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Clamamos pela Catalunya1

Apoiemos a luta do povo catalão!

Após a celebração do referendo de Primeiro de outubro na Calalunya e o triunfo do Sim a favor da


independência da Calalunya, face as dificuldades legais, judiciais e policiais impostas pelo governo
do Partido Popular, se sucedeu o êxito da greve geral convocada pela esquerda sindical (seguida por
funcionários públicos, transportes e zonas rurais) e manifestações em pequenas e médias empresas
contra a repressão realizadas por outras camadas de população em protesto contra a repressão no dia
três de outubro. O primeiro resultado foi uma vitória do movimento popular e uma derrota do
governo de Mariano Rajoy que não conseguiui impedir estas duas grandes expressões do
movimento.

Foi iniciada uma rebelião com apoio social massivo no seio da União Européia. Isso reforça a
possibilidade de caminhar rumo à República Catalã, objetivo que requer maiores graus de auto-
organização popular e a realização de um processo constituinte capaz de frear a contrarrevolução
anunciada pelo discurso do Rei Felipe VI na noite de três de outubro. Não por acaso proferido com
o pano de fundo do retrato do rei espanhol que anexou a Catalunya. (nota de tradução)

Vitória política do referendo, aumento da repressão do Estado

A determinação admirável de um segmento grande da população catalã - que conseguiu resistir


pacificamente - conduziu a estratégia do regime de 782 a uma importante derrota política na
Calalunya aos olhos do resto do mundo. Foi um baque, não só para o Partido Popular (PP) de Rajoy,
também para a estabilidade da monarquia e de seus principais agentes resultantes da reforma do
franquismo que foi chamada de transição. A estrutura do Partido Socialista Obrero Español (PSOE),
o partido direitista Ciudadanos (Cs), o aparelho militar, o aparelho repressivo do Estado, assim
como os poderes do capital, constituem um bloco de poder que não é redutível à possibilidade de
ser reformado.

O monarca Felipe VI, enquanto chefe do Estado e Rajoy, o governo e o partido corrupto, com o
apoio de PSOE e Cs e dos grandes meios de comunicação iniciaram uma campanha de calúnias,
mentiras e desprestígio do movimento popular catalão. Nã desprezemos tal dado, pois é um fator de
doutrinação das classes populares do Estado espanhol e da comunidade européia para enfrentar o
povo catalão e para subordiná-los com a desculpa da "unidade da nação espanhola". O objetivo do
bloco de poder é justificar aos olhos dos cidadãos do Estado espanhol e em nível internacional
novas e mais repressivas medidas, que incluem a detenção de líderes civis e políticos catalãos, o
fechamento ou amordaçamento dos poucos meios de comunicação não submetidos e a suspensão
das instituições controladas pelo governo espanhol em território catalão.E outa medida, mais grave:
prolongar a presença de forçass policiais e militares controladas pelo governo espanhol no território
catalão.

República catalã e processo constituinte

Foi iniciado una titubeante ruptura institucional que com toda certeza vai se radicalizar frente aos
golpes repressivos do Estado. É difícil prever os ritmos e formulações que acabará adotando, mas o
enfrentamento é inevitável. Há dois elementos chave: esforçar se para manter una estratégia mais
pacífica possível, evitando provocações, com o intuito de não oferecer nenhum pretexto ao Estado
espanhol para desencadear uma repressão mais dura e dividir o movimento; o que estão bastante

1 O tradutor se reserva o direito de manter a grafia original – Catalunya – como singela homenagem a esta região de
centenária tradição de lutas, resistência e liberdade.
2 Com a morte do General Franco, o retorno à democracia e à monarquia foi mediado entre as forças políticas no
chamado Pacto de Moncloa, que moldou as instituições políticas atuais da Espanha. (N. Do T.)
dispostos a fazer. Ou trabalhar na extensão da resistência à repressão tanto no mundo do trabalho
catalão, tanto numa aliança ampla antirrepressiva, democrática e pelas liberdades no conjunto do
Estado espanhol e na solidariedade mais massiva possível na opinião pública internacional.

Da dupla legitimidade a uma dualidade de poderes conjuntural

Desde os dias 6 e 7 de setembro existem duas legitimidades e dois ordenamentos jurídicos opostos.
O fosso entre ambos só pode aprofundar-se de modo irreversível. A falta de clareza, firmeza e
decisão de grande parte das esquerdas somente possibilita soprar vento nas velas da
contrarrrevolução e ser um obstáculo à viragem à esquerda dada ao ascenso republicano na
Calalunya. As esquerdas que reinvidicam o socialismo e o movimento operário na Espanha e na
Calalunya não podem se omitir e tem o dever de assumir suas responsabilidades. A tarefa que
enfrentam é impulsionar um processo que aprofunde a ruptura democrática em todo o Estado; tendo
em conta que a situacão e os ritmos são diferentes na Catalunya, em comparação com o resto do
Estado espanhol. Na Catalunya devem disputar a direção política desta incipiente revolução
política, situando as questões sociais, democráticas, ambientais e emancipatórias no centro do
debate constituinte que se instalará nas próximas semanas. O mesmo deverá ser feito, esperamos
que seja o mais breve possível, no resto do Estado espanhol. Também é dever da esquerda e do
movimento dos trabalhadores internacionais organizar campanhas amplas de apoio ao movimento
catalão e denunciar a campanha contrária orquestrada pela classe dominante e seus meios de
comunicacão.

Greve geral, auto-organização e transbordamentos das resistências

A possibilidade de impulsionar a luta de classe dos trabalhadores com agenda própria e intentar uma
nova hegemonia social anticapitalista existe. Ela depende da afirmação da capacidade dos
trabalhadores e trabalhadoras para atuar politicamente em relação ao resto das classes sociais para
recolocar a questão nacional, rompendo com o corporativismo e o economicismo passivo. Há de se
trabalhar duramente para reduzir a distância entre o necessário e o possível.

A mobilização de massas ocorrida a 3 de outubro, com a greve geral convocada, faz a Calalunya
lançar as bases de uma mudança do movimento dos trabalhadores organizados no processo político
e da generalização de dinâmicas de auto-organização nos bairros (Comitês de Defesa de Referência
e Recrutamento que estão em processo de se converterem em Comitês de Defesa da República),
nas localidades e alguns centros de trabalho. A base social do movimento se massifica, os partidos
nacionais, a Assembléia Nacional Catalana e o Omnium Cultural3, que é o próprio "processo
independentista". Tudo isso assinala o ascenso dos setores mais dinâmicos e radicais da classe
trabalhadora.

A democracia, o regime de 1978 e suas contradições: a necessidade de uma segunda frente:

A crise em curso não é somente uma rebelião catalã; é sobretudo uma crise de Estado na qual se
digladiam duas forças: a esquerda momentaneamente minoritária (fundamentalmente nossos
companheiros Anticapitalistas4 e correntes significativas da esquerda sindical, os movimentos
sociais, Podemos5 e partidos de esquerda em geral, assim como correntes nacionalistas de
esquerda). E no outro lado do espectro político a extrema direita mobiliza-se contra o relógio para
ocupar as ruas. É provavel que a curto prazo, no resto do Estado espanhol, as forças mais
beneficiadas pela crise sejaê a extrema direita. Daí a urgencia de que as esquerdas emergentes sejam
capazes de abrir un segundo frente que alivie a pressão repressiva sobre a Catalunya tomando

3 Organização da sociedade civil catalã que promove sua língua e cultura.


4 Corrente autonomista espanhola
5 Partido político espanhol de esquerda.
iniciativas contra a repressão e pela ruptura con o regime de 78. A natureza do bloco de poder que
controla o atual regime político espanhol obriga ao enfrentamento con este para defender
eficazmente as liberdades e un horizonte destituinte/constituinte.

A Espanha encontra se numa bifurcação histórica: entre respeito à legalidade ou respeito à


aprofundização da democracia. As atitudes conciliadoras e os apelos abstratos ao diálogo estão
tendo escasso eco real tanto entre os atores políticos como entre os cidadãos. É necessário articular
uma ação conjunta das esquerdas e o movimento popular catalão para atingir os objetivos
democráticos e estancar a repressão.

Unilateralidade e solidariedada, requisitos indispensáveis para a vitoria

A chamada “unilateralidade” do referendo catalão não é incompátivel con a busca de solidariedades


e sinergias con forças democráticas e populares do conjunto do Estado espanhol e na esfera
internacional. Neste sentido, é cada vez mais evidente que a autodeterminação da Catalunya será
derrotada caso não haja ruptura(s) constituente(s) no conjunto do Estado espanhol e que não há
mudança de regime possível na Espanha a não ser que ofereça uma saída democrática e fraterna às
aspiracões catalãs.

Criar dois, três, muitas Catalunyas

Pela ocasião do cinquentenário do assassinato de Ché Guevara, exemplo de revolucionário com


visão internacionalista, é conveniente tomar consciência de que o tempo para romper a dialética
reacionária que arrasta a Europa e o mundo se esgota. E mais: afeta a todas as regiões do planeta.
Golpismo institucional na América Latina, populismo racista e islamófobico na Europa e Estados
Unidos, jiradismo fascistizante no Oriente Médio… ameaçam o mundo inteiro e nos arremessam ao
caos geopolítico de épocas anteriores.

Por isso é fundamental apoiar a luta catalã na medida em que é um exemplo de desobediência civil
de massas mais impressionante das últimas décadas e constitui um verdadeiro laboratório para as
revoluções cidadãs do século XXI e que podo contribuir para romper a espiral rumo à barbarie em
quem tem nos mergulhado a decadência do sistema capitalista mundial. Em tempos em que as
classes trabalhadoras e populares estão sofrendo duros ataques por parte dos capitalistas em toda a
União Européia, com profundos ataques contra os direitos democráticos, a rebelião do povo da
Catalunya é um sinal para recuperar a esperança na ação coletiva dos oprimidos e explorados.

É muito mais que uma coincidência histórica que a bandeira independentista catalã se inspire
diretamente na bandeira dos revolucionários cubanos. No final do século XIX, os cubanos
derrotaram o exército colonial espanhol na ilha de Cuba, derrota que contribuiu decisivamente para
a ruína da primeira tentativa de Restauração do reacionarismo da dinastia Bourbon. Com toda
certeza, a luta em curso na Catalunya feriu gravemente a monarquia espanhola e uma vitória
republicana permitiria vislumbrar um novo ascenso do movimento popular e uma atualização do
horizonte anticapitalista e ecossocialista na Catalunya, Espanha e Europa.

Solidariedade e mobilização

Chamamos todas as organizações trabalhadoras, populares e democráticas a apoiar a luta na


Catalunya, a denunciar a repressão do estado espanhol, a pressionar a sus respectivas nações que
reconheçam o ato de soberania que está ocorrrendo e reconheçam uma eventual proclamação da
República catalã e/ou sua Declaração de independência.

Pela República catalã! Pela auto-organização popular e pela realização de uma Constituinte
democrática!

Burô Executivo da Quarta Internacional


5 de outubro de 2017

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