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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO
JUÍZO DA PRIMEIRA VARA

Processo nº : 2008.36.00.018033-3
Prisão Preventiva
Requerente : Ministério Público Federal

DECISÃO

Trata-se de pedido de PRISÃO PREVENTIVA formulado pelo


Ministério Público Federal em desfavor de MARIA APARECIDA AFONSO, LAIDE
AFONSO, ANA CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ DO ROSÁRIO, ANTONIO
REGINALDO GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO, MARCOS
ANTÔNIO ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM DA SILVA FILHO, JOÃO
BOSCO DE MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e DJALMA RODRIGUES PORTO,
todos devidamente qualificados nestes, com suporte no artigo 312 do CPP, tudo sob
o fundamento de que a constrição cautelar é imprescindível à garantia da ordem
pública, ameaçada e constrangida pelas condutas dos Requeridos, e conveniência
da instrução criminal.

Sustenta o órgão ministerial a existência de práticas ilícitas


consubstanciadas, em suma, no deslocamento de títulos fundiários utilizados em
processos expropriatórios para fins de reforma agrária nos municípios de Cláudia e
Itaúba/MT, resultando em obtenção de vantagem pecuniária indevida, uma vez que
os imóveis objeto das desapropriações intentadas pelo Incra/MT estão localizados

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sobre terras devolutas do Estado de Mato Grosso e/ou da União Federal. Esclarece
que, por tratar-se de vários imóveis que guardavam certa similitude (Fazendas
Chaparral, Três Nascentes, Alvorada, Alvorada I, Juvimará e Minata), divergindo
somente em alguns pontos, optou por descrever separadamente as condutas
atribuídas aos Requeridos, de acordo com os feitos expropriatórios pertinentes.

Assevera o Ministério Público Federal que todo o procedimento


expropriatório envolvendo o imóvel rural denominado “Fazenda Minata” encontra-se
eivado de vícios de graves proporções, que abarcam: a) alterações da localização
dos imóveis, apuradas pela cadeia dominial e análise dos títulos originários; b) a
natureza do imóvel rural com cobertura vegetal quase totalmente primária (floresta
ombrófila densa), com restrição de 80% para a formação de reserva legal,
insuscetível de supressão e utilização permitida somente sob o regime de manejo
florestal sustentável, ou seja, com vedação legal da legislação ambiental e agrária
para desapropriação, à exceção de assentamento agro-extrativista, que exige a
existência de populações tradicionais para a exploração de riquezas extrativistas,
situação não existente nos autos; c) produção de laudos falsos e avaliação
superestimada, tudo para propiciar o enriquecimento ilícito de particulares em
detrimento ao Erário Público, com a relevância de que tais ações defluem do próprio
órgão encarregado de fiscalizar e proteger o patrimônio público e o meio ambiente;
e d) que o imóvel não apresentava as condições adequadas a autorizar sua
desapropriação para fins de reforma agrária, tendo em vista a baixa qualidade do
seu solo para a agricultura.

Dado o número de situações narradas que envolvem os


Suplicados, pleiteou o Ministério Público Federal a decretação da prisão preventiva
dos principais investigados, notadamente dos servidores públicos, detentores, em
sua maioria, de cargos de chefia e posição estratégica dentro do órgão fundiário,
visando à garantia da ordem pública e para assegurar a instrução criminal.

É o relato. Decido.

FUNDAMENTAÇÃO

De início, faz-se imperioso ressaltar que, juntamente com o


presente pedido, protocolizou o órgão ministerial denúncia em desfavor dos
Requeridos pela prática dos delitos de formação de quadrilha e estelionato

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qualificado, processo nº 2008.36.00.018035-0, a qual fora recebida pelo Juízo nesta
data.

Precedem a peça ministerial investigações vazadas no


inquérito policial nº 2008.36.00.014811-1 e procedimento administrativo realizado
pelo Ministério Público Federal, composto de Termo de Declarações e notas
técnicas periciais.

Descreveu o MPF, de forma minuciosa, a existência de


inconsistências de gravidade considerável no procedimento administrativo (nº
54240.003238/2004-25) levado a cabo pelos Requeridos para a desapropriação
para fins de reforma agrária do imóvel rural denominado “Fazenda Minata”,
pertencente a LAIDE AFONSO e MARIA APARECIDA AFONSO, objeto do processo
expropriatório nº 2006.36.00.011364-7, em trâmite pela 1ª Vara Federal desta
Seccional. As condutas ilícitas dos Acusados permitiram, de acordo com o
arcabouço probatório que instruiu o pedido prisional e a ação penal acima
destacada, a concretização do procedimento administrativo, a oferta de elevada
indenização, o lançamento de títulos da dívida agrária, o depósito do valor das
benfeitorias em dinheiro e o ajuizamento da demanda expropriatória pela autarquia
federal perante a Justiça Federal. Esse roteiro está devidamente fundamentado nas
provas amealhadas e acima identificadas, tanto que a denúncia fora recebida nos
autos da ação penal nº 2008.36.00.018035-0.

São os servidores objeto do requerimento ora analisado, em


sua maioria, detentores de cargos de chefia ou de posição estratégica na estrutura
administrativa do Incra/MT. Constituem o corpo técnico da autarquia. A par das
provas analisadas, aliaram-se aos proprietários do bem desapropriado, formando
verdadeira organização criminosa com o intuito de lesar os cofres públicos,
consumando o procedimento administrativo pertinente, mesmo marcado por
ilegalidades, e ajuizando a conseqüente demanda expropriatória de imóvel não
adequado à política de reforma agrária, ante suas características descritas nos
laudos técnicos produzidos pelo próprio Incra, sendo imprestável à implementação
de assentamentos rurais, além de contribuir para a destruição da floresta
Amazônica.

Há evidências de conluio entre os servidores do Incra citados

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na inicial e os proprietários do imóvel “Fazenda Minata”, Laide Afonso e Maria
Aparecida Afonso, o que permitiu a consumação do procedimento administrativo
expropriatório fraudulento e a sua utilização para subsidiar o ajuizamento da ação
de desapropriação respectiva, processo nº 2006.36.00.011364-7. A narrativa
ministerial encontra amparo na documentação que escoltou o requerimento sob
análise, bem como o recebimento da denúncia na ação penal materializada no
processo nº 2008.36.00.018035-0. As irregularidades apontadas são relevantes,
afastando a presença de mera e simples desídia funcional ou qualquer outro
equívoco que tenha assolado os servidores ANA CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO
BRÁZ DO ROSÁRIO, ANTONIO REGINALDO GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO
PEREIRA CAJANGO, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM
DA SILVA FILHO, JOÃO BOSCO DE MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e
DJALMA RODRIGUES PORTO. Antes, estão a revelar, ao menos em tese, a
prática de uma série de atos absolutamente coordenados, a fim de justificar o
pagamento de verba indenizatória indevida e absolutamente ilegal. Vejamos.

MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA, com a anuência dos


proprietários, deu início ao procedimento administrativo acima reportado. O
Suplicado LEONEL WOHLFAHRT constituiu comissão, formada por MANOEL
JOAQUIM DA SILVA FILHO e ANA CARMEN VIANA VIDAL, engenheiros
agrônomos, e ATHAIDE DE ASSUNÇÃO, desenhista, destinada à realização de
vistoria preliminar no imóvel a ser desapropriado. Nesta etapa, já restaram
detectadas algumas situações importantes a serem consideradas no procedimento,
que, no entanto, foram desprezadas: a) a ausência de projetos de assentamento ou
de regularização fundiária promovidos pelo Governo Federal na região; b) a
inexistência de tensão social; c) a existência de vegetação do tipo ombrófila densa,
que enquadra-se em restrições de uso de natureza legal; d) qualidade mediana do
solo; e) a não materialização do imóvel (que seria essencial); e f) a juntada de
memorial descritivo do imóvel com coordenadas geográficas totalmente diversas da
informada no Laudo Agronômico de Fiscalização (fl. 73 do processo administrativo).

Dando continuidade ao procedimento, a despeito das


irregularidades, o Chefe da Divisão Técnica, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA,
concluiu pela viabilidade da expropriação, sob a alegação de fundamentos
absolutamente diversos e, portanto, em desconformidade com o que restou

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asseverado inicialmente. Aduziu: a) a existência de vários Projetos de
Assentamento na região; b) a regular instrução do feito; e c) a existência de
demanda real. Por sua vez, o Procurador Federal do Incra RUBENS CARLOS
ALVES MADUREIRA determinou que os técnicos se manifestassem sobre a
materialização do imóvel e elaborassem a cadeia dominial, contudo, somente esta
última foi efetivada. Após, o Requerido ANTONIO REGINALDO GALDINO
DELGADO emitiu parecer favorável à desapropriação da Fazenda Minata,
salientando a sua viabilidade para a criação de assentamento para fins de reforma
agrária, o que foi acolhido pelo setor jurídico do órgão, na pessoa do Suplicado
ANILDO BRAZ DO ROSÁRIO.

O Comitê composto por LEONEL WOHLFAHRT, ANILDO


BRAZ DO ROSÁRIO, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA, DJALMA
RODRIGUES PORTO e SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO deliberou pela edição de
ato declaratório de desapropriação para fins de reforma agrária do imóvel “Fazenda
Minata”, considerando cumpridos todos os requisitos legais do procedimento
administrativo. Ato consecutivo, o Denunciado JOÃO BOSCO DE MORAES
(Superintendente Regional do Incra), dando seqüência à empreitada fraudulenta,
nomeou uma comissão, composta pelos servidores MANOEL JOAQUIM DA SILVA
FILHO e JOSÉ GAGLIARDI NETO, para proceder aos trabalhos de Vistoria,
Avaliação e Levantamento de Dados. De modo geral, repetiram-se as conclusões
anteriores, com a ressalva de, excepcionalmente, a comissão isentar-se de se
manifestar quanto à materialização referente à origem do título do imóvel Minata,
por inexistir no processo administrativo a cadeia dominial sucessória e tampouco o
mosaico de restituição e abrangência dos títulos expedidos pelo Estado de Mato
Grosso (requisito obrigatório). Fora ressaltado que as certidões anexas não se
reportaram à origem do imóvel, bem como o fato de não ter sido analisado o título
originário da matrícula do bem. No tocante à avaliação, registrou-se ainda que os
valores encontrados para a terra nua e o custo de família para o assentamento
estão bem acima daqueles praticados no mercado, segundo a planilha de referência
de terras para o Estado de Mato Grosso, mas que isso era possível. Ressalte-se
que nenhum apontamento fora feito acerca da divergência entre as coordenadas
geográficas existentes para a mesma matrícula.

Prosseguindo, anuindo com a avaliação superfaturada, os

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engenheiros GILBERTO PIRES FERNANDES e HENRIQUE VIEIRA DE QUEIROZ
NETO deram-na como correta. Em seguida, os Suplicados LEONEL WOHLFAHRT
e LAIDE AFONSO firmaram acordo extrajudicial para a aquisição do imóvel em
questão, havendo MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA atestado a legalidade do
procedimento, encaminhando o pleito à Brasília. Ao final, JOÃO BOSCO DE
MORAES solicitou a reserva de empenho.

De acordo com os mapas confeccionados pelo corpo técnico


que atuou junto ao MPF, embasados em mosaico emitido pelo INTERMAT, a
matrícula originária do imóvel localizava-se distante cerca de 10 km do local
materializado pela autarquia federal. Contudo, o imóvel foi avaliado e o Incra/MT
firmou acordo extrajudicial com o proprietário para a sua aquisição, bem como de
outras áreas contíguas àquele, o que denota a existência de sobreposição em
grande parte dos títulos dominiais pertinentes aos lotes desapropriados, incidindo
sobre terras devolutas do Estado, segundo o gráfico de fl. 18. Existem também
elementos de convicção de que a alteração das coordenadas geográficas
consumou-se no intuito de propiciar a elaboração do memorial descritivo reportado
à fl.15, impedindo que as áreas do conjunto expropriado se sobrepusessem,
revelando assim a fraude engendrada no procedimento administrativo.

No tocante ao imóvel reportado nesta, apurou ainda o corpo


técnico do MPF, ao proceder ao estudo da cadeia dominial, através de informação
do Instituto de Terras do Mato Grosso, que a certidão nº. 516/80, que deu origem à
matrícula objeto da desapropriação, encontra-se em processo de cancelamento
perante aquele órgão estadual à vista de sua nulidade.

Como se vê, existem, sem dúvida alguma, elementos para a


inauguração da persecução penal em juízo, conforme reconhecido na decisão que
recebeu a denúncia formulada pelo Ministério Público Federal. Entretanto, diante da
gravidade dos fatos apurados, pugnou-se pela decretação de prisões cautelares,
para a garantia da ordem pública e para se assegurar a regular instrução criminal,
requisitos estes que, doravante, passo a averiguar a presença no feito.

É certo que todo cerceamento de direitos constitucionalmente


assegurados somente se admite em caráter de absoluta exceção. Nenhum direito é
absoluto e se presta à proteção de atos ilícitos, especialmente considerando-se, in

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casu, praticados contra direitos de 3º geração, que afetam toda a coletividade. Na
hipótese, a custódia cautelar se afigura possível, quando evidentes indícios de
autoria e materialidade suficientes à deflagração de ação penal, bem como de que a
ordem pública e/ou a instrução criminal estejam a merecer a devida garantia por
parte deste Juízo.

Ante as provas amealhadas até o momento, pode-se,


tranquilamente, aferir presentes indícios suficientes à instauração de ação penal
contra os Suplicados, tanto que fora recebida a denúncia respectiva nos autos da
ação penal nº 2008.36.00.018035-0. A simples instauração de ação penal, porém,
não se mostra, por si só, suficiente à segregação da liberdade dos Requeridos.
Além da evidência da prática criminosa, faz-se mister a demonstração do periculum
in mora.

Sob esse aspecto, tem-se que os Suplicados constituem-se


nos líderes dos núcleos da organização criminosa, especialmente em razão do
poder de articulação que possuem em seu ambiente de trabalho.

A legislação pátria, de sua vez, autoriza a decretação da prisão


preventiva em quaisquer das hipóteses descritas no art. 312 do CPP, quais sejam,
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal.

A imprescindibilidade da medida cautelar em desfavor dos


Requeridos, à luz do roteiro das infrações penais que lhes são imputadas na ação
penal em apenso e das provas colacionadas aos vertentes autos, é patente. A
prisão preventiva propiciará o regular desenvolvimento e conclusão de todos os atos
processuais, amealhando-se as provas necessárias, impedindo o eventual
desaparecimento destas e definindo-se as responsabilidades de cada um dos
membros da quadrilha, além de permitir a interrupção dos crimes que vêm sendo
praticados (ordem pública estritamente falando).

Pelo requisito da garantia da ordem pública, impõe-se ao Juízo


o dever de impedir a continuidade das infrações penais, obstando novas ações por
parte dos Suplicados seja nos seis procedimentos/processos expropriatórios
mencionados na inicial deste incidente ou na instauração de demandas
administrativas tendentes a promover a desapropriação de outros imóveis rurais,

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mediante a consecução de idênticas fraudes àquelas concernentes à “Fazenda
Minata”. A repetição das condutas delitivas é fator de grave conspiração contra a
ordem pública e de pesado dano ao meio ambiente e aos interesses da
Administração Pública. Não se pode permitir que agentes ativos de ações de
delinqüência continuem a praticar os mesmos fatos, sem que o Estado faça a
intervenção que a Constituição Federal e o art. 312 do CPP lhe determinam que
seja realizada. Ou seja, não pode o aparato estatal omitir-se na garantia da ordem
pública, que vem sendo violada pelas ações criminosas dos Suplicados, que gozam,
aliás, de poder administrativo e de mobilidade na defesa dos interesses da suposta
quadrilha.

Consoante lição de Guilherme de Souza Nucci, in Manual de


Processo e Execução Penal, “a garantia da ordem pública deve ser visualizada pelo
trinômio gravidade da infração + repercussão social + periculosidade do agente.”
Prossegue o autor: “Outro fator responsável pela repercussão social que a prática
de um crime adquire é a periculosidade (probalidade de tornar a cometer delitos)
demonstrada pelo réu e apurada pela análise de seus antecedentes e pela maneira
de execução do crime”.

A prisão preventiva como garantia da ordem pública requer,


portanto, a presença de potencial lesivo à sociedade da perpetuação de condutas
consideradas delitivas e a demonstração, em concreto, da consumação rotineira da
prática infracional. Estes requisitos, por certo, restaram demonstrados na exordial e
nos documentos que vêm sendo carreados aos autos.

Por fim, mais um registro importante para a configuração do


que seja a garantia da ordem pública. Não pode o Estado ser colocado a serviço de
interesses privados e escusos. Não pode continuar a ter as suas ações manipuladas
para o atendimento de interesse de particulares, servidores públicos e outros. A
prática é contrária aos princípios republicanos, principalmente porque as condutas
dos Requeridos têm implicação imediata na destruição dos recursos naturais
existentes nesta unidade da Federação e no desembolso de grande soma de
recursos públicos para a aquisição de imóveis com titulação e localização
fraudulentas. Portanto, garantir a ordem pública é também desarticular esquemas
criminosos voltados para o patrocínio privado em detrimento dos interesses
públicos, impedindo-se assim a perpetuação dos crimes ora apurados.

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Na mesma esteira, subsistem motivos a ensejar o decreto
preventivo por conveniência da instrução criminal, uma vez que os Requeridos ANA
CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ DO ROSÁRIO, ANTONIO REGINALDO
GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO, MARCOS ANTÔNIO
ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM DA SILVA FILHO, JOÃO BOSCO DE
MORAIS, JOSÉ GAGAGLIARDI NETO e DJALMA RODRIGUES PORTO, pela
posição e cargo que ocupam, e ante a ligação existente entre os membros da
organização, podem atuar efetivamente em prejuízo à colheita de provas,
intimidando testemunhas e fazendo desaparecer documentos pertinentes aos
feitos/procedimentos expropriatórios objeto da ação penal em apenso, conforme
reconhecido na declaração anexa aos autos. Nesta, aliás, constata-se a real
possibilidade de que a instrução criminal venha a ser prejudicada por ações dos
Suplicados.

Contudo, no que tange à MARIA APARECIDA AFONSO,


afigura-se incabível a constrição cautelar postulada, tendo em vista que, dos
proprietários do imóvel rural, apenas LAIDE AFONSO firmou acordo extrajudicial
com o representante do INCRA, LEONEL WOHLFAHRT, para a aquisição do bem,
conforme acima se expôs, o que demonstra que possuía conhecimento do processo
administrativo, já em fase final, e assim das irregularidades supra apontadas, agindo
no intuito de receber vantagem indevida. O fato retro destacado importa no
reconhecimento de que a referida Ré, embora participante dos eventos delitivos, de
acordo com a denúncia, não vem se conduzindo com o propósito de violar a ordem
pública ou a conveniência da instrução criminal, ao contrário de seu esposo, LAIDE
AFONSO, responsável pela agilização das condutas consideradas delitivas.

Assim, tenho como necessária a segregação dos Suplicados, à


exceção de MARIA APARECIDA AFONSO, uma vez presentes dois dos requisitos
encartados no art. 312 do Código de Processo Penal.

DISPOSITIVO

Com efeito, DECRETO A PRISÃO PREVENTIVA de LAIDE


AFONSO, ANA CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ DO ROSÁRIO, ANTONIO
REGINALDO GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO, MARCOS
ANTÔNIO ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM DA SILVA FILHO, JOÃO

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BOSCO DE MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e DJALMA RODRIGUES PORTO,
nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal.

Indefiro o pedido de prisão preventiva de MARIA APARECIDA


AFONSO.

Expeçam-se os mandados de prisão. Oficie-se.

Translade-se cópia desta para os autos da ação penal


instaurada.

Intimem-se.

Cuiabá, 17 de dezembro de 2008.

JULIER SEBASTIÃO DA SILVA

Juiz Federal

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