhi (meditação sem conceitos).
27 - Que os violentos ventos que caracterizam o fim dos eons (Kalpas) soprem, que todos
os oceanos se unam, que os doze sóis ardam simultaneamente, ainda assim nenhum mal
recairá sobre aquele cuja mente está extinta.
28 – Essa Consciência que é o testemunho da elevação e queda dos seres, sabe que é o
estado imortal da beatitude suprema.
29 – Aquele que é imutável, propício e tranqüilo, aquele que permeia este mundo, aquele
que se manifesta como objetos mutáveis e imutáveis é a Consciência única.
30 – Antes de mudar a pele, a serpente a considera como sendo ela mesma, porém uma vez
que a abandonou em sua toca já não a considera como sendo ela própria.
31 – Aquele que transcendeu tanto o bem como o mal, quando se abstêm de praticar atos
proibidos age como uma criança ou seja sem qualquer sentimento de que sejam pecados, e
nem faz o que está prescrito por qualquer sentimento de mérito.
32 – De igual modo que uma estátua acha-se contida num bloco de mármore inclusive se na
realidade não foi ainda esculpida, também o mundo existe em Brahman. Por conseguinte, o
estado supremo não é o vácuo.
33 – Da mesma maneira que se diz que um bloco não encerra uma estátua quando ainda
não foi esculpida nele, assim também se diz que Brahman está vazio quando se lhe priva
das impressões do mundo.
34 – Do mesmo modo que podemos afirmar que uma água parada contém ou não ondas,
assim a respeito de Brahman pode-se dizer que contém ou não o mundo. Não é nem vazio
nem existência.

Você também pode gostar