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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.184.570 - MG (2010/0040271-5)


RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI
RECORRENTE : AYMORÉ CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A
ADVOGADO : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR E OUTRO(S)
RECORRIDO : JOSÉ PEDRO MOREIRA
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CONTRATO


DE FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL COM GARANTIA DE
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL REALIZADA
POR CARTÓRIO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS SITUADO EM
COMARCA DIVERSA DA DO DOMICÍLIO DO DEVEDOR. VALIDADE.
1. A notificação extrajudicial realizada e entregue no endereço do devedor,
por via postal e com aviso de recebimento, é válida quando realizada por
Cartório de Títulos e Documentos de outra Comarca, mesmo que não seja
aquele do domicílio do devedor. Precedentes.
2. Julgamento afetado à Segunda Seção com base no procedimento
estabelecido pela Lei nº 11.672/2008 (Lei dos Recursos Repetitivos) e pela
Resolução STJ nº 8/2008.
3. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

ACÓRDÃO

A Seção, por unanimidade, conheceu do recurso especial e


deu-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sra. Ministra Relatora.
Para os efeitos do artigo 543-C, do CPC, foi fixada a tese de
que é válida a notificação extrajudicial realizada por via postal, com aviso
de recebimento, no endereço do devedor, ainda que o título tenha sido
apresentado em Cartório de Títulos e Documentos situado em comarca
diversa do domicílio daquele. Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira,
Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Nancy Andrighi, Massami Uyeda,
Luis Felipe Salomão, Raul Araújo e Paulo de Tarso Sanseverino votaram
com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília/DF, 09 de maio de 2012(Data do Julgamento)

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


Relatora

Documento: 1145630 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: Página 1 de 12


15/05/2012
Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.184.570 - MG (2010/0040271-5)

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Trata-se de recurso especial


interposto por Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A ,com fundamento
nas alíneas "a" e "c" do art. 105, III, da Constituição Federal, contra acórdão que
manteve sentença indeferitória da inicial de ação de busca e apreensão proferida
pelo Juízo de Direito da 5ª Vara Cível de Belo Horizonte - MG.
O acórdão recorrido recebeu a seguinte ementa (e-STJ fl. 69):

AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - ALIENAÇÃO


FIDUCIÁRIA - NOTIFICAÇÃO - CARTÓRIO DE TÍTULOS E
DOCUMENTOS - CIRCUNSCRIÇÃO DISTINTA DA DO
ENDEREÇO DO DEVEDOR - MORA NÃO COMPROVADA.
Em que pese seja a carta com "AR" entregue no endereço do
devedor suficiente para comprovar a notificação,
presumindo-se que o recebimento naquele lugar, por outra
pessoa, tenha sido autorizado pelo notificando, no caso dos
autos, a notificação extrajudicial foi enviada por cartório de
circunscrição diversa da do endereço do devedor, sendo, pois,
imprestável para constituí-lo em mora, pois o ato do tabelião
praticado fora do âmbito de sua delegação é inválido, segundo
os artigos 8º e 9º da Lei nº 8.935/94.

Sustenta a recorrente ofensa aos arts. 2º, § 2º e 3º do Decreto-Lei n.


911/69 e aos arts. 8º e 9º da Lei nº 8.935/04, ao argumento de que a referida
legislação não exige que a notificação deva ser expedida pelo cartório do domicílio
do devedor.
Ressalta que a notificação atingiu sua finalidade, pois foi recebida no
endereço fornecido pelo devedor no ato da celebração do contrato de alienação
fiduciária.
A recorrente assevera que a legislação que regula a matéria não faz
alusão alguma a que o Cartório de Títulos e Documentos deva estar localizado no
mesmo domicílio do devedor fiduciário para expedir as notificações extrajudiciais
por carta registrada, a fim de constituir em mora o devedor.
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Aponta divergência jurisprudencial salientando que, enquanto o
tribunal de origem entende que a mora não foi comprovada porque a notificação
extrajudicial foi enviada por cartório de circunscrição diversa do endereço do
devedor, o Tribunal de Justiça de São Paulo, diversamente, entende que o fato de a
notificação extrajudicial ter sido enviada por meio de cartório de títulos e
documentos de comarca diversa da do domicílio do devedor é irrelevante,
principalmente porque atingiu sua finalidade.
Requer o provimento do recurso para que seja reformado o acórdão de
origem e deferida a liminar de busca e apreensão com o prosseguimento do feito
nos termos do Decreto-Lei nº 911/69.
Não foram apresentadas contrarrazões ao recurso especial (cf. e-STJ
fl. 102).
O recurso foi admitido na origem como representativo da controvérsia,
nos moldes do art. 543-C, § 1º, do Código de Processo Civil (e-STJ fl.103).
No parecer de fls. 117/119, o Ministério Público Federal opina pelo
provimento do recurso especial.
É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.184.570 - MG (2010/0040271-5)

VOTO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI(Relatora): Como visto do


relatório, a questão discutida nos presentes autos atém-se à validade, ou não, de
notificação extrajudicial realizada por Cartório de comarca diversa do domicílio do
devedor.
Prequestionada a matéria e demonstrada a divergência jurisprudencial,
conheço do recurso e passo ao seu exame.
No que interessa, constou do voto condutor do acórdão recorrido
(e-STJ fl.72):
"Como é curial em questões dessa natureza, nas dívidas garantidas
por alienação fiduciária, reafirme-se, a mora constitui-se 'ex re',
segundo o disposto no § 2º, do Decreto-lei 911/69, com a notificação
servindo apenas para sua comprovação, não sendo exigir-se, para
esse efeito, mais do que a referência ao contrato inadimplido e que
seja entregue no endereço do devedor.
Lado outro, observo que a hipótese em julgamento guarda uma
particularidade eis que, conforme análise dos documentos
encartados aos autos, o réu/apelado reside numa casa situada na R.
Gomes Ferraz, nº 125, bairro Santa Lúcia, nesta Capital - fl. 05 - e a
notificação extrajudicial foi enviada por intermédio do Cartório de
Títulos e Documentos de Raul Soares/MG, fls. 06/08.
Ora, a notificação extrajudicial envida por cartório distinto da
comarca do devedor é imprestável para constituí-lo em mora, pois o
ato do tabelião praticado fora do âmbito de sua circunscrição é
inválido, segundo os artigos 8º e 9º da Lei nº 8.935/94... "

A jurisprudência desta Corte, quanto à questão da mora, pacificou-se


no sentido de que, na ação de busca e apreensão, cujo objeto é contrato de
financiamento com garantia fiduciária, a mora constitui-se ex re nas hipóteses do
art. 2.º, § 2.º, do Decreto-Lei n.º 911/69, ou seja, uma vez não paga a prestação no
vencimento, já se configura a mora do devedor que deverá ser comprovada por
carta registrada expedida por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos ou
pelo protesto do título, a critério do credor (art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei n. 911/69).
Ainda no que diz respeito à constituição em mora por meio de
notificação extrajudicial, foi consolidado o entendimento de que para a sua

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caracterização, é suficiente a entrega da correspondência no endereço do devedor,
ainda que não pessoalmente. A propósito:

"PROCESSUAL CIVIL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE BUSCA E


APREENSÃO. CONVERSÃO EM DEPÓSITO. CONSTITUIÇÃO EM
MORA. NOTIFICAÇÃO ENTREGUE NO ENDEREÇO DO DEVEDOR.
VALIDADE. DECRETO-LEI N. 911, ART. 2º, § 2º. EXEGESE.
I. Válida a notificação para constituição em mora do devedor efetuada
em seu domicílio, ainda que não lhe entregue pessoalmente.
Precedentes do STJ.
II. Recurso especial conhecido e provido, para afastar a extinção do
processo, determinando ao Tribunal de Alçada a apreciação das
demais questões postas no agravo de instrumento." (REsp
692.237/MG, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 11/4/2005).

"DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
CARACTERIZAÇÃO DA MORA. PRECEDENTES. COMPROVAÇÃO
DA MORA. VALIDADE DA NOTIFICAÇÃO. REQUISITO PARA
CONCESSÃO DE LIMINAR.
- Ainda que haja possibilidade de o réu alegar, na ação de busca e
apreensão, a nulidade das cláusulas do contrato garantido com a
alienação fiduciária, ou mesmo seja possível rever, de ofício, cláusulas
contratuais consideradas abusivas, para anulá-las, com base no art. 51,
IV do CDC, a jurisprudência da 2.ª Seção do STJ é pacífica no sentido
de que na alienação fiduciária a mora constitui-se ex re, isto é, decorre
automaticamente do vencimento do prazo para pagamento, por isso
não cabe qualquer inquirição a respeito do montante ou origem da
dívida para a aferição da configuração da mora.
- Na alienação fiduciária, comprova-se a mora do devedor pelo protesto
do titulo, se houver, ou pela notificação extrajudicial feita por intermédio
do Cartório de Títulos e Documentos, que é considerada válida se
entregue no endereço do domicílio do devedor, ainda que não seja
entregue pessoalmente a ele.
- A busca e apreensão deve ser concedida liminarmente se
comprovada a mora do devedor fiduciante. Recurso especial provido."
(REsp 810717/RS, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ de
4.9.2006)

Nestes pontos o acórdão recorrido não destoa da jurisprudência desta


Corte.
A divergência, entretanto, se faz presente no tocante à possibilidade
de a notificação extrajudicial, exigida para a comprovação da mora do devedor nos
contratos de financiamento com garantia de alienação fiduciária, ser realizada por
Cartório de Títulos e Documentos de Comarca diversa do domicílio do devedor.
A Quarta Turma desta Corte, quando do julgamento do Recurso
Especial nº 1.237.699-SC, de relatoria do Min. Luis Felipe Salomão, DJe de
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18.5.2011, decidiu que a notificação extrajudicial pode ser realizada por Cartório de
Títulos e Documentos de Comarca diversa do domicílio do devedor. Confira-se a
ementa:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL COM
GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL REALIZADA POR CARTÓRIO DE
TÍTULOS E DOCUMENTOS LOCALIZADO EM COMARCA
DIVERSA DA DO DOMICÍLIO DO DEVEDOR.
1. A notificação extrajudicial realizada e entregue no endereço do
devedor, por via postal e com aviso de recebimento, é válida quando
realizada por Cartório de Títulos e Documentos de outra Comarca,
mesmo que não seja aquele do domicílio do devedor.
2. De fato, inexiste norma no âmbito federal relativa ao limite
territorial para a prática de atos registrais, especialmente no tocante
aos Ofícios de Títulos e Documentos, razão pela qual é possível a
realização de notificações, como a efetivada no caso em apreço,
mediante o requerimento do apresentante do título, a quem é dada
liberdade de escolha nesses casos.
3. A notificação extrajudicial, seja porque não está incluída nos atos
enumerados no art. 129, seja porque não se trata de ato tendente a
dar conhecimento a terceiros acerca de sua existência, não está
submetido ao disposto no art. 130 da Lei 6.015/73.
4. Recurso especial conhecido em parte e, nesta parte, provido.
(REsp 1237699/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 18/05/2011,
sublinhei)

Por ocasião do referido julgamento foi ressaltado que não existe norma
no âmbito federal relativa ao limite territorial para a prática de atos registrais,
especialmente no tocante aos Ofícios de Títulos e Documentos, razão pela qual é
possível a realização de notificações mediante o requerimento do apresentante do
título, a quem é dada liberdade de escolha nesses casos.
Constou do voto condutor do acórdão citado:

"É bem verdade que a E. Terceira Turma desta Corte, em


precedente de 2007, entendeu que, em virtude do disposto nos art.
8º e 9º da Lei n. 8.935/94, o tabelião não pode praticar atos fora do
município para o qual recebeu delegação, conforme a seguinte
ementa:
Notificação extrajudicial. Artigos 8º e 9º da Lei nº 8.935/94.

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1. O ato do tabelião praticado fora do âmbito de sua delegação
não tem validade, inoperante, assim, a constituição em mora.
2. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 682399/CE, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO
MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em
07/05/2007, DJ 24/09/2007, p. 287)

Contudo, penso que não se deve aplicar o mesmo entendimento


para a hipótese ora em julgamento.
3. Com efeito, os arts. 8º, 9º e 12 da Lei 8.935/94 dispõem que:
Art. 8º É livre a escolha do tabelião de notas, qualquer que
seja o domicílio das partes ou o lugar de situação dos bens
objeto do ato ou negócio.
Art. 9º O tabelião de notas não poderá praticar atos de seu
ofício fora do Município para o qual recebeu delegação.
Art. 12. Aos oficiais de registro de imóveis, de títulos e
documentos e civis das pessoas jurídicas, civis das pessoas
naturais e de interdições e tutelas compete a prática dos atos
relacionados na legislação pertinente aos registros públicos, de
que são incumbidos, independentemente de prévia
distribuição, mas sujeitos os oficiais de registro de imóveis e
civis das pessoas naturais às normas que definirem as
circunscrições geográficas.
Verifica-se que os dispositivos referem-se, especificamente, aos
tabelionatos de notas e aos registros de imóveis e civis das pessoas
naturais , limitando a prática dos atos notariais realizados por estes
oficiais de registro às circunscrições geográficas para as quais
receberam delegação.
Nesse passo, a contrario senso, se a norma não restringiu a atuação
dos Cartórios de Títulos e Documentos ao município para o qual
recebeu delegação, não cabe a esta Corte interpretar a norma de
forma mais ampla, limitando a atuação destes cartórios.
Máxime porque, no tocante às notificações extrajudiciais realizadas
por via postal, não há qualquer deslocamento do oficial do cartório a
outra comarca.
De fato, inexiste norma no âmbito federal relativa ao limite territorial
para a prática de atos registrais, especialmente no tocante aos
Ofícios de Títulos e Documentos, razão pela qual é possível a
realização de notificações, como a efetivada no caso em apreço,
mediante o requerimento do apresentante do título, a quem é dada
liberdade de escolha nesses casos.
4. Por outro lado, cumpre destacar, ainda, que o art. 130 da Lei
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6.015/73, quando prevê o princípio da territorialidade, a ser
observado pelas serventias de registro de títulos e documentos, não
alcançou os atos de notificação extrajudicial, verbis :
Art. 130. Dentro do prazo de vinte dias da data da sua
assinatura pelas partes, todos os atos enumerados nos arts.
128 e 129, serão registrados no domicílio das partes
contratantes e, quando residam estas em circunscrições
territoriais diversas, far-se-á o registro em todas elas.
(Renumerado do art. 131 pela Lei nº 6.216, de 1975).
Parágrafo único. Os registros de documentos apresentados,
depois de findo o prazo, produzirão efeitos a partir da data da
apresentação.
O art. 129, por sua vez, enumera os atos que deverão ser
registrados no domicílio das partes contratantes:
Art. 129. Estão sujeitos a registro, no Registro de Títulos e
Documentos, para surtir efeitos em relação a terceiros:
(Renumerado do art. 130 pela Lei nº 6.216, de 1975).
1º) os contratos de locação de prédios, sem prejuízo do
disposto do artigo 167, I, nº 3;
2º) os documentos decorrentes de depósitos, ou de cauções
feitos em garantia de cumprimento de obrigações contratuais,
ainda que em separado dos respectivos instrumentos;
3º) as cartas de fiança, em geral, feitas por instrumento
particular, seja qual for a natureza do compromisso por elas
abonado;
4º) os contratos de locação de serviços não atribuídos a outras
repartições;
5º) os contratos de compra e venda em prestações, com
reserva de domínio ou não, qualquer que seja a forma de que
se revistam, os de alienação ou de promessas de venda
referentes a bens móveis e os de alienação fiduciária;
6º) todos os documentos de procedência estrangeira,
acompanhados das respectivas traduções, para produzirem
efeitos em repartições da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer
instância, juízo ou tribunal;
7º) as quitações, recibos e contratos de compra e venda de
automóveis, bem como o penhor destes, qualquer que seja a
forma que revistam;
8º) os atos administrativos expedidos para cumprimento de
decisões judiciais, sem trânsito em julgado, pelas quais for

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determinada a entrega, pelas alfândegas e mesas de renda, de
bens e mercadorias procedentes do exterior.
9º) os instrumentos de cessão de direitos e de créditos, de
sub-rogação e de dação em pagamento.
Walter Ceneviva, ao tratar do art. 130 da Lei 6.015/73, afirma:
"O domicílio determina a atribuição ao serviço de certa
comarca, para que se assegure a cognoscibilidade por todos
os terceiros. O assentamento fora do domicílio das partes, dos
apresentados e interessados, dificultaria o conhecimento do
ato por terceiros.
Havendo mais de um registro na comarca, a transcrição
poderá ser feita em qualquer deles, vedada que é a
distribuição (art. 131)."
5. Assim, a notificação extrajudicial, seja porque não está incluída
nos atos enumerados no art. 129, seja porque não se trata de ato
tendente a dar conhecimento a terceiros acerca de sua existência,
não está submetido ao disposto no art. 130 da Lei 6.015/73.

Observe-se que a limitação descrita no art. 9º da Lei nº 8.935/94 é


dirigida ao tabelião na prática de serviços notariais e de registro, dentro das
atribuições do cartório de notas.
Já a realização de notificação extrajudicial está a cargo do cartório de
títulos e documentos, cujo titular denomina-se oficial de registro, para o qual não
vinga a específica restrição.
Em resumo, o art. 9º da Lei nº 8.935/94, inserido na Seção II "Das
Atribuições e Competências dos Notários", traz restrição à prática de atos fora do
Município para o qual recebeu delegação, mas diz respeito expressamente ao
tabelião de notas, não se aplicando ao cartório de títulos e documentos. Observe-se
que, para este último, há seção específica na referida lei: "Atribuições e
Competências dos Oficiais de Registros".
Assim, por ausência de norma dispondo em contrário e tendo em vista
o pleno alcance de sua finalidade (dar conhecimento da mora ao próprio devedor a
quem é endereçada a notificação), tenho como válida a notificação extrajudicial
realizada por via postal, no endereço do devedor, ainda que o título tenha sido
apresentado em Cartório de Títulos e Documentos situado em comarca diversa do
domicílio daquele.
Recentemente, a 2ª Seção, no julgamento do REsp nº 1283.834-BA,
de minha relatoria, colocou uma pá de cal sobre a questão quando acordou, à
unanimidade, ter como válida a notificação extrajudicial realizada por via postal, no

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endereço do devedor, ainda que o título tenha sido apresentado em Cartório de
Títulos e Documentos situado em comarca diversa do domicílio daquele. O citado
acórdão recebeu a seguinte ementa:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL COM
GARANTIA DE ALIENTAÇÃO FIDUCIÁRIA.
NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL REALIZADA POR CARTÓRIO DE
TÍTULOS E DOCUMENTOS SITUADO EM COMARCA DIVERSA
DA DO DOMICÍLIO DO DEVEDOR.
VALIDADE.
1. "A notificação extrajudicial realizada e entregue no endereço do
devedor, por via postal e com aviso de recebimento, é válida quando
realizada por Cartório de Títulos e Documentos de outra Comarca,
mesmo que não seja aquele do domicílio do devedor" (REsp n.
1237699/SC, Rel. Ministro Luiz Felipe Salomão, Quarta Turma,
julgado em 22/03/2011, DJe 18/05/2011).
2. Recurso especial conhecido em parte e, nesta parte, provido.
(REsp 1283834/BA, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 29/02/2012, DJe 09/03/2012)

No caso ora em exame, o devedor reside na Comarca de Belo


Horizonte /MG e a recorrente, Aymoré Crédito Financiamento e Investimento S/A,
com o objetivo de constituí-lo em mora, realizou a notificação extrajudicial por
intermédio do Cartório de Títulos e Documentos da Comarca de Raul Soares /MG.
A tese assentada para os efeitos previstos no art. 543-C do CPC é,
pois, a de que é válida a notificação extrajudicial realizada por via postal, com aviso
de recebimento, no endereço do devedor, ainda que o título tenha sido apresentado
em Cartório de Títulos e Documentos situado em comarca diversa do domicílio
daquele.
Em face do exposto, conheço e dou parcial provimento ao recurso
especial para cassar o acórdão e a sentença, determinando o retorno dos autos à
primeira instância para prosseguimento da demanda, analisando-se os demais
aspectos da lide.

Após a publicação do acórdão, comunique-se ao Presidente e aos


Ministros integrantes das Turmas da 2ª Seção desta Corte, bem como aos
Presidentes dos Tribunais de Justiça dos Estados e dos Tribunais Regionais
Federais, para os procedimentos previstos no art. 543-C, parágrafo 7º, incisos I e II,
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do Código de Processo Civil, na redação dada pela Lei nº 11.672/2008, e no art. 5º,
incisos I, II, e III da Resolução/ STJ nº 8/2008.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2010/0040271-5 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.184.570 / MG

Números Origem: 10024080733934 10024080733934001 10024080733934002


PAUTA: 09/05/2012 JULGADO: 09/05/2012

Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PEDRO HENRIQUE TÁVORA NIESS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : AYMORÉ CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A
ADVOGADO : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR E OUTRO(S)
RECORRIDO : JOSÉ PEDRO MOREIRA
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Alienação Fiduciária

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Seção, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe parcial provimento,
nos termos do voto do Sra. Ministra Relatora.
Para os efeitos do artigo 543-C, do CPC, foi fixada a tese de que é válida a notificação
extrajudicial realizada por via postal, com aviso de recebimento, no endereço do devedor, ainda que
o título tenha sido apresentado em Cartório de Títulos e Documentos situado em comarca diversa
do domicílio daquele.
Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi,
Nancy Andrighi, Massami Uyeda, Luis Felipe Salomão, Raul Araújo e Paulo de Tarso Sanseverino
votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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