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DISCIPLINA: Humanidades e TURMA: A SEMESTRE/ANO

Cidadania 1°/2014
Matrícula: 14/0049401
Prof. Dra. Vanessa Maria de Castro

Aluno (a): Pedro Henrique Beghelli

RESUMO DE TEXTOS

TÍTULO DA OBRA E ANO

MARTINS, Carlos Benedito(1994)”O que é Sociologia”;São Paulo: Editora Brasiliense

Resumo 001

Em relação às ciências naturais, a sociologia surge tardiamente no século XIX, como


resultado de uma série de fatos e acontecimentos os quais coincidiram e se
complementaram, criando uma determinada conjuntura na sociedade, até então inédita.
Nesse contexto, se fez necessária a existência de uma ciência que pudesse compreender
os aspectos sociais daquele momento a partir de métodos investigativos e científicos, mas
que também pudesse influenciar na realidade e no destino da sociedade, como ocorre com
as demais ciências.
As alterações provocadas pelo surgimento do modo capitalista de produção na
organização da vida social foram enormes e profundas. A sociologia surge de maneira
inevitável a partir destas profundas transformações. O ser humano passa por um momento
histórico no século XIX sem precedentes há história. Uma série de costumes deixava de
existir e logo em seguida vários outros já surgiam de modo assombrosamente rápido.
Na Inglaterra os camponeses começaram a perder as suas terras aos poucos para
uma pequena parcela de burgueses que se tornavam donos de propriedades cada vez
maiores. A população antes essencialmente rural passa então a se abrigar em centros
urbanos, amontoada e em condições de vida insalubres. O trabalho que restou e que é o
melhor que se podia ter, seria nas fábricas, trabalhando exaustivamente para receber um
salário pequeno, senão insuficiente.
Várias doenças biológicas, psíquicas e sociais se manifestaram e se alastraram nos
centros urbanos. A nova classe, o proletariado, foi exigida e abalada ao máximo,
principalmente psicologicamente. Foi a partir desse novo contexto e em virtude das novas e
antigas doenças sociais, como o aumento do suicídio, dos crimes, da prostituição, da
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exploração de crianças e mulheres, que os pensadores da época se sentiram instigados a
entender o que estava acontecendo com a humanidade. Perceberam que não havia uma
ciência que pudesse dar uma resposta se aquilo era o certo ou a melhor opção e quais
consequências essas mudanças trariam no futuro.
Contudo, não foi apenas a Revolução Industrial importante para o surgimento da
Sociologia, como a ciência da sociedade. A Revolução Francesa de 1789 também foi
fundamental. Essa Revolução que se baseou nos ideais iluministas causou muitas
reviravoltas nas tradições da Europa da Idade Moderna e foi um ótimo reforço para a
revolução econômica que ocorriam na Inglaterra. Esse acontecimento na França embasado
pelo Iluminismo gerou mudanças na forma de pensar das populações pobre e burguesa, as
quais sempre foram submissas aos nobres e aos clérigos. Diversas instituições, por
exemplo, as monarquias, a religião e a nobreza caíram e novos valores foram introduzidos,
como o descrédito ao patriarcalismo, a igualdade de direitos das mulheres, a perda da
essência de família, o individualismo e o uso da razão e do questionamento ao invés da
simples aceitação. Todas essas mudanças bruscas e rápidas geraram espanto e
chamaram a atenção dos primeiros sociólogos.
O desejo de lutar pelos direitos, tornara a população pobre contestadora e sedenta
por revoluções. Os burgueses, iniciadores das transformações na França, sentiam que
estavam perdendo o controle da situação. Como tentativa de frear a revolução que eles
haviam começado e na qual propunham o lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade, eles
precisavam de uma ferramenta que fosse capaz de apaziguar o fervor revolucionário na
população. A sociologia como uma ciência que começava a dar seus primeiros passos, já
passou a ser instrumento da elite burguesia para disciplinar o povo, convencendo o de que
não havia o que se questionar e de que manter aquela ordem capitalista seria a melhor
opção.
É sob esses os dois aspectos citados nos parágrafos a cima que a Sociologia surge.
Primeiro como tentativa de compreender o novo mundo social constituído após as duas
grandes Revoluções; segundo como um instrumento de dominação e de acomodação
social da burguesia. O autor no livro confirma os dois pontos da formação desta ciência por
meio de Durkheim. Primeiramente “Durkheim, por exemplo, um dos fundadores da
sociologia, afirmou certa vez que a partir do momento em que a tempestade revolucionária
passou, constituiu-se como que por encanto a noção de ciência social" Martins, 1994 p.13-
14). E depois “Partindo da idéia de que a perturbação que atingia as sociedades européias
resultava do seu estado de desorganização intelectual, ele entregou-se à tarefa de pôr
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termo a isto. Para refazer uma consciência nas sociedades, são estas que importa, antes
de tudo, conhecer. Ora, esta ciência das sociedades, a mais importante de todas, não
existia; era necessário, portanto, num interesse prático, fundá-la sem demora". Martins,
1994 p.15-16.
A sociologia após mais de um século presente no mundo, ganhou seu espaço nas
universidades, nas instituições governamentais e em muitas questões do dia-a-dia da
sociedade contemporânea em que muitas pessoas não conseguem perceber. Desde o seu
surgimento no século XIX, essa ciência vem evoluindo junto com a humanidade buscando
sempre manter um diálogo com a ordem social vigente em cada período. No entanto,
apesar das divergências interna, ela também cumpriu bem o papel de influenciar nos rumos
da sociedade.
O capitalismo gerou algo fundamental para o seu funcionamento, a separação e a
oposição das classes. A segregação das classes que era nítida no período (século XIX) foi
um dos primeiros problemas que dividiram os sociólogos, pois não se sabia se mudava
completamente aquele estado social capitalista, ou se mantinha tudo como estava
acreditando que após o amadurecimento do sistema econômico todas as divergências e
mazelas sociais desapareceriam. A partir dessas duvidas uma série de interesses
penetraram na ciência e inúmeras tradições e teorias sociológicas diferentes surgiram.
No período de expansão e afirmação do capitalismo, muitos sociólogos buscaram
enxergar de forma positiva as mudanças sociais que esse sistema ocasionara e que viria a
ocasionar. Esses pensadores almejavam a manutenção do regime instalado, defendiam a
luta para se alcançar o pleno funcionamento das instituições do sistema capitalista e que os
atritos entre as classes eram passageiros. Alguns desses sociólogos como Comte e Saint-
Simon se identificaram com a lógica dos Conservadores ou “Profetas do passado”, a qual
desejava o retorno do regime medieval com todas as suas tradições e instituições como a
religião, o núcleo familiar, os senhores feudais, a hierarquia social rígida e estável, e se
inspiraram nesses conceitos para justificar a realidade do século XIX. Para a linhagem
conservadora de pensamento, a Revolução Francesa foi o maior mal que a humanidade
moderna presenciara, pois provocara desordem e anarquia. Os iluministas eram vistos
como os desencadeadores da revolução, propagadores da desordem, portanto, tiveram
suas ideias constantemente rechaçadas.
Saint-Simon apesar do aspecto conservador também “sofreu a influência de ideias
iluministas e revolucionárias” Martins,1994 p.21. É conhecido como o mais eloquente
profeta burguês, porém também é tido como um dos primeiros pensadores socialistas e
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positivitas. Afirmava que a industrialização seria capaz de sanar todas as necessidades e
que os cientistas, banqueiros, fabricantes, comerciantes deveriam ser os líderes e guias da
sociedade capitalista. Ele acreditava que a ciência deveria substituir a religião no papel de
coesão social e de apaziguador das revoluções, onde os cientistas “ocupariam o papel que
possuía o clero na sociedade feudal, ao passo que os fabricantes, os comerciantes e os
banqueiros substituiriam os senhores feudais” Martins, 1994 p.21. Como um dos primeiros
fazedores dessa ciência social, as ideias de Simon e foi a base para muitos outros
sociólogos que viriam a surgir. Para Durkhein, Saint-Simon é “o iniciador do positivismo e o
verdadeiro pai da sociologia, em vez de Comte, que geralmente tem merecido esse
destaque” Martins, 1994 p. 21.
Comte como secretário de Saint-Simon conheceu bem as teses de seu predecessor
e compartilhou de muitas delas. Contudo, Augusto Comte se mostrou muito mais
conservador e defensor da indústria. Trazia de novidade no seu pensamento a ideia de que
não deveria existir mais a filosofia negativa, que é contestadora, mas apenas a positiva que
gera a coesão. Além disso, dizia que se fazia necessário estabelecer por meio da jovem
ciência social a ordem e o progresso na sociedade nas mesmas proporções. Esse
pensamento positivo foi a principal arma burguesa para manutenção do poder como afirma
o autor. “O positivismo procurou oferecer uma orientação geral para a formação da
sociologia ao estabelecer que ela deveria basicamente proceder em suas pesquisas com o
mesmo estado de espírito que dirigia a astronomia ou a física rumo a suas descobertas. A
sociologia deveria, tal como as demais ciências, dedicar-se à busca dos acontecimentos
constantes e repetitivos da natureza” Martins, 1994 p.23.
Durkheim, um dos fundadores da sociologia, contribuiu para a sistematização da
ciência e buscou sistematicamente estabelecer o objeto de estudo e os métodos a serem
utilizados. Viveu numa época em que as disputas de classes estavam acirradas e o
socialismo começava a ecoar nos centros urbanos, simpatizando com os problemas do
proletariado. Para ele “a raiz dos problemas de seu tempo não era de natureza econômica,
mas sim uma certa fragilidade da moral da época em orientar adequadamente o
comportamento dos indivíduos” Martins, 1994 p. 24. Afirmava que se fazia necessário a
presença de uma moral para controlar resolver os problemas sociais, não alterações
econômicas como desejavam os socialistas.
Fundamentado principalmente pelos economistas Karl Marx e Friedich Engels, o
socialismo contestou o capitalismo e buscou escancarar as desigualdades e injustiças que
esse sistema econômico impôs. Para eles a solução seria uma revolução proletária que
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transformasse a estruturas econômicas. O trabalhador fabril explorado e sofrido enxergou
nessa vertente sociológica a expressão teórica daquilo que buscava e motivou-se a lutar
por melhorias. Um fato que foi transformador para a história, foi a criação dos sindicatos
que deram força aos proletários contra seus patrões.
Weber outro sociólogo do período, já possuía ideias totalmente adversas,
considerava o capitalismo bom e as desigualdades entre classes essenciais para a
sobrevivência da economia. “Ao contrario de Marx, não considerava o capitalismo um
sistema injusto, irracional e anárquico.” Martins 1994, p.36.
As ciências sociais, de acordo com o fluir dos anos em que se tiveram duas grandes
guerras mundiais, crises no sistema capitalista e diversas manifestações sociais se
transformaram e tiveram muitos de seus objetos de estudo modificados. A sociologia
passou a ser utilizada de acordo com os interesses dos grupos dominantes vigentes para
cada época. Tornou-se ferramenta de uma dominação.
Percebe-se pela obra do autor, que a formação da sociologia é um processo sem fim
e enquanto houver “seres sociais”, classes dominantes e fatos sociais a serem analisados,
ela continuará a evoluir, se transformar e a buscar soluções para os problemas, assim
como nas demais ciências. Muitos estudiosos geraram seus pontos de vista a respeito da
sociedade e contribuíram de certa forma para essa composição. Não existe o certo e o
errado para o pensamento sociológico, mas sim a concepção ou conceito adequado ao seu
contexto histórico. O autor demonstrou isso muito bem em sua obra ao citar diversos
estudiosos da época e suas diferentes teses que influenciaram no surgimento, na formação
e no desenvolvimento desta ciência. Porém, a presença de tantas citações de pensadores
torna o texto um pouco confuso e cansativo, fazendo necessário ler com cautela os trechos
referentes a esses estudiosos e também aconselhável tomar notas para não se perder em
meio as ideias.
Por fim o autor enfatiza bem, que a sociologia sempre precisará do seu objeto de
estudo que é a sociedade e que está sempre continuará a gerar problemas e a provocar os
sociólogos nas formulações de teses e soluções.

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