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ROMANTISMO
Começaremos a aula finalizando a poesia romântica.
1º Geração – Indianista
2º Geração – Ultrarromântica/Byroniana
3º Geração – Condoreira
O navio negreiro
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
O adeus de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...
A PROSA ROMÂNTICA
Na prosa não houve gerações, havia um contato grande entre os autores. A temática era
uma só. O governo subsidiava autores, pintores, escritores com o objetivo de organizar a
sociedade de acordo com os padrões europeus.
Após a abdicação de Dom Pedro I, que não apresentava um padrão de conduta a ser
seguido, os textos em prosa objetivaram vincular padrões e normas de comportamento.
Nos romances2 românticos, o autor descrevia o resguardo das moças ensinando-as a se
preservarem. Os comportamentos começaram a ser passados como se fossem naturais.
Por conta disso, os romances tinham uma grande carga ideológica. Sua proposta era, de
fato, criar um mundo cor de rosa que seria alcançado se todos agissem da forma prescrita. Eles
foram escritos para serem lidos para as moças.
2 Romance é uma narrativa complexa com muitos personagens, muitos núcleos e muitos tempos.
Nos romances, havia inúmeras cenas que descreviam que antes de comer, as pessoas
iam lavar as mãos. Tudo o romance prescrevia: o que falar, o que fazer, como agir – ele tentou
estabelecer normas para a vida e para o dia-a-dia para gerar uma sociedade organizada.
Além disso, a prosa romântica foi uma literatura feita para formar leitores.
No romance Cinco minutos, o narrador tenta se aproximar do público usando uma
estratégia: ele não tem nome porque quem conta a própria história para alguém, em uma
conversa, não se apresenta. O romancista torna-se mais um personagem da história causando
o mecanismo da projeção.
O atual hábito de ver novelas3 remonta a época do folhetim na qual as famílias se
reuniam para ouvir as narrativas.
Esse mecanismo de projeção criava um vínculo com o leitor mostrando que isso poderia
acontecer com ele.
Aos poucos, as famílias foram percebendo a necessidade de alfabetizar as pessoas.
Alencar foi o primeiro autor a ter um contrato: a cada ano ele tinha que publicar duas novelas.
Os romances de Alencar são para entretenimento, para formar um público leitor.
E por que razão não podemos considerar o romancista a principal personagem da sua
obra?
Assim debatia comigo, ao reler o impetuoso Alencar. Ou melhor, ao ver: a sua obra entra
pelos olhos como um filme, ela é sobretudo sugestão visual, sucessão de quadros vivos
e ousados, com vigorosa concentração de luz sobre os episódios principais e, de vez em
quando, o emprego do estratagema oportuno. Que soberano desprezo da
verossimilhança! Que insolência admirável no seu vá como for, em que o poder de
inventiva leva tudo de arrasto e a poesia tudo encobre! É verdade que não se encontra
profundez alguma nessa riqueza de imagens; trata-se de uma obra construída em
superfície, notável pelo poder descritivo, mas não acode a ninguém procurar nas suas
páginas outra coisa senão o encanto dessa mesma superfície. É belo o espetáculo e
como tal satisfaz.
(MEYER, Augusto. De um leitor de romances: Alencar. In: HOLANDA, Aurélio B. de
(coord.). O romance brasileiro (de 1752 a 1930). Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro,
1952.)
Alencar queria escrever uma literatura brasileira em língua brasileira. Ele privilegiava a
linguagem oral e, por isso, era muito criticado (não escrevia na norma padrão). Em Benção
Paterna no livro Sonhos d’Ouros, ele defendeu a língua brasileira e a literatura brasileira.
Machado herdou o público leitor que Alencar formou.
Machado de Assis defendia que que a literatura brasileira deveria ser universal e a língua
portuguesa dar-nos-ia uma maior difusão.
3 Novela também é um gênero literário entre o conto e o romance. Cinco Minutos, de Alencar, é uma novela.
tiveram por precursores Ênio e Lucrécio; Shakespeare e Milton vieram depois de Surrey
e Thomas Moore; Corneille, Racine e Molière depois de Malherbe e Ronsard; Cervantes,
Ercilla e Lope de Vega depois de Gonzales Berceo, Inigo Mendonza e outros.
Assim foi por toda a parte; assim há de ser no Brasil. Vamos pois, nós, os obreiros da
fancaria, desbravando o campo, embora apupados pelos literatos de rabicho. Tempo
virá em que surjam os grandes escritores para imprimir em nossa poesia o cunho do
gênio brasileiro, e arrancando-lhe os andrajos coloniais de que andam por aí a vestir a
bela estátua americana, e mostrem ao mundo, em sua majestosa nudez: naked majesty.
(...)
Portanto, ilustres e não ilustres representantes da crítica, não se constranjam.
Censurem, piquem, ou calem-se, como lhes aprouver. Não alcançarão jamais que eu
escreva neste meu Brasil coisa que pareça vinda em conserva lá da outra banda, como
a fruta que nos mandam em lata.
(ALENCAR, José de. Bênção paterna. In: Sonhos d’ouro.)
A estreia se dá aos vinte e sete [anos] com Cinco Minutos, série de folhetins do Correio
Mercantil em que esboça o primeiro dos "poemas da vida real". O Guarani, publicado
no mesmo jornal à medida que ia sendo escrito, em três rápidos meses de 1857, é um
largo sorvo de fantasia, que realiza talvez com maior eficiência a literatura nacional,
americana, que a opinião literária não cessava de pedir e Gonçalves de Magalhães
tentara n'A Confederação dos Tamoios. Toda a sua obra, por vinte anos, será variação e
enriquecimento dessas duas posições iniciais: a complication sentimentale, tenuemente
esboçada em Cinco Minutos e A Viuvinha, e a ideali-zação heroica d'O Guarani. (...)
A partir de 1870, estimulado por um contrato com a Livraria Garnier, publica em seis
anos doze romances e um drama, sem contar os que deixou inacabados. (...)
Desses vinte e um romances, nenhum é péssimo, todos merecem leitura e, na maioria,
permanecem vivos, apesar da mudança dos padrões de gosto a partir do Naturalismo.
Dentre eles, três podem ser relidos à vontade e o seu valor tenderá certamente a crescer
para o leitor, à medida que a crítica souber assinalar a sua força criadora: Lucíola,
Iracema e Senhora. (...) Basta com efeito atentar para a sua glória junto aos leitores —
certamente a mais sólida de nossa literatura — para nos certificarmos de que há, pelo
menos, dois Alencares em que se desdobrou nesses noventa anos de admiração: o
Alencar dos rapazes, heroico, altissonante; o Alencar das mocinhas, gracioso, às vezes
pelintra, outras, quase trágico. (...)
Todavia, há pelo menos um terceiro Alencar, menos patente que esses dois, mas
constituindo não raro a força de um e outro. É o Alencar que se poderia chamar dos
adultos, formado por uma série de elementos pouco heroicos e pouco elegantes, mas
denotadores dum senso artístico e humano que dá contorno aquilino a alguns dos seus
perfis de homem e de mulher.
(CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 6 ed. Belo Horizonte: Itatiaia,
1981.)
Não é aqui o lugar adequado à narração da carreira do autor de Iracema. Todos vós
sabeis que foi rápida, brilhante e cheia; podemos dizer que ele saiu da Academia para a
celebridade. Quem o lê agora, em dias e horas de escolha, e nos livros que mais o
aprazem, não tem idéa da fecundidade extraordinária que revelou tão depressa entrou
na vida. Desde logo pôs mãos à crônica, ao romance, à crítica e ao teatro, dando a todas
essas formas do pensamento um cunho particular e desconhecido. No romance, que foi
a sua forma por excelência, a primeira narrativa, curta e simples, mal se espaçou da
segunda e da terceira. Em três saltos estava o Guarani diante de nós; e daí veio a
sucessão crescente de força, de esplendor, de variedade. O espírito de Alencar
percorreu as diversas partes da nossa terra, o norte e o sul, a cidade e o sertão, a mata
e o pampa, fixando-as em suas páginas, compondo assim com as diferenças da vida, das
zonas e dos tempos a unidade nacional de sua obra.
(Discurso proferido por Machado de Assis na cerimônia do lançamento da primeira
pedra da estátua de José de Alencar em 1906)
Leituras:
1. A viuvinha, de José de Alencar.
2. Cinco minutos, de José de Alencar.
3. Senhora, de José de Alencar.
4 Da cadeira de Machado.