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pelo gerente de Recursos Humanos que já havia me adiantado o

surpreendentes e um ponto importante de aprimoramento,


a comunicação. Na primeira sessão, mesmo ainda mostrando
certa retração, ele contou vários aspectos da sua personalidade
que revelaram um homem humano e com muita necessidade
de se integrar às pessoas. O administrador de empresas que
eu vou chamar de Heitor acreditava que não tinha o dom da
comunicação. “Às vezes, esqueço o que tenho que falar, me dá um

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especialmente quando está de frente a uma plateia.
Ele fora promovido havia um ano, depois de quase
dispensar o cargo. O receio de se expor, principalmente para
grandes públicos, o impedia de avançar na carreira e também na

que se escondia da vida e das pessoas.


Aos poucos fomos construindo juntos um entendimento
melhor sobre o ‘Eu Comunicador’, como gosto de chamar, por
compreender que tudo passa pela forma como nos comunicamos
e, quanto mais nos conhecemos, melhor transmitimos nossas
mensagens. Não há outra forma para compreender isso; é preciso
olhar através do espelho.

autoconhecimento foi um desenho para retratar como ele se via


HOJE como comunicador. Gosto da abordagem lúdica, porque
extrai do outro o que pode estar escondido e, às vezes, é revelado
de forma mais facilitada do que a partir das palavras. Usando

chinesa Yin Yang. Na explicação que compartilhou comigo,


ele reforçou o sentimento de dualidade. “Às vezes me sinto na
escuridão, outras vezes, sou luz”, disse com um tom de voz mais
baixo, demonstrando uma ligeira insatisfação com seu estado. O

presencial de quase duas horas, a primeira de uma série de dez


que depois seriam feitas a distância (ele mora e trabalha no Rio
Grande do Sul), o gaúcho descendente de italianos percorreu um

minha frente. A conexão entre Coach e Coachee se deu em poucos


minutos a partir da disposição dele em se abrir para encontrar a
própria verdade e, da minha, em mergulhar na história do meu
cliente de forma intensa, com respeito e, principalmente, sem
julgamento.
À medida em que eu lançava questões que ele considerou
instigantes, o caminho para o autoconhecimento foi se abrindo
para que pudesse encontrar as respostas que tanto teve medo de
conhecer. Essa profundidade reveladora permitiu a percepção
de que o maior impedimento para a plena exposição em público

monstro imaginário, acreditei que não poderia me comunicar


bem”, disse.
Como em todo processo de Coaching, o resultado só chega
para quem está disposto a soltar as amarras; e não foi diferente
para Heitor. Cansado de se sentir numa prisão, com medo do
julgamento que a visibilidade propõe, ele tinha a intuição de que
poderia avançar, só não sabia como e a que preço. Mas isso não o
assustava. Ele realmente se entregou à metodologia e demonstrou

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como fazer para se esconder, agora o desejo era o de brilhar.
E isso foi demonstrado no segundo desenho que o convidei

lo, dizendo que a imagem não seria inscrita num concurso de

mesmo: ele deixou o processo acontecer e por isso se libertou.


No primeiro rabisco, a forma não tinha muita exatidão, nem
ele sabia o que queria registrar ali, no papel branco. Mas, aos
poucos, conforme verbalizava como gostaria de se comunicar
depois de viver o processo de Coaching, o sol apareceu. É isso o
que ele deseja: brilhar! Confesso que foi um dos momentos mais
emocionantes desse trabalho. Ver os raios do sol aparecendo
em volta da bola de fogo e ouvir a fala do Heitor colocando para
fora o desejo de usar a comunicação para impactar as pessoas,
reforçou o meu papel como Coach de Comunicação Pessoal. Era
só o primeiro passo para a construção desse trabalho, mas já era

Ofereci a ele a chance de pensar sobre o propósito de


vida. Nem foi preciso avançar muito na explicação, porque

rotina na empresa em que Heitor trabalha. A satisfação e a


consciência de servir a comunidade por meio dos serviços
estão impregnadas no executivo, que até então só não percebia a
relação disso com o poder da comunicação.

maior entendimento do papel dele enquanto comunicador para


alcançar os objetivos pessoais e os da organização. Ele sabia que
era preciso unir as metas, porque somos um só; atuamos em
vários papeis, mas somos um só.
Para compreender como utilizar o próprio potencial e
atingir a meta de se comunicar melhor, apresentei a ferramenta
chamada Lista dos Pontos Positivos e sugeri que ele chegasse
a setenta itens. Esse foi um número que eu criei, na tentativa
de propor um novo olhar para alguém tão acostumado a só
enfatizar problemas, erros e defeitos. Aliás, aprendi a abolir
essas três palavras do meu vocabulário ao entender que
diagnósticos negativos não constroem. Ao enxergar o que é
positivo, qualquer pessoa pode avançar no desenvolvimento dos
pontos de melhoria. Para o executivo, atento a buscar resultados

ele gostou de vivenciar. A lista começou discreta, e foi ganhando


corpo na medida em que Heitor aprendeu a olhar para dentro,
na busca dos próprios recursos para desenvolver o que ainda
faltava para chegar à excelência. Reforçar para si mesmo que tem
conhecimento, é dedicado à causa, humilde, determinado e bom
ouvinte o levou a se gostar mais.
Heitor foi aumentando a lista a cada sessão e o sentimento

pode ter interrupções sabotadoras que levam de volta ao ponto


inicial da não aceitação do que, para os de fora, é evidente. É como
se a pessoa não quisesse aceitar que merece ter determinadas
qualidades ou valores. No caso dele foi só um empurrão para
despertar o que estava escondido. A ampliação da consciência
se apresentou a partir de depoimentos espontâneos, como esse
que o meu Coachee enviou por escrito:

“O sucesso na comunicação não é apenas


o conteúdo, e sim criar em nossas mentes o
cenário que desejamos, a postura adequada
que nos dê mais poder para sermos assertivos,

medo de correr riscos”.

A percepção de que qualquer desejo pode ser programado,


e não dirigido pela mente, deu lugar ao comportamento

atento para não repetir.


O desenvolvimento da comunicação pessoal não é
mas de condições para aumentar a autoestima de forma

regressão. Acreditando na conexão que tinha alcançado com o


meu cliente, conduzi a atividade através do Skype, só a partir da
voz, sem o uso da câmera e também sem música de fundo. Sugeri
que ele fechasse os olhos e encontrasse o momento em que se
revelou o sentimento de inibição. A mente o ajudou a localizar um
determinado ponto da história em que ele tinha apenas quatro
anos de idade. O encontro do homem com o menino permitiu a

garoto que cresceu dentro do executivo deu lugar à sensação de

nas situações de aparição em público.


Antes, dar entrevistas para a imprensa em nome da
instituição provocava intensa ansiedade. O mergulho no
autoconhecimento transformou um momento angustiante em

à de diretor. O desempenho em gravações com jornalistas


aumentou surpreendentemente depois de conhecer técnicas
do programa de Media Training que ministro em instituições
públicas e privadas de todo o Brasil. A voz, antes em tonalidade
mais baixa do que o normal, e as respostas muito curtas davam
a impressão de um homem acuado que subutilizava o próprio

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potencial e deixava de ressaltar os diferenciais da empresa por

condições, Heitor percebeu que a vulnerabilidade é um estado


vivenciado por qualquer pessoa e, como ele mesmo disse: ‘viver
fugindo disso é deixar de viver’.

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