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5 Semiologia Ginecológica

Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação   © Permanyer Portugal 2011
José Martinez de Oliveira

“Semiologia”, com origem no grego semeion, que motiva a consulta. Para a sua execução
que significa sinal, e logos, tratado, é a parte exigem-se cada vez mais ao clínico e para
da Medicina que estuda os sintomas e os si- além do bom conhecimento técnico, com-
nais das doenças. Por seu turno, “semiótica” petência em comunicação2. As capacidades
deriva do grego semeiotike e, embora tendo que permitem o estabelecimento de uma
o mesmo significado etimológico que o ter- boa comunicação são a empatia, a atenção
mo anterior, aplica-se mais comum e espe- dada à narração, o conhecimento do conte-
cificamente à metodologia da colheita e ao údo do diálogo e o relacionamento estabe-
processo de sistematização dos sintomas e lecido, todas elas passíveis de aprendizagem
sinais clínicos. Assim, a semiologia gineco- e melhoria2. Hoje a informação acessível na
lógica é a parte da semiologia que se ocupa internet, nem sempre correcta e frequente-
do estudo dos sintomas e sinais das modifi- mente disponibilizada com intenções co-
cações funcionais e das doenças do aparelho merciais, obriga ainda a uma complementar
genital feminino. Mantendo o sentido restri- preparação do médico3. E muito em breve,
tivo da ginecologia, que mais correctamente numa total reviravolta de procedimentos, a
deveria ser chamada genitologia1, não se in- guarda da informação estará em grande par-
clui neste capítulo a exploração mamária. te a cargo da consulente, o que introduzirá
A orientação duma consulta ginecológica novas necessidades.
obedece às regras gerais das dos restantes Todo o bom relacionamento entre a consu-
ramos da clínica médica e inclui o interroga- lente e o clínico se baseia numa recíproca
tório e o exame físico, geral e, naturalmente relação de confiança. Desde o primeiro con-
mais detalhado, do aparelho genital, recor- tacto o Médico deverá ser afável e inspirar
rendo quando e se necessário a meios auxi- confidencialidade e segurança, de modo a
liares de diagnóstico. Em capítulos específi- conseguir que quem o busca faça uma ex-
cos, como sejam o das doenças sexualmente posição sem inibições. Só assim será possí-
transmissíveis e o da reprodução, pode e vel obter um correcto relato das queixas que
deve o ginecologista realizar ainda exame se referem a órgãos que têm um significa-
objectivo do cônjuge. do pessoal e social muito particular. Muitas
vezes a ordem do interrogatório é alterada,
de forma a não ferir nunca o pudor da con-
1. ANAMNESE sulente, tal dependendo em muito da reac-
ção da entrevistada. Recomenda-se assim,
“Anamnese” (do grego anamnesis) significa vivamente, que o interrogatório se realize
recordar o que parece esquecido, aplican- ao mesmo tempo que se olha a face da con-
do-se em medicina à colheita de dados his- sulente4, o que não só permite o estabeleci-
tóricos pessoais ou referentes à perturbação mento de empatia como constitui a melhor

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forma de avaliar a reacção da senhora a cada recolha dos sintomas e sinais que justificam
uma das perguntas que se lhe vão dirigindo. a consulta. Na prática, porém, quantas vezes
Sempre que o assunto e o ambiente do diá- é útil um interrogatório de progressão/re-

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logo o permitam, um sorriso auxilia imenso gressão na tabela, isto é, retomando pontos
no estabelecimento duma relação empáti- já abordados para pormenorização e retor-
ca. Se por razões éticas, religiosas, técnicas no ao ponto em que foi interrompido o di-
ou outras o problema em causa não está no álogo, metodologia que permite ao clínico
âmbito de acção do médico, tem este a obri- interromper o discurso da consulente, com
gação de a reencaminhar3. delicadeza e sem que ela de tal se aperceba,
A evolução do diálogo não pode estar espar- quando este se evidencia demasiado fluente
tilhada por um esquema rígido. Ela está mui- ou disperso.
tas vezes dependente do motivo da consulta Para colmatar a frequente limitação em tem-
e a sua progressão é frequentemente cortada po para as anotações nos processos clíni-
por avanços e retornos na sequência habitual cos recomendo a utilização do conjunto de
do interrogatório motivados pela clarificação abreviaturas que vão sendo indicadas em
de um ou outro ponto com interesse para a negrito, estando colocadas entre parêntesis
elaboração do raciocínio clínico. Salientava as que são consideradas não obrigatórias ou
Jeffcoate5 que há mais do que uma forma de de menor importância.
fazer bem a entrevista e o exame clínico, pelo
que em termos práticos o que se pode afirmar 1.1. IDENTIFICAÇÃO
é que a melhor sequência de interrogatório é
aquela que cada Médico acha mais adequada Assim, por razões de interlocução e de segu-
à sua forma de abordar cada situação. Con- rança a primeira abordagem deverá permitir
tudo, existem pontos essenciais, comuns a colher a identidade da senhora. É sinal de
todos os esquemas possíveis, parecendo útil simpatia, correcção e boa educação diri-
apresentar uma sinalética usada há décadas girmo-nos às consulentes invocando o seu
com total satisfação, a qual, porém, deverá nome. Mas é igualmente uma questão de
ser entendida como proposta adaptável a precaução. Com a introdução de meios auto-
cada um e a cada caso. Se raramente, dadas matizados e com a massificação do tratamen-
as limitações de disponibilidade de tempo, to de processos, com frequência encontra o
um interrogatório é exaustivo, há um mínimo clínico um conjunto de documentos e uma
que deverá ser cumprido para que se possa lista de ordem que, com o decorrer do seu
assegurar o êxito da consulta sem aumento trabalho, pode ser, e amiúde o é, alterada.
substancial do risco de erro. Muitos erros se cometem quando uma con-
Dada a importância que assume o ciclo ge- sulta é realizada perante documentação de
nital na clínica ginecológica é útil que a co- outro indivíduo que não o que está presen-
lheita dos antecedentes pessoais fisiológicos te. Assim, a primeira informação a colher ou
preceda a da história da doença. Esta inver- a confirmar é o nome. Mas nem sempre este
são da ordenação habitual do interrogatório é suficiente já que não é raro que, particular-
em Medicina explica-se porque algumas mente quando curtos, se encontrem nomes
queixas podem ser fisiológicas e a sua iden- iguais. Assim é útil completar de imediato a
tificação apenas é possível quando se tem identificação com a colheita da data de nas-
em conta a fase do ciclo em que a senhora cimento e da profissão. É este o momento
se encontra e a que as queixas são referidas. ideal para o registo de informações para con-
Por extensão e para melhor sistematização, tacto, nomeadamente, o endereço e número
propõe-se então que o registo dos antece- (s) de telefone, hoje em dia incluindo também
dentes se faça na sua totalidade antes da o endereço de correio electrónico.

82 Capítulo 5
N = Nome. Interessa verificar o nome pesso- manter a sua colaboração e empatia não se
al, independentemente do adquirido pelo pode nunca, por qualquer modo, maltratar
matrimónio, o qual é volúvel, e ainda aquele ou agredir a consulente. Todo o indivíduo é

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que é da preferência da própria, que nem livre e temos de estar dispostos a aceitar que
sempre coincide com o oficial não cumpra o que aconselhamos, não acate
DN = Data de nascimento. Para além de a nossa opinião ou não se preste a pôr em
constituir elemento de identidade da consu- prática as medidas que sugerimos3. O médi-
lente, o conhecimento da data de nascimen- co recomenda e orienta segundo o que lhe
to é necessário para o cálculo da idade, a qual parece ser o melhor para quem o consulta,
por sua vez permite incluir a consulente num mas não é dono da doente nem responsável
grupo etário com características fisiológicas pelas atitudes que esta possa tomar.
e patológicas relativamente específicas. Uma Prof = Profissão. O conhecimento do tipo
vez que o aparelho genital feminino está su- de actividade profissional pode ter impor-
jeito a variações anátomo-fisiológicas muito tância na clínica ginecológica, mas não é
dependentes da idade, cada fase da vida da usualmente relevante em si mesmo. Alguns
mulher evidencia um tipo de patologia que, tipos de patologia, como certas dermatoses
embora nem sempre sendo exclusivo, é pelo vulvares ou desvios posicionais uterinos,
menos predominante. Assim, por exemplo, observam-se preferencialmente em popula-
na adolescência e no climatério, que são ções com actividade agrícola e relacionam-
fases de transição, de grande instabilidade se quer com o manuseamento de produtos
endócrina, são frequentes as perturbações químicos quer com a violenta actividade fí-
disfuncionais do ciclo genital, enquanto no sica exercida. Na maioria dos casos, porém,
período dito reprodutor, são mais usuais os a actividade profissional ajuda apenas a de-
problemas relacionados com a gravidez, a finir o perfil da senhora, o seu nível cultural
contracepção e as infecções genitais. Após e o ambiente de trabalho, e facilita a defini-
a menopausa, por último, predominam as ção do tipo de linguagem e abordagem pelo
alterações tróficas e as neoplásicas. qual o médico deverá optar. O vocabulário
EC = estado civil. Mais importante do que médico é incompreensível para grande nú-
o conhecimento do estado civil é o saber mero de pessoas, pelo que devem empre-
se existiu ou existe prática sexual. Deve gar-se expressões que permitam um diálogo
mesmo, por razões cautelares, considerar- transparente. O emprego do calão está na-
se contra-indicada a inquirição directa do turalmente desaconselhado, salvo em situa-
estado civil numa fase precoce do interro- ções excepcionais em que é o único tipo de
gatório. Esta abordagem deverá ser poster- linguagem que permite um interrogatório
gada e realizada apenas uma vez findo o in- esclarecedor de alguns, e muito especiais,
terrogatório sobre os antecedentes sexuais. grupos populacionais.
Este cuidado é muito importante para se Nalguns países é este o momento de se in-
evitar uma retracção por parte da senhora terrogar a senhora sobre as suas preferências
particularmente quando se interroga sobre de culto, as quais podem condicionar alguns
actividade sexual presente ou passada a sol- aspectos do interrogatório e do exame gi-
teiras ou viúvas. Se hoje em dia existe uma necológicos. Em Portugal a grande maioria,
muito maior abertura para um diálogo fran- até ao momento, professa ou tem educação
co sobre a vivência sexual, a verdade é que católica apostólica romana, estando apenas
nem todas as pessoas estão a tal dispostas indicado anotar os casos em que assim não
e outras, por motivos educacionais, culturais seja (as Testemunhas de Jeová, por exemplo,
ou mesmo religiosos, podem sentir-se ofen- não aceitam a transfusão de sangue, mas
didas. Há que ter sempre presente que para apenas a fluidoterapia não crepuscular).

Semiologia Ginecológica 83
Contactos: Residência e Telefones. São de forma mais ou menos súbita e após anos
informações úteis do ponto de vista funda- de manutenção dum perfil regular, pode sig-
mentalmente administrativo. Tecnicamente nificar o aparecimento de patologia. Sendo

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revestem-se de importância sempre que a menarca a primeira hemorragia menstrual,
a circulação de resultados laboratoriais se representa o ponto de partida para a defini-
processe independentemente da consulta, ção do ciclo menstrual típico de cada mulher.
havendo situações em que haverá que con- Por esta razão não espanta que a pergunta
tactar a paciente para aplicar decisões, in- inicial neste capítulo se dirija à definição da
vestigacionais ou terapêuticas, urgentes. idade do aparecimento da menarca.
Ciclos = Perfil do Ciclo Menstrual. A maior
1.2. MOTIVO DA CONSULTA parte das queixas ginecológicas sofre osci-
lações com o ciclo genital. Sabe-se também
MC = Motivo da Consulta. Este nem sem- que o padrão do ciclo não é uniforme, mas
pre reflecte a existência de padecimento, em grande número de mulheres ele é rela-
uma vez que em Ginecologia grande parte tivamente constante. A melhor forma de se
das consultas é efectuada com espírito pro- descreverem as características do ciclo mens-
filático ou para aconselhamento, nomeada- trual é expressá-las sob a forma duma fracção,
mente para rastreio oncológico ou orienta- utilizando o numerador para a duração total
ção anticoncepcional. De qualquer modo, a do ciclo e o denominador para a do período
existir qualquer sintoma espontaneamente menstrual. Algumas escolas utilizam uma
referido pela consulente, deve anotar-se a fórmula invertida, isto é, descrevem a dura-
sua presença pois obriga à pormenorização ção do período menstrual como numerador e
dos dados que se consideram com ele rela- a do ciclo como denominador, variedade que
cionados, embora o seu detalhe melhor se é natural e facilmente identificada.
enquadre no capítulo da história actual. De A definição dum hábito menstrual requer
todo o modo assim não ficará esquecido. a existência dum período dito de estabele-
cimento. Por outras palavras, na adolescên-
1.3. CICLO GENITAL cia os ciclos começam por ser irregulares ou
menos regulares do que, digamos, após os 18
MEN = idade da menarca. Completada a anos. Por esta razão, esta fase do interrogató-
identificação da consulente é altura de se rio refere-se usualmente às características do
passar à colheita dos antecedentes. Como ciclo na terceira década da vida. Se se pergun-
anteriormente foi já referido a grande varia- tar a uma senhora se os seus ciclos são regu-
bilidade dos fenómenos condicionados pelo lares, a grande maioria responderá que não.
ciclo genital torna conveniente que, ao con- De facto o conceito comum de regularidade
trário do que é usual noutros ramos da clíni- assenta na similitude com a duração do mês
ca médica, se processe a anamnese sobre os do calendário, sendo que é aceite que ciclo
antecedentes fisiológicos antes da colheita regular será o de cerca de 30 dias, no qual o
pormenorizada da história. Só assim se apre- período menstrual se inicia aproximadamen-
enderão alterações subtis da duração ou pe- te no mesmo dia de cada mês. Dito de outro
riodicidade do ciclo genital ou se poderão modo, se a pergunta for “é menstruada com
localizar em relação a este as modificações regularidade?” a senhora apenas dirá que sim
com ele relacionadas. De facto, ainda que se a duração do seu ciclo coincidir com a do
por exemplo, se considere como normal um mês civil, ou seja, nos ciclos de cerca de 30
período menstrual de 2-3 dias e um outro de dias. Se para o médico a duração regular é a
4-5 dias, o facto de haver uma alteração de que corresponde a um intervalo constante
um padrão para outro numa mesma mulher definido entre o primeiro dia dum ciclo e o

84 Capítulo 5
correspondente do ciclo seguinte, e o este- Ora sendo a duração e a quantidade dos
reótipo médico corresponde a 28 dias, este fluxos menstruais muito variável de uma
mesmo ciclo é percebido pelas senhoras mulher a outra não tem grande importân-

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como irregular porque a cada mês correspon- cia clínica o valor absoluto destas perdas,
de um dia diferente, já que cada vez tem iní- salvo quando em exagero (hipermenorreia
cio mais precoce. Assim, a forma mais prática ou menorragia), pois corresponde a uma
de se determinar a duração do ciclo é inquirir situação em que pode haver perturbação
sobre a relação existente entre a duração do homeostática por anemia hemorrágica em
mesmo e a regularidade dos “meses”. Deverá maior ou menor grau. Para além de não ha-
perguntar-se de preferência, se a menstrua- ver qualquer utilidade prática na destrinça
ção surge todos os meses e se assim é se vem entre os dois termos ainda em uso6, que com
antes ou depois de decorrido um mês sobre a DeGowin7 considero sinónimos, o que inte-
anterior e, nestes casos, com quantos dias de ressa mesmo é identificar o perfil habitual
diferença. Definir-se-ão desta forma, ciclos in- ou hábito menstrual para depois se percebe-
feriores ou superiores a 30 dias, determinan- rem as variações. Desta forma, embora dum
do-se a duração normal pela diferença que a ponto de vista estritamente semântico, um
consulente refere (“vem sempre 2 dias antes período de 3 dias corresponda ao que se de-
do mês” = ciclo de 30 - 2= 28 dias). fine como normal, quando uma mulher que
Uma outra fonte de confusão resulta da atri- sempre teve períodos de 6 ou 7 dias passa
buição de significados distintos a palavras tão a ter apenas 3, ela tem de facto, clinicamen-
comuns como “adiantar” ou “atrasar”. Devem te, uma hipomenorreia, a qual, para que não
evitar-se termos equívocos como aquele, por haja agressões terminológicas, se dirá relati-
exemplo, já que se para uns poderia significar va. Estas variações pessoais, têm, em regra,
surgir antes para outros é entendido como significado clínico, embora não necessaria-
aparecer para diante, isto é, para a frente, ou mente patológico (hipomenorreia relativa
seja mais tarde. Em termos práticos convém, iatrogénica da contracepção oral combina-
pois, confirmar os dados recolhidos interro- da, por exemplo). Curiosamente, sendo cur-
gando por mais do que uma forma. Se se tiver ta a memória das pessoas, como diz o povo,
nesta altura conhecimento das datas dos dois nas usuárias de contracepção hormonal de
ou três últimos períodos menstruais facilmen- longa data existe por vezes tendência a as-
te se verificará por cálculo da validade dos da- similar o novo padrão como o seu normal,
dos recolhidos anteriormente. Este é, assim, esquecendo que é efeito da medicação.
um primeiro objectivo do conhecimento das Quantas vezes, após a suspensão do seu uso
DUM (Data da última menstruação), DPUM recorrem no ciclo imediato a consulta de ur-
(Data da penúltima menstruação) e DAPUM gência ao perceberem sintomas fisiológicos
(Data da antepenúltima menstruação). mas a que já se não encontram habituadas.
Mais difícil do que a determinação da dura- A medição da quantidade do fluxo menstrual
ção do ciclo, é a avaliação da quantidade do pode fazer-se, mas apenas em trabalhos de
fluxo catamenial. Cinco parâmetros devem investigação, por ser um procedimento algo
então ser considerados: complexo e, sobretudo, incómodo. Na prá-
— a duração do período menstrual, usual- tica, a avaliação faz-se, pois, de forma muito
mente referida sem hesitações; subjectiva e numa primeira abordagem pela
— o número de pensos ou tampões utiliza- impressão que a própria mulher tem do seu
dos em cada dia; fluxo, a qual resulta da comparação que efec-
— a avaliação subjectiva por parte da própria; tua com as pessoas das suas relações (mãe,
— a coloração; familiares, vizinhas, amigas). De facto, quan-
— a fluidez do fluxo. do inquiridas respondem que o fluxo é “o

Semiologia Ginecológica 85
normal”, “muito” ou “pouco” numa proporção levou a que se considerasse o sangue mens-
relativa ao que é referido pelas outras. trual como incoagulável, o que, como se vê,
Se se quiser dar maior precisão à avaliação do não corresponde à verdade, já que, provenha

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fluxo poder-se-á então fazê-lo pela quantida- donde provier, o sangue apenas coagula uma
de de pensos ou tampões higiénicos que tem vez. O facto é que quando a perda hemorrági-
necessidade de utilizar. Em condições normais ca ultrapassa a capacidade da cavidade uteri-
uma mulher com bons hábitos higiénicos uti- na, tem de a abandonar esteja como estiver, o
liza 2 ou 3 pensos por dia ou 1 ou 2 tampões que faz com que seja expulsa sob a forma de
de absorção normal, os quais se saturam com coágulos. Por esta razão, a presença e o nú-
30 a 50 ml de líquido7. Como se compreen- mero de coágulos são um indicador razoável
de, esta forma é igualmente muito impreci- e, dentre os descritos, o melhor, da quantida-
sa, uma vez que uma mulher mais sensível de de fluxo menstrual.
muda de penso à mais pequena acumulação Em termos de registo expressaremos a quan-
de fluxo, para se sentir seca, enquanto outra, tidade pelo sistema de cruzes. Uma perda
em condições opostas, pode apenas mudar escassa corresponde a +, uma moderada
quando excedida a capacidade de absorção a ++ e se abundante +++, guardando-se
do material protector que utiliza. ++++ para as perdas muito abundantes, já
À hemorragia genital pode aplicar-se, tal exageradas, e +/- para as diminutas.
como para o tubo digestivo, o mesmo prin- Uma vez definidos todos estes padrões e
cípio de avaliação que se baseia no facto de valores, descreve-se então o ciclo menstru-
que, quanto mais baixos forem os pontos de al sob a forma de fracção no qual o nume-
origem ou maiores as quantidades perdidas, rador corresponde à duração do ciclo e o
tanto mais clara é a coloração do fluxo hemá- denominador à do período menstrual, com-
tico. De facto, uma hemorragia de proveni- plementada pela avaliação da quantidade
ência vaginal ou cervical uterina tende a ter pelo sistema de cruzes. Assim, uma mulher
cor vermelha viva, dada a rapidez com que com ciclos de 28 a 30 dias e períodos de 4 a
chega ao exterior. Porém, quando originária 5 em quantidade moderada, descrever-se-ia
da cavidade corporal sofre certa “estase” por como Ciclo = 28-30/4-5++.
retenção a nível do esfíncter cervical inter- Relembre-se agora que os dados anterior-
no (ístmico) e durante este tempo o sangue mente colhidos devem ser confirmados pela
degrada-se, para se exteriorizar como fluxo determinação da DUM = Data da última
castanho, com aspecto de “borra de café” ou menstruação, por vezes necessitando-
de “água de lavar carne” segundo tenha me- se ainda da DPUM = Data da penúltima
nor ou maior percentagem hídrica. menstruação e quando possível ainda a
Por outro lado, a partir duma certa quanti- DAPUM = Data da antepenúltima mens-
dade, mesmo que provenha do endométrio, truação. Para além de confirmar ou permitir
o fluxo hemático é claro, pois ultrapassa fa- o cálculo da duração do último ciclo, a data
cilmente a capacidade da cavidade corporal da última menstruação é ainda importante
e tem necessariamente de ser expulso sem para se saber em que fase do ciclo genital se
demora. O aspecto dos coágulos tem, para vai proceder ao exame da mulher, uma vez
este fim, de ser considerado à parte. Se em que alguns dados que são normais numa
condições normais o sangue derramado na determinada fase, já o não são numa outra.
cavidade endometrial sofre coagulação e lise (SPO) = Síndrome periovulatório / (SPM) =
quase imediata pela extraordinária riqueza Síndrome pré-menstrual / (SM) = Síndro-
em substâncias fibrinolíticas do endométrio me menstrual. As síndromes funcionais do
descamado, quando se exterioriza pelo canal ciclo genital não são inquiridas obrigatoria-
cervical fá-lo sob a forma líquida. Este facto, mente, por resultarem num prolongamento do

86 Capítulo 5
tempo de consulta, e tem interesse clínico facilmente se apercebe da existência de algo
apenas nalguns casos. Nestes a sua investi- que a senhora tem dificuldade em explicitar.
gação será então detalhada, muitas vezes já Com delicadeza deve incutir-se a confiança

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após haver sido realizada uma parte da reco- imprescindível para que se sinta à vontade
lha da história clínica, momento no qual se para expressar os seus problemas.
considerou útil retroceder à colheita deste Três aspectos muito particulares da história
tipo de antecedentes. sexual serão ocasionalmente indagados mas
A propósito convém chamar a atenção para a com especial cuidado. Em consultas de Pla-
correcta expressão em português destes com- neamento Familiar motivadas por situações
plexos sintomatológicos que definem entida- de esterilidade é importante conhecer-se a
des clínicas e que podem ser indistintamente frequência coital e a regularidade ao longo
referidos como síndromes ou síndromas, no da semana, por óbvias razões de probabili-
feminino, ou síndromos, no masculino. dade de coincidência com o período fértil.
AS = Antecedentes sexuais. Por sistema Também em contracepção pode ser im-
apenas a primeira destas questões é inqui- portante para a opção técnica conhecer-se
rida: a que se refere à idade das primeiras o grau de risco de engravidar em casos em
relações sexuais (IPRS). Com esta pergunta que é baixo o número de relações sexuais.
passa a saber-se se já houve ou não relação Um segundo ponto, que se prende com as
sexual e de forma indirecta qual a duração do situações de coito difícil ou doloroso (dispa-
período de actividade sexual. Como se verá reunia) há interesse em conhecer os hábitos
existe patologia que está relacionada com a posicionais e a sua relação com a sintomato-
frequência de relações sexuais ou evidencia logia. Dada a falta de divulgação do vocabu-
prevalência inversamente proporcional. Em lário apropriado com frequência devemos
casos especiais pode haver interesse em preocupar-nos em auxiliar as consulentes
conhecer-se a idade das últimas relações se- nas suas descrições evitando-lhes a habitual
xuais (IURS), pergunta com mais frequência retracção de expressão, quantas vezes com
empregue nas consulentes mais idosas. Este termos que consideram embaraçosos.
dado é importante na opção do material e Por último, o conhecimento do número de
modo de realização do exame ginecológico. interlocutores sexuais tem cada vez mais im-
portância, dada a elevada prevalência neles
1.4. HISTORIA SEXUAL e nelas de pelo menos algumas das infec-
ções transmissíveis sexualmente (ITSs).
HS= História Sexual. Salvo quando se cons- AC = História Anticoncepcional. Neste ca-
titui em motivo específico da consulta, os de- pítulo interessa saber se está em uso alguma
talhes referentes aos hábitos e experiências técnica anticoncepcional no ciclo em que se
sexuais não são abordados de forma directa, vai realizar a observação e se afirmativo qual
pelo menos numa primeira consulta. De fac- deles, bem como recolher as informações
to, este é um dos pontos que as pessoas têm referentes a experiência anterior com estas
alguma relutância em expor de forma aberta técnicas, seus efeitos positivos e negativos,
sem estabelecerem previamente um elo de razões de mudança e opção e preferências.
confiança. Habitualmente, quando se per-
cebe que haverá interesse em abordar estas 1.5. ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS
questões para esclarecer aspectos importan-
tes do quadro nosológico, a história sexual AO = Antecedentes Obstétricos. Exis-
é abordada de modo indirecto, através de tem várias formas de realizar a descrição
perguntas como “tem dores ou dificuldades dos antecedentes obstétricos. A mais sim-
na relação sexual?”. Olhando a consulente ples, mas menos informativa, é a francesa

Semiologia Ginecológica 87
que define o número total de gravidezes, A minúcia que se dedicará à recolha dos
incluindo a actual quando presente, e o restantes antecedentes obstétricos é muito
número de partos por via vaginal. Faz-se variável, de acordo com as situações, inte-

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então (recorrendo a numeração romana) a ressando numa perspectiva clínica gineco-
evidenciação dos seus valores da seguinte lógica fundamentalmente as situações ditas
forma: #G #P, correspondendo o primeiro de insucesso reprodutivo e os quadros pa-
valor ao número de gravidezes (dito Gesta) tológicos ou de distocia, em que possa ter
e o segundo ao de partos por via vaginal existido traumatismo do aparelho genital. É
(referido como Para). Assim, se uma senho- assim útil conhecer-se o peso ao nascimento
ra está grávida e teve dois abortamentos e do filho mais volumoso.
um parto a termo por cesariana com filho Convém nesta altura clarificar o que se en-
viável e actualmente vivo dir-se-á que é tende por parto eutócico e distócico. Quan-
uma IV Gesta 0 Para (nulípara), descrição do a fisiologia é por si só capaz de levar à
que seria idêntica à de uma outra que não total expulsão do feto, ainda que com ajuda
está grávida e tem três abortamentos ante- médica (necessariamente menor) ou com-
riores e uma gravidez ectópica. plicações traumáticas para os tecidos da mu-
Por esta razão, e dada a importância obsté- lher o parto é considerado normal ou eutó-
trica dos partos pré-termo e do número de cico. Em oposição, a exteriorização fetal por
filhos vivos dum casal, a escola americana orifício artificial (cesariana) ou com recurso
utiliza uma fórmula de 4 posições (TPAL a manobras extractivas é classificado como
formula7: Term pregnancies, Premature de- distócico. Assim, podem ocorrer partos eutó-
liveries, Abortion, Living Children), na qual cico simples e complicados, existindo ainda
o primeiro número corresponde ao núme- uma variedade mista, em gravidezes geme-
ro de partos a termo (não de gravidezes), lares: os partos complexos, isto é, eutócico(s)
o segundo ao total de partos pré-termo, o para um(ns) feto(s) e distócico(s) para o(s)
terceiro ao de abortamentos e outras gra- outro(s). Não são considerados para efeitos
videzes patológicas e o último ao de filhos de definição de eutocia e distocia os outros
vivos à data da consulta. Segundo esta períodos do parto.
descrição o primeiro dos casos atrás refe-
ridos seria expresso pela sequência 1.0.2.1 1.6. ANTECEDENTES PESSOAIS
enquanto a segunda corresponderia a esta
outra 0.0.4.0. AP = Antecedentes Pessoais. Espoliado de
De forma a tornar mais objectiva a informa- grande parte do seu conteúdo pela necessi-
ção, embora naturalmente algo mais com- dade de pormenorização dos dados referen-
plexa, o modelo que se propõe e se tem tes ao ciclo genital, as questões que se foca-
mostrado mais prático é o da descrição em rão no capítulo dos antecedentes pessoais,
6 posições, que correspondem referem-se não só aos hábitos (alimentares,
— número total de partos higiénicos, medicamentosos e actividade físi-
— número de partos distócicos ca) como aos patológicos, quer médicos quer
— número de partos prétermo operatórios. Na maioria das vezes são apenas
— número de abortamentos importantes os dados referentes a afecções
— número de outras gravidezes patológi- havidas ao nível dos genitais, pormenorizan-
cas (ectópicas, tumores do trofoblasto) do-se os diagnósticos e os tratamentos efec-
— número de filhos vivos actualmente. tuados, e a cirurgia abdominal, sobretudo a
Assim, utilizando os dois exemplos atrás ex- do andar inferior. Porém, muitos outros qua-
postos o primeiro definir-se-ia pela fórmula dros médicos e cirúrgicos não relacionados
1.1.0.2.0.1 e o segundo por 0.0.0.3.1.0. com o aparelho genital, assumem importância

88 Capítulo 5
quando se pensa instituir uma terapêutica ideia geral da natureza do padecimento.
curativa ou preventiva de tipo hormonal, a Entretanto vão-se anotando os elementos
qual pode ser contra-indicada ou condicio- importantes da história clínica que a consu-

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nada pela presença de determinado tipo de lente espontaneamente expõe, para poste-
patologias ou de factores de risco. riormente a interrogar sobre os pontos que
pareçam essenciais para a postura do diag-
1.7. ANTECEDENTES FAMILIARES nóstico. Dada a morosidade dum interro-
gatório exaustivo, que o torna impraticável
AF = Antecedentes Familiares. O conhe- na prática clínica, há por vezes necessidade
cimento duma susceptibilidade especial a de o completar após a realização do exame,
um determinado tipo de patologia, frequen- para clarificar alguns aspectos que este pos-
temente indiciada pela existência frequen- sa suscitar.
te nos seus antecessores, permite incluir a Uma vez terminada a exposição espontânea
consulente num grupo de risco particular por parte da doente, dever-se-á inquirir so-
para determinado tipo de afecções e con- bre a existência de outros sintomas que às
sequentemente orientar o clínico para um vezes são colocados em lugar secundário e
rastreio mais rigoroso ou para uma prescri- por tal, facilmente são esquecidos.
ção de determinado tipo de terapêuticas Assim, confirmar-se-á se existem:
profilácticas da doença em causa. Para além — alterações do ciclo ou do fluxo menstruais;
das doenças neoplásicas, genéticas e endó- — hemorragias não menstruais;
crinas, a patologia vascular assume muita — corrimentos genitais;
importância, tendo em atenção o emprego — dor, ardor, prurido genitais;
muito frequente de terapêutica hormonal — modificações ou perturbações mamá-
em Ginecologia. rias, subjectivas ou objectivas;
Em alguns casos é ainda importante definir — dificuldades coitais;
a existência de problemas semelhantes ou — perturbações miccionais e/ou perda in-
afins em: (CF = Colaterais Familiares), como voluntária de urina;
em casos de malformações genitais que jus- — alteração dos hábitos intestinais e defe-
tificam algumas situações de esterilidade e catórios.
noutros do foro oncológico, em que convém Para cada anomalia haverá que indagar em
ter uma ideia da frequência da afecção atra- termos gerais sobre o seu início, duração,
vés do conhecimento da sua prevalência em intensidade, persistência e relação com as
irmãos e primos. outras. Assim:
— haverá em primeiro lugar que caracte-
1.8. HISTÓRIA DA DOENÇA rizar o tipo de modificação do perfil do
ciclo (encurtamento - polimenorreia e
HD = História da doença. Uma vez colhida polimenorreia relativa - ou alongamen-
toda a informação considerada útil através to - oligomenorreia ou oligomenorreia
do inquérito dos pontos anteriores passar- relativa - ou ausência - amenorreia) e ao
se-á então à auscultação das queixas que fluxo menstrual (diminuição - hipome-
constituem a razão de ser da consulta. norreia - ou aumento - hipermenorreia
Deixar-se-á que a senhora faça a exposição ou menorragia);
dos sintomas que a trazem à consulta, pro- — no que se refere às hemorragias extra-
curando interrompê-la o menos possível, menstruais é importante saber-se se são
sobretudo de início e até à percepção do espontâneas ou pelo contrário provoca-
tipo e importância atribuída a cada queixa, das, e neste caso se o são pelo esforço ou
ao mesmo tempo que se vai formando uma pelo coito ou por outro qualquer factor;

Semiologia Ginecológica 89
se é uma perda ocasional, irregular, espo- do acto (iniciais ou protocoitais, intra ou
rádica, ou frequente, periódica, sistemá- mesocoitais, terminais ou telecoitais e
tica (como a metrorragia periovulatória, pós-coitais) bem como da sua duração

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por exemplo); (limitadas se apenas presentes quando
— o esclarecimento dos corrimentos ge- do coito ou prolongadas, se persistem
nitais envolve a definição do seu início, para além dele);
factores eventualmente desencadeantes — perturbações miccionais, muito co-
(coito, antibioterapia), relação das suas muns nas senhoras, referem-se a altera-
características com o ciclo, associação a ções da frequência, da diurese, do jacto
outros sintomas como dor, ardor, prurido, ou à percepção de sintomas associados;
afectação ou não do cônjuge; alguns flu- — alteração dos hábitos intestinais e de-
xos são fisiológicos e consequentemente fecatórios, uma das disfunções mais fre-
relacionam-se temporalmente com os quentes nos nossos dias, fruto das incor-
fenómenos que os justificam (mucorreia recções dietéticas, do sedentarismo e da
pré-ovulatória ou hidrorreia sexual, por irregularidade dos hábitos quotidianos.
exemplo); outros, embora patológicos,
evidenciam clara relação com a fase do 1.9. MEDICAÇÃO EM CURSO
ciclo em termos de aparecimento, recru- E REACÇÕES ALÉRGICAS
descimento ou regressão;
— em relação à dor, interessa indagar sobre: MED_C = Medicação em Curso.
início (súbito ou progressivo, relação ou REAC = Reacções alérgicas e de intolerân-
não com o ciclo); tipo (em moedeira, cóli- cia, são dados de conhecimento obrigatória
ca, queimadura, lancinante, perfurante); para a boa interpretação das queixas e do
intensidade e grau de interferência nas quadro clínico, bem como para prevenir evo-
actividades quotidianas; localização e luções desfavoráveis, eventualmente fatais.
irradiação; se é espontânea ou provoca-
da. Interessa ainda averiguar sua relação
com a posição; a mobilização; a micção 2. EXAME CLÍNICO EM GINECOLOGIA
e a defecação; a relação sexual (coitalgia
ou dispareunia); e o ciclo genital; 2.1. INSTRUMENTOS
— a percepção de aumento de volume li-
geiro, de peso e de tensão mamárias Antes de tomar contacto com a técnica do
são comuns na segunda fase do ciclo ge- exame ginecológico requer-se um bom co-
nital, e são considerados consequência nhecimento do material, pelo menos do bá-
da proliferação glandular acinar e ductal, sico, necessário à sua execução.
bem como de retenção hídrica; existe
assim aumento da densidade e de gra- 2.1.1. ILUMINAÇÃO: FONTES DE LUZ
nulações glandulares à palpação; a pato-
logia mamária funcional ou disfuncional Não sendo, naturalmente, equipamento es-
apresenta-se com quadro similar embora pecífico da Ginecologia, a variedade de fon-
mais agravado; tes de iluminação merece desde já alguns
— as dificuldades coitais podem ser ligei- comentários.
ras ou impedir mesmo a consumação O exame clínico deve ser realizado em am-
do coito (apareunia); dever-se-á inquirir biente bem iluminado, sempre que possível
sobre a localização dos sintomas (su- com luz natural. A apreciação da cor e das
perficiais ou vestibulares e profundos, tonalidades sofre com a variação qualitativa
e sobre o seu aparecimento em função do tipo de iluminação, sendo particularmente

90 Capítulo 5
afectada pela luz fluorescente, a qual, por ra- ópticas flexíveis para os locais de observa-
zões económicas, é das mais divulgadas. ção, evitando-se desta forma as frequentes
Mais especificamente para o exame genital queimaduras acidentais de outrora, que

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recorre-se a dispositivos variados de ilumina- ocorriam quando as lâmpadas eram in-
ção, sendo o mais difundido o foco com lâm- troduzidas no corpo da examinanda. Mais
pada de halogéneo. A luz que proporciona é recentemente existem lâmpadas de boa
de intensidade regulável e de características potência com baixa capacidade de aqueci-
próximas das do espectro natural, pelo que mento, que constituem uma boa alternati-
este constitui o equipamento actualmente va, e menos dispendiosa.
mais divulgado nos gabinetes de consulta. Com excelente capacidade de iluminação
Para a inspecção da pele em geral, e da vul- mas algo incómodo para o examinador é o
va em particular, pode e deve utilizar-se uma foco frontal, versão recente do espelho de
lupa, seja um modelo simples portátil ou Clar dos otorrinolaringologistas e que existe
mais frequentemente o usado nos centros também com sistema de “luz fria”.
de estética e cosmética, no qual a lente se en-
contra complementada por uma fonte de luz, 2.1.2. ESPÉCULOS VAGINAIS
circular. A este aparelho, que em Ginecologia
é quase exclusivamente utilizado no exame A vagina, embora sendo órgão tubular, oco,
da vulva, dá-se o nome de vulvoscópio. apresenta uma cavidade que em condições
Se para a inspecção da vulva em exames de normais é apenas virtual, dada a usual apo-
rotina não se recomenda, por ser pouco prá- sição das suas paredes anterior e posterior.
tico, o uso do “colposcópio”, dada a extensão Desta forma, para que se possa examinar a
da superfície a examinar, em casos particu- sua luz torna-se necessário recorrer a instru-
lares recorre-se à “colposcopia” vulvar para mento apropriado.
clarificação de lesões predeterminadas. Esta Em regra emprega-se para o efeito o es-
designação está etimologicamente errada, péculo vaginal, equipamento cujo nome
mas dada a sua difusão é hoje técnica e uni- deriva, na literatura contemporânea, da ne-
versalmente aceite. Quando disponível, e cessidade que havia de se ter de usar um
mesmo que não seja empregue para exame espelho para reflectir a luz para a cavidade a
ampliado dos genitais, o colposcópio pode examinar, o que não sendo já o caso na actu-
funcionar como fonte de luz, proporcionan- alidade fez com que conservasse a designa-
do iluminação de boa qualidade e intensida- ção. Talvez mais acertadamente Auvard1 faz
de ainda que evidencia um campo de obser- derivar espéculo de specere, olhar.
vação relativamente limitado em extensão. Os modelos actualmente disponíveis estão
Com uma fonte externa usam-se em regra constituídos basicamente por duas valvas
espéculos desprovidos de qualquer siste- ligadas por articulação estabilizável que per-
ma intrínseco de iluminação, mas existem mite realizar de forma simples uma adequa-
modelos que aceitam o encaixe dum gera- da exposição da cavidade vaginal. O estatis-
dor de luz de halogéneo ou que incorporam mo próprio deste instrumento, que permite
um sistema de difusão luminosa adaptável a que se mantenha espontaneamente aberto
uma fonte exterior, sendo a transmissão rea- uma vez colocado na sua posição final, e em
lizada por condutores ópticos. regra imobilizado pela pressão que as pare-
Por último, os equipamentos ópticos mais des vaginais exercem sobre as suas valvas,
sofisticados, englobados no conceito de torna dispensável o recurso a ajudante, o
endoscópios, funcionam actualmente com qual é imprescindível quando se usam val-
luz fria. Tal significa que a fonte geradora é vas vaginais individualizadas, como é caso
extrínseca e que a luz é conduzida por fibras corrente em cirurgia ginecológica.

Semiologia Ginecológica 91
Espéculos semelhantes aos vaginais são sos uterinos. Assim, pode considerar-se este
empregues para observação das cavidades modelo como o de emprego mais amplo, e
nasal, ótica e recto-anal, naturalmente adap- quando tenha de existir apenas um, reco-

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tados à anatomia dos segmentos que são menda-se que seja este o adoptado.
objecto de exame. O espéculo de Cusco tem um sistema de arti-
Existem espéculos vaginais articulados e fi- culação que permite manobrá-lo facilmente
xos (tubulares), metálicos e plásticos, e den- por simples pressão, fixando-lhe a abertura
tre estes transparentes e opacos. Estão aban- só quando já devidamente colocado, en-
donados, por razões de higiene os modelos quanto o de Graves, com articulação dupla,
clássicos em madeira, osso ou marfim, de permite uma exposição ainda mais individu-
que se podem encontrar exemplares belíssi- alizada pela combinação de diferentes tipos
mos nos museus de História da Medicina. de abertura. Qualquer um destes dois últi-
Uma vez que a parede vaginal posterior é mos modelos permite pois um manejo fácil
mais longa do que a anterior, alguns modelos e total com uma só mão, o que não sucede
como o de Collin, em particular nas variantes com o de Collin. Porém, à medida que os
de maiores dimensões, possuem valvas de- modelos se tornam mais complexos, passam
siguais (espéculo de Collin-Landau). Nestes igualmente a ser mais frágeis e caros.
casos, a mais longa corresponde obrigatoria- Para além dos modelos descritos, que devem
mente à parede vaginal posterior. ser considerados como os de referência, por
Os protótipos metálicos, por serem reutilizá- mais divulgados, muitas outras variantes,
veis, resultam mais económicos desde que como a de Pedersen, por exemplo, são utili-
se tenha acesso aos meios requeridos para a zados. Cada um dos modelos referidos existe
sua esterilização. Os plásticos, descartáveis, ainda em vários tamanhos, sendo regra que se
tornam-se mais dispendiosos nos países em deve sempre optar pela variedade maior, mas
que a produção não é suficiente para per- que não seja desconfortável para a senhora.
mitir preços aceitáveis, mas têm vantagens Sublinhe-se, o que parecendo uma negação
adicionais: são mais leves e não condutores, do anterior o não é, que na dúvida é preferí-
nem térmicos nem eléctricos, o que os torna vel experimentar o mais pequeno4 o qual, se
mais confortáveis para a examinanda. O fac- se mostrar insuficiente se substituirá por um
to de serem transparentes não constitui, em maior, em lugar de começar por este e correr o
oposição ao que poderia parecer, vantagem risco de provocar incómodo e mesmo dor.
prática, uma vez que a compressão que efec- Dito por outras palavras, o espéculo deve ser
tuam sobre as paredes vaginais induz nestas suficientemente grande mas não demasiado,
alterações da forma e da coloração que tor- realizando-se a escolha segundo critérios prá-
nam difícil o seu estudo correcto. São prefe- ticos, dos quais se salientam a idade, a prévia
rencialmente usados nos casos em que há existência (ou não) de actividade sexual e/ou
risco particular de transmissão infecciosa. partos por via vaginal, o estado trófico vagi-
Dentre os distintos modelos o de Collin, nal, a história actual e os dados da inspecção.
mais simples, é o mais resistente, embora Estas variáveis são dificilmente tidas em con-
mais grosseiro e de regulação manual mais ta de forma isolada, mas antes consideradas
complexa, por possuir articulação mediada globalmente. Assim, por exemplo, a idade
por parafuso. Contudo, o facto de esta ser tem ligações naturalmente com a actividade
unilateral constitui uma vantagem impor- sexual, com o trofismo (atrofia vaginal pós-
tante quando se pretende retirar o espéculo menopausa) mas também com o tipo de
deixando colocados outros instrumentos, patologia (história compatível com laceração
como sucede na realização de histerografia ou prolapso). Em caso de dúvida a considera-
ou nas provas de tracção cervical nos prolap- ção definitiva deve ser formulada tendo em

92 Capítulo 5
atenção a avaliação objectiva do orifício do em fase precoce ou preliminar, pelo que se
intróito da vagina, suas dimensões e disten- considera curável. Dentre os métodos empre-
sibilidade. Este parâmetro é, sem dúvida, o gues para este fim o mais importante é, sem

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mais importante na observação da criança, dúvida, a citologia de rastreio.
na qual a compatibilidade entre o diâmetro Teremos pois, dois tipos de observação:
do espéculo e o do orifício himeneal tem de uma fundamentalmente orientada para a
ser previamente garantida. vagina e apenas acessoriamente para o colo
Refira-se que em ginecologia pediátrica o (a citologia vaginal ou exame do conteúdo
tipo de instrumento a utilizar é naturalmen- vaginal) e outra, ao contrário, dirigida quase
te diverso do da adulta, podendo mesmo exclusivamente ao colo do útero, a citologia
recorrer-se extemporaneamente a equipa- de rastreio de Papanicolaou.
mento endoscópico. Pela sua facilidade e Relembre-se que o colo do útero está re-
segurança de manejo, serão de preferir os vestido por dois tipos de epitélio, um pavi-
espéculos tubulares, semelhantes aos de mentoso, malpighiano dito exocervical e
exame ótico, disponíveis em vários diâme- outro cilíndrico simples, mucossecretor, en-
tros e comercializados em França segundo docervical. Os processos malignos mais co-
os desenhos de Denys Sersiron. O modelo muns originam-se na zona de transição dos
brasileiro, o colpovirgoscópio de Bicalho, dois epitélios, na chamada junção escamo-
também conhecido pelo nome do seu fabri- colunar, a qual dum ponto de vista teórico
cante (da Greco), estruturalmente idêntico a corresponderia ao orifício externo do colo.
um proctoscópio, é o de mais fácil manejo e Porém, fruto do diferente grau de estimula-
dispensa recurso a fonte de luz exterior, por ção hormonal existente ao longo da vida da
se encontrar incorporada. mulher o seu posicionamento topográfico é
Em conclusão: a colocação do espéculo va- variável. Pode localizar-se em pleno exoco-
ginal é imprescindível ao exame do segmen- lo, como sucede vulgarmente na mulher em
to cervico-vaginal e constitui passo prévio idade reprodutora, particularmente quan-
a quase todas as explorações e manobras do sob contracepção hormonal ou grávida,
transvaginais. ou pelo contrário em pleno canal cervical,
como é habitual após a menopausa. Assim,
2.1.3. MATERIAL PARA COLHEITA de forma a estandardizar o exame propôs
CITOLÓGICA CERVICO-VAGINAL Wied um método dito tríplice de colheita de
células cervicais, cujas siglas devem ser indi-
Um dos exames mais praticados em Gineco- cadas nas correspondentes lâminas:
logia é a análise citológica. Ela pode revestir- V = colheita no fundo-de-saco vaginal,
se de cariz diagnóstico (citologia vaginal) ou onde à mistura com as células próprias
ser paradigma da postura preventiva (a cito- da vagina se irão depositar as que desca-
logia de rastreio oncológico cervical uterino, mam do colo uterino
chamada cervico-citologia, citologia cervi- C = colheita no colo (exocolo), que será
cal de Papanicolaou ou teste de Papanico- a mais importante nos casos em que a
laou). De facto, o segmento cervico-vaginal é transição epitelial se verifica neste ponto
terreno propício ao desenvolvimento de alte- E = colheita no endocolo, fundamental
rações inflamatórias e/ou infecciosas, sendo quando a junção se situa no canal.
o colo do útero sede da lesão maligna entre A colheita tríplice, advogada por várias Es-
nós ainda a mais frequente na mulher, logo colas, foi a melhor por ser estandardizada,
após o cancro da mama. Ora ele é acessível à completa e cobrir as diversas variabilidades
observação e sofre um processo de maligni- anatómicas dos epitélios do colo uterino.
zação que pode, em regra, ser diagnosticado Contudo, em termos de eficácia e sua relação

Semiologia Ginecológica 93
com os inerentes custos, o panorama é-lhe são da lâmina. A forma mais prática de se re-
actualmente desfavorável, tendo-se evolu- alizar o transporte é o envio das lâminas para
ído, nos programas de rastreio, para a co- o laboratório em porta-lâminas de cartão ou

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lheita exo e endocervical, de início em se- plástico que impedem que possam ser frag-
parado e mais recentemente em bloco com mentadas acidentalmente. Recorde-se que
esfregaço agora único numa só lâmina. Os as lâminas correspondentes a cada uma das
benefícios desta “simplificação” resultam da três colheitas citológicas devem ser devida-
poupança em termos de material e tempo mente identificadas com as siglas VCE, sen-
de execução e, sobretudo, de leitura e arma- do prática corrente associar numa mesma
zenamento do produto. lâmina os produtos vaginal e exocervical,
Diferentes instrumentos podem ser empre- realizando-se, por exemplo, o esfregaço do
gues para as referidas colheitas. Assim, para primeiro em sentido transversal e do segun-
a (V) vaginal pode colher-se o material or- do longitudinalmente.
gânico do fundo-de-saco posterior usando Como já referido, mais recentemente foram
uma espátula vulgar de exame da orofarin- introduzidas modificações sucessivas visan-
ge, o extremo rombo da espátula de Ayre ou do poupanças de fundos e de mão-de-obra
mais classicamente uma pipeta de aspiração sem significativa perda de acuidade diagnós-
tipo Papanicolaou ou Pasteur; para a (C) cer- tica. De início, as lâminas eram três (V+C+E)
vical ou, melhor dito, exocervical aconselha- e passaram a ser apenas duas por redistribui-
se o uso sistemático da espátula desenhada ção do produto. Assim, mantendo a colheita
por Ayre, ou uma das variantes mais recen- tríplice faziam-se apenas dois esfregaços, as-
tes e para a endocervical utilizava-se - uma sociando-se no primeiro V+C ou no segundo
zaragatoa de algodão, seca ou embebida em C+E de acordo com o instrumento utilizado
soro e actualmente um escovilhão cervical. para a colheita. Por exemplo, usando espá-
A espátula de Ayre apresenta um extremo tula de Ayre e escovilhão realizam-se V+C e
com uma forma recortada que se adapta E. Posteriormente, dada a relativa e teórica
perfeitamente à superfície do focinho de inespecificidade da colheita vaginal para
tenca, permitindo realizar um raspado do rastreio de lesões do colo, muitas escolas
epitélio ao imprimir um movimento de ro- abandonaram esta participação e reduziram
tação de 360º àquele instrumento, tomando as colheitas a duas apenas, C+E. Procurando
como fulcro a zona mais proeminente que se simplificar ainda mais a técnica de colheita
insinua no orifício externo do colo. Existem foram finalmente introduzidos novos dispo-
modelos de madeira ou de plástico, deven- sitivos, com o objectivo de realizar as duas
do preferir-se estes últimos por não serem colheitas em simultâneo. Surgiram assim,
absorventes, o que facilita a distribuição do as espátulas de Aylesbury, a “Multispatula” e
produto sobre a lâmina. Nas colheitas en- mais tarde o sistema “Acellon”, o “Cytobrush”
docervicais a zaragatoa foi quase completa- e o “Cervex”. A importância histórica e técnica
mente abandonada, dando-se preferência da espátula de Ayre é notória quando se exa-
ao escovilhão, que é bem mais eficaz. minam os restantes que são afinal o resulta-
Uma vez colhido o produto deve ser imedia- do de modificações nela introduzidas mas
tamente distribuído em camada fina sobre que mantêm quase sempre a traça original
lâmina de vidro bem limpa e desengordura- definida por aquele autor. Contudo, quando
da, procedendo-se à sua fixação sem perda não existam disponíveis espátulas especiais,
de tempo. Como fixadores podem utilizar-se tal não constitui óbice à realização da citolo-
quer produtos específicos alcoólicos em ato- gia, uma vez que em situações esporádicas
mizador (spray) ou uma mistura álcool-éter podem ser empregues as usadas vulgarmen-
em partes iguais na qual se procede à imer- te para exame da boca e orofaringe. Por seu

94 Capítulo 5
turno, os dispositivos mais recentes, destina- grosseira e traumatizante, para as fortes pre-
dos a colheita combinada, são já mais so- ensões/tracções da cirurgia. Com a mesma
fisticados, integrando elementos maleáveis finalidade podem empregar-se as pinças di-

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e visando uma função logicamente distinta. tas de 9 dentes de Allis ou, como paradigma
Alguns destes sistemas, como o Cervex são de instrumento não perfurante, o chamado
ainda passíveis de uso em novas metodo- estabilizador cervical.
logias de preparação citológica, como a As pinças de preensão cervical são necessá-
citologia em meio líquido, que é a mais rias: à estabilização do colo uterino sempre
recente inovação. que se realizam manobras instrumentais
Uma palavra ainda sobre a qualidade de sobre este órgão com alguma pressão (bi-
fixação citológica, hoje claramente expres- ópsia, dilatação forçada do orifício interno);
sa, segundo a nomenclatura de Bethesda, à mobilização do colo para exame dos fun-
no relatório final do exame. Ter-se-ão de dos-de-saco vaginais, por exemplo; à trac-
respeitar as contra-indicações, executar as ção do colo quer para estudo da mobilidade
colheitas de forma correcta e proceder de do órgão, como nos casos de prolapso, quer
imediato a um esfregaço fino prontamente para a rectificação do eixo uterino, proce-
fixado, para que a leitura possa ser comple- dimento que deve anteceder a maioria das
tamente satisfatória. manobras a efectuar nesta cavidade, de que
Alguns dispositivos propostos para colheita são exemplo a sondagem uterina, a biopsia
citológica são hoje preferencialmente em- do endométrio, a introdução de dispositivo
pregues para outras finalidades. Por exem- intra-uterino anticoncepcional (DIU), a his-
plo, o escovilhão cervical (Cytobrush), é o terossalpingografia e a histeroscopia, na sua
meio mais prático de remoção do muco cer- execução clássica.
vical, desde que se evite o contacto do ins- Recorde-se, a este propósito, que o útero se
trumento com o colo, que por vezes faz san- insere na cúpula vaginal, não na sua parte
grar. Um outro sistema, o MiMark, proposto central, mas num ponto situado já em plena
por Milan e Markley, com duas variedades parede anterior, de modo que o eixo uterino
de colheita, endocervical e endometrial, é, faz com o vaginal um ângulo quase recto de
nesta segunda versão, o mais eficaz e menos abertura anterior. Além disso, o canal uteri-
incómodo meio de captação de fios-guia de no não é rectilíneo mas curvilíneo, suceden-
dispositivos (DIUs) que hajam sido deslo- do que o eixo do colo e o do corpo definem
cados para a cavidade uterina. Provocando entre si um outro ângulo, este obtuso, de
ligeiro incómodo hipogástrico, devem cons- cerca de 110º. Esta configuração uterina
tituir a primeira tentativa de remoção de Diu denomina-se anteversoflexão fisiológica e
nestas circunstâncias. mercê da grande mobilidade do útero, com
facilidade se altera quando se faz tracção
2.1.4. PINÇAS DE PREENSÃO sobre o colo em direcção à fenda vulvar, ou
E MOBILIZAÇÃO DO COLO UTERINO seja ao longo do eixo vaginal. Ao executar-
se esta manobra não só se verifica uma des-
Pinças de preensão e tracção do colo uterino locação do corpo do útero para trás como
existem em vários modelos. Podem classifi- se atenuam as angulações atrás referidas,
car-se em penetrantes ou não, segundo haja tornando-se o canal cervical apenas leve-
ou não perfuração do epitélio quando da mente curvo e quase que alinhado ou seja
preensão. O grau de penetração pode ainda no prolongamento do vaginal, o que, como
ser maior ou menor, de acordo com o calibre se compreende, facilita extraordinariamen-
das hastes fixadoras. Usualmente utiliza-se te toda e qualquer manobra que se realize
a de Pozzi, deixando-se a de Museux, mais para cima do orifício cervical externo.

Semiologia Ginecológica 95
Um outro aspecto merece neste momento vo que não apenas fornece os dados da histe-
ser referido: o da sensibilidade do colo ute- rometria total como, por abertura de sistema
rino. É uma regra geral dos órgãos ocos que que realiza uma estabilização da haste men-

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estes são particularmente sensíveis à disten- suradora ao nível do OCI, permite determinar
são, que constitui habitualmente o factor que o valor correspondente ao comprimento do
lhes desencadeia dor mais violenta. O colo canal cervical. A subtracção deste em relação
uterino não é excepção. De facto a aplicação ao anterior dá a medida da cavidade corporal.
das pinças puncionantes, habitualmente no Estes aparelhos, como outros que permitem
seu lábio anterior, é praticamente indolor se medir a largura da cavidade são conhecidos
efectuada com suavidade e lentidão, haven- por cavímetros e à técnica de mensuração
do contudo situações, em particular quando cavimetria (de cavum, cavidade).
há atrofia, em que esta manobra é claramen-
te dolorosa. Igualmente indolores ou pouco 2.1.6. INSTRUMENTOS
incomodativas são as manobras destrutivas DE COLHEITA ENDOMETRIAL
efectuadas no colo, como as electrocoagula-
ções e mesmo as biópsias, enquanto que, ao A biópsia de endométrio pode realizar-se
invés, a dilatação forçada do esfíncter cervical com duas finalidades fundamentais, uma
interno induz sensação muito desagradável. visando o conhecimento da sua resposta
funcional e outra o esclarecimento duma
2.1.5. SONDAS UTERINAS patologia supostamente orgânica. Os ob-
OU HISTERÓMETROS: jectivos em qualquer dos casos passam
pela recolha de mucosa uterina, mas o grau
As sondas uterinas, rígidas ou flexíveis, metáli- de amostragem é diferente. Nas situações
cas ou plásticas, por serem quase sempre gra- funcionais ou disfuncionais bem como nas
duadas, são indistintamente denominadas de infecciosas é de esperar que a resposta en-
histerómetros, e permitem assim realizar son- dometrial seja global e uniforme, enquanto
dagem a par da medição da profundidade que existe forte probabilidade em patolo-
da cavidade uterina (histerometria), que em gia tumoral de que hajam áreas afectadas
condições normais varia entre 6 e 8 cm. ao lado de outras sãs. Assim, os instrumen-
As sondas maleáveis são menos traumati- tos a utilizar para estas finalidades serão
zantes, e acompanham na sua excursão o distintos e diferenciar-se-ão sobretudo em
trajecto do canal sem induzirem grandes termos de quantidade de produto colhido.
pressões. Porém, quando há necessidade de Deve salientar-se que, de qualquer modo,
dilatação do orifício cervical interno (OCI) a extracção da mucosa uterina não é nunca
contra resistência, elas não são adequadas. completa, o que além do mais acarretaria
Na sequência do anteriormente descrito a uma impossibilidade de reposição.
propósito da sensibilidade do colo, recorde- Para as simples biópsias utilizaram-se classi-
se que a sondagem uterina é mais fácil de camente as pinças de Novak e de Randall,
realizar e provoca menos incómodo quando ambas de diâmetro relativamente amplo,
efectuada nos períodos pré-ovulatório ou que explica o desconforto que provoca às
menstrual, nos quais se encontra fisiologica- doentes. Mais recentemente, sondas finas
mente aberto o orifício cervical interno. descartáveis, como a pioneira pipelle de
Entre os histerómetros rígidos o modelo mais Cornier vieram permitir uma maior difusão
utilizado entre nós é o de Sims. Alguns mo- da sua execução sem prejuízo da qualidade
delos de sondas permitem realizar medições e com desconforto relativamente ligeiro.
diferenciais. Assim, por exemplo, o histeró- Em situações em que há suspeita ou se
metro de Hasson está munido dum dispositi- pretende excluir a presença de patologia

96 Capítulo 5
oncológica recorria-se outrora sistematica- diagnóstico e, nalguns casos, terapêutico. Na
mente à curetagem biopsia uterina raspa- lista dos aparelhos considerados praticamen-
gem uterina fraccionada, a qual visava colher te indispensáveis contam-se os seguintes:

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uma amostragem das diferentes topografias
endocavitárias (paredes anterior e posterior Microscópio de luz
e bordos laterais da cavidade uterina e ca- Imprescindível para a avaliação do ecossis-
nal cervical). Mais recentemente o recurso a tema vaginal, a que Blanchard chamava de
forte sistema de aspiração como a do equi- bacterioscopia8 pode ainda ser empregue
pamento Vabra, mesmo que utilizando son- para a realização de testes de compatibilidade
da fina, veio permitir uma simplificação do mucoespermática pós-coital (prova de Sims
método, sendo exequível em ambulatório, e e Huhner). Assim, a observação imediata
ainda que desconfortável substitui com van- permite ao examinador uma avaliação: hor-
tagem os inconvenientes dum acto cirúrgico monal, pelo estudo das células descamadas;
mais agressivo. O desenvolvimento da histe- microbiológica, pela análise da população mi-
roscopia veio então tornar habituais as bióp- crobiana; e reprodutiva, pela observação do
sias dirigidas sob controlo visual. número e mobilidade dos espermatozóides.
O uso de contraste de fase ou de interfe-
2.1.7. PINÇAS AUXILIARES rência de fase (segundo Nomarski) facilitam
muito o trabalho de identificação celular e
Menos específicas em termos de aplicação, microrgânica.
mas de uso frequente são as pinças de Ché-
ron, porta-compressas, auxiliares inequívo- Colposcópio
cos do exame. Para além da finalidade que Em 1924 Hinselmann idealizou um aparelho
melhor as define, estas pinças servem mui- constituído por um sistema de lentes que lhe
tas outras funções, como a remoção de DIUs, permitiam ver com considerável ampliação
ou a aplicação de produtos hemostáticos no as lesões cervicais uterinas e detectar mais
colo uterino, como barras de nitrato de pra- precocemente o carcinoma do colo uterino.
to, por exemplo. O colposcópio, que é nada mais do que um
Finalidade idêntica pode ser dada às pinças microscópio com características particulares,
tipo Doyen, as quais, porque possuem tér- isto é com longa distância focal, permite a
mino em anel de pequenas dimensões, são realização dum exame de execução simples
muito úteis para a remoção de pólipos cer- e rápida, que possibilita a inspecção pano-
vicais. São por esta razão vulgarmente co- râmica e em detalhe do exocolo e da parte
nhecidas como pinças de anel ou mesmo de distal do endocolo.
polipectomia. Embora etimologicamente se encontre re-
As pinças de dissecção, com ou sem dente ferido ao exame endoscópico da vagina (do
de rato, são também usadas como aces- grego colpos) é todavia mais utilizado para
sórios na exploração genital. De menores a avaliação morfológica do colo uterino. De-
dimensões e bem mais delicadas as pinças veria pois ser chamado preferencialmente
de dissecção de Adson são particularmente de traqueloscópio, mas a prática consagrou
empregues na manipulação dos fragmentos o termo pelo qual é mais conhecido. Hoje
de biópsia. em dia colposcopia significa pura e sim-
plesmente realizar uma técnica de exame
2.1.8. INSTRUMENTOS ÓPTICOS com recurso ao colposcópio. Fala-se então
de colposcopia vulvar, colposcopia cervical,
Recorre-se actualmente cada vez mais ao au- colposcopia vaginal ou mesmo de colposco-
xílio de equipamento óptico como auxiliar pia do pénis (peniscopia).

Semiologia Ginecológica 97
Histeroscópio os passos usuais do exame médico geral, em-
O exame endoscópico da cavidade uterina bora, na prática, reduzidos aos considerados
é hoje facilmente realizável mercê da evolu- estritamente indicados sob a orientação da

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ção verificada na tecnologia óptica. De facto história e do juízo diagnóstico previamente
dispõe-se actualmente de instrumentos de formulado. Assim, por exemplo, as disfunções
calibre suficientemente baixo de modo a endócrinas ligadas à reprodução devem obri-
permitir a sua introdução na cavidade ute- gar à busca de sinais devidos a perturbações
rina sem necessidade de significativa dilata- de outras glândulas com aquelas conotadas
ção e mesmo analgesia. (tiróide, supra-renal), como pode suceder em
Os histeroscópios podem ser diagnósticos casos de alterações genitais e perturbações
ou cirúrgicos. Os primeiros têm menor ca- do crescimento. Por outro lado, em oncologia
libre e dispõem de canal acessório apenas ginecológica, a pesquisa ou exclusão de lesões
para a passagem do agente de dilatação da metastáticas ou mesmo a avaliação das possi-
cavidade, enquanto o mesmo canal permite bilidades de terapêutica cirúrgica obrigam à
nos segundos o uso de instrumentos de cor- execução de pormenorizado exame clínico.
te, biópsia ou electro-cirurgia. Vulgarmente, porém, o termo exame gi-
A inclusão de sistemas de ampliação de necológico significa apenas a observação
alta-fidelidade e considerável capacidade dos órgãos genitais e da região onde se in-
de aumento permite mesmo a prática de serem e nele se incluem quatro fases: geral;
microcolpohisteroscopia, técnica desen- mamário (inspecção, palpação); abdominal
volvida e divulgada a partir da França por (inspecção, palpação, percussão, ausculta-
Jacques Hamou. ção); e ginecológica ou vulvoperineopélvica
(inspecção da vulva, exame ao espéculo, pal-
Ecógrafo pação e toques).
O recurso à ultrasonografia é hoje pela sua Por motivos de simplificação, não se fará
qualidade, simplicidade e comodidade, cada descrição da semiologia geral, mamária e
vez mais amplo, não sendo o exame conside- abdominal, o que não significa que não cons-
rado obrigatório apenas pelo custo do equi- tituam parte importante, integrante e obriga-
pamento. De acordo com as características tória do exame da consulente ginecológica2.
da sonda e do respectivo feixe ultrassónico Relembre-se, para exemplificar, a importân-
podem abordar-se os órgãos genitais por via cia que a percussão tem na destrinça entre
abdominal, através da parede ventral, ou por tumor volumoso e ascite, ao evidenciar a
via vaginal. No primeiro caso a frequência presença de som timpânico nos flancos e ma-
necessária é da ordem dos 3,5 MHz, e requer cissez na área proeminente no primeiro caso,
ainda um meio de facilitação da condução em oposição ao que se observa no segundo.
dos ultra-sons, representado pela bexiga dis- Por sua vez, as tumorações com origem pélvi-
tendida pelo seu conteúdo líquido. A ultraso- ca, incluindo o útero grávido, caracterizam-se
nografia transvaginal usa sonda de 7,5 MHz por uma configuração curva de convexidade
de frequência e ganha em definição de ima- superior pelo seu crescimento ascendente.
gem o que perde em profundidade, mas be- O exame dos segmentos genitais deve ser
neficia do facto de ser praticamente directo o executado em ambiente calmo e repousan-
contacto daquela com o órgão a estudar. te e sempre com muita suavidade. Ter sem-
pre presente que o objecto da exploração
2.2. METODOLOGIA ginecológica é um conjunto de estruturas
particularmente sensíveis em todos os as-
Exame ginecológico não é sinónimo de ob- pectos, pelo que se devem evitar, dentro
servação clínica em ginecologia: esta inclui do possível, todas as manobras que possam

98 Capítulo 5
despertar dor e consequentemente induzir joelho, sendo este o modelo mais frequente,
defesa por parte da examinanda. embora o primeiro seja mais cómodo9. Tem
No exame ginecológico corrente a bexiga como vantagens permitir bom relaxamento

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deve estar bem vazia, solicitando-se para isso abdominal, facultar uma óptima exposição
micção prévia. Casos há, contudo, em que é dos genitais externos e facilitar ao máximo a
conveniente examinar com algum ou mesmo realização do exame ao examinador e como
acentuado preenchimento vesical (suspeita inconvenientes requerer mesa apropriada e
de perda involuntária de urina, por exemplo). dificuldade na acomodação da examinanda
Se a micção é facilmente controlável e existe quando com problemas de mobilização.
possibilidade de opção na prática por exame
com ou sem preenchimento, o mesmo não Decúbito dorsal com joelhos flectidos
sucede já para o conteúdo intestinal. Numa Posição que mais se aproxima da ginecoló-
sociedade que não dispõe de tempo para gica, não é mais do que um decúbito dorsal,
nada, em que os hábitos alimentares se mo- com flexão máxima dos joelhos e sua abdu-
dificam em desfavor dos alimentos ricos em ção posterior, mantendo a examinanda os
resíduos e na qual a actividade física se veri- pés unidos e em contacto com as nádegas.
fica ser cada vez mais reduzida, os casos de Constitui a posição de recurso para exame de
trânsito intestinal lento ou mesmo de obsti- uma doente acamada ou em locais onde se
pação são cada vez mais frequentes. Nestas não disponha de mesa ginecológica, apresen-
circunstâncias, e em caso de dúvida, deve tando as vantagens, ainda que não totalmen-
recorrer-se à administração de laxantes ou à te, da posição anterior. Como inconvenien-
realização de clisteres sempre que o detalhe tes há que entender que de todo o modo, é
do exame clínico pelvigenital tal imponha. menor a exposição dos genitais obtida com
Antes de se iniciar a observação é importan- esta posição, perturbada ainda correntemen-
te confirmar que todo o material suposta- te pela depressão que o leito permite sob o
mente necessário para o exame esteja pre- peso do corpo; que o plano do leito impede
viamente preparado e acessível, de modo a ainda o uso de instrumentos que requeiram
não perturbar a evolução do mesmo. espaço de manobra posterior (instrumentos
com cabo ou mango), podendo utilizar-se
2.2.1. POSIÇÕES DE EXAME material em colocação invertida (ramo poste-
rior para diante), com resultados satisfatórios;
Para a execução do exame ginecológico (em e é menos cómoda para o examinador.
sentido restrito) coloca-se a examinanda em
posição adequada, que descreveremos em Decúbito lateral
dois grupos, as usuais e as especiais Posição de Sims, de utilização pouco fre-
quente entre nós, constitui posicionamento
Posições usuais de recurso quando de doentes com patologia
São as que se utilizam para a prática do exa- articular da anca ou da bacia, impeditiva de
me ginecológico corrente. colocação daquela em qualquer das anterio-
res. Defendida pelas escolas anglo-saxónicas
Posição Ginecológica (também denomina- particularmente no ensino (aulas práticas),
da de Litotomia ou Vulvar1) por ser mais cómoda para a doente que se en-
Corresponde ao decúbito dorsal com flexão contra de costas para o(s) médico(s) e útil para
das coxas a 90º e abdução máxima destas, o exame da mulher obesa, por permitir o afas-
o que se consegue graças à utilização de tamento do omento para o lado do decúbito.
mesas ou marquesas ginecológicas. Estas São seus inconvenientes ser incómoda para
podem ter apoio para pé (estribos) ou para o examinador e muito limitativa no que se

Semiologia Ginecológica 99
refere à inspecção ginecológica, quer com A observação rápida mas atenta da superfí-
espéculo, quer, e muito particularmente, ao cie corporal permite ainda colher informa-
exame dos genitais externos. As vantagens ções sobre as características da pele, da pilo-

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referidas acima não parecem ser suficien- sidade e das mucosas (PPM), sobre o estado
tes para contrabalançar os seus defeitos. circulatório e em particular sobre veias e te-
Efectivamente não parece conveniente ensi- langiectasias, concluindo-se esta fase semio-
narem-se os exames em colocações que não lógica com a auscultação cardíaca (AuscC) e,
correspondem às de uso prático, uma vez que menos frequentemente, pulmonar (AuscP).
tal obriga a um esforço suplementar de adap- Evolui-se então para uma fase de maior minú-
tação às novas condições de exame. Por outro cia semiótica, quando se inicia o exame ma-
lado o exame da mulher obesa é sistematica- mário. A mama é examinada por inspecção e
mente difícil, não parecendo que resulte qual- palpação segundo etapas sucessivas, com a
quer simplificação da adopção desta ou outra senhora em pé, sentada, com as mãos nas an-
especial postura para o efeito. cas, com os membros superiores em extensão
(manobra de Paulig) e em decúbito dorsal. De
Posições especiais todas estas fase se obtêm dados (MAMAS) des-
Não são úteis para a execução do exame critos em capítulos do volume II, dimensões e
ginecológico de rotina, por não permitirem especificidades dos mamilos (mam), inexistên-
uma inspecção e palpação satisfatórias dos cia ou presença de corrimento mamilar e suas
órgãos a examinar, mas apenas em situações características (secr) e padrão palpatório com
particulares. ou sem nodularidades anómalas (nod).
Genupeitoral: útil no estudo das lesões da O exame abdominal (ABD) faz parte inte-
parede vaginal anterior (fístulas, por exem- grante da observação clínica ginecológica,
plo) ou da região anal, tem emprego particu- embora usualmente confinado à inspecção
lar para a execução da culdoscopia. e à palpação, e deve anteceder o exame
Em pé: para esclarecimento de situações de pélvico7, sequência que não tem acordo
prolapso (condições de gravidade normais) unânime6. A percussão é hoje em dia pou-
ou de incontinência urinária. co praticada, sendo a auscultação manobra
aplicável em situações particulares, e com
2.3. EXAME FÍSICO regularidade apenas na mulher grávida.

Uma sumária observação geral deve in- 2.3.1. OBSERVAÇÃO GENITOPERIANAL


tegrar por princípio o exame clínico em
Ginecologia. Ocasionalmente ela será omiti- Para que se possa realizar o exame dos geni-
da, quando o motivo da entrevista a orienta tais externos em boas condições requerem-
já para algum capítulo específico. Porém, na se posicionamento adequado da examinan-
consulta ginecológica há necessidade de da e examinador e uma boa iluminação. Para
se conhecerem alguns dados semiológicos este efeito recorre-se entre nós ao uso de
simples, como sejam a pressão arterial (TA), focos sendo em alguns países, França por
o PESO e a ESTATura. A partir destes dois úl- exemplo, usual utilizar-se um espelho de
timos pode determinar-se facilmente o IMC Clar, de uso corrente em ORL, o qual permite
(índice de massa corporal) boa iluminação e liberdade de movimentos
Duma forma sumária observa-se ainda a ao examinador. Para o exame vulvo-perineal
POSTURA, quantas vezes anómala e que o mais apropriado é o “vulvoscópio”, que não
explica uma infinidade de queixas álgicas in- é mais do que um sistema utilizado frequen-
suspeitadamente não relacionáveis com as temente em depilação e que consiste numa
anomalias posicionais. lente de aumento com lâmpada fluorescente

100 Capítulo 5
em redor. Muito embora esta altere um pou- No monte de Vénus interessa observar as ca-
co a coloração cutânea, mostra-se de uso fá- racterísticas quantitativas e qualitativas da
cil e cómodo. Eventualmente poderá usar-se pilosidade. Pode haver escassez, como quan-

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o colposcópio para estudo de pormenor. do de algumas insuficiências hormonais ou
O exame deve iniciar-se com a observação na velhice, ou pelo contrário exagero como
das estruturas genitais externas (vulva), in- quando existe tumor produtor de androgé-
cluindo o ânus e a região perianal. nios. A distribuição pilosa também é impor-
O primeiro contacto físico com a consulente tante. Habitualmente na mulher a pilosidade
deve ser realizado na face interna das coxas, púbica termina bruscamente por uma linha
o que permitirá verificar de qualquer ten- horizontal que dá à pilosidade a configura-
dência à hiperreactividade motora sinal de ção de um triângulo de base superior. Nos
necessidade de actuação complementar de casos de virilização a distribuição tende a ser
relaxamento e de cuidado para não magoar de tipo masculino, em losango com o vértice
em caso de reacção de defesa9. Não esque- superior a atingir o umbigo, havendo ainda
cer que se a doente for alérgica ao látex de- frequente extensão para as coxas.
vem usar-se luvas de vinilo9. Devem, de seguida, observar-se as distintas
Para a observação mesmo sumária das for- formações vulvares, em regra de forma rápi-
mações vulvares requer-se afastamento, para da, começando pelo clítoris, grandes e peque-
o que se aconselha a utilização da mão (não nos lábios, fúrcula, períneo, meato e hímen.
dominante) enluvada, sendo altamente reco- Os grandes lábios são pregas cutaneoadipo-
mendável utilizar ambas as mãos sempre que sas de cor castanha escura. Podem estar alte-
a exploração deva ser mais pormenorizada rados na sua morfologia (tumores) ou na sua
(figura 1). É então fácil inspeccionar cuida- textura (dermatoses). Os pequenos lábios têm
dosamente as ninfas e as formações menos dimensões muito variáveis de uma mulher a
expostas, como o clítoris, o meato uretral, os outra, não tendo esta variação usualmente
orifícios das glândulas periuretrais, as paredes qualquer significado. Sofrem usualmente pro-
do vestíbulo, o rebordo himeneal, a fossa na- cesso de atrofia após a menopausa.
vicular, a fúrcula, sendo ainda o afastamento A fenda vulvar encontra-se habitualmen-
essencial para a boa visualização do ânus, re- te encerrada por aposição dos lábios, mas
gião perianal e sulco internadegueiro. pode mostrar-se aberta nos casos de hipo-
tonicidade do esfíncter vulvar (como ocorre
com frequência na multípara) ou de defici-
ência anatómica (laceração perineal).
Terminada a inspecção simples, deve prati-
car-se observação sob esforço (manobra de
Valsalva ou tosse provocada) no intuito de
descobrir eventual prolapso e/ou incontinên-
cia urinária (neste caso sendo útil repetir o
exame com repleção vesical). A exposição do
intróito é agora uma vez mais imprescindível.

2.3.2. ESPECULOSCOPIA
- EXAME COM ESPÉCULO

Figura 1. Inspecção vulvo-perineal: recomenda-se o Se existe unanimidade em relação à execução


uso de ambas as mãos para melhor exposição das es- da inspecção simples antes de qualquer ou-
truturas a observar. tro passo do exame dos genitais femininos, o

Semiologia Ginecológica 101


mesmo não sucede em relação à ordenação consulente o seu aquecimento ligeiro, por
dos restantes. Em princípio o exame com es- manutenção na mão enluvada durante al-
péculo deve anteceder, por rotina, a execução guns segundos ou por humidificação com

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do toque. Isto porque com frequência se vai soro quente.
ter necessidade de realizar colheitas para dife- Muito embora a fenda vulvar se oriente no
rentes tipos de exame, umas vezes já previstas sentido antero-poterior, a verdadeira con-
quando do inicio da observação, outras, to- formação do orifício do intróito tem maior
davia, apenas consideradas durante a sua re- dimensão latero-lateral, pela presença das
alização. Ora, quer pelo simples traumatismo estruturas anteriores (meato, clítoris), que
dos dedos sobre as estruturas cervico-vagi- são ainda as mais sensíveis. É, pois, impor-
nais, que pode induzir hemorragias em lesões tante evitar todo o traumatismo a este ní-
friáveis destes segmentos, quer consequência vel pelo que se aconselha a introdução do
do uso habitual de lubrificantes, que torna espéculo em posição horizontal5, com leve
eventualmente mais cómoda a introdução pressão no sentido posterior para aumen-
dos dedos enluvados, altera-se o “meio” geni- to do orifício vulvar pela retropulsão da
tal, podendo levar-se à negativação de estu- fúrcula. A passagem do intróito vence-se
dos culturais (particularmente para Neisseria facilmente por afastamento das estruturas
gonorrhoea), bem como à invalidação de co- labiais com a mão não dominante enluva-
lheitas para exames a fresco ou citológicas, da10, a qual dá assim acesso quase directo à
pela presença de sangue. Assim sendo, pro- cavidade vaginal (Figura 2).
põe-se como norma a execução do exame
com espéculo precedendo o toque. Situações
há, porém, em que é aconselhável a inversão
desta ordem. Sê-lo-ão casos de suspeita de
deformações da cavidade vaginal (septo va-
ginal, por exemplo) ou de dificuldade na pre-
sunção das verdadeiras dimensões desta.
A escolha do tamanho apropriado de espé-
culo faz-se correntemente com base no co-
nhecimento dos antecedentes sexuais (de
menores dimensões nas mulheres que nun-
ca tiveram relações) e obstétricos (maiores
na multípara), bem como tendo em atenção
a idade (menores dimensões após a meno-
pausa). Contudo, particularmente quando Figura 2. Afastamento bidigital das formações labiais
existe suspeita de intensa atrofia ou de mal- para exposição do vestíbulo e introdução horizontal do
formação vaginal, o receio de poder provo- espéculo. O polegar da mão auxiliar é particularmente
car laceração da parede por hiperdistensão útil para a manutenção do espéculo no local enquanto
quando da abertura do espéculo (o que de ajusta o mecanismo automático.
facilmente ocorre nestes casos) leva a que
se avalie inicialmente a capacidade vaginal
através do toque. Com experiência pode introduzir-se o espé-
Não existe usualmente qualquer necessida- culo apenas com recurso a uma das mãos,
de de lubrificação do espéculo, já que a vagi- sendo então preferível realizar a transposição
na é um órgão fisiologicamente lubrificado. do vestíbulo com as valvas bem fechadas e
Quando em climas frios se usam espéculos obliquadas6 segundo Auvard1, de modo a evi-
metálicos é um acto de consideração para a tar as estruturas de localização anterior10.

102 Capítulo 5
Deve ter-se igualmente em consideração o patologia cervico-vaginal presente (se exis-
facto de ser o canal vaginal na posição gine- tir); a data do inicio da última menstruação
cológica levemente oblíquo (eixo a 45º, em di- (DUM); o tipo de contracepção em uso (hor-

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recção ao sacro) e a necessidade de introduzir monal, local, DIU); bem como eventuais tra-
o espéculo fechado, de molde a evitar toda e tamentos locais efectuados recentemente.
qualquer preensão de pregas vaginais.
Uma vez colocado o espéculo avaliar-se-ão 2.3.3. TOQUE VAGINAL – TOQUE COMBINADO
então as características macroscópicas do
fluido vaginal, das paredes da vagina e do A palpação endocavitária ou toque cons-
colo uterino. titui parte importante do exame ginecoló-
Ao realizar colheita para citologia de ras- gico. Ao contrário, porém, da observação
treio o primeiro cuidado a ter é respeitar as visual, requer experiência para que se con-
contra-indicações. siga a necessária confiança e segurança no
As lâminas devem estar bem limpas: imersão método. Alguns dos parâmetros são tão
em álcool seguida de secagem suave com subjectivos que é corrente aperceberem-se
pano seco, sem friccionar, para não produzir consideráveis disparidades entre observa-
electricidade estática indutora de modifica- dores e até no mesmo examinador em dife-
ções morfológicas celulares. Para a colheita rentes momentos.
prefere-se a escova Cervex, realizando uma É aconselhável cumprir uma sequência siste-
ou duas rotações completas, sempre para o mática do exame, que iniciado pela palpação
mesmo lado. Se se não utilizar o transporte da parede vaginal posterior, se continua pela
em meio líquido, faz-se o esfregaço por pas- exploração do colo uterino, do corpo, de um
sagem da espátula ou do Cervex sobre a lâ- e outro anexo para terminar com a pesquisa
mina, sempre no mesmo sentido (para não de sensibilidade vesical (a bexiga está dese-
plicaturar as células), tendo o cuidado de javelmente vazia).
evitar os acúmulos de material que corres- Uma forma prática de descrever o volume
ponderão a espessa sobreposição de células uterino é a de o fazer corresponder à evo-
que dificultará a leitura ao microscópio. A fi- lução do mesmo numa gravidez em primi-
xação pode fazer-se com aerossóis, o usual gesta. Dito de outra forma, uma vez que
por mais cómodo, ou por imersão em álcool “útero normal” varia de acordo com a idade
a 70º ou mistura álcool/acetona. No primei- e a paridade, em consequência da chamada
ro caso podem as lâminas ser enviadas para hipertrofia benigna, em termos absolutos
o laboratório, mesmo por correio, graças à quando se diz normal para uma determina-
sua embalagem em recipientes próprios, da mulher não se sabe exactamente qual o
de cartão ou plástico, rígidos que impedem volume inicial correspondente. É preferível,
que estas se partam durante o transporte; assim, definir aquele que corresponderia ao
no segundo por envio em frascos contendo da evolução de gravidez unifetal normal em
o fixador, separando-se aquelas por aplica- primigesta, critério segundo o qual o útero
ção dos vulgares “clips” metálicos, que im- de 4 semanas corresponde ao de nuligesta,
pedirão que se encostem umas às outras e o de 6 semanas ao de primípara e o de 8 se-
adiram entre si. manas ao de multípara, ainda que se saiba
Para além da correcção da técnica é ain- que não será assim necessariamente, crité-
da necessário informar o citopatologista, rio que justifica aliás o seu interesse.
a quem se devem fornecer todos os dados O fácil acesso a meios de imagem dispensa
considerados úteis para uma correcta avalia- hoje a preocupação de outrora de identifica-
ção dos casos. Dentro destes se incluem-se: ção dos ovários, sendo princípio prático que
a intenção do exame; a descrição sumária da se após um cuidadosa mas suave palpação, no

Semiologia Ginecológica 103


qual a mão colocada na parede abdominal tem avaliação dos paramétrios nomeadamente
função primordial na aproximação dos anexos a sua espessura (exemplos: parametrites,
aos dedos intravaginais, se não conseguem os invasão tumoral); palpação anexial, quando

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mesmos sentir, não deverão ser os mesmos vo- não se conseguem tocar os anexos por via
lumosos (exclusão de tumoração). vaginal, por vezes devido a colocações re-
Antes de remover os dedos da vagina é con- tro-uterinas (exemplo: retroversão uterina);
veniente explorar a sensibilidade da vagina, palpação muscular e osteo-articular pélvica,
em toque combinado com a palpação abdo- imprescindível nas doentes com processos
minal e depois realizar uma avaliação da ca- dolorosos (exemplos: coccigodínia, nevral-
pacidade clónica da musculatura peri-vagi- gia do pudendo, mialgia dos elevadores).
nal, para o que se coloca(m) o(s) dedo(s) no Detalhe relevante é o da técnica de introdu-
eixo da cavidade e se solicita à examinanda ção do dedo para o toque rectal7,11. Para que
que contraia os elevadores do ânus com a seja o menos desconfortável possível há ne-
máxima intensidade possível, como se qui- cessidade de se avisar sempre quando do seu
sesse interromper bruscamente a micção. início, e após solicitar descontracção e apoiar
Se o examinador sentir pressão sobre o(s) a polpa do dedo no orifício anal, aguardar até
dedo(s), que os empurra para dentro e para à percepção de relaxamento esfincteriano. É
cima durante pelo menos 3 segundos consi- então que é o dedo introduzido, não por pro-
dera-se existir uma boa resposta10. gressão directa, mas por rotação das falanges
distais, exercendo leve pressão no bordo pos-
2.3.4. TOQUE RECTAL terior para facilitar o acesso.
Terminado o exame físico ou objectivo deve
Definido como obrigatório pela escola ame- realizar-se uma listagem dos exames auxi-
ricana é o toque rectal, em geral, menos liares realizados, requisitados ou a pedir, no
informativo do que o vaginal, quer por ser capítulo da Ox (orientação clínica), que se
mais incómodo, pela dilatação anal, quer por propõe. Finalmente, é da maior importância a
ser mais restritivo em termos de espaço de conclusão deste resumo clínico com a explici-
manobra para o examinador. Efectivamente tação dum Dx (diagnóstico), quando muito
não só é sistematicamente unidigital, como provável, ou de outros com que haja necessi-
ainda a tonicidade do esfíncter anal impe- dade de diferençar, descrevendo-se, quando
de uma certa profundização do dedo que for caso disso a Tx (terapêutica) prescrita.
toca. Porém, situações há em que este está Em alguns casos dever-se-á ainda incluir uma
indicado, e que são: impossibilidade de re- descrição do Px (prognóstico) que foi dado à
alização do toque vaginal (exemplos: age- doente e/ou aos seus familiares.
nesia ou diafragma vaginais); exploração do
septo recto-vaginal, por vezes associando
toque vaginal ao toque rectal, por introdu- Bibliografia
ção do dedo médio no recto e do indicador
na vagina - toque vagino-rectal combinado 1. Auvard A (1892) - Traité Pratique de Gynécologie.
Octave Doin Éditeur, Paris
de Récamier1- (exemplo: pesquisa de ente- 2. Berek JS, Hillard PJA (2003) – Initial Assessment and
rocelo); confirmação de retrodesvio uterino Communication. In Berek JS – Novak’s Gynecology
13th Ed. Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia
em que nestas situações, ao contrário do Chap. 1 pg. 3-20
normal, não se perde contacto com o útero 3. Sproul K (2007) – Approach to the Patient. In DeCherney
AH, Nathan l, Goodwin TM, Laufer N, McGraw-Hill Co
acima do colo; palpação da face posterior do Inc,New York, 10th Ed, Chap. 1, pg. 1-4
útero que pode ser facilitada se, quando do 4. Kawada C (2007) – Gynecologic History, Examination
& Diagnostic Procedures. In DeCherney AH, Nathan l,
toque rectal, induzirmos com a mão abdo- Goodwin TM, Laufer N, McGraw-Hill Co Inc,New York,
minal um desvio posterior do corpo do útero; 10th Ed, Chap. 33, pg. 519-539

104 Capítulo 5
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Semiologia Ginecológica 105


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Capítulo 5
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