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UMA PERSPECTIVA RACIONAL DA ESPIRITUALIDADE

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1. Introdução
A busca do sentido da vida é uma busca solitária, grande parte dentro de nós
mesmos.

O coração (e/ou a intuição) é a pedra de toque da espiritualidade. É a motivação para


a busca. Toda acção criativa tem por base a intuição, incluindo o conhecimento cientifico
convencional. A espiritualidade não é excepção. Contudo o impulso criativo dá-nos
apenas a pista inicial.

Para que compreendamos a espiritualidade é necessário sentir esse impulso do


coração, que nos leva a descobrir as verdades gravadas na nossa consciência.

Se o leitor encontra na vida material toda a sua razão de viver, imagino que não
estará, por agora, motivado para entender a espiritualidade de uma forma suficientemente
profunda.

A racionalidade é o guia que limita as divagações da intuição, o teste de coerência que


impede a crendice e os disparates grosseiros. É o trabalho mais maçudo e que exige mais
paciência, mas sem ele estamos sujeitos a toda a ordem de erros e ilusões evitáveis.
Como em tudo na vida, a análise racional é o guia seguro e inteligente, no que se refere à
comprovação. Sem recurso prévio à intuição a análise racional é demasiado lenta. Não é
uma ferramenta muito criativa (embora o processo dedutivo seja de ter em conta.
Obviamente). O homem perde-se em divagações teóricas, se não tem um objectivo claro
e pré-definido pela intuição.

No estado actual da humanidade terrestre dificilmente encontraremos provas


cientificas inequívocas que nos conduzam à espiritualidade. Já foram realizados no
passado, e continuar-se-ão a realizar no futuro, estudos que indiciem fortemente a
existência de evidências cuja explicação se encaixa perfeitamente na espiritualidade
apoiada na razão.

Provavelmente o leitor já se está a questionar sobre a utilidade da descoberta da


espiritualidade para nós. Para entender isso, temos de recorrer a uma ferramenta
importantíssima: o auto-conhecimento. Já há mais de 400 anos antes de Cristo, o sábio
grego Sócrates, segundo os documentos escritos deixados por Platão, concluiu isso.

Com base no auto-conhecimento, podemos confessar a nós mesmos as verdadeiras


motivações que estão por detrás da nossa própria conduta.

A vaidade (excesso de zelo, ou culto da imagem), o orgulho (não admitir as próprias


limitações e preferir “ter razão” à descoberta e revelação da verdade), o egoísmo (ver os
outros apenas como máquinas biológicas, sem sensibilidade à dor e direitos alheios), a
inveja, o ciume, a visão materialista da vida, em suma, somada a uma interpretação
errada e exagerada do saudável instinto de sobrevivência que está na base do facto de
estarmos associados a um corpo de carne, impede-nos de ser o mais felizes possivel na

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terra.

Sem instinto de sobrevivência não sobreviveríamos mesmo, neste duro planeta, mas é
preciso relativizar as coisas. A verdadeira felicidade não está na matéria. A falta do
essencial, essa sim, pode ser traumática e até fatal. A obrigação de manter o nosso corpo
saudável é prioritária. Mas o trabalho não tem apenas esse objectivo.

Não devemos abreviar o tempo de passagem neste planeta, sob risco de ter de voltar
a ter uma nova existência neste mundo, ou noutros mundos ainda mais precários. No
momento em que partirmos deste mundo entenderemos isso com mais clareza, como
mais à frente se explica. E será muito grande a nossa desilusão, quando estivermos em
situação de ver vida da perspectiva correcta (nós somos espiritos imortais e não meras
máquinas biológicas. O nosso corpo de carne é um envoltório provisório que tomamos
porque, de momento, é o que mais nos convém – entendamos ou não porquê).

A espiritualidade não é, de forma alguma, uma forma de nos demitirmos das nossas
responsabilidades e deveres terrenos. Nem sequer um impedimento ao gozo material/
carnal, que, usufruído com moderação, de forma a não prejudicar ninguém e não sendo
tomado como objectivo de vida, pode servir como um pequeno divertimento, nos nossos
tempos livres, para nos distrair um pouco da pressão constante e inegável, que a
precariedade deste mundo (seja para quem for) implica.

Um dos objectivos da nossa presença na terra é o desenvolvimento da inteligência e


da sensibilidade moral. Sem o trabalho e sem consciência plena da nossa situação actual,
não estaremos em condições de poder progredir espiritualmente. Felizes e sensatos os
que trabalham e tentam ser úteis para si mesmos e, simultaneamente, para os outros.

Para terminar a introdução esclareço que não lhe quero impingir nem vender nada. O
meu nome e contactos são omitidos propositadamente. Entreguei isto para publicação e
divulgação gratuita, na Internet. Grato a Deus por tudo o que já me foi dado desvendar, é
a minha obrigação e um prazer contribuir como um pequeníssimo instrumento de que
Deus se serve para o(a) motivar a encontrar o sentido da sua própria vida. Assim o
resultado desta publicação o confirme.

A publicação destas pistas visa motivar a sua própria busca e não convencê-lo de
coisa alguma. Não se iluda. Sem estudo, trabalho, perseverança, esforço de auto-
conhecimento, não pode encontrar a verdade que liberta e que impede a infelicidade que
o jugo, seja por parte de quem for, ou do que quer que for, lhe poderá trazer.

Um amigo agradecido a Deus.

21 de Fevereiro de 2010
VAS

“Por favor seja feliz!” - Raul Solnado (1929-2009)

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2. Princípios basilares da espiritualidade


Para entender a espiritualidade, ou seja, para entender a vida de um modo completo,
é preciso ter uma perspectiva correcta das coisas. Neste capitulo o objectivo é
estabelecer os princípios fundamentais que norteiam a correcta compreensão da
espiritualidade.

Existem obras escritas que explicam tudo há milénios. Mas essas obras podem
encarar-se de várias perspectivas. A humanidade, em geral tem encarado as palavras
daqueles que, em várias épocas, encarnaram na terra com a missão de revelar a
realidade da vida aos homens, num sentido mais material do que espiritual. A obra de
Jesus de Nazaré é a expressão máxima que foi dado à humanidade obter. Mas, para ser
entendida, de forma mais profunda, carece da compreensão prévia dos princípios
basilares.

A existência de religiosos profissionais, que, como toda a gente, têm de assegurar a


respectiva sobrevivência e que estão sujeitos ao erro e ao jugo das suas más inclinações,
nem sempre assegura a necessária isenção e independência. Nem sequer devemos, em
consciência, exigir a perfeição deles, pois também não somos perfeitos.

A mensagem espiritual vai passando de geração em geração e sendo revelada, de


acordo com as capacidades daqueles que a transmitem e daqueles que a recebem. Nem
todos estão em condições de compreender, uns por umas razões, outros por outras. Por
consequência menos estão ainda em condições de a explicar. Contudo, o progresso
espiritual é uma lei da natureza. Pode demorar mais ou menos tempo, mas é inevitável.

2.1. O que é Deus?


Definição de Deus:

– Deus é a Inteligência Suprema, Causa primeira de todas as coisas.

Há quem conceba que a origem do universo tem por base a combinação fortuita da
matéria. Mas não é isso o que diz a ciência convencional.

A ciência convencional aponta a combinação fortuita da matéria como consequência


do desenvolvimento do universo, mas não como a razão da sua origem.

A teoria em vigor na actualidade é a teoria do Big-Bang. Mas essa teoria apenas diz
que o universo foi criado, ou seja, que não existia antes. Não explica, nem admite
qualquer hipótese que nos leve a concluir da razão pela qual o universo existe.

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Será que é necessário existir uma razão para a existência do universo?

– Imagino que sim. Pois podemos sempre colocar a hipótese de que o universo
poderia não existir. Se existe deve haver uma razão para isso. Aquilo que não faz
sentido para mim é pensar que, de nada, pode sair algo, que é a consequência a
extrair da concepção ateísta e materialista do universo.

O universo, uma obra tão inteligente, tão acima ainda da própria compreensão
actual do homem, terá sido criado pela matéria estúpida?

– O universo denota claramente que há uma inteligência imensa, por detrás do


mesmo. Tudo o que não é obra do homem, e que é deveras mais complexo do que
as obras do homem, deve ter uma origem inteligente. Tal como não faz sentido
pensar que a natureza é que produziu o computador em que estou a escrever, sem
intervenção humana, será que faz sentido pensar que sistemas altamente
complexos, de base tecnológica tão inteligente que o homem ainda nem entende
completamente, tenham sido criados sem a intervenção de uma inteligência.

O meu objectivo não é descrever aqui o processo de formação do universo nem a


explicação dos desígnios de Deus. O meu orgulho não vai tão longe que eu não
compreenda que a minha inteligência está demasiado abaixo destas coisas para as
compreender e mais ainda para as explicar. Mas não está tão abaixo que eu não seja
capaz de admitir e defender a tese da existência de Deus (de acordo com a definição
acima). É preciso não ter preconceitos, seja de que espécie for, para conseguir abordar
estas coisas de uma forma racional. Se não provas cientificas que nos provem a
existência de Deus, também não as há que provem o oposto. Contudo a ideia da
existência de Deus faz mais sentido do que o ateísmo. Compreender que Deus existe de
sempre e para sempre não é para nós humanos da terra, mas não contradiz, em nada, a
ciência actual.

É preciso distinguir o que diz a ciência das mistificações que algumas pessoas acerca
da mesma, tanto do lado dos cépticos, que na realidade não têm bases reais para o ser,
como do lado dos religiosos.

Sendo Deus o criador do universo, não é difícil que imaginar que será Perfeito e que
terá todas as qualidades no máximo grau. Entre essas qualidades, saliento aquelas que
devem nortear o estudo da espiritualidade:

– A infinita bondade do Criador;


– A justiça perfeita da criação;

Não me parece possivel interpretar correctamente a espiritualidade sem considerar


estas duas qualidades divinas.

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2.2. O que é o universo?


Numa perspectiva espiritual, o universo é constituído de três elementos essenciais:

– O espírito (o elemento inteligente universal), que não é tangível nem detectável


pelos nossos instrumentos humanos. Aqui na terra apenas podemos
percepcionar as consequências da existência do espírito, entre as quais a
inteligência (contudo muitíssimo limitada pelos órgãos materiais de que nos
servimos para a expressar, começando no cérebro).
– A matéria (para nós um agregado de elementos químicos simples,
representados na denominada tabela periódica, embora hajam outras formas de
matéria que nos são, por enquanto, desconhecidas).
– Por fim, e acima de tudo, Deus.

Entre o espírito e a matéria existe um elemento intermediário, que serve de ponte


entre o espírito e a matéria. Há quem o considere englobado na matéria, e quem o
considere um quarto elemento. É tudo uma questão de palavras. Contudo não é tangível
aos nossos sentidos. De notar que a nossa interacção com o resto do universo ultrapassa
largamente o que é tangível.

Admitindo a existência (ou pelo menos a possibilidade da existência) de Deus, vamos


tentar compreender o que é o homem.

2.3. No meio disto tudo o que é o homem?

Numa perspectiva espiritual, o homem encarnado (no nosso caso, no planeta terra) é
constituído por:

– Espírito (ou alma), que é a essência inteligente do homem, ou seja a parte do


homem que têm uma natureza correspondente ao elemento inteligente universal.
Que é imortal.
– Corpo de carne (que é provisório, como todos sabemos), que é constituído de
matéria
– Perispirito ou corpo espiritual (que tem uma constituição intermédia, entre a matéria
e o espírito), que acompanha sempre o espirito.

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Quando o homem perde o corpo de carne (morre), a sua natureza passa a ser:

– Espírito (ou alma), que é a essência inteligente do homem, ou seja a parte do


homem que têm uma natureza correspondente ao elemento inteligente universal.
– Corpo de carne (que é provisório, como todos sabemos), que é constituído de
matéria
– Perispirito ou corpo espiritual (que tem uma constituição intermédia, entre a matéria
e o espírito.

Habitualmente também se chama “espírito” ao homem desencarnado, ou incorpóreo.


Portanto a palavra espírito pode ter duas acepções distintas:

– A de essência inteligente;
– A de ser incorpóreo (essência inteligente mais perispirito):

A partir de um certo grau de desenvolvimento, os espiritos deixam de ter de encarnar


(ter corpo de carne, como nós temos). E, por fim, atingirão o estado de espiritos puros, ou
seja, completamente felizes. Mas isto ainda está muito distante para nós. Penso que não
vale muito a pena pensar nisso, para já.

O homem mantém sempre a sua individualidade, quer no estado de espírito


(incorpóreo), quer encarnado. Senão seria uma sucessão de vidas distintas e não uma
sucessão de vidas do mesmo ser. No estado de encarnado, a manifestação e a
percepção do espírito está limitada pelo corpo de carne, que é como se fosse uma lente
muito opaca. E as suas memórias de existências anteriores só excepcionalmente são
lembradas. Em mundos como a terra é assim, mas em mundos superiores não é. Quanto
maior o progresso do espírito, mais próximo é o estado encarnado/ desencarnado e mais
feliz é a sua existência. As dependências e necessidades materiais são cada vez
menores, à medida que o espírito progride.

Não somos, então, seres que vão tendo várias existências distintas, mas espiritos
eternos, ou seja temos uma só existência global, faseada, de acordo com o nível moral e
intelectual dos mesmos. Mas, como a criança é diferente do adulto, sem ser outra pessoa,
assim os espírito se vão modificando, deixando o jugo das suas limitações ou defeitos,
que o impedem de ser feliz. Reconhecer no espírito puro o espírito simples e ignorante de
que partiu, não será possivel (a não ser para o próprio, talvez).

A terra não é mundo destinado à felicidade, ao contrário da ilusão que muitas pessoas
têm. É um mundo de passagem para outros mundos mais felizes. Mas podemos ser tão
felizes quanto as nossas circunstâncias permitirem, se impedirmos, tanto quanto possivel,
que as outras pessoas, os nossos defeitos e as nossas desvantagens nos oprimam.

Os mundos como a terra é actualmente, destinam-se essencialmente ao


desenvolvimento dos espiritos rebeldes, que rejeitam o que é melhor para si mesmos,
embora exista uma grande variedade de níveis morais e/ou intelectuais.

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Existem na terra pessoas mais próximas da brutalidade animal e, no extremo oposto,


pessoas que são espiritos moralmente e intelectualmente elevados que estão aqui em
missão.(o espírito moralmente elevado é sempre intelectualmente elevado, o oposto é
que não é necessariamente verdade. Há espiritos intelectualmente já bastante
desenvolvidos e cujo corpo de carne permite a manifestação dessa inteligência, que são
moralmente insensíveis),

A sensibilidade moral só se começa a adquirir a partir de um certo grau de


desenvolvimento intelectual (não se confunda a inteligência do espírito com a inteligência
do homem. Como um excelente musico não pode ter uma prestação muito boa com um
mau instrumento, podem existir pessoas que são espiritos muito inteligentes com corpos
que não lhes permitem manifestar a sua própria inteligência. No extremo estão os
deficientes mentais profundos, que podem ser espiritos muito inteligentes, mas
completamente impedidos de o manifestar enquanto no corpo de carne).

2.4. De onde provém o homem? Como é que se deve entender a


justiça divina?
A origem dos espiritos é desconhecida. Contudo a lógica indica-nos que o Criador tem
de preceder a obra que criou. Logo os espiritos têm um inicio, embora, umas vez criados,
não mais tenham fim, tanto quanto me é dado saber. No estado mais puro (mais
adiantado), os espiritos estão em condições de conhecer/ compreender directamente o
Criador. E São completamente felizes. Mas isso é o topo da escala que leva muitos
milénios (não faço ideia quantos) a alcançar.

Os espiritos são criados simples e ignorantes. Todos partem do mesmo ponto, e todos
chegarão ao mesmo destino, mais depressa ou mais devagar, conforme o seu mérito.

Na fase inicial os espiritos estão apenas a desenvolver a sua inteligência. Nesse


estado são as “almas” dos animais. A partir de certo grau de inteligência começam a
encarnar como homens. Inicialmente na mesma condição dos homens primitivos que
habitaram a terra, situação em que pouco diferem dos animais mais inteligentes, como os
chimpanzés, por exemplo. Depois vão-se desenvolvendo e encarnado em corpos
progressivamente mais sofisticados. Chegarão, por fim, a um ponto em que já não
necessitam de encarnar mais. O trabalho das criaturas, dos vários níveis, serve também
para manter e fazer progredir os mundos.

O tipo de trabalho, depende da fase de desenvolvimento, como é lógico. A espécie de


alma que anima uma abelha, transfere o pólen de umas plantas para as outras,
cooperando assim a reprodução das mesmas. O homem inteligente tem um trabalho mais
intelectual. Os espiritos que já não encarnam, comandam e encaminham os outros, já não
fazem mais tarefas materiais. Cada vez o trabalho é intelectualmente mais sofisticado e
menos material.

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Mas existe sempre trabalho. A diferença é que os espiritos mais desenvolvidos não se
cansam, nem trabalham por obrigação, mas por amor e com prazer. Se os espiritos
estivessem parados para a eternidade isso seria o tédio eterno e não a felicidade eterna.

A justiça divina está no facto de todos os espiritos partirem do mesmo ponto (simples e
ignorante), com as mesmas oportunidades de progredir e com o mesmo destino final
(espiritos completamente felizes). Tal como dois atletas de condição física idêntica, que
disputam uma corrida leal, assim os espiritos vão progredindo mais depressa ou mais
devagar, com o seu esforço e o seu nível de treino, e com o auxilio de espiritos mais
desenvolvidos.

No inicio os espiritos apenas trabalham motivados pelo instinto de sobrevivência,


embora dotados de mecanismos de progresso mais ou menos automáticos. Quando
encarnamos como animais estamos mais próximos uns dos outros, embora vamos
encarnando em espécies cada vez mais inteligentes. Temos já individualidade, mas não
consciência da mesma.

Depois encarnamos como homens, ainda motivados apenas pela necessidade de


sobrevivência material. A paixão exagerada pela matéria e pelas coisas da carne, é um
sintoma desse estado em que o homem ainda é um bruto.

A partir de certo grau de inteligência, a sensibilidade moral começa a germinar. É


então que começam as paixões mais complexas: O ciume, a inveja, o orgulho, o egoísmo,
etc. geram ressentimentos. As más paixões não são um sinal de desenvolvimento, pelo
contrário, mas são um sinal de desenvolvimento intelectual.

É então que o homem se pode tornar rebelde demais. Em vez de aproveitar as


encarnações para progredir, começam a desviar-se dos objectivos que seriam o melhor
para si mesmos, porque os conduziria a mundos melhores mais rapidamente (apesar
todas as fases tenham o seu tempo próprio, não se podem saltar fases).

A terra, no seu estado actual, é dos mundos onde encarnam muito desses espiritos
rebeldes. Sendo o criador infinitamente bom, previu nas suas leis que esse tipo de
espiritos teriam de tomar o remédio amargo, que cura mas que custa muito a tomar. Caso
contrário andaríamos para a eternidade infelizes. Por isso, Deus criou a lei do progresso,
que força ao progresso.

De qualquer modo, o essencial, é que não há espiritos prejudicados nem espiritos


beneficiados em relação a outros. Todos partem do mesmo ponto e têm os mesmos
meios de progresso. Em suma, as regras são iguais para todos e só podemos
compreender a vida através de uma janela de tempo de centenas ou milhares de anos.
Uma vida na terra é um instante na eternidade.

O peso relativo real das coisas não é o mesmo que o peso que nós lhes damos a cada
altura.

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Se tivermos um dor de dentes horrível, parece-nos que o mundo vai acabar. Não
conseguimos pensar noutra coisa. Mas, passada a dor, relaxamos e continuamos a nossa
vida. Se formos inteligentes, fazemos tudo é para não voltar a ter dores semelhantes.
Assim o que nos parece nesta vida um acontecimento terrível, que nunca mais acaba,
depois da morte do corpo perde toda a sua importância.

Contudo alguns sofrimentos morais continuam depois do desencarne. Tal como na


terra, o jugo das más inclinações impõe-se, sendo a maior causa das nossas
infelicidades. Vemos pessoas ricas, jovens, fisicamente perfeitas, a lamentar-se
amargamente e pessoas sem braço e sem pernas a pintar com a boca quadros que
poucos são capazes de pintar com as mãos, com um sorriso estampado no corpo.

O invejoso sofre quando vê que os outros têm mais do que ele, o egoísta sofre quando
vê alguma coisa a ir para os outros, em vez de ir para ele. O avarento sofre se precisa de
gastar algum dinheiro da sua enorme fortuna.

Ninguém é completamente feliz aqui na terra, mas depende apenas de cada um, e
apenas de cada um de nós, ter aqui uma felicidade relativa.

Se, em vez de nos vitimizarmos, de ter ressentimentos contra os outros e contra nós
mesmos, deixando a inteligência livre para trabalhar ao nosso serviço e também para o
beneficio geral, sempre que nos for possivel, seremos, todavia muito mais felizes.

Se em vez de nos iludirmos, pensando que a nossa felicidade depende apenas das
coisas da carne e da matéria, em geral, sofreremos ao pensar que tudo vamos perder,
mais tarde ou mais cedo.

Se nos tentarmos consolarmos no álcool, nas drogas, numa alimentação desregrada,


prejudicando o nosso próprio corpo, somos suicidas e perdermos este tempo de exílio
aqui na terra. O suicídio consciente, rápido ou lento, de qualquer espécie, é sempre um
grande tormento para os espiritos. Para além disso têm de voltar para aqui ou para um
mundo não superior, passar por provas idênticas ou piores.

Deus não castiga ninguém, em minha opinião, mas também não vai passar de classe
o cábula, em detrimento daquele que teve boas notas na escola. A velocidade do
progresso depende do esforço de cada um. Ninguém é beneficiado nem prejudicado
em relação a outrem, do ponto de vista espiritual. Se formos muito teimosos e
persistirmos no mal, contudo, seremos encaminhados para existências que impõem cada
vez mais sofrimento, pois o progresso não é facultativo.

As classes da escola da vida são os vários mundos diferentes, uns mais avançados e
felizes, e outros mais atrasados e precários.

Para males muito graves, os remédios são mais agressivos. Mas o espírito tem
sempre de ter mérito, passando as provas e desafios a que está sujeito, para progredir.

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E pode sempre amenizar muito os seus sofrimentos e dar a volta por cima, tanto
quanto a inteligência lhe permitir, se souber reagir positivamente.

Permita a si próprio a busca em si mesmo e nas coisas do espírito. Leia a bibliografia


para aprofundar o assunto. Os livros em bibliografia são aqueles que me serviram de
base.

Deixo, por último um poema que o meu pai terreno, que muito amo, escreveu:

Deus está aqui

Deus está em todo o lado


deste mundo em que vivemos,
Também está em noutros mundos
Que nós desconhecemos

Ele mostra-se em todo o momento,


para nos indicar o caminho.
Está sempre disponível,
Com todo o amor e carinho.

Mas nós, com o nosso orgulho,


Não conseguimos compreender,
O caminho que Ele indica,
e que nos está a oferecer

Eu Te peço meu Deus,


quando eu estiver enganado,
Dá-me um sinal que eu compreenda,
que estou no caminho errado

ASR

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BIBLIOGRAFIA

– “O Livro dos Espíritos ” - Allan Kardec ( O primeiro a ler, em minha opinião)

– “O Evangelho Segundo o Espiritismo” - Allan Kardec (compreender Jesus de Nazaré)

– O Céu e o Inferno - Allan Kardec (tem comunicações de vários espiritos, em situações


diferentes, a descrever o seu desencarne e os tempos que se lhe seguiram)

– Obras póstumas de Alllan Kardec (apontamentos publicados depois do desencarne


de Kardec)
Allan Kardec

Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de Outubro de 1804 — Paris, 31 de Março de


1869)
Académico especializado em Matemática e Pedagogia, interessando-se mais tarde pela
Física, principalmente o Magnetismo.

Como escritor, dedicou-se a tradução e a elaboração de obras de cunho educacional.

Sob o pseudónimo de Allan Kardec, notabilizou-se como o codificador[do Espiritismo,


também denominado de Doutrina Espírita.

Algumas organizações e sites relevantes

– ADEP – Associação Divulgadores Espiritismo de Portugal (contém entrevistas nos


meios de comunicação social)

www.adeportugal.org

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