Você está na página 1de 38

O Lugar Dissonante: Observatório

de sonoridades e outras formas


de interação

O espaço da obra, o som, a imagem


A arte se expande. O que era considerado arte há cerca de dez anos
referia-se a um conjunto mais restrito de práticas do que se refere hoje.
Surgem novos procedimentos, formas de rearticulação de sentido,
técnicas e ferramentas que supostamente ampliam o escopo do
pensamento do que vem ou não a ser arte.
São deslocamentos em várias direções que provocam turbulências
nos circuitos tradicionais da arte. Parte deles não são movimentos
inéditos no campo da arte, mas demandam novas reconfigurações
das concepções de arte em suas especificidades, generalidades ou
permissividades, como tem ocorrido, por exemplo, com o crescente
direcionamento de práticas artísticas numa relação mais estreita com o
campo social, a partir de preocupações e modos de ação originariamente
considerados como extra-artísticos.
Lourival Cuquinha e Hrönir

Em O Lugar Dissonante, na intenção de explorar aspectos relativamente


Ouvidoria (2009)

extra-artísticos, são apresentados projetos que não se localizam, por Buscando referências analógicas e precedentes no pensamento
exemplo, estritamente no campo da visualidade enquanto elemento de um tipo de obra que alterna noções de lugar e de enunciação
central da obra. Para além das técnicas de representação associadas a sonora, tomamos para a exposição, como componente provocativo e
interpretações da realidade ou da rigidez de suportes estáveis, o conjunto historicamente contextualizante, um trabalho não instalado: o texto-
proposto adota definições transitórias de imagem que se expressam referência Da Audição: Satisfação Garantida Ou Seu Silêncio de Volta, de
através de elementos exteriores ao objeto artístico: a comunicação e Arthur Omar. O resgate desse texto, publicado originalmente no extinto
a interação através de dispositivos diversos; o espaço circundante em Folhetim, da Folha de S.Paulo, em julho de 1988 (um número especial
suas possibilidades funcionais e relacionais; o envolvimento sensorial em homenagem a Stockhausen), não é apenas uma homenagem ao
ou a percepção auditiva. Esse conjunto aparentemente heterogêneo autor de muitas obras-manifestos que orquestram imagem e som de
de formatos e práticas tem o som como enunciador mais notório forma magistral. É também uma forma de não perdermos a dimensão
– ou, como sugerido na apresentação da exposição, constitui uma da complexa riqueza que se introduz no circuito da arte contemporânea
manifestação de imagem “em negociação com o espaço aéreo e o som”. quando se articulam formas instáveis e não ortodoxas de fruição da obra.
Além de evidenciar ruídos, sons ou músicas, os trabalhos investigam as É a partir de um pequeno recorte de artistas brasileiros cujos trabalhos
possibilidades perceptivas e sociais do som em sua relação com o corpo e endossam tal complexidade que se fazem os cruzamentos de O Lugar
o espaço, usando a tecnologia digital como meio e lógica de construção. Dissonante. A confluência que se forma a partir do encontro de Giselle
Por sua vez, de maneiras distintas, os artistas convidados para O Lugar Beiguelman e Maurício Fleury, Fernando Velázquez, Lourival Cuquinha
Dissonante levam também, para além do campo da tecnologia, as e Hrönir, Paulo Nenflídio e Ricardo Carioba expande-se, assim como a
possibilidades dela, trazendo para o campo estético e social, de forma produção artística recente, para além dos limites da própria mostra,
dissonante e producente, suas estruturas e dinâmicas de articulação e configurando um ambiente que pretende reverberar inclusive suas
funcionamento. próprias dissonâncias.
6 7
Da Audição: Satisfação Garantida
ou Seu Silêncio de Volta
Arthur Omar

“Um som opaco me dilui em Rei”


Mário de Sá-Carneiro
“Good music is bed music”
Provérbio chinês

Penetremos mais no ouvido musical do nosso tempo. Do ponto de vista


do ouvido, toda música é funcional. Não há música pura, há apenas
usos possíveis. Do ponto de vista do sujeito, a novidade da música de
hoje é que, mais do que apenas música, ela é vivida basicamente como
trilha sonora, como fundo musical, como música de acompanhamento.
Os segmentos da população que há anos já vêm estabelecendo com a
música uma relação de uso, de trilha, são sensorialmente mais avançados,
mesmo que culturalmente mais atrasados, porque o que conta em nível
de civilização é o deslocamento do lugar da música no interior de novos
padrões comportamentais. A música emerge como acompanhamento
de ações. Assim como na Idade Média a filosofia era vista como serva da
teologia, na era contemporânea a música é serva da ação.
Como exemplo, temos a música para desodorizar elevadores, a música
para dar clima aos jogos noturnos entre um ou mais parceiros, a
música para rodopios da faxineira diarista, a música para atravessar
congestionamentos, a música para desempacotamento do cérebro após
oito horas de trabalho, a música baixinha para tornar alerta o serviço de
vigilância, a música à luz da oração, a música para as longas viagens sur
place. O músico erudito de ponta terá necessariamente de partir por aí,
como em outras escolas ele tinha de partir de uma base folclórica nacional.
A música ouvida sentado no banheiro não é a mesma música que se
ouve quando se segura pela coleira um cão vivo dentro da sala. Não é
a mesma se a ouvimos dentro do nosso carro verde furando um sinal
vermelho ou através das frestas da vizinha que muda de roupa diante
do nosso binóculo fingindo ser o seu próprio doublé de corpo. E nem
será a mesma se quem a toca for o saudoso mestre Glenn Gould, que
é um planeta à parte. Ou se plantada na cabeceira da cama enquanto
você inventa novas formas de amar, a partir das sugestões rítmico-
Paulo Nenflídio
cenográficas que ela cascateia em sua mente.
Detalhe da obra
Teia (2008)

9
Sim. Os lugares se multiplicaram, eis um fenômeno real. Não estamos procura sua poltrona de veludo vermelho, sob os cristais de lustre onde
diante de uma perversa chantagem atômica da indústria cultural. É faíscam velas de sebo de alta qualidade. Estamos numa sala de concerto,
diferente a música que ouço andando da música que ouço parado. o templo máximo onde o ouvinte irá ter contato (ou, quem sabe?, se
E mesmo andando, com meu walkman a médio volume, as várias interpenetrar) com a música em si, a grande arte dos sons, ofertada por
velocidades possíveis do meu passo redividem a música em percepções um bufo spallanzani qualquer, vestido como ele (curiosamente, o maior
tão díspares entre si, como se eu girasse o disco em outras tantas de todos era surdo).
rotações diferentes.
O que houve com a sala de concerto hoje? Fala-se que foi dessacralizada,
Não há um único original de música alguma (por exemplo, a sala de outros retrucam com a “perda da aura”, outros reclamam que é uma
concertos ou o disco, ou a partitura ou mesmo o torpedo musical ainda instituição obsoleta diante dos meios tecnológicos de difusão, e ainda
fresco na mente do compositor), não porque tudo seja mera reprodução outros querem abrir suas portas para o povo inteiro, a fim de que todos
técnica como queria Benjamin, mas porque, do ponto de vista do ouvinte possam conhecer a verdadeira música.
atento, há dezenas de originais diferentes de uma mesma música. Cada
O que não se explicou até hoje foi a raiz do processo que ela atravessou
“cópia” é uma autêntica retomada em novíssimas bases, determinada
(qualquer que tenha sido ele, para o bem ou para o mal). Nunca foi tão
pelo local da sua eclosão como evento.
desacreditada, nunca andou tão cheia.
E ocorre, a partir daqui, algo que nem o próprio Benjamin se atreveria
A verdade é que ali também, como em qualquer outra situação atual
a prever. A aura, expulsa dos objetos pela extinção da unidade do
acompanhada de música, a música é trilha sonora. Uma situação não
original, retorna agora, não como brilho irradiante desses novos originais
privilegiada, não especialmente diferente, como milhares de outras
decorrentes do evento, mas paradoxalmente como auréola circundando
situações possíveis em que a música caminha junto e dispara seu
a cabeça do próprio ouvinte, à maneira de um santo, ou circundando
cineminha. Não se trata de um lugar mais próximo da música em si. Por
apenas o ouvido produtor. A obra não importa mais enquanto sistema
isso, um teatro como o Municipal (do Rio) pode comportar tanto óperas
de valores. O evento, irrepetível e único, é o jorro que se dá no ouvinte em
como apresentações de pagode. Não é o conceito de cultura que se
torno de si mesmo, na operacionalização da sua experiência, na aventura
ampliou, mas, paradoxalmente, o conceito de música que se concentrou.
das suas diferenças criadas no espaço-tempo da sua situação, esta, sim,
Por isso, um músico como João Gilberto pode se dar ao luxo de marcar
um autêntico original.
um concerto no Municipal e não comparecer. Mesmo que sua ausência,
No coração das democracias tecnológicas de massa, o ato de ouvir na verdade, tenha sido determinada por um stage fright patológico,
se torna uma operação tão importante dentro da cultura das formas disfarçado de estrelismo, os organizadores mantiveram as portas abertas,
quanto a composição. E obedece a outras regras. Na verdade, vai as bilheterias funcionando, e o público ocupou seus lugares marcados
instituindo as leis de seu mundo sempre inesperado. A soma dos estilos como se o concerto fosse realmente acontecer. E aconteceu, porque
musicais possíveis dentro de uma sociedade, talvez seja o equivalente à o silêncio no palco era a grande trilha sonora da situação instaurada
totalidade dos tipos possíveis de homens dentro dessa sociedade. naquela sala de concertos, dando lugar, na plateia, a conversas, gestos e
expressões determinadas por aquele silêncio. Aparentemente um filme
Sala de Concerto mudo. Uma retomada, talvez, da peça 4’33”, de John Cage, em que os
músicos não tocam, e o som vem dos murmúrios que o público faz por
Lá está ele, o ouvinte do século 19, andando pela plateia. Envolto num
acaso. A diferença é que aqui se dispensaram músicos e regente. Mas o
fraque reluzente e de braço dado com as joias de sua senhora, ele
show não parou. Foi estranho, mas a plateia saiu leve e sorridente, e, em
momento algum, a ausência do artista foi questionada. Aquele público entradas e suas saídas. Estaria mais próximo das artes da guerra que dos
sabia onde estava pisando. Os jornais noticiaram: à saída, ninguém ficou tratados de harmonia, porque, para um ouvido com auréola, ouvir é uma
decepcionado. Tudo era trilha. guerra santa, e o ouvinte cavalga, é o disc-jóquei de si mesmo.

Diluição Busca
O lema da audição contemporânea é: tudo tem sua hora. A música, Toda música talvez tenha como ponto de partida a questão da audição.
equivocadamente classificada como arte do tempo, revela agora a sua Compor é operar com uma certa vontade de ouvir. Intensamente ouvir já
essência: a música é a arte da hora. E a cultura musical se torna uma é compor. A intensidade da audição tem início quando passa a funcionar
função da vontade de ouvir. Nenhum estilo pode ser desprezado, porque simultaneamente como órgão de emissão.
nenhum estilo pode substituir qualquer outro. A famigerada diluição não
Nossa tese: há um som fundamental na base de cada ouvinte, um único,
dilui nada, como achava repressivamente Adorno, porque uma diluição,
sua pilastra invisível e inaudível, e é ela que dirige os movimentos de seu
mesmo que sem o talento do original, já é um campo de provas novo
ouvido. No trabalho do grande compositor, todas as suas obras são no
para uso do ouvido insaciável. Mais cedo ou mais tarde, aquilo terá sua
sentido de apreender esse som fundamental, discernir a impossibilidade
hora. É tomar ou largar.
dessa presença. O que se chama de estilo surge como manifestação
O ouvido não é um órgão de mera recepção de música, como se fosse o meramente dermatológica dessa busca. O estilo é a forma que assume a
leitor de uma partitura feita de sons ao vivo, mas de energetização da escuta desse som, e cada obra se constitui numa rede para capturá-lo.
presença. O outro lado do ouvido é o cérebro. Estamos numa via de mão
Por exemplo, ouça-se Schumann com essa ideia em mente. Em certos
dupla. O ouvido recebe, mas, como todo orifício de respeito, também
momentos, como por mágica, o fantasma, o eco desse som, saltará
permite que saia. O ouvinte real é aquele cujo ouvido também emite. E a
aos ouvidos exibindo a forma aproximada de uma pequena escala
teoria dessa emissão ainda não foi feita por ninguém.
descendente, repetida veladamente ao longo de sua vida, como se nunca
Por sua vez, os compositores sempre detiveram, no limbo do seu tivesse realmente conseguido capturá-la a contento, talvez porque não
arsenal conceitual, toda sorte de tratados para conduzir a composição, passe de um ponto minúsculo, como o universo contraído da Cabala.
em que se especifica a regência da combinatória dos materiais, os Música: simulação desesperada da identidade.
tratados de harmonia. Seja o Traité d’Harmonie de Rameau (1711), seja o
A música minimalista, repetitiva, apesar de todos os seus pecados
Harmonienlehre, de Schoenberg (1922), o que importa é que os rumos de
cometidos em seu nome, intui, mesmo que indiretamente, essa “coisa”
sua ação sempre estiveram balizados e assegurados, mesmo que a ação de
e vai destruir a noção tradicional de discurso musical e mesmo de
compor se transformasse num ato de revolta contra essas bases, mesmo
obra enquanto totalidade para erigir uma pequena célula repetida
que esse tratado atendesse pelo nome de Silence (1961), de John Cage.
indefinidamente como finalidade última do processo auditivo. Vai
O que ninguém fez até hoje foi um tratado de harmonia do ouvinte, colocar no interior de uma única obra, compactada em dois ou três
ou do puro ouvir, um tratado que esquecesse a música como cultura e compassos básicos, a busca que os compositores românticos realizaram
visasse a promover o estiramento máximo da experiência auditiva. Um transversalmente através de toda uma vida. A célula já contém sua
bom título seria Da Audição. Não se referiria às propriedades e relações própria resolução, numa espécie de hipertrofia majestosa do repouso
entre os sons, mas seria um tratado de atitudes, de posturas, de posições, tonal, e tudo se pacifica antes mesmo de se instaurar qualquer drama.
inclusive físicas, um tratado de táticas e estratégias, de situações, suas

12 13
O ouvinte de si, imerso em trilhas sonoras, terá que tomar uma medida logo em seguida, com a passagem para outro trecho, o processo se
preliminar: medir a distância que o separa do seu objeto fundamental. interrompe e a magia se desfaz.
Ato absurdo, mas que ele tenta encenar através de tateamentos
sucessivos. É preciso que ele reaprenda a ouvir, despojando-se da Pornografia
bagagem ideológica normativa, vestindo o cilício de contra-hábitos
Agora entendemos por que toda música é funcional. E, em se falando
auditivos. O que ele vai buscar não são obras, são trechos.
de funcionalidade, nada melhor que examinarmos a atitude de sujeito
O trecho adquire estatuto de obra de instrumentalização do novo diante do exemplo máximo de obra funcional: o filme pornográfico,
ouvinte. Não no sentido da velha e modernista prática do fragmento, parente mais próximo da música, se levarmos em conta o ponto de vista
da estética de fragmento, ou do culto de uma fragmentariedade do nosso ouvinte.
que hipoteticamente seria o reflexo de um mundo em si mesmo
O fruidor pesado de pornografia tem um olhar muito especial e capaz
fragmentário. Não. É o trecho, o trechinho musical, prosaico pedaço
de superar as dificuldades que a leitura e o uso desse tipo de obra pode
de som que a agulha da vitrola costura e desfaz, repete e emoldura.
encerrar. Para que a função pornográfica se cumpra integralmente, o
Trechos que o ouvinte recorta da massa da obra, um ou dois segundos
sujeito se atira num intenso processo de recorte da massa do filme,
de duração, o trecho onde ele reconhece o lampejo de uma necessidade
pouco lhe importando qualquer pretensão que o filme possa ter como
interna satisfeita.
totalidade.
Não se trata de “consumo alienado” ou de apreciação estética, mas
O enredo é descartado logo de início, reduzido a mero suporte da
apenas de uma simples autoexploração assistemática. Sons que lhe
circulação de corpos. O bom espectador vai direto ao que interessa. Seus
produzem efeitos, sons crispantes, pequenas resoluções irretocáveis
olhos impacientes eliminam todo o supérfluo dentro do quadro e na
para ele. Ali uma imagem espoca e se cristaliza. Bachelard, na Poética
sucessão de quadros e vão pinçando os detalhes brilhantes, as pequenas
do Espaço, já falava ousadamente desse caráter pontual e radical da
auréolas de desejo que faíscam nas epidermes. Recortam e arrancam os
imagem poética, que é um pequeno objetivo de desejo fechado em si,
fragmentos fugazes que lhe disparam efeitos de tensão máxima, e cada
pronto e acabado, que não se confunde com a totalidade do poema,
efeito é checado na hora, testado, com controle de qualidade, através das
apenas está no seu interior como um peixe no aquário e pode ser
reações nervosas ocorrendo no seu próprio corpo.
agarrado com a mão. Satisfação garantida. O trecho de reconhecimento
é curto, pontual, a nosso ver, talvez por limites fisiológicos do próprio Instaura-se um jogo veloz da comparação e avaliação, o olhar deseja
funcionamento da consciência. Ela, em estado alterado de identificação se prender apenas no que seja realmente capaz de fazê-lo. Todo resto é
plena, não poderia ultrapassar o espaço de uma curtíssima duração. E deixado de lado. Só ficam as células básicas, as escalas fundamentais. Se
se o conceito de som fundamental é um fato, mesmo que palidamente algo o faz ancorar de maneira particularmente realizante, ele volta atrás
operante na vida cotidiana, então a audição tem que começar a e repete a cena que contém o elemento, e, dependendo da intensidade,
implodir as obras, aprender um outro poder de discriminação. ataca aí mesmo o processo de finalização do que havia começado.

Tais momentos de pico autointerrogatório são sempre curtos, o sujeito Nada mais parecido do que a prática do ouvinte que propusemos
logo em seguida recai na sua condição dispersa natural. Correspondem acima. Talvez fosse preciso treinar, exercitar duramente um tipo de
a pontos da obra capazes de se adequar a uma necessidade do sujeito e audição “pornográfica” da música, um ouvido com vigoroso poder de
de forma particularmente excelente. O sujeito se põe ali a se auscultar, discriminação, exercendo, muitas vezes sob o jugo da maior urgência
impulsionado pelo patamar a que aquele trecho lhe fez chegar, mas, e da maior pressão, a atividade de separar, selecionar, isolar, justapor,

14 15
recombinar, realçar os segmentos, de tal modo que se transformasse
o ouvido numa espécie de olho que vá eliminando, eliminando,
sofregamente o que não importa. Um ouvido só com olhos para a
possibilidade de seleção do que ele procura. O resto é situação.
O resto é espera.
Talvez a grande música religiosa seja aquela capaz de realizar nas amplas
formas esse ideal de engate total do desejo com seu objeto. Talvez isso
signifique “ouvir a Música das Esferas”.

Arthur Omar, 39, é cineasta e fotógrafo, realizador do vídeo Nervo de Prata. Este

PÁGINAS 46 E 47
texto foi publicado originalmente no suplemento Folhetim, do jornal Folha de S.
Ricardo Carioba Paulo, em 15 de julho de 1988, número em homenagem ao compositor alemão de
Detalhe da obra
Abra (2009) música contemporânea Karlheinz Stockhausen.
16 17
O lugar e a Dissonância
Clarissa Diniz e Lucas Bambozzi
Curadores

Muito se fala da noção de lugar como um campo de tensões. Isso ocorre


inclusive quando o lugar ocupa um sentido figurado, impregnado
de uma oscilação semântica. Assim, há que se deixar claro o que se
pretende ao dizê-lo: lugar aqui tem mesmo valor ambivalente. Em O
Lugar Dissonante, colocamos em jogo as variantes perceptivas que
podem surgir quando o lugar não é apenas um espaço físico, mas o
campo de ressonância de intenções, expressividades e conceitos – tanto
no interior de um trabalho como em seu entorno. Nesse jogo de relações,
equivaleria indagar: Que lugar ou ponto de tensão nossa percepção elege
num trabalho? Como essa noção de locus se desloca segundo o foco de
nossos sentidos visuais ou sonoros? Atiçando uma transliteração: haveria
um punctum1 a ser aferido no âmbito da audição?

imagem O lugar da dissonância, por sua vez, seria a princípio “desambiguador”,


visto que se refere a um ponto de negação, uma tensão inconfortável,
uma condição da qual escapa a consonância. Para além desse sentido
restrito do substantivo – que o caracteriza a partir da exclusão de sua
complexidade semântica, transformando-o num estado negativo –,
pensar na dissonância numa perspectiva propositiva implica contorná-
la para encará-la de uma forma outra, levando em consideração o
potencial crítico dos elementos e processos que diferem, destoam,
dissoam em toda a sua ambivalência. Pensar num lugar dissonante
seria, então, lidar com o espaço das rearticulações perceptivas e
cognitivas possíveis a partir da reflexão crítica diante
da dissonância.
Sobretudo no século que se inicia, diante do efusivo desenvolvimento
de tecnologias e meios em sua complexa rede de trânsitos entre
espaços físicos e virtuais, privados e públicos, o dissoar potencializa
suas possibilidades de instauração e nos conclama a olhar atenta
e criticamente para a diferença, o desvio, o erro, o aparentemente
incompreensível. A tecnologia – e, mormente, a computação – nos
permitem computar a cultura e a sociedade de um outro modo:
computare – “com-parar, con-frontar, com-preender”2. Trata-se, portanto,
de um momento histórico capaz de revolver enfaticamente os processos
de construção do conhecimento, transformando a imagem que fazemos
Paulo Nenflídio
Detalhe da obra do mundo a partir da modificação de nosso modo de “vê-lo”.
Teia (2008)

18 19
É nesse sentido que a produção artística das décadas recentes
tem tentado, como uma de suas preocupações centrais, sugerir
ambientes, ações, dispositivos ou reflexões que ponham em evidência
a necessidade de constantemente rever nossa forma de computar a
partir da consideração das atuais dinâmicas sociotecno-culturais e,
mais especificamente, a partir da definitiva incorporação, em nosso
pensamento (inclusive estético), daquilo que nos é necessariamente
diverso e complementar: o outro.
A arte – tradicionalmente entendida como o campo do olhar, da visão
e da imagem – tem buscado formas de incitar tais rearticulações de
pensamento a partir de uma crescente aproximação ao campo social,
tratado por meio de abordagens múltiplas. Parte dessas investigações
tem feito uso de tecnologias variadas que, indo além da imagem e do
olhar, funcionam como estratégias de reconfiguração da percepção
num sentido expandido, promovendo, assim, uma situação capaz de nos
reposicionar socialmente num dado espaço.
Assumindo uma concepção de arte para além do campo visual
(e relativizando a ideia de representação), buscamos obras em
diálogo com o espaço aéreo e o som, e também com o movimento, a
virtualidade, o corpo, a simultaneidade, a automação, a apropriação, o
código, a mobilidade, o randômico e outras formas de aleatoriedade,
a transitoriedade, o processamento automatizado, a linguagem, a
interação/participação, etc. Encontramos nos artistas convidados
a ressonância de farto interesse crítico diante dos contextos e suas
relações sociais (e físicas) específicas, o que configura uma produção
artística cada vez mais context-specific, que retira a arte de uma lógica
objetual para pensá-la como experiência a um só tempo perceptiva-
cognitiva-semântica cujo foco está, portanto, no sujeito.
O Lugar Dissonante revela-se, nesse sentido, como um pequeno recorte
de artistas brasileiros cujas obras levam em consideração, em seu
processo de elaboração e realização, os aspectos “não alisantes” do uso
tecnológico. Na mostra, é enfatizada a relação entre sujeitos, espaços e
sons em suas divergências, negociações e colaborações particulares e
comuns. Ao reunir trabalhos que problematizam, por exemplo, as noções
de público e privado, autoria, som, comunicação, colaboração, descontrole
e tempo real, atravessados por um interesse de espacialização entre todos
Ricardo Carioba compartilhado, a exposição instaura um lugar onde vivenciar consonâncias
Detalhe da obra
Abra (2009) e dissonâncias, num convite à experimentação perceptiva e social.
20 21
22 23
Fernando Your Life, Your Movie (2007)
Velázquez,
Como lidar com a velocidade de produção de sentidos na
Bruno
Salvareto contemporaneidade? Como encarar, mais especificamente, o acúmulo
e Francisco de imagens de nosso tempo – exacerbação possibilitada pelo
Lapetina desenvolvimento da tecnologia digital em sua ânsia de democratização
dos meios de produção de sentido e valor? Diante de um contexto
existencial polissêmico, como encontrar individualidades, falar em
instâncias subjetivas ou de fato vivenciar um estado de alteridade?
Em quase todos os âmbitos do humano, bem como nos campos de
conhecimento, as preocupações acima colocadas têm se tornado foco
cada vez mais central de discussões, ações e elucubrações diversas.
Após a flexibilização de uma racionalidade historicamente herdada
e a subsequente valorização da subjetividade (sobretudo a partir
da segunda metade do século passado), o século 21 parece estar
PÁGINAS 22 E 23
intensificando o exercício da alteridade no contexto da expansão da Fernando Velázquez,

tecnologia e das mídias/plataformas de interação social – como Google, Bruno Salvareto


e Francisco Lapetina
Orkut, Facebook ou Flickr, este último explorado no projeto Your Life, Your Your Life, Your Movie (2007)

Movie (2007), de Fernando Velázquez.


faz ver o título do trabalho, o que antes era fotografia vira filme. Ao
Tomando a base de dados da plataforma de imagens do Flickr (www. aproximar e mixar imagens diferentes, o trabalho evidencia o potencial
flickr.com), Velázquez convida o público a compor vídeos a partir da narrativo dos encontros – físicos e metafóricos – da convivência social,
inserção de tags (“palavras” que funcionam como indexadores de produzindo sentido mesmo em meio ao caos e à aleatoriedade, e assim
fotos) num software específico, desenvolvido pelo artista. As imagens tangenciando uma sensação de enredamento sígnico em meio ao qual
correspondentes aos tags indicados são mixadas de acordo com uma parece ser imprescindível movimentar-se criticamente.
base algorítmica, gerando vídeos com alto grau de aleatoriedade e
autoria compartilhada. O pool de imagens do Flickr, recorte da produção
e difusão de imagens na atualidade, é tratado de forma anônima Artista urugaio radicado em São Paulo, Fernando Velázquez investiga
e automatizada, subversivamente des-subjetivando as narrativas questões relacionadas ao cotidiano contemporâneo: privacidade,
particulares, memórias e identidades construídas através daquelas monitoramento e controle como elementos mediadores na construção
imagens, na obra posta “a serviço” de uma subjetividade negociada entre de uma “personalidade manifesta”. Formado em Design, com
homem e máquina: o público e o software. especialização em Vídeo e Tecnologias Digitais On-line/Off-line (Mecad,
Além de provocar uma reflexão sobre a autoria, acerca dos caminhos Barcelona), é Mestre em Moda, Cultura e Artes (Senac-SP). Foi curador
percorridos pelos processos criativos e de comunicação na atualidade, do festival Motomix 2007 e recebeu prêmios como o de incentivo à
bem como pôr em questão as concepções de público e privado, Your Life, produção artística Vida Artificial 11.0 e o Culturas 2008 (ambos na
Your Movie promove também uma transformação de linguagem – como Espanha), bem como o 1º Prêmio para Mídias Locativas do Festival
Arte.mov (2008).
24 25
Fernando Velázquez,
Bruno Salvareto
e Francisco Lapetina
Your Life, Your Movie (2007)
instalação multimídia
/ instalación multimedia
/ multimedia instalation
29
GISELLE Suite 4 Mobile Tags (2009) PÁGINAS 28 E 29
Giselle Beiguelman e
tags, viabilizando composições a partir de combinações aleatórias ou
BEIGUELMAN Maurício Fleury intencionais, em um processo de autoria difusa, compartilhada e distribuída
As chamadas tecnologias móveis vêm se tornando um paradigma para o Suite 4 Mobile Tags (2009)
E Maurício espacialmente. O “lugar de acontecimento” da obra, nesse caso, são
FLEURY campo da arte. Ao mesmo tempo que surgem como gadgets de indução
vários, que se alargam e se potencializam através das mãos dos visitantes,
ao consumo, afinam-se com perspectivas e anseios contemporâneos de
socializados em uma trama com propósitos comuns e imersos no ambiente.
muitos artistas: o de proporcionarem experiências que possam expandir
os limites e o alcance de seus trabalhos. A popularização da telefonia Giselle Beiguelman é autora de trabalhos premiados, como O Livro Depois
móvel torna acessível, a um grande número de pessoas, recursos do Livro, Egoscópio (2002) e Esc for Escape (2004). Desenvolve projetos
antes sofisticados de produção multimídia. Giselle Beiguelman vem para internet desde 1994, envolvendo dispositivos de comunicação móvel
enfrentando esse estado de incertezas desde suas possibilidades mais desde 2001, quando criou a Wop Art. Coordena, com o professor Marcus
rudimentares. Seu novo trabalho, Suite 4 Mobile Tags (2009), criado em Bastos, o grupo de pesquisas Net Art: Perspectivas Criativas e Críticas
parceria com Maurício Fleury, vale-se da emergência dos tags do tipo QR- (http://netart.incubadora.fapesp.br/portal). É professora do Programa
Code (Quick Response Code). de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, diretora do
Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia e curadora do Nokia Trends.
O projeto explora uma codificação que se desvenda através de recursos
Mantém a página eletrônica www.desvirtual.com.
de leitura de tags a partir das câmeras embutidas nos celulares – desde
as mais simples e de baixa resolução. Ao se apropriarem de um recurso Maurício Fleury é músico multi-instrumentista, produtor e DJ. Atua na
que tende a ser incorporado – por antecipação, vale dizer – a práticas cena independente paulista desde 2002. Começou com a banda Les
de decodificação e escaneamento de dados, cada vez mais ubíquas, Sucettes e, em 2003, entrou para a Multiplex. Em 2007, foi selecionado
os autores flertam com um procedimento que em muitos aspectos se entre candidatos do mundo inteiro para participar da Red Bull Music
associa ao conceito de ready-made, enfatizando as possibilidades de Academy, que reúne músicos e produtores para trocar experiências e
remodelamento da lógica utilitária desses dispositivos. criar coletivamente. Foi o único DJ brasileiro convidado do festival Sónar
em Barcelona, em 2008. No mesmo ano, apresentou seu primeiro show-
Em O Lugar Dissonante, o sistema criado pelos artistas torna possível
solo no festival Nokia Trends.
uma articulação de sons e extratos musicais disparados pela leitura dos
30 31
Giselle Beiguelman e
Maurício Fleury
Suite 4 Mobile Tags (2009)
Impressões QR-codes e
celulares / Impresiones
QR-codes / Print-outs
QR-codes and mobiles
y móviles
Este projeto foi realizado
com o apoio da / Este
proyecto se llevó a cabo
con apoyo de la / This
project was undertaken
with funding
from
LOURIVAL Ouvidoria (2008) versão ingênua da ideia de cumplicidade: aqueles que telefonam, apesar
CUQUINHA de se corresponsabilizarem pelo caráter aparentemente transgressor
Ouvidoria (2008), de Lourival Cuquinha e Hrönir, mixa em tempo real,
E HRÖNIR do trabalho diante dos tradicionais limites entre o público e o privado,
no ambiente expositivo, ligações telefônicas que estão sendo feitas fora
não são os que o pautam em inteireza. Ainda que o público, por meio
dele. O projeto oferece a possibilidade de efetuar ligações gratuitas em
de suas ligações, sugira timbres, tempos e assuntos para Ouvidoria, são
troca do direito a desviá-las para o ambiente expositivo, espacializando
os artistas que, por meio de seu software e, portanto, sob a “proteção”
sonoramente o conteúdo originariamente privativo das conversas.
da “aleatoriedade”, rearticulam essas informações de modo a pôr em
Assim, Ouvidoria cria um campo de confluências que dá a perceber a
negociação sua autonomia no seio da também autonomia do trabalho.
multiplicidade existencial e espaço-temporal de uma sociedade cujas
Dessa forma, a obra, ambivalente e criticamente, faz ver os poderes
diferenças convivem de formas variadas – por vezes interagindo e,
e as forças envolvidos nos caminhos percorridos pela informação na
noutras, apenas se sobrepondo. A instalação promove a reconfiguração
contemporaneidade, quando tecnologias variadas colaboram para a
de um espaço social muitas vezes “invisível”, tornando-o um percurso
intensificação da produção e, em especial, da circulação de dados. E
sonoro polissêmico por entre uma sala escura onde diferenças (de
não apenas assumindo, mas também exacerbando essas trocas e esses
conteúdo e sotaque, por exemplo) são hibridizadas visando não
conflitos, Ouvidoria promove um reposicionamento social, que vaza para
sua pasteurização, mas, contrariamente, almejando ressaltar suas
além do espaço expositivo.
peculiaridades. É no caráter dissonante das vozes entrecruzadas que se
faz possível experimentar, metafórica e fisicamente, uma convivência Lourival Cuquinha há catorze anos realiza trabalhos artísticos, sobretudo
social que, no dia a dia, tantas vezes se abstrai em estatísticas ou nas áreas de Intervenção Urbana e Audiovisual. Em 2003, a intervenção
encontros de caráter funcionalista. páginas 34, 35, 38 e 39 Varal chamou a atenção dos recifenses, sendo depois vista por moradores
Lourival Cuquinha
de outras cidades do mundo. Em 2004, mais uma intervenção de
Ouvidoria elabora uma provocação no mesmo sentido daquilo que Hélio e Hrönir
Ouvidoria (2009) sua autoria, Mapa do Ácaro, captou atenção do público. Desde então,
Oiticica chamou de convi-conivência3, neologismo que evidencia uma Baseado numa idéia
tem participado de exposições com trabalhos caracterizados pela
superficial e contraproducente convivência social conivente em que original de Lourival
Cuquinha e Ernesto
interatividade com o público e com o meio urbano. Em 2005, teve sua
distinções e trocas são abafadas em nome de uma “pureza abstrata”. Teodósio / Basado en una
idea original de Lourival primeira exposição individual na École Supérieure d’Art de Aix-en-
A exemplo de Oiticica, Lourival Cuquinha e Hrönir estão conscientes Cuquinha y Ernesto
Teodósio / Based on an Provence, na França, onde realizou também residência artística.
de que “é preciso entender que uma posição crítica implica inevitáveis original idea by Lourival
ambivalências; estar apto a julgar, julgar-se, optar, criar é estar aberto Cuquinha and Ernesto
Teodósio
Hrönir (Thelmo Cristovam & Túlio Falcão), criada em 2000, dedica-se
às ambivalências, já que valores absolutos tendem a castrar quaisquer 5 orelhões, 5 robôs digitais a ruído/extreme noise, eletroacústica, música concreta, fonografia/
dessas liberdades [...] Assumir ambivalências não significa aceitar e 5 monitores ativos de
áudio e suas ligações / 5
paisagens sonoras, pesquisas em psicoacústica, música computacional e
conformisticamente todo esse estado de coisas; ao contrário, aspira-se teléfonos públicos, 5 robots técnicas de improvisação livre. Trabalha colaborativamente com artistas
digitales y 5 monitores
então a colocá-lo em questão. Eis a questão”4. activos de audio y sus plásticos, poetas, performers, videoartistas, cineastas, escritores, técnicos
llamadas / 5 public phone
em informática, engenheiros, web designers, fotógrafos.
Colocar a questão coletivamente, por meio de uma relação de trocas, ‘ear’s, 5 digital robots and
5 live audio monitors and
parece uma estratégia apropriada para pensar criticamente no espaço their phone calls
Este projeto foi realizado
social e suas dinâmicas conviventes. Ao ofertar ligações telefônicas com o apoio da / Este
3  OITICICA, Hélio. Brasil
Diarréia, in: Arte Brasileira gratuitas em troca do direito à publicização daquele conteúdo telefônico proyecto se llevó a cabo
con apoyo de / This project
Hoje. Paz e Terra: Rio de
Janeiro, 1973. particular, mais do que promover a “interação” do público, Ouvidoria was undertaken with
funding from
4  Idem. o transforma em coautor e cúmplice da obra. Não há, contudo, uma
36 37
38 39
40 41
PAULO Teia (2008)
NENFLÍDIO
A obra de Paulo Nenflídio faz reverberar para outros campos algumas
das questões reincidentes nas relações entre arte e tecnologias recentes.
A intenção de extrapolar os usos previsíveis de determinados recursos ou
sistemas, no melhor estilo Fluxus, é um anseio que renova o vigor do que
se produz no âmbito das artes interativas, por exemplo. Nos trabalhos
de Paulo, porém, os sistemas ganham vida própria, ou melhor, criam um
sistema à parte do nicho notoriamente tecnológico, em que o digital
convive com estruturas mecânicas ou dispositivos eletroeletrônicos e
fazem emergir um pensamento do tipo “faça-você-mesmo” (DIY – do-it-
yourself). Em projetos que envolvem reciclagem de materiais, técnicas
de circuit-bending, ou customização de instrumentos musicais, Nenflídio
tem elaborado trabalhos que estabelecem uma relação complexa
e sofisticada entre artesania e tecnologia, entre o high e o low tech,
aproximando campos que tradicionalmente são compreendidos como
distintos e hierarquizados.
Em grande parte de seus trabalhos, o artista provoca a convivência – e
complementaridade – de aspectos e práticas considerados, numa análise
superficial e lugar-comum, como antagônicos ao da tecnologia. É o caso
de objetos advindos da “cultura popular” (Berimbau Elétrico, 2007), do
cotidiano (Gotejador, 2009), ou mesmo da utilização da tecnologia para a
instauração de ambientes que vão além da objetividade e racionalidade
habitualmente atribuídas a ela, como acontece em Teia (2008).
Instalada de forma a aludir, por sua altura, organização e reverberação PÁGINAS 40 E 41
Paulo Nenflídio
sonora, à ideia de altar, Teia é composta de um sensor de proximidade Teia (2008) Paulo Nenflídio desenvolve obras que aliam artes visuais, música, física
e vários osciladores que transformam em som o movimento da mão
dimensões variáveis
/ variable dimensions
e tecnologia. É bacharel em Multimídia e Intermídia pelo Departamento
do participante da obra. A capilaridade rizomática da conformação da / dimensiones variables de Artes Plásticas da ECA/USP e cursou colégio técnico em Eletrônica na
falantes, acrílico,
instalação, aliada a uma possibilidade igualmente orgânica de interação alumínio, cabos Escola Técnica Industrial Lauro Gomes. Recebeu o 5° Prêmio Sérgio Motta
obra-público, abre espaço para uma experiência que claramente elétricos, leds brancos,
circuito eletrônico,
de Arte e Tecnologia com o trabalho Música dos Ventos, uma máquina que
transcende os usos alisantes da tecnologia. O trabalho esgarça também sensor de proximidade, produz música a partir da ação do vento; e o Prêmio Aquisição Programa
amplificadores / parlantes,
as ordinárias concepções de som, distinguindo-o da ideia de música acrílico, aluminio, cabos Anual de Exposições do Centro Cultural São Paulo.
eléctricos, leds blancos,
para revelar suas inúmeras possibilidades de elaboração – algumas circuito electrónico,

das quais completamente mecânicas e dependentes de interações sensor de proximidad,


amplificadores / speakers,
homem-máquina, mediadas por dispositivos estranhos, originalmente acrylic, aluminimum,
electric cables, white leads,
concebidos para outros fins. eletronic circuit, proximity
sensor, amplifiers.

42 43
Paulo Nenflídio
Teia (2008)
46 47
RICARDO Abra (2009)
CARIOBA
Os trabalhos mais recentes de Ricardo Carioba são o resultado de
processos gerados por computador. Mas sabemos, cada vez mais, que
a computação ou mesmo os processos derivados de seu uso já não
definem muita coisa.
As formas e sonoridades de Abra são de fato geradas de forma sintética,
explorando elementos mínimos tanto em sua composição gráfica
como na repetição de padrões de som. Como em grande parte da obra
de Carioba, a pulsação das imagens é dada em função do áudio, e a
articulação de ambos ocorre a partir das possibilidades “generativas”
dos softwares utilizados (dentre outros, a partir de scripts de After Effects
em diálogo com o Logic, vislumbrando simulações tridimensionais em
mudanças de parâmetros de intensidade e transformações a partir do
som). Seria simples pensar que, se um dispara o outro, por processos
automatizados, típicos da frieza numérica, renderiam formas previsíveis
e talvez muito pouco dissonantes. Ao contrário, Abra gera um conjunto
imersivo que, em seu movimento, ritmo e dimensões, processa uma
sensação espacial que nos sugere a vertigem e a hipnose. E também a
surpresa de percebermos que temos ali um cubo planificado, uma forma
a princípio compreensível que se mostra a partir de suas entranhas, em
seu inesperado avesso.
Numa negociação entre controle e aleatoriedade, em uma possível
cumplicidade criativa entre o artista e o computador – uma descrição
mais simplificante do que antes caracterizaria a dualidade “homem-
Ricardo Carioba é bacharel em artes pela Fundação Armando Álvares
máquina” –, enxergamos as vibrações produzidas em nosso peito, ainda
Penteado (FAAP). Sua primeira exposição individual aconteceu na Casa
como diálogos “maquínicos”, des-automatizados, obsessivos, nem
Triângulo, em São Paulo, e a mais recente, In Side#No Form, aconteceu
sempre concordantes, nada consonantes. Inútil perguntar, “quem desafia
em 2007, na Gallery 32, em Londres. Recebeu os primeiros prêmios
quem, quem vence quem”. Nesse embate, percebe-se, talvez, elementos PÁGINAS 46 E 47
do 31º Anual de Arte (São Paulo, FAAP, 1999) e do 30º Salão de Arte
desorganizacionais incutidos na gênese do algoritmo. Onde antes Ricardo Carioba
Abra (2009) Contemporânea de Santo André (São Paulo, 2000). Foi bolsista residente
era lugar da fórmula, surgem o ruído, a dissonância, mais uma vez. À Projeção de áudio estéreo em Londres, em 2007, pela Artist Links.
medida que o embate se potencializa, Carioba compartilha conosco uma e vídeo em 4 canais,
680 x 129 cm / Projection
experiência de percepção que nos tangencia, invariavelmente, para além of stereo audio and video
in 4 channels, 680 x 129
do reconhecimento da forma. cm / Proyección de audio
estéreo y vídeo en 4
canales,
loop, 60”

48
Ricardo Carioba
Abra (2009)
Encontros de encantamentos: As ações educativas para a exposição O Lugar Dissonante pretendem
arte, tecnologia e ações sintonizar as experiências enlevantes aos processos perceptivo-
educativas em sintonia cognitivos, originados pela associação da arte e da tecnologia, com a
intenção de enriquecer o conceito curatorial da mostra e contribuir para
Lúcia Cardoso
Coordenadora do Educativo
a formação do público visitante. Nesse sentido, as ações de mediação
buscam ressaltar os conceitos vinculados aos trabalhos expostos,
explorando e expandindo as noções de autoria, de colaboração, do som
Envolver arte e tecnologia em processos educativos estimula a e sua espacialização, estimulando o desenvolvimento da percepção, da
exploraração do encanto produzido pela associação desses dois cognição, do pensamento crítico, descobrindo os lugares de consonâncias
campos do saber. Em todas as épocas, a tecnologia gerou, e continua e dissonâncias, construindo, assim, novas posturas sociais entre os
a gerar, diferentes diálogos com a arte, seja na sua produção, na sua sujeitos e a seu meio. Além da mediação no espaço expositivo, as ações
apresentação ou na sua percepção. Nesse caso, não há como separar incluem materiais educativos – o objeto articulável (incluso no cartaz) e
arte e tecnologia. Assim, a tecnologia vai além do processo técnico, o caderno – e atividades teóricas e práticas – palestras e oficinas – que
unindo-se à arte para mediar a criação, ampliar experiências perceptivas visam contribuir com a educação para a arte dos diferentes públicos.
e cognitivas e tecer uma gama de relações físicas e sociais, promovendo
novas configurações e encontros de suaves seduções. O compromisso de promover o encontro do público com a arte é o
que orienta as ações educativas para o 47º Salão de Artes Plásticas de
A exposição O Lugar Dissonante, segunda ação do 47º Salão de Artes Pernambuco. Incentivar e ampliar a construção do conhecimento da arte
Plásticas de Pernambuco, oferece esse poder ao flexibilizar e ampliar atual e proporcionar o desenvolvimento de novos valores individuais,
possibilidades nos campos da arte e da tecnologia em suas múltiplas sociais e culturais através de ações dialógicas e práticas pedagógicas
esferas, especialmente ao mostrar obras que diluem fronteiras entre traduz nossos objetivos e apontam caminhos a serem percorridos em
as artes visuais e o som, enfatizando relações entre sujeitos, espaços e conexão com a educação para a arte em seus múltiplos domínios.
sons, propondo diálogos com a virtualidade, o movimento, o código, a
colaboração, expandindo os sentidos em novas reconfigurações.
52 53
El Lugar Disonante
– Observatorio de sonoridades y otras
formas de interacción

Una de las propuestas del Salón de Artes Plásticas El desarrollo de prácticas de actividades artísticas Antiguo Portal Monumental de la Marina, surge El espacio de la obra, el sonido, la imagen
de Pernambuco es dar cobijo, bajo el mismo techo, a en el ambiente escolar provoca cambios y la Torre Malakoff, en el siglo 19, con misión de
El arte se expande. Lo que hace unos diez años se
todos los modos de expresión que hacen el pueblo hallazgos por parte del estudiante y contribuye servir de paso a la ciudad de Recife. Pasados más
consideraba como arte se refería a un conjunto
pernambucano uno de los pilares de la identidad para la construcción del conocimiento de sus de 150 años desde su inauguración, el mismo
más restricto de prácticas de lo que hoy se refiere.
brasileña, por definición, múltiple y una. lecturas de mundo. Para ayudarlo en ese proceso espacio ahora acoge no solamente a personas, sino
Surgen nuevos procedimientos, formas de
de aprendizaje, hace falta estimular el desarrollo ideas y conceptos nuevos, con foco en la música,
En su 47ª edición, el Salón abre espacio para rearticulación de sentido, técnicas y herramientas
de la imaginación y de la creatividad. En el arte, abarcando múltiplos lenguajes, como la fotografía
que arte y tecnología puedan dialogar y que se supone amplían el ámbito del pensamiento
encontramos que esa andadura se desarrolla a y artes plásticas y visuales.
complementarse. Elementos a primera vista sobre lo que viene, o no, a ser arte.
partir del estímulo del sentido crítico para que esos
contradictorios se revelan, a una mirada más En la política pública de cultura estructurada
estudiantes puedan tener una mirada amplia del Son desplazamientos en varias direcciones lo que
atenta, en perfecta sintonía. Y Pernambuco, a un por la actual gestión Eduardo Campos, en las 12
mundo que lo rodea. provoca turbulencias en los circuitos tradicionales
tiempo polo digital y centro cultural, se exhibe por regiones de desarrollo del Estado, la Torre asume el
del arte. Una parte de ellos no son movimientos
entero como síntesis. En ese sentido, el Gobierno del Estado, a través de la papel de punto de convergencia de la producción
inéditos en el campo del arte, pero demandan
Secretaría de Educación, incentiva las producciones cultural pernambucana.
Es con mucha satisfacción, pues, que el Gobierno nuevas reconfiguraciones de los conceptos sobre
artísticas con vistas a ofrecerles a esos estudiantes
del Estado presenta nuestro Salón de Artes Plásticas Lugar ideal para recibir la segunda exposición del arte en sus especificidades, generalidades o
un mejor ambiente de aprendizaje, ayudándolos
– El Lugar Disonante. Una encrucijada de distintas 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco (Salón de permisividades, tal como pasa, por ejemplo, con el
a ampliar sus visiones de mundo. Con la mirada
tendencias, corrientes y lenguajes estéticos. Es la Artes Plásticas de Pernambuco): Lugar Disonante. creciente direccionamiento de prácticas artísticas
atenta a esas acciones, la Secretaría de Educación
segunda muestra del Salón y explora el límite de Una muestra que reúne importantes artistas en una relación más estrecha hacia el campo de lo
trata de apoyar y estimular iniciativas como el
las relaciones entre arte y tecnología. Direccionada de todo el Brasil, quienes buscan repensar la social, a partir de preocupaciones y modos de acción
47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco (Salón de
a sondear la existencia humana, pone en claro existencia del hombre, a partir de manifestaciones originariamente considerados como extraartísticos.
Artes Plásticas de Pernambuco), una promoción de la
nociones como pasado y futuro, mientras redefine del universo de la tecnología, promoviendo
Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de En El Lugar Disonante, se presentan proyectos,
lo que sea alta y lo que sea baja tecnología. experiencias únicas de interactividad.
Pernambuco (Fundarpe). con el intento de explorar aspectos relativamente
En atingencia al compromiso de dar apoyo a la En este sentido – el de agregar distintas extraartísticos, que no se localizan, por ejemplo,
Dentro de la programación, destaque para la
producción científico-tecnológica y artística de tendencias artísticas – la Torre confirma el papel estrictamente en el campo de la visualidad en
exposición El Lugar Disonante, con trabajos de
nuestro estado, el Gobierno de Pernambuco da la de dinamizadora y difusora de las expresiones cuanto elemento central de la obra. Más allá
artistas que establecen relaciones estrechas entre
bienvenida a los artistas y a todos los que vengan a producidas en territorio nacional. Totalmente de las técnicas de representación asociadas a
el arte y la tecnología. Es fundamental que los
nuestro siempre innovador Salón de Artes Plásticas reformada, equipada con sala multimedia, y con interpretaciones de la realidad o de la rigidez de
pernambucanos tengamos acceso a esas obras, con
de Pernambuco. una programación que extrapola exposiciones soportes estables, el conjunto propuesto adopta
el fin de poder valorar esos trabajos.
(e incluye talleres, palestras en el área de la definiciones transitorias de imagen que se expresan
Eduardo Henrique Accioly Campos música y espectáculos), la Torre Malakoff es a través de elementos exteriores al objeto artístico:
Danilo Cabral centro de discusiones y debates sobre cuestiones la comunicación y la interacción por medio de
Governador de PernambucO
Secretário de Educação de Pernambuco
contemporáneas a altura de esa inmensa nación de dispositivos diversos, el espacio circundante en
la diversidad cultural que se llama Pernambuco. sus posibilidades funcionales y relacionales, el
envolvimiento sensorial o la percepción auditiva.
Luciana Azevedo Ese conjunto, aparentemente heterogéneo,
Presidente da Fundação do Patrimônio de formatos y prácticas tiene el sonido como
Histórico e Artístico de Pernambuco enunciador más notorio – o bien como se sugiere,
en la presentación de la exposición, constituye
una manifestación de imagen “en negociación
con el espacio aéreo y con el sonido”. Además de

54 55
evidenciar ruidos, sonidos o músicas, los trabajos ambiente que intenta hacer reverberar incluso sus punta tendrá necesariamente que partir desde ahí, no como brillo radiante de esos nuevos originales
investigan las posibilidades perceptivas y sociales propias disonancias. del mismo modo que en otras escuelas tenía que decurrentes del evento, sino, paradoxalmente,
del sonido en su relación con el cuerpo y el partir de una base folclórica nacional. como aréola circundando la cabeza del propio
espacio, usando la tecnología digital como medio De la audición: satisfacción oyente, a manera de un santo, o sólo circundando
La música que se escucha sentada en el cuarto de
y lógica de construcción. Por su parte, de maneras garantizada o su silencio el oído productor. La obra ya no importa en cuanto
baño no es la misma música que se oye cuando se
distintas, los artistas convidados para El Lugar de vuelta sistema de valores. El evento, irrepetible y único, es
tiene a un perro vivo de la correa dentro de la sala.
Disonante también llevan, para más allá del campo Arthur Omar el chorro que da en el oyente en torno a sí mismo,
No es la misma si la oímos dentro de nuestro coche
de la tecnología las posibilidades de la misma Um som opaco me dilui em Rei en la operación de su experiencia, en la aventura de
verde mientras saltamos el semáforo rojo, o bien
tecnología, con traer para el campo estético y Mário de Sá-Carneiro sus diferencias creadas en el espacio-tiempo de su
a través de las rendijas de la vecina que se cambia
social sus estructuras y dinámicas de articulación y Good music is bed music situación, esta sí, un auténtico original.
la ropa ante nuestros prismáticos, haciéndose su
funcionamiento, de forma disonante y producente. Proverbio chino
propio doble de cuerpo. Tampoco será la misma si En el corazón de las democracias tecnológicas de
Al buscar referencias analógicas y precedentes, Tratemos de penetrar más al oído musical de el que la toca es el venerable maestro Glenn Gould, masa, el acto de oír se vuelve una operación tan
en el pensamiento de un tipo de obra que alterna nuestro tiempo. Desde el punto de vista del oído, que es un planeta a parte. O si plantada a la cabecera importante dentro de la cultura de las formas como
nociones de lugar y de anunciación sonora, toda música es funcional. No hay música pura, de la cama mientras inventas nuevas formas de la composición. Y obedece a otras reglas. En verdad,
tomamos para la exposición, como componente sólo hay usos posibles. Desde el punto de vista amar, a partir de sugerencias ritmo-cenográficas que va instituyendo las leyes de su mundo siempre
provocativo e históricamente contextualizante, del sujeto, la novedad de la música de hoy es que ella hace caer en cascada por tu mente. inesperado. La suma de los estilos musicales
un trabajo no instalado: el texto referencia De la más que tan sólo música, se la vive básicamente posibles dentro de una sociedad será, tal vez, lo
Sí. Los lugares se multiplicaron, he un fenómeno
Audición: Satisfacción Garantizada o su Silencio de como banda sonora, como fondo musical, como equivalente a la totalidad de los tipos posibles de
real. No estamos ante un perverso chantaje
Vuelta, de Arthur Omar. El rescate de ese texto, música de acompañamiento. Los segmentos de la hombres dentro de esa sociedad.
atómico de la industria cultural. Es distinta la
publicado originalmente en el extinto Folhetim de población que hace años ya vienen estableciendo música que oigo al caminar de la música que oigo
la Folha de São Paulo1, en julio de 1988 (un número con la música una relación de uso, de banda Sala de Concierto
parado. Y aun andando, con mi walkman a medio
especial dedicado a Stockhausen), no es solamente sonora, son segmentos sensorialmente más volumen, las variadas velocidades posibles de mi Ahí está, el oyente del siglo 19, andando por el
un homenaje al autor de muchas obras-manifiestos avanzados, aunque culturalmente más retrasados, paso hacen rediviva la música en percepciones tan patio de butacas. Envuelto en un chaqué reluciente
que orquestan imagen y sonido de forma magistral. porque lo que cuenta al nivel de la civilización dispares entre sí, como si yo hiciera girar el disco y tomado del brazo con las joyas de su señora,
Es además una forma de no perder la dimensión de es el desplazamiento del lugar de la música en el en otras tantas rotaciones distintas. él busca su butaca de terciopelo rojo, bajo los
la compleja riqueza que se introduce en el circuito interior de nuevos patrones comportamentales.
No hay un solo original de ninguna música (por cristales de la araña donde chispean velas de sebo
del arte contemporáneo cuando se articulan formas La música emerge como acompañamiento de
ejemplo, la sala de conciertos, o mirar discos, o la de alta calidad. Estamos en una sala de concierto,
inestables y no ortodoxas de fruición de la obra. acciones. Tal como se veía en la Edad Media la
partitura, o aun el torpedo musical todavía fresco el templo máximo donde el oyente va a tener
filosofía como sierva de la teología, la música, en la
No es sino a partir de un pequeño recorte de artistas contacto (o quizá interpenetrarse) con la música
era contemporánea, es sierva de la acción. en la mente del compositor), no porque todo sea
brasileños cuyos trabajos endosan tal complejidad en sí, el gran arte de los sonidos, ofertada por
mera reproducción técnica, como quería Benjamín,
que se hacen los cruces de El Lugar Disonante. La Tomamos como ejemplo la música para desodorizar un bufo spalanzani cualquiera, vestido como él
sino porque, desde el punto de vista del oyente
confluencia que se forma a partir del encuentro de ascensores, la música para dar clima a los juegos (curiosamente, el mayor de todos era sordo).
atento, hay decenas de originales distintos de una
Giselle Beiguelman & Maurício Fleury, Fernando nocturnos entre uno o más ligues, la música para misma música. Cada “copia” es una auténtica ¿Qué le ha pasado a la sala de concierto en la
Velázquez, Lourival Cuquinha & Hrönir, Paulo los pasos de baile de la asistenta, la música para reanudación en novísimas bases, determinada por actualidad? Se dice que ha sido desacralizada, otros
Nenflídio e Ricardo Carioba se expande, tal como atravesar atascos, la música para desenvolver el la ubicación de su eclosión como evento. retrucan con la “pérdida del aura”, otros reclaman
la producción artística reciente, para allá de los cerebro tras ocho horas de trabajo, la música que
Pasa algo, a partir de aquí, que ni el mismo Benjamín que se trata de una institución obsoleta ante los
limites de la misma muestra, configurando un toca bien bajito para hacer más alerta el servicio de
se atrevería a prever. El aura, echada de los objetos por medios tecnológicos de difusión, y otros más
vigilancia, la música a la luz de la oración, la música
1  Folhetim – fascículo de ese periódico de la ciudad de S.Paulo, la extinción de la unidad de lo original, retorna ahora, quieren abrir sus puertas a toda la gente, para que
para los largos viajes sur place. El músico erudito de
Brasil. nt todos puedan conocer la verdadera música.
56 57
Lo que sí que no se ha explicado hasta hoy es lo de Dilución la experiencia auditiva. Un buen título sería De la sus pecados cometidos en su nombre, intuye esa
la raíz del proceso que ella atravesó (cualquier que Audición. No se referiría a las propiedades y relaciones “cosa”, aunque indirectamente, y viene a destruir
El lema de la audición contemporánea es: todo a
haya sido, para el Bien o para el Mal). Nunca ha entre los sonidos, pero sería un tratado de actitudes, la noción tradicional de discurso musical y hasta
su hora. La música, que todas las clasificaciones
sido tan desacreditada, nunca ha estado tan llena de posturas, de posiciones, incluso físicas, un tratado el de obra en cuanto totalidad para erigir una
equivocaron como arte del tiempo, revela ahora su
de tácticas y estrategias, de situaciones, sus entradas pequeña célula repetida indefinidamente como
La verdad es que también allí, como en cualquier esencia: la música es el arte de la hora. Y la cultura
y sus salidas. Estaría más próximo de las artes de la finalidad última del proceso auditivo. Colocar en
otra situación actual acompañada de música, musical se vuelve una función de las ganas de oír.
guerra que de los tratados de armonía, porque, para el interior de una única obra, compactada en dos o
la música es banda sonora. Una situación no Ningún estilo puede ser despreciado, porque ningún
un oído con aureola, oír es una guerra santa y el tres compases básicos, la búsqueda que realizaron
privilegiada, no especialmente distinta, como estilo puede sustituirse a cualquier otro. La afamada
oyente cabalga, es el disc jockey de sí mismo. transversalmente los compositores románticos,
miles de otras situaciones posibles donde la música dilución no diluye nada, como veía represivamente
a través de toda una vida. La célula contiene ya
camina al lado y echa su cinemita. No se trata de un Adorno, porque una dilución, aunque sin el talento
Busca su propia resolución, una especie de hipertrofia
lugar más próximo de la Música en sí. Por ello, un del original, ya es un campo de pruebas nuevo para
majestuosa del reposo tonal, y todo se pacifica
teatro como el Municipal (de Río) puede comportar uso del oído insaciable. Temprano o tarde, tendrá su Quizá toda música tiene como punto de partida
antes mismo de instaurarse cualquier drama.
tanto óperas como presentaciones de pagodes2. hora. Lo tomas o lo dejas. la cuestión de la audición. Componer es operar
No que se haya ampliado el concepto de cultura, con ciertas ganas de oír. Intensamente oír ya es El oyente de sí, inmerso en bandas sonoras, tendrá
El oído no es un órgano de mera recepción de
sino, de forma paradójica, es que el concepto de componer. La intensidad de la audición tiene inicio que tomar una medida preliminar: medir la
música, como si fuera el lector de una partitura
música se concentró. Por ello, un músico como cuando pasa a funcionar simultáneamente como distancia que lo separa de su objeto fundamental.
hecha de sonidos en vivo, pero se trata de
João Gilberto puede darse el lujo de arreglar un órgano de emisión. Acto absurdo, pero que intenta escenificar a través
energetización de la presencia. El otro lado del oído
concierto en el Municipal y no acudir. Aunque su de tanteos sucesivos. Es preciso que reaprenda a oír,
es el cerebro. Estamos en una vía de doble sentido. Nuestra tesis: hay un sonido fundamental en la
ausencia, la verdad, haya sido determinada por un despojándose del equipaje ideológico normativo,
El oído recibe, pero como todo orificio de respeto, base de cada oyente, un único, su pilastra invisible e
stage fright patológico, disfrazado de protagonismo, poniéndose el cilicio de contra-hábitos auditivos.
también permite que salga. El oyente real es aquel inaudible, y es ella que dirige los movimientos de su
los organizadores mantuvieron las puertas abiertas, Lo que él va a buscar no son obras, son trozos.
cuyo oído también emite. Y la teoría de esa emisión oído. El trabajo del gran compositor, todas sus obras
las taquillas funcionando y el público ocupó sus
nadie la ha hecho todavía. toman el sentido de aprehender ese son fundamental, El trozo adquiere estatuto de obra de
lugares marcados, como si el concierto fuera de
discernir la imposibilidad de esa presencia. Lo que instrumentalización del nuevo oyente. No en
hecho suceder. Y sucedió, porque el silencio en el Los compositores, por su parte, siempre han
llama estilo surge como manifestación meramente el sentido de la vieja y modernista práctica del
escenario era la gran banda sonora de la situación detenido en el limbo de su arsenal conceptual toda
dermatológica de esa busca. Es el estilo la forma fragmento, de la estética de fragmento, o del culto
instaurada en aquella sala de conciertos, dando suerte de tratados para conducir la composición,
que asume la escucha de ese sonido, y cada obra se de una fragmentaridad que hipotéticamente sería
lugar, en el patio, a conversas, gestos y expresiones donde se especifica la regencia de la combinatoria
constituye en una red para su captura. el reflejo de un mundo en sí mismo fragmentario.
determinadas por aquel silencio. Aparentemente, de los materiales, los tratados de armonía. Sea
No. Es el trozo, el trozosito musical, prosaico trozo
una película muda. Una retomada, quizá, de la el Traité d’Harmonie de Rameau (1711), sea el Por ejemplo, que se oiga Schumann con esa idea en
de sonido que la aguja de la vitrola cose y deslía,
pieza 4’33”, de John Cage, donde los músicos Harmonienlehre de Schoenberg (1922), lo que mente. En ciertos momentos, como por magia, o
repite y enmarca. Trozos que el oyente recorta de la
no tocan y el sonido viene de los murmullos importa es que los rumbos de su acción siempre fantasma, o bien el eco de ese son saltará a los oídos
masa de la obra, uno o dos segundos de duración,
casuales del público. La diferencia es que aquí se han estado balizados y asegurados, aunque la exhibiendo la forma aproximada de una pequeña
el trozo donde él reconoce el chispeo de una
dispensaron músicos y maestro. Pero no paró el acción de componer una obra se transformase en escala descendiente, repetida veladamente a lo
necesidad interna satisfecha.
espectáculo. Muy raro, pero la audiencia salió leve un acto de revuelta contra esas bases, aunque ese largo de su vida, como si nunca de hecho hubiera
y sonriente y en momento alguno se cuestionó la tratado atendiera por el nombre de Silence (1961). logrado capturarla a contento, tal vez porque no No se trata de “consumo alienado” o de
ausencia del artista. Aquel público sabía dónde pase de un punto minúsculo, como el universo apreciación estética, sino tan sólo de una sencilla
Lo que no se ha hecho hasta hoy es un tratado de
pisaba. Los periódicos noticiaron: a la salida, nadie atrapado de la Cábala. Música: simulación autoexploración asistemática. Sonidos que le
armonía del oyente, o bien del puro oír, un tratado
estaba decepcionado. Todo era banda sonora. desesperada de la identidad. producen efectos, sonidos crispantes, pequeñas
que olvidara la música como cultura y que mirara
resoluciones irrevocables para él. Allí una imagen
hacia la promoción del máximo estiramiento de La música minimalista, repetitiva, a pesar de todos
2  Pagode – un tipo de samba o fiesta de samba. nt estalla y se cristaliza. Bachelard, en la Poética del

58 59
Espacio, ya decía osadamente de ese carácter puntual lanza a un intenso proceso de recorte de la masa de total del deseo con su objeto. Ello quizá significa – que lo caracteriza a partir de la exclusión de su
y radical de la imagen poética, que es un pequeño la película, poco se le da cualquier pretensión que “oír la Música de las Esferas”. complejidad semántica, transformándolo en un
objetivo de deseo cerrado en sí, listo y acabado, pueda tener la película como totalidad. estado negativo -, pensar la disonancia bajo una
Arthur Omar, 39, es cineasta y fotógrafo,
que no se confunde con la totalidad del poema, tan perspectiva propositiva implica contornarla para
Al enredo se descarta de pronto al inicio, reducido a realizador del vídeo Nervo de Prata (Nervio de
sólo está en su interior como un pez en la pecera encararla de una forma distinta, tomándose en
mero soporte de la circulación de cuerpos. El buen Plata). Este texto fue originalmente publicado en
y se lo puede atrapar con la mano. Satisfacción consideración el potencial crítico de los elementos
espectador va recto al grano. Sus ojos impacientes el suplemento Folhetim, del periódico Folha de S.
garantizada. El trozo de reconocimiento es corto, y procesos que difieren, desentonan, disuenan
eliminan todo lo superfluo dentro del cuadro y en Paulo, en 15 de julio de 1988, número en homenaje
puntual, tal vez, a nuestro modo de ver, por límites en toda su ambivalencia. Pensar en un lugar
la sucesión de cuadros y van pinzando los detalles al compositor alemán de música contemporánea
fisiológicos del propio funcionamiento de la disonante sería, pues, trabajar con el espacio de las
brillantes, las pequeñas aréolas de deseo que chispean Karlheinz Stockhausen.
conciencia. Ella, en estado alterado de identificación rearticulaciones perceptivas y cognitivas posibles a
en las epidermis. Recorta y arranca los fragmentos
plena, no podría ultrapasar el espacio de una partir de la reflexión crítica ante la disonancia.
fugaces que le disparan efectos de tensión máxima y
cortísima duración. Y si el concepto de sonido El lugar y la disonancia
cada efecto los chequea a la hora, testado con control Fundamentalmente en el siglo que se inicia,
fundamental es un hecho, aunque pálidamente
de calidad, a través de las reacciones nerviosas que Clarissa Diniz e Lucas Bambozzi ante el efusivo desarrollo de tecnologías y medios
operante en la vida cotidiana, entonces la audición
van ocurriendo en su propio cuerpo. Curadores en su compleja red de tránsitos entre espacios
tiene que comenzar a hacer implodir las obras,
físicos y virtuales, privados y públicos, el disonar
aprender otro poder de discriminación. Se instaura un juego veloz de la comparación y
Mucho se dice de la noción de lugar como un campo potencia sus posibilidades de instauración y nos
evaluación, la mirada desea fijarse no más en lo que
Tales momentos de punta auto-interrogativa son de tensiones. Ello sucede incluso cuando el este conclama a mirar atenta y críticamente hacia la
sea realmente capaz de hacer. Todo lo demás se deja
siempre cortos, el sujeto recae en seguida en su ocupa un sentido figurado, impregnado de una diferencia, el desvío, el error, lo aparentemente
a un lado. Sólo se quedan las células básicas, las
condición dispersa natural. Corresponden a puntos oscilación semántica. Así hay que dejar claro lo que incomprensible. La tecnología – y, mayormente, la
escalas fundamentales. Si algo le hace anclar de
de la obra capaces de adecuarse a una necesidad uno pretende al decirlo: lugar, aquí, tiene de hecho computación – nos permiten computar la cultura y
manera particularmente realizante, vuelve atrás
del sujeto y de forma particularmente excelente. El valor ambivalente. En El Lugar Disonante, ponemos la sociedad de otro modo: computare – “con-parar,
y repite la escena que contiene el elemento, y,
sujeto se pone allí a auscultarse, impulsado por el en juego las variantes perceptivas que pueden surgir con-frontar, con-prender”4. Se trata, por tanto, de un
según la intensidad, ataca ahí mismo el proceso de
rellano al que aquel trozo le ha hecho llegar, pero cuando el lugar no es sólo un espacio físico, sino el momento histórico capaz de revolver enfáticamente
finalización de lo que había empezado.
de pronto, con pasar al otro trozo, se interrumpe el campo de resonancia de intenciones, expresividades los procesos de construcción del conocimiento,
proceso y se deshace la magia. Nada más semejante que la práctica del oyente y conceptos – tanto en el interior de un trabajo como transformando la imagen que hacemos del mundo a
que hemos propuesto arriba. Quizá hiciera falta en su entorno. En ese juego de relaciones, equivaldría partir de la modificación de nuestro modo de “verlo”.
Pornografía entrenarse, ejercitar duramente un tipo de audición indagar: ¿qué lugar o punto de tensión elige nuestra Es en ese sentido que la producción artística de
“pornográfica” de la música, un oído con vigoroso percepción en un trabajo? ¿Cómo es que se desplaza
Ahora entendemos porqué toda la música es las décadas recientes han intentado, como una de
poder de discriminación, ejerciendo, muchas veces según el foco de nuestros sentidos visuales o
funcional. Y por hablar en funcionalidad, no sus preocupaciones centrales, sugerir ambientes,
bajo el yugo de la mayor urgencia y de la mayor sonoros? Atizando una transliteración: ¿habría un
hay nada mejor que examinar la actitud de sujeto acciones, dispositivos o reflexiones que pongan en
presión, la actividad de separar, seleccionar, aislar, punctum3 que aferir en el ámbito de la audición?
ante el ejemplo máximo de obra funcional. La evidencia la necesidad de constante rever nuestra
yuxtaponer, recombinar, realzar los segmentos.
película pornográfica, pariente más próximo de la El lugar de la disonancia, por su parte, sería a forma de computar a partir de la consideración
De tal modo que se transformara el oído en una
música, si tenemos en cuenta el punto de vista de principio “desambiguador”, visto que se refiere de las actuales dinámicas socio-tecno-culturales
especie de ojo que vaya eliminando, eliminando
nuestro oyente. a un punto de negación, una tensión incómoda, y, más específicamente, a partir de la definitiva
ávidamente lo que no importa. Un oído sólo con
El que fruye pesado la pornografía tiene una una condición de la cual escapa la consonancia. incorporación, en nuestro pensamiento (incluso
ojos para la posibilidad de selección de lo que él
mirada muy especial y capaz de superar las Para allá de este sentido restricto del substantivo estético), de lo que nos es necesariamente diverso y
busca. Lo demás es situación. Lo demás es espera.
dificultades que pueden encerrar la lectura y complementario: el otro.
Quizá la gran música religiosa es aquella capaz de 3  Definición de Roland Barthes para señalar la distinción entre lo ‘obvio’
el uso de ese tipo de obra. Para que la función
realizar en las anchas formas ese ideal de enlace y lo ‘obtuso’, como siendo un detalle o elemento que cada uno percibe 4  MORIN, Edgar. O método 3: conhecimento do conhecimento.
pornográfica se cumpla integralmente, el sujeto se subjetivamente. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina, 2005.

60 61
El arte – tradicionalmente comprendido como el colaboración, descontrol y tiempo real, atravesados correspondientes a los tags indicados se las mezcla (ambos en España), y aun el 1er. Premio para
campo de la mirada, de la visión y de la imagen por un interés de espacialización entre todos de acuerdo con una base algorítmica del mismo Medios Locativos del Festival Arte.mov (2008).
– viene buscando formas de incitar tales re- compartido, la exposición instaura un lugar donde programa, haciendo generar vídeos con alto grado
articulaciones de pensamiento a partir de una vivenciar consonancias y disonancias, en un convite de aleatoriedad y autoría compartida. El pool de Giselle Beiguelman
creciente aproximación al campo social, tratado a la experimentación perceptiva y social. imágenes del Flickr, recorte de la producción y e Maurício Fleury
por medio de abordajes múltiplos. Parte de esas difusión de imágenes en la actualidad, es tratado de Suite 4 Mobile Tags (2009)
investigaciones lanzan mano de tecnologías forma anónima y automatizada, subversivamente
Fernando velázquez Las dichas tecnologías móviles vienen tornándose
variadas que, para allá de la imagen y de la mirada, des-subjetivando las narrativas particulares,
un paradigma para el campo del arte. Al tiempo
funcionan como estrategias de reconfiguración de la your Life, Your Movie (2007) memorias e identidades construidas a través de
en que surgen como gadgets de inducción al
percepción en un sentido expandido, promoviendo aquellas imágenes, en la obra puestas “a servicio”
¿Cómo hacer frente a la velocidad de producción de consumo, se afinan con perspectivas y ansias
de esta forma una situación capaz de reemplazarnos de una subjetividad negociada entre hombre y
sentidos en la contemporaneidad? ¿Cómo encarar, contemporáneas de muchos artistas: el de propiciar
socialmente en un dado espacio. máquina: el público y el software.
más específicamente, el acumulación de imágenes experiencias que puedan expandir los límites
Con asumir una concepción de arte para allá de nuestro tiempo – exacerbación posibilitada por Además de provocar una reflexión sobre la y el alcance de sus trabajos. La popularización
del campo visual (y relativizando la idea de el desarrollo de la tecnología digital en su ansia autoría con relación a los caminos recorridos de la telefonía móvil torna accesible, a un gran
representación), buscamos obras en diálogo de democratización de los medios de producción por los procesos creativos de comunicación en número de personas, recursos antes sofisticados de
con el espacio aéreo y el sonido, como también de sentido y. valor? Ante un contexto existencial la actualidad, y aun de poner en cuestión las producción multimedios. Giselle Beiguelman viene
con el movimiento, la virtualidad, el cuerpo, la polisémico, ¿cómo encontrar individualidades, concepciones de público y privado, Your Life, Our enfrentando ese estado de incertidumbres desde sus
simultaneidad, la automoción, la apropiación, hablar en instancias subjetivas o de hecho Movie promueve además una transformación posibilidades más rudimentarias. Su nuevo trabajo,
el código, la movilidad, lo aleatorio y con otras vivenciar un estado de alteridad? de lenguaje – como señala el título del trabajo, Suite 4 Mobile Tags (2009), creado en sociedad con
formas de aleatoriedad, la transitoriedad, el lo que antes era foto se vuelve en cine. Al Maurício Fleury, se vale de la emergencia de los tags
En casi todos los ámbitos de lo humano, bien como
procesamiento automatizado, el lenguaje, la aproximar y mixar imágenes distintas, el trabajo del tipo QR Code (Quick Response Code).
en los campos de conocimiento, las preocupaciones
interacción/participación, etc. Encontramos en los pone de manifiesto el potencial narrativo de los
señaladas arriba vienen tornándose foco cada vez El proyecto explora una codificación que se deslinda
artistas invitados la resonancia de harto interés encuentros – físicos y metafóricos – del convivio
más central de discusiones, acciones y lucubraciones a través de recursos de lectura de tags a partir de las
crítico ante los contextos y sus relaciones sociales (y social, produciendo sentido aun en medio al caos
diversas. Tras la flexibilización de una racionalidad cámaras incorporadas en los teléfonos móviles – a
físicas) específicas, lo que configura una producción y a la aleatoriedad, y de esta forma rozando una
históricamente heredada y la subsecuente partir de las más sencillas y de baja resolución.
artística cada vez más context-specific, que saca el sensación de enredamiento sígnico en medio al cual
valoración de la subjetividad (sobre todo a partir Al apropiarse de un recurso que tiende a ser
arte de una lógica objetual para pensarla como parece ser imprescindible moverse críticamente.
de la segunda mitad del siglo pasado), el siglo 21 incorporado – de antemano, vale decir – a practicas
experiencia a un tiempo perceptiva-cognitiva-
parece intensificar el ejercicio de la alteridad en el Artista uruguayo radicado en São Paulo, de decodificación y escaneamiento de datos cada vez
semántica cuyo foco está, por tanto, en el sujeto.
contexto de la expansión de la tecnología y de los Fernando Velázquez investiga cuestiones más ubicuas, los autores ligan con un procedimiento
El Lugar Disonante se revela, en ese sentido, como medios/plataformas de interacción social – tales relacionadas a lo cotidiano contemporáneo: que en muchos aspectos se asocia al concepto
un pequeño recorte de artistas brasileños cuyas como Google, Orkut, Facebook o Flickr, este último privacidad, monitorización y control como de ready made, enfatizando las posibilidades de
obras toman en consideración, en su proceso de explorado en el proyecto Your Life, Your Movie (2007), elementos mediadores en la construcción de una remoldeo de la lógica utilitaria de esos dispositivos.
elaboración y realización, los aspectos ‘no alisantes’ de Fernando Velázquez. “personalidad manifiesta”. Graduado en Diseño,
En El Lugar Disonante, el sistema creado por
del uso tecnológico. En la muestra se enfatiza la con especialización en Vídeo y Tecnologías
Tomando la base de datos de la plataforma de los artistas hace posible una articulación de
relación entre sujetos, espacios y sonidos en sus Digitales On-line/Off-line (Mecad, Barcelona),
imágenes de Flickr (www.flickr.com), Velázquez sonidos musicales y extractos desencadenados
divergencias, negociaciones y colaboraciones é maestro en Moda Cultura y Artes (Senac-SP).
invita al público a componer vídeos a partir de por la lectura de los tags, haciendo posibles
particulares y comunes. Al reunir trabajos que Fue curador del festival Motomix 2007 y recibió
la inserción de tags (‘palabras’ que funcionan composiciones a partir de combinaciones
problematizan, por ejemplo, las nociones de premios como el de incentivo a la producción
como indexadores de fotos) en un software aleatorias o intencionales, en un proceso de autoría
público y privado, autoría, sonido, comunicación, artística Vida Artificial 11.0 y el Culturas 2008
específico, desarrollado por el artista. Las imágenes difusa, compartida y distribuida espacialmente. El

62 63
“lugar de suceso” de la obra, en este caso, son varios, originariamente privativo de las conversaciones. social y sus dinámicas de convivio. Con ofertar École Supérieure d’Art de Aix-en-Provence, en
y se ensanchan y se potencian a través de las manos Ouvidoria crea así un ámbito de confluencias llamadas telefónicas gratuitas a cambio del Francia, donde también realizó residencia artística.
de los visitantes, socializados en una trama con que pone de relieve la multiplicidad existencial y derecho a hacer público aquel contenido telefónico
Hrönir (Thelmo Cristovam & Túlio Falcão), creada
propósitos comunes e inmersos en el ambiente. espacio-temporal de una sociedad cuyas diferencias privado, mas que promover la “interacción” del
en el año 2000, se dedica al ruido/extreme noise,
existen en formas variadas – a veces interactuando, público, Ouvidoria lo transforma en coautor
Giselle Beiguelman Es autora de obras premiadas electroacústica, música concreta, fonografía/paisajes
y otras veces solo se sobreponen. La instalación y cómplice de la obra. No hay, con todo, una
como El Libro Tras el Libro, Egoscópio (2002) y sonoros, investigaciones en psicoacústica, música
promueve la reconfiguración de un espacio social versión ingenua de la idea de complicidad: A
Esc for Escape (2004). Desarrolla proyectos para computacional y técnicas de libre improvisación.
muchas veces “invisible”, haciéndolo un recorrido pesar de corresponsabilizarse por el carácter
Internet desde 1994, utilizando dispositivos de Trabaja colaborativamente con artistas plásticos,
sonoro polisémico en medio a una sala oscura donde aparentemente transgresor del trabajo ante
comunicación móvil desde 2001 cuando creó la poetas, performers, videoartistas, cineastas, técnicos
posibles diferencias (de contenido y acento, por los tradicionales límites entre lo público y lo
Wop Art. Coordina, con el profesor Marcus Bastos, en informática, ingenieros, web designers, fotógrafos.
ejemplo) son hibridizadas con vistas no solamente a privado, los que hacen llamadas no son los que
el grupo de investigación Net Art: Perspectivas
su pasteurización, sino, contrariamente, anhelando los pautan por entero. Aunque el público con sus
Criativas e Críticas (http://netart.incubadora. Paulo Nenflídio
resaltar sus peculiaridades. Es en el carácter disonante llamadas sugieran timbres, tiempos y temas a
fapesp.br/portal). Es profesora del Programa Teia (2008)
de las voces entrecruzadas que se hace posible Ouvidoria, son los artistas con su software y, por
Posgrado en Comunicación y Semiótica de la PUC-
experimentar, metafórica e físicamente, un convivo tanto, bajo la “protección” de la “aleatoriedad”, La obra de Paulo Nenflídio hace reverberar hacia
SP, directora del Premio Sergio Motta de Arte y
social que tantas veces en su cotidiano se abstrae en que rearticulan esas informaciones de manera a otros campos algunas de las cuestiones reincidentes
Tecnología y curadora de Nokia Trends. Mantiene
estadísticas o encuentros de carácter funcional. poner en negociación su autonomía en el seno de en las relaciones entre arte y tecnologías recientes.
la página electrónica www.desvirtual.com.
la autonomía del trabajo. De esa forma, de manera La intención de desbordar los usos previsibles de
Ouvidoria elabora una provocación en el mismo
Maurício Fleury es multimúsico, productor y DJ. ambivalente y crítica, pone de relieve los poderes y determinados recursos o sistemas, en el mejor estilo
sentido de lo que llamó Helio Oiticica de convi-
Actúa en la escena independiente de São Paulo fuerzas que se movilizan en los caminos recorridos Fluxus, es un ideal que renueva el vigor de lo que se
conivência5, neologismo que enfatiza una superficial
desde 2002. Comenzó con la banda Les Sucettes por la información en la contemporaneidad, produce en el ámbito de las artes interactivas, por
y contraproducente convivencia social connivente
y en 2003 se sumó a la Multiplex. En 2007, fue cuando tecnologías distintas contribuyen para ejemplo. Pero en los trabajos de Paulo los sistemas
en la que distinciones y trueques se encubren
seleccionado entre candidatos de todo el mundo la intensificación de la producción y, de modo cobran vida propia, es decir, forman un sistema a
a nombre de una “pureza abstracta”. Tal como
para participar en el Red Bull Music Academy, que especial, de la circulación de datos. Y no solo parte del nicho notoriamente tecnológico, donde
Oiticica, Lourival Cuquinha e Hrönir están
reúne a músicos y productores para intercambiar con asumirlo, pero también haciendo exacerbar lo digital convive con estructuras mecánicas
conscientes de que “hace falta entender que una
experiencias y crear colectivamente. Fue el único esos cambios y conflictos, Ouvidoria propicia un o dispositivos electro-electrónicos y hacen
posición crítica implica inevitables ambivalencias
DJ brasileño convidado en el festival Sónar en reposicionamiento social, que desborda para allá emerger pensamientos como “hazlo tú mismo”
; estar apto a juzgar, juzgarse, optar, crear, es estar
Barcelona, en 2008. En el mismo año, presentó su del espacio expositivo. (DIY – do-it-yourself). En proyectos que incluyen
abierto a las ambivalencias, pues que valores
primer concierto solo en el festival Nokia Trends. reciclaje de materiales, técnicas de circuit-bending
absolutos tienden a castrar cualquiera de esas Lourival Cuquinha Hace 14 años realiza
o la personalización de instrumentos musicales,
libertades (…). Asumir ambivalencias no significa trabajos artísticos, especialmente en las zonas de
Lourival Cuquinha e Hrönir Nenflídio elabora trabajos que propician una
aceptar conformísticamente todo ese estado de intervención urbana y audiovisual. En 2003, con
Ouvidoria (2008) relación compleja y sofisticada entre artesanía y
cosas, sino todo lo contrario, se anhela, entonces a la intervención Varal, causó fuerte impresión en
tecnología, entre high y low tech, aproximando así
Ouvidoria (2008), de Lourival Cuquinha y Hrönir, ponerlo en cuestión. He la cuestión”6. Recife y luego pasó a otras ciudades del mundo.
los campos que tradicionalmente se ven como
haz mixaje en tiempo real, en el mismo ambiente En 2004, otra intervención de su autoría, Mapa do
Colocar la cuestión en colectivo, a través de una distintos y jerarquizados.
expositivo, de llamadas telefónicas que se están Ácaro (2004), llamó la atención del público. Desde
relación de intercambios, parece una estrategia
haciendo fuera de allí. El proyecto ofrece la entonces viene participando de exposiciones con En gran parte de sus trabajos, el artista provoca
apropiada para pensarse críticamente el entorno
posibilidad de realizarse llamadas gratis a cambio trabajos que se caracterizan por la interactividad la convivencia – y complementariedad – de
del derecho a desviárselas hacia el ambiente 5  OITICICA, Hélio. Brasil Diarréia, in: Arte Brasileira Hoje. Paz e con el público y con el medio urbano. En 2005, aspectos y prácticas considerados, en un análisis
expositivo, espacializando sonoramente el contenido Terra: Rio de Janeiro, 1973. realizó su primera exposición individual en la superficial y lugar común, como antagónicos a los
6  Idem.

64 65
de la tecnología. Tal es el caso de objetos oriundos Pero sabemos, cada vez más, que la computación Allí donde antes estaba la fórmula surgen el tecnología en sus múltiples esferas, especialmente
de la “cultura popular” (Berimbau Elétrico, 2007), o hasta los procesos derivados de su uso ya no ruido, la disonancia, una vez más. A la medida al mostrar obras que diluyen fronteras entre las
de lo cotidiano (Gotejador, 2009), o aun de la definen mucha cosa. que se potencia el embate, Carioba comparte artes visuales y el sonido, enfatizando relaciones
utilización de la tecnología para instaurar ambientes con nosotros una experiencia de percepción entre sujetos, espacios y sonidos, proponiendo
Las formas y sonoridades de Abra se generan de
que suplantan la objetividad y racionalidad que nos roza, invariablemente, para allá del diálogos con la virtualidad, el movimiento, el
hecho de forma sintética, explorando elementos
habitualmente atribuidas a la misma, como se ve reconocimiento de la forma. código, la colaboración, expandiendo los sentidos
mínimos tanto en su composición gráfica como
en Teia (2008). Instalada de forma a aludir, por su en nuevas reconfiguraciones.
en la repetición de padrones de sonido. Tal como Ricardo Carioba es licenciado en artes por la
altura, la organización y reverberación sonora, a
en gran parte de la obra de Carioba, la pulsación Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Su Las acciones educativas para la exposición El Lugar
modo de altar, Teia está compuesta de un sensor de
de las imágenes se da a partir del audio, y la primera exposición individual tuvo lugar en la Casa Disonante pretenden sintonizar las experiencias
proximidad y varios osciladores que transforman en
articulación de ambos ocurre a partir de las Triángulo, en São Paulo, y la más reciente, In Side#No arrobadoras con los procesos perceptivo-cognitivos,
sonido al movimiento de la mano del participante
posibilidades ‘generativas’ de los sofwares que Form, de 2007, en la Gallery 32 en Londres. Recibió los originados por la asociación de arte y tecnología,
de la obra. La capilaridad rizomática que caracteriza
utiliza (entre otros, a partir de scripts de After primeros premios del 31 Anual de Arte (São Paulo, con el fin de enriquecer el concepto curatorial de la
la instalación aliada a una posibilidad igualmente
Effects en diálogo con el Logic, vislumbrando FAAP, 1999) y de el 30º Salão de Arte Contemporânea muestra y contribuir con la formación del público
orgánica de interacción obra-público, abre espacio
simulaciones tridimensionales en cambios de de Santo André (São Paulo, 2000). Fue becario visitante. En este sentido, las acciones de mediación
a una experiencia que trasciende claramente los
parámetros de intensidad y transformaciones residente en Londres en 2007, por la Artist Links. buscan resaltar los conceptos vinculados a los
usos alisantes de la tecnología. El trabajo desvela,
a partir del sonido). Sería muy fácil pensar que trabajos en exposición, explorando y expandiendo
además, las ordinarias concepciones de sonido,
si el uno hace disparar el otro por procesos las nociones de autoría, de colaboración, del sonido,
con distinguirlo de la idea de música para revelar
automatizados típicos de la frialdad numérica, Encuentros de encantamientos: y su espacialización, estimulando el desarrollo de
sus innumerables posibilidades de elaboración – arte, tecnología y acciones
harían rendir formas previsibles y tal vez muy la percepción, de la cognición, del pensamiento
algunas de las cuales completamente mecánicas
poco disonantes. Al revés, Abra genera un
educativas en sintonía. crítico, descubriendo los lugares de consonancias y
y pendientes de interacciones hombre-máquina,
conjunto sumergible, que en su movimiento, Lúcia Cardoso disonancias, con eso construyendo nuevas posturas
mediadas por dispositivos raros, originalmente Coodenador de Educação
ritmo y dimensiones, procesa una sensación sociales entre los sujetos y su medio. Además de la
concebidos para otros fines.
espacial que nos sugiere el vértigo y la hipnosis. mediación en el espacio expositivo, las acciones
Paulo Nenflídio realiza obras que combinan artes Se trata además de la sorpresa de darnos cuenta de Mezclar arte y tecnología en procesos educativos incluyen materiales educativos – el objeto de
visuales, música, física y tecnología. Es graduado en que allí tenemos un cubo planificado, una forma a estimula explorar el encanto que produce la articular (incluido en el cartel) y el cuaderno – más
multimedios e intermedios por el Departamento de principio comprensible que se muestra a partir de asociación de esos dos campos del saber. En actividades teóricas y prácticas – charlas y talleres –
Artes Plásticas de la ECA/USP e hizo curso técnico sus entrañas, en su imprevisto envés. todas épocas, la tecnología ha generado, y sigue con el fin de contribuir con la educación para el arte
en Electrónica en la Escuela Técnica Industrial generando, distintos diálogos con el arte, sea en de los distintos públicos.
En un trato entre control y aleatoriedad, en una
Lauro Gomes. Recibió el 5º. Premio Sergio Motta su producción, presentación o percepción. En tal
posible complicidad creativa entre el artista y el Los compromisos de promover el encuentro del
de Arte y Tecnología por su trabajo Música de caso, no hay como separar arte y tecnología. “Así, la
ordenador – una descripción más simplificadora público con el arte es lo que orienta las acciones
los Vientos, una máquina que produce música a tecnología rebasa el proceso técnico, uniéndose al
de lo que antes caracterizaría la dualidad ‘hombre- educativas para el 47º Salón de Artes Plásticas de
partir de la acción del viento, y el Premio Aquisição arte para mediar la creación, ampliar experiencias
máquina’ – divisamos las vibraciones que se Pernambuco. Incentivar y ampliar la construcción
Programa Anual de Exposiciones del Centro perceptivas y cognitivas y tejer una gama de
producen en nuestro pecho todavía con diálogos del conocimiento del arte actual y proporcionar el
Cultural São Paulo. relaciones físicas y sociales, promoviendo nuevas
‘máquinicos’, des-automatizados, obsesivos, no desarrollo de nuevos valores individuales, sociales
configuraciones y encuentros de suaves seducciones
siempre concordantes, nada consonantes. Inútil y culturales a través de acciones dialógicas y
Ricardo Carioba preguntar “¿quién reta a quién, quién vence a La exposición El Lugar Disonante, segunda acción prácticas pedagógicas traducen nuestros objetivos
Abra (2009) quién? En el embate uno se da cuenta, tal vez, de del 47º Salón de Artes Plásticas de Pernambuco, y señalan caminos que recorrer en consonancia con
elementos desorganizacionales insertados en la nos ofrece ese poder con flexibilizar y ampliar la educación para el arte en sus múltiples dominios.
Los más recientes trabajos de Ricardo Carioba son
génesis del algoritmo. posibilidades en los campos del arte y de la
el resultado de procesos generados por ordenador.

66 67
The Dissonant Place (O Lugar
Dissonante) – observatory
of sounds and other forms
of interaction
One of the proposals of the Fine Arts Salão of Pernambuco Putting artistic activities into practice in the classroom The Navy’s Old Monumental Gate, the Malakoff Tower the place of a work of art, sound, image
is to house, under the same roof, all the modes of provokes changes and discoveries in the students and appeared in the 19th Century, with the mission of serving Art expands. What was thought to be art around
expression that make the people of Pernambuco figure provides input for their knowledge management and as the entrance to the city of Recife. Over 150 years later, ten years ago referred to a more limited grouping of
as one of the pillars of Brazilian identity, by definition, readings of the world. In order to support this learning since its inauguration, the same site now shelters, not practices than its equivalent today. New procedures
multiple and whole. process, it is necessary to encourage the development just people, but new ideas and concepts, with a focus on appear, as do forms of re-expressing meaning,
of the imagination and creativity. In art, we discover music, covering multiple areas, such as photography and techniques and tools that purportedly broaden the scope
In this 47th edition, the Salão opens its doors so that
that this path unfolds from the stimulus of a critical fine and visual arts. of the thinking on what is, or is not, art.
art and technology can establish a dialogue and
awareness so that these students may have a broad
complement each other. Elements which at first glance In the public policy of culture, established by Eduardo These developments move in a number of directions
outlook with regard to the world around them.
appear antagonistic reveal themselves, at a closer look, Campos’ current administration, in the 12 regions of that provoke turbulence in traditional art circuits.
to be perfectly integrated. And Pernambuco, at a single With this objective, the State Government, through the development of the State of Pernambuco, the Tower Some are not totally new to the field of art, but involve
strike, a digital complex and cultural centre, also displays Education Department, encourages artistic productions assumes the role of a centre for the convergence of aspects – specific, generic or potential – that require
its entire potential for synthesis. with a view to giving these students an opportunity to Pernambucan cultural production. new configurations of the conceptions of art. This has
have an improved learning environment, helping them been the case, for example, with the growing shifts of
It is with considerable satisfaction, then, that the State An ideal place to receive the second exhibition of the
broaden their visions of the world. With a close scrutiny artistic practices towards a narrower relation with the
Government presents our Showing of Fine Arts. O Lugar 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco: O Lugar
of these actions, the State Education Department has social field, on the basis of concerns and modes of action
Dissonante. A crossroads of different tendencies, artistic Dissonante. A showing that brings together important
been supporting and encouraging initiatives such as originally considered as extra-artistic.
and aesthetic styles and languages, it is the second artists from all over Brazil, who seek to rethink the
the 47th Showing of Fine Arts of Pernambuco, promoted
showing of the Salão and explores the limit of the existence of mankind, through manifestations from the O Lugar Dissonante, in order to explore in relative detail
by the Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de
relations between art and technology. Directed towards universe of technology, promoting unique experiences of precisely these extra-artistic aspects, presents projects that
Pernambuco (FUNDARPE).
sounding out human existence, it questions notions interactivity. are not found, for example, strictly in the visual field, where
such as past and future while redefining what in reality Within the programme, a special word for the exhibition vision is the central element in the work of art. Beyond the
In this sense – that of aggregating different artistic
is ‘high’ and ‘low’‘tech’ . O Lugar Dissonante, A Dissonant Place, which includes techniques of representation associated to interpretations
tendencies – the Tower confirms the role of catalyser
the works of artists who have established close relations of reality and/ or the rigidity of stable supports, this
In line with our commitment to support our state’s and diffuser of the expressions produced in national
between art and technology. It is essential that we particular collection of works adopts transitional
scientific-technological and artistic production, the territory. Totally renovated, equipped with a multimedia
Pernambucans have access to these works of art so that definitions of image that are expressed through elements
Government of Pernambuco gives a warm welcome room, and with a programme that extends beyond
we can appreciate their significance. that are external to the artistic object: communication
to the artists and to all those who honour our always exhibitions (and includes workshops, lectures in the area
innovative Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. of music and shows), the Torre Malakoff is the centre of and interaction through a number of mechanisms or
Danilo Cabral discussions and debates on contemporary issues on a devices; the environment surrounding their functional and
Secretário de Educação de Pernambuco relational possibilities; sensorial involvement or auditory
Eduardo Henrique Accioly Campos level with this immense realm of cultural diversity called
Pernambuco. perception. This apparently heterogeneous grouping of
Governador de PernambucO
formats and practices has sound as the most notorious
enunciator – or as suggested in the presentation of the
Luciana Azevedo exhibition, constitutes a manifestation of image ‘in
Presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e negotiation with aerial space and sound’. Besides hearing
Artístico de Pernambuco noises, sounds or fragments of music, the works investigate
the perceptive and social possibilities of sound in its
relation with the body and space, using digital technology
as a means and logic of construction. In their turn, in
distinct ways, the artists invited to O Lugar Dissonante also
take the potential of technology beyond the technological
field, bringing their structures and dynamics of expression
and functioning to the aesthetic and social realm, in a
manner that is both productive and dissonant.

68 69
Seeking analogical references and precedents, in the establishing with music a relation of use, or sound track, not because everything is mere technical reproduction everyone may know true music.
thinking of a work of art that could alternate notions are more advanced than other segments in sensorial as Benjamin would have it, but because, from the point
What has not been explained to this day is the root of the
of place and the enunciation of sounds, we adopt terms, even if culturally more behind, because what of view of the alert listener, there are dozens of different
process that it has gone through (for Good or for Bad). The
for the exhibition, as a provocative and historically counts at the level of civilization is the shifting of the originals of a single piece of music. Each “copy” is an
concert hall has never been so discredited, nor so full.
contextualizing component, a piece of work not present in ‘place’ of music within new patterns of behaviour. Music authentic reply on pristine bases, determined by the
the installation: the text-reference Da Audição: Satisfação emerges as the companion to actions. In the same way context of its release as an event. The truth is that there also, as in any other current
Garantida Ou Seu Silêncio de Volta (Hearing: Satisfaction that in the Middle Ages philosophy was seen as slave to situation accompanied by music, music is the soundtrack.
And what happens, at this point, is something that
Guaranteed or Your Silence Back), by Arthur Omar. The theology, nowadays music is slave to action. It is a non-privileged situation; not at all different; just like
even Benjamin himself would dare to predict. The aura,
recovery of this text, originally published in the extinct thousands of other possible situations where music flows
As examples, we have music to deodorize lifts, music to expelled from objects by the extinction of the original
Folhetim of the Folha de S. Paulo newspaper, in July 1988 alongside and sets running its own little cinema. It is not
provide an atmosphere for nocturnal games between unity, now returns, not as the radiant glow of these new
(in a special number in honour of Stockhausen), is not just a question of a place that is closer to Music per se. Hence
one or more partners, music for the cleaner’s daily spins, originals coming from the event, but paradoxically as the
homage by its author to many works of art/manifestos a theatre like the Municipal (in Rio) may hold as many
music to put up with traffic jams, music to unblock the halo surrounding the head of the listener him/herself,
that orchestrate image and sound in a magisterial operas as presentations of pagodes, or popular samba.
mind after eight hours of work, low music to make guard in the manner of a saint, or around just the producer’s
manner. It is also a manner in which we can avoid losing It is not a cultural concept that has been broadened,
duty more vigilant, music for prayer, music for the long ear. The work is no longer important as a value system.
the dimension of the complex wealth that is introduced to but paradoxically, the concept of music that has been
journeys sur place. To be competitive, the modern erudite The event, unique and unrepeatable, is the outpour that
the circuit of contemporary art when unstable and non- concentrated. Hence, a musician such as João Gilberto
musician will necessarily have to take his/her work from occurs to the listener around him/herself, living through
orthodox forms of producing the work are interconnected. can give himself the luxury of scheduling a concert in
this starting point, just as in other schools it would have his/her experience; in the adventure of the differences
the Teatro Municipal and not appearing. Even though
It is from a small cross-section of Brazilian artists been based upon national folklore. created in the place-time of his/her situation, this is
his absence, in reality, was determined by a pathological
whose works endorse such complexity that the cross- really a genuine original.
The music heard sitting in the bathroom is not the same stage fright, disguised as stardom, the organizers kept
fertilizations of O Lugar Dissonante occur. The confluence
music that one hears when holding a dog by its lead In the heart of the democracies of mass technology, the doors open, the ticket offices functioning, and the
that takes place through the encounter between Giselle
in the living room. It is not the same as we hear inside the act of hearing becomes an operation as important public took their seats as if the concert was really to
Beiguelman & Maurício Fleury, Fernando Velázquez,
our green car driving through red lights, or through the within the culture of forms as composition; and obeys happen. And it did, because the silence on stage was the
Lourival Cuquinha & Hrönir, Paulo Nenflídio and Ricardo
chinks as the neighbour changes their clothes in front other rules. In fact, it establishes the laws of its ever- great soundtrack of the situation established in that
Carioba, expands, just as recent artistic production,
of our binoculars as we pretend to be their doublé de unexpected world. The sum of possible musical styles concert hall, giving way in the audience to conversations,
beyond the scope of the showing itself, establishing an
corps. And nor will it be the same if played by the late within a given society is perhaps equivalent to the gestures and expressions that were determined by that
environment that has the pretension of reverberating
master Glenn Gould, which is in another realm; nor if number of possible kinds of people within that society. silence. Apparently a mute film. A retake, perhaps, of the
even its own dissonances.
placed at the head of the bed, when we invent new ways play 4’33”, by John Cage, where the musicians do not play
of making love, inspired by the rhythms and suggested Concert Hall and the sound comes from the public’s causal murmurs.
Hearing: satisfaction guaranteed scenes cascading through our mind. The difference is that here the musicians and conductor
There he is, a 19th Century listener, walking through the
or your silence back
audience. Dressed in a glossy tail-coat, and arm in arm were dispensed with. But the show did not stop. It was
Yes. The places are multiplied, this is a real phenomenon.
Arthur Omar with his lady’s jewels, he seeks his red velvet armchair, strange, but the audience left calm and smiling and at no
We are not faced by a perverse, atomic form of blackmail
An opaque sound dilutes me into a King under the crystals of the chandelier where luxurious moment was the absence of the artist questioned. That
from the cultural industry. The music I listen to walking
Mário de Sá-Carneiro public knew where they were treading. The newspapers
is different from the music I listen to when stationary. tallow-candles flicker. We are in a concert hall, the
Good music is bed music maximum temple where the listener will have contact (or covered the story: at the exit no-one was disappointed.
And even walking, with my walkman mid volume, the
Chinese Proverb who knows, interpenetrate) with the music itself, the great Everything was soundtrack.
various possible speeds of my step re-divide the music
into perceptions that are so far removed from each other art of sounds, offered by any bufo spalanzani, dressed like
Let us penetrate more deeply the musical ear of our time. Dilution
that it is as though I turned the disc in so many other himself (curiously, the greatest of all was deaf).
As far as the ear is concerned, all music is functional.
different rotations. The motto of contemporary hearing is: everything has its
There is not pure music, just possible uses. As far as the What happened to the concert hall today? It is said to
time. Music, which all classifications have wrongly named
subject is concerned, the novelty of today’s music is that There is not a single musical original (be it in the concert have been desecrated; some grumble of the “loss of its
the art of time, now reveals its essence: music is the art
more than just music, it is basically experienced as a hall, or found on discs, or musical scores, or even in the aura”; others claim that it is an obsolete institution in the
of the moment. And musical culture becomes a function
sound track, as a musical background, as ‘wallpaper’. The musical jingle still fresh in the mind of its composer), light of technological means of diffusion, and yet others
of the desire to listen. No style can be despised, because
segments of the population that for years have been want to open its doors to the public at large, so that

70 71
no style can substitute any other. The famous dilution Our thesis: there is a fundamental sound behind each would – hypothetically – be the reflex of a world in itself pornographic film, the closest relative to music, from our
dilutes nothing, as Adorno repressively thought, because listener, a single one, its invisible and inaudible pillar, fragmentary. No. It is the passage, the little musical listener’s point of view.
a dilution even if without the talent of the original, is and this is what directs the movements of its ear. In the passage; the prosaic bit of sound that the record player
The serial viewer of pornography has a very special
already a field of new tests for use by the insatiable ear. work of the great composer, all compositions are aimed needle sews and unpicks, repeats and shapes. An interval
outlook, capable of overcoming the difficulties that the
Sooner or later that will have its time. It is take it or leave it. at learning this fundamental sound, discerning the of one or two seconds in length that the listener cuts
interpretation and use of this kind of work may pose. For
impossibility of this presence. What is called style appears from the body of the piece and that enables him/her to
The ear is not an organ for the mere reception of music, the pornographic function to be completely fulfilled, the
as a merely skin-deep manifestation of this search. Style is recognize the flash or ‘click’ as an internal need is satisfied.
as if it were the reader of the score made of live sounds, editor is thrown into an intense process of cutting away
the form that the listening to this sound adopts, and each
but one for ‘energizing’ presence. The other side of the ear It is not a question of “alienated consumption”, or of most of the film, paying little heed to any pretension that
work constitutes a new net to capture it.
is the brain. We are in a two-way street. The ear receives, aesthetic appreciation, but just a simple non-systematic the film as a whole might possess.
but as all respectful orifices, also permits exits. The real For example, one listens to Schumann with this idea self-exploration. Sounds that produce effects, shrinking
The plot is straightaway reduced to the role of mere
listener is one whose ear also emits, and the theory of in mind. At certain moments, as if by magic, the ghost, sounds, small untouchable resolutions for each person.
support for the circulation of bodies. The good spectator
this emission has yet to be developed. the echo of this sound, will jump out before one’s ears There, an image bursts and is crystallized. Bachelard,
goes directly to what interests them. Their impatient eyes
exhibiting the approximate form of a small descending in Poética do Espaço, (Poetry of Space), already spoke
Composers, in their turn, have always held in the limbo of eliminate all that is superfluous within the frame and in
scale, secretly repeated throughout his life, as if he never daringly of this short-lived and radical character of the
their conceptual arsenal, every kind of treaty to conduct the succession of frames, and select the brilliant details,
really managed to capture it satisfactorily, perhaps poetic image, which is a small objective of desire closed
the composition, which specify the combination of the small aureoles of desire that spark at the epidermis.
because it was no more than a miniscule point, like the in itself, ready and finished, which is not confused with
materials, and the harmony. Whether it be Rameau’s They cut and pluck out the fleeting fragments that shoot
universe extracted from the Cabala. Music: desperate the totality of the poem; just encompassed by it like a
Traité d’Harmonie (1711), or Schoenberg’s Harmonienlehre effects of maximum tension and each effect is checked
simulation of identity. fish in the aquarium and may be grasped manually.
(1922), what is important is that the paths of their at the moment, tested, with quality control, through the
Satisfaction guaranteed. The passage of recognition is
action have always been staked and guaranteed, even Minimalistic, repetitive music, despite all the sins nervous reactions occurring in their own body.
short, precise, in our view, perhaps through physiological
if composing per se is to be transformed into an act of committed in its name, discerns – even if indirectly – this
limits of the functioning of awareness itself. The latter, A swift game of comparison and evaluation, the look
revolt against these bases, even if this treaty answers to “phenomenon”, and will destroy the traditional notion
in an altered state of full identification, cannot pass desires to take in only what it is really capable of doing.
the name of Silence (1961). of musical discourse and even of the work as a totality, to
the space of a minimal duration. And if the concept of All the rest is set aside. Only the basic cells are left,
erect a small cell repeated indefinitely as the last finality
What no-one has made to date is a listener’s treaty fundamental sound is a fact, even if barely operating in the essential scales. If something arrests them in a
of the hearing process. It thus places within a single work,
on harmony, or one for pure listening, a treaty that daily life, then listening has to begin to implode works of particularly fulfilling manner, they go back and repeat
compacted into two or three basic beats, the search that
forgets music as a culture and envisages stretching art, learning another power of discrimination. the scene that contains that element, and depending
romantic composers carried transversally through their
the listening experience as far as possible. A good title on the intensity, attacks then and there the finalization
entire life. The cell already contains its own resolution, in a Such moments, or self-interrogatory peaks, are always
would be Hearing. It would not refer to the proprieties process already started.
kind of majestic hypertrophy of tonal rest, and everything short; the subject soon afterwards falling back into
and relations among sounds, but would be a treaty of
calms down even before any drama is established. his/her naturally disperse condition. They correspond Nothing is more similar to the listener’s practice as
attitudes, of postures, positions, including physical ones,
to points of works capable of adapting to one of the proposed above. Perhaps it would be necessary to train,
a treaty of tactics and strategies, of situations; their The self listener, immersed in soundtracks, will have to
subject’s needs and in a particularly excellent manner. to exercise rigorously a kind of “pornographic” listening
entries and their exits. It would be closer to the arts of take a preliminary step: to measure the distance that
The subject will then begin to listen to him/herself, to music, an ear with a efficient power of discrimination,
war, than to treaties of harmony, because, for an ear separates him/her from this fundamental object; an
encouraged by the plateau to which that passage made exercising, often under the yoke of the greatest urgency
with an aureole, to hear is a sacred war, and the listener absurd act, but one that he/she tries to repeat through
him/her climb, but, soon afterwards, with the move to and pressure, the activity of separating, selecting,
gallops; is his/her own disk-jockey. fumbling attempts. It is necessary to relearn to hear,
another passage, the process is interrupted and the isolating, juxtaposing, recombining, highlighting
letting go of the normative ideological ‘baggage’, putting
magic undone. the segments. In such a way that the ear has been
Searching on the sackcloth of hearing counter-habits. What he/she
transformed into a kind of eye that avidly eliminates
Every piece of music perhaps has the question of listening will seek are not works of art, but passages.
Pornography one element after another, that is not important; an ear
as a starting point. Composing is operating with a certain The passage acquires from the new listener the work’s with ‘eyes’ only for the possibility of selection of what it
Now we understand why all music is functional; and,
will to listen. To listen intensely is already to compose. The statute of being instrumental. Not in the sense of the old searches. The rest is situation. The rest is waiting.
speaking of functionality, nothing better than for us
intensity of the listening begins when the ear begins to and modernist practice of the fragment, of the aesthetics to examine the subject’s attitude in the face of the Perhaps great religious music is that which is capable
function simultaneously as an organ of emission. of the fragment, nor the cult of a fragmentation that maximum example of functional work of art: the of carrying out in a broad manner this total slotting

72 73
together of desire with its object. Perhaps this means with the space of possible perceptive and cognitive re- body, the simultaneity, the automation, the appropriation, speak of subjective instances or truly experience a state
“listening to the Music of the Spheres”. articulations based on a critical reflexion on dissonance. the code, the mobility, the haphazard and other forms of otherness?
of randomness, the precariousness, the automatic
Arthur Omar, 39, is a filmmaker and photographer, Above all in the century that is beginning, in the context In almost all human spheres, besides the fields of
processing, the language, the interaction/participation
director/producer of the vídeo Nervo de Prata. This text of the effusive development of technology and means in knowledge, the concerns mentioned above have become
etc. We find in the artists invited the resonance of ample
was published originally in the Folhetim supplement, their complex network of exchanges between physical a more and more central focus for a range of discussions,
critical interest given the contexts and their specific social
of the newspaper Folha de S. Paulo, on 15th July 1988, and virtual, private and public contexts, discord enhances actions and lucubration. After bending an historically
(and physical) relations, which represent an increasingly
published in honour of the German composer of their possibilities for instauration and demands that inherited rationality and the subsequent valuing of
context-specific artistic production, which removes art
contemporary music Karlheinz Stockhausen. we look at the difference attentively and critically: the subjectivity (above all since the second half of the last
from an objective logic to consider it as experience that is
deviation, the error, the apparently incomprehensible. century), the 21st Century seems to be intensifying
at the same time perceptive-cognitive-semantic, with a
Technology – and, chiefly, computing – allows us to the exercise of otherness in the context of expanding
focus, therefore, on the subject.
The place and the dissonance compute culture and society in another manner: technology and of social interaction media/platforms
computare – “com-pare, con-front, com-prehend”2. It is O Lugar Dissonante reveals itself, in this sense, as a – such as Google, Orkut, Facebook or Flickr, this last
A great deal is said about the notion of place as a field of
a question, however, of an historic moment capable of small cross-section of Brazilian artists whose works of explored in the project Your Life, Your Movie (2007), by
tensions. This also happens when the latter occupies a
turning around emphatically the processes of knowledge art take into consideration, in their preparation and Fernando Velázquez.
figurative sense, impregnated by a semantic oscillation.
management, transforming the image that we make of installation process, the ‘non-cozy’ aspects of technological
Thus, the intended meaning must be left clear: place here Taking the database of the platform of images
the world from the modification of our way of “seeing it”. application. In the showing, the relation between
really has an ambivalent value. In O Lugar Dissonante, we from Flickr (www.flickr.com), Velázquez invites the
subjects, environments and sounds in their particular and
place at stake the perceptive variants that can arise when It is in this sense that the artistic production of recent public to compose videos by inserting photo tags
shared divergences, negotiations and collaborations is
the place is not just a physical environment, but the field decades has tried, as one of its central concerns, to in specific software, developed by the artist. The
emphasized. On bringing together works that complicate,
of resonance of intentions, expressivities and concepts – propose environments, actions, devices or reflections images corresponding to the tags indicated are
for example, notions of public and private, authorship,
both within a piece of work and around it. In this game of that prove the need to revise constantly our manner of mixed according to an algorism base of the software,
sound, communication, collaboration, non-control
relations, it would be the equivalent of asking: which place computing on the basis of considering the current socio- generating videos with a high degree of randomness
and real time, crossed by an interest in spacing shared
or point of tension does our perception choose in a work of techno-cultural dynamics and, more specifically, on the and shared authorship. The pool of images from
among all, the exhibition establishes an environment
art? How does it move according to the focus of our visual basis of the definitive incorporation, into our thinking Flickr, cross-section of the production and diffusion of
for experiencing consonances and dissonances, in an
or sound senses? Throwing in a transliteration: would (including aesthetic), of what is intrinsically diverse and current day images, is treated in an anonymous and
invitation to perceptive and social experimentation.
there be a punctum1 to be gauged in the ambit of hearing? complementary: the other. automatized way, subversively ‘de-subjectivising’ the
particular stories, memories and identities constructed
The place of dissonance, in its turn, would be in principle Art – traditionally understood as the field of viewing, of Clarissa Diniz and Lucas Bambozzi through those images, in works of art “to serve” a
“de-ambiguator”, given that it refers to a point of denial, vision and of the image – has sought forms of inciting such Curators subjectivity negotiated between man and machine: the
an uncomfortable tension, and condition from which re-articulations of thinking from a growing approximation
public and the software.
consonance escapes. Beyond this restrict sense of the with the social field, and adopting multiple approaches.
Part of these investigations have made use of technological In addition to provoking a reflection on authorship,
noun – which characterizes it from the exclusion of its Fernando Velázquez
semantic complexity, transforming it into a negative variants which, beyond image and vision, function as around the paths explored by creative processes and
Your Life, Your Movie (2007)
state –, to think of dissonance from a propositive strategies of reprogramming perception in an expanded communication in modern times, as well as questioning
perspective implies getting round it to address it in sense, thus promoting a situation capable of socially How does one address the speed at which new conceptions of public and private, Your Life, Our Movie
another way, taking into consideration the critical repositioning us in a given environment. meanings are produced in the contemporary world? also promotes a transformation of language – as
potential of the elements and processes that differ, How does one cope, more specifically, with the the work’s title makes one see, what was previously
Assuming a conception of art beyond the visual field (and
discord, disaccord in all their ambivalence. Thinking accumulation of images of our times – exacerbation photography becomes film. On bringing together
putting into perspective the idea of representation), we
of dissonant place would then be, therefore, dealing permitted by the development of digital technology in and mixing different images, the work witnesses
seek works of art in dialogue with the aerial space and
the frenzy to make the means of producing meaning the potential story of the encounters – physical and
sound, and also with the movement, the virtual reality, the
and value more democratic? In an existential context metaphorical – of social relations, producing meaning
1  Roland Barthes’ definition of the distinction between the ‘obvious’
and the ‘obtuse’, as being a detail or element that each perceives. 2 MORIN, Edgar. O método 3: conhecimento do conhecimento. 3ª ed. of multiple meanings, how can one find individualities; even in the midst of chaos and randomness, and thus
subjectively. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Porto Alegre: Sulina, 2005.

74 75
touching on a sensation of zodiacal enmeshing in which In O Lugar Dissonante, the system created by the of making free calls in exchange for the right to reroute conversations, rather than promoting the public’s
it seems essential to move critically. artists permits an articulation of sounds and musical them to the exhibition room, spacing out the sounds “interaction”, Ouvidoria transforms the public into
extracts set off by the reading of the tags, making of the originally private content of the conversations. co-author and accomplice in the work of art. There is
Uruguayan artist based in São Paulo, Fernando Velázquez
compositions feasible from random or deliberate Thus, Ouvidoria creates a field of confluences that not, nonetheless, an ingenuous version of the idea of
investigates issues relating to contemporary life: privacy,
combinations, in a process of diffuse authorship, permits the perception of the existential and space- complicity: those who telephone, although assuming
monitoring and control as mediating elements in the
spatially shared and distributed. The “happening time multiplicity of a society whose differences live co-responsibility for the work’s apparent transgression,
construction of a “manifested personality”. Qualified in
place” of the work of art, in this case, is compound, and together in a variety of ways – at times interacting, at given the traditional limits between what is public and
Design, with specialization in Video and On-line/Off-line
extended and empowered through the visitors’ hands, others, merely overlapping. The installation promotes what is private, are not entirely those who determine
Digital Technology (Mecad, Barcelona), he is a master in
socialized in a plot with objectives that are shared and the reconfiguration of an often “invisible” social space, it. Even though the public, through their phone calls,
Fashion, Culture and Arts (Senac-SP). He was curator of
immersed in the environment. turning it into a multi-meaning sound path between suggest tones, times and subject-matter for Ouvidoria, it
the festival Motomix 2007 and received awards such as
a dark room where differences (of content and accent, is the artists who, through their software and, therefore,
the incentive to artistic production Vida Artificial 11.0 and Giselle Beiguelman is author of award-winning works
for example) are hybridized, envisaging not their under the “protection” of “randomness”, rearticulate this
Culturas 2008 (both in Spain), in addition to the 1st Prize such as O Livro Depois do Livro (The Book After the
pasteurization, but, to the contrary, the emphasis of their information so as to place in negotiation its autonomy
for Mídias Locativas in the Festival Arte.mov (2008). Book), Egoscópio (Egoscope) (2002) and Esc for Escape
peculiarities. It is in the dissonant character of the cross- in the core of the work’s own autonomy. In this way, the
(2004). She develops projects for the internet since
cutting voices that it becomes possible to experiment, work of art, ambivalent and critical, reveals the powers
Giselle Beiguelman 1994, involving mobile communication devices since
both metaphorically and physically, a social exchange and forces involved in the routes taken by information
and Maurício Fleury 2001, when she created Wop Art. She coordinates, with
that, on a daily basis, is so often turned into abstract in the contemporary world, when varied technologies
Suite 4 Mobile Tags (2009) professor Marcus Bastos, the research group Net Art:
statistics or encounters of a purely functional nature. collaborate to the intensification of production and, in
Perspectivas Criativas e Críticas (http://netart.incubadora.
So-called mobile technology has been applying a particular, of the circulation of data. And not just taking
fapesp.br/portal). She is professor at the Post-graduation Ouvidoria conjures up a provocation in the same sense
paradigm to the field of art. At the same time in which on, but also exacerbating these exchanges and conflicts,
Programme in Communication and Semiotics of the as that which Hélio Oiticica called de convi-conivência45,
they appear as gadgets inducing consumption, cell Ouvidoria promotes a social repositioning, that leaks out
PUC-SP, director of the Sergio Motta Art and Technology a neologism that bears witness to a superficial and
phones tie in with contemporary perspectives and of the exhibition room.
Award and curator of Nokia Trends. She maintains the counterproductive social conniving, in which distinctions
the anxieties of many artists: to provide experiences
electronic page: www.desvirtual.com. and exchanges are covered up in the name of an “abstract Lourival Cuquinha for 14 years has developed artistic
that can extend the limits and impact of their works.
purity”. As per the example of Oiticica, Lourival Cuquinha works, particularly in the urban and audiovisual areas
The popularization of the mobile phone has made Maurício Fleury is a multi-instrumental musician,
and Hrönir are conscious of the fact that “one needs to of intervention. In 2003, Varal (Washing line), drew the
previously sophisticated multimedia production producer and DJ. He works in the independent scene
understand that a critical position implies inevitable attention of the public of Recife, later being viewed by
resources available to a great number of people. Giselle in São Paulo since 2002. He began with the band Les
ambivalences; to be apt to judge, to be judged, to opt, the inhabitants of other cities in the world. In 2004,
Beiguelman has been addressing the uncertainties Sucettes and, in 2003, joined Multiplex. In 2007, he was
to create, is to be open to ambivalences, since absolute another intervention of his authorship, Mapa do Ácaro
around this phenomenon from its most rudimentary selected among candidates the world over to take part
values tend to castrate any of these liberties (...). To take on (2004), gained public attention. Since then, Cuquinha
possibilities. Her new work, Suite 4 Mobile Tags (2009), in the Red Bull Music Academy, which brings together
ambivalences does not mean accepting in a conformist has taken part in exhibitions with works characterized by
created in partnership with Maurício Fleury, addresses musicians and producers to exchange experiences and
manner this entire status quo; to the contrary, one aspires the interactivity with the public and the urban context.
the emergence of QR-Code (Quick Response Code) tags. create collectively. He was the only Brazilian DJ invited to
then to question it. That is the question”6. In 2005, he had his first individual exhibition in the Ècole
the Sónar festival in Barcelona, in 2008. In the same year,
The project explores a codification that is revealed Supérieure d’Art de Aix-en-Provence, in France, where he
he presented his first solo in the Nokia Trends festival. To pose the question collectively, by means of a relation
through tag reading resources from the cameras built also took up artistic residence.
of exchanges, seems an appropriate strategy to think
into the mobiles – including the most simple and low
resolution. On appropriating a resource that tends to
Lourival Cuquinha critically on the social environment and its living Hrönir (Thelmo Cristovam & Túlio Falcion), created
and Hrönir dynamics. On offering free phone-calls in exchange for in 2000, is dedicated to noise/extreme noise, electro-
be incorporated – in anticipation, it must be said – to
Ouvidoria3 (2008) the right to make public those particular private phone acoustic, concrete music, phonography/ sound-scapes,
increasingly ubiquitous practices of data decoding and
studies in psycho-acoustics, computational music
scanning, the authors flirt with a procedure that in Ouvidoria (2008), by Lourival Cuquinha e Hrönir, mixes in
and techniques of free improvisation. It works in
many aspects is associated to the concept of ready-made, real time, in the exhibition environment, telephone calls 4  In Portuguese Convivência – social living among elements or beings
versus conivência – conniving. tn collaboration with artists, poets, performers, video-
emphasizing the possibilities of remodelling from the being made outside it. The project offers the possibility
5  OITICICA, Hélio. Brasil Diarréia, in: Arte Brasileira Hoje. Paz e Terra: Rio artists, film-makers, writers, IT technicians, engineers,
utilitarian logic of these gadgets. de Janeiro, 1973.
3 Portuguese for ‘magistracy’, the word also plays on ouvido, which web designers, photographers.
means both ‘ear’, and ‘heard’. tn 6  Ditto.

76 77
Paulo Nenflídio innumerable designing possibilities – some of which are In a negotiation between control and randomness, The exhibition The Dissonant Place (O Lugar Dissonante),
completely mechanical and dependent upon person- in a possible creative complicity between the artist the second initiative of the 47th Exhibition of Fine Arts
Teia (Web) (2008)
machine interactions, mediated by strange devices, and the computer – a description more simplifying of Pernambuco, offers this potential for stretching
Paulo Nenflídio’s piece of work brings to other fields
originally conceived for other purposes. than what previously would characterize the duality and broadening possibilities in the fields of art and
reverberations of some of the recurring issues in the
‘person-machine’ –, we see as vibrations produced in our technology in their multiple spheres, particularly on
relations between art and recent technologies. The Paulo Nenflídio develops works of art that combine
chest, still as ‘mechanistic’ dialogues, ‘de-automatized’, showing works that break down frontiers between the
intention of breaking through the predictable uses of visual arts, music, physics and technology. He is Bachelor
obsessive, not always tallying, non- consonant. Useless visual arts and sound, emphasizing relations among
certain resources or systems, in the best Fluxus style, is in multimedia and inter-media from the Fine Arts
to ask, “who challenges whom, who beats whom”. subjects, environments and sounds, proposing dialogues
a concern that renews the vigour of what is produced Department of the ECA/USP and did a technical course in
In this collision we perceive, perhaps, elements of with IT, movement, code, collaboration, expanding
in the sphere of interactive arts, for example. In Paulo’s Electronics at the Escola Técnica Industrial Lauro Gomes.
disorganization inculcated in the genesis of the algorism. meanings in new configurations.
works, however, the systems gain their own life, or He received the 5th Sérgio Motta Award for Art and
Where there was previously formula, noise appears,
better, create a system aside from the notoriously Technology for the work Música dos Ventos (Music of the The educative actions for the showing The Dissonant
dissonance once again. As the onset is enhanced, Carioba
technological niche, where the digital lives alongside Winds), a machine that produces music from the action Place intends to integrate the experiences of
shares with us an experience of perception that pushes
mechanical structures or electro-electronic devices of the wind, and o Prêmio Aquisição Programa Anual de enchantment to the perceptive-cognitive processes,
us, invariably, beyond the recognition of form.
that give rise to a kind of DIY thinking. In projects that Exposições from the Centro Cultural São Paulo. originating from the association of art and technology,
involve the recycling of materials, circuit-bending Ricardo Carioba is Bachelor of fine arts at the Fundação with the intention of enriching the curatorial concept
techniques, or customization of musical instruments, Ricardo Carioba Armando Álvares Penteado (FAAP). His first individual of the showing and contribute with the educational
Nenflídio has developed works that establish a complex exhibition took place in the Casa Triângulo, in São Paulo, experience of the visiting public. In this sense, the
Abra (Open up) (2009)
and sophisticated relation between craftsmanship and the most recent, In Side#No Form, took place in 2007, mediating actions seek to reinforce concepts linked to
The most recent works of Ricardo Carioba are the
and technology, between the high and the low tech, in Gallery 32, in London. It received the first awards from the works on display, exploring and expanding notions
result of computer-generated processes. But we know,
combining fields traditionally understood as being the 31º Anual de Arte (São Paulo, FAAP, 1999) and from of authorship, collaboration, sound and their spatial
increasingly, that computing or even the processes
distinct and hierarchical. the 30º Salão de Arte Contemporária de Santo André (São relations, encouraging the development of perception,
derived from its use, already define precious little.
Paulo, 2000). He was a resident grantee in London, in cognition, and critical thought, discovering the places of
In a large number of his works, the artist provokes
The forms and sonorities of Abra are in fact generated 2007, through Artist Links. consonance and dissonances, thus building, new social
combinations – and complementarities – of aspects
synthetically, exploiting minimal elements both in its outlooks between the subjects and their context. Besides
and practices considered, in a superficial and everyday
graphic composition and in the repetition of sound the mediation in the exhibition area, the actions include
analysis, as antagonistic to technology. This is the case
patterns. As in a great many of Carioba’s work, the Encounters between educative materials – the expressible object (included
of objects originating from “cultura popular” (Berimbau
pulsing of images is given around the audio, and enchantments: integrating art, in the poster) and the notebook – and theoretical and
Elétrico, 2007), from everyday life (Gotejador, 2009),
the articulation of both occurs from the ‘generative’ technology and educative actions practical activities – lectures and workshops – that aim to
or even from the utilization of technology for the
possibilities of the software used (among others, based contribute to education on art for the different publics.
installation of environments that exceed the objectivity Lúcia Cardoso
on the scripts of After Effects in dialogue with the Logic,
and rationality habitually attributed to them, as occurs Coordinator of Education The commitment to promote the public’s encounter
envisaging three-dimensional simulations in changes
with Teia (2008). Installed in such a way as to elude, with art is what subsidizes the educative actions for
of parameters of intensity and transformations based Involving art and technology in educative processes
in height, set-up and sound reverberation, to the idea the 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. To
on sound). It would be simple to think that, if one fires encourages the exploitation of the enchantment
of an altar, Teia is composed of a sensor of proximity encourage knowledge of current art trends and provide
the other, by processes made automatic, typical of produced by the association of these two fields of
and several oscillators that transform into sound the input to broaden the development of new concepts
numerical coldness, they would engender predictable knowledge. At all periods, technology has generated,
hand movement of the participant in the work of art. and new individual, social and cultural values through
and perhaps very little dissonant forms. To the contrary, and goes on generating, different dialogues with art,
The rhizome capillarity of the conformation of the actions involving dialogue and teaching practices
Abra generates an immersive grouping, which in its whether in the aspects of production, presentation or
installation, allied to an equally organic possibility of translate our objectives and indicate paths to be
movement, rhythm and dimensions, develops a spatial perception. In this case, there is no way of separating art
interaction between the work of art and the public, followed in connection with the education for art in its
sensation that suggests vertigo and hypnosis. And also and technology. Thus, the role of technology goes beyond
opens the way for an experience that clearly transcends multiple domains.
the surprise of perceiving that we have here a flattened the technical process, joining art to mediate creation,
the comfortable applications of technology. The work broaden perceptive and cognitive experiences and weave
cube, in principle, an understandable form that is shown
also stretches the ordinary conceptions of sound, a range of physical and social relations, promoting new
from its innards, in its unexpected ‘wrong’ side.
distinguishing it from the idea of music to reveal its configurations and encounters of subtle seductions.

78 79
artistas / artists Montagem da obra Teia (paulo nenflídio) /
Fernando Velázquez, Bruno Salvareto montaje de la obra teia (paulo nenflídio) /
montage: teia (paulo nenflídio)
e Francisco Lapetina
Fabio Seiji Massui
Giselle Beiguelman e Maurício Fleury
Lourival Cuquinha e Hrönir Montagem e pintura / montaje y pintura /
montage and painting
Paulo Nenflídio
Ricardo Carioba Estevão Mendes e Ivan Amorim
marcenaria / carpintería / joinery
Curadoria / curaduria / curator
Clarissa Diniz Otoniel Silva
Lucas Bambozzi eletricista / eletrics

Coordenação executiva / Coordinación


Plínio Martins
ejecutiva / Executive coordination Sinalização / siñalización / signs
Rosa Melo Cromotela
Editorial / Editors locação de equipamentos / alquiler de
Adriana Dória Matos equipos / equipment hire
Marco Polo Guimarães Tom Produções
Design gráfico e de montagem / diseño Textos / texts
gráfico y de montaje / graphic design Arthur Omar, Clarissa Diniz, Lucas
and montage
Bambozzi, Lúcia Cardoso
Zoludesign
Agradecimentos especiais da curadoria
Fotografia / fotografía / photography / sagradecimientos especiales de la
Paulo Melo Júnior / curaduría / special thanks from the
curators to
vídeo documentarista /
videodocumentaración / video-
Galeria Fortes Vilaça, Arthur Omar,
documentation Coletivo Branco do Olho
Leo Crivellare Edição / edición / editing
Fábio Guerra Adriana Dória Matos,
Planejamento de comunicação / Marco Polo Guimarães
planeamiento de comunicación /
Design gráfico / diseño gráfico
communication planning
/ graphic design
Dani Acioli (A Ponte Comunicação)
Zoludesign
Produção / producción / production
tradução inglês / traducción al inglés
Janaisa Cardoso / english translation
Gustavo Alburquerque Sarah Bailey
Produção executiva / producción ejecutiva / tradução espanhol / traducción al español
executive production / spanish translation
Cláudia Moraes (Página 21) Jazilda Campos
Coordenação do Educativo / coordinación impressão / impresión / impression
del educativo / coordinator, educativo
MXM Gráfica e Editora
Lúcia Cardoso
Educadora Núcleo de Mediação /
educatora del nucleo de mediación /
mediation nucleus teacher
Niedja Santos
Mediadores / mediators
Fernanda Lins, Maisa Silva,
José Rafael, Rebeca Matos

Você também pode gostar