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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 1945-1956

INCLUSÃO DE AUTISTAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

LARISSA MARQUEZE1
LILIAN RAVAZZI 2

Introdução

Em tudo que vivemos, temos a necessidade de expressar o que sentimos, o que desejamos e
de compartilhar esses sentimentos com as demais pessoas. Para que haja essa troca com o
mundo externo, é necessário que exista uma comunicação, seja ela de forma oral, ou gestual.
Quando essa comunicação não acontece da forma padronizada a que estamos acostumados,
nos remetemos à idéia de que ela foi perdida em alguma fase da vida. Muitas vezes, essa
comunicação pode ser prejudicada, ou nem chegar a ser desenvolvida.
Difícil então, imaginar um mundo sem comunicação. Quando pensamos em pessoas
deficientes dessa comunicação, analisamos propostas alternativas para que a mesma aconteça.
Um deficiente auditivo, por exemplo, se comunica por meio da LIBRAS. Um deficiente
visual, por meio do Braile. O que acontece então com uma pessoa autista, que em sua grande
maioria não tem essa comunicação desenvolvida ou a mesma ocorre de maneira diferenciada?
Em muitos casos, quando há intervenção muito cedo, essa comunicação pode chegar a
acontecer de formas rudimentares.
O autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento que afeta em sua grande maioria
indivíduos do sexo masculino. Suas causas ainda não estão completamente elucidadas, muitos
estudos tem sido realizados na área e apontam uma grande tendência para herança genética
associada a fatores ambientais.
Mesmo sendo um assunto que ainda necessita de muitos estudos, a concepção de causas e
sintomas do Autismo avançou muito, desde que foi descrito em 1943 por Leo Kanner.
Os autistas encontram dificuldade em se comunicar verbalmente, por isso vivem em um
mundo próprio, com formas e jeitos específicos de se comunicar e se expressar.
Diante da análise das características dos Autistas, encontramos o seguinte problema: Como
incluir os autistas nas aulas de Educação Física?
Ao propormos esse trabalho temos como objetivos: Compreender os diferentes tipos de
autismo; identificar, na literatura, metodologias que possibilitem a inclusão de autistas nas
aulas de Educação Física e conhecer as fases de desenvolvimento dos autistas, para
possibilitar a inclusão dos mesmos durante as aulas de Educação Física.
Este trabalho justifica-se pela real necessidade de incluir autistas em aulas de Educação Física
e da pouca literatura encontrada abordando o tema, pois uma das maiores dificuldades do
Autista é a de interação social e a recusa pelo contato físico, dois aspectos muito presentes nas
aulas de Educação Física.
Na graduação, o tema não foi citado durante as aulas de Educação Especial, provocando em
nós, curiosidade sobre o assunto, e o interesse pelo estudo desse tema especifico.
Ao iniciar o trabalho, abordaremos primeiramente a história da Educação Especial, Políticas

1
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina – UEL e Especialista em Educação Especial – Instituto de Ensinos
Avançados e Pós Graduação – ESAP – Rua João Garla, 300 – casa 20 – Cambé - PR - larimarqueze@hotmail.com
2
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina – UEL e Especialista em Educação Especial – Instituto de Ensinos
Avançados e Pós Graduação – Rua Alameda Julio de Mesquita Filho, 73, ap. 232 – Londrina - PR – liravazzi@gmail.com
1945
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para a Educação Especial Brasileira e a Educação Inclusiva no Ensino Regular. Depois


trataremos de uma forma ampla, os Transtornos Globais do Desenvolvimento, falando depois
especificamente do Autismo, seus tipos e causas. No terceiro capítulo falaremos da Educação
Física Adaptada e do tema especifico desse trabalho que é a Educação Física e o Autismo.

Método
Para a concretização desse estudo, foram realizados levantamentos e análises bibliográficas
sobre a história da Educação Especial, suas políticas e a educação inclusiva, como também os
Transtornos Globais do Desenvolvimento, o Autismo e a inclusão dos autistas nas aulas de
Educação Física. O tipo de pesquisa bibliográfica permite o acesso às discussões sobre o tema
em questão. De acordo com Lakatos e Marconi (2002) a pesquisa bibliográfica “abrange toda
bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto” (p. 71). Esta pesquisa se caracteriza como descritiva, definida como “investigação,
registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no
presente” (BEST, apud LAKATOS e MARCONI, 2002, p.20).

Discussão

Educação Especial

A Educação Especial apresenta objetivos comuns aos da educação geral, como o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho. É um ramo da educação que oferece atendimento e educação para pessoas
com deficiência em instituições especializadas, com materiais e currículo adaptados.
De acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) entende-se por
Educação Especial “a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.
Para falar em Educação Especial não podemos nos esquecer das fases que essa passou ao
longo de sua história. Em momentos diferentes ela apresentou fases importantes: a de
extermínio, exclusão, integração e por último a fase da inclusão, que está acontecendo nos
dias de hoje.
A primeira fase que a Educação Especial passou foi a do extermínio, nessa época a pessoa
com deficiência não tinha direito à vida, era vista como um castigo dos céus ou possuída por
demônios; desse modo eram sacrificadas, escondidas e até levadas à morte pela sociedade.
Na Idade Média as pessoas com deficiência passaram a ser vistas como portadoras de alma e
filhos de Deus. Os deficientes eram vistos como doentes, inválidos ou incapazes e, portanto,
acabavam sendo acolhidos em instituições religiosas, por caridade. Desse modo essa fase
ficou conhecida como a fase da exclusão, já que os deficientes não podiam mais ser
exterminados e dependiam da caridade humana para sobreviver.
Seguindo a fase da exclusão vem a da integração que remete, às pessoas com deficiência, o
direito de viver em comunidade, sendo útil e exercendo tarefas comuns junto aos demais
membros da sociedade, tendo respeitada sua individualidade e diferença.
Chegando no século XX percebemos avanços significativos, chegando na etapa da inclusão, a
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etapa do direito de ser diferente, de viver e conviver em comunidade; respeito à diversidade


humana e revolução de valores e atitudes.
No Brasil, a história da Educação Especial tem seu início no final do Brasil Colônia, como
nos diz Mazzotta (1995), com a criação do Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto
Benjamin Constant, nasce também em 1857 o Instituto dos Surdos Mudos, hoje denominado
Instituto Nacional de Educação dos Surdos.
Em 1920 surge a primeira instituição, de caráter privado, para os deficientes mentais, em
Canoas, através da Sociedade Pestalozzi. Por meio da Fundação da Sociedade Pestalozzi
Helena Antippoff veio ao Brasil e foi a responsável pela criação de serviços de diagnósticos,
classes e escolas especiais. Ela também participou ativamente do movimento das Associações
de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES). Com esse movimento começaram a aparecer
instituições especializadas no atendimento ao portador de deficiência, autônomas e de caráter
filantrópico.
As APAES se tornaram a maior prestadora de serviços na educação e habilitação das pessoas
com deficiência em todo o país.
As escolas especiais são um marco histórico do atendimento educacional aos deficientes.
Essas escolas forma responsáveis em introduzir e difundir metodologias específicas, no
campo da reabilitação e educação escolar.
Ao longo dos anos podemos analisar que muitos projetos visando à inclusão de pessoas com
necessidades educacionais especiais, são interrompidos, pela mudança de governo e de
interesses políticos, sem uma discussão reflexiva dos mesmos.
Muitos são os documentos nacionais e mundiais que abordam legalmente a questão da
inclusão tanto escolar quanto social. Analisando mundialmente o assunto, não podemos
deixar de citar a Conferência Mundial de Educação Especial, que ocorreu na Espanha, na
cidade de Salamanca, entre os dias 7 e 10 de Julho de 1994. Na qual, 88 países e 25
Organizações Mundiais participaram, sendo o Brasil signatário da mesma.
Essa Conferência resultou na aprovação do documento Declaração de Salamanca, que discute
sobre princípios, pratica e política em Educação Especial.

Acreditamos e proclamamos que: cada criança tem o direito


fundamental à educação e deve ter a oportunidade de conseguir e
manter um nível aceitável de aprendizagem, cada criança tem
características, interesses, capacidades e necessidades de
aprendizagem que lhe são próprias, os sistemas de educação devem
ser planeados e os programas educativos implementados tendo em
vista a vasta diversidade destas características e necessidades, as
crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter
acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar através duma
pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas
necessidades, as escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva,
constituem os meios capazes para combater as atitudes
discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias,
construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para
todos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria
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das crianças e promovem a eficiência, numa ótima relação custo-


qualidade, de todo o sistema educativo. (BRASIL, 2009)

Uma pessoa com uma necessidade especial é uma pessoa com restrição ou falta de
capacidades para executar determinadas atividades, tarefas, e habilidades. Na Política
Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994), são considerados alunos portadores de
necessidades especiais:

Aqueles que, por apresentarem necessidades próprias e diferentes dos


demais alunos, requerem recursos pedagógicos e metodológicos
educacionais específicos. Consideram-se integrantes desse grupo os
portadores de: deficiência mental, visual, auditiva, física, múltipla,
condutas típicas e altas habilidades. (BRASIL, 1994)

As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001), o mais recente
documento legal no Brasil, veio com a visão de que:

[...] a adoção do conceito de necessidades educacionais especiais e do


horizonte da educação inclusiva implica mudanças significativas. Em
vez de se pensar no aluno como a origem de um problema, exigindo-
se dele um ajustamento a padrões de normalidade para aprender com
os demais, coloca para os sistemas de ensino e para as escolas o
desafio de construir coletivamente as condições para atender bem à
diversidade de seus alunos. (BRASIL, 2001, p. 6)

Temos também o Decreto de 2008 que o presidente da república decreta que a união prestará
apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional
especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular.
Este decreto ainda nos diz que haverá implantação de salas de recursos multifuncionais,
formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado, adequação
arquitetônica de prédios escolares, dentre outros.
Também em 2008 encontramos a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
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Educação Inclusiva, essa política diz que o atendimento educacional especializado


disponibiliza programas de enriquecimento curricular, ajudas técnicas e tecnologia assistiva,
dentre outros. Ao longo de todo o processo de escolarização esse atendimento deve estar
articulado com a proposta pedagógica do ensino comum.
A inclusão escolar deve ter inicio na Educação Infantil, onde se desenvolvem as bases
necessárias para a construção do conhecimento. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas
diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais,
cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações
interpessoais, o respeito e a valorização da criança.
Na sociedade atual, o termo Inclusão tem sido muito utilizado, evidenciado na mídia, em
projetos sócio educacionais. Sabemos que independente de qual inclusão estivermos falando,
essa não depende exclusivamente de leis, mas de atitudes onde realmente se deseje incluir
algo ou alguém.
Um aluno com qualquer que seja sua necessidade educacional especial, quando incluído na
rede regular de ensino, passa por adaptações emocionais, que muitas vezes não são percebidas
pelos demais. Pois o mesmo está começando a fazer parte de um mundo antes desconhecido,
com pessoas diferentes e que muitas vezes o olham com certa estranheza, talvez não
voluntariamente demonstrando assim atitudes discriminatórias, mas por simples falta de
conhecimento sobre como agir com uma pessoa deficiente.
O sucesso da inclusão escolar não depende apenas de modificações arquitetônicas e de
projetos políticos pedagógicos que viabilizem a inclusão. Para que o sucesso da mesma ocorra
é preciso que se compreenda o significado que essa inclusão tem na vida social, afetiva e
educacional tanto do aluno que está sendo incluído, quanto dos demais que também
participam desse processo.
Pois, concordamos com Glat (1995), quando relata que:

Para assegurar um tratamento mais digno e desenvolver programas


mais eficazes de inserção do deficiente na sociedade, precisamos
primeiro entender o significado ou as representações que as pessoas
têm sobre o deficiente, e como esse significado determina o tipo de
relação que se estabelece com ele. (GLAT, 1995, p. 17)

A obrigatoriedade de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino


regular, ainda gera na sociedade uma divisão de opiniões, pois, a grande maioria das pessoas
envolvidas nesse processo, ainda não se sentem capacitadas para atuarem nessa área.
Quando falamos em inclusão temos que esquecer o modelo antigo devemos criar um novo,
melhor, transformando realmente a escola, fazendo com que ela se adapte as necessidades dos
alunos, e não com que os alunos se adaptem a escola.

A política de inclusão de alunos que apresentam necessidades


educacionais especiais na rede regular de ensino não consiste apenas
na permanência física desses alunos junto aos demais educandos, mas
representa a ousadia de rever concepções e paradigmas, bem como
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desenvolver o potencial dessas pessoas, respeitando suas diferenças e


atendendo suas necessidades. (BRASIL, 2002, p. 28)

Transtornos Globais do Desenvolvimento

Os transtornos globais do desenvolvimento (TGD) são caracterizados pelo comprometimento


grave e global em diversas áreas do desenvolvimento, havendo assim atraso ou desvio do
desenvolvimento de habilidades sociais, de linguagem, comunicação e no repertório
comportamental.
O documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(Brasil, 2008) nos mostra o público alvo de TGDs e o atendimento de seu alunado:

Os alunos com TGD são aqueles que apresentam alterações qualitativas


das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse
grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose
infantil (BRASIL, 2008).

Esses transtornos são geralmente diagnosticados na primeira infância, e as primeiras


manifestações ocorrem tipicamente antes dos três anos de idade.
Incluem-se no TGD não somente o autismo propriamente dito, mas também os transtornos do
espectro autista, onde encontramos as síndromes de Asperger e a de Rett, assim como os
transtornos desintegrativo da infância e o invasivo do desenvolvimento sem outra
especificação.
Inclui-se no TGD, um grupo denominado Autistas, que manifesta-se por volta dos 3 anos e
persiste por toda a vida adulta. Acontece principalmente no sexo masculino, na proporção de
um menino para cada quatro meninas. Eles tem uma maneira diferente de aprender e
processar informações. Uma das maiores dificuldades dos autistas é a mudança na rotina
diária, por isso para que as diferenças sejam respeitadas é necessário um ambiente estruturado
e organizado.

O autismo não é um problema atual, embora só tenha sido reconhecido


recentemente. Em virtude da breve história da psiquiatria, e da ainda mais
curta história da psiquiatria infantil, sabemos que um transtorno descrito
recentemente não é necessariamente um transtorno novo (FRITH, 1989,
p.16).

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Não restam dúvidas que o autismo é uma doença orgânica que afeta a mente. De acordo com
Amâncio apud Pinto (2010) quando trabalhamos com autistas temos a impressão de que
alguma coisa, de alguma maneira, apoderou-se da mente deles. É como se algo tivesse
envolvido seu cérebro e, desse jeito, deixando-os isolados e incapazes de se comunicar com o
mundo exterior. Impossibilitando-os de interagir com o meio e as pessoas.
Segundo Amâncio apud Pinto (2010), na década de 40, essa deficiência era vista como um
erro inato, congênito, semelhante a um defeito físico e mental, outros acreditavam que os
autistas eram resultados de maus pais. Somente nos anos 60 a doença passou a ser vista como
orgânica. Há fortes indícios de que ela seja uma doença genética, mas sua herança ainda não
está completamente esclarecida. “A ideia predominante é que deve haver uma associação
genética e ambiental que responda pelo transtorno” (AMÂNCIO apud PINTO, 2010, p. 10).
As causas do Autismo ainda são desconhecidas, mas existem muitas teorias e a mais aceita é a
multifatorial, onde os principais fatores apontados para a causa do autismo são: genéticos,
imunológicos (rubéola materna) e neurológicos (encefalites, meningites) (PIASSA, 2010).
É uma síndrome que apresenta quadros diagnósticos e característicos, comprometendo três
importantes domínios para o desenvolvimento humano: comunicação, sociabilização e a
imaginação, por isso recebe o nome de tríade.
Além do isolamento social, ausência de contato visual, pobreza de expressão verbal e
inexistência de empatia, os autistas não compreendem metáforas, eles as interpretam
literalmente. Também demonstram preocupação exagerada com coisas insignificantes, não
demonstram medo de perigo normal e manifestam aversão a certos sons, apresentam
hipersensibilidade auditiva.
O autista possui desvios qualitativos na imaginação, uma criança passa horas explorando a
textura de um brinquedo, para os autistas que tem inteligência preservada, percebe-se a
fixação em determinados assuntos, que normalmente não são de interesse das crianças da
mesma idade.
Aproximadamente metade das crianças que têm comportamento autista também sofre de
alguma patologia grave afetando o sistema nervoso central, tal como espasticidade ou
epilepsia. As restantes parecem fisicamente saudáveis, exceto o seu comportamento estranho;
no entanto, um exame especializado frequentemente mostra que têm dificuldades que podem
ser causadas por alguma anormalidade do cérebro (Gauderer, 1993).

Educação Física Adaptada

A principal proposta da Educação Física adaptada é a de incluir alunos com necessidades


especiais nas atividades físicas realizadas na escola, no ensino regular, pois muitas vezes
esses alunos são dispensados das aulas ou ficam simplesmente observando os outros colegas.
A Educação Física adaptada:

É uma área do conhecimento em educação física e esportes que tem por objetivo
privilegiar uma população caracterizada como portadora de deficiência ou de
necessidades especiais, e desenvolve-se através de atividades psicomotoras, esporte

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pedagógico, recreação e lazer especial, e técnicas de orientação e locomoção


(ROSADAS 1994 s/p.).

Um dos papéis do professor de Educação Física é estimular as necessidades, as possibilidades


e as potencialidades dos deficientes enquanto alunos; por meio de atividades lúdicas e de
jogos esportivos adaptados às necessidades de cada grupo.
A prática pedagógica da Educação Física aliada às atividades psicomotoras recreativas, vem
comprovar a necessidade de sua aplicação junto às pessoas com necessidades educacionais
especiais, pois é uma possibilidade de desenvolvimento e integração com diferentes grupos e
colaborando para a superação das dificuldades, pré-conceitos e das rotulações impostas à
deficiência.
Na educação física adaptada não é o aluno que tem que se adaptar ao professor, o que deve
acontecer é justamente o contrário, o professor deve se adaptar ao aluno.
Como nos diz Rosadas (1989) apud Soler (2006) devemos ter algumas atitudes quando
estamos trabalhando com os alunos especiais, é importante tratá-los da mesma forma que
tratamos os outros alunos; conversar coisas interessantes; elogiar, se houver um motivo para
isto; fazer com que eles participem integralmente das atividades e não se sintam inúteis e
descompromissados com as aulas.
É preciso pensar na Educação Física como um conteúdo que propicie reflexões aos alunos,
trazendo o ensino de movimentos que possam ter utilidades do seu dia a dia, que o aluno
consiga através desses movimentos, avanços sociais, melhorando sua qualidade de vida, não
em termos biológicos, mas em termos sociais, pois ele deve ser tratado como um Ser Humano
em Movimento, tendo como qualquer outro, direito ao mínimo de autonomia.
De acordo com Betti e Betti (1996, p.12) o professor de Educação Física pode “elaborar seu
conhecimento, o qual incorpora e transcende o conhecimento técnico-científico. No nosso
entender, é isso que deveria distinguir, em nossa área um profissional com formação
acadêmica de um leigo”.
Uma das características do autista é a preservação da rotina, podendo haver crises de
agressividade quando esta é quebrada. Por isso, as aulas de Educação Física, em turmas em
que existam autistas, devem ser realizadas sempre no mesmo horário e com duração
previamente determinada, possibilitando assim, uma adaptação e costume desse aluno autista.
Quando a aula for realizada com objetos, os mesmos devem ser distribuídos de maneira lenta,
fazendo com que o autista os reconheça. “Os materiais desportivos devem ser fáceis de
manipular e não devem ser fornecidos mais do que um de cada vez, pois pode provocar
confusão e dispersão pelas tarefas propostas” (Beyer et. al., 2000).
Um dos objetos que pode ser utilizado nas aulas, são bolas coloridas, por fixarem a atenção
dos autistas devido ao seu aprendizado visual, e também porque elas possibilitam tanto
atividades individualizadas, como em pequenos grupos, possibilitando assim, a interação dele
com as atividades e os demais alunos. Todos os objetos com muitas cores e que se
movimentam, podem proporcionar, ao aluno autista, um maior interesse em utilizá-lo.
Um dos métodos usados no processo ensino-aprendizagem dos autistas é o programa Teacch
(Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children),
que em português significa Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits
Relacionados com a Comunicação, foi fundado em 1972 na Universidade da Carolina do
Norte, EUA, pelo Dr. Eric Schopler et al. do Departamento de Psiquiatria dessa

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Universidade. Esse método também é de grande importância e pode ser usado nas aulas de
Educação Física.
O objetivo do método Teacch, é aumentar o funcionamento independente do individuo,
valorizando assim, o aprendizado estruturado, importa-se com a rotina e formação visual.
Portanto, nas aulas de Educação Física, é necessário organizar e simplificar o ambiente,
apresentando menos estímulos sensoriais concomitantes. Isto facilita a criança a focar a
atenção nos detalhes relevantes.

Conclusões
O objetivo principal desse estudo foi compreender o Autismo e identificar metodologias para
possibilitar a inclusão dos autistas nas aulas de Educação Física. Para atingir esse objetivo foi
realizada uma pesquisa bibliográfica do tema em questão, Educação Especial, Educação
Inclusiva, Transtorno Global de Desenvolvimento, Autismo e Educação Física adaptada, para
enfim chegar na Inclusão dos autistas nas aulas de Educação Física.
A proposta metodológica surgiu da necessidade de responder a questão de como incluir os
autistas nas aulas de Educação Física.
Ao decorrer do trabalho, relembramos o que a Educação Especial ao longo dos anos, cresceu
e contribuiu para a inclusão estar se tornando algo completamente viável. Analisamos as
causa e características das pessoas com TGD, em especifico as pessoas autistas. Após isso,
começamos a falar da Educação Física Adaptada e no último capítulo abordamos
especificamente as implicações da Educação Física com as pessoas Autistas.
Por meio da pesquisa, pudemos verificar que a concepção de deficiente mudou muito ao
longo da história, passando por várias fases, como a da exclusão, segregação, integração e
chegando por fim na inclusão.
Analisando o TGD ressaltamos que eles geralmente são diagnosticados na primeira infância, e
são caracterizados pelo comprometimento grave e global em diversas áreas do
desenvolvimento
Quando entramos na questão do Autismo destacamos que esses indivíduos (autistas)
apresentam comprometimento em três áreas importantes, a da comunicação, da socialização e
na área motora. Eles tem dificuldades em se relacionar e comunicar-se com as pessoas e
também apresentam alguns movimentos estereotipados. O comportamento dos indivíduos que
apresentam Autismo é focalizado e repetitivo.
O autismo manifesta-se por volta dos três anos e persiste por toda a vida, acontecendo mais
nos indivíduos do sexo masculino. Suas causas ainda são desconhecidas, mas a teoria mais
aceita é a multifatorial, onde os fatores genéticos, imunológicos e neurológicos são os
principais apontados.
Diante da questão da inclusão não podemos deixar de fora das aulas de Educação Física
nenhum aluno, nem mesmo os autistas. Para isso temos a Educação Física adaptada, que
busca incluir alunos com necessidades especiais nas atividades físicas que são realizadas na
escola. Os professores de Educação Física devem estimular as necessidades, potencialidades e
as possibilidades desses alunos, adaptando às atividades com suas necessidades.
Não podemos nos esquecer, quando trabalhamos com alunos especiais, de algumas atitudes,
devemos tratá-los da mesma maneira que tratamos os outros alunos, elogiar, se houver motivo
para o mesmo, e fazer com que eles participem de todas as atividades.
Visto que os autistas apresentam uma dificuldade na área da linguagem, o professor, ao se
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direcionar a ele, deve realizar suas instruções de maneira calma, evidenciando apenas as que
são importantes para a realização das atividades. Em relação à educação motora o modelo do
professor é fundamental, pois no começo a criança autista vai imitando movimentos e
adaptando-se às regras. Sabendo também que os autistas não gostam de quebrar a rotina,
podem ficar agressivos se isso acontecer, as aulas de Educação Física devem ser realizadas
sempre no mesmo horário e nos mesmos dias, possibilitando uma adaptação desses alunos.
Nas aulas de Educação Física onde alunos autistas estejam incluídos o professor deve usar
objetos coloridos, de diferentes tamanhos, mas não pode entregar tudo de uma vez, tem que ir
com calma, para esses alunos irem se familiarizando e reconhecendo os mesmos.
Os professores também podem usar o método TEACCH nas aulas, mostrando cartões com
figuras para os alunos, por exemplo, fazendo gestos, movimentos e emitindo sons.
Esperamos que este trabalho possa contribuir de maneira significativa para os professores
conhecerem como os autistas podem ser incluídos nas aula de Educação Física nos diferentes
níveis de ensino. Diante dessa proposta, os professores poderão refletir sobre sua própria ação
pedagógica com relação à inclusão e conhecer possibilidades de adaptações nas aulas de
Educação Física para os autistas.

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Referências

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