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PIVOT:

SEGUE VT:

Há um ano Chung Man-gyoo perdia uma boa parte do dia numa luta
inconsequente contra o trânsito caótico de Seul. O antigo empresário
intermediava o traço rotineiro do quotidiano com visitas semanais a um
dos vários campos de golfe situados nas imediações da capital sul-coreana,
num gesto que durante anos pautou o contacto mais próximo que Chung
manteve com a natureza.
Um ano depois, o cenário dificilmente poderia ser mais distinto. Chung
Man-gyoo voltou as costas à confusão de Seul e trocou a capital sul-
coreana por um quotidiano de idílio rural na pequena localidade de
Mungyeong, no nordeste do país. O antigo empresário cultiva um pequeno
lote de terreno, onde produz os seus próprios vegetais e garante que a
mudança lhe permite encarar o quotidiano com outros olhos. Chung Man-
gyoo diz não sentir falta do caos de Seul e só lamenta o facto da esposa
não se ter conseguido adaptar tão bem como ele aos desafios da vida em
meio rural:

VIVO 1 – Chung Man-Gyoo/Agricultor


(Não sinto a falta da vida na cidade. Nem um bocadinho. Mas a minha mulher sente muito a falta do
ritmo urbano e ainda não se conseguiu adaptar desde que nos mudámos.)

Chung Man-Gyoo é apenas um dos mais de dez mil e quinhentos sul


coreanos que voltaram costas às cidades e partiram à redescoberta do
campo durante o ano de 2011. A Coreia do Sul deu o salto do grupo de
países em desenvolvimento para o clube das nações desenvolvidas no
período de uma geração e pelo caminho tornou-se uma das sociedades
mais urbanizadas do Continente Asiático. Com uma densidade
populacional oito vezes superior à densidade populacional de Nova Iorque,
a área metropolitana de Seul abriga mais de metade dos 50 milhões de
pessoas que constituem a população sul-coreana. Para muitos, a
necessidade constante de competir por um emprego e por espaço vital
deixou de fazer sentido. São cada vez mais os que seguem o exemplo de
Suh Jeong-deok e tentam relançar a vida sem a pressão do quotidiano nas
grandes cidades:

VIVO 2 -Suh Jeon-deok/Agricultor


(Se as minhas expectativas forem muito elevadas e eu decidir perseguir um sonho que não se
coaduna com a realidade, estarei apenas a fazer com que a minha existência seja dolorosa. Decidi
por isso não ser tão exigente comigo mesmo.)

Antigo investigador num dos maiores grupos petroquímicos da Coreia do


Sul, Suh Jeon-deok tornou-se um exemplo de sucesso da nova vaga de
povoadores rurais, ao criar a sua própria exploração agrícola de pepinos.
Em menos de três anos, Suh Jeong-deok conseguiu criar quatro postos de
trabalho e retirar da exploração dividendos superiores a 100 milhões de
wons anuais. Suh é considerado pelas autoridades de Seul um caso de
sucesso, mas Kim Jeong-seop lembra ainda assim que a agricultura é um
sector em crise no país. O investigador do Instituto de Economia Rural de
Seul diz que as margens de lucro garantidas por Suh-jeong deok não estão
ao alcance de todos e lembra que para ser rentável, uma exploração
agrícola tem de ser bem gerida e de contar com mais de seis hectares de
terreno de cultivo:

VIVO 3 – Kim Jeong-seop/Instituto de Economia Rural da Coreia do Sul


(Em termos gerais, o sector agrícola não se encontra numa situação muito fácil, mas o governo está
a encorajar as pessoas a dedicarem-se à agricultura. Parece-me que o governo está a enviar sinais
contradictórios.)

Apesar de algumas histórias de sucesso, os salários praticados nos meios


rurais são consideravelmente mais baixos que os salários pagos nas
cidades. Um residente de uma cidade como Seul ou Busan ganha em
media e anualmente 42 milhões de wons, um valor que supera quase em
dez milhões o valor médio auferido nas regiões rurais da Coreia. Kim
Jeong-seop defende que as histórias de sucesso são casos pontuais, que não
devem ser vistos como uma tendência. Apesar dos salários e das margens
de lucro não serem elevadas, o Instituto de Economia Rural da Coreia do
Sul descobriu que apenas sete por cento dos que voltaram costas à cidade e
montaram arraiais no campo estão desiludidos com a decisão:

VIVO 4 - Chung Man-Gyoo/Agricultor


(Não creio que haja muita gente a enriquecer com a agricultura. Nos jornais aparecem por vezes
histórias de pessoas que fazem fortuna com a agricultura. Talvez seja possível, mas para quem quer
enriquecer parece-me que há mais hipóteses nas cidades. Quem para aqui vem tem de colocar a
ganância de parte.)

Apesar de incentivar o regresso ao campo e à vida rural, o governo sul-


coreano parece não ter grande interesse em potenciar um sector agrícola
forte. O executivo de Seul já assinou uma série de acordos de livre
comércio com os Estados Unidos e a União Europeia e no início do mês
lançou os fundamentos de um novo acordo da índole, desta feita com a
República Popular da China.

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