Larissa Tome – RA: B16758-0 Lucas Silva Guerra – RA: A822BC- 8 Michele Aparecida da Silva – RA: Sabrina Carlesso Nasser - RA: A78737-2
DISPUTA DE GUARDA
Trabalho de Atividade Pratica
Supervisionada apresentado ao curso de Psicologia da UNIP - Universidade Paulista, sob a orientação da Professora Mônica Silva.
São José do Rio Pardo - SP
2014 1. Introdução
Este trabalho tem como objetivo um olhar para a temática da disputa de
guarda e quais as funções que o psicólogo no âmbito forense pode ajudar os membros da família que sofre com a ruptura do relacionamento. O divórcio pode gerar um estado de discórdia entre o casal, levar a uma liberação do clima de disputa e criar novas estruturas domésticas de convivência entre pais e filhos. Para os filhos, inicialmente representa um mistério que precisa ser explicado com clareza e objetividade. Trata-se de um marco legal que provoca em todos os familiares, principalmente em pais e filhos, angústias e incertezas que ameaçam a estabilidade pessoal e causam inúmeras mudanças na dinâmica do cotidiano familiar. A mediação de divórcio para casais com filhos procura, potencialmente, servir aos interesses das crianças, uma vez que a qualidade das relações entre pais e filhos está intimamente vinculada à qualidade de relacionamento entre os pais pós-separação. 2. Disputa de Guarda
De acordo com Ferreira (2014), o conceito de guarda é o conjunto de
deveres que o ordenamento jurídico impõe aos pais em relação aos filhos. Tem a finalidade de garantir que a criança ou o adolescente tenha sempre alguém que seja responsável por ele, é por isso necessário que aquele lhe possa oferecer assistência moral, material e educacional. É também de suma importância o amor e afeto para que a geração tenha um desenvolvimento sadio. Segundo a autora, apud Paulo Nader (2011, p. 255): “Por guarda deve- se entender não apenas o poder de conservar o menor sob vigilância e companhia, mas fundamentalmente o de orientá-lo no cotidiano, dando-lhe a assistência de que necessita, sem com isto exonerar a responsabilidade de outrem”. Portanto, guarda é uma característica do poder familiar, que se refere à guarda natural, em que um ou ambos os pais protegem os seus filhos, por meio de um conjunto de direitos e obrigações entre o menor e seu genitor, visando ao desenvolvimento pessoal do menor. Segundo Ferreira (2014) apud Simone Roberta Fontes (2009, p. 42), são cinco os modelos de guarda: única, alternada, dividida, nidação ou aninhamento e compartilhada. Modalidades de guarda do Código Civil: Guarda única: também chamada de guarda exclusiva ou uniparental, é quando o menor fica em uma residência fixa, com um dos pais, recebendo visitas regulares do outro. A guarda única era o modelo mais aplicado no Brasil, porém a Lei nº 11.698/2008 incentiva a guarda compartilhada, com a finalidade de mudar para que seja maior o bem-estar do menor e também para que o princípio da igualdade seja aplicado entre os pais. Guarda alternada: se caracteriza pelo exercício da guarda, alternadamente, por um período de tempo pré-determinado, podendo ser mensal, semestral, anual, ou mesmo uma distribuição organizada no dia-a-dia. Guarda dividida: o menor vive em um lar fixo, determinado, recebendo a visita periódica do pai ou da mãe que não tem a guarda. Guarda de aninhamento ou nidação: modalidade menos utilizada. O menor permanece em uma única casa, porém são os pais que se mudam alternadamente a esta casa, seguindo um ritmo periódico. Guarda compartilhada: responsabilização conjunta e exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, referentes ao poder familiar dos filhos comuns. Guarda estabelecida no Estatuto da Criança e do Adolescente. Guarda do Eca: os filhos menores e maiores inválidos passam a ter proteção quando estiverem desamparados, sendo assegurado ao menor um guardião que tenha condições de lhe prestar assistência material, moral e educacional. Na guarda compartilhada, o menor continua com o vínculo com o pai e a mãe, pois ambos os genitores se responsabilizam e tomam as decisões referentes aos filhos. Com isso, continua existindo a ligação do filho com os genitores, e o menor aprende a conviver com o novo fato de que os pais não convivem mais sob o mesmo teto, mas sabem que os pais estarão sempre presentes. Para Ferreira (2014) o bem-estar da criança ou adolescente deverá sempre ser tratado com prioridade, para que tenha os seus direitos à vida, à saúde, à alimentação e ao lazer protegidos, para que tenham preservado sua integridade física e moral. A guarda compartilhada se apresenta, portanto, como uma modalidade de guarda adequada para a atualidade, pois assim, mesmo com a dissolução do vínculo conjugal, homens e mulheres têm igualdade de direitos e deveres. De qualquer forma, esta modalidade de guarda somente será aplicada se for benéfica para o menor, assim a convivência constante com ambos os genitores deve ter como finalidade proporcionar ao filho um ambiente familiar equilibrado. 3. Papel do psicólogo frente à temática da disputa de Guarda
Segundo Miranda (1998) questões, por exemplo, das famílias que
entram em litígio. Elas compõem, quase sempre, a cena do trabalho do psicólogo também. As disputas pela guarda dos filhos, as acusações mútuas, as intimidades expostas num processo judicial, assim correm muitos processos nas Varas de Família. Como ficam as crianças nestas situações? Em geral, não muito bem. E o que se percebe na prática é que estes litígios relacionam-se muitas vezes a problemas particulares que os ex-cônjuges não conseguiram elaborar após a separação. Então chegam ao judiciário com uma construção litigiosa imaginária muito bem estabelecida na qual, em geral, os filhos estão como objetos de disputa, sendo que a preocupação com seu bem estar fica em segundo plano. Se os filhos estão mal, a culpa é sempre do outro. As crianças e adolescentes envolvidos transformam-se em objetos de ataques e defesas que não são senão uma forma sintomática de lidar com a perda narcísica implícita na desilusão amorosa. Para Miranda (1998) O trabalho do psicólogo é desconstruir o litígio, escutar de cada um qual a sua parte naquela história. Sem uma intervenção clínica no litígio, muitas vezes o sofrimento permanece travestido das mais diversas demandas num processo judicial interminável. Miranda (1998) cita que deve ter um olhar para o desejo das crianças? Envolvidos nestes jogos parentais, as crianças começam a ter problemas na escola, nos relacionamentos com seus amigos e parentes. Entram em um conflito de lealdade com os pais, não sabem como responder as suas demandas. Este sujeito ainda emaranhado na teia fantasmática familiar sofre por não saber dizer sobre este imaginário que não permite que ele se coloque como sujeito, restando-lhe apenas a vertente do assujeitado. Em alguns casos, quando os pais não se dispõem a nenhum trabalho de elaboração subjetiva porque o sintoma não permite nenhuma abertura, um trabalho com as crianças consegue fazer efeito. Elas começam a contestar as demandas parentais e tentam não participar do jogo litigioso no qual são as maiores prejudicadas. Infelizmente, estes casos são raros. Lago e Bandeira (2008) aponta que a questão que deve nortear uma avaliação psicológica envolvendo disputa de guarda é "o que será melhor para a criança". Diferentes autores sugerem focos diversos que uma avaliação desse caráter deveria ter. Rivera e cols. (2002) propõem avaliar os cuidados parentais, atendendo a três grandes áreas de necessidades da criança: de caráter físico-biológico, cognitivas, emocionais e sociais. As necessidades de caráter físico-biológico dizem respeito aos cuidados com integridade física, alimentação, higiene, sono, atividade física e proteção frente a riscos reais. As cognitivas englobam a estimulação sensorial, a exploração e compreensão da realidade física e social e a aquisição de um sistema de valores e normas. Por fim, as necessidades emocionais e sociais compreendem segurança emocional, identidade pessoal e auto-estima, rede de relações sociais, estabelecimentos de limites de comportamento e educação e informação sexual. Segundo Lago e Bandeira (2008) Goldstein, Freud e Solnit (1973) defendem a idéia de que o melhor guardião é o "genitor psicológico", ou seja, aquele que, além de revelar-se uma companhia constante para a criança, também é capaz de lhe oferecer um ambiente estável. Jackson e colaboradores (1980) enfatizam a importância da empatia parental, disponibilidade emocional e capacidade para estimular interações e laços de afeto, aspectos esses que podem ser observados por meio de impressões clínicas e observações de interações pais-filhos. Chasin e Grunebaum (1981) acrescentam ainda o desejo do genitor em encorajar visitas do filho ao outro progenitor e preservar a continuidade do contato com parentes, amigos e escola. Gardner (1982) e Levy (1978) citam também a habilidade dos pais em manter bons relacionamentos com seus genitores e a consideração que eles têm sobre o efeito da determinação da guarda sobre eles mesmos, a criança e o ex-cônjuge. Para Lago e Bandeira (2008) Trunnell (1976) propõe investigar o estado mental de cada genitor e da criança, buscando avaliar o quanto cada genitor encoraja o desenvolvimento da criança e como futuros eventos, como os re- casamentos, afetarão cada um dos pais. Beaber (1982) recomenda o critério de avaliação da competência parental, que engloba cuidados com alimentação, roupas, escola e cuidados médicos. Lago e Bandeira (2008) cita Lanyon (1986) revisou o uso das avaliações psicológicas em enquadres jurídicos e destacou, em relação à questão da guarda, a complexidade e a alta individualização dos casos, o que demanda uma avaliação muito individualizada. A área mais relevante para ser avaliada nessas situações é a qualidade dos relacionamentos. É importante avaliar o relacionamento entre os pais, a cooperação, concordância e ausência de conflito, e também a qualidade do relacionamento da criança com ambos os pais e outras figuras que tomam conta dela. Entretanto para Lago e Bandeira (2008) além dos procedimentos citados acima, é freqüente que os psicólogos recorram ao uso dos testes psicológicos. Os testes são muito usados não apenas por serem instrumentos de uso exclusivo dos psicólogos, mas por fornecerem indícios mais acurados quanto às necessidades, defesas psicológicas e prejuízos psíquicos decorrentes da situação conflitiva que levou as partes ao Judiciário (Shine, 2003). Contudo, os testes psicológicos devem ser válidos e fidedignos, de forma a garantir seu uso de forma confiável. 4. Referencia
LAGO, V. M, BANDEIRA, D. R. As práticas em avaliação psicológica
envolvendo disputa de guarda no Brasil. Avaliação Psicológica v. 2 n. 2. UFRGS. Porto Alegre, ago. 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677- 04712008000200013&script=sci_arttext&tlng=es>.Acesso em: 09 Ago. 2014.
MIRANDA J, H. C. de. Psicologia e justiça: a psicologia e as práticas
judiciárias na construção do ideal de justiça. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília , v. 18, n. 1, 1998 . Disponível em<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 98931998000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 08 Nov. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931998000100004.
FERREIRA, F. S. Um estudo acerca da guarda compartilhada na relação entre
pais e filhos. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 120, jan 2014. Disponível em: < http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php? n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14112 >. Acesso em nov 2014.