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LARISSA MARQUEZE1
LILIAN RAVAZZI 2
Introdução
Em tudo que vivemos, temos a necessidade de expressar o que sentimos, o que desejamos e
de compartilhar esses sentimentos com as demais pessoas. Para que haja essa troca com o
mundo externo, é necessário que exista uma comunicação, seja ela de forma oral, ou gestual.
Quando essa comunicação não acontece da forma padronizada a que estamos acostumados,
nos remetemos à idéia de que ela foi perdida em alguma fase da vida. Muitas vezes, essa
comunicação pode ser prejudicada, ou nem chegar a ser desenvolvida.
Difícil então, imaginar um mundo sem comunicação. Quando pensamos em pessoas
deficientes dessa comunicação, analisamos propostas alternativas para que a mesma aconteça.
Um deficiente auditivo, por exemplo, se comunica por meio da LIBRAS. Um deficiente
visual, por meio do Braile. O que acontece então com uma pessoa autista, que em sua grande
maioria não tem essa comunicação desenvolvida ou a mesma ocorre de maneira diferenciada?
Em muitos casos, quando há intervenção muito cedo, essa comunicação pode chegar a
acontecer de formas rudimentares.
O autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento que afeta em sua grande maioria
indivíduos do sexo masculino. Suas causas ainda não estão completamente elucidadas, muitos
estudos tem sido realizados na área e apontam uma grande tendência para herança genética
associada a fatores ambientais.
Mesmo sendo um assunto que ainda necessita de muitos estudos, a concepção de causas e
sintomas do Autismo avançou muito, desde que foi descrito em 1943 por Leo Kanner.
Os autistas encontram dificuldade em se comunicar verbalmente, por isso vivem em um
mundo próprio, com formas e jeitos específicos de se comunicar e se expressar.
Diante da análise das características dos Autistas, encontramos o seguinte problema: Como
incluir os autistas nas aulas de Educação Física?
Ao propormos esse trabalho temos como objetivos: Compreender os diferentes tipos de
autismo; identificar, na literatura, metodologias que possibilitem a inclusão de autistas nas
aulas de Educação Física e conhecer as fases de desenvolvimento dos autistas, para
possibilitar a inclusão dos mesmos durante as aulas de Educação Física.
Este trabalho justifica-se pela real necessidade de incluir autistas em aulas de Educação Física
e da pouca literatura encontrada abordando o tema, pois uma das maiores dificuldades do
Autista é a de interação social e a recusa pelo contato físico, dois aspectos muito presentes nas
aulas de Educação Física.
Na graduação, o tema não foi citado durante as aulas de Educação Especial, provocando em
nós, curiosidade sobre o assunto, e o interesse pelo estudo desse tema especifico.
Ao iniciar o trabalho, abordaremos primeiramente a história da Educação Especial, Políticas
1
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina – UEL e Especialista em Educação Especial – Instituto de Ensinos
Avançados e Pós Graduação – ESAP – Rua João Garla, 300 – casa 20 – Cambé - PR - larimarqueze@hotmail.com
2
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina – UEL e Especialista em Educação Especial – Instituto de Ensinos
Avançados e Pós Graduação – Rua Alameda Julio de Mesquita Filho, 73, ap. 232 – Londrina - PR – liravazzi@gmail.com
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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 1945-1956
Método
Para a concretização desse estudo, foram realizados levantamentos e análises bibliográficas
sobre a história da Educação Especial, suas políticas e a educação inclusiva, como também os
Transtornos Globais do Desenvolvimento, o Autismo e a inclusão dos autistas nas aulas de
Educação Física. O tipo de pesquisa bibliográfica permite o acesso às discussões sobre o tema
em questão. De acordo com Lakatos e Marconi (2002) a pesquisa bibliográfica “abrange toda
bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto” (p. 71). Esta pesquisa se caracteriza como descritiva, definida como “investigação,
registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no
presente” (BEST, apud LAKATOS e MARCONI, 2002, p.20).
Discussão
Educação Especial
A Educação Especial apresenta objetivos comuns aos da educação geral, como o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho. É um ramo da educação que oferece atendimento e educação para pessoas
com deficiência em instituições especializadas, com materiais e currículo adaptados.
De acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) entende-se por
Educação Especial “a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.
Para falar em Educação Especial não podemos nos esquecer das fases que essa passou ao
longo de sua história. Em momentos diferentes ela apresentou fases importantes: a de
extermínio, exclusão, integração e por último a fase da inclusão, que está acontecendo nos
dias de hoje.
A primeira fase que a Educação Especial passou foi a do extermínio, nessa época a pessoa
com deficiência não tinha direito à vida, era vista como um castigo dos céus ou possuída por
demônios; desse modo eram sacrificadas, escondidas e até levadas à morte pela sociedade.
Na Idade Média as pessoas com deficiência passaram a ser vistas como portadoras de alma e
filhos de Deus. Os deficientes eram vistos como doentes, inválidos ou incapazes e, portanto,
acabavam sendo acolhidos em instituições religiosas, por caridade. Desse modo essa fase
ficou conhecida como a fase da exclusão, já que os deficientes não podiam mais ser
exterminados e dependiam da caridade humana para sobreviver.
Seguindo a fase da exclusão vem a da integração que remete, às pessoas com deficiência, o
direito de viver em comunidade, sendo útil e exercendo tarefas comuns junto aos demais
membros da sociedade, tendo respeitada sua individualidade e diferença.
Chegando no século XX percebemos avanços significativos, chegando na etapa da inclusão, a
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Uma pessoa com uma necessidade especial é uma pessoa com restrição ou falta de
capacidades para executar determinadas atividades, tarefas, e habilidades. Na Política
Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994), são considerados alunos portadores de
necessidades especiais:
As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), o mais recente
documento legal no Brasil, veio com a visão de que:
Temos também o Decreto de 2008 que o presidente da república decreta que a união prestará
apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional
especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular.
Este decreto ainda nos diz que haverá implantação de salas de recursos multifuncionais,
formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado, adequação
arquitetônica de prédios escolares, dentre outros.
Também em 2008 encontramos a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
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Não restam dúvidas que o autismo é uma doença orgânica que afeta a mente. De acordo com
Amâncio apud Pinto (2010) quando trabalhamos com autistas temos a impressão de que
alguma coisa, de alguma maneira, apoderou-se da mente deles. É como se algo tivesse
envolvido seu cérebro e, desse jeito, deixando-os isolados e incapazes de se comunicar com o
mundo exterior. Impossibilitando-os de interagir com o meio e as pessoas.
Segundo Amâncio apud Pinto (2010), na década de 40, essa deficiência era vista como um
erro inato, congênito, semelhante a um defeito físico e mental, outros acreditavam que os
autistas eram resultados de maus pais. Somente nos anos 60 a doença passou a ser vista como
orgânica. Há fortes indícios de que ela seja uma doença genética, mas sua herança ainda não
está completamente esclarecida. “A ideia predominante é que deve haver uma associação
genética e ambiental que responda pelo transtorno” (AMÂNCIO apud PINTO, 2010, p. 10).
As causas do Autismo ainda são desconhecidas, mas existem muitas teorias e a mais aceita é a
multifatorial, onde os principais fatores apontados para a causa do autismo são: genéticos,
imunológicos (rubéola materna) e neurológicos (encefalites, meningites) (PIASSA, 2010).
É uma síndrome que apresenta quadros diagnósticos e característicos, comprometendo três
importantes domínios para o desenvolvimento humano: comunicação, sociabilização e a
imaginação, por isso recebe o nome de tríade.
Além do isolamento social, ausência de contato visual, pobreza de expressão verbal e
inexistência de empatia, os autistas não compreendem metáforas, eles as interpretam
literalmente. Também demonstram preocupação exagerada com coisas insignificantes, não
demonstram medo de perigo normal e manifestam aversão a certos sons, apresentam
hipersensibilidade auditiva.
O autista possui desvios qualitativos na imaginação, uma criança passa horas explorando a
textura de um brinquedo, para os autistas que tem inteligência preservada, percebe-se a
fixação em determinados assuntos, que normalmente não são de interesse das crianças da
mesma idade.
Aproximadamente metade das crianças que têm comportamento autista também sofre de
alguma patologia grave afetando o sistema nervoso central, tal como espasticidade ou
epilepsia. As restantes parecem fisicamente saudáveis, exceto o seu comportamento estranho;
no entanto, um exame especializado frequentemente mostra que têm dificuldades que podem
ser causadas por alguma anormalidade do cérebro (Gauderer, 1993).
É uma área do conhecimento em educação física e esportes que tem por objetivo
privilegiar uma população caracterizada como portadora de deficiência ou de
necessidades especiais, e desenvolve-se através de atividades psicomotoras, esporte
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Universidade. Esse método também é de grande importância e pode ser usado nas aulas de
Educação Física.
O objetivo do método Teacch, é aumentar o funcionamento independente do individuo,
valorizando assim, o aprendizado estruturado, importa-se com a rotina e formação visual.
Portanto, nas aulas de Educação Física, é necessário organizar e simplificar o ambiente,
apresentando menos estímulos sensoriais concomitantes. Isto facilita a criança a focar a
atenção nos detalhes relevantes.
Conclusões
O objetivo principal desse estudo foi compreender o Autismo e identificar metodologias para
possibilitar a inclusão dos autistas nas aulas de Educação Física. Para atingir esse objetivo foi
realizada uma pesquisa bibliográfica do tema em questão, Educação Especial, Educação
Inclusiva, Transtorno Global de Desenvolvimento, Autismo e Educação Física adaptada, para
enfim chegar na Inclusão dos autistas nas aulas de Educação Física.
A proposta metodológica surgiu da necessidade de responder a questão de como incluir os
autistas nas aulas de Educação Física.
Ao decorrer do trabalho, relembramos o que a Educação Especial ao longo dos anos, cresceu
e contribuiu para a inclusão estar se tornando algo completamente viável. Analisamos as
causa e características das pessoas com TGD, em especifico as pessoas autistas. Após isso,
começamos a falar da Educação Física Adaptada e no último capítulo abordamos
especificamente as implicações da Educação Física com as pessoas Autistas.
Por meio da pesquisa, pudemos verificar que a concepção de deficiente mudou muito ao
longo da história, passando por várias fases, como a da exclusão, segregação, integração e
chegando por fim na inclusão.
Analisando o TGD ressaltamos que eles geralmente são diagnosticados na primeira infância, e
são caracterizados pelo comprometimento grave e global em diversas áreas do
desenvolvimento
Quando entramos na questão do Autismo destacamos que esses indivíduos (autistas)
apresentam comprometimento em três áreas importantes, a da comunicação, da socialização e
na área motora. Eles tem dificuldades em se relacionar e comunicar-se com as pessoas e
também apresentam alguns movimentos estereotipados. O comportamento dos indivíduos que
apresentam Autismo é focalizado e repetitivo.
O autismo manifesta-se por volta dos três anos e persiste por toda a vida, acontecendo mais
nos indivíduos do sexo masculino. Suas causas ainda são desconhecidas, mas a teoria mais
aceita é a multifatorial, onde os fatores genéticos, imunológicos e neurológicos são os
principais apontados.
Diante da questão da inclusão não podemos deixar de fora das aulas de Educação Física
nenhum aluno, nem mesmo os autistas. Para isso temos a Educação Física adaptada, que
busca incluir alunos com necessidades especiais nas atividades físicas que são realizadas na
escola. Os professores de Educação Física devem estimular as necessidades, potencialidades e
as possibilidades desses alunos, adaptando às atividades com suas necessidades.
Não podemos nos esquecer, quando trabalhamos com alunos especiais, de algumas atitudes,
devemos tratá-los da mesma maneira que tratamos os outros alunos, elogiar, se houver motivo
para o mesmo, e fazer com que eles participem de todas as atividades.
Visto que os autistas apresentam uma dificuldade na área da linguagem, o professor, ao se
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direcionar a ele, deve realizar suas instruções de maneira calma, evidenciando apenas as que
são importantes para a realização das atividades. Em relação à educação motora o modelo do
professor é fundamental, pois no começo a criança autista vai imitando movimentos e
adaptando-se às regras. Sabendo também que os autistas não gostam de quebrar a rotina,
podem ficar agressivos se isso acontecer, as aulas de Educação Física devem ser realizadas
sempre no mesmo horário e nos mesmos dias, possibilitando uma adaptação desses alunos.
Nas aulas de Educação Física onde alunos autistas estejam incluídos o professor deve usar
objetos coloridos, de diferentes tamanhos, mas não pode entregar tudo de uma vez, tem que ir
com calma, para esses alunos irem se familiarizando e reconhecendo os mesmos.
Os professores também podem usar o método TEACCH nas aulas, mostrando cartões com
figuras para os alunos, por exemplo, fazendo gestos, movimentos e emitindo sons.
Esperamos que este trabalho possa contribuir de maneira significativa para os professores
conhecerem como os autistas podem ser incluídos nas aula de Educação Física nos diferentes
níveis de ensino. Diante dessa proposta, os professores poderão refletir sobre sua própria ação
pedagógica com relação à inclusão e conhecer possibilidades de adaptações nas aulas de
Educação Física para os autistas.
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Referências
CESTARI, Ana Cássia Jorge; MONROY, Ângela; SHIMAZAKI, Elsa Midori. Fundamentos
e políticas da educação especial. In: Apostila ESAP, 2010.
GLAT, Rosana. A integração social dos portadores de deficiência: uma reflexão. Rio de
Janeiro: Sete Letras, 1995.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de pesquisa. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
MAZZOTA, Marcos J.S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. São
Paulo: Cortez, 1995.
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PINTO, Graziela Costa. Doenças do cérebro: autismo. São Paulo: Duetto, 2010.
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