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2006;16(3):104-113 ATUALIZAÇÃO
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Taboada NG, Legal EJ, Machado N. Resiliência: em busca de um conceito. Rev Bras Crescimen-
to Desenvolv Hum 2006; 16(3):104-113.
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo investigar na literatura especializada as principais
definições de resiliência e seus conceitos operacionais. Entende-se, de maneira geral, resiliência
como sendo o processo onde o indivíduo consegue superar as adversidades, adaptando-se de
forma saudável ao seu contexto. Diante da diversidade de definições encontradas, estas foram
agrupadas em três eixos principais, entendendo a resiliência como um processo: adaptação/
superação; inato/adquirido; circunstancial/permanente. Tendo em vista a necessidade de
compreensão de outros temas diretamente relacionados com a resiliência, o trabalho apresenta
sessões que versam sobre: estresse, coping e suas relações com resiliência; fatores de risco,
fatores de proteção e vulnerabilidade. Constata-se a falta de definições operacionais claras acerca
do fenômeno, bem como se sugere que a resiliência pode ser entendida como uma estratégia de
coping com resultados positivos e até transformadores.
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Trabalho realizado no Centro de Ciências da Saúde, curso Psicologia, Laboratório de Psicologia Experimental da
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), apresentado em: Anais da 1ª Jornada Catarinense Multi/Interdisciplinar em
Pediatria do Centro de Ciências da Saúde da Univali. Itajaí. SC, 2005; XXIV Congresso Brasileiro de Psiquiatria -
Psiquiatria: medicina, humanismo e neurociências. Curitiba, PR, out 2006.
*
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Rua Uruguai, 458 - Centro Itajaí, SC. Cep: 88302-202.
E-mail: nina.taboada@gmail.com
**
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) Rua Uruguai, 458 - Centro Itajaí, SC. Cep: 88302-202.
***
Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI). Rua Guilherme Gemballa,13. Rio do Sul, SC.
CEP: 89.160-000
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homem, a fim de compreender a saúde mental3,4. humana de superar as adversidades. A partir daí
Nesse contexto, um fato vem chamando descortina-se uma gama de outros conceitos de
a atenção da ciência: como alguns indivíduos, suporte, fatores e características que definem o
apesar de todo um contexto de adversidade e processo resiliente. A dificuldade em se enten-
intenso estresse, conseguem se desenvolver de der resiliência e sua repercussão acadêmica se
maneira saudável, correspondendo às expectati- dá justamente pelo fato de lidarmos constante-
vas sociais? Na trilha dos estudos sobre tal fato mente com outros conceitos (fatores de risco,
encontramos um novo constructo em desenvol- de proteção, estresse, adaptação, superação,
vimento: a resiliência. ajustamento entre outros) que não possuem,
Falar de um constructo relativamente muitas vezes, definições claras, explícitas, o que
novo, ainda em desenvolvimento, nos obriga a pode resultar em confusão teórica. Tal confu-
tomar um enorme cuidado com o emprego das são se dá na medida em que o termo resiliência
palavras, principalmente com a precisão dos con- é utilizado para descrever processos diferentes.
ceitos utilizados. São a clareza e a objetividade Tais diferenças, ora sutis, ora mais intensas, tra-
na definição do constructo que permitem um di- zem implicações metodológicas divergentes numa
álogo construtivo entre pesquisadores, a criação práxis voltada para a saúde e sua promoção7.
de uma agenda em comum e possibilita reunir É importante notar que a constelação te-
esforços para efetivar estudos que testam as hi- mática citada acima também possui suas dife-
póteses formuladas. renças teóricas entre autores. Portanto, depen-
Observamos, nos últimos 20 anos, a resili- dendo de como cada pesquisador define os con-
ência conquistando espaço nos círculos acadê- ceitos satélites apontados, as definições opera-
micos de Psicologia, e nos últimos cinco anos cionais da resiliência seguirão determinada abor-
sendo discutida nos encontros internacionais5. dagem, conseqüentemente afetando suas possi-
O termo resiliência tem sua origem na Fí- bilidades práticas. É conveniente ressaltar que,
sica e Engenharia, sendo um dos seus precurso- embora tais conceitos sejam fundamentais para
res o inglês Thomas Young5. Nesta área, resili- o tema resiliência, são poucas as obras encon-
ência é a capacidade de um material para rece- tradas na literatura especializada que versem
ber uma energia de deformação sem sofrê-la de sobre eles.
modo permanente5. No presente artigo investigamos a utiliza-
Já nas ciências humanas, poderíamos de- ção do tema resiliência na literatura especializa-
finir inicialmente resiliência como a capacidade da procurando identificar as diferenças nas suas
que alguns indivíduos apresentam de superar as definições operacionais, de acordo com seus
adversidades da vida. autores.
Trazer um conceito das ciências físicas,
que possuem uma idiossincrasia diferente das Os conceitos de Resiliência
ciências de saúde, requer alguns cuidados. Sua
definição, nas ciências sociais e da saúde “... não As produções científicas que versam so-
é clara nem tampouco precisa quanto na física bre resiliência podem ser ora voltadas para pes-
ou na engenharia (e nem poderia ser), conside- quisas sobre o constructo, ora voltadas para as
radas a complexidade e a multiplicidade de fato- práticas do mesmo. Partindo de uma definição
res e variáveis que devem ser levados em conta em comum (resiliência como a capacidade do
no estudo dos fenômenos humanos”5 (p.16). indivíduo de recuperar-se de / fazer frente à /
A dificuldade é tanta que, para Slap 6 lidar positivamente com a adversidade), os con-
(p.173), “é mais fácil concordar sobre o que re- ceitos operacionais que versam sobre a resiliên-
siliência não significa do que sobre o que a pala- cia são, quando presentes, distintos. A fim de
vra significa”. facilitar a explanação e exposição das acepções
Como citado anteriormente, de modo ge- encontradas, adotaremos o modelo de organiza-
ral a resiliência é definida como a capacidade ção descrito por Deslandes e Junqueira7 que, em
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sua revisão a respeito do tema, dividem as defi- gama de qualidades/habilidades a serem incor-
nições encontradas em três pólos temáticos prin- poradas (ou já presentes) pelo sujeito, como: oti-
cipais. São eles: mismo, criatividade, senso de humor, memória
· Resiliência enquanto um processo de acima da média, competência social e educacio-
adaptação X superação nal8, flexibilidade, iniciativa, propósitos9; bom tra-
· Resiliência enquanto um fator inato X fa- quejo social, alto nível de inteligência10, modos
tor adquirido avançados de resolver problemas, alto nível de
· Resiliência como algo circunstancial X ca- auto estima e autoconhecimento, habilidade de
racterística permanente tomar decisões, empatia, esperança em relação
ao futuro, consciência do seu valor e seu lugar
Adaptação X superação no mundo11,12; paciência, tolerância, responsabi-
lidade, determinação, compaixão, autoconfiança,
O primeiro pólo nos sugere a seguinte esperança13. Tais atributos visam uma otimiza-
questão: o processo resiliente consiste em um ção de recursos a serem utilizados frente a situ-
manter-se saudável apesar das adversidades, ou ações de intenso estresse. A resiliência não pode
a resiliência implica em crescimento e desenvol- ser compreendida, nesse caso, como uma sim-
vimento pessoal através das adversidades? ples ausência de sintomas esperados frente a si-
Pensar na resiliência pelo viés “apesar da tuações de intenso estresse e adversidade, mui-
adversidade” nos remete a um esforço do sujei- to menos como um processo de esquiva frente a
to manter suas características anteriores ao con- uma situação de risco. Além da ausência de sin-
flito assistido (adaptação), ou ainda, retornar ao tomas é preciso levar em conta atributos especí-
estado de equilíbrio (homeostase / alostase) an- ficos relacionados ao indivíduo e ao contexto em
terior (“bounce back”). Essa capacidade seria que está inserido.
fruto tanto de características pessoais dos indi- Entender, portanto, a resiliência enquanto
víduos quanto do estabelecimento de vínculos um processo de superação fornece ao pesquisa-
afetivos e de confiança destes com o meio. As- dor uma série de características referentes ao
sim, estes indivíduos conseguem extrair algum indivíduo e ao seu contexto, características es-
aprendizado diante do problema, conseguindo sas que são focadas nos métodos de mensura-
desenvolver comportamentos adaptados ao que ção da resiliência, bem como em estratégias para
é esperado pela sociedade7. fomentá-la.
Já no viés “através da adversidade” en-
contramos a resiliência atuando de tal forma que Fator Inato X Fator Adquirido
o sujeito é caracterizado por um conjunto de qua-
lidades ora resultantes do processo resiliente, ora Seria a resiliência um componente, uma
propiciadores do mesmo (é através das minhas força, uma característica intrínseca da natureza
habilidades e competências que me torno re- humana, ou seja, inata, hereditária, constituída
siliente ou é através do processo resiliente que pelos nossos genes? Ou seria a resiliência cons-
as desenvolvo?). truída socialmente, cabendo ao ambiente estimu-
Aqui a situação de risco é vista como opor- lá-la e desenvolvê-la? Como se dão as correla-
tunidade de superar os próprios limites, constru- ções entre os aspectos genéticos e ambientais
indo uma identidade fortalecida (superação). na formação do indivíduo? “A ênfase em qual-
Logo, a resiliência enquanto modo de superação quer um dos pólos, seja o genético, seja o ambi-
de situações conflitantes traz consigo a possibili- ental, determinará uma tendência que pode ser
dade da experiência traumática ser elaborada de extrema importância na questão dos estudos
simbolicamente, para que, futuramente, sirva sobre resiliência e sua utilização na definição de
como subsídio para novas situações estressan- políticas públicas”5 (p.42).
tes7 (p.229) Tal discussão referente aos fatores inatos
Nesse viés temático encontramos uma e adquiridos é das mais antigas, tanto na psicolo-
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gia como na ciência de modo geral. “Todos, com que não era resiliente passa a ser, e esse proces-
algum bom senso, sabem que os seres humanos so geralmente é descrito através das qualidades
são produto de uma permuta entre os dois. Mas mencionadas anteriormente. Identifica-se, por-
ninguém consegue deter o debate14 (p.11)”. tanto, um indivíduo resiliente através das habili-
Nas produções científicas a respeito da dades e competências definidas como típicas da
resiliência não encontramos esta questão sendo resiliência, esperando que o mesmo atue de acor-
levantada de modo direto. Porém, as ênfases ora do com as habilidades demonstradas perante as
no indivíduo ora no contexto nos remetem à ques- vicissitudes da vida, sejam quais forem.
tão fundamental: quais são os fatores propicia- Ainda dentro da perspectiva permanente,
dores / criadores da resiliência? Pereira16 (p.87) aponta que: “Uma das grandes
Pesquisas que focam capacidades e habi- apostas para o próximo milênio será tornar as
lidades de um sujeito de forma descontextualiza- pessoas mais resilientes e prepará-las para uma
da e que partem do ponto onde a resiliência é certa invulnerabilidade que lhes permita resistir
considerada enquanto um traço ou uma caracte- a situações adversas que a vida proporciona...”.
rística de personalidade estariam mais propen- Corroborando com estas afirmações, Ra-
sas a identificar fatores inatos no processo resi- lha-Simões17 descreve resiliência como uma
liente. suposta invulnerabilidade inexplicável, decorrente
Já as teorias que focam o meio social en- das estratégias diferenciadas pertencentes ao
quanto criador tanto do próprio discurso científi- nível da construção de significado pessoal de
co (enquanto favorecedor de determinados pen- cada indivíduo.
samentos ideológicos) quanto das práticas soci- A grande maioria dos estudos foca a ques-
ais cotidianas, tendem a afirmar que a resiliência tão da resiliência como traço, narrando as com-
se caracteriza por ser uma habilidade social que petências e habilidades envolvidas e mostrando
pode (e deve) ser aprendida e estimulada. como os pais e, principalmente, as instituições
A maioria dos pesquisadores concorda, de ensino devem promover a resiliência11,13,18,19.
porém, que o ambiente e as relações sociais es- Os critérios utilizados pelas técnicas de mensu-
tabelecidas não são meros coadjuvantes no pro- ração de resiliência obedecem à mesma lógica.
cesso resiliente, tornando-se assim protagonis- Outro modo de entender a resiliência en-
tas na história da efetivação da resiliência. O meio contra-se no foco circunstancial. Aqui, a resiliên-
tornar-se-ia então a chave principal de um pro- cia é entendida enquanto uma força, uma estraté-
cesso que possui fortes indícios de possuir com- gia, um conjunto de habilidades utilizado em de-
ponentes inatos. terminado contexto por determinado indivíduo para
lidar com determinada adversidade. Não se trata
Circunstancial X Permanente de ser ou não resiliente, pois resiliência não é uma
característica de personalidade, mas sim um con-
O último pólo a ser tratado reúne de al- junto de ações movidas por determinados pensa-
guma forma as discussões levantadas anterior- mentos e atitudes relativos ao momento5.
mente. Tusaie e Dyer9, ao apontarem que os do-
Quando entendemos a resiliência enquan- mínios da resiliência são específicos do desen-
to uma característica permanente, estamos lidan- volvimento, mudando com as etapas da vida, afir-
do com um traço de personalidade que, teorica- mam que a resiliência não é um traço, mas um
mente, se mantém ao longo da vida, fazendo com estado.
que o indivíduo identificado como resiliente pos- Na mesma linha de raciocínio podemos
sa se recuperar rapidamente de qualquer expe- citar Deslandes e Junqueira7 que entendem a
riência traumática que por ventura venha ocor- resiliência não como um processo estanque ou
rer15. Sempre que a literatura traz termos como: linear, pois os indivíduos podem apresentar-se
“crianças resilientes” ou “tornar os jovens resili- resilientes em determinada situação e não em
entes” deparamo-nos com a idéia de que alguém outras. “Nesse sentido, não podemos falar de
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tribuir para a formulação teórica e operacional las pessoas frente às adversidades, fica claro que
da resiliência. ambos os conceitos estão intimamente correla-
“Coping” é geralmente definido como o cionados.
“conjunto das estratégias utilizadas pelas pesso- Interessante notar, porém, que na literatu-
as para adaptarem-se a circunstâncias adversas ra pesquisada, são poucos os autores que falam
ou estressantes”26 (p.273). Existem modelos di- a respeito de “coping”, e quando o fazem, tra-
ferentes de “coping” na literatura, sendo que as zem-no em um capítulo à parte, sem fazer maio-
produções de Lazarus e Folkman27 tornaram-se res correlações entre os dois constructos.
referência obrigatória para aqueles que preten- Além disso, tanto “coping” quanto resili-
dem estudar o assunto. ência são processos relacionados, ou até mesmo
A definição de “coping” defendida por condicionados a situações de estresse. Enquan-
Lazarus e Folkman27 é focada nas: “constantes to o coping foca a maneira, a estratégia utilizada
mudanças cognitivas e comportamentais na ten- para lidar com a situação, independentemente do
tativa de administrar demandas específicas, in- resultado obtido, a resiliência concentra sua aten-
ternas e/ou externas, que são avaliadas pelo su- ção no resultado da(s) estratégia(s) utilizada(s),
jeito como excedendo ou sobrecarregando os que seria uma adaptação (muito) bem sucedida
recursos pessoais”27 (p. 141). Logo, o “coping” do sujeito frente às adversidades.
é entendido como uma ação deliberada e inten- Conforme Yunes e Szymanski5 (p.31):
cional. “muitas questões vêm sendo feitas ainda sobre o
Lazarus e Folkman27, defensores do “co- que estaria envolvendo o fenômeno da resiliên-
ping” enquanto estratégia, não enquanto estilo cia no que tange ao coping ‘bem sucedido’ dian-
de personalidade do indivíduo (conceito deriva- te das situações de estresse”.
do de outras concepções de coping), definem esse De uma maneira um pouco distinta, alguns
processo de modo que o: autores preferem entender tanto o “coping” quan-
to a resiliência diretamente relacionados com
... foco de atenção está no que a pessoa fatores de personalidade.
está fazendo ou pensando no momento atual,
presente, em contraste com o que a pessoa ha- Fatores de Risco
bitualmente faz, fazia ou deveria fazer, que é o
foco das teorias relacionadas a traços de perso- Estudos sobre resiliência geralmente es-
nalidade. Pensamentos ou ações de coping são tão relacionados com eventos geradores de es-
sempre encaminhados para condições particula- tresse e que aumentam a probabilidade do sujei-
res.27 (p. 142). to apresentar dificuldades, podendo desenvolver
uma série de problemas. Situações assim carac-
Sendo assim, as estratégias podem mudar terizadas recebem o nome de Fatores de Risco.
de momento para momento, durante os estágios De modo geral, “fator de risco” pode ser
de uma situação estressante, bem como durante definido como: “... toda a sorte de eventos nega-
os estágios de desenvolvimento do sujeito. “Dada tivos da vida, e que, quando presentes, aumen-
esta variabilidade nas reações individuais, estes tam a probabilidade de o indivíduo apresentar
autores defendem a impossibilidade de se tentar problemas físicos, sociais ou emocionais.”5 (p.24).
predizer respostas situacionais a partir do estilo Grünspun21 define fatores de risco como os fa-
de coping de uma pessoa”26 (p.284). tores presentes no ambiente econômico, psico-
lógico e familiar que possuem grande probabili-
“Coping” e Resiliência dade de causar danos sociais evidentes.
É importante destacarmos a palavra “pro-
Sendo a resiliência o estudo das pessoas babilidade”, ou seja, o fato de que estar exposto
que se adaptam/superam as adversidades, e o a uma situação de risco não determina o desen-
“coping” o estudo das estratégias utilizadas pe- volvimento de alguma psicopatologia ou compor-
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tamentos de risco, mas está de alguma forma características definidas como fatores de prote-
associada. Não existem estudos experimentais ção, relacionadas às condições do próprio indiví-
sobre o tema e, por isso, mecanismos de causa- duo, às condições familiares e às redes de apoio
ção são desconhecidos. do ambiente. A autora afirma que tais caracte-
Hoje se entende que a presença de con- rísticas são de consenso da maioria dos autores,
seqüências negativas advindas de uma situa- porém não define o que são fatores de proteção,
ção caracterizada como risco dependerá de apenas descreve-os.
uma série de outros fatores (como por exem- Tusaie e Dyer8 definem fatores de pro-
plo, os fatores de proteção), e que o próprio teção como aqueles capazes de proteger os in-
risco se dá de forma processual, não de forma divíduos em situação de risco dos efeitos nega-
estática, uni-causal, linear 5. O risco em si não tivos da mesma. Tais fatores podem ser tanto
nos dá parâmetros avaliativos. É preciso in- individuais como ambientais. As autoras apon-
vestigar o contexto que antecede e os eventos tam também que não está claro o modo como
posteriores ao risco, e, sob essa perspectiva, os fatores de proteção interagem com a pessoa
estudos de longo prazo são mais consistentes que demonstra resiliência. Ou seja, sabe-se que
exatamente por conseguirem abarcar melhor existe uma correlação entre a presença da re-
essa teia de relações. siliência e de fatores de proteção, mas o modo
Entretanto, estudos longitudinais são ra- exato como eles atuam no indivíduo ainda é
ros no tema resiliência. Um destes grandes es- desconhecido. Mesmo assim, elas afirmam que
tudos que serve de base para a maioria das hipó- quando o número de fatores de risco é maior
teses investigadas no campo é o de Werner & que os de fatores de proteção, indivíduos que
Smith28. Esse estudo longitudinal durou cerca de apresentaram no passado resiliência podem
quarenta anos, tendo se iniciado em 19555. acabar apresentando sintomas, sejam físicos,
psicossociais, comportamentais, acadêmicos ou
Fatores de proteção no trabalho.
Diante do exposto, podemos assegurar a
Assim como em fatores de risco, a ex- importância de considerarmos o fato de que a
pressão “fatores de proteção” também é freqüen- presença de um fator de proteção diminui o im-
temente citada na literatura sobre resiliência. pacto da exposição a fatores de risco. Não há
Podemos citar como exemplo a definição de como estabelecer um fator de proteção sem ana-
Tusaie e Dyer8: “Mais além, as interações entre lisar o fator de risco envolvido.
risco e fatores de proteção num nível intrapes- Masten & Garmezy e Werner (apud 5) iden-
soal e ambiental são integrados para a definição tificaram três classes de fatores de proteção (im-
de resiliência” (p.4). portantes para o desenvolvimento infantil):
Na mesma perspectiva, Rutter (apud 29) · Atributos disposicionais da criança,
aponta que é de grande importância para se com- · Coesão familiar,
preender a resiliência, conhecer o modo como · Rede de apoio social bem definida.
as características protetoras se desenvolveram Podemos citar como atributos disposicio-
e como modificaram o percurso do indivíduo. nais: autonomia, auto-estima, atividade e socia-
Guzzo e Trombeta2 afirmam que o equilíbrio exis- bilidade, inteligência e lócus interno de controle.
tente entre fatores de risco e proteção contribui Coesão familiar corresponde ao suporte emoci-
para o desenvolvimento da resiliência. Deslan- onal oferecido por pelo menos um adulto com
des e Junqueira7 definem proteção como o con- grande interesse na criança, bem como a ausên-
junto de influências que modificam e melhoram cia de negligência. Já a rede de apoio social ca-
a resposta de um indivíduo quando este está ex- racteriza-se pelo sentido de determinação indivi-
posto a algum perigo que predispõe a um resul- dual e um sistema de crenças para a vida ofere-
tado não adaptativo. cida pelas instituições sociais (escola, igreja, tra-
Pinheiro29 traz em seu artigo uma lista de balho, etc)5.
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correlação e regressão logística. Nem sempre so? Quais as intervenções que podem ser elabo-
as correlações são altas, mas significativas. Em radas através de tais dados “significativos”?
outras palavras, tal variável pode estar relacio- Para responder a essas perguntas de for-
nada, mas seu grau de previsibilidade para a ocor- ma fundamentada com os achados científicos, é
rência do fenômeno é quase insignificante. preciso, antes de tudo, uma melhor definição ope-
Se uma das grandes propostas dos estu- racional do conceito, de forma mais objetiva, cla-
dos em resiliência, principalmente sobre resiliên- ra e, principalmente, detalhada. É preciso especi-
cia infantil, é a compreensão de como ocorre esse ficar de forma mais direta os comportamentos e/
processo para que intervenções sejam elabora- ou habilidades sociais e cognitivas relacionados
das através dos resultados das pesquisas, fica a ao processo resiliente, separá-los em categorias e
dúvida: o que de fato sabemos sobre o proces- testá-los em populações diversificadas.
Abstract: The present work aimed to investigate in the specialized literature the main definitions
of resilience and its operational concepts. Generally speaking, resilience is understood as the
process in which the individual is able to overcome adversities, adjusting himself in a healthy
way to his context. In view of the diversity of definitions that were found, these were grouped
into three main axes, considering resilience as an adaptation/overcoming process; an innate/
acquired process; a circumstantial/permanent process. Due to the need of understanding other
subjects directly related to resilience, the work presents sections that approach: stress, coping
and their relations with resilience; risk factors, protection factors and vulnerability. It is clear that
there is a lack of clear operational definitions concerning the phenomenon, and it is suggested
that resilience can be understood as a strategy of coping with positive and even transforming
results.
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