Você está na página 1de 5

AULA 4 – LÍNGUA PORTUGUESA

ROMANTISMO
Começaremos a aula finalizando a poesia romântica.
 1º Geração – Indianista
 2º Geração – Ultrarromântica/Byroniana
 3º Geração – Condoreira

3º Geração – Condoreira ou Hugoana1


 Características: forte apelo visual, luta pela abolição da escravatura, grandiloquência,
sensualidade.
O grande expoente da terceira geração foi Castro Alves. Em sua poesia não havia mais o
ufanismo da primeira geração nem a subjetividade inconsequente e irresponsável da segunda.
Existia a ideia do nacionalismo, mas de forma mais crítica envolvendo a luta pela abolição.
Quanto a temática do amor, em Castro Alves vemos algo mais real, o sofrimento é pelo
amor que se realizou, mas não deu certo.
Na primeira geração, a preocupação com a sonoridade era maior. Na segunda geração,
o apelo visual concentrava-se na descrição da mulher, mas ainda é pequeno se compararmos
com a descrição visual que Alves faz em O Navio Negreiro causando choque aos leitores e
ouvintes. O apelo visual e a eloquência eram usadas para convencer as pessoas.
A leitura de O Navio Negreiro serviu para conscientizar o público sobre a escravidão.

O navio negreiro
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Existe um povo que a bandeira empresta


P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia? Silêncio.
Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!


Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,

1 Por conta da influência do escritor francês Victor Hugo.


Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

A perspectiva do amor é completamente diferente da segunda geração: há um encontro


carnal. São textos que mostram um ser humano mais real.

O adeus de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...


E da alcova saiu um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos... séc’los de delírio...


Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
...Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei... era o palácio em festa!...


E a voz d’ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

A PROSA ROMÂNTICA
Na prosa não houve gerações, havia um contato grande entre os autores. A temática era
uma só. O governo subsidiava autores, pintores, escritores com o objetivo de organizar a
sociedade de acordo com os padrões europeus.
Após a abdicação de Dom Pedro I, que não apresentava um padrão de conduta a ser
seguido, os textos em prosa objetivaram vincular padrões e normas de comportamento.
Nos romances2 românticos, o autor descrevia o resguardo das moças ensinando-as a se
preservarem. Os comportamentos começaram a ser passados como se fossem naturais.
Por conta disso, os romances tinham uma grande carga ideológica. Sua proposta era, de
fato, criar um mundo cor de rosa que seria alcançado se todos agissem da forma prescrita. Eles
foram escritos para serem lidos para as moças.

2 Romance é uma narrativa complexa com muitos personagens, muitos núcleos e muitos tempos.
Nos romances, havia inúmeras cenas que descreviam que antes de comer, as pessoas
iam lavar as mãos. Tudo o romance prescrevia: o que falar, o que fazer, como agir – ele tentou
estabelecer normas para a vida e para o dia-a-dia para gerar uma sociedade organizada.
Além disso, a prosa romântica foi uma literatura feita para formar leitores.
No romance Cinco minutos, o narrador tenta se aproximar do público usando uma
estratégia: ele não tem nome porque quem conta a própria história para alguém, em uma
conversa, não se apresenta. O romancista torna-se mais um personagem da história causando
o mecanismo da projeção.
O atual hábito de ver novelas3 remonta a época do folhetim na qual as famílias se
reuniam para ouvir as narrativas.
Esse mecanismo de projeção criava um vínculo com o leitor mostrando que isso poderia
acontecer com ele.
Aos poucos, as famílias foram percebendo a necessidade de alfabetizar as pessoas.
Alencar foi o primeiro autor a ter um contrato: a cada ano ele tinha que publicar duas novelas.
Os romances de Alencar são para entretenimento, para formar um público leitor.

E por que razão não podemos considerar o romancista a principal personagem da sua
obra?
Assim debatia comigo, ao reler o impetuoso Alencar. Ou melhor, ao ver: a sua obra entra
pelos olhos como um filme, ela é sobretudo sugestão visual, sucessão de quadros vivos
e ousados, com vigorosa concentração de luz sobre os episódios principais e, de vez em
quando, o emprego do estratagema oportuno. Que soberano desprezo da
verossimilhança! Que insolência admirável no seu vá como for, em que o poder de
inventiva leva tudo de arrasto e a poesia tudo encobre! É verdade que não se encontra
profundez alguma nessa riqueza de imagens; trata-se de uma obra construída em
superfície, notável pelo poder descritivo, mas não acode a ninguém procurar nas suas
páginas outra coisa senão o encanto dessa mesma superfície. É belo o espetáculo e
como tal satisfaz.
(MEYER, Augusto. De um leitor de romances: Alencar. In: HOLANDA, Aurélio B. de
(coord.). O romance brasileiro (de 1752 a 1930). Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro,
1952.)

Alencar queria escrever uma literatura brasileira em língua brasileira. Ele privilegiava a
linguagem oral e, por isso, era muito criticado (não escrevia na norma padrão). Em Benção
Paterna no livro Sonhos d’Ouros, ele defendeu a língua brasileira e a literatura brasileira.
Machado herdou o público leitor que Alencar formou.
Machado de Assis defendia que que a literatura brasileira deveria ser universal e a língua
portuguesa dar-nos-ia uma maior difusão.

Sobretudo compreendam os críticos a missão dos poetas, escritores e artistas, nesse


período especial e ambíguo da formação de uma nacionalidade. São estes os operários
incumbidos de polir o talhe e as feições da individualidade que se vai esboçando no viver
do povo. Palavra que inventa a multidão, inovação que adota o uso, caprichos que
surgem no espírito do idiota inspirado: tudo isto lança o poeta no seu cadinho, para
escoimá-lo das fezes que porventura lhe ficaram do chão onde esteve, e apurar o ouro
fino.
E de quanta valia não é o modesto serviço de desbastar o idioma novo das impurezas
que lhe ficaram na refusão do idioma velho com outras línguas? Ele prepara a matéria,
bronze ou mármore, para os grandes escultores da palavra que erigem os monumentos
literários da pátria.
Nas literaturas-mães, Homero foi precedido pelos rapsodes, Ossian pelos bardos, Dante
pelos trovadores. Nas literaturas derivadas, de segunda formação, Virgílio e Horácio

3 Novela também é um gênero literário entre o conto e o romance. Cinco Minutos, de Alencar, é uma novela.
tiveram por precursores Ênio e Lucrécio; Shakespeare e Milton vieram depois de Surrey
e Thomas Moore; Corneille, Racine e Molière depois de Malherbe e Ronsard; Cervantes,
Ercilla e Lope de Vega depois de Gonzales Berceo, Inigo Mendonza e outros.
Assim foi por toda a parte; assim há de ser no Brasil. Vamos pois, nós, os obreiros da
fancaria, desbravando o campo, embora apupados pelos literatos de rabicho. Tempo
virá em que surjam os grandes escritores para imprimir em nossa poesia o cunho do
gênio brasileiro, e arrancando-lhe os andrajos coloniais de que andam por aí a vestir a
bela estátua americana, e mostrem ao mundo, em sua majestosa nudez: naked majesty.
(...)
Portanto, ilustres e não ilustres representantes da crítica, não se constranjam.
Censurem, piquem, ou calem-se, como lhes aprouver. Não alcançarão jamais que eu
escreva neste meu Brasil coisa que pareça vinda em conserva lá da outra banda, como
a fruta que nos mandam em lata.
(ALENCAR, José de. Bênção paterna. In: Sonhos d’ouro.)

Alencar chamava suas narrativas de ‘poemas da vida real’. O indianismo na poesia e no


romance não aconteceram no mesmo tempo. Alencar foi publicando vários romances que se
passavam nos mais diversos cenários: nos pampas, no sertão, na Corte.
O Guarani é a história de um índio que se apaixona por Cecília, a filha de um português.
No final do livro, acontece um grande diluvio, ele salva Cecília e juntos constroem a nova pátria.

A estreia se dá aos vinte e sete [anos] com Cinco Minutos, série de folhetins do Correio
Mercantil em que esboça o primeiro dos "poemas da vida real". O Guarani, publicado
no mesmo jornal à medida que ia sendo escrito, em três rápidos meses de 1857, é um
largo sorvo de fantasia, que realiza talvez com maior eficiência a literatura nacional,
americana, que a opinião literária não cessava de pedir e Gonçalves de Magalhães
tentara n'A Confederação dos Tamoios. Toda a sua obra, por vinte anos, será variação e
enriquecimento dessas duas posições iniciais: a complication sentimentale, tenuemente
esboçada em Cinco Minutos e A Viuvinha, e a ideali-zação heroica d'O Guarani. (...)
A partir de 1870, estimulado por um contrato com a Livraria Garnier, publica em seis
anos doze romances e um drama, sem contar os que deixou inacabados. (...)
Desses vinte e um romances, nenhum é péssimo, todos merecem leitura e, na maioria,
permanecem vivos, apesar da mudança dos padrões de gosto a partir do Naturalismo.
Dentre eles, três podem ser relidos à vontade e o seu valor tenderá certamente a crescer
para o leitor, à medida que a crítica souber assinalar a sua força criadora: Lucíola,
Iracema e Senhora. (...) Basta com efeito atentar para a sua glória junto aos leitores —
certamente a mais sólida de nossa literatura — para nos certificarmos de que há, pelo
menos, dois Alencares em que se desdobrou nesses noventa anos de admiração: o
Alencar dos rapazes, heroico, altissonante; o Alencar das mocinhas, gracioso, às vezes
pelintra, outras, quase trágico. (...)
Todavia, há pelo menos um terceiro Alencar, menos patente que esses dois, mas
constituindo não raro a força de um e outro. É o Alencar que se poderia chamar dos
adultos, formado por uma série de elementos pouco heroicos e pouco elegantes, mas
denotadores dum senso artístico e humano que dá contorno aquilino a alguns dos seus
perfis de homem e de mulher.
(CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 6 ed. Belo Horizonte: Itatiaia,
1981.)

As características do romance romântico são:


 Histórias de amor: o amor confere sentido à vida, dá forma ao caos;
 Heróis e heroínas: são os protagonistas da história e seus traços físicos
simbolizam sua capacidade de amar (maniqueísmo);
 Individualismo burguês: ninguém está preocupado com o outro;
 Protagonistas fortíssimos;
 Defesa do casamento: literatura moralista, supervalorização da família.
A estátua do Alencar só foi construída em 1906, mas a Praça Alencar já existia desde
antes. Ele morreu aos 40 anos. Machado quis colocar Alencar como imortal, mas ninguém
queria. Então, Machado colocou-o como patrono de sua própria cadeira4.

Não é aqui o lugar adequado à narração da carreira do autor de Iracema. Todos vós
sabeis que foi rápida, brilhante e cheia; podemos dizer que ele saiu da Academia para a
celebridade. Quem o lê agora, em dias e horas de escolha, e nos livros que mais o
aprazem, não tem idéa da fecundidade extraordinária que revelou tão depressa entrou
na vida. Desde logo pôs mãos à crônica, ao romance, à crítica e ao teatro, dando a todas
essas formas do pensamento um cunho particular e desconhecido. No romance, que foi
a sua forma por excelência, a primeira narrativa, curta e simples, mal se espaçou da
segunda e da terceira. Em três saltos estava o Guarani diante de nós; e daí veio a
sucessão crescente de força, de esplendor, de variedade. O espírito de Alencar
percorreu as diversas partes da nossa terra, o norte e o sul, a cidade e o sertão, a mata
e o pampa, fixando-as em suas páginas, compondo assim com as diferenças da vida, das
zonas e dos tempos a unidade nacional de sua obra.
(Discurso proferido por Machado de Assis na cerimônia do lançamento da primeira
pedra da estátua de José de Alencar em 1906)

Na aula extra comentaremos os romances.

Leituras:
1. A viuvinha, de José de Alencar.
2. Cinco minutos, de José de Alencar.
3. Senhora, de José de Alencar.

Leituras para a próxima aula (aula 5):


1. Contos de Papéis avulsos (“Teoria do medalhão” e “O espelho”) e crônicas selecionadas.

4 Da cadeira de Machado.

Você também pode gostar