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Edifícios e Sustentabilidade
no Ambiente Construído
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F I C H A C ATA LO G R Á F I C A
Eficiência Energética nos Edifícios e Sustentabilidade no Ambiente Construído - Rio de Janeiro, agosto/2011
1. Louize Land B. Lomardo
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - é proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio. A
violação dos direitos de autor (Lei no 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
Trabalho elaborado no âmbito do convênio ECV033/04 realizado entre ELETROBRAS PROCEL e a UFAL
E L E T RO B R A S P RO C E L
Presidência
José da Costa Carvalho Neto
Diretor de Transmissão
José Antônio Muniz Lopes
Eq u i p e Té c n i c a
Colaboradores
George Alves Soares
José Luiz G. Miglievich Leduc
Myrthes Marcele dos Santos
Patricia Zofoli Dorna
Rebeca Obadia Pontes
Solange Nogueira Puente Santos
Viviane Gomes Almeida
1SUSTENTABILIDADE..................................................................................................................... 9
1.1 A sustentabilidade como novo paradigma.............................................................................................................................. 9
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................. 55
7 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR............................................................................................. 57
INTRODUÇÃO
Esta publicação é parte de um conjunto de guias técnicos relacionados à eficiência energética em edifica-
ções que tem o objetivo de difundir esses conhecimentos no meio acadêmico e profissional, contribuindo
para a melhoria do ensino superior brasileiro e para uma.atuação profissional de projetistas mais conscientes
em relação à questão energética.
Antes de passar à apreciação da arquitetura e sua relação com conforto ambiental e conservação de energia,
são apresentados vários conceitos associados ao significado de desenvolvimento sustentado, bem como
uma análise da geração de energia e sua relação com o meio ambiente. Essa abordagem é importante
para os projetistas, pois os mesmos atuam na cadeia de relações que começa com o consumo excessivo e
desperdiçador de energia e termina com investimentos desnecessários e impactantes ao meio ambiente.
Os arquitetos, por participarem ativamente desse processo, devem estar cientes do que um bom ou mal
projeto de arquitetura, do ponto de vista dos recursos ambientais, pode provocar. Assim, devem se preparar
para que, com conceitos sólidos de conforto ambiental e conservação de energia, produzam a arquitetura
mais sustentável possível.
1SUSTENTABILIDADE
1.1 A sustentabilidade como novo paradigma
O paradigma anterior
Observamos na figura 1 a divisão entre países desenvolvidos e “em desenvolvimento” existente no pós-guerra.
A partir dessa divisão, a repartição desigual dos frutos do progresso técnico e a deterioração dos termos
de troca teriam repercutido no desequilíbrio estrutural observado entre as nações. Em oposição ao que
prometiam os economistas neoclássicos liberais, essa forma de comércio internacional tenderia a acentuar
as desigualdades entre as economias, já que o preço da matéria prima - produto oferecido pelos países
periféricos - se encontrava, com raríssimas exceções, em constante declínio, ao contrário do valor dos
produtos industrializados - fornecidos pelos países de centro.
Apesar do rápido crescimento econômico mantido durante os 25 anos posteriores à II Guerra Mundial,
os países industrializados vêm experimentando, desde então, uma grande crise de desenvolvimento evi-
denciada por fatores como: persistência de fortes desigualdades sociais e regionais, nível insustentável de
desperdício de recursos, destruição progressiva do meio ambiente, desemprego, crise dos serviços sociais,
do sistema educativo etc.
Agravando tudo isso, existem grandes diferenças entre as nações desenvolvidas e as em desenvolvimento.
Enquanto as primeiras produzem novas tecnologias, as demais fazem uso de tecnologias ultrapassadas,
poluidoras e muitas vezes inadequadas às suas realidades. Os ganhos decorrentes do aumento das rela-
ções internacionais, das informações estratégicas e do crescimento econômico ficam nas mãos dos países
desenvolvidos. Enquanto a riqueza é apropriada por poucos, os impactos ambientais são compartilhados
por todos, pois os prejuízos ambientais como emissões de gases de efeito estufa, rompimento da camada
de ozônio e mudanças climáticas ultrapassam fronteiras e acabam por ser mundialmente socializados.
A principal crítica a este paradigma de desenvolvimento é o fato de o crescimento financeiro ser perseguido
a todo custo como única forma de melhorar as condições de vida da população. Essa ótica de crescimento
ilimitado sugere que o progresso de uma nação pode ser medido pela sua produção material, ignorando
os indicadores sociais e de distribuição de renda, valorizando apenas o crescimento quantitativo. Apresen-
tamos na figura 4 uma crítica ao modelo de solução individualizada do transporte.
A inconsequente extração de recursos naturais e a cumulativa eliminação de rejeitos trazem a idéia de que,
além de insustentável, o desenvolvimento baseado apenas no aumento da produção industrial também
é indesejável sob critérios de preservação ambiental.
No referido modelo, diversos artifícios são criados com o propósito de fomentar a dependência do cresci-
mento econômico. A obsolescência programada, que força a constante reposição de produtos, bem como
a criação de novas necessidades de consumo são exemplos de mecanismos presentes no paradigma do
mercado e do consumismo.
Figura 5: O consumismo.
Fonte: http://www.illustratori.it em 2/2/2006.
Outras características críticas desse modelo de desenvolvimento são: crescimento populacional desequi-
librado; apropriação desigual dos recursos naturais do planeta; imposição tecnológica pelos setores domi-
nantes; consumo elevado de energia e de recursos não renováveis; poluição ambiental; uso intensivo de
capital, mas não de trabalho; alta especialização, divisão e alienação do trabalho; centralização e gigantismo;
gestão autoritária da produção; restrição do conhecimento técnico apenas a especialistas; prioridade ao
grande comércio; produção em massa; e desvalorização da ética e da moral.
As consequências do atual modelo são problemáticas, como pode ser visto na figura 6. Percebe-se clara-
mente a instituição da contraprodutividade estrutural em diversos serviços, como transporte (ver figura 7),
saúde, educação e uso da energia, bem como a socialização dos prejuízos e a privatização dos lucros, que
aliadas ao desemprego, à manutenção da pobreza e à exploração do 3º Mundo, acabam por exacerbar a
ocorrência de conflitos e o aumento da violência.
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O novo paradigma
O relatório “Nosso Futuro Comum”, elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento da ONU, cria o conceito de desenvolvimento sustentável, propondo a aplicação dos
termos do ecodesenvolvimento, com ênfase no caráter sincrônico (simultâneo) e diacrônico (em tempos
diferentes) da solidariedade humana. Essa proposta baseia-se na autonomia da população na busca de
modelos apropriados a cada contexto histórico, cultural e ecológico, estabelecendo harmonia entre o ho-
mem e o ambiente, e pretende que o progresso possa ser compartilhado entre todos os países do mundo.
O enfoque do desenvolvimento sustentável afirma-se a partir da conferência Eco 92, realizada no Rio de
Janeiro, ocasião em que este conceito foi difundido por sociedade civil, governos, empresas, organismos
internacionais e organizações não governamentais -ONG’s. Desde então, o problema do aquecimento
global ultrapassou as fronteiras e colocou a necessidade de políticas conjuntas, figura 8.
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Relacionado a esse novo paradigma está a evolução do conceito de Ecologia, na qual desenvolveu-se uma
corrente e um projeto político de transformação social. O que a crise ecológica não se resolverá apenas com
ações de conservação ambiental, mas principalmente com a construção de uma sociedade não-opressiva,
comunitária, fraterna e libertária. Um projeto que supera o conservacionismo ecológico, pois considera a
crise atual como social e também ambiental. Os ecologistas acreditam que esta crise não ocorre por conta
de erros no sistema dominante, mas por conta de sua essência ecologicamente insustentável e socialmente
injusta, figura 9.
2- Sustentabilidade econômica: alocar e gerir com maior eficiência os recursos disponíveis e garantir um
fluxo regular de investimentos públicos e privados, figura 10.
3- Sustentabilidade ecológica: intensificar o uso dos recursos potenciais dos ecossistemas para garantir
que os sistemas de sustentação da vida sejam respeitados (evitar técnicas agrícolas de baixa produtividade
como vemos na figura 11). Reorientar o consumo de combustíveis fósseis e de recursos naturais facilmente
esgotáveis para o consumo de recursos renováveis e ambientalmente inofensivos, além de reduzir a gera-
ção de resíduos e poluição. Os países ricos e as elites dos países em desenvolvimento devem auto-limitar
o consumo de bens materiais e voltar esforços de pesquisa para desenvolver tecnologias limpas. Por fim,
é necessário definir regras claras para uma adequada proteção ambiental.
4- Sustentabilidade espacial: garantir o equilíbrio entre cidade e campo, evitando a concentração popula-
cional excessiva nas metrópoles e a destruição de ecossistemas frágeis.
Um exemplo desse desequilíbrio no Brasil é a seca na caatinga nordestina e a laterização dos solos (figura
12), que diminuem a produtividade agrícola e estimulam a migração de populações carentes para outras
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regiões, à procura de uma situação econômica e social melhor, o que nem sempre acontece. A figura 13
ilustra a mendicância nas proximidades dos grandes centros, como acontece no Rio de Janeiro, Cairo ou
Bombaim.
Este novo paradigma deve incluir mudanças de valores e novos arranjos sócio-econômicos, baseados em
atividades não-materiais. Seus princípios incluem equidade, solidariedade social, preservação ambiental,
bem-estar social, redução do consumismo, crescimento populacional moderado e emprego de tecnologias
verdes e limpas.
Propõe-se uma mudança cultural em que o conceito de bem-estar e o consumo estejam relacionados apenas
ao suprimento das necessidades de uso e não de distinção social. Além disso, uma redução no consumo
mundial pode reduzir os impactos das atividades industriais no meio ambiente, ao mesmo tempo em que
sejam adotadas políticas energéticas sustentáveis, fazendo uso de energias renováveis e alternativas.
Erradicação da pobreza, menor polarização entre ricos e pobres e maior justiça social, também podem ser
citados como resultados necessários. Todos os agentes da sociedade devem compartilhar a idéia de atingir
um interesse comum.
Nesses países em desenvolvimento, porém, deve-se buscar justamente uma dissociação parcial entre taxa
de crescimento econômico e ritmo de aumento de demanda energética. O desafio do desenvolvimento
sustentável consiste em reduzir a demanda energética para atender a um mesmo nível de necessidade da
população e, simultaneamente, satisfazer aos critérios de viabilidade econômica, utilidade social e harmonia
com o meio ambiente.
Na figura 16, observa-se como o PIB americano crescia com taxas semelhantes às do consumo de energia
até os choques do petróleo em 1973 e 1977. Após esse período, devido às políticas de conservação de
energia implantadas, a linha do crescimento do PIB teve outra angulação, refletindo a eficiência energética
de toda a economia.
Nesse sentido, a adoção de uma política de conservação de energia é fundamental, pois permite uma redução
da energia primária necessária para propiciar um mesmo nível de consumo de energia útil e possibilita a
construção de um estilo de desenvolvimento que implique num perfil mais baixo da demanda de energia,
por meio do emprego de soluções alternativas e de novas tecnologias.
No Brasil, programas de governo como o PROCEL vêm justamente atender à necessidade de se aumentar
a eficiência nos usos finais da energia elétrica, trabalhando tipicamente o lado da demanda da energia
elétrica. Em todos os países, inclusive os do 3o mundo, a energia mais barata disponível para o consumo,
que cria mais empregos estáveis e que é mais vantajosa ecologicamente, é aquela que se conserva através
da eficiência energética.
Quanto à conservação de energia nos países em desenvolvimento, vale lembrar da distribuição assimétrica
do consumo. Enquanto a maior parte da população apresenta padrões de consumo energético aquém do
necessário para obtenção do conforto mínimo, uma minoria consome em excesso. É claro que a política de
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conservação de energia não pode ser aplicada sobre a média do consumo - geralmente baixa nesses países
- mas sobre os energeticamente privilegiados: as classes mais altas e os detentores dos meios de produção.
Em uma economia sustentável, pretende-se que os fatores de produção (a mão de obra, a matéria prima e
a energia) tenham a sua reprodutibilidade assegurada. Como lidamos com recursos finitos, é importante
minimizar as suas quantidades embutidas no produto a ser realizado, seja este um bem material, como
um edifício, seja uma atividade. A avaliação da quantidade de energia usada para produzir cada bem, ou
realizar cada atividade, denomina-se conteúdo energético. A relação entre a energia útil de um trabalho
(transporte, calor, luz) e a energia consumida para realizá-lo denomina-se eficiência energética. A otimi-
zação da utilização dos recursos é a busca pela máxima eficiência. A eficiência energética é um número
adimensional, quando avaliamos a transformação de energia final em energia útil.
Dentro da ótica da sustentabilidade, todos os recursos devem ser preservados. Tentando-se conservá-los
pelo maior tempo possível, tem-se mesmo a ambição de que os ciclos de reuso possam vir a ser contínuos
e com poucas perdas. Assim, quanto maior a eficiência, menor é o desperdício.
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O caso brasileiro
A evolução da matriz energética brasileira é mostrada na figura 19, onde se observa que o uso da lenha
vem diminuindo, enquanto outras fontes primárias como o petróleo, o gás natural e a energia hidráulica
têm ampliado a sua participação.
A figura 20 apresenta a evolução da participação do consumo de energia para o setor comercial, onde se
observa que a energia elétrica é a predominantemente utilizada nos edifícios desse setor.
Desde 1986, diversas políticas de conservação e difusão de conhecimento já vêm sendo discutidas no Brasil
e no mundo, como pode ser observado na figura 21, abaixo.
a) A energia consumida quando da construção do prédio, embutida na produção e transporte dos mate-
riais de construção, bem como na sua manipulação no canteiro de obras, designada por alguns autores
“conteúdo energético predial”;
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b) A energia consumida pelas atividades desenvolvidas no prédio, pelo uso dos equipamentos necessários
e indispensáveis às atividades exercidas pelos usuários;
c) A energia consumida, destinada a prover aos usuários as condições de conforto necessárias à habitabi-
lidade. A noção de conforto ambiental deriva do metabolismo humano e de seus requerimentos.
Será dada prioridade ao último aspecto, pois a habitabilidade predial é a parcela cuja obtenção de modo
eficiente é responsabilidade dos arquitetos, figura 22.
Os setores comercial, público e residencial são aqueles que detêm o maior número de edificações e, reuni-
dos, totalizam cerca de 44% do consumo da energia elétrica do Brasil. Contudo, uma pequena parcela do
consumo de energia elétrica do setor industrial também serve para conferir habitabilidade a seus edifícios.
Toda a energia final, pronta para o consumo, chega a esse estágio após etapas complexas de transformação
da energia primária. Ao longo dessas etapas, são gerados diversos impactos ambientais e externalidades
(efeitos e, muitas vezes, inesperados de uma atividade, como, por exemplo, o aquecimento global). A cadeia
do petróleo, que vai da exploração, passa pelo transporte até chegar ao refino nas indústrias petroquímicas,
gerando muitas externalidades nesse percurso, se apresenta como um bom exemplo.
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Alguns dos derivados do petróleo como o GLP, o querosene e o óleo diesel são utilizados dentro dos edifí-
cios, contribuindo algumas vezes para a habitabilidade predial, pois existem equipamentos de calefação,
resfriamento e iluminação, que utilizam esses derivados como fonte de energia.
A figura 24 mostra uma central de co-geração acionada à base de derivados do petróleo. Esse equipamento
é responsável pela geração de energia elétrica com aproveitamento simultâneo do calor para a produção
de frio, utilizado na climatização predial para refrigeração.
É a eletricidade, porém, o recurso energético mais usado no edifício ao longo de toda a sua vida útil, conforme
ilustra a figura 25. Portanto, o conhecimento das suas formas de geração assume maior relevância para nós.
É preciso divulgar os impactos ambientais da geração da energia elétrica que é desperdiçada devido a
projetos arquitetônicos ineficientes e, de certa forma, inconsequentes. É necessário relacionar e explicitar
para o arquiteto toda a cadeia de causas e efeitos que começa com um projeto que não aproveita os recur-
sos naturais disponíveis, e acaba por provocar impactos ambientais relevantes, que, devido à distância de
ocorrência, escapam à sua consciência crítica.
É muito difícil que um arquiteto que desperdice energia por descuido em seus projetos perceba a relação
entre seu trabalho e as populações de sem-terra que vagam pelo país, após serem removidas de áreas inun-
dadas por represas (figura 27); ou, ainda, a poluição ambiental realizada pelas termoelétricas convencionais
e nucleares. Mostraremos a seguir, com mais clareza, essa cadeia de consequências.
O potencial de energia disponível está relacionado com a reserva de água contida nos reservatórios, bem
como a sua altura de queda, eficiência dos equipamentos etc. Já a máxima potência passível de ser trans-
mitida até as cidades, está limitada à seção dos cabos das linhas de transmissão.
Das distantes hidrelétricas até as cidades, a energia é conduzida por linhas de alta tensão suspensos por
torres de transmissão, figuras 29 e 30. A área das bitolas dos cabos é proporcional à potência elétrica trans-
mitida. Se todos os equipamentos e máquinas forem ligados ao mesmo instante em uma cidade, a potência
demandada poderá ser maior do que a transmissível, causando a queda do sistema. Daí, a necessidade de
se evitar os picos de demanda e distribuí-la da forma mais uniforme possível ao longo do dia. A tarifação
horo-sazonal foi uma medida do governo com o objetivo de tornar a curva de carga dos consumidores e,
consequentemente, do sistema elétrico, mais uniforme ao longo do dia.
Mas, mesmo a hidroeletricidade possui aspectos negativos, pois seus reservatórios ocupam grandes ex-
tensões de áreas férteis, expulsando populações ribeirinhas, agricultores e até cidades inteiras, figura 31.
Apesar de ser uma fonte primária que emite pouca quantidade de gases do efeito estufa, os efeitos sociais
e ambientais não são desprezíveis.
Os reservatórios são os responsáveis pela perda de uma imensa área cultivável que é alagada, por alterações
do equilíbrio ecológico, microclimático e pela produção de gases tóxicos oriundos das árvores afogadas e
em decomposição.
Ecologicamente, é relevante a perda da flora e da fauna nessa área inundada. A biodiversidade eliminada
nesses grandes lagos é incalculável. Apesar dos esforços que antecedem o fechamento das barragens, esses
ainda são de pequena monta, frente à riqueza das imensas áreas inundadas.
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Figuras 32 e 33: Parque Nacional das Sete Quedas antes e depois de ser inundado para construção da barragem da usina
hidrelétrica de Itaipu.
Fonte: http://www.cepa.if.usp.br/energia
As avaliações para a seleção dos projetos hidroelétricos consideravam os custos e benefícios financeiros
de forma a hierarquizá-los em uma ordem de prioridade. A análise, antes meramente financeira, passou a
incluir aspectos ambientais e sociais recentemente. Contudo, a seleção de uma usina determinada para
construção às vezes também atende a critérios políticos. Grandes aproveitamentos como Itaipu (figuras
32 e 33) provocaram endividamentos, grandes impactos ecológicos e sociais e seriam, na atual sistemá-
tica de avaliação, provavelmente preteridos por um maior número de aproveitamentos de menor porte,
escalonados no tempo.
Mostramos assim, que mesmo aproveitamentos hidroelétricos, apesar de serem uma fonte renovável e
praticamente limpa, podem produzir impactos ambientais (como afetar a piracema), sociais (expulsar
populações de seus locais de origem) e financeiros, quando mal projetados.
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O excesso de calor das usinas térmicas é rejeitado para o meio ambiente. Esse calor pode, na forma de água,
superaquecer rios, lagoas e mesmo o mar onde são lançados. Apesar de não-radioativos, o fato desses
efluentes elevarem as temperaturas acima de certos limites pode causar danos à flora e à fauna dos manan-
ciais. Quando o calor é lançado ao ar, transporta consigo gases do efeito estufa e partículas decorrentes da
queima dos energéticos (figura 35). As fases da mineração de carvão e da prospecção do petróleo também
produzem uma série de impactos ambientais não menos importantes.
As usinas nucleares também produzem rejeitos radiativos de vida longa que representam riscos elevados
de contaminação para as populações adjacentes (vide os acidentes de Chernobyl e Three Mile Island). Essas
populações devem ser treinadas e devem dispor de planos emergenciais para fuga. O risco incorrido pelos
trabalhadores dessas usinas e pelas populações que podem ser potencialmente atingidas pela radioativi-
dade é um impacto social relevante.
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Desde a década de 1970, muitos países do mundo colocaram em prática regulamentações com o objetivo
de incentivar o uso eficiente da energia elétrica em edifícios. Essas regulamentações são, em alguns casos,
voluntárias e, em outros, obrigatórias. Podem abranger todos os edifícios do país ou apenas setores. Os
países que as adotam podem ter clima frio, como a Polônia e o Canadá, ou quente, como o Kuwait. Podem,
ainda, ter governo centralizador, como a China, ou liberal, como os E.U.A.. São ao todo 52 países que já se
utilizam desse método de “convencimento”, enquanto o Brasil engatinha nesse sentido, apesar do esforço
de alguns segmentos da sociedade.
Mostramos, na figura 36, o aumento da eficiência energética dos edifícios americanos obtida a partir da
implementação da sua primeira regulação voluntária.
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Segundo Rosenfeld (1997), a eficiência energética dos edifícios norte americanos aumentou em 25% entre
1975 e 1996, devido à obrigatoriedade das normas para esse objetivo.
A dispersão entre os consumos dos prédios com mesmo tipo de uso é muito grande, mesmo considerando
as disparidades climáticas existentes, o que indica uma grande variedade de níveis de eficiência, como
resultado de projetos que não possuíam a economia de energia como foco.
Na figura 38, está representado como os shoppings centers também podem usar a energia por área (bruta
locável, no caso), de forma completamente díspar, pois, não obstante estarem implantados em uma mesma
cidade, existem diferenças de temperatura do ar que podem variar entre 2 oC e 3 oC, dependendo do bairro
onde se localize. No Rio de Janeiro, por exemplo, pode-se observar como o Madureira Shopping consome,
seguidamente, mais energia por unidade de área do que os shoppings Rio Sul e Fashion Mall.
Essas normas podem ser obrigatórias ou voluntárias, aspecto que concede aos técnicos tempo necessário
para a sua capacitação, já que, na maior parte das vezes existe um prazo para que as normas, inicialmente
voluntárias, se tornem obrigatórias.
Apenas em 2005, a ABNT aprovou a NBR 15220-3: “Desempenho térmico de edificações - Parte 3: Zoneamento
Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações Unifamiliares de Interesse Social” que define
materiais adequados para o correto desempenho térmico em edificações nas 8 regiões climáticas brasileiras.
Esta primeira norma, dedicada a habitações de interesse social, é voluntária. Abrange um pequeno percentual
de tipologias edilícias e é voltada para o aspecto térmico, não abrangendo os sistemas ativos destinados a
prover conforto ambiental. Mas, é um primeiro passo para a futura implementação de outras normas mais
abrangentes e restritivas.
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O objetivo dessa tarifação é repassar aos consumidores os custos próximos à realidade da expansão do
sistema elétrico. Pois, se o comportamento da curva de consumo diário for livre, a ocorrência de uma ele-
vação de demanda da energia ao final da tarde trará problemas ao sistema, que tem limites na transmissão
para transportar grandes blocos de energia em curto espaço de tempo, apesar de dispor, muitas vezes, de
reservas nos reservatórios para até 4 anos de consumo.
A tarifação binômia cobra então, não só pelo consumo da energia, mas também pela maior demanda in-
tegralizada a cada 15 minutos do mês desta. O objetivo é estimular o grande consumidor a ter uma curva
de carga diária sem grandes picos. Ainda neste mesmo sentido, as tarifas verde e azul, usam tarifas maiores
no horário de ponta (período de 18h às 21h) para desestimular, tanto o consumo como a demanda, neste
período do dia, incentivando o uso nos horários fora de ponta, quando os preços são bem menores. Tarifas
diferenciadas para os períodos secos e úmidos do ano, também visam à programação das atividades com o
objetivo de diminuir o consumo e a demanda nos períodos nos quais há menor vazão dos rios e, portanto,
menos água armazenada nos reservatórios.
A conservação de energia tem o objetivo de minimizar os investimentos para fornecer energia elétrica ao
consumidor. Sendo assim, não só o consumo, como também a demanda devem ser racionalizados, e é este
o significado do sinal tarifário à sociedade.
Para melhor conduzir a luz natural ao interior do prédio, podem ser usados solar shelves (prateleiras de
luz), domus ou lanternins, sempre tomando o cuidado de não permitir a admissão de calor em excesso, o
que tornaria tais medidas contraproducentes. As figuras 41 e 42 ilustram um esquema de aplicação dessas
estratégias.
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A arquitetura iraniana apresenta um bom exemplo do uso da ventilação natural. Produzida para um clima
quente e seco, com grandes amplitudes térmicas diárias, ela procura tirar partido dos ventos, do efeito
termo-sifão, do resfriamento por evaporação e da inércia térmica dos materiais, conjugando ou não, em
um mesmo prédio, vários sistemas passivos de ventilação, baseados nestas propriedades.
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A torre de vento iraniana, edificada desde o século X, se eleva acima do prédio e de um reservatório de
água a que está conectada (figura 45), possuindo aberturas em seu topo e septos internos para separar os
fluxos de ar ascendente e descendente. O ar penetra na torre e é conduzido aos ambientes internos devido
à diferença de pressão causada pelo vento. Ao passar pela água, se umidifica e chega a ser 20 oC inferior
à temperatura externa. Dispositivos de controle podem fechar ou regular os septos, direcionando o ar ao
ambiente desejado. A passagem do ar por repuxos de água ou mesmo por grandes cisternas subterrâneas
faz com que, simultaneamente, se diminua a sua temperatura por evaporação e aumente a sua umidade
relativa, efeitos muito desejáveis em tal clima.
Por outro lado, a utilização de materiais leves e ambientes em contato permanente com o ar exterior, bus-
cando a melhor ventilação e sombreamento possíveis, são estratégias típicas dos padrões arquitetônicos
das regiões tropicais, de pequena amplitude térmica diária. A arquitetura indígena brasileira (figura 48) é
um bom exemplo da aplicação dessas estratégias, visto utilizar materiais pouco densos (de baixa inércia
térmica) e permeáveis ao ar (facilitando a movimentação do ar).
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O Palácio de Chandigarh, projetado por Le Corbusier para a Índia, possui proteções à radiação solar direta,
como pode ser visto na figura 50.
Assim, a colocação dos dados climáticos locais (temperatura e umidade do ar) no diagrama nos permite estu-
dar a estratégia adequada para o projeto de arquitetura (figura 52), que podem ser: ventilação, resfriamento
evaporativo, massa térmica, umidificação, aquecimento solar passivo. Quando o clima é extremamente
quente ou frio, e as estratégias bioclimáticas citadas não são suficientes para garantir o conforto térmico
ambiental, o condicionamento ativo do ar e a calefação são recomendados.
Várias tecnologias direcionadas para a sustentabilidade foram incorporadas ao projeto de Norman Foster
para Commerzbank, mostrado nas figuras 55 e 56. O uso da luz natural e o aproveitamento da capacidade
térmica do piso visam a minimizar a demanda de energia elétrica para climatização.
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O Instituto Americano de Arquitetos concedeu uma citação de excelência ao projeto elaborado por RMC
Constructors, figura 57. A cobertura tem aberturas orientadas para captar a energia solar no inverno,
possuindo proteções de uso opcional para a captura dessa energia no verão. Todas as salas possuem luz
natural e visão dos jardins.
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A torre de vinte e um pavimentos, mostrada na figura 58, foi desenhada com o objetivo de ser bioclimática.
Os largos painéis para direcionar os ventos e os seus balcões são diferentes para cada pavimento com a
justificativa de obter a eficiência ambiental máxima.
O edifício Rio Branco 1, localizado no Rio de Janeiro, é um exemplo da arquitetura pós-moderna. Projetado
pelo escritório Musa, foi vendido como um prédio inteligente do ponto de vista da automação. Porém,
os extensos panos de vidro em todas as fachadas, sem qualquer proteção contra a incidência da radiação
solar, não mostram uma arquitetura realmente preocupada com a questão climática.
Contudo, ainda ocorre com frequência nos cursos de arquitetura uma falta de integração entre as disciplinas,
o que pode ser minorado por meio de trabalhos com desenvolvimento e orientação simultâneos, em duas
ou mais disciplinas. Por exemplo, pode-se integrar os conteúdos das disciplinas Projeto de Arquitetura,
Instalações Prediais, Sistemas Estruturais e Conforto Ambiental. Dessa forma, os projetos serão mais abran-
gentes e atenderão aos múltiplos requisitos que habitualmente a arquitetura deve atender.
A componente energética tem assumido crescente relevância em meio a esses critérios, uma vez que está
relacionada direta ou indiretamente a todos eles. Sua importância cresce na medida direta da escassez, e
de preços, consequentemente, mais altos da energia.
Por esses motivos assistimos, em um curto período de tempo, a importantes evoluções tecnológicas com
aumento da eficiência no campo da refrigeração e iluminação. Recentemente, muitos arquitetos têm pro-
jetado prédios intencionalmente econômicos do ponto de vista energético, utilizando novas tecnologias,
mas que reeditam, em nova versão, o status da anterior. Esta tendência da arquitetura denominada ativa,
não questiona a atual organização social, apenas nela se insere de forma mais eficiente.
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Esta última tendência, pode ser radicalizada a ponto de excluir totalmente o fornecimento de energia
comercial ao prédio, mesmo que para tanto utilize equipamentos de captação ativos, passando então a
se denominar arquitetura autônoma. O ideal utópico de completa independência das redes de forneci-
mento público traz em si um questionamento à centralização política e econômica, buscando alternativas
de descentralização similares às das fontes de energia renováveis e não se coadunando com o fenômeno
urbano atual.
A abordagem, acima apresentada, dessas três tendências de arquitetura não pretende de forma alguma
ser completa. Apenas discrimina, de forma geral, diferentes posturas dos arquitetos atentos ao problema
energético. Há também aqueles não-preocupados, que produzirão ainda prédios de baixa eficiência ener-
gética; e ainda, a imensa área já construída em períodos anteriores que permanecem em uso.
Acredita-se que uma síntese criativa entre as antigas técnicas de construção e a moderna tecnologia é
possível, por meio da eficiência energética e da consequente rentabilidade econômica, contribuir para o
desenvolvimento sustentável.
A energia era barata o suficiente para não inviabilizar empreendimentos que fossem vorazes consumido-
res de energia. Esta linha de arquitetura foi chamada de “Internacional”. Foram construídas em quase todo
mundo altas torres de vidro caracterizando uma dependência cultural extrema, pois que não se adaptam
a clima algum. Uma geladeira no inverno e uma estufa no verão, necessitando constantemente de equi-
pamentos mecânicos em funcionamento para amenizar as adversidades climáticas provocadas pelo seu
invólucro tão impróprio.
O Seagram Building, de autoria de Mies Van der Rohe, mostrado na figura 61, é um marco da arquitetura
moderna, referência internacional; contudo, a sua falta de adequação climática também foi, infelizmente,
uma referência muito seguida.
A arquitetura contemporânea pode valorizar essa linguagem e tentar apropriar-se dela fazendo sempre
uma releitura crítica e criativa.
A existência de climas adversos e de programas arquitetônicos complexos impõe, muitas vezes, o uso de
sistemas artificiais, consumidores de energia elétrica, mas a adoção de melhores práticas arquitetônicas
e de tecnologias sempre poderá contribuir para que o aporte de energia elétrica seja minimizado. Não se
pode imaginar que um mau projeto poderá ser socorrido pela tecnologia e se tornar, assim, inteligente.
Os edifícios realmente inteligentes começam com uma arquitetura atenta às especificidades locais, à qual
pode-se somar tecnologias modernas, como ilustrado pelo Palácio Capanema (figura 63), de autoria de
Lúcio Costa e equipe.
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