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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007

Atividade Econômica e Desenovlvimento Humano em Minas Gerais

Renato de Oliveira Moraes (UFOP e Fead-Minas) renato@decea.ufop.br


Janderson Damaceno dos Reis (UFOP) jandersonreis@decea.ufop.br
Priscila Maria Santiago Pereira (UFMG) priscila.santiago@yahoo.com.br

Resumo
Este trabalho apresenta uma análise dos dados sobre indicadores da atividade econômica e
qualidade de vida nos municípios de Minhas Gerais. Os dados utilizados foram obtidos
através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Análise dos dados foi feita através do coeficiente
de correlação bivariada de Pearson, análise fatorial e análise de conglomerados. Ao
contrário do que se imaginava, não foi encontrada uma relação positiva grande entre este
dois construtos – atividade econômica e qualidade de vida – nos municípios de Minhas
Gerais. A baixa correlação – entre 0,15 e 0,36 nos diferentes grupos de municípios – sugere
que a relação entre os dois construtos esteja sendo condicionada a outros elementos.

Palavras chave: Atividade Econômica, Qualidade de Vida, Municípios de Minhas Gerais.

1. Introdução
Espera-se que o crecimento econômico seja acompanhado de ume lehora da qualidad de vida.
Caso isto não possa ser comprovado, fica difícil justificar as inciativas e os esforços do poder
público para estimular o crescimento econômico. Alguns autores sugerem que esta em sempre
é observada empricamente. Young e Lustosa (2003) mostram indústria brasileira acabou se
especializando em fornecer ao mercado internacional bens gerados por atividades
potencialmente poluentes. Este impacto, se generalizado para o contexto social, levaria a uma
degradação da qualidade de vida nas regiões de maior intensidade da atividade econômica.
Segundo Ribeiro e Lisboa (1999), “a sociedade sobrevive dos benefícios gerados pelas
atividades econômicas, bem como sofre os impactos destas”. Quando a atividade econômica
gera algum efeito nocivo ao meio (contaminação das águas, do ar, dos solos, extinção de
espécies animais, vegetais e minerais etc) há um reflexo qualidade de vida da população
Este trabalho apresenta uma análise dos dados sobre indicadores da atividade econômica e
qualidade de vida nos municípios de Minhas Gerais. Os dados utilizados foram obtidos
através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Seu objetivo era identificar as condições nas quais
a relação entre estes dois construtos – atividade econômica e qualidade de vida – era mais
intensa. Assim o problema da pesquisa poderia ser formulado da seguinte forma, sob quais
condições atividade econômica apresenta uma maior influência no crescimento da qualidade
de vida?

2. Metodologia
Este é um trabalo exploratório que faz uso exclusivo de dados secundários obitos nos sites do
IBGE (www.ibge.gov.br) e PNUD (www.pnud.org.br). Os dados dos 853 municípios de
Minas Gerais tulizados foram:
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ƒ Nome do Município
ƒ Valor Agregado da Agropecuária
ƒ Valor Agregado da Indústria
ƒ Valor Agregado da Serviços
ƒ Valor Agregado da Administração pública
ƒ Impostos
ƒ Produto Interno Bruto do Município (PIB)
ƒ População
ƒ PIB per capita (PIB/População)
ƒ Esperança de vida ao nascer
ƒ Taxa de alfabetização de adultos
ƒ Taxa bruta de frequência escolar
ƒ Renda per capita
ƒ Índice de esperança de vida (IDHM-L)
ƒ Índice de educação (IDHM-E)
ƒ Índice de PIB (IDHM-R)
ƒ Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
As primeiras 8 variáveis referem-se a tividadese econômica e as 8 variáveis inais a qualidade
de vida no município.
Foi utilizada para a análise a versão 12.0 para microcomputadores do software SPSS
(Statiscal Package for the Social Science)

3. Análise dos dados


Uma análise prévia dos dados revelou que um grande número de correlações bivariadas
estatisticamente signficativas entre as variáveis utilizadas na análise. Isto motivou a realização
de uma análise fatorial. Algumas variáveis não participaram deste processo devido aos
resultados iniciais do coeficiente KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) obitido e das comunalidades
extraídas. O resultado final da análise fatorial gerou um coeficiente 0,749 para o KMO e um
nível de significância inferior a 0,1% para o Teste Esfericidade de Barlet (cuja hipótese nula é
que a matriz de correlações é uma matriz identidade). O valor das comunalidades extraídas
das variáveis esteve entre 0,763 e 0,997. Os dois fatores extraídos neste processo explicam
88,5% do comportamento das variáveis originais. A tabela 1 mostra as variáveis utilizadas
neste processo e as cargas fatoriais após rotação ortogonal pelo processo Varimax.
Fatores Extraídos
Variáveis 1 2
Índice de Des. Humano Municipal (IDH-M) ,993 ,107
Índice de PIB (IDHM-R) ,921 ,138
Taxa de alfabetização de adultos ,912 ,089
Renda per capita ,879 ,236
Índice de educação (IDHM-E) ,875 ,147
Índice de esperança de vida (IDHM-L) ,873 -,011
Esperança de vida ao nascer ,873 -,011
PIB ,113 ,987
VA Serviços ,091 ,983
VA Administração pública ,108 ,970
Impostos ,044 ,969
População ,110 ,965
VA Indústria ,129 ,922
Tabela 1: Cargas fatorias
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È fácil, em função dos resultados obtidos, interpretar os fatores extraídos. O primeiro fator
refere-se a atividade econômica do município, e o segundo fator refere-se a qualidade de vida
do município.
A análise da conglomerados foi feita com base nos fatores extraídos e não com as variáveis
originais. Isto permitiu que os dois construtos utilizados – atividade econômica e qualidade de
vida – tivessem o mesmo peso neste processo. Inicialmente foi utilizado o método hierárquico
para determinar o número de grupos a serem formados. A formação dos grupos foi feita
através de um método não hierárquico de forma a tentar maximizar as diferenças entre os
grupos. Os municípios foram então divididos em 6 grupos, conforme mostra a tabela 2
Variáveis Grupos
1 2 3 4 5 6 Todos
Quantidade de 272 372 1 4 203 1 853
Municípios no Grupos
VA Agropecuária 4.735,65 8.034,53 5.110,92 47.398,77 18.399,39 0,00 9.621,01
VA Indústria 2.883,59 10.328,85 4.073.189,98 1.599.275,8 81.835,60 4.506.226,41 42.456,99
1
VA Serviços 10.089,93 17.012,76 1.829.639,82 1.577.581,4 85.627,23 8.472.892,28 50.490,50
3
VA Administração 6.035,67 7.180,14 241.719,75 309.958,10 24.133,22 1.612.257,76 14.426,22
pública
Impostos 119,07 1.218,65 1.564.824,56 470.144,66 10.473,68 2.659.457,40 10.218,92
PIB 17.683,15 36.180,71 7.453.293,33 3.614.274,0 192.842,89 14.421.832,95 109.904,30
7
População 9.175,67 10.459,82 310.810,00 428.149,75 35.385,12 2.200.740,00 20.860,68
PIB per capita 2.017,28 3.405,48 23.980,22 8.693,26 6.463,92 6.553,17 3.743,28
Esperança de vida ao 66,02 70,16 71,76 71,86 72,97 70,52 69,52
nascer
Taxa de alfabetização 0,72 0,84 0,91 0,94 0,89 0,95 0,82
de adultos
Taxa bruta de 0,73 0,72 0,83 0,85 0,76 0,88 0,74
freqüência escolar
Renda per capita 105,42 178,19 203,22 349,25 270,21 557,44 178,16
Índice de esperança de 0,68 0,75 0,78 0,78 0,80 0,76 0,74
vida (IDHM-L)
Índice de educação 0,73 0,80 0,89 0,91 0,85 0,93 0,79
(IDHM-E)
Índice de PIB 0,54 0,63 0,66 0,75 0,70 0,83 0,62
(IDHM-R)
Índice de Des. Humano 0,65 0,73 0,78 0,81 0,78 0,84 0,72
Municipal (IDH-M)
Tabela 2: Grupos de municípios formados
O grupos 3 e 6 contém apenas um município cada. Eles correspondem a Betim e Belo
Horizonte, respectivamente. O grupo 4 contém 4 municípios de grande atividade econômica
quando comprados com os demais municípios do interior: Contagem, Ipatinga, Juiz de Fora e
Uberlândia. As demais cidades se dividem entre os grupos 1, 2 e 5. A tabela 3 mostra os
centros dos grupos formados e a figura ilustra graficamente os centros destes grupos. Os
grupos 1, 2 e 5 vão das cidades com menor nível de atividade econômica e qualidade de vida
(grupo 1) para um grupo com maior nível de atividade econômica e qualidade de vida (grupo
5). Belo Horizonte se destaca tanto em termos do nível da atividade econômica como da
qualidade de vida. Betim, apesar de sua atividade econômica ser inferior ao centro do grupo 4,
possui uma qualidade d vida mais elevada.
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Grupos
1 2 3 4 5 6
Qualidade de Vida 175 252 279 425 347 632
Atividade Econômica 45.987 82.381 15.473.477 7.999.384 430.298 33.873.407

Tabela 3: Centro dos grupos formados na análise de cluster (dados não padronizados)
Atividade Econômica

Qualidade de Vida

Grupo 1
Grupo 2
Betim
Contagem, Ipatinga, Juiz de Fora e Uberlândia
Grupo 5
Belo Horizonte

Figura 1: Centros dos grupos formados na análise de conglomerados


Como o objetivo do trabalho é determinar tendências entre os construtos que são o foco deste
trabalho – atividade econômica e qualidade de vida – as análises seguinte se voltam para os
grupos 1, 2 e 5.
Para uma melhor comparação entre estes três grupos foi feita uma comparação entre o valor
médio das variáveis originais. Para isto foi utilizada uma análise de variância com análise post
hoc através da estatística de Tamhane que revelou que existe sim diferenças no valor médio
de todas variáveis entre os 3 grupos .
Com exceção do Valor Adicionando da Administração Pública entre os grupos 1 e 2
(significância de 7,%, não há evidência estatística de que sejam distintos) , e a População
entre os grupos 1 e 2 (significância de 32,5%, as médias da população nestes grupos não são
diferentes), os valores médios de todas as variáveis são únicos nos grupos ao nível de 5% de
significiância.. O que leva a conclusão que os grupos formados na análise de conglomerados
são realmente distintos entre sí.
Em cada um deste grupos foi medida a correlação bivariada entre os fatores extraídos –
atividade econômica e qualidade de vida. Os resultados estão na tabela abaixo
No grupo 4, com apenas 4 municípios, não encontraca correlação estatisticamente
significante. Nos grupos 1 e 2 a corrleção é estatiscaente signficativa, porém baixa com poder
de explicação de (r2) de 2,3% e 3,1%, respecitvamente. No grupo 5 a corrleação é maior, mas
o poder de explicação (r2) ainda deixa a desejar – 12,6%.
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Grupo Coeficiente de correlação de Pearson entre atividade econômica e qualidade de vida


1 Coeficiente = 0,153
Significância = 0,011
2 Coeficiente = 0,177
Significância = 0,001
3 Só existe um município. Não é possível calcular correlação
4 Coeficiente = -0,126
Significância = 0,874
5 Coeficiente = 0,355
Significância = 0,000
6 Só existe um município. Não é possível calcular correlação
Todos Coeficiente = 0,313
Significância = 0,000
Tabela 4: Correlações entre atividade econômica e qualidade de vida

Consideraçãoe Finais
Nota-se que em alguns grupos de cidades analisadas, a correlação entre crescimento
econômico e qualidade de vida se mostrou muito baixa. Ou seja, apesar da existência de
crescimento econômico nestes municípios houve uma a qualidade de vida da população
residente nos mesmos pouco foi afetada. Este fato evidência o ocorrido com o Brasil ao longo
das últimas décadas (70, 80 e 90), onde o país em termos brutos obteve um considerável
crescimento econômico e grande parte da população uma queda na qualidade de vida.
A queda nos índices de qualidade de vida da população destes municípios pode ser
considerada como uma forte evidência da má distribuição de renda nestes municípios. Houve
uma apropriação deste aumento de riqueza por pequenos grupos, o que só piora a distribuição
de renda nestes municípios.
Outro fator a ser levando em consideração é que grande parte dos municípios mineiros que
apresentaram uma baixa correlação entre o crescimento econômico e a qualidade de vida, são
municípios de menor expressão econômica e de baixa população e industrialização.
Historicamente no Brasil a má distribuição de renda é mais expressiva nos municípios mais
pobres e menores, pois, há uma considerável apropriação das riquezas da região por pequenos
grupos “mais esclarecidos” da população.
Nos municípios maiores e mais ricos a apropriação da riqueza por pequenos grupos é mais
difícil, devido a inúmeros programas sociais, que buscam melhorar o nível de
desenvolvimento humano da população e até mesmo a grande quantidade de capital humano
existente nestes grandes centros.
Parte destas grandes cidades podem investir mais em programas sociais o que melhora os
indicadores de qualidade de vida da população.

Referências
HAIR JR., J. F. et all. - Multivariate Data Analysis - New York, Macmilan Publishing Company, 1998.
RIBEIRO, Maisa de Souza eLISBOA , Lázaro Plácido Balanço Social . Revista Brasileira de Contabilidade.
Num 115, jan/fev/99, Brasilia – DF
YOUNG, C. E. F. e LUSTOSA, M. C. J.Meio Ambiente e COmpetitividade na Indústria Brasileira

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