peço perdão aos meus 15 leitores mas nessa hora minúscula de amores é com essa oração minúscula que me cabe pedir cansado impaciente e opaco ao deus minúsculo inexistente ridículo
que venha logo a redenção que me escapa
agora que a primavera fria e dormente substitui 4 meses de gelo e morte intensos e traz de volta esse pica-pau milagre vermelho que batuca paciente os vermes desse tronco imenso pé-de-pau morto há tanto tempo
que volte a falange de corvos do inverno
e coma estas vísceras que não param de doer começando como sempre pelos olhos que sinceramente não querem mais ver que venha da ampulheta o último grão que venha do livro a última página
estou pronto não me importo me entrego
desfaça-me no que sempre fui: nada e o tempo se rearranje como sabe subindo quieto mole rugindo baixo apagando devagar meu nome riscado na areia e os traços do que fiz até agora
essa água enchente traz do fundo a borra
do passado e as happy pills presas no ralo, perdi pai e a mãe já não tarda e indo embora tudo o que me movia aqui não me diz mais nada e não existe canto de piedade que apague agora este catálogo de egoísmo sofrimento e maldade