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ESTUDO DO COMPORTAMENTO
Resumo:
No presente artigo são apresentados estudos desenvolvidos buscando identificar possíveis causas de
deslocamentos não previstos inicialmente, ocorridos durante as obras da Estação Campo Belo,
pertencente à Linha 5 do Metrô de São Paulo.
A Estação Campo Belo é composta por cinco poços de grande diâmetro, aproximadamente 36 m,
secantes, conjugados e executados em etapas alternadas. A estação está inserida essencialmente em
maciço misto de gnaisses graníticos alterados, saprólitos e solos residuais jovens e maduros, com
ocorrência na porção superior de solos da Formação São Paulo.
O suporte para escavação dos poços, no projeto executivo, consistiu de paredes diafragma moldadas in
loco, escavadas com “Clamshell”, de 1,00m de espessura, na zona de ocorrência de solos
(aproximadamente 25m iniciais) e em concreto projetado com espessura variando de 0,20m a 0,40m
na zona de ocorrência de saprólito e rocha (aproximadamente 5m finais).
Durante as escavações, o monitoramento dos poços indicou a ocorrência de deslocamentos
expressivos na instrumentação interna e externa, levando à adoção de medidas adicionais não
previstas pelo projeto original.
São apresentadas considerações sobre os principais aspectos da obra, incluindo geologia, sequência
executiva, sistema de suporte e eventos significativos, como a passagem das tuneladoras e a escavação
na zona de transição entre a parede diafragma e o concreto projetado. Foram realizadas análises
numéricas para retroanalisar o comportamento observado e avaliar a segurança da escavação. As
análises desenvolvidas foram capazes de reproduzir a diferença de comportamento entre cada um dos
poços e a diferença de comportamento entre a zona do poço com parede diafragma e com concreto
projetado.
1 INTRODUÇÃO
No presente artigo são apresentados estudos desenvolvidos objetivando identificar possíveis causas de
deslocamentos não previstos inicialmente pelo projeto executivo, observados durante as obras da
Estação Campo Belo, pertencente à Linha 5 do Metrô de São Paulo.
A Estação Campo Belo é composta por cinco poços de grande diâmetro conjugados, secantes,
executados em etapas defasadas. A utilização de poços de grande diâmetro conjugados tem sido cada
vez mais frequente na escavação de estações metroviárias, com diversos exemplares executados no
Metrô de São Paulo. A opção por poços conjugados permite que se obtenha um grande espaço interno
sem interferências com contenções provisórias estroncadas e escoradas, cumprindo com as exigências
arquitetônicas em sua etapa final (Figura 1).
A escavação da Estação Campo Belo foi realizada com um pré-revestimento de paredes diafragma
moldadas in loco com espessura de 1,00m na zona de ocorrência de solo (aproximadamente 25m
iniciais) e em face aberta com revestimento em concreto projetado com espessura variando de 0,20m a
0,40m na zona de ocorrência de saprólito e rocha (aproximadamente 5m finais).
Durante os trabalhos de escavação final da Estação Campo Belo, deslocamentos expressivos foram
observados tanto na instrumentação externa, em marcos superficiais no entorno da escavação, quanto
na instrumentação interna, em marcos reflexivos, cordas de convergência e inclinômetros instalados na
estrutura. Além de deslocamentos superiores àqueles previstos em projeto, também foram
identificadas potenciais regiões instabilizadas no maciço, levando a adoção de medidas adicionais não
previstas no projeto original.
Os estudos apresentados foram desenvolvidos em duas etapas. Em um primeiro momento foi realizada
uma análise meticulosa dos dados de instrumentação interna e externa disponíveis, cruzados com os
principais eventos da obra. Em um segundo momento foram realizadas análises numéricas com o
objetivo de retro analisar o comportamento observado e avaliar o nível de segurança das escavações.
N
1 2 3 4 5 6 7 8 9
10480
1652 1310 1310 1310 1310 1310 1310 1310 1310 1652
P13 P96
R1
.90
R16
7
R1
7
D0
B0
7.2
B1
D1
P25
7.2
P67
.90
0
R
5
0
P76
16
P34
.9
E07
0
A12
D06
B06
P12 P97
D1
B1
6
6
P24 P66
P35 P77
A11
E08
D05
B05
D17
B17
P11 P98
593
593
P23 P65
P36 P78
FECHO
FECHO
A10
E09
FECHO
FECHO
D04
B04
FECHO
FECHO
R17.20 R17.20
R17.20
EIXO ESTAÇÃO
B18
D18
35 35
P10 P99
P22 P64
593
593
P37 3 P79
E10
D03
ESTE= 155063.18
B03
A09
D19
B19
NORTE=242518.62
E1
A0
D02
B0
B2
8
P08 P101
P39 P81
P20 P62
1
1
2
B0
D0
D2
A0
B2
E1
1
7
2 P40 2 P82
B2 P55
P89 D2
P07 P47 B28 P61 C12 D28 P102
A06 P01 P108 E18
A01 P41 C07 P83 E13
B23 D23
INICIO INICIO INICIO INICIO INICIO
A05 B27 C11 D27 E17
P06 A02 P02 P46 P60 C08 P56 P88
P107 E14 P103
A04 A03 B26 B24 P42 C10 C09 D26 D24 P84 E16 E15
B25 D25
P05 P04 P03 P45 P59 P58 P57 P87 P85 P106 P105 P104
P44 P43 P86
Erro! Use a guia Página Inicial para aplicar 0 ao texto que deverá aparecer aqui. Figura 1: Configuração dos poços múltiplos da
Estação Campo Belo
Figura 2: Estação Campo Belo (Fonte: Metrô São Paulo)
Figura 3: Seção geológica-geotécnica da Estação Campo Belo (Fonte: Metrô São Paulo)
A escavação da estação foi concebida para ser estanque, de maneira que o revestimento primário foi
projetado totalmente em parede diafragma moldada com espessura de 1,00m passando 2m abaixo do
fundo dos poços. Em obra, no entanto, a profundidade original de projeto não foi atingida de forma que
a parede foi executada entre 5 a 15m acima da cota prevista em projeto (Figura 4), presumidamente na
região de ocorrência de saprólito (5Sp) e rocha (5R). O projeto foi alterado e nesta região, o
revestimento primário passou a ser realizado em concreto projetado com 0,20m de espessura. Por isso,
foram executadas estacas raiz de 0,40 m de diâmetro para incorporar as lamelas no material mais
resistente.
Figura 4: Paredes diafragmas executadas - As built, adaptado (Fonte: Metrô São Paulo)
Durante as escavações dos Poços 3 e 5 e particularmente na passagem sob o fim da parede diafragma,
deslocamentos expressivos foram observados em toda a instrumentação interna e externa. No dia 13
de maio ocorreu uma instabilização localizada do maciço na região norte do poço 5, ao mesmo que
tempo em que foi observada movimentação brusca do maciço descrita anteriormente (Figura 8).
Próximo a este ponto, na região de emboque do túnel de via no poço 5, um segmento do túnel já
executado pela tuneladora, encontrava-se danificado (Figura 9). Durante a desmontagem deste anel,
ocorre uma nova instabilização do maciço e perda de solo expressiva, indicando um maciço de
qualidade baixa nesta região.
A escavação sob a extremidade inferior das lamelas causou deslocamentos no maciço muito superiores
àqueles da escavação na zona da parede diafragma e, principalmente nas regiões onde o maciço mais
permeável ficou exposto, ocorreu rebaixamento do lençol freático no exterior do poço, também
induzindo recalques. Esses fenômenos estão esquematizados na Figura 9 e podem ser observados na
Figura 12, quando o PZ 09 apresenta queda brusca ao fim da escavação do poço 2.
Figura – 12 Gráfico comparativo, indicando a leitura dos piezômetros, no eixo
esquerdo, e a leitura dos marcos superficiais mais próximos a este, no eixo direito
Na Figura 13 é apresentado um gráfico que relaciona os recalques medidos no entorno do Poço 4 com a
sua profundidade de escavação. No gráfico é possível observar a diferença de comportamento na zona
escavada com lamela e na zona escavada com concreto projetado.
Outro fato relevante é a escavação simultânea dos Poços 3 e 5. A escavação simultânea resultou em
perturbação devido aos dois poços, sendo, historicamente, a primeira vez que essa sequencia
construtiva foi adotada. Deve ser levado em consideração ainda que na escavação dos Poços 3 e 5 o
maciço já estava carregado e plastificado pelas escavações dos Poços 1, 2 e 4. Ademais, essa
perturbação de tensões deveria ser absorvida por um maciço de pior qualidade relativa ao restante do
poço (maior espessura de solo residual), em especial no Poço 5.
Portanto, concluiu-se que a instrumentação externa apresentou leituras condizentes com o
comportamento esperado da escavação como foi realizada. Por outro lado, este fato não implicaria que
a obra estivesse em situação segura.
Figura 14a: Fim da Escavação Poço 2 Figura 14b: Fim da Escavação Poço 4
14/11/2014 11/03/2015
Figura 14c: Início da escavação Poço 1
Figura 14d: Situação em 30/05/2015
28/01/2016
Figura 17: Deslocamento horizontal no Poço 2 Figura 18: Deslocamento horizontal no Poço 3
Assim como os deslocamentos, o revestimento foi mais solicitado nos poços 3, 4 e 5, sendo que o
revestimento secundário é solicitado especialmente nas vigas de travamento e na região dos emboques,
devido à abertura dos túneis, ocorre um acumulo de tensões circunferenciais no revestimento.
As Figuras 21, 22 e 23 mostram respectivamente as tensões horizontais nas lamelas após a escavacação
de todos os poços, as tensões horizontais no revestimento secundário dos poços 2 e 4, e os
deslocamentos dos túneis de via no emboque do poço 5.
Figura 211: Tensões Figura 22: Tensões horizontais Figura 23: Deslocamento dos
horizontais nas lamelas após no revestimento secundário dos túneis no emboque do Poço5
escavação de todos os poços poços 2 e 4
Embora as três etapas dos estudos desenvolvidos: (1) Análise dos dados de instrumentação; (2) Análise
numérica bidimensional com o programa FLAC2D e (3) Análise numérica tridimensional com o
programa FLAC3D, tenham indicado que os comportamentos observados na escavação dos poços da
Estação Campo Belo estivessem dentro do esperado, dentre os quais se destacam:
• Aumento das deformações quando a escavação atingiu a base das lamelas;
• Comportamento mais crítico na zona de intersecção dos Poços 2 e 3;
• Comportamento mais crítico nos Poços 3, 4 e 5, quando comparados aso Poços 1 e 2.
Considera-se que a velocidade e a magnitude dos deslocamentos geraram preocupação, de maneira que
uma série de medidas são recomendadas para garantia da segurança das etapas finais de escavação.
Dentre as medidas, se destacam:
1. Execução da totalidade dos pilares, até a laje de fundo, na zona de intersecção de todos os poços;
2. Execução de injeções verticais nas proximidades do extradorso do Poço 5 (lado Norte);
3. Execução de enfilagens subverticais por dentro do poço nas proximidades da Lamela 3 (lamela
mais crítica);
4. Execução de reforço estrutural na base das lamelas em todo o contorno do Poço 5.
6 CONCLUSÃO
No presente trabalho foram apresentados os estudos desenvolvidos, e seus resultados, no contexto de
deslocamentos inesperados na escavação Estação Campo Belo. Estes estudos foram capazes de
demonstrar que o comportamento observado ocorreu de acordo com o método executivo empregado
na escavação, havendo um agravamento devido a pior qualidade do maciço na região dos poços 3, 4 e 5.
Medidas adicionais foram tomadas a fim de aprimorar a qualidade do maciço e garantir a estabilidade
estrutural na região do Poço 5. Além disso, um novo plano de escavação permitiu que a escavação fosse
retomada com monitoramento e segurança reforçadas.
A análise da instrumentação esclareceu que os recalques superficiais de até 120 mm observados nos
marcos superficiais estiveram majoritariamente associados ao rebaixamento do lençol freático no
exterior da escavação, possivelmente devido à perda de estanqueidade do pré revestimento em parede
diafragma.
A aceleração dos recalques quando da escavação sob as lamelas ocorreu provavelmente devido a
mudança brusca de um método de escavação pré revestido, com um revestimento de 1,00m de
espessura, para um método em face aberta, com um revestimento de 0,20 m de espessura. Esse
fenômeno explica a movimentação brusca do maciço, condição não prevista pelo projeto, que culminou
na paralização dos trabalhos de escavação.
Os deslocamentos na estrutura superiores à 70 mm se deveram principalmente à ovalização dos poços,
aproximando o comportamento global dos poços conjugado ao de uma vala a céu aberto. Neste caso, a
magnitude destes deslocamentos apontou para a adoção de um reforço estrutural no Poço 5, a fim de
garantir a estabilidade do anel de lamelas. Assim como nos recalques superficiais, os deslocamentos
foram mais expressivos acerca dos poços 3,4 e 5, onde presume-se um maciço de pior qualidade.
As análises numéricas desenvolvidas que contemplaram a estrutura conforme “as-built”, a geologia
assimétrica e a sequência executiva. Estas análises numéricas foram capazes de reproduzir os
deslocamentos observados em campo e aclarar novas informações sobre o comportamento e
estabilidade do maciço e da estrutura. Observou-se que o maciço apresentou plastificação excessiva e
com indicações do surgimento de instabilidades locais durante a escavação logo abaixo das lamelas.
A análise tridimensional foi capaz também de apresentar o efeito de carregamento sobre os túneis
escavados pelas tuneladoras que possivelmente foram responsáveis pelas trincas e fissuras
desenvolvidas próximas ao poço.
Através do estudo desenvolvido e das medidas adicionais adotadas, permitiu-se retomada das
escavações com a segurança apropriada e a definição de níveis de referência de recalque e
convergência até a escavação final da Estação Campo Belo.
7 AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de expressar seus agradecimentos a Companhia do Metropolitano de São Paulo.