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Sumário
I. Princípios do Direito Administrativo .................................................................. 3
10. Princípio da continuidade do serviço público. ................................................ 3
11. Princípio da subsidiariedade ........................................................................... 5
12. Princípio da proteção da confiança ................................................................ 7
13. Princípio da autotutela ................................................................................... 9
14. Princípio da indisponibilidade....................................................................... 10
II. Poderes Administrativos ................................................................................. 14
1. Poder discricionário e poder vinculado .......................................................... 14
2. Poder hierárquico ........................................................................................... 16
3. Poder disciplinar ............................................................................................. 16
3.1 Processo Administrativo Disciplinar ......................................................... 19
4. Poder regulamentar ........................................................................................ 20
5. Poder de polícia .............................................................................................. 23
5.1 Atributos do poder de polícia ................................................................... 27
5.1.1 Discricionariedade ............................................................................. 27
5.1.2 Autoexecutoriedade ou executoriedade ........................................... 28
5.1.3 Coercibilidade .................................................................................... 29
5.2 Condições para a validade do poder de polícia ........................................ 30
5.2.1 Competência ...................................................................................... 30
5.2.2 Forma ................................................................................................. 31
5.2.3 Finalidade........................................................................................... 31
5.2.4 Proporcionalidade da sanção ............................................................ 31
5.2.5 Legalidade dos meios empregados ................................................... 32
5.3 Polícia administrativa e polícia judiciária ................................................. 33
5.4 Prescrição para o exercício do poder de polícia ....................................... 35
5.5 Ciclo de polícia .......................................................................................... 39
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Direito Administrativo
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir
da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em
livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.
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Vale lembrar que uma das causas de rescisão do contrato administrativo é o não
pagamento por parte da Administração Pública ao contratado. Esse não pagamento pre-
cisa ser superior a noventa dias. Ou seja, mesmo estando o poder público inadimplente,
isso não autorizará ao particular a se opor a dar cumprimento ao contrato, pois, caso o
faça, isso poderia comprometer o serviço público.
É curioso lembrar que Maria Sylvia Di Pietro limita o alcance do artigo 78, XV,
àqueles contratos que digam respeito à prestação de algum serviço público. Se a inter-
rupção do contrato não comprometer o serviço público, segundo Maria Sylvia Di Pietro,
o particular não precisaria esperar o prazo de noventa dias, pois, para ela, como o fun-
damento do artigo 78, XV, é o princípio da continuidade do serviço público, se a inter-
rupção do contrato administrativo específico não comprometer o serviço público, o par-
ticular poderia, a qualquer tempo de atraso, suspender o contrato.
Todavia, o entendimento predominante é de que essa inoponibilidade de exce-
ção de contrato não cumprido vale para todo e qualquer contrato administrativo, de
modo que o atraso pode chegar a noventa dias sem que o particular possa suspender a
execução do contrato.
Encerrando-se o estudo do princípio da continuidade do serviço público, im-
pende notar que, durante muito tempo, a 1ª e 2ª Turmas do STJ divergiram sobre a
possibilidade do corte de fornecimento de serviços públicos, especialmente, quando fo-
rem essenciais. Isso porque, o CDC, Lei nº 8.078/90, prevê que os serviços essenciais não
podem ser interrompidos, conforme o artigo 22, do Código de Defesa do Consumidor.
Por outro lado, a Lei nº 8.987/95, que é posterior ao CDC, no seu artigo 6º, pará-
grafo terceiro, prevê:
Portanto, se o débito for presente, não valendo para débito pretérito, e o sujeito
inadimplente for notificado do débito que deve pagar, sob pena de corte, este poderá
ocorrer, ressalvado o interesse da coletividade. Ou seja, não poderá ser cortada a ener-
gia elétrica da UTI de um hospital, por exemplo.
A jurisprudência tem encaminhado no sentido de que o corte é permitido, o que
não é considerado uma descontinuidade. O artigo 6º, da Lei nº 8.078, tem sido aplicado
pelo STJ, visto que, antigamente, a 1ª Turma não aplicava, aplicando o CDC, ao passo
que a 2ª Turma aplicava a Lei nº 8.987. A 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, já há
algum tempo, consolidou o entendimento de que o corte se torna possível, desde que
ressalvado o interesse da coletividade. O STJ tem sido muito restritivo, tendo impedido
o corte no fornecimento de serviço público em raríssimos casos, com fundamento no
princípio da continuidade.
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do poder decisório para as esferas estatais de poder mais descentralizadas, isto é, que
estejam mais próximas da comunidade.
Recentemente, o Ministro Edson Fachin, proferiu voto sobre a questão relacio-
nada ao amianto, fundamentando no sentido de que a legislação estadual que veda a
comercialização de amianto deveria ser prestigiada, em razão do princípio da subsidia-
riedade. O próprio Estado deveria ter condições de no exercício de sua autonomia ad-
ministrativa avaliar quais produtos podem ou devem ser comercializados no seu âmbito.
Pode-se discordar do voto do eminente Ministro, uma vez que a União já permi-
tiu a comercialização do amianto branco, essa norma deveria prevalecer em detrimento
de uma norma específica sobre a matéria, pois em matéria de competência concorrente,
o Estado deve observar as normas gerais editadas pela União1.Ressalte-se que o princí-
pio da subsidiariedade tem sido mais observado hodiernamente do que no passado pelo
STF.
O ministro Luiz Fux, em caso envolvendo limite de alunos em sala de aula, anali-
sou lei do Estado de Santa Catarina que previu que não poderia haver mais de quarenta
alunos, o que instaurou a discussão, visto que a lei deveria ser de competência da União.
O Supremo Tribunal Federal entendeu que os Estados deveriam ter maior autonomia
para cuidar da sua própria educação.
É notório que o Judiciário, principalmente o STF e o STJ, tendem a prestigiar as
competências da União. Hoje, há movimento contrário a isso, no sentido de prestigiar o
próprio Município e Estado para que se atente à essência do princípio da subsidiaridade.
Ou seja, as esferas estatais mais distantes da comunidade só podem agir quando aquela
mais próxima não tiver condições para resolver o problema, o que tem relação direta
com a autonomia dos indivíduos.
1Nota do Monitor:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas ge-
rais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar
dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe
for contrário.
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Portanto, existem situações em que o ato, a despeito de ser inválido, irá produzir
efeitos jurídicos, ainda que sejam efeitos não desejados pelo ordenamento jurídico, mas
são efeitos jurídicos.
Ademais, é digno de nota que autotutela não se confunde com tutela adminis-
trativa. Tutela administrativa é o controle que a Administração direta exerce sobre as
entidades da Administração Indireta. Enquanto que na autotutela há um controle hie-
rárquico, no âmbito da mesma pessoa jurídica, tutela é expressão que se refere ao con-
trole exercido por uma pessoa em relação aos atos de outra pessoa, o que a administra-
ção direta faz quando controla entidade da administração indireta.
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a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avali-
ação de sua oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha
de outra forma de alienação;
b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da Administração
Pública;
c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação
específica;
d) venda de títulos, na forma da legislação pertinente;
e) venda de bens produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da Admi-
nistração Pública, em virtude de suas finalidades;
f) venda de materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da Adminis-
tração Pública, sem utilização previsível por quem deles dispõe.
§ 1º Os imóveis doados com base na alínea "b" do inciso I deste artigo, cessadas as
razões que justificaram a sua doação, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica
doadora, vedada a sua alienação pelo beneficiário.
§ 2º-A Administração também poderá conceder título de propriedade ou de direito
real de uso de imóveis, dispensada licitação, quando o uso destinar-se: (Redação
dada pela Lei nº 11.196, de 2005)
I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública, qualquer que seja a locali-
zação do imóvel; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005)
II - a pessoa natural que, nos termos da lei, de regulamento ou de ato normativo do
órgão competente, haja implementado os requisitos mínimos de cultura, ocupação
mansa e pacífica e exploração direta sobre área rural limitada a quinze módulos
fiscais, desde que não exceda a 1.500ha (mil e quinhentos hectares); (Redação
dada pela Medida Provisória nº 759, de 2016)
§ 2º-A. As hipóteses do inciso II do § 2o ficam dispensadas de autorização legislativa,
porém submetem-se aos seguintes condicionamentos: (Redação dada pela Lei nº
11.952, de 2009)
I - aplicação exclusivamente às áreas em que a detenção por particular seja com-
provadamente anterior a 1o de dezembro de 2004; (Incluído pela Lei nº 11.196,
de 2005)
II - submissão aos demais requisitos e impedimentos do regime legal e administra-
tivo da destinação e da regularização fundiária de terras públicas; (Incluído pela
Lei nº 11.196, de 2005)
III - vedação de concessões para hipóteses de exploração não-contempladas na lei
agrária, nas leis de destinação de terras públicas, ou nas normas legais ou adminis-
trativas de zoneamento ecológico-econômico; e (Incluído pela Lei nº 11.196,
de 2005)
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Isso gera forte polêmica. Defende-se que, em ambos os casos, a autorização le-
gislativa seria necessária. José dos Santos Carvalho Filho entende que a autorização le-
gislativa poderia ser genérica na alienação de bens móveis e deveria ser específica na
alienação de bens imóveis.
Conclui-se que o legislador deve consentir com a alienação de bens públicos em
razão do princípio da indisponibilidade. Cabe destacar que, ao longo dos anos, esse prin-
cípio foi lembrado de forma conservadora para impedir que a administração pública pu-
desse fazer acordos, transação, conciliação e submeter-se à arbitragem.
Hoje em dia, uma visão mais moderna do direito administrativo postula que a
indisponibilidade não impede que a administração se submeta à arbitragem, nem
mesmo à mediação. A legislação atual de arbitragem e mediação permite que a admi-
nistração se submeta a estes mecanismos de resolução de disputas. Pode ser que a so-
lução alcançada através de processo de mediação ou arbitragem seja melhor do ponto
de vista do interesse público do que uma solução obtida judicialmente. A solução poderá
ser tecnicamente melhor ou mais rápida, a depender do caso concreto. Não se pode, de
antemão, impedir a adoção de mecanismos alternativos de resolução de disputas com
fundamento no princípio da indisponibilidade.
A indisponibilidade se presta para recordar que o administrador possui limites,
foi escolhido para administrar, não para abdicar do interesse público, do patrimônio pú-
blico sem autorização legislativa. Mediação e arbitragem na administração não repre-
sentam, necessariamente, uma abdicação do interesse público, pelo contrário, o inte-
resse público pode ser concretizado de maneira melhor do que seria se a demanda fosse
solucionada no âmbito judicial.
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sentar estudo demonstrando que aquele seu projeto não irá trazer malefícios irreversí-
veis para a sociedade. Percebe-se que há grande subjetividade na avaliação do adminis-
trador, pois a aprovação de EIA ou RIMA não é de simples solução.
Dessa forma, pode haver situação em que a edição de licença, ato vinculado, de-
penda de avaliação tanto quanto discricionária. Logo, resta difícil insistir na divisão entre
poder discricionário e poder vinculado. Não obstante, constitui divisão contida nos ma-
nuais, como na obra de Hely Lopes Meirelles, consistindo em divisão clássica dos pode-
res administrativos.
2. Poder hierárquico
É o poder administrativo que tem como função ordenar, coordenar, organizar a
administração pública. A hierarquia é inerente à administração pública. No âmbito da
administração, existe uma relação hierárquica entre os agentes públicos e até mesmo
entre os órgãos da administração pública, alguns estão subordinados a outros.
O poder hierárquico permite, por exemplo, a delegação de competência, permite
a avocação de competência. Na avocação, a autoridade superior chama para si uma
competência que é do seu subordinado. Lado outro, na delegação, normalmente, há
transferência de competência para um subordinado.
Vale ressaltar que nem sempre a delegação é feita ao subordinado. Portanto,
nem sempre está relacionada ao poder hierárquico. Normalmente, a delegação possui
íntima relação com o poder hierárquico, mas nem sempre.
Logo, o poder hierárquico é inerente à administração. No entanto, alguns auto-
res, como José dos Santos Carvalho Filho, por exemplo, sustentam que não há poder
hierárquico, na verdade hierarquia é um dos atributos da administração, está presente
nesta, de forma que não seria um poder.
Contudo, ainda predomina a compreensão de que poder hierárquico é aquele
que, existindo na administração, permite a prática de todos os institutos ora menciona-
dos. Ademais, destaque-se que, normalmente, o poder hierárquico caminha junto com
o poder disciplinar, mas nem sempre.
3. Poder disciplinar
É o poder que autoriza o administrador a punir, aplicar sanções aos agentes pú-
blicos e demais pessoas que estão subordinadas ao regime jurídico da administração.
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2Nota do Monitor:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois)
anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 61, de
2009)
(...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais
julgados há menos de um ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um
mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
(...)
IV rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público
da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;
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administrador não precisa seguir aquela pena proposta. Todavia, se o administrador di-
vergir da pena proposta, a divergência deverá ser motivada. A Lei nº 8.112/90 detalha
todo o procedimento disciplinar, a punição, o descrédito, as condutas e etc. O artigo 170
dispõe:
Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990
Art. 170. Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade julgadora determi-
nará o registro do fato nos assentamentos individuais do servidor.
Tal dispositivo merece destaque, visto que o sujeito não foi punido, houve pres-
crição, de modo que registrar isso nos assentamentos só serviria para manchar os as-
sentamentos funcionais do servidor. Segundo o STF, o artigo 170 da Lei nº 8.112/90 é
inconstitucional, pois se ocorreu a prescrição, não deve ser registrado que o servidor
não foi punido. Só será registrada nos assentamentos a punição, mas se não houve pu-
nição, não importa o fundamento da extinção da punibilidade, pois a colocação disso
nos assentamentos gerará dúvida no sentido de que só não houve punição em razão da
prescrição, o que pode não ser verdade, visto que pode ser que o sujeito não tenha
cometido a conduta, respondia a um processo e acabou prescrevendo a sanção.
4. Poder regulamentar
É a função de competência do Chefe do Poder Executivo de detalhar previsões
legais genéricas. É através do poder regulamentar que o Presidente da República, que o
governador e que o prefeito esmiúçam, detalham, por meio de decretos, o que o legis-
lador não detalhou.
Para a maioria dos autores, citando-se Hely Lopes Meirelles, o poder regulamen-
tar é de competência privativa do Chefe do Poder Executivo, isso por força do artigo 84,
IV, da Constituição, que assim dispõe:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
(...)
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e re-
gulamentos para sua fiel execução;
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Registre-se, todavia, que alguns autores, como, por exemplo, José dos Santos
Carvalho Filho, sustentam que não é só o Chefe do Poder Executivo que detém compe-
tência para exercer o poder regulamentar. Carvalho Filho aborda os atos de regulamen-
tação de primeiro grau e de segundo grau. Por exemplo, tem-se um decreto, ato que
regulamenta a lei, mas pode haver outro ato, como uma portaria, uma ordem de serviço,
uma instrução normativa, que regulamente ainda mais aquele decreto, o que também
seria um ato de regulamentação, poder regulamentar exercido por outras autoridades
que não o Chefe do Poder Executivo.
Em reforço à tese de que o poder regulamentar não é privativo do Chefe do Po-
der Executivo, cita-se o artigo 87 da Constituição, que cuida das competências dos Mi-
nistros de Estado e assim dispõe:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte
e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições esta-
belecidas nesta Constituição e na lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da admi-
nistração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assi-
nados pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Minis-
tério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delega-
das pelo Presidente da República.
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tratadas por lei, portanto, são regulamentos que inovam no ordenamento jurídico. De
um modo geral, a doutrina não aceita os regulamentos autônomos, ressalvadas situa-
ções excepcionais que a própria Constituição prevê.
Exemplo: Maria Sylvia Di Pietro atenta para exceção muito citada de regula-
mento autônomo prevista na Constituição Federal, que é a hipótese do artigo 84, VI,
alínea a:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
(...)
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e re-
gulamentos para sua fiel execução;
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5. Poder de polícia
Consigne-se que o poder administrativo mais importante para fins de concurso
público é, sem dúvidas, o poder de polícia. Trata-se do poder que gera maiores contro-
vérsias na doutrina e na jurisprudência, também é muito comum perguntarem sobre o
poder de polícia em prova, devendo-se comentar os atributos do poder de polícia, a
diferença entre polícia administrativa e judiciária, delegação, etc.
A expressão poder de polícia é tradução da expressão inglesa police power e, nos
Estados Unidos, ela designa toda e qualquer intervenção estatal que delimita a liberdade
e o exercício da propriedade. Poder de polícia como tradução da expressão police power
significa toda e qualquer intervenção estatal, acrescente-se, inclusive aquelas deflagra-
das pelo poder legislativo, que se destinam a delimitar a liberdade e a propriedade.
O poder de polícia não restringe, não diminui o espaço de propriedade do indiví-
duo, ao contrário, ele delimita e apresenta o alcance das liberdades individuais. Pode
parecer preocupação preciosista, mas não o é, visto que essa lógica gera resultados prá-
ticos, na medida em que, como o poder de polícia apenas esclarece o alcance das liber-
dades individuais e do direito de propriedade, não há diminuição patrimonial e não há,
portanto, qualquer pretensão do indivíduo de receber indenização em razão do regular
exercício do poder de polícia.
Registre-se que poder de polícia é usualmente dividido em poder de polícia em
sentido amplo e poder de polícia em sentido estrito. Poder de polícia em sentido amplo
ou police power, ou poder de polícia, designa toda e qualquer intervenção estatal que
delimita a liberdade e a propriedade, conforme afirmado em na definição inicial dada
pelo professor.
Contudo, há também o poder de polícia em sentido estrito, expressão que pode
ser substituída pela expressão polícia administrativa, caracterizando intervenção por
parte da administração pública, atividade da administração pública que delimita a liber-
dade e a propriedade. Observe-se que no poder de polícia em sentido amplo ou poder
de polícia, tem-se toda e qualquer intervenção estatal que desempenha esse papel e
sempre com fundamento de validade em instrumento introdutor de norma jurídica de
caráter primário, como uma lei, por exemplo.
O poder de polícia deve ter algum fundamento em lei, não pode haver delimita-
ção da liberdade sem qualquer fundamento em lei, pois isso violaria o princípio da lega-
lidade insculpido no artigo 5º, II.
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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan-
tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Cons-
tituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;
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Ressalte-se que poder de polícia não se confunde com serviço público. Serviço
público se materializa através de atividade material que assegura comodidades aos usu-
ários daquele serviço público.
Por exemplo: serviço de telecomunicações. O usuário do serviço possui uma sé-
rie de comodidades em razão da prestação desse serviço público pelo Estado ou por
quem aja em seu nome.
Já no caso do exercício do poder de polícia, tem-se um comando dirigido pela
administração pública ao particular que obriga o particular a fazer ou deixar de fazer.
Normalmente, o poder de polícia se materializa através de uma obrigação de não fazer,
obrigando o particular a não realizar algum tipo de providência.
Por exemplo: não pode ultrapassar o sinal vermelho. A lei estipula essa regra, o
administrador delimita as situações.
Diferentemente da servidão administrativa, é comum os administrativistas
chamarem atenção para o fato de que, no exercício do poder de polícia, normalmente,
o particular está sujeito ao non facere (não fazer), podendo estar também sujeito a uma
obrigação de fazer, ao passo que, na servidão administrativa há uma obrigação de tole-
rar ou de suportar um gravame em determinado imóvel. São obrigações que não se con-
fundem, aquela resultante do exercício do poder de polícia e aquela que decorre da
constituição de uma servidão administrativa.
A servidão é direito real, que obriga o proprietário do imóvel a suportar um gra-
vame. No poder de polícia, a situação é diversa, havendo obrigação de não fazer ou de
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fazer como regra, que nem sempre irá atingir imóveis. São institutos com propósitos
distintos.
Ainda, poder de polícia também não se confunde com poder disciplinar, pois este
último está ancorado por uma supremacia especial, a manifestação estatal atinge pes-
soas que estão sujeitas ao regime disciplinar do Estado.
Por exemplo: um servidor público pode ser punido com uma advertência ou sus-
pensão. Isso é poder disciplinar.
No caso do poder de polícia, a situação é diversa, porque não há vínculo de su-
premacia especial, não há liame jurídico específico que ampare a atuação estatal em
relação àquela pessoa destinatária do poder de polícia, o vínculo é de supremacia geral.
O Estado exerce a função de poder de polícia administrativa em relação a todos aqueles
que se situam em seu território, pouco importando se são servidores públicos sou não.
Não há supremacia especial e sim geral em relação ao destinatário do poder de polícia.
Também do artigo 78 extrai-se a ideia de que todos os entes da federação têm
competência para o exercício do poder de polícia. Cada ente da federação terá compe-
tência em relação às matérias que sejam de sua competência. Quando a competência
for comum, visto que a Constituição Brasileira é permeada pelo federalismo de coope-
ração, incentivando a distribuição da competência ou mesmo o exercício conjunto de
determinadas atribuições.
Por exemplo: matérias de meio ambiente, saúde e educação, em que, nitida-
mente, cada ente terá um papel e, muitas vezes, esses papéis se sobrepõem a um en-
trelaçamento das competências, mas cada um desempenhando papel próprio, especí-
fico.
Quando isso ocorrer, cada ente da federação irá exercer o poder de polícia em
relação às suas matérias. Por vezes, o STF declara a inconstitucionalidade de ato de de-
terminado ente da federação que interfere na competência de outro ente da federação.
Logo, não é raro esse tipo de situação ter de ser apreciada pelo Supremo Tribunal
Federal, um ato estatal que interfere na competência para o exercício do poder de polí-
cia de outro ente da federação.
Por exemplo: no caso do Município de Paulínia, esse ente federado editou uma
lei proibindo a queima da cana-de-açúcar. Paulínia é Município do Estado de São Paulo
em que essa atividade econômica é muito forte e o Município resolveu impedir a queima
da cana para seu corte. Contudo, na legislação nacional há uma regra permissiva da
queima da cana para o corte, de modo que a queima será eliminada gradualmente.
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O Supremo Tribunal Federal teve que se manifestar sobre quem teria competên-
cia desse poder de polícia, se o Município de Paulínia ou a União, na medida em que,
tanto o Município quanto a União têm competência para legislar sobre o meio ambiente.
Nesse cotejo, considerando os valores subjacentes, o Supremo privilegiou a lei
nacional, por entender que a lei nacional havia solucionado a questão, ponderado todos
os valores em jogo, como a livre iniciativa, valorização do trabalho e proteção do meio
ambiente, prestigiando solução mais proporcional.
Será analisada a relevância da proporcionalidade no exercício do poder de polí-
cia, o que também é relevante na distribuição de competências para o exercício do po-
der de polícia. Há casos de competência privativa, em que caberá à União, aos Estados
ou Municípios, mas, na maioria dos casos, essa competência é comum ou mesmo con-
corrente, de modo que o caso concreto permitirá identificar quem deve atuar de forma
preponderante no exercício do poder de polícia.
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5.1.3 Coercibilidade
Interessante notar que, quando da abordagem dos atos administrativos, cita-se
como um dos atributos o da imperatividade. Contudo, ao analisar o poder de polícia,
prefere-se o uso da expressão coercibilidade.
Coercibilidade nada mais é do que a aptidão que o ato de poder de polícia possui
de produzir efeitos, independentemente da anuência do seu destinatário. O Estado,
através da sua administração, não precisa da concordância do particular para que o ato
do poder de polícia produza seus efeitos. Isso decorre da coercibilidade, a administração
pode impor unilateralmente a sua vontade, não pergunta ao particular se concorda com
o que ela está fazendo, ela simplesmente cria aquela obrigação.
Por exemplo: agora, casas da Rua X deverão ser pintadas de branco. Uma exi-
gência que pode parecer desarrazoada, mas, por exemplo, na Grécia existem cidades
que são assim, devendo todas as cassa ser pintadas de branco.
Nesse caso, o espaço de liberdade que o particular possui não o autoriza escolher
a cor da casa em que mora. Existem lugares em que o poder de polícia pode chegar tão
longe a ponto de impedir que o particular pinte a sua casa de determinada cor. Isso não
é perguntado ao particular.
Hodiernamente, há tendência de se estabelecer um diálogo prévio à edição de
um ato estatal. Melhor que ocorra dessa forma, visto que, quando há diálogo a comuni-
dade participa do processo de decisão, esta tende a ser mais facilmente aceita do que
aquela imposta unilateralmente pela administração.
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5.2.1 Competência
É preciso que o poder de polícia seja exercido por uma autoridade que recebeu
competência para tanto. Ainda que se defenda que, como regra, o poder de polícia é
discricionário, se a autoridade competente não editou o ato, foi editado por autoridade
incompetente, o ato é ilegal.
O mesmo deve ser dito em relação à forma.
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5.2.2 Forma
Se o ordenamento jurídico prescreveu a observância de uma determinada forma
para a validade do poder de polícia, não pode o administrador optar por outra forma,
ainda que mais simplificada. Fica atrelado à forma exigida pelo ordenamento e, se hou-
ver algum vício, poderá haver correção, sanatória do vício de forma. Isso é possível, mas
precisa ser observado.
5.2.3 Finalidade
Toda manifestação do poder de polícia se dá por meio de atos administrativos,
ainda que fundados em leis e esses atos devem satisfazer o interesse da coletividade. A
finalidade se preocupa com o interesse público.
A administração não pode editar um ato, no exercício do poder de polícia, que
tenha como finalidade satisfazer um interesse privado, o interesse de algum particular
específico. A administração deve satisfazer o interesse da coletividade.
Por exemplo: uma blitz da Lei Seca deve ser realizada com objetivo de evitar que
as pessoas dirijam embriagadas. Esse é propósito legítimo, deve se preocupar com o
interesse público, não com o interesse de alguém da administração para prejudicar uma
pessoa.
Logo, a finalidade é condição que se relaciona com a preocupação com o inte-
resse público.
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Uma coisa é o normal que acontece usualmente, outra coisa é a situação oposta,
então é bom lembrar que em regra a polícia administrativa tem caráter um caráter pre-
ventivo e a polícia judiciária um caráter repressivo, mas nada impede que o inverso tam-
bém ocorra.
Portanto, são estas as principais diferenças na comparação entre polícia admi-
nistrativa e polícia judiciária.
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Ressalte-se que este tipo de previsão também existe em matéria de punição dis-
ciplinar. O artigo 142 da Lei 8.112 também prevê que, se o ilícito administrativo também
configurar crime, a prescrição será regida pela regra do direito penal.
Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990
Art. 142. A ação disciplinar prescreverá:
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de apo-
sentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo em comissão;
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
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Tradicionalmente, o STJ tem exigido que este envio do tema da prescrição para
a regra do direito penal só ocorra caso a conduta penal esteja sendo apurada em ação
penal, ou seja, caso haja desdobramento do ilícito penal na esfera penal. Pois a conduta
pode configurar crime em sede abstrata, mas sem apuração e mesmo ação penal, a re-
gência da prescrição continuar a se dar pela regra da Lei 8.112.
Defende-se isso também em matéria de poder de polícia, que esta regência só
se faça quando a matéria estiver sendo apurada no âmbito penal, entretanto, o STF pos-
sui decisões recentes, relatadas pela Ministra Carmen Lúcia, em que se sustenta que a
regência do prazo prescricional pela regra do direito penal depende apenas de a conduta
ser tipificada como crime.
Sinaliza-se, desde já, que há, hoje em dia, orientação no Supremo Tribunal Fede-
ral capitaneada pela Ministra Carmen Lúcia em suas decisões relatadas na Segunda
Turma, antes de ocupar a presidência daquele tribunal, em que se defende a regência
pelo direito penal desde que a conduta seja tipificada como crime no âmbito penal. Ou
seja, não precisa haver apuração da conduta.
Logo, pode ser que o STJ compatibilize seu entendimento já consagrado com o
entendimento do Supremo Tribunal Federal. Vive-se momento em que pode haver mu-
dança deflagrada pela nova postura do STF. Ressalte-se que não há decisão do plenário
do STF nesse sentido, havendo apenas decisões da Segunda Turma relatadas pela Mi-
nistra Carmen Lúcia.
Pode ser que as coisas caminhem nesse sentido, em lugar de a regência da pres-
crição se dar pela regra penal só quando a conduta estiver sendo apurada no âmbito
penal, passar a ser regida pelo direito penal caso a conduta seja criminosa. Tal digressão
pode parecer despicienda de relevância, contudo é muito importante no dia-a-dia fo-
rense, pois o prazo prescricional do direito penal, normalmente, é maior do que aquele
previsto no artigo 1º, de 5 anos, podendo representar mudança deveras contundente
com a abordagem da prescrição e com a remessa do tema para o direito penal.
Embora o envio da matéria para o campo do direito penal seja mais comum em
tema de poder disciplinar, mas se o Supremo Tribunal Federal insistir na tese de que
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basta a conduta ser crime para que a prescrição seja regida pelo direito penal, essa ló-
gica também deve ser aplicada ao poder de polícia, conforme previsto na Lei 9.873.
De outro giro, o artigo 1º-A cuida do prazo prescricional para o ajuizamento da
execução fiscal. Constituído o crédito, a administração pública possui um prazo para
ajuizar a execução fiscal.
Lei nº 9.873, de 23 de novembro de 1999.
Art. 1º-A. Constituído definitivamente o crédito não tributário, após o término re-
gular do processo administrativo, prescreve em 5 (cinco) anos a ação de execução
da administração pública federal relativa a crédito decorrente da aplicação de
multa por infração à legislação em vigor. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
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5.5.2 Consentimento
Em termos de consentimento, há a necessidade de o Estado anuir com a prática
de alguma atividade. Algumas atividades são de interesse da coletividade e o seu exer-
cício pode depender do consentimento estatal. Consiste em tema que está na ordem do
dia.
Pergunta: em que caso o Estado pode exigir seu consentimento para a prática de
uma atividade?
Um cantor que pretenda se apresentar em um bar, em uma casa de espetáculos,
não precisa estar inscrito em um conselho, em alguma ordem, obter algum consenti-
mento estatal. O Supremo Tribunal Federal entendeu nesse sentido, pois o tema teve
de ser apreciado pelo STF. O Supremo entendeu que não é constitucional exigir de um
músico que se filie à Ordem dos Músicos do Brasil para se apresentar, pois essa apre-
sentação é fruto de uma manifestação da liberdade de expressão, diz respeito ao de-
senvolvimento do indivíduo, de forma que não é razoável exigir o consentimento do
Estado para esse tipo de atividade.
Hoje em dia esse tema está em voga, visto que a questão do Uber, por exemplo,
questiona se o Estado deve consentir com o transporte de passageiros em carro, se isso
seria uma atividade econômica ou um serviço público. Caso seja atividade econômica,
se ela depende do consentimento, ou em razão da previsão constitucional da livre inici-
ativa, o particular pode desempenhá-la nos termos da lei, se a lei não existe, ele pode
fazer e o diploma legal terá, ainda que superveniente, estabelecer os limites e as exigên-
cias para o desempenho dessa atividade.
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5.5.3 Fiscalização
O significado de fiscalizar é de conhecimento geral, fiscalizar é aferir a compati-
bilidade da conduta do administrado com a ordem de polícia. Este é o objetivo nuclear
da fiscalização.
A fiscalização se dá com caráter preventivo ou repressivo. Ocorrerá antes da vi-
olação à ordem de polícia, em que a administração verifica antes de alguma irregulari-
dade ocorrer se tudo corre bem. Ou então, a fiscalização se dá com caráter repressivo,
isto é, após a prática do ilícito ter se consumado.
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5.5.4 Sanção
Por fim, a sanção de polícia nada mais é do que a etapa do ciclo de polícia em
que o poder público irá aplicar a sanção pelo descumprimento da ordem de polícia, ou
aplicará uma medida de natureza cautelar para evitar a perpetuação da ofensa à ordem
de polícia.
Nunca é demais lembrar que, conforme a classificação defendida por Diogo de
Figueiredo Moreira Neto, a sanção de polícia se divide em pena e constrangimento de
polícia.
A pena de polícia nada mais é do que a punição pelo descumprimento da ordem
de polícia. É a multa, por exemplo, o sujeito que ultrapassou sinal vermelho deverá pa-
gar uma multa.
Já o constrangimento, por sua vez, é medida de natureza cautelar que deve ser
aplicada para evitar a perpetuação da ofensa à ordem de polícia.
Por exemplo: a blitz da Lei Seca. Uma pessoa que está dirigindo seu veículo é
abordada por policiais que fazem parte dessa operação da Lei Seca e não quer soprar o
bafômetro e sofrerá aplicação da pena de multa, pena de polícia. Contudo, essa pessoa
não pode continuar a dirigir o veículo. O veículo só será apreendido, de acordo com o
Código de Trânsito Brasileiro, caso não haja quem substitua o condutor. Se o carona
tiver soprado o bafômetro, poderá assumir o volante, conduzir o veículo3.
Observa-se que a apreensão do veículo não é punição dirigida ao infrator, ao
revés, ela é apenas uma medida de natureza cautelar que tem como propósito evitar
que aquela situação se perpetue. Se não se sabe se o motorista está embriagado ou não,
pois não fez o teste do bafômetro, não pode ele continuar a dirigir.
3Nota do Monitor
Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. (Código de Trânsito Brasileiro)
Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:
(Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. (Redação dada pela Lei nº
12.760, de 2012)
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, observado o disposto no
§ 4o do art. 270 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - do Código de Trânsito Brasileiro. (Redação dada
pela Lei nº 12.760, de 2012)
Art. 270. O veículo poderá ser retido nos casos expressos neste Código.
(...)
§ 4º Não se apresentando condutor habilitado no local da infração, o veículo será removido a depósito, aplicando-
se neste caso o disposto no art. 271. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência):
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gos. Um dos seus artigos, escrito em 1998, dizia respeito à transferência de funções pú-
blicos a entidades privadas, a particulares. Ao longo do texto, Diogo de Figueiredo de-
fendeu que as etapas de consentimento e de fiscalização seriam etapas que poderiam
ser delegadas a particulares. Pois tais etapas diriam respeito a atos de gestão, não se-
riam atos de império.
O particular não pode criar uma obrigação que delimite a liberdade do particular
ou o direito de propriedade, isso só poderia ser feito pelo Estado e com fundamento em
lei, bem como não poderia impor as sanções a outros particulares. Mas os particulares
poderiam avaliar as regras do ordenamento e consentir com a prática de atividades,
bem como fiscalizar.
Ressalte-se que, até os dias de hoje, é comum citarem essa posição esposada por
Diogo de Figueiredo em provas de concursos, postulando que o particular pode exercer
poder de polícia em relação às etapas de consentimento e fiscalização, pois são etapas
que se materializam através de atos de gestão e não atos de império. Em uma prova é
comum concordar com essa afirmação.
Ao final de seu artigo, o professor Diogo de Figueiredo citou um exemplo do que
objetivava ilustrar, de particular que poderia consentir e fiscalizar em matéria de poder
de polícia. Citou os conselhos de fiscalização profissional.
O artigo datava de 1998 e, em 1.998 foi publicada a Lei 9.649, de 98, que, no seu
artigo 58, previu que os conselhos de fiscalização profissional eram particulares e, como
tal, exerceriam poder de polícia, pois exercem poder de polícia nas suas áreas específi-
cas e isso reforçou a tese do professor Diogo de Figueiredo.
Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998.
Art. 58. Os serviços de fiscalização de profissões regulamentadas serão exercidos
em caráter privado, por delegação do poder público, mediante autorização legisla-
tiva. (Vide ADIN nº 1.717-6)
§ 1º A organização, a estrutura e o funcionamento dos conselhos de fiscalização de
profissões regulamentadas serão disciplinados mediante decisão do plenário do
conselho federal da respectiva profissão, garantindo-se que na composição deste
estejam representados todos seus conselhos regionais. (Vide ADIN nº 1.717-6)
§ 2º Os conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas, dotados de perso-
nalidade jurídica de direito privado, não manterão com os órgãos da Administração
Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico. (Vide ADIN nº 1.717-6)
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Entretanto, após o artigo, o Supremo Tribunal Federal julgou a ADI 1717, decla-
rando a inconstitucionalidade dos parágrafos do artigo 58, da Lei 9.649 e afirmando que
os conselhos de fiscalização profissional não seriam particulares, em razão de exercerem
poder de polícia.
EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DIRETA DE IN-
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 58 E SEUS PARÁGRAFOS DA LEI FEDERAL Nº 9.649,
DE 27.05.1998, QUE TRATAM DOS SERVIÇOS DE FISCALIZAÇÃO DE PROFISSÕES RE-
GULAMENTADAS. 1. Está prejudicada a Ação, no ponto em que impugna o pará-
grafo 3º do art. 58 da Lei nº 9.649, de 27.05.1988, em face do texto originário do
art. 39 da C.F. de 1988. É que esse texto originário foi inteiramente modificado pelo
novo art. 39 da Constituição, com a redação que lhe foi dada pela E.C. nº 19, de
04.06.1988. E, segundo a jurisprudência da Corte, o controle concentrado de cons-
titucionalidade, mediante a Ação Direta, é feito em face do texto constitucional em
vigor e não do que vigorava anteriormente. 2. Quanto ao restante alegado na ini-
cial, nos aditamentos e nas informações, a Ação não está prejudicada e por isso o
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Portanto, a ADI 1717 é citada como decisão do Supremo Tribunal Federal que
rejeita a tese de que particular pode exercer poder de polícia. O STF entendeu que os
conselhos de fiscalização profissional não eram particulares, pois exercem poder de po-
lícia e particular não pode exercer poder de polícia. Essa é a tese defendida, por exem-
plo, por Celso Antônio Bandeira de Mello.
Celso Antônio sustenta que, como regra, um particular não poderia exercer po-
der de polícia. O autor apresenta algumas exceções.
Por exemplo: o capitão de um navio seria um particular que, segundo Celso An-
tônio, poderia exercer poder de polícia em relação à tripulação do navio. Tal situação
configura-se tão excepcional que só confirma a regra de que os particulares não pode-
riam exercer poder de polícia.
Essa é a posição do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, sem prejuízo da
tese de que consentimento e fiscalização podem ser exercidos pelo particular. Contudo,
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por vezes, em provas deve-se considerar a posição do Supremo Tribunal Federal em re-
lação a esse tema e, de acordo com a ADI 1717, os conselhos de fiscalização profissional
não são particulares, mas entidades autárquicas e exercem poder de polícia como au-
tarquia, o que não enseja problemas. A delegação pode ser feita a uma pessoa de direito
público, como uma autarquia, ainda que uma autarquia corporativa ou corporativista,
como o Supremo Tribunal Federal ocasionalmente cita.
Portanto, é mais defensável em provas que o particular não pode exercer o po-
der de polícia. Mas, se o particular não pode, cumpre indagar a quem pode ser feita essa
delegação. A delegação só pode ser feita no âmbito da administração pública indireta.
Na administração pública indireta, uma pessoa jurídica de direito público poderia exer-
cer poder de polícia, como o IBAMA, o Instituto Chico Mendes, CVM, as Agências Regu-
ladoras, que são autarquias, ainda que de regime especial.
A descentralização da atividade a uma entidade autárquica pode transferir o po-
der de polícia.
Pergunta: e quanto às empresas públicas e as sociedades de economia mista,
elas podem exercer poder de polícia?
No Estado do Rio de Janeiro houve uma análise deste tema fortemente no caso
da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. A Guarda Municipal do Rio de Janeiro surgiu em
meados da década de 1990, sendo uma das guardas municipais pioneiras no Brasil, sur-
giu como uma empresa pública municipal. Havia numa empresa pública do Rio de Ja-
neiro, a COMLURB, um grupamento de guardas, pois o Prefeito da época, César Maia,
resolveu criar uma nova empresa pública com esse grupamento de guardas, chamada
Empresa Municipal Vigilância S.A., formada por guardas municipais, que começaram a
fiscalizar o trânsito e a aplicar multas.
Diante dessa situação inesperada, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro come-
çou a ser provocado, surgindo decisões no sentido de que guarda municipal é empresa
pública, que não pode exercer poder de polícia, de forma que a multa é ilegal. Não pode
exercer poder de polícia, porque o regime da pessoa jurídica é privado, seus agentes
públicos são empregados públicos, não possuem estabilidade.
Assim caminharam as coisas e, posteriormente, o Órgão Especial do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro começou a validar as multas da Guarda Municipal e, com rela-
ção à questão do regime jurídico dos agentes públicos que trabalhavam na Guarda Mu-
nicipal, não há qualquer problema, hoje em dia, de o poder de polícia ser exercido por
quem é empregado público.
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03.09.99, pág. 25). 'Tendo em vista a orientação desta Corte que, ao julgar a Ação
Direta de Inconstitucionalidade n. 708, decidiu que a revogação do ato normativo
ocorrida posteriormente ao ajuizamento da ação direta, mas anteriormente ao seu
julgamento, a torna prejudicada, independentemente da verificação dos efeitos
concretos que o ato haja produzido, pois ele têm relevância no plano das relações
jurídicas individuais, não, porém, no controle abstrato das normas' (Ação direta não
conhecida, por estar prejudicada pela perda de seu objeto - ADI nº 1280/TO, Rel.
Min. MOREIRA ALVES, DJ 19.12.96, pág. 51765). 13. Ante o exposto, manifesta-se o
Ministério Público Federal pela prejudicialidade da presente ação direta, em razão
de perda de seu objeto. (...)" (Fls. 206-208). Ademais, na ADI 709, Relator o Ministro
Paulo Brossard, o Supremo Tribunal Federal assentou que, "revogada a lei argüida
de inconstitucionalidade, é de se reconhecer, sempre, a perda de objeto de ação
direta, revelando-se indiferente, para esse efeito, a constatação, ainda casuística,
de efeitos residuais concretos gerados pelo ato normativo impugnado." Nas ADI's
221/DF, 539/DF e 737/DF, inter plures, o Supremo Tribunal reiterou o entendi-
mento. Assim decidi, também, na ADI 971/GO e, recentemente, nas ADI's 2.625/PE,
2.858/RJ, 2.889/MG, 2.933/ES, 3.076/CE e 3.078/CE. Do exposto, sem objeto a pre-
sente ação, julgo-a prejudicada (art. 21, IX, do RI/STF). Publique-se. Brasília, 07 de
dezembro de 2004. Ministro CARLOS VELLOSO - Relator (DJ 15/12/2004 ).
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A Guarda Municipal está prevista no parágrafo oitavo do mesmo artigo 144, mas
o dispositivo não a considera órgão de segurança pública.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de
seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
O STF entendeu que o poder de polícia de trânsito não precisa ser exercido por
um órgão de segurança pública. Não há em dispositivo constitucional algum a exigência
de que o trânsito seja fiscalizado por órgão de segurança pública. Além disso, não é difícil
concluir, segundo o STF, que o poder de polícia de trânsito está inserido nas preocupa-
ções do parágrafo oitavo do artigo 144, especialmente quando se refere à proteção dos
bens, serviços e instalações do Município.
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da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em
livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.
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com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e
contra a economia popular.
Mesmo assim, o regime dessas estatais não é totalmente igual ao dos particula-
res, visto que empresas públicas e sociedades de economia mista devem observar con-
curso público, licitações. Inclusive, há a Lei das Estatais, Lei 13.303, já questionada no
Supremo Tribunal Federal na ADI 5624, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, distribu-
ída antes do recesso, no final do ano de 2016. A lei das estatais prevê procedimento
licitatório para todas as estatais, pouco importando se explora atividade econômica em
regime de concorrência ou se atua em regime de monopólio ou não concorrencial.
Portanto, algumas regras atingem todas as estatais.
Em relação ao exercício do poder de polícia, cita-se o caso do IRB Brasil RE, soci-
edade de economia mista que atua na atividade econômica, hoje em regime de concor-
rência, do resseguro. Antigamente, o resseguro era de monopólio da União e o privilégio
era do IRB, sociedade de economia mista. Porém, só quem entendia sobre resseguro era
quem trabalhava no IRB, portanto, quem regulava o setor, quem exercia poder de polí-
cia nesta matéria era o próprio IRB, através de seus funcionários, o que nunca foi ques-
tionado.
Hoje em dia, o resseguro é exercido pela livre iniciativa, consubstanciando ativi-
dade econômica em regime de concorrência, é indefensável que o IRB exerça poder de
polícia. A mesma entidade no passado pôde exercer e exerceu poder de polícia e, hoje,
não pode mais fazê-lo.
Interessante destacar que a Guarda Municipal surgiu de um departamento da
COMLURB, que é empresa de limpeza do Rio de Janeiro, empresa pública. Quando a
Guarda Municipal começou a multar, questionou-se que empresa pública não poderia
multar e exercer poder de polícia, todavia, a COMLURB sempre multou. A COMLURB
multa a pessoa que coloca o lixo no lugar errado e não é matéria de destaque jurídico.
As multas da COMLURB são cobradas e executadas sem maiores problemas.
O problema estaria na presença de atividade econômica em regime de concor-
rência, pois se o particular não pode fazê-lo, a empresa pública e a sociedade de econo-
mia mista também não poderiam.
Imperioso ressaltar que a Lei das PPPs, Lei 11.079, prevê, no seu artigo 4º, a in-
delegabilidade ao parceiro privado do exercício do poder de polícia.
Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004.
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