Você está na página 1de 21

Artigo

Este artigo discute a for-


m a ç ã o de psicólogos diante
FORMAÇÃO DE
dos problemas de aprendiza-
gem, p a r t i n d o da análise de
concepções e práticas psico-
PSICÓLOGOS PARA
lógicas de a t e n d i m e n t o ensi-
nadas em cursos de gradua-
ção em Psicologia. 2 6 8 O ATENDIMENTO
p r o n t u á r i o s de a t e n d i m e n t o
em clínicas-escola f o r a m
pesquisados, focalizando-se A PROBLEMAS DE
os seguintes aspectos: nature-
za e perfil dos encaminha-
m e n t o s escolares, concepções
e m o d a l i d a d e s de atendi-
APRENDIZAGEM:
m e n t o psicológico à queixa
escolar. C o n s t a t a m o s que a
interpretação dada aos enca-
DESAFIOS E
m i n h a m e n t o s escolares pelos
psicólogos clínicos demons-
tra d e s c o n h e c i m e n t o de boa PERSPECTIVAS
parte das pesquisas educacio-
nais relativas à vida diária
escolar, e m b o r a se teçam
críticas à q u a l i d a d e da esco-
la pública brasileira.
Psicologia; educação;
psicologia escolar; psico- M a r ilene Proença R e b e l l o de Souza
logia clínica; f o r m a ç ã o
dc p s i c ó l o g o s

UNDERGRADUATE
EDUCATION OF
PSYCHOLOGISTS TOWARDS
THE LEARNING PROBLEMS:
CHALLENGES AND
PERSPECTIVES "A ciência moderna, ao colocar-se sobre
This article analyses the
psychological concepts and fundamentos pragmáticos,
practices of assistance
relating to the learning 'absorve', assimila a estrutura cotidiana"
problems taught in
undergraduate courses of
Psychology. 268 records of Agnes Heller
attendance were examined,
focusing the following
aspects: nature and profile
of the school
modes and conception
psychological
procedures,

assistance
of A
relating to the learning Á. ) \ p s i c o l o g i a e n q u a n t o área d o conheci-
problems. One can verified m e n t o tem v o l t a d o grande p a r t e de sua pesquisa
that the interpretation
clinical psychologists give para explicar os processos de aprendizagem e desen-
to the school complaint
reveals that they do not v o l v i m e n t o que ocorrem na infância e na adolescên-
know the latest research cia. Essas duas fases da vida d o ser h u m a n o desta-
related to the daily life of
a school even when they cam-se na produção acadêmica e, pela sua importân-
criticize the quality of the cia, ocupam lugar de relevância na formação do psi-
public school.
Psychology; education; cólogo. E t a m b é m nessas duas fases d o desenvolvi-
school psychology;
clinical psychology; mento - infância e adolescência - que estão
undergraduate education
of psychologists
• Professora doutora do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo. Sua área de atuação é a psicologia escolar.
c e n t r a d o s os m a i o r e s í n d i c e s de e n c a m i n h a m e n t o p a r a atendimento
psicológico, em função de a l g o q u e é c o n s i d e r a d o pelo adulto
como i n a d e q u a d o ou insuficiente nesse d e s e n v o l v i m e n t o ou no
p r o c e s s o d e a p r e n d i z a g e m . Q u a i s os m o t i v o s q u e l e v a m os a d u l t o s
a e n c a m i n h a r e m c r i a n ç a s e a d o l e s c e n t e s ao p s i c ó l o g o ? Esta p e r g u n t a
v e m s e n d o r e s p o n d i d a p o r m e i o d e l e v a n t a m e n t o s feitos e m clíni-
cas-escola de v á r i o s c e n t r o s de f o r m a ç ã o em Psicologia (Ancona-
Lopez, 1983; Silvares, 1989); c o m o t a m b é m nos serviços públicos
de a t e n d i m e n t o , em U n i d a d e s Básicas de S a ú d e de v á r i a s regiões
d a c i d a d e d e S ã o P a u l o , c o m o a p o n t a m os l e v a n t a m e n t o s feitos por
U r b i n a t t i e c o l a b o r a d o r e s (Tabulação, 1989; U r b i n a t t i et ai, 1994).
T o d o s e s s e s t r a b a l h o s i n d i c a m q u e n a f a i x a e t á r i a e n t r e 7 e 14
a n o s , a p r o x i m a d a m e n t e d o i s terços d o s e n c a m i n h a m e n t o s p s i c o l ó g i -
cos o c o r r e m p o r p r o b l e m a s v i v i d o s p e l a s c r i a n ç a s n o seu processo
de escolarização.
T e n d o e m v i s t a esse d a d o e n d ê m i c o p r e s e n t e n a n a t u r e z a do
e n c a m i n h a m e n t o p s i c o l ó g i c o , n o s s o interesse v o l t o u - s e p a r a a a n á l i s e
desses e n c a m i n h a m e n t o s , b u s c a n d o d e s v e l a r os m o t i v o s q u e l e v a m
educadores e pais a procurarem o atendimento psicológico.
Realizamos u m estudo exploratório (Souza, 1996) envolvendo
q u a t r o cursos de f o r m a ç ã o de p s i c ó l o g o s , a n a l i s a n d o os d a d o s de en-
caminhamento de 2 6 8 p r o n t u á r i o s d e c r i a n ç a s e a d o l e s c e n t e s . Este
n ú m e r o c o r r e s p o n d e a 3 0 % dos e n c a m i n h a m e n t o s r e a l i z a d o s e m cin-
co serviços de a t e n d i m e n t o p s i c o l ó g i c o de u n i v e r s i d a d e s p a u l i s t a s . As
p e r g u n t a s feitas a o s p r o n t u á r i o s de a t e n d i m e n t o f o r a m as s e g u i n t e s :
q u e m são as c r i a n ç a s e n c a m i n h a d a s ? ; q u a i s os p r o b l e m a s enfrentados
n a escola q u e m o b i l i z a m os e d u c a d o r e s a e n c a m i n h a r e m seus a l u n o s
p a r a a t e n d i m e n t o psicológico?; q u e m o d a l i d a d e de a t e n d i m e n t o s e en-
c a m i n h a m e n t o s é oferecida à criança e ao adolescente c o m proble-
m a s e s c o l a r e s n o s c u r s o s de f o r m a ç ã o de p s i c ó l o g o s ?

QUEM S Ã O AS CRIANÇAS ENCAMINHADAS

As c r i a n ç a s a t e n d i d a s pelos p s i c ó l o g o s e n c o n t r a m - s e , e m sua
maioria, no início do processo de alfabetização. A amostra
pesquisada caracteriza-se da seguinte m a n e i r a : a m é d i a de i d a d e dos
e n c a m i n h a m e n t o s é de 9,3 a n o s , e 6 6 % d o s a l u n o s e s t ã o cursando
e n t r e a p r i m e i r a e a t e r c e i r a séries d o E n s i n o F u n d a m e n t a l ; destes,
3 5 % e n c o n t r a m - s e n a s e g u n d a série. D o total d e e n c a m i n h a m e n t o s ,
a p r o x i m a d a m e n t e 7 e m c a d a 10 c r i a n ç a s são m e n i n o s . D o conjunto
de e n c a m i n h a m e n t o s , 4 0 % são p r o v e n i e n t e s de escolas p ú b l i c a s , e
4 % das escolas privadas.
PROBLEMAS ENFRENTADOS NA ESCOLA
QUE CULMINAM C O M O
ENCAMINHAMENTO PSICOLÓGICO

O levantamento indica que o motivo m a i s freqüente de enca-


minhamento está n o fato d e a c r i a n ç a a p r e s e n t a r o q u e os e d u c a -
dores d e n o m i n a m p r o b l e m a s de a p r e n d i z a g e m a t r e l a d o s a p r o b l e -
m a s de a t i t u d e s e m sala de a u l a ( 2 6 % ) , ou s o m e n t e p r o b l e m a s de
a p r e n d i z a g e m ( 2 4 % ) ou a i n d a apenas p r o b l e m a s de atitudes ( 1 9 % ) .
Ou seja, a s o m a dos motivos de e n c a m i n h a m e n t o mostra que
6 9 % das crianças a p r e s e n t a m p r o b l e m a s na a p r e n d i z a g e m ou apre-
s e n t a m atitudes c o n s i d e r a d a s i n a d e q u a d a s em sala de a u l a . A prin-
cipal queixa das crianças ingressantes recai em problemas de
a p r e n d i z a g e m ; nas séries subseqüentes c o m e ç a m a aparecer como
motivo de e n c a m i n h a m e n t o também os p r o b l e m a s de atitudes
inadequadas. Uma boa parcela dos e n c a m i n h a m e n t o s é feita por
p r o f i s s i o n a i s da área d a s a ú d e , 1 9 % , e a p e n a s 1 3 % são t r a z i d o s pe-
los p a i s . U m o u t r o g r u p o d e e n c a m i n h a m e n t o s provém de outras
áreas, c o m o , por e x e m p l o , da Vara da Infância e da Adolescência,
totalizando 6 % dos encaminhamentos.
A análise da amostra aponta também p a r a o fato d e q u e os
m e n i n o s e as m e n i n a s são e n c a m i n h a d o s p o r m o t i v o s d i f e r e n t e s : as
m e n i n a s são m e n o s e n c a m i n h a d a s por atitudes consideradas indese-
j á v e i s q u e os m e n i n o s , n u m a f r e q ü ê n c i a de 1 8 % c o n t r a 2 0 % . Os
m e n i n o s , p o r s u a vez, são m e n o s e n c a m i n h a d o s p o r d i f i c u l d a d e s n o
processo de a p r e n d i z a g e m , 2 3 % contra 2 9 % .
A o r e l a c i o n a r m o s a série c o m o m o t i v o de encaminhamento
o b s e r v a m o s que o m o t i v o de e n c a m i n h a m e n t o m a i s freqüente para
u m a c r i a n ç a que cursa a p r i m e i r a série é o de p r o b l e m a de apren-
d i z a g e m ( 3 4 % ) , s e g u i d o de processo de a p r e n d i z a g e m e a t i t u d e s
( 2 3 % ) . O m o t i v o de e n c a m i n h a m e n t o que soma duas categorias, a
saber, p r o b l e m a s d e a p r e n d i z a g e m e a t i t u d e s , t e m u m a distribuição
s e m e l h a n t e e n t r e as c r i a n ç a s q u e c u r s a m as s e g u n d a s , t e r c e i r a s e
q u a r t a s séries.

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO OFERECIDO

Q u a n d o c h e g a m à c l í n i c a - e s c o l a , esses c l i e n t e s p a s s a m pelo
p r o c e s s o d e t r i a g e m , e é feito o " p r i m e i r o e n c a m i n h a m e n t o " . Das
c r i a n ç a s q u e c h e g a m p a r a a t e n d i m e n t o , 5 0 % são e n c a m i n h a d a s p a r a
p s i c o d i a g n ó s t i c o , e, e m b o r a a q u e i x a seja e s c o l a r , a p e n a s 8 % d e l a s
são d i r e t a m e n t e e n c a m i n h a d a s para u m a t e n d i m e n t o "psicopedagó-
g i c o o u d e d i s t ú r b i o s d e a p r e n d i z a g e m " . U m d e s t a q u e é feito para
o fato d e q u e as c r i a n ç a s q u e a p r e s e n t a m q u e i x a de " p r o b l e m a s de
aprendizagem" foram mais e nc a m i n h ad as para tratamento "psicope-
dagógico" e atendimento em " d i s t ú r b i o s de a p r e n d i z a g e m " , num
primeiro encaminhamento q u e as d e m a i s q u e i x a s . A f r e q ü ê n c i a de
desistência entre a entrevista de triagem e o processo p s i c o d i a g n ó s -
tico é de 3 8 % dos clientes.
Durante o processo psicodiagnóstico, o principal instrumento
u t i l i z a d o foi o teste p s i c o l ó g i c o , cuja f r e q ü ê n c i a d e a p l i c a ç ã o che-
g o u a 140 v e z e s . O u seja, c a d a c a s o teve e m m é d i a 2,2 testes a p l i -
c a d o s . O teste m a i s a p l i c a d o foi o H T P (House, Tree, Person), 27
vezes, s e g u i d o p e l o C A T (Teste d e A p e r c e p ç ã o T e m á t i c a , v e r s ã o In-
fantil), 2 0 vezes, e o W I S C (Escala W e c h s l e r de I n t e l i g ê n c i a para
C r i a n ç a s ) e o B e n d e r , 15 v e z e s c a d a u m .
Outro dado o b t i d o refere-se ao e n c a m i n h a m e n t o realizado
após o psicodiagnóstico, e m que 2 2 % dos casos são encaminhados
p a r a p s i c o t e r a p i a (os p a i s ) e 2 2 % p a r a l u d o t e r a p i a ( c r i a n ç a s ) . Os
e n c a m i n h a m e n t o s p a r a as classes e s p e c i a i s c o r r e s p o n d e m a 1 1 % dos
casos a t e n d i d o s e s o m e n t e 4 % d o s e n c a m i n h a m e n t o s s ã o feitos p a r a
atendimento específico em "distúrbios de a p r e n d i z a g e m " .

DEFININDO O S TERMOS "PROBLEMAS DE


APRENDIZAGEM E DE COMPORTAMENTO"

Q u a i s são os c h a m a d o s p r o b l e m a s de a p r e n d i z a g e m ? Q u a i s são
as a t i t u d e s d a c r i a n ç a e m sala de a u l a q u e s ã o m o t i v o s d e e n c a m i -
n h a m e n t o psicológico? C o m o são q u a l i f i c a d o s pelos educadores?
A leitura dos prontuários foi feita p r o c u r a n d o i d e n t i f i c a r os
e p i s ó d i o s , as d e s c r i ç õ e s q u e t r a d u z i s s e m o s e n t i d o d a s c a t e g o r i a
d e n o m i n a d a s c o m o " p r o b l e m a s de a p r e n d i z a g e m " e " p r o b l e m a s de
comportamento". A s s i m s e n d o , os c h a m a d o s " p r o b l e m a s d e a p r e n -
d i z a g e m " são d e s c r i t o s d a s e g u i n t e m a n e i r a : " t r o c a d e l e t r a s " , " d i f i -
c u l d a d e e m l e r as p a l a v r a s " , " n ã o c o n s e g u e ler e escreve tudo
amontoado", " a i n d a está n a fase d o s r a b i s c o s " , " n ã o c o n s e g u e c o p i -
ar d a l o u s a " , " d i f i c u l d a d e n a c o o r d e n a ç ã o m o t o r a f i n a " , " t r o c a le-
tras, n ã o a c e n t u a p a l a v r a s e n ã o sabe q u a n d o t e m q u e escrever u m a
letra m a i ú s c u l a " , " n ã o s a b e ler e escrever, s o m e n t e c o p i a , ... só co-
n h e c e a letra A " , " o m i t e p a l a v r a s , s í l a b a s e l e t r a s e m d i t a d o s e có-
p i a s e c o m e t e e r r o s g r a m a t i c a i s " , " n ã o a c e r t a as c o n t a s " , " v a i m a l
em matemática", "baixo rendimento e s c o l a r " , "é l e n t o " , " n ã o está
acompanhando o r i t m o das outras c r i a n ç a s " , "repetiu d u a s vezes a
p r i m e i r a série e m f u n ç ã o de d i s r i t m i a " , "é d i s t r a í d o " , " t e m d i f i c u l -
d a d e e m fazer a l i ç ã o d e c a s a " .
C o m r e l a ç ã o aos c h a m a d o s " p r o b l e m a s de c o m p o r t a m e n t o " ou
d e " a t i t u d e s " , s ã o d e s c r i t o s , e n t r e o u t r o s , os s e g u i n t e s p r o b l e m a s :
"não responde às c h a m a d a s e às p e r g u n t a s " , " s a i d a c l a s s e v á r i a s
v e z e s " , " r e c u s a - s e a r e a l i z a r tarefas d e t e r m i n a d a s , c o m o l e i t u r a , p o r
e x e m p l o " , " c o m p r e e n d e , m a s n ã o o b e d e c e a i n s t r u ç õ e s " , " e s q u e c e as
r e g r a s e fala b a i x o " , " n ã o a p r e s e n t a o r d e m e m seu c a d e r n o " , "não
c o n s e g u i a f i c a r s e n t a d o a s s i s t i n d o às a u l a s " , "é m u i t o a g r e s s i v o " ,
" b r i g a e faz b a g u n ç a " , "é i n s u p o r t á v e l n a e s c o l a : p e g o u u m e s t i l e t e
p a r a a b o r d a r as m e n i n a s , p a r a a p r o n t a r " , "é c a l a d o " , " n ã o fala com
a professora, n ã o c o n v e r s a c o m os o u t r o s , n ã o p e d e p a r a i r a o
b a n h e i r o " , "é f a c i l m e n t e e n g a n a d o p e l a s o u t r a s c r i a n ç a s " , " n ã o se
i n t e r e s s a p e l a e s c o l a " , "só q u e r saber d e b r i n c a r n a e s c o l a " , " a p r o -
fessora f a l o u q u e q u a l q u e r c o i s a ele c h o r a " , " n ã o p r e s t a a t e n ç ã o a o
que a professora fala", "não tem interesse por nada na escola",
" m u i t o nervoso, n ã o aceita a p r e n d e r por m e d o de errar", "sempre
foi o p r i m e i r o d a classe, b r i g o u c o m a p r o f e s s o r a de m a t e m á t i c a e
tirou n o t a v e r m e l h a " , " n ã o teve i n t e g r a ç ã o c o m os professores",
"professora não consegue colocar limites".

CONSIDERAÇÕES A PARTIR DOS MOTIVOS


DE ENCAMINHAMENTO APRESENTADOS

As d e s c r i ç õ e s d e q u e i x a s e s c o l a r e s a p r e s e n t a d a s a c i m a n o s dão
u m razoável conjunto d a s p r i n c i p a i s r a z õ e s p e l a s q u a i s as c r i a n ç a s
são e n c a m i n h a d a s para atendimento psicológico. O nosso olhar para
esses " m o t i v o s d e e n c a m i n h a m e n t o " n ã o se c e n t r a r á n a s c r i a n ç a s ,
conforme sugere a leitura dos prontuários, enquanto um reflexo
de explicações que c o m u m e n t e nos c o n d u z e m aos c h a m a d o s "pro-
b l e m a s de a p r e n d i z a g e m " . M a s p a r t i m o s d a c o n c e p ç ã o d e q u e t a i s
encaminhamentos n o s r e v e l a m o d i a - a - d i a d a e s c o l a , os p r i n c i p a i s
c o n f l i t o s q u e professores e a l u n o s d e p a r a m e q u e de a l g u m a forma
tentam r e s o l v e r , ou seja, " o s p e d i d o s d e a j u d a d a e s c o l a " .
Nossa análise das queixas apresentadas parte do conjunto de
relações que são tecidas no processo de escolarização de que parti-
c i p a m professores, a l u n o s , pais, m e c a n i s m o s i n s t i t u c i o n a i s de fun-
c i o n a m e n t o , e s t r u t u r a estatal, r e l a ç õ e s a t r a v e s s a d a s p o r preconceitos
e estereótipos e m r e l a ç ã o às c r i a n ç a s p o b r e s e suas f a m í l i a s , p o r uma
r e a l i d a d e e d u c a c i o n a l de g r a n d e preca-
riedade no funcionamento da escola
pública. Ou seja, as c o n s i d e r a ç õ e s que
f a r e m o s s o b r e os m o t i v o s de e n c a m i -
nhamento partem do nosso olhar
para u m a escola e m sua " p o s i t i v i d a d e "
(Ezpeleta & R o c k w e l l , 1986).
As afirmações presentes levaram-
nos a considerar q u e as q u e i x a s , e m
s u a g r a n d e m a i o r i a , s ã o a t r i b u í d a s às
crianças. São elas que trocam letras,
não aprendem, brigam com os c o l e -
gas, desobedecem às r e g r a s e s t a b e l e c i -
das, são nervosas ou c h o r a m muito,
n ã o s a b e m se d e f e n d e r o u se defen-
d e m até d e m a i s .
As q u e i x a s a c i m a revelam-nos
u m p r o c e s s o de e s c o l a r i z a ç ã o e m que
o educador tem muita dificuldade
em ensinar essa c r i a n ç a , n ã o sabe
como lidar pedagogicamente com
questões ligadas ao processo de alfa-
betização, p r i n c i p a l m e n t e das crianças
ingressantes, com muitas expectativas
e m r e l a ç ã o ao ler e ao escrever. As
histórias de r e p e t ê n c i a confirmam
essa d i f i c u l d a d e e m ensinar, produ-
zindo uma criança desinteressada,
distraída, agressiva.
As queixas t a m b é m revelam-nos
dificuldades escolares no sentido de
estabelecer regras que possam ser
obedecidas pelas crianças bem como
a e x i s t ê n c i a de c r i a n ç a s que discor-
dam dessas regras das m a i s diversas
maneiras: da apatia à agressividade.
As q u e i x a s escolares e x p õ e m o não
saber dos adultos em lidar com
crianças que não conseguem cumprir
os " c o m b i n a d o s " , que não sabemos
até q u e p o n t o são de fato explicita-
dos em sala de a u l a , ou se encon-
tram implícitos nas ações pedagógi-
cas d o professor.
As queixas mostram-nos uma s e m s e p a r a r as p a l a v r a s (escrever t u d o
dificuldade muito grande na relação a m o n t o a d o ) , s o m e n t e c o p i a r s e m en-
entre escola e pais. U m a relação qua- tender o que está e s c r e v e n d o , não
se litigiosa, em q u e v á r i o s p a i s se d i f e r e n c i a r q u a n d o se u s a a letra m a i -
dizem obrigados a vir ao psicólogo úscula e a minúscula. Outras queixas
p a r a q u e seu f i l h o n ã o seja p e n a l i z a - relacionam-se ao traçado da escrita,
do na escola. U m a relação coercitiva, c o m o a p r e s e n t a r u m a letra feia o u ter
i m p o s i t i v a , de d e s c o n s i d e r a ç ã o aos uma coordenação motora "ruim".
argumentos dos pais a respeito de Os motivos que levaram profes-
seus f i l h o s , e m q u e a o r d e m pedagó- sores e pais a e n c a m i n h a r e m alunos
g i c a t r a n s f o r m a - s e e m lei e d e t e r m i n a das p r i m e i r a s séries do E n s i n o Fun-
o encaminhamento psicológico. damental para atendimento psicológi-
O u t r o aspecto presente nas quei- co s ã o , n a maior parte, os q u e se
xas é a verdadeira peregrinação dos referem ao processo de aprendiza-
p a i s de u m profissional a outro em gem da l í n g u a escrita e da leitura.
busca "do que meu filho tem, pois As descrições mais detalhadas
n ã o vai b e m n a escola". A m e d i c a l i z a - sobre os p r o b l e m a s de l e i t u r a e escri-
ç ã o d o p r o c e s s o de e s c o l a r i z a ç ã o for- ta n o s f a z e m p e n s a r q u e u m a grande
t e m e n t e m a r c a d a pelos m u i t o s e n c a m i - parcela dos professores está r e a l i z a n -
n h a m e n t o s pelos q u a i s m u i t a s c r i a n ç a s do seu t r a b a l h o de a l f a b e t i z a ç ã o a
p a s s a r a m até c h e g a r ao " p i o r deles": a partir da concepção de que tudo
comprovação da d e f i c i ê n c i a m e n t a l . q u e se d e s v i a d o p a d r ã o estabelecido
é p a t o l ó g i c o e p o r t a n t o passível de
atendimento p s i c o l ó g i c o . Essa con-
cepção de alfabetização é d a t a d a ao
AS QUESTÕES final dos anos 60, e dá g r a n d e im-
portância aos c h a m a d o s "distúrbios
REFERENTES A O S de a p r e n d i z a g e m " . O u seja, a forma
PROBLEMAS DE da letra distoante (disgrafia), a difi-
culdade na leitura-escrita (dislexia),
APRENDIZAGEM n ã o escrever o r t o g r a f i c a m e n t e (disor-
tografia), não pronunciar correta-
Com r e l a ç ã o a o s problemas de m e n t e os f o n e m a s ( d i s l a l i a ) , ser a g i t a -
aprendizagem, um dos principais do e m sala de a u l a ( h i p e r a t i v i d a d e ) ,
motivos de e n c a m i n h a m e n t o refere-se c a d a u m a d a s d i f e r e n ç a s q u e u m a cri-
a o f a t o d e as c r i a n ç a s apresentarem a n ç a a p r e s e n t a v a d i a n t e d e seu grupo
dificuldades de leitura e de escrita. recebia u m d i a g n ó s t i c o específico.
Na d e s c r i ç ã o d e s s a s d i f i c u l d a d e s , os Embora amplamente questionada
e d u c a d o r e s r e s s a l t a r a m c o m o m a i s co- pelas ciências sociais, observamos, de
m u n s a t r o c a de letras, a o m i s s ã o de tempos em tempos, o ressurgimento
letras n a s p a l a v r a s , os erros ortográfi- da concepção h e r e d o l ó g i c a ou orgâ-
cos e d e a c e n t u a ç ã o , o fato d e a cri- n i c a p a r a e x p l i c a r fatos s o c i a i s , p r i n -
a n ç a escrever c o n f o r m e fala e, p o r t a n - c i p a l m e n t e n a área e d u c a c i o n a l . Q u e s -
to, e s c r e v e r p a l a v r a s e r r a d a s , e s c r e v e r tionando essa c o n c e p ç ã o , apresenta-se
o trabalho de Moysés e Collares
( 1 9 9 2 ) . S e g u n d o as a u t o r a s , o mode-
lo q u e n o r t e i a a explicação médica
p a r a os p r o b l e m a s e d u c a c i o n a i s p a r t e
d a i n f e c t o l o g i a : " S e A c a u s a B, B só
p o d e ser c a u s a d o p o r A, o n d e A é
u m agente biológico bem determina-
do e externo ao h o m e m " . Aplican-
do-se essa l ó g i c a à a p r e n d i z a g e m , te-
mos "se u m a doença neurológica
pode comprometer o domínio da
l i n g u a g e m e s c r i t a , será q u e a c r i a n ç a
q u e n ã o a p r e n d e a ler e escrever não
teria u m a doença neurológica?"
A p r i n c i p a l c r í t i c a a essa e x p l i c a -
ção está e m a p l i c a r aos fenômenos
sociais modelos biológicos, desconsi-
derando, no caso da aprendizagem,
todo o conjunto de t r a b a l h o s que
retratam a complexidade do fenômeno
da escolarização, r e d u z i n d o - o a sim-
ples falhas n o s i s t e m a n e r v o s o central.
Em geral, tais m é d i c o s p r o c u r a m as
causas dos p r o b l e m a s de a p r e n d i z a g e m
em exames anátomo-patológicos dos
c é r e b r o s de p a c i e n t e s q u e apresentam
tais c o m p o r t a m e n t o s ou e m exames
sofisticados de " r e s s o n â n c i a magnéti-
ca", n o caso da d i s l e x i a , s e m sucesso:
nenhuma l e s ã o c e r e b r a l foi encontra-
da até o m o m e n t o e m c r i a n ç a s que
são e n c a m i n h a d a s pelas escolas p a r a o
atendimento psicológico por proble-
m a s de a p r e n d i z a g e m .
Em uma perspectiva interacio-
n i s t a , as s i t u a ç õ e s a p r e s e n t a d a s como
"problemas" pelos professores não
passam de etapas que atravessam
a q u e l e s q u e se e n c o n t r a m no início
do processo de a l f a b e t i z a ç ã o . Essa
r e l a ç ã o fica m a i s e v i d e n t e q u a n d o se
verifica a idade da criança encami-
n h a d a . A s c r i a n ç a s i n g r e s s a n t e s , por-
tanto por volta de 7 a n o s , são as
m a i s e n c a m i n h a d a s p o r p r o b l e m a s de
a p r e n d i z a g e m , p r i n c i p a l m e n t e d e lei-
tura e de escrita.
As p e s q u i s a s d e s e n v o l v i d a s na
perspectiva psicogenética por Ferreiro
( 1 9 8 2 , 1983, 1985) c o n s i d e r a m q u e as
q u e i x a s a p r e s e n t a d a s , tais c o m o troca
de letras, erros o r t o g r á f i c o s , "escrita
amontoada", d ú v i d a na u t i l i z a ç ã o de
l e t r a s m a i ú s c u l a s e m i n ú s c u l a s , escre-
ver c o m o se fala, o m i s s ã o de letras ou
s í l a b a s d a s p a l a v r a s e m d i t a d o s e có-
p i a s , c o m e t e r erros g r a m a t i c a i s , a p e n a s
copiar sem entender o conteúdo, ler
sem obedecer aos s i n a i s de p o n t u a ç ã o ,
n ã o p a s s a m de a s p e c t o s l i g a d o s à na-
tureza do processo de a p r e n d i z a g e m
d a l í n g u a escrita.
Tais pesquisas, ao reconstruírem
h i s t o r i c a m e n t e o percurso da huma-
nidade em busca da comunicação
pela l í n g u a escrita e ao acompanhar
o processo de a q u i s i ç ã o da escrita
em crianças a partir das concepções
q u e elas t ê m s o b r e tal s i s t e m a , q u e s -
t i o n a m as a f i r m a ç õ e s até e n t ã o v i g e n -
tes e e x p l i c a m os c o n t e ú d o s subjacen-
tes aos c h a m a d o s " e r r o s " ou "proble-
m a s de a l f a b e t i z a ç ã o " , mencionados
nos prontuários consultados.
Vários procedimentos descritos
acima e realizados pelas crianças não
são patológicos, c o m o se a c r e d i t a v a
e m u m a concepção associacionista de
a l f a b e t i z a ç ã o , m a s s i m são momentos
d o processo de a q u i s i ç ã o da estrutu-
ra e d o s m e c a n i s m o s d e u m a l í n g u a .
A c r i a n ç a ao escrever u m a palavra
omitindo letras não está errando,
mas sim demonstrando como naquele
m o m e n t o pensa a respeito da escrita
de d e t e r m i n a d a palavra. Ferreiro e
tantos outros pesquisadores demons-
t r a m q u e , ao p r o c e d e r dessa m a n e i r a ,
a c r i a n ç a t e m h i p ó t e s e s s o b r e o siste- m e i o de ações estatais que desconsi-
m a da escrita que sustentam u m es- d e r a m o saber docente.
quema interpretativo. O despreparo do professor para
As descrições dos professores e os e n o r m e s d e s a f i o s q u e a t a r e f a pe-
os relatos dos pais presentes nos d a g ó g i c a e x i g e é a p o n t a d o p e l a pes-
prontuários dos clientes atendidos q u i s a d o r a c o m o fruto de u m a políti-
l e v a m - n o s a crer q u e h á u m a tendên- ca e d u c a c i o n a l q u e n ã o d á a d e v i d a
cia desses e d u c a d o r e s a apresentar a t e n ç ã o a essa f o r m a ç ã o . A s formas
u m a concepção idealizada a respeito c o m o os c o n t e ú d o s das novas pro-
das crianças ingressantes, esperando postas teóricas e metodológicas que
que tenham uma letra legível, uma c h e g a m aos professores m u i t a s vezes
coordenação motora perfeita, escre- contradizem os s e u s p r e s s u p o s t o s te-
vam sem pressionar muito o lápis ó r i c o s . N a d i s c u s s ã o d e seu trabalho,
o u a i n d a q u e já e s t e j a m e m e s t á g i o s C r u z afirma que, embora o constru-
a v a n ç a d o s n o processo de alfabetiza- t i v i s m o seja a c o n c e p ç ã o hegemônica
ção de maneira que um pequeno i m p l a n t a d a pelos órgãos diretores do
c o n t a t o c o m as i n f o r m a ç õ e s da pro- projeto educacional no estado de
fessora seja s u f i c i e n t e p a r a e s c r e v e r e m São Paulo, a metodologia utilizada na
e lerem corretamente. f o r m a ç ã o d o s professores p a r a u t i l i z á -
A o a f i r m a r q u e seu a l u n o só co- lo n ã o i n c l u i os p r i n c í p i o s q u e essa
n h e c e a letra A, o p r o f e s s o r demons- proposta defende na própria relação
tra q u e n ã o houve um processo de de a p r e n d i z a g e m d o professor.
ensino-aprendizagem, pois não conhe- As p r á t i c a s p e d a g ó g i c a s também
cer o a l f a b e t o , não o memorizar e s ã o o b j e t o d e p r e o c u p a ç ã o : os r e m a -
n e m s e q u e r s a b e r c o m o u t i l i z á - l o só nejamentos constantes de crianças
acontece com crianças que tenham entre as c l a s s e s e m busca de uma
um quadro de deficiência mental homogeneidade de t r a b a l h o que não
a c e n t u a d o ou u m q u a d r o psicótico a existe, a permanência de m a i s de
partir dos primeiros anos de vida. c i n c o horas em sala de a u l a , diaria-
Essa d i f i c u l d a d e em relação à mente, a má u t i l i z a ç ã o de espaços
l e i t u r a e à e s c r i t a se d á , n e s s e mo- pedagógicos que seriam fundamentais
mento, no bojo do Projeto Ciclo para o processo de aprendizagem,
Básico, pois grande parte das crian- c o m o as a u l a s de e d u c a ç ã o a r t í s t i c a e
ças e n c a m i n h a d a s e s t u d a e m escolas e d u c a ç ã o física.
p ú b l i c a s d a s redes e s t a d u a l e m u n i c i - Muitas das m u d a n ç a s a serem
pal. Pesquisas recentes a respeito do realizadas na relação ensino-aprendiza-
Ciclo Básico (Cruz, 1994) analisam g e m p a r t e m d a n e c e s s i d a d e de o pro-
as d i f i c u l d a d e s p e l a s q u a i s p a s s a o fessor a c r e d i t a r n a c a p a c i d a d e d e pen-
s i s t e m a d e c i c l o s , a l g u m a s d e l a s refe- sar d e seu a l u n o , p a r a q u e dessa for-
rentes à c o m p r e e n s ã o do projeto pe- ma possa estruturar mais claramente
d a g ó g i c o por u m a c a t e g o r i a de pro- as t a r e f a s a s e r e m r e a l i z a d a s e m sala
fessores q u e , há a n o s , v e m recebendo de a u l a . As p e s q u i s a s c o m professores
u m a série de "pacotes pedagógicos" bem-sucedidos (Kramer & André,
de d i f e r e n t e s linhas teóricas, por 1984; S o u z a , 1991) m o s t r a m muito
c l a r a m e n t e que o professor dessas s a l a s t e m a c r e n ç a n a c a p a c i d a d e
d e seu a l u n o , p o r t a n t o e n s i n a o c o n t e ú d o para a sua série, organi-
za a t a r e f a d e s a l a d e a u l a , e x p l i c i t a os c o m b i n a d o s , podendo até
revê-los à m e d i d a q u e a c l a s s e for respondendo às n e c e s s i d a d e s
m í n i m a s de m a n u t e n ç ã o da o r g a n i z a ç ã o p a r a a r e a l i z a ç ã o de tarefas.

COM RELAÇÃO A O PROBLEMA DE ATITUDES

O u t r o g r a n d e g r u p o d e q u e i x a s refere-se às atitudes apresenta-


das pela criança na escola. S e g u n d o os m o t i v o s de encaminhamentos
a n a l i s a d o s , p a r c e l a s i g n i f i c a t i v a d e c r i a n ç a s q u e n ã o o b e d e c e às re-
gras e s t a b e l e c i d a s p e l o professor n a sala de a u l a a c a b a s e n d o encami-
nhada para atendimento psicológico. Atitudes como conversar
m u i t o , e s q u e c e r as r e g r a s e s t a b e l e c i d a s , n ã o a p r e s e n t a r u m caderno
o r g a n i z a d o , n ã o o b e d e c e r q u a n d o s o l i c i t a d o , recusar-se a fazer a l g o
s ã o os p r i n c i p a i s m o t i v o s p e l o s q u a i s as c r i a n ç a s s ã o conduzidas
aos c o n s u l t ó r i o s psicológicos.
A n a l i s a n d o as q u e i x a s a p r e s e n t a d a s , p o d e m o s observar que há
u m conjunto de regras estabelecidas p e l o professor e m sala de a u l a às
q u a i s as c r i a n ç a s d e v e m a d a p t a r - s e e / o u submeter-se. O s prontuários
das c r i a n ç a s n ã o descrevem as situações e m q u e essas regras são segui-
das ou m e s m o d e s o b e d e c i d a s . N ã o se c o n s t a t a r a m n o s p r o n t u á r i o s as
c i r c u n s t â n c i a s e m q u e tais ações da c r i a n ç a a c o n t e c e r a m , desconhecen-
do-se até m e s m o as a l t e r n a t i v a s q u e p o r v e n t u r a tenham sido tentadas
pelo professor n o s e n t i d o de reverter essa s i t u a ç ã o .
Das atitudes citadas pelos professores, a agressividade é a m a i s
freqüente. Nos poucos prontuários e m q u e essa a g r e s s i v i d a d e é
descrita, em geral, relaciona-se a brigas com os c o l e g a s , p r o v o c a -
ç õ e s , fazer b a g u n ç a , a t r a p a l h a r a a u l a , r a b i s c a r a l i ç ã o d o outro,
empurrar ou bater em u m colega, agredir v e r b a l m e n t e , gritar m u i -
to, e n t r e o u t r a s . N ã o c o n s t a n o p r o n t u á r i o o m o m e n t o em que a
a t i t u d e " a g r e s s i v a " a c o n t e c e u , ou seja, deu-se n u m m o m e n t o em que
p e g a r a m o seu m a t e r i a l e s c o l a r s e m p e d i r , o u se h a v i a competição
entre duas ou mais crianças constantemente na sala, g e r a n d o essa
inimizade, enfim, não havia perguntas do psicólogo que possibili-
t a s s e m aos p a i s d a r e m m a i s d a d o s sobre o c o n t e x t o e m q u e a a t i t u -
de da c r i a n ç a aconteceu.
E m o u t r o e x t r e m o , as c r i a n ç a s s ã o e n c a m i n h a d a s p o r q u e con-
s i d e r a d a s " t í m i d a s " . As c r i a n ç a s são d e s c r i t a s a p r e s e n t a n d o as s e g u i n -
tes a t i t u d e s : n ã o c o n v e r s a r e m n a e s c o l a , s e r e m c a l a d a s , n ã o falarem
c o m a p r o f e s s o r a , n ã o c o n v e r s a r e m c o m os c o l e g a s , a p a n h a r e m sem
r e v i d a r , s e r e m i n s e g u r a s e n ã o g o s t a r e m q u e se r e p a r e n e l a s .
A alta freqüência de encaminha-
mentos p o r t i m i d e z versus agressivi-
d a d e faz-nos pensar que, no âmbito
educacional, exista, tacitamente, um
conjunto de a t i t u d e s consideradas
a d e q u a d a s ou desejáveis na escola. A
imagem que nos vem é a de um
"aluno-padrão", cujas atitudes não
deveriam "pender" nem para aquele
q u e b r i g a , n e m p a r a u m a c r i a n ç a ca-
l a d a , q u e n ã o reage aos c o l e g a s . Q u a l -
quer c r i a n ç a q u e se a f a s t e d o eixo
da " n o r m a l i d a d e " é considerada um
problema que merece tratamento.
Embora discutido por muitos
autores em psicologia, o conceito de
" n o r m a l i d a d e " a i n d a n o r t e i a as p r á t i -
cas d i s c i p l i n a r e s p e d a g ó g i c a s . C o s t a
(1984) analisa a tendência a um
"tipo psicológico ordinário", típico
das sociedades disciplinares c o m o a
n o s s a e, p o r q u e n ã o d i z e r ? , da nos-
sa e d u c a ç ã o escolar disciplinar. A
concepção de n o r m a l i d a d e é uma
t e n d ê n c i a c o n s t a n t e n a s q u e i x a s apre-
sentadas pelos pais e professores.
A l é m da agressividade e da timidez,
chorar muito ou ainda apresentar
comportamentos considerados como
"infantis", como correr no pátio,
também encontram-se no conjunto
d a q u e l e s q u e estão n o d e s v i o d o tipo
psicológico ordinário.
Em relação à categoria atitudes,
o que encontramos nos prontuários
são afirmações c o m base em caracte-
r í s t i c a s q u e p a r e c e m i n t r í n s e c a s à cri-
ança e n c a m i n h a d a , tais c o m o "é agi-
t a d a " , " é n e r v o s a " , " é a g r e s s i v a " , "é
desinteressada". As perguntas referen-
tes a o s fatos e s c o l a r e s n ã o aparecem
n o s r e l a t o s , o q u e n o s faz crer q u e a
p r i n c i p a l h i p ó t e s e q u e n o r t e i a a en-
trevista baseia-se e m e x p l i c a ç õ e s calca-
das na criança, em sua estrutura de
p e r s o n a l i d a d e , e n ã o na d i n â m i c a de
suas relações.
N a a p r e s e n t a ç ã o d a s q u e i x a s es-
c o l a r e s , n ã o se f a z e m p r e s e n t e s tenta-
tivas que t e n h a m s i d o feitas n a esco-
la p a r a resolvê-las. U m a h i p ó t e s e que
l e v a n t a m o s e m relação à ausência de
informações m a i s detalhadas sobre a
e s c o l a r i z a ç ã o , n o c a s o d a q u e i x a es-
colar, está r e l a c i o n a d a à c o n c e p ç ã o de
entendimento dessa queixa. Pois a
c o n c e p ç ã o s u b j a c e n t e ao atendimento
psicológico estaria mais próxima ao
q u e se r e l a c i o n a c o m o m u n d o inter-
no dessa criança, aos seus m e d o s e
fantasias, e à sua relação com seus
pais e familiares. O psicólogo, par-
t i n d o de u m a hipótese que busca na
c r i a n ç a a c a u s a d a s d i f i c u l d a d e s esco-
lares, c e n t r a s u a s p e r g u n t a s e m aspec-
tos a ela r e l a c i o n a d o s . N ã o conside-
rar, n o processo i n i c i a l de investiga-
ção psicológica, o contexto em que
as " a t i t u d e s a g r e s s i v a s " o u quaisquer
outras se a p r e s e n t e m revela que a
c o n c e p ç ã o p s i c o l ó g i c a baseia-se m u i t o
mais no conceito de estrutura de
personalidade do que em considerar
a s u a d i n â m i c a . Investiga-se, dessa for-
m a , "o ser a g r e s s i v o " , e n ã o a m a n i -
festação d e s u a a g r e s s i v i d a d e e m uma
determinada situação e/ou relação.
Um caso que i l u s t r a os erros
cometidos pelos a d u l t o s ao interpre-
tar as a ç õ e s d a s c r i a n ç a s a p a r t i r de
seus estereótipos e preconceitos é
analisada por Patto (1990). Ângela,
u m a c r i a n ç a de 8 a n o s , p a s s o u a fre-
qüentar a classe dos lentos em sua
escola, p o r q u e l e v a v a u m a b o l s i n h a e
u m a boneca para brincar no colégio.
Esse c o m p o r t a m e n t o foi considerado
pelos professores, coordenação e di-
r e ç ã o d a e s c o l a u m a a t i t u d e i m a t u r a de  n g e l a . A o c o n h e c e r mais
d e p e r t o essa c r i a n ç a , c o n v i v e n d o e m v á r i o s d e s e u s e s p a ç o s d i á r i o s ,
a pesquisadora e suas colaboradoras conheceram a outra face d a
q u e s t ã o : essa c r i a n ç a a s s u m i a e m casa i n ú m e r a s tarefas d o m é s t i c a s , o
q u e t o m a v a p r a t i c a m e n t e t o d o o seu t e m p o , e a s s i m e l a n ã o conse-
g u i a s e q u e r b r i n c a r . A e s c o l a foi e n t ã o o e s p a ç o n o q u a l  n g e l a
c o n s i d e r o u q u e o l ú d i c o p o d e r i a se fazer p r e s e n t e . A o c o n t r á r i o do
q u e p e n s a v a m as professoras, o excesso de " m a t u r i d a d e " dessa a l u n a
é que a leva a b r i n c a r na escola.
As queixas de desatenção e distração estão em s e g u n d o lugar
n o s e n c a m i n h a m e n t o s r e a l i z a d o s p e l a s e s c o l a s . C h a m a m - n o s a aten-
ç ã o as c a t e g o r i a s d i s t r a ç ã o e d e s a t e n ç ã o c o m o f r e q ü e n t e m e n t e pre-
sentes nos e n c a m i n h a m e n t o s psicológicos c o m queixa escolar. A
p r e c a r i e d a d e d a e s c o l a o f e r e c i d a a essas c r i a n ç a s l e v a - n o s a q u e s t i o -
n a r esses c o m p o r t a m e n t o s , p e n s a n d o n a q u i l o q u e p o d e m estar reve-
l a n d o sobre a escola: u m a escola p o u c o interessante, c o m muito
t e m p o d e p e r m a n ê n c i a e m s a l a , r e a l i z a n d o a t i v i d a d e s m u i t a s vezes
com p o u c o s e n t i d o , repleta de tarefas m e c â n i c a s . Pesquisas v ê m
mostrando que é c o m u m a p r á t i c a de e x t e n s a s c ó p i a s e a u t i l i z a ç ã o
da lousa c o m o o centro do processo de alfabetização. Para muitos
e d u c a d o r e s , as c r i a n ç a s só a p r e n d e m por m e i o da repetição, quer
oral, quer escrita, criando práticas enfadonhas e valorizando a
m e m o r i z a ç ã o e m v e z da s i g n i f i c a ç ã o d o s c o n t e ú d o s ensinados.
Esses a s p e c t o s f i c a m m a i s e v i d e n t e s q u a n d o o b s e r v a m o s a m e -
m o r i z a ç ã o e o r i t m o c o m o categorias freqüentes n a análise da pro-
dução das crianças, o que demonstra serem aspectos m u i t o valori-
zados pelos professores. A crença em que m e m o r i z a ç ã o , ritmo e
coordenação m o t o r a sejam o cerne do a p r e n d i z a d o da leitura e da
e s c r i t a p r o t a g o n i z a m m e t o d o l o g i a s d e e n s i n o q u e d e s p r e z a m a cu-
riosidade, o interesse e o q u e s t i o n a m e n t o infantis, enfatizando o
a p r e n d i z a d o da l í n g u a escrita c o m o a l g o m e c â n i c o , p o u c o r e f l e x i v o .

OS PROBLEMAS DE RELACIONAMENTO

C o m r e l a ç ã o aos p r o b l e m a s d e r e l a c i o n a m e n t o , c h a m o u - n o s a
a t e n ç ã o a quase i n e x i s t ê n c i a de d i f i c u l d a d e s nessa área. O u seja,
embora a literatura pedagógica, informada pela psicologia interacio-
nista, se faça p r e s e n t e n a s redes d e e n s i n o , o t e m a de q u e a r e l a ç ã o
pedagógica é realizada por aquele que ensina e aquele que aprende
ainda não é uma r e a l i d a d e na sala de a u l a . De 2 6 8 prontuários
l i d o s , a p e n a s u m se r e f e r e a o fato d e u m a p r o f e s s o r a não conse-
g u i r e s t a b e l e c e r l i m i t e s a seu a l u n o . O u seja, e m u m prontuário
apenas dessa amostra a professora se sa c o m seu f i l h o n a escola, m a s rece-
inclui na relação pedagógica. berem a ordem de r e a l i z a r e m o psi-
codiagnóstico. Vários pais afirmam
n ã o saber os m o t i v o s pelos q u a i s seus
filhos estão sendo encaminhados e
OUTROS não concordam com o encaminha-
m e n t o . Fazem-no p a r a a t e n d e r as a m e -
ENCAMINHAMENTOS aças feitas pela d i r e ç ã o d a s e s c o l a s . O
RELACIONADOS C O M caso m a i s e x t r e m o e n c o n t r a d o é o d a
diretora de u m a escola pública que
A APRENDIZAGEM entrega à mãe u m a carta lacrada para
q u e seja e n t r e g u e a o p s i c ó l o g o , sem
Nesse g r u p o d e p r o n t u á r i o s pes- adiantar-lhe o que continha como
quisado observamos a forte presença i n f o r m a ç ã o . A t r e l a d a a este fato, v e i o
dos profissionais de saúde c o m o a a ameaça da perda da vaga, caso a
porta de entrada do atendimento à a v a l i a ç ã o p s i c o l ó g i c a n ã o fosse realiza-
c r i a n ç a c o m p r o b l e m a s e s c o l a r e s . Es- da com urgência. Sintetizando, a ma-
ses e n c a m i n h a m e n t o s referem-se ao n e i r a c o m o os e n c a m i n h a m e n t o s che-
fato d e o p s i c ó l o g o ser o profissio- g a m até as c l í n i c a s - e s c o l a é r e v e l a d o r a
nal habilitado a realizar avaliações de r e l a ç õ e s d e d e s r e s p e i t o v i v i d a s pe-
psicodiagnósticas, principalmente no las f a m í l i a s e pelas c r i a n ç a s e m escolas
q u e se refere aos n í v e i s d e desenvol- públicas e privadas.
vimento infantil. Ou seja, o motivo
do e n c a m i n h a m e n t o é a suspeita de
que há deficiência mental acoplada a
problemas diagnosticados anterior- O ATENDIMENTO À
mente por esses p r o f i s s i o n a i s , tais
como deficiência auditiva e síndro-
QUEIXA ESCOLAR
me de D o w n , principalmente. Ou
até m e s m o por problemas que não O trajeto feito p o r metade dos
encontraram na criança, e s g o t a n d o a casos de q u e i x a e s c o l a r a t e n d i d o s é o
s u a p o s s i b i l i d a d e de a v a l i a ç ã o e m re- psicodiagnóstico clínico. O psicodi-
lação à q u e i x a escolar. agnóstico referente à queixa escolar
Outro motivo constante d e en- tem c o m o centro do processo a uti-
caminhamento é a s o l i c i t a ç ã o de ava- l i z a ç ã o d o s testes p s i c o l ó g i c o s e, e m
l i a ç ã o p a r a freqüência às Classes Espe- geral, com um e n c o n t r o de "sessão
ciais para Deficientes Mentais. Cha- l ú d i c a " . M e s m o as c l í n i c a s - e s c o l a q u e
ma-nos a atenção o grande percentual fazem atendimentos com psicodiag-
de e n c a m i n h a m e n t o ( 1 1 % da amos- nósticos interventivos e atendimento
tra), i n d i c a n d o a suspeita de "defici- a pais em grupo apresentam o mes-
ência mental leve". m o p r o c e s s o n o q u e se refere à a p l i -
O u t r o g r u p o de encaminhamen- c a ç ã o de testes p s i c o l ó g i c o s . Os da-
tos i d e n t i f i c a d o refere-se a o fato de dos q u a n t i t a t i v o s d e m o n s t r a m que a
os p a i s d e s c o n h e c e r e m o q u e se p a s - tríade inteligência, percepção visual-
motora e aspectos e m o c i o n a i s c o n t i n u a sendo a base do raciocínio
clínico-psicológico, medida por m e i o dos testes. Os testes mais
u t i l i z a d o s s ã o os d e m a i o r r i g o r n a p a d r o n i z a ç ã o q u a n t i t a t i v a , e,
e m b o r a t e n h a m a a n á l i s e q u a l i t a t i v a c o m o r e c u r s o , esta ú l t i m a pra-
ticamente inexiste na leitura dos relatórios dos clientes das clínicas-
escola p e s q u i s a d a s .
Os instrumentos g r á f i c o s d e a v a l i a ç ã o c o m o b j e t i v o m a i s ex-
p r e s s i v o , c o m o os de " d e s e n h o s - e s t ó r i a s " de T r i n c a o u a i n d a a "téc-
n i c a de r a b i s c o s " de W i n n i c o t t , ou são m u i t o menos utilizados,
como n o caso d o s p r i m e i r o s , o u i n e x i s t e m c o m o alternativa diag-
nostica, c o m o n o caso da segunda.
O u t r o aspecto importante referente aos d a d o s d o s prontuários
refere-se ao " e n c a m i n h a m e n t o após psicodiagnóstico". A u m atendi-
mento clássico (modelo psicodiagnóstico utilizado para qualquer
a t e n d i m e n t o ) segue-se u m " e n c a m i n h a m e n t o c l á s s i c o " : os p a i s p a r a
psicoterapia e a criança para ludoterapia. O contato c o m a escola
é feito p o r m e i o d a v i s i t a e s c o l a r r e a l i z a d a e m d u a s d a s c l í n i c a s -
e s c o l a p e s q u i s a d a s . O o b j e t i v o d a v i s i t a está e m l e v a n t a r d a d o s es-
c o l a r e s da c r i a n ç a c o m o p r o f e s s o r da classe. O que p o d e m o s ob-
servar é que, no conjunto dos dados, o encontro com o professor
parece n ã o modificar o resultado final dos e n c a m i n h a m e n t o s após
psicodiagnóstico.
Em apenas u m dos serviços de a t e n d i m e n t o o processo psico-
d i a g n ó s t i c o n ã o u t i l i z a testes d e m e d i d a : é r e a l i z a d o e m g r u p o s de
p a i s e de c r i a n ç a s e c e n t r a d o n a q u e i x a e s c o l a r . Esta q u e i x a é c o m -
preendida como um "problema de a p r e n d i z a g e m " . O aspecto cen-
tral d o a t e n d i m e n t o n a fase d i a g n o s t i c a é o p r o c e s s o d e aprendi-
zagem, incluindo informações escolares escritas pelo professor. O
encaminhamento é a continuidade do a t e n d i m e n t o de crianças e
p a i s e m g r u p o s nessa m e s m a c l í n i c a . Nesse p r o c e d i m e n t o , a escola
participa como informante d o q u e se passa n o p r o c e s s o e s c o l a r e
ao final da a v a l i a ç ã o p s i c o l ó g i c a é e n c a m i n h a d o u m r e l a t o d o pro-
cesso, p r o p o n d o - s e a l t e r n a t i v a s de t r a b a l h o p a r a o professor.
O u t r o aspecto i n t e r e s s a n t e o b s e r v a d o p o r m e i o d o levantamen-
to d e d a d o s d e p r o n t u á r i o s de a t e n d i m e n t o é a t e n d ê n c i a a enca-
minhar os c a s o s q u e a p r e s e n t a m apenas p r o b l e m a s de aprendiza-
g e m p a r a a t e n d i m e n t o s específicos e m " p s i c o p e d a g o g i a " . Esses enca-
minhamentos c o m e ç a m a acontecer mais significativamente a partir
da entrevista de t r i a g e m . Esse d a d o pode indicar o início de
m u d a n ç a no olhar para a q u e i x a escolar, no sentido de considerar
s u a o r i g e m e d u c a c i o n a l e p o r isso ser e n c a m i n h a d a para profissio-
nais cuja concepção inclui a influência dos aspectos educacionais
n a q u e i x a . Esse e n c a m i n h a m e n t o , p o r s u a vez, n ã o m o d i f i c a neces-
s a r i a m e n t e c o n s i d e r a r o p r o c e s s o de e s c o l a r i z a ç ã o o u a i n d a q u e os
psicólogos levem em conta alternativas de i n c l u s ã o da escola no
processo de a t e n d i m e n t o à q u e i x a . Essas m u d a n ç a s só s ã o p o s s í v e i s
a partir de u m a m u d a n ç a da concepção na queixa escolar: da ori-
g e m f a m i l i a r p a r a o p r o c e s s o de e s c o l a r i z a ç ã o .

REFLEXÕES FINAIS

A a n á l i s e dos p r o n t u á r i o s de a t e n d i m e n t o e encaminhamento
de c r i a n ç a s e a d o l e s c e n t e s p r e e n c h i d o s pelos psicólogos permite
considerar q u e as q u e i x a s s ã o , e m s u a m a i o r i a , p r o v e n i e n t e s das
e s c o l a s ; os p r o b l e m a s d e a p r e n d i z a g e m s ã o a t r i b u í d o s às c r i a n ç a s ,
n ã o se c o n s i d e r a n d o que o processo de a p r e n d i z a g e m ocorre em
u m a r e l a ç ã o p e d a g ó g i c a ; as q u e i x a s r e v e l a m as d i f i c u l d a d e s d o s edu-
cadores em relação ao claro estabelecimento de regras na
estruturação do trabalho p e d a g ó g i c o ; as c o n c e p ç õ e s de aprendiza-
gem dos educadores baseiam-se em pressupostos inatistas ou
m e d i c a l i z a n t e s ; os r e l a t o s d o s p a i s r e v e l a m d i f i c u l d a d e s d e r e l a c i o -
namento entre escola e pais.
A respeito da formação d e p s i c ó l o g o s , os a t e n d i m e n t o s reve-
lam: a a u s ê n c i a de a r t i c u l a ç ã o e n t r e as á r e a s d e a t u a ç ã o d a p s i c o l o -
gia n o q u e se refere à q u e i x a e s c o l a r ; o d e s c o n h e c i m e n t o dos psi-
cólogos clínicos a respeito das pesquisas educacionais que mostram
aspectos importantes do dia-a-dia escolar; o d e s c o n h e c i m e n t o dos
psicólogos quanto aos direitos à e s c o l a r i z a ç ã o ; o pressuposto de
que o e n c a m i n h a m e n t o inclui necessariamente u m problema emocio-
nal, o q u e os l e v a a d e i x a r d e p e s q u i s a r a s p e c t o s r e l a t i v o s a o pro-
cesso d e e s c o l a r i z a ç ã o d a c r i a n ç a .
E m b o r a cada u m dos referenciais teóricos u t i l i z a d o s pela psicolo-
gia p a r a e x p l i c a r os " p r o b l e m a s de a p r e n d i z a g e m " ( a m b i e n t a l i s t a , inte-
r a c i o n i s t a , b e h a v i o r i s t a ) p u d e s s e a v a n ç a r na e x p l i c a ç ã o d o fracasso es-
colar, os p s i c ó l o g o s q u e a t e n d e m q u e i x a s escolares m a n t i v e r a m como
eixo d e a n á l i s e ora os aspectos referentes ao p s i q u i s m o e ao desenvol-
v i m e n t o d o i n d i v í d u o , o r a os aspectos m e r a m e n t e pedagógicos.
C o n s i d e r a m o s q u e a r u p t u r a c o m essa a n á l i s e só a c o n t e ç a m a i s
recentemente a partir da u t i l i z a ç ã o de referencial teórico que arti-
c u l e n í v e i s de a n á l i s e t r a d i c i o n a l m e n t e a b o r d a d o s separadamente, a
saber, as esferas i n d i v i d u a l ( s u b j e t i v i d a d e ) e s o c i a l ( r e a l i d a d e s o c i a l ) ,
i n c l u a a c o m p l e x i d a d e d o s processos de e s c o l a r i z a ç ã o n u m a socieda-
d e de c l a s s e s , n a q u a l c r i a n ç a s s ã o t r a t a d a s d e s i g u a l m e n t e e m fun-
ção do grupo social a que pertencem.
A concepção t e ó r i c a q u e n o s p e r m i t e a n a l i s a r o processo de
escolarização, e n ã o os problemas de aprendizagem, desloca o eixo
da a n á l i s e d o i n d i v í d u o p a r a a e s c o l a central de s u a a n á l i s e , o psicólogo
e o conjunto de relações institucio- incorre no erro de desprezar inúme-
nais, históricas, psicológicas, pedagó- ras outras situações que, segundo
g i c a s q u e se f a z e m p r e s e n t e s e c o n s t i - apresentam várias pesquisas na área
tuem o dia-a-dia escolar. Ou seja, os educacional, são constitutivas de
aspectos p s i c o l ó g i c o s são parte do ações r e a l i z a d a s p e l a s c r i a n ç a s e de
c o m p l e x o universo da escola, encon- reações a d e t e r m i n a d o s contextos ex-
trando-se imbricados nas múltiplas tremamente h o s t i s . E, a l é m d o m a i s ,
r e l a ç õ e s q u e se e s t a b e l e c e m no pro- isso e x p l i c i t a o fato d e q u e o profis-
cesso p e d a g ó g i c o e i n s t i t u c i o n a l nela s i o n a l p s i c ó l o g o d e s c o n h e c e o q u e se
presentes. Tal concepção rompe com passa na escola, n ã o tendo a d i m e n -
as e x p l i c a ç õ e s a n t e r i o r e s s o b r e o fra- são de que o fracasso ou o sucesso
casso escolar mudando o foco do n o p r o c e s s o de a p r e n d i z a g e m escolar
olhar de aspectos apenas psicológicos é muito menos determinado por
para a análise do indivíduo e suas questões individuais do que por
relações institucionais. mecanismos institucionais e políticos.
Não se t r a t a , p o r t a n t o , d e uma A concepção teórica que parte
ampliação do contexto que observa- da c o n s c i ê n c i a p o l í t i c a da exclusão
mos com autores que buscam rela- de p a r c e l a s s i g n i f i c a t i v a s d a popula-
ções e n t r e p s i c a n á l i s e e m a t e r i a l i s m o ção do processo de escolarização, ao
histórico, ou ainda com a psicogêne- se a p r o p r i a r de d e t e r m i n a d a s meto-
se, m a s s i m de ruptura com uma lei- d o l o g i a s de p e s q u i s a , v e m procuran-
tura que desconsidera a escola en- do dar conta da c o m p l e x i d a d e do
quanto p o s i t i v i d a d e e q u e a n a l i s a as processo de escolarização. Amplia-se a
d i f i c u l d a d e s n o processo de escolari- c o n c e p ç ã o de q u e a e d u c a ç ã o escolar
zação como problemas de aprendiza- n ã o d e v e ser v i s t a a p e n a s e m função
g e m e estes c o m o sintoma de ques- da s o c i a l i z a ç ã o . M a s recupera-se o
tões e m o c i o n a i s profundas. papel político do processo educacio-
A perspectiva que considera o nal escolar: a escola tem um papel
p r o c e s s o de e s c o l a r i z a ç ã o e n f a t i z a que fundamental na democratização do
a escola é o espaço em que relações Estado, "é p o r e x c e l ê n c i a u m centro
sociais e individuais articulam-se em de formação de c i d a d a n i a " , como
u m a rede de relações c o m p l e x a s e q u e afirma Weffort (1995).
p r e c i s a m ser a n a l i s a d a s c o m o tal. Ou No Brasil, a crítica teórica pre-
seja, q u a n d o o p s i c ó l o g o recebe uma s e n t e e m A produção do fracasso es-
q u e i x a escolar, esta c o n s t i t u i fragmen- colar: histórias de submissão e rebel-
to de u m a c o m p l e x a rede de r e l a ç õ e s dia traz para o centro da pesquisa
s o c i a i s q u e a priori esse profissional educacional a questão das raízes do
desconhece, em função da complexi- fracasso escolar das escolas públicas
dade do fenômeno e da f o r m a ç ã o res- brasileiras. Ao analisar o percurso
trita e fragmentada q u e recebe. histórico do pensamento educacional
O psiquismo é u m dos aspectos brasileiro, a autora põe-nos frente a
constitutivos d o p r o c e s s o de e s c o l a r i - frente com constatações que mudam
z a ç ã o , e, a o e l e g ê - l o c o m o o aspecto o r u m o da c o m p r e e n s ã o dos chama-
d o s p r o b l e m a s de a p r e n d i z a g e m , rom- tiva ao papel desempenhado pela psi-
pendo com explicações tradicionais cologia na produção da exclusão
até e n t ã o p r e s e n t e s n a l i t e r a t u r a p s i - por m e i o de suas concepções medica-
cológica e pedagógica em nosso país lizantes a respeito da queixa escolar.
(Patto, 1990). A a p r o p r i a ç ã o d o r e f e r e n c i a l te-
Os p r i n c i p a i s a r g u m e n t o s desse órico crítico, oriundo da sociologia,
trabalho estão, em primeiro lugar, tendo como principais teóricos An-
no fato de que os problemas de tonio Gramsci (1984, 1991), enquan-
aprendizagem incidem maciçamente to " t e ó r i c o das superestruturas", e
s o b r e as c r i a n ç a s d a s c l a s s e s p o p u l a - Agnes Heller (1972, 1987), por meio
res e é sobre elas q u e d u r a n t e déca- d a s o c i o l o g i a d a v i d a c o t i d i a n a , so-
das r e c a e m as e x p l i c a ç õ e s a r e s p e i t o mada às m e t o d o l o g i a s de pesquisa
d o s c h a m a d o s p r o b l e m a s de a p r e n d i - q u a l i t a t i v a s , p r o v e n i e n t e s de perspec-
z a g e m : ou porque apresentam pro- tivas a n t r o p o l ó g i c a s para a análise
b l e m a s p s i c o l ó g i c o s , ou biológicos do processo de e s c o l a r i z a ç ã o (com
ou, mais recentemente, culturais; bem especial destaque para a perspectiva
como a n a l i s a n d o o caráter ideológi- etnográfica), aponta para a complexi-
co e r e p l e t o de e q u í v o c o s presente d a d e desse processo, r o m p e n d o com
nessas explicações, resultado de con- explicações que consideram os pro-
cepções preconceituosas a respeito b l e m a s no processo de escolarização
do pobre e da pobreza no Brasil. uma questão individual, familiar,
E, e m s e g u n d o l u g a r , a o convi- meramente p e d a g ó g i c a , ou ainda
ver d u r a n t e u m l o n g o p e r í o d o numa como uma relação inadequada entre
escola p ú b l i c a e a n a l i s a r os p r o c e s s o s professores e alunos.
que constituem o cotidiano escolar, Na vida cotidiana o homem
a autora pôde demonstrar que existe objetiva-se e m n u m e r o s a s f o r m a s e ao
um complexo u n i v e r s o de questões formar seu mundo se f o r m a tam-
institucionais, políticas, individuais, b é m . Esse p r o c e s s o p o d e ser v i s t o n a
e s t r u t u r a i s e de f u n c i o n a m e n t o pre- educação. O processo educativo na
sentes na vida d i á r i a da escola que vida cotidiana não se e x p r e s s a so-
conduzem a o seu fracasso, mantendo m e n t e n o m o d o p e l o q u a l eu apren-
os a l t o s í n d i c e s d e e x c l u s ã o , p r i n c i - di de meus pais certas regras de
palmente das crianças e adolescentes vida fundamentais, mas também no
das camadas mais pobres de nossa m o d o e m q u e eu a s t r a n s m i t o para
sociedade. meu filho. No m e u educar repercuti-
O argumento de que o fracasso r ã o t a m b é m m i n h a s e x p e r i ê n c i a s pes-
escolar é p r o d u t o da escola resgata soais: q u a n d o comunico meu mun-
pelo menos duas grandes questões do, expresso t a m b é m estas e x p e r i ê n -
para o psicólogo e para a formação cias; q u a n d o "transmito" meu mun-
profissional: a p r i m e i r a referente ao do, c o n t e m p o r a n e a m e n t e me objetivo
posicionamento político de compro- enquanto a l g u é m q u e já se apropriou
misso com o excluído, principalmen- deste mundo.
te c o m as c r i a n ç a s e a d o l e s c e n t e s , e a Pensar a v i d a c o t i d i a n a n a escola
s e g u n d a , n ã o m e n o s i m p o r t a n t e , rela- é pensar o conjunto de atividades
caracteristicamente heterogêneo em- relações traumáticas ou ainda que
preendido e articulado por sujeitos esta c r i a n ç a pertence a um grupo
p a r t i c u l a r e s . As a t i v i d a d e s o b s e r v a d a s de risco.
na escola ou em q u a l q u e r contexto Um dos nossos objetivos, en-
p o d e m ser e n t e n d i d a s c o m o cotidia- q u a n t o psicólogos, reside em desvelar
nas somente em referência a esses os p r o c e s s o s de e s c o l a r i z a ç ã o que
s u j e i t o s . Para esse s u j e i t o , o pequeno produzem essa c r i a n ç a q u e t e m na
m u n d o cotidiano contém sua vida e apatia uma forma de comunicação,
n e l a seu t r a b a l h o , suas m ú l t i p l a s ativi- ou na agressividade sua m a n e i r a de
d a d e s , os v á r i o s s e n t i d o s que tem se d e f e n d e r de práticas pedagógicas
cada situação particular. Assim sendo, p r o d u z i d a s e m u m a e s c o l a cujas rela-
r e c o n s t r u i r a v i d a c o t i d i a n a d a escola ções são a t r a v e s s a d a s p o r preconcei-
tem c o m o referentes necessários os tos e e s t e r e ó t i p o s e m r e l a ç ã o à c r i a n -
sujeitos que a constituem: professo- ça p o b r e e s u a f a m í l i a . O u seja, a
res, a l u n o s e pais, principalmente existência de m e c a n i s m o s institucio-
(Ezpeleta & Rockwell, 1986). n a i s e de ações c r i s t a l i z a d a s p r o d u -
Os protagonistas da escola em zem na criança e no professor a im-
condições sociais, culturais e materi- p o s s i b i l i d a d e de p e n s a r a s u a própria
ais específicas r e a l i z a m a e x i s t ê n c i a c o n d i ç ã o de s u b m i s s ã o e d e e x c l u s ã o
cotidiana d a e s c o l a s i n g u l a r e, ao no processo educacional. A interven-
fazê-lo, refletem t o d o s os elementos ção v e m no sentido de possibilitar o
formais e não formais do sistema pensar com a criança e com o pro-
fusionados com os d e seu contexto fessor essa r e l a ç ã o e s t e r e o t i p a d a e
social. Na experiência cotidiana dos p r o d u t o r a da repetência, da repeti-
s u j e i t o s , t r a n s p o r as p o r t a s da e s c o l a ç ã o d e p r á t i c a s q u e e s t i g m a t i z a m , ex-
constitui ao m e s m o t e m p o u m a con- cluem, oprimem e rotulam.
tinuidade - pois apenas desloca âm- Faz-se u r g e n t e p e n s a r uma for-
bitos sociais contíguos e m a n t é m sua mação do psicólogo que articule o
própria identidade - e uma ruptura conhecimento crítico acumulado,
diante das diversas exigências institu- rompendo com a fragmentação do
c i o n a i s e s o c i a i s e d a s a d a p t a ç õ e s aos i n d i v í d u o por m e i o de p r á t i c a s pro-
papéis propostos pela escola. fissionais que, em n o m e de determi-
Que c o n s e q ü ê n c i a s essa aborda- nados princípios ditos científicos,
gem traz para a intervenção do psi- transformam a complexidade humana
cólogo? Nessa perspectiva, ao rece- em números e rótulos, crianças inte-
bermos o encaminhamento de uma l i g e n t e s e c a p a z e s e m seres d o e n t e s e
criança multirrepetente ou c o m difi- desadaptados. A psicologia não tem
c u l d a d e s n o processo de e s c o l a r i z a ç ã o , acompanhado, na sua prática de
não vamos analisá-lo do ponto de f o r m a ç ã o , os a v a n ç o s s o c i a i s e institu-
vista d a q u i l o q u e o a l u n o n ã o conse- c i o n a i s n o q u e se refere a o s direitos
guiu atingir cognitivamente ou a da c r i a n ç a e d o a d o l e s c e n t e n o Bra-
partir de sua rede de relações com sil. C o m o fazê-lo? Eis o n o s s o desa-
seu professor e c o l e g a s , ou a n a l i s a r as fio e n q u a n t o participantes do pro-
dificuldades familiares advindas de cesso d e f o r m a ç ã o de psicólogos. •
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Moysés, M . A. A. & C o l l a t e s , C . A. ( 1 9 9 2 ) .
A história não contada dos distúrbios
de a p r e n d i z a g e m . Cadernos CEDES, 2 8 ,
Ancona-Lopez, M. (1983). C a r a c t e r í s t i c a s da 31-48.

clientela de clínicas-escola de psicologia Patto, M. H. S. ( 1 9 9 0 ) . A produção do

de S ã o P a u l o . Arquivos Brasileiros de fracasso escolar: histórias de submissão


Psicologia, 1 (35), 78-92. e rebeldia. S ã o P a u l o , S P : T. A . Q u e i r o z .

C o s t a , J . F. ( 1 9 8 4 ) . Violência e psicanálise. Rockwell, E. ( 1 9 9 1 ) . Ethnography and criti-

Rio de J a n e i r o , RJ: Graal. cai knowledge of education in Latin

C r u z , S. H. V . ( 1 9 9 4 ) . O ciclo básico cons- America. Prospects, 2 1 , 2, 156-67.

truído pela escola. Tese d e D o u t o r a d o , S i l v a r e s , E. ( 1 9 8 9 ) . Descrição comportamen-

Instituto de Psicologia, Universidade de tal e socioeconômica da p o p u l a ç ã o in-

São Paulo, São Paulo, SP. fantil de u m a c l í n i c a - e s c o l a de psicolo-

Ezpeleta, J . & Rockwell, E. ( 1 9 8 6 ) . Pesquisa gia de S ã o P a u l o . Relatório Científico

participante. S ã o P a u l o , SP: C o r t e z . [mimeografado].

Ferreiro, E. (1982). Los procesos cons- Souza, D . T. R. de ( 1 9 9 1 ) . Conquistando o

tructivos de a p r o p i a c i ó n d e la escritu- espaço escolar: a estruturação do traba-


ra. In Ferreiro, E. & Palácio, M. G. lho pedagógico numa classe de ciclo
( o r g s . ) . Nuevas perspectivas sobre los básico. Dissertação de M e s t r a d o , Institu-

procesos de lectura e escritura. Méxi- to de P s i c o l o g i a , Universidade de S ã o

co: Siglo XXI. Paulo, São Paulo, SP.

(1983). Procesos de a q u i s i c i ó n de S o u z a , M . P. R. d e ( 1 9 9 6 ) . A queixa escolar


la lengua escrita d e n t r o dei c o n t e x t o es- e a formação do psicólogo. Tese de
colar. Lectura y Vida, 4 , 2 , 5 3 - 6 4 . Doutorado, Instituto de Psicologia, Uni-

( 1 9 8 5 ) . Reflexões sobre alfabetiza- v e r s i d a d e de S ã o P a u l o , S ã o Paulo, SP.

ção. São Paulo, SP: C o r t e z / A u t o r e s A s - Tabulação e análise de dados levantados


sociados. sobre a demanda infantil em unidades
Freire, P. ( 1 9 8 1 ) . Pedagogia do. oprimido. básicas de saúde (1989) [mimeografado].
Rio de J a n e i r o , RJ: Paz e Terra. Trinca, W . ( 1 9 7 6 ) . Investigação clínica da
( 1 9 8 3 ) . Educação e mudança. Rio personalidade. O desenho como estímu-
de J a n e i r o , RJ: Paz e T e r r a . lo de apercepção temática. Belo Hori-
(1 9 9 4 ) . Educação como prática zonte, MG: Interlivros.

da liberdade. R i o de J a n e i r o , RJ: Paz U r b i n a t t i et al. (1 9 9 4 ) . Queixa escolar:


e Terra. pesquisa de demanda realizada na
Gramsci, A. (1984). Concepção dialética da área de saúde mental das unidades
história. Rio de J a n e i r o , RJ: C i v i l i z a ç ã o básicas de saúde do Distrito de Saúde
Brasileira. Grajaú/ln terlagos e Parelheiros
( 1 9 9 1 ) . Cartas do cárcere. R i o de ARS.9. Abril a junho de 19 9 3 . São

Janeiro, RJ: C i v i l i z a ç ã o Brasileira. Paulo [mimeografado].

Heller, A. (1972). O quotidiano e a histó- Weffort, F. ( 1 9 9 5 ) . Escola, participação e

ria. R i o de J a n e i r o , RJ: Paz e T e r r a . representação f o r m a l . In S i l v a , L. H. &

( 1 9 8 7 ) . Sociologia de la vida coti- A z e v e d o , J . C . de (orgs.). A paixão de

diana. Barcelona: Península. aprender II. Petrópolis, RJ: Vozes.

Kramer, S. & A n d r é , M . E. D . A . (1984).


Alfabetização: um estudo de professo-
res das camadas populares. Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos, 65,
523-37.

Você também pode gostar