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Paulo Monteiro

P2 Manhã – Filosofia Geral e Jurídica


Avaliação da 3ª Unidade
Professor Doutor Newton de Oliveira Lima

Formação da consciência moral alemã como caso especial da arqueologia moral de


Nietzsche: consciência e repressão na cultura alemã

Nietzsche compreende que a consciência moral do indivíduo é marcada pela falta de


pluralidade e, para comprovar isso, elege o homem alemão como metáfora da sua
reflexão. de causas para a produção da. Pois o alemão é o cristão, o luterano, o kantiano,
o romântico – o animal de rebanho. Logo, através dessa arqueologia moral relatada por
Nietzsche em sua obra “Genealogia da Moral”, onde em seu prólogo já inicia com a
questão dos homens do conhecimento são desconhecidos de si mesmos e a razão seria
nunca terem se procurado. Mostra o problema da aceitação das verdades já postas, dos
enunciados já legitimados e naturalizados. E ao pensar sobre a origem dos preconceitos
morais trata da vontade fundamental de conhecimento ratificada na conveniência dos
filósofos. A qual Nietzsche critica com a seguinte metáfora: os frutos das árvores aos
conceitos dos filósofos. E assim questionando-se sobre a busca pela verdade, pelo bem,
pela unicidade nas multiplicidades das coisas, pela igualação dos não iguais.

Nietzsche diz que por fortuna logo aprendeu a separar o preconceito teológico do moral, e
não buscou a origem do mal por trás do mundo e questiona-se sob que condições o
homem inventou para si os juízos de valor “bom” e “mau”. Assim sendo, a formação da
consciência é descrita na primeira dissertação - “Bom e Mau”, “Bom e Ruim” – pelo poder
de responder por si, e com orgulho, ou seja, poder dizer Sim a si mesmo.

O tempo é um elemento para a incorporação dos valores corroborando com as idéias de


Schopenhauer que tratava dos valores não-egoístas, dos instintos de compaixão,
abnegação, sacrifício, com base nos quais diz não à vida e a si mesmo; e tomados como
valores em si. Ao tratar a moral da compaixão, Nietzsche, percebe o caminho ao niilismo.

Através da torturas, dos sofrimentos, da dor, dos castigos, das reparações ( tentativas de
reparações) caminhou a humanidade, e o convite e um direito de crueldade deram foco as
origens dos conceitos morais: “culpa”, “consciência”, “dever”, “sacralidade do dever”; e
tudo cheirava a sangue.
Onde na terceira dissertação expressa o dado fundamental da vontade humana é o horror
ao vácuo, pois é preferível querer o nada a nada querer. E a repressão consiste em dar
esse sentido ao sofrimento, seja sob qualquer ótica metafísica, desde a cosmologia grega
platônica , perpassando à teologia medieval, ao utilitarismo dos ingleses e ao moralismo
kantiano do tu deves. Enquanto Platão afastou a arte da verdade, para Nietzsche era
através desta que o homem tornava senhor de si mesmo e dos outros. A arte nos liberta
de todas as amarras da moralidade e assim nos aproxima da verdade.

Nietzsche critica a forma como o Estado alemão faz o resgaste e exaltação de um


suposto passado comum, que ligaria aos povos germânicos por fatores étnicos, culturais,
linguísticos, políticos e geográficos.

Para o autor de a ¨ Genealogia da Moral¨ esse esforço, esse ideal, tende a ser
manipulado de maneira arbitrária, uma vez que se baseia em valores que se apresentam
como universais e imutáveis, são, na verdade, valores criados e formados por homens, a
fim de justificarem projetos políticos e interesses individuais.

Nesse sentido, o filósofo investiga como o ideal de nacionalismo é apresentado e definido


no processo de formação da cultura alemã, para tanto ele discute a obra dos principais
filósofos alemães, também como o modernismo influência esse novo Estado, além de
como o rompimento causado pela Reforma Protestante de Martin Lutero impactou os
alemães.

Entre os conceitos que Nietzsche investiga tem-se, por exemplo, o debate que ele
estabelece com o "pessimismo" de Schopenhauer, o qual interpreta o mundo como um
espaço indiferente a realidade do homem, não havendo um destino final, e sim uma
realidade marcada pela indiferença as dores, problemas e mazelas do ser humano. Não
há um objetivo final da história, nem muito menos um sentido que recompensaria o
sofrimento da vida humana.

Ao relatar que quando a humanidade não se envergonhava de sua crueldade a terra era
mais contente do que agora que existem os pessimistas, nosso autor, não está fazendo
desejo à guerra, mas sim, a queda das máscaras. O que revolta no sofrimento não é o
próprio sofrimento e sim a sua falta de sentido.

Ao falar sobre o sofrimento, ele enxerga uma possibilidade de aprendizado, até mesmo de
festivo, uma vez que esse sentimento acompanha a humanidade ao longo de toda a sua
história.
Contudo, apesar dele e de Schopenhauer concluírem que a vontade é caos, contradição e
dor, eles divergem a respeito do sentido da arte. Enquanto, Nietzsche revela-se um
entusiasta da mesma, acreditando no seu potencial de redenção, de superação do
falseamento asceticista, Schopenhauer apresenta a arte como negação da vontade uma
fuga da voracidade do querer viver.

Nietzsche apresenta a filosofia e a arte funcionando, cada uma ao seu modo, como
“remédios e alívios” a favor de uma vida se busca se afirmar. Ambas são necessárias
porque a dor e o sofrimento são elementos sempre presentes. Vale ressaltar, que para o
filósofo há dois tipos de sofrimento: o da arte dionisíaca (excesso) e o da escassez, da
falta.

O filósofo crítica fortemente a postura ascetismo, que é uma construção simbólica,


imaginária da realidade, do mundo. A postura de colocar o sentido ou o significado da vida
humana para além do mundo, em uma outra realidade que não há que vivemos, em um
outro espaço que não o presente.

Essa postura ascética presente fortemente na religião, mas também na filosofia platônica
- que influenciou praticamente toda a história da filosofia, e Ciência, é compreendida por
Nietzsche como bastante problemática uma vez que gera o desejo de sacrifício, torturar o
homem com um sentimento de culpa e produz a má consciência, uma introspecção – o
ressentimento.

Ele entende que a postura ascética é comum ao fraco, aos desafortunados da vida que ao
serem incapazes de viverem uma vida melhor, buscam para além do mundo real, de
maneira simultânea, a justificativa para o sofrimento presente e a promessa de uma
redenção. Ao fazerem esse processo, exalta-se o sacrifício que essas pessoas fazem ao
aceitarem a vida ruim que elas levam, a negação ou abdicação da luta pela mudança –
uma aceitação é menos sofredora do que o sofrimento em si, pois é dos humilhados o
reino dos céus.

Diante do exposto e não acreditando ser possível exaurir os questionamentos sobre a


formação da consciência moral alemã como caso especial da arqueologia moral de
Nietzsche baseada na ideia de consciência e repressão na cultura alemã enfatiza-se o
horror que parte do pensamento presente do seu tempo na Alemanha, o horror ao vácuo
e ao caos, a incapacidade das pessoas aceitarem que o mundo não tem nenhuma razão
de ser, nenhum objetivo ou sentido. Fez com que a cultura se apoiasse a uma filosofia
idealista- platônica, a um pessimismo luterano que o homem é pecador e culpado e que
viver é Cristo e morrer é ganho, ou se apegassem a um romantismo de introspecção dos
sentimentos, onde o significado do sofrimento fosse o próprio sofrimento e o verdadeiro
amor é aquele pelo o qual sofro.

Diante de tanta negação da vida, do presente, das amarras sociais, o que restou para os
alemães, foi a cultura dos fracos na tentativa de atribuir sentido a existência como se
esses sentidos existissem por si só e não por vontade da criação deles. Não há um
sentido universal que se apresenta a todos os homens, o que há é o homem,
demasiadamente humano, o certo de suas incertezas e que busca conhecer a si para
depois aos demais, o que valoriza cada instante de sua experiência terrena sempre em
busca de sobrepor a sua vontade de potência, sua vontade de potência vital – de vida.
Nietzsche é o filósofo do futuro e que seus pontos de vistas levam a outros pontos de
vistas. Uma filosofia dinâmica, feita a marteladas e a poesia. E como toda poesia, as
margens de interpretações são amplas e múltiplas, e essa linguagem conotativa nos faz
viajar sem limites de tempo, espaço, sujeitos, perspectivas e argumentos, cheios de
suspeitas pela dimensões de percursos que podem tomar.

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