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EM BUSCA DA IDENTIDADE PERDIDA: (RE) CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE


NEGRA NA PERSPECTIVA DE INTELECTUAIS NEGRAS E NEGROS

Cleide Maria de Mello1

Resumo

A partir do questionamento “Professora, de que cor eu sou?” feito por jovens afrodescendentes
participantes dos projetos sociais do CIEE Rio - Centro de Integração Empresa-Escola, e
partindo do pressuposto que a cor da pele é um dos elementos constitutivos da identidade
pessoal, buscamos neste artigo entender como se dá a (re)construção da identidade negra na
perspectiva de intelectuais negras e negros. A hipótese é que, por terem passado por esse mesmo
processo, essas/es autoras/es apresentem argumentos consistentes sobre o tema, embasados
tanto teórica quanto empiricamente. Os textos selecionados foram, em sua maioria,
apresentados e discutidos na disciplina Tópicos especiais em raça e classe na perspectiva de
intelectuais negras e negros do Mestrado em relações étnico-raciais do CEFET RJ. A pesquisa
se deu pelos conceitos de identidade, identidade negra e identidade negra coletiva constantes
nesses textos e o resultado mostrou-se bastante satisfatório no sentido de compreender a dúvida
dos jovens em relação à sua auto definição de cor da pele e respaldar estratégias pedagógicas
que contribuam para a elevação de sua autoestima e orgulho por suas raízes africanas.

Palavras-chave: Identidade negra; Identidade negra coletiva; Construção identitária.

IN SEARCH OF LOST IDENTITY: (RE) CONSTRUCTION OF BLACK IDENTITY


FROM THE PERSPECTIVE OF BLACK INTELLECTUALS

Abstract

Based on the questioning "Mrs. Mello, what color am I?" asked by young Afro-descendants
participants in the social projects of CIEE Rio - Centro de Integração Empresa-Escola (Center
for Company-School Integration), and assuming that skin color is one of the constituent
elements of personal identity, we seek in this article to understand how the re-construction of
the black identity occurs in the perspective of black intellectuals. The hypothesis is that, because
they have gone through this same process, these authors present consistent arguments on the
subject, based both in theory and empirically. The selected texts were mostly presented and
discussed in the subject Special topics in race and class in the perspective of black intellectuals
at the Masters in Ethnic-Racial Relations of CEFET RJ. The research was based on the concepts
of identity, black identity and collective black identity contained in these texts and the result was
quite satisfactory in the sense of understanding the doubts of the young people in relation to
their self-definition of skin color and to support pedagogic strategies that may contribute to the
elevation of their self-esteem and pride in their African roots.

Keywords: Black identity; Collective black identity; Identity construction.

1) Em busca da identidade perdida...


1
Mestranda em relações étnico-raciais no CEFET/RJ e pós graduanda em Cultura afro-brasileira e
indígena na UCP - Universidade Católica de Petrópolis. E-mail: cle_mello@yahoo.com.br
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O CIEE Rio (Centro de Integração Empresa-Escola) é uma entidade de

assistência social, sem fins lucrativos, responsável há 53 anos pela qualificação de

jovens e sua inserção no mundo do trabalho 2. Uma de suas áreas, a Coordenação de

Programas Especiais, atende especificamente jovens oriundos de classes sociais

populares. Este projeto de pesquisa surgiu quando percebemos que sempre que esses

jovens são solicitados a preencher o quesito “etnia” no formulário de perfil

socioeconômico, a pergunta recorrente que surge é: “Professora, de que cor eu sou?”.

A partir da afirmação de Kabengele Munanga em seu artigo “Negritude e

identidade negra ou afrodescendente: um racismo ao avesso?” de que “falar de

identidade negra significa que esta identidade passa, em seu processo de construção,

pela cor da pele” (2012, p. 12), esta pesquisa visa entender como ocorreu (e ainda

ocorre) a (re)construção da identidade negra a partir da análise de textos de intelectuais

negras e negros.

A hipótese é que, a partir de suas experiências e observações pessoais, depois

teorizadas, essas/es autoras/es apresentem argumentos consistentes sobre a formação da

identidade negra, tanto individual quanto coletiva. Os textos analisados foram

selecionados, em sua maioria, a partir dos trabalhos apresentados e discutidos na

disciplina Tópicos especiais em raça e classe na perspectiva de intelectuais negras e

negros do Mestrado em relações étnico-raciais do CEFET-RJ.

Os textos que abordavam a temática Identidade foram separados e o tema central

foi subdividido em: Conceitos gerais, Identidade negra e Identidade negra coletiva. O

resultado da análise mostrou-se bastante satisfatório no sentido de respaldar o

questionamento original dos jovens, de entender sua dúvida com relação à auto
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Site oficial disponível em http://www.ciee.org.br/portal/institucional/index.asp. Acesso em 02/12/2017.
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definição da cor de pele e de, na continuidade da pesquisa, fornecer embasamento

teórico na busca por alternativas pedagógicas em consonância com a Lei 10639/03, que

obriga o ensino sobre história e cultura afro-brasileira, a fim de habilitar os projetos

sociais do CIEE a contribuir para a (re)construção da identidade negra dos jovens

atendidos.

2) Identidade: o que, por que, para quem, como, quantas?

“Quem precisa de Identidade?”. Dialogando com essa questão retórica de Stuart

Hall no artigo com o mesmo título (2000), Kabengele Munanga, no artigo citado no

item 1 acima, argumenta que todos nós necessitamos de identidade, motivo pelo qual ao

nascer recebemos um nome que nos diferencia de todos os outros seres humanos. Esse

primeiro nome, além de geralmente indicar nosso gênero, é acrescido também de

sobrenomes das famílias do pai e da mãe, compondo assim nossa identidade pessoal e

familiar. Mas com que objetivo?

Para que serve essa identidade individual, que nos é atribuída


obrigatoriamente por nossos pais? - Para marcar a diferença! Mas por
que marcar a diferença? – Para mostrar que existimos, porque somos
indivíduos diferentes dos demais presentes, passados e futuros. [...]
Resumidamente, o verdadeiro significado, ou seja, a verdadeira
função da identidade individual é ontológica [...]. Neste sentido, a
identidade individual faz parte do processo de construção do ser,
significando sua existência. (2012, p. 8-9).

Munanga acrescenta que esse conceito de identidade pessoal como prova de

existência, é transposto também para o coletivo, ou seja, para “nações, países, povos,

religiões, etnias, línguas, organizações nacionais e internacionais” (2012, p. 9), para

atender à mesma necessidade: tudo e todos precisam de um nome, de uma identidade.

Aquele ou aquilo que não tem nome, em tese, não existe.


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Reconfirmando a importância desse tema, Hall diz que “a identidade é um

desses conceitos que operam ‘sob rasura’, [...] uma ideia que não pode ser pensada da

forma antiga, mas sem a qual certas questões-chave não podem ser sequer pensadas”

(2000, p. 104).

Segundo ele, a necessidade de esse conceito estar sempre “à mão”, sempre

disponível para consultas, esclarecimentos e atualizações, é reforçada não por ser “um

conceito essencialista, mas um conceito estratégico e posicional [...] As identidades

estão sujeitas a uma historicização radical, estando constantemente em processo de

mudança e transformação” (2000, p. 108).

Essa ideia de subordinação das identidades à uma historicização é compartilhada

por Munanga, em seu livro Negritude usos e sentidos (2012), no qual menciona, entre

outros fatores, que na construção da personalidade coletiva “o fator histórico parece o

mais importante, na medida em que constitui o cimento cultural que une os elementos

diversos de um povo através do sentimento de continuidade histórica vivido pelo

conjunto de sua coletividade” (2012, p. 12). Segundo ele, esse elo com o passado

ancestral traria um sentimento de coesão, de pertencimento, criando uma relação de

segurança e consciência histórica a ser transmitida para as gerações seguintes.

Em consonância com esse pensamento, Stuart Hall menciona que a identidade,

de acordo com o senso comum, “é construída a partir do reconhecimento de alguma

origem comum, ou de características que são partilhadas com outros grupos ou pessoas,

ou ainda a partir de um mesmo ideal”. (2000, p. 106). Esse é o alicerce para o vínculo

de solidariedade e da fidelidade entre o grupo. E complementa:

[...] As identidades parecem invocar uma origem que residiria em um


passado histórico com o qual elas continuariam a manter uma certa
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correspondência. Elas têm a ver, entretanto, com a questão da


utilização dos recursos da história, da linguagem e da cultura para a
produção não daquilo que nós somos, mas daquilo no qual nos
tornamos. Têm a ver não tanto com as questões “quem nós somos”, ou
“de onde nós viemos”, mas muito mais com as questões “quem nós
podemos nos tornar”, “como nós temos sido representados” e “como
essa representação afeta a forma como nós podemos representar a nós
próprios”. (2000, p. 108-109).

Aprofundando essa temática, Stuart Hall considera que o conceito de

“identidade” envolve tal complexidade, que sua definição ainda representa um enorme

desafio para a ciência social contemporânea. Em seu livro A identidade cultural da pós-

modernidade, ele relata a interligação entre as mudanças na(s) identidade(s) e as

mudanças na(s) sociedade(s) e define as “identidades culturais - aqueles aspectos de

nossas identidades que surgem de nosso ‘pertencimento’ a culturas étnicas, raciais,

linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais” (2005, p. 8, grifo do autor). De

acordo com Hall, justamente por conta dessas interconexões, o sujeito assume diferentes

identidades em diferentes momentos (2005, p. 13).

Essa afirmação coincide com o artigo de Munanga, que também menciona uma

multiplicidade de identidades no Brasil: “[...] Além da identidade nacional brasileira,

que reúne a todas e todos, estamos atravessados/as por outras identidades de classe,

sexo, religião, etnias, gênero, idade, raça, etc., cuja expressão depende do contexto

relacional” (2012, p. 6).

Essa definição nos remete à práxis da (re)construção da identidade negra,

incluindo as perspectivas de outras/os intelectuais negras/os.

3) O que os autores negros dizem sobre (re)construção da identidade negra?

Frantz Fanon, em “A experiência vivida do negro”, afirma que “queria ser

simplesmente um homem entre outros homens, [...] de ter chegado puro em um mundo
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nosso, ajudando a edificá-lo conjuntamente” (2008, p. 106), mas de repente se vê

completamente acuado, como descreve nesta passagem em que se depara com um

garoto branco que demonstra ter medo dele:

[...] O preto é um animal, o preto ruim, o preto é malvado, o preto é


feio, olhe um preto! Faz frio, o preto treme, o preto treme porque sente
frio, o menino treme porque tem medo do preto, o preto treme de frio,
um frio que morde os ossos, o menino bonito treme porque pensa que
o preto treme de raiva, o menino branco se joga nos braços da mãe:
mamãe, o preto vai me comer! (2008, p. 106-107).

Como se (re)construir identitariamente a partir da constatação do quanto o ser

negro pode ser assustador? Aimé Césaire, no livro Discurso sobre a Negritude,

considerava a Negritude como “a exigência ontológica do Ser Humano que fora

transformado em ‘negro-animal’, ‘negro-vegetal’, ‘negro-coisa’, ‘negro-sujeira’, ‘negro-

fealdade’, ‘negro-sem-história’, e, naturalmente, ‘negro-sem-porvir’” (1987, p.19).

Paralelamente a Fanon e Césaire, essas adjetivações desqualificadoras do negro

ecoam na obra de um terceiro autor, igualmente tristes, absurdas e desabonadoras. De

forma tão eloquente quanto seus pares, Achille Mbembe, em Crítica da razão negra,

explica o processo de transformação das pessoas de origem africana em “negros”,

através de uma metáfora: a metamorfose que obedece a uma “tripla lógica de ossificar,

envenenar e calcificar. O Negro não é apenas o protótipo do sujeito envenenado e

carbonizado. É aquele cuja vida é feita de restos calcinados” (2014, p. 78).

Segundo Mbembe, após serem transformados em mineral vivo, os cidadãos de

origem africana passam à categoria de “produto” ao qual se dá o nome de “Negro”

Enquanto essa etapa de extração de minério se dá na África, as fases subsequentes são

distribuídas: a fundição se dá no Novo Mundo, onde são convertidos em metal e a


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fabricação das moedas é feita na Europa (BAUCOM, 2005, apud 2014, p. 78). E ele

segue descrevendo as etapas posteriores dessa degradante transformação:

Esta passagem do homem-mineral ao homem-metal e do homem-


metal ao homem-moeda é uma dimensão estruturante do primeiro
capitalismo. A extracção é, de imediato, dilaceração ou separação de
determinados seres humanos das suas origens de berço. Segue-se a
ablação ou extirpação – condição para que a prensagem (sem a qual
não se consegue nenhuma extracção) pudesse efectivamente
acontecer. Quando se faz passar o escravo pelo laminador,
pressionando-o de modo a extrair dele o máximo proveito, não se trata
simplesmente de converter um ser humano em objeto. Não ficará
apenas uma marca indelével. Produz-se o Negro, isto é, de acordo com
o que nos preocupa ao longo deste livro, o sujeito de raça, ou ainda a
própria figura daquele que se deve manter a uma certa distância – de
que podemos desembaraçar-nos quando aquilo deixar de ser útil.
(2014, p. 78, grifos do autor).

Retomando “A experiência vivida do negro”, Fanon vislumbra uma saída para

tanto sofrimento: “Desde que era impossível livrar-me de um complexo inato, decidi me

afirmar como Negro. Uma vez que o outro hesitava em me reconhecer, só havia uma

solução fazer-me conhecer” (2008, p. 108).

Sua postura coincide com o discurso de Césaire: a única maneira de aqueles que

foram vitimados pela escravidão se (re) encontrarem ontologicamente seria através da

recuperação de seu passado negro. Isso lhes traria de volta sua identidade negada, seu

passado apagado e sua valiosa herança histórica escondida. Traria igualmente a

possibilidade de um “futuro especificamente negro” no sentido de sua autoafirmação e

do orgulho de sua cor e das características fenotípicas que o identificavam como

“negro”, bem como por saber da importante contribuição de seus ancestrais africanos

para o desenvolvimento da humanidade (1987, p. 13-14). E prossegue:

[...] Em um mundo fortemente hierarquizado em desfavor dos negros,


forjar um novo destino, autoassumido, e reconquistar o lugar de
protagonista na história, implicava a plena assunção de uma
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identidade racial postulada em termos e valores definidos pelos


próprios negros. Havia mais: o reencontro do negro não se daria na
enunciação de mágicas frases universalistas, cuja abstração, no que
diz respeito à cultura e identidade, rivaliza com o vazio ontológico.
Dar-se-ia através de um re-enraizamento que, para ser fecundo, teria
que estar inserido numa trama verdadeira e concreta: a trama
especificamente africana, desde as primícias autônomas até o presente
de luta contra um estatuto infamante e alienador (1987, p.15).

Essa expectativa de re-enraizamento é ratificada por Fanon, quando descreve sua

(re)descoberta da rica história da África, através da leitura de autores brancos que

atestaram a existência de cidades com populações acima de cem mil habitantes e

doutores negros que viajavam à Meca para discutir o alcorão. “Tudo isto exumado,

disposto, vísceras ao vento, permitiu-me reencontrar uma categoria histórica válida. O

branco estava enganado, eu não era um primitivo, nem tampouco um meio-homem, eu

pertencia a uma raça que há dois mil anos já trabalhava o ouro e a prata” (2008, p. 119).

Todas as experiências individuais vividas, observadas e narradas por esses

autores negros, (com tanta dor e sofrimento, mas também com perspectivas de

transformações positivas) projetam sua expansão para um nível mais abrangente, mais

grupal. Como se daria então a (re)construção da identidade negra coletiva?

4) Ampliando a (re)construção da identidade negra para o coletivo

A busca do negro por sua autoafirmação individual, mencionada por tantos

intelectuais negros, nos faz retornar ao prefácio do livro O discurso sobre a negritude,

em que Carlos Moore exalta a genialidade de Césaire por ter percebido que, como havia

uma negação global do negro, a contrapartida, de cunho positivo, auto afirmativo e

legitimador, deveria ser necessária e igualmente global (1987, p. 18).


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Para Césaire, a Negritude configurava-se para o negro como uma (re)afirmação

de si mesmo, mas esse “si” seria, na verdade, “grupal”, pois abrangeria toda a população

negra historicamente vítima das teorias e práticas hegemônicas de racismo. Justamente

pela existência do conceito de raça como uma construção social concreta, havia a

necessidade premente de torná-la inoperante, através da construção de uma consciência

identitária especificamente negra. Da mesma forma as organizações sociais negras

deveriam se estruturar para acompanhar esse movimento de contraposição ao legado

histórico e perverso do racismo (1987, p.19, grifo do autor).

Outra autora que propõe novas teorias para as questões coletivas do negro é bell

hooks, em seu livro Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade

(2013). Para ela, “[...] Muitas questões que continuamos confrontando como negros –

baixa autoestima, intensificação do niilismo e do desespero, raiva e violência reprimidas

que destroem nosso bem-estar físico e psicológico [...]” (2013, p. 93) demandam um

engajamento coletivo como resistência para a efetiva transformação da realidade.

Essas novas ações nos remetem de volta à Munanga, em “Negritude e identidade

negra ou afrodescendente: um racismo ao avesso?”, que propõe:

[...] no processo de construção da identidade coletiva negra, é preciso


resgatar sua história e autenticidade, desconstruindo a memória de
uma história negativa que se encontra na historiografia colonial ainda
presente em “nosso” imaginário coletivo e reconstruindo uma
verdadeira história positiva capaz de resgatar sua plena
humanidade e autoestima destruída pela ideologia racista [...]
(2012, p.10, grifo meu).

Ele reforça então como é importante e primordial “ensinar a história da África e

a história do negro no Brasil a partir de novas abordagens e posturas epistemológicas,


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rompendo com a visão depreciativa do negro, para que se possam oferecer subsídios

para a construção de uma verdadeira identidade negra [...]” (2012, p.10).

Essa (re)ação surge como resultado dos esforços de todos os que lutaram e lutam

para que a história do negro seja reescrita de maneira justa e autêntica . Por isso, bell

hooks se diz agradecida “às muitas mulheres e homens que ousam criar teoria a partir

do lugar de dor e da luta, que expõem corajosamente suas feridas para nos oferecer sua

experiência como mestra e guia, como meio para mapear novas jornadas teóricas. O

trabalho delas é libertador” (2013, p. 103).

Daí a necessidade da utilização dessa teoria para a efetiva e inadiável

implementação da lei 10639/03, mesmo nos espaços “coadjuvantes”, complementares

ou eventualmente substitutivos3 de educação, como é o caso das ONGs 4 e, mais

especificamente, dos programas sociais do CIEE Rio.

5) Voltando à dúvida (cruel) dos alunos “Professora, de que cor eu sou?”

Nesse artigo, selecionamos e analisamos textos de autoras/es negras e negros

sobre o tema Identidade, com o intuito de buscar elementos para embasar uma prática

pedagógica que crie condições para a (re)construção da identidade negra, individual e

coletiva, dos jovens afrodescendentes participantes dos programas sociais do CIEE Rio.

O pressuposto de que intelectuais negras e negros teriam um lugar de fala

legitimador que apresentasse as múltiplas e infindáveis barreiras à formação de uma

identidade negra autêntica e positiva, se confirmou: Hall, Munanga, Fanon, Césaire,

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Na hipótese de omissão do ensino oficial.
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Organizações sem fins lucrativos.
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Moore, Hooks e Mbembe foram unânimes em afirmar (e provar) o quanto o Negro foi

impactado negativamente por manipulações históricas e seculares acerca de seu

(des)valor como ser (não)humano.

Esses autores também nos mostram caminhos para o resgate de nossa verdadeira

e honrosa história, o que poderá contribuir para elevar a autoestima desses jovens e

oxalá dirimir sua dúvida literalmente cruel para que, ao invés de perguntarem confusos:

“Professora, de que cor eu sou?”, passem a afirmar de cabeça erguida “Sou Negra/o

sim, com muito orgulho!”

6) Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei 10.639/03. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm. Acesso em 01/12/2017.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre a Negritude. MOORE, Carlos (Org.). Belo


Horizonte: Nandyala, 2010

FANON, Franz. Pele Negra Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

HALL, Stuart. Quem precisa de Identidade. In: SILVA, Tomas Tadeu da (org.).
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

__________. A identidade cultural da pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A


Editora, 2006.

hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2013.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antigona, 2014

__________. Negritude e Identidade negra ou afrodescendente: um racismo ao avesso?


Revista ABPN, v.4, n.8, p. 6-14, jul.-out. 2012.
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__________. Negritude usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

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