Você está na página 1de 60

Universidade Federal de Campina Grande

Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido


Unidade Acadêmica de Tecnologia do Desenvolvimento
Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia

Introdução ao estudo da irrigação: histórico


e desenvolvimento

Dr. George do N. Ribeiro


Professor

Sumé – Paraíba
Aula 2 – 15 de outubro de 2014
Considerações iniciais
 O que é irrigar: é a aplicação artificial de água às plantas, visando
suprir a falta, insuficiência ou má distribuição das chuvas. De caráter:

 Complementar: regiões úmidas (>600mm.ano-1) com má


distribuição temporal e espacial das chuvas
 Planta pode completar o ciclo sem a irrigação.
 Má distribuição de chuvas.
 Melhorar a produtividade.
 Decisão econômica. Região Sudeste.
 Essencial ou total, ou obrigatório: em zonas áridas
(<400mm.ano-1 e semiáridas (400 a 500mm.ano-1).
Planta não completa o ciclo sem a irrigação.
 Nordeste e estufas.
Conceitos
 Clássico
 Aplicação artificial de água ao solo, em intervalos definidos e
em quantidade suficiente para fornecer às espécies vegetais
umidade ideal para seu pleno desenvolvimento.
 Conservacionista
 Aplicação artificial de água ao solo, através de métodos capazes
de atender da melhor forma possível as condições do meio físico
(demanda de água da cultura, condições topográficas do
terreno, capacidade de retenção de água do solo ...) e aos
objetivos desejados (maximizar a produtividade, maximizar o
lucro ...) com mínima degradação ambiental
Conceitos
 Social
 Por uma perspectiva social, a irrigação deverá ser definida como
uma prática agrícola capaz de maximizar os benefícios totais,
incluindo os benefícios não monetários como a segurança
alimentar, a geração de empregos, a melhoria das condições
sócio-econômicas das comunidades rurais, a fixação do homem
no campo e a proteção da qualidade da água.

Sempre é possível compatibilizar desenvolvimento e


proteção ambiental
Objetivos da irrigação
 Objetivos financeiros
 Maximizar a relação benefício/custo com o aumento da
produção, quer em quantidade, quer em qualidade, ou
incorporar à agricultura terrenos que, sem o uso da irrigação,
não poderiam ser cultivados.

 Objetivos sociais
 Há situações em que os aspectos sociais são mais relevantes que
os financeiros (projetos públicos de desenvolvimento regional):
segurança alimentar; fixação do homem no campo, melhoria das
condições sócio-econômicas de comunidades rurais.
Questões clássicas da irrigação
 Quando irrigar – trata da definição dos intervalos entre
aplicações de água e da época de paralisação das irrigações,
de forma a atingir os objetivos desejados.

 Quanto irrigar – trata da definição da quantidade de água a


aplicar por irrigação para atingir os objetivos almejados.

 Como irrigar – trata da seleção do método de irrigação


mais adequado para atender aos objetivos almejados.
Como e quando surgiu a irrigação?
 4.000 AC – Mesopotâmia – Canais – hoje Turquia e Iran (rios
Tigre e Eufrates)
Como e quando surgiu a irrigação?
 3.000 AC – Egípcios – Vale do rio Nilo
Como e quando surgiu a irrigação?
 China – cultivo no Vale do rio Amarelo
Como e quando surgiu a irrigação?
 Índia – cultivo no Vale do rio Indus
Como e quando surgiu a irrigação?
 Incas – Peru
Como e quando surgiu a irrigação?
 Maias – México
Como e quando surgiu a irrigação?
 Itália – aquedutos 312 AC
A irrigação no mundo e Brasil: histórico
 FAO (1997): 17,73% de áreas irrigadas (267.727.000 ha)
A irrigação no mundo e Brasil: histórico
 Na América do Sul, área irrigada em relação às áreas
cultivadas: Brasil (4,85%), Chile (55,29%) e o Peru
(41,90%)
A irrigação no Brasil: histórico
A irrigação no Brasil: histórico
A irrigação no Brasil: histórico
A irrigação no Brasil: histórico
A irrigação no Brasil
Região 1996 2004 Crescimento (%)
Mil hectares irrigados
Norte 87 99 27,10
Nordeste 495 732 71,04
Centro-Oeste 202 318 67,36
Sudeste 891 988 20,27
Sul 1196 1301 13,40

Brasil 2871 3438 29,52


Fonte: Christofidis (2006) e Censo Agropecuário.
Indicadores de áreas plantadas e
irrigadas no Brasil - 2006
Indicadores de áreas plantadas e
irrigadas no Brasil - 2006
Potencial para irrigação no Brasil

Potencialidade para desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada no brasil


Distribuição da irrigação no Brasil

Área irrigada por método de irrigação


Uso da irrigação no Brasil - 2004
Região localizada Pivô-central Aspersão Superfície
Convencional
Norte 4,5% ↑ 2,0% ↑ 9,2% ↑ 84,3%
Nordeste 24,7% ↑ 15,0% 32,5% 28,3%
Centro- 8,1% 60,9% ↑ 11,0% ↓ 20,0%
Oeste ↑↑
Sudeste 11,8% ↑ 37,1% 29,5% 22,0% ↓

Sul 1,4% ↑ 2,9% ↑ 7,0% ↑ 88,7%

Brasil 9,8% 20,6% 19,3% 50,3%


↑↑
Fonte: Christofidis (2006) e Censo Agropecuário.
Métodos de irrigação
1. Superfície
2. Aspersão
3. Localizada
4. Subsuperfície ou subirrigação
1. Método de irrigação por superfície
 Utiliza a superfície do solo.
 Distribuem a água na superfície por gravidade.
 Nivelamento da superfície do solo.
 Simplicidade operacional.
 Baixo custo.
 Independe da altura das plantas.
 Exige de maior mão-de-obra.
 Necessita de muitos parâmetros de campo para projetos.
 Não permite a fertirrigação.
 Apresenta baixa eficiência de aplicação (em média 50%).
Sistemas de Irrigação:

• Irrigação por sulcos

• Irrigação por inundação


 faixas
 tabuleiros
Irrigação por sulcos
Faixas

Tabuleiros de
Arroz
2. Método de irrigação por aspersão
 A água é aplicada ao solo em forma de chuva por aspersores.
 Pode ser usada em combate a geadas, aumentar a umidade relativa,
reduzir o aumento da temperatura e descarte de resíduos.
 Dispensa o preparo do solo.
 Permite bom controle da lâmina de irrigação.
 Alto custo de implantação e gastos de funcionamento.
 Favorece desenvolvimento de algumas doenças.
 Imprópria para água com alto teor de sais.
Sistemas de Irrigação:
• Irrigação Convencional  portátil
 fixo - portátil
 fixo - permanente
• Mecanizado  lateral rolante
 pivô-central
 sistema lateral
 Montagem direta
 autopropelido
Convencional

Convencional
Fixo permanente
Mecanizado: Lateral rolante
 Culturas de porte baixo
 Teve pouco uso no Brasil
Mecanizado: Pivô Central
 Redução no custo por hectare em função do aumento da área
irrigada.
 Caminhamento impulsionado por moto – redutores instalados em
cada torre.
 Sistema mais utilizado na região
cerrado brasileiro.
 Requer pouca mão-de-obra.
Mecanizado: Sistema Linear
• Semelhante ao pivô central.
• Indicado para áreas retangulares.
• Utilizado para irrigação complementar.
Mecanizado: Montagem Direta
• Aplicação de vinhaça

• Composto por:
• - canhão hidráulico
• - bomba centrífuga
• - sucção especial
• - montados sobre chassi de
4 rodas geralmente
tracionado por um trator
Mecanizado: Autopropelido
 Movimentado pela energia hidráulica
 Composto por : canhão; mangueira de alta pressão (até
500m), cabo de aço ou carretel enrolador.
Cabo de aço
Carretel enrolador
3. Método de irrigação localizada
• A água é aplicada em pequenas vazões sob a copa das plantas, na
região do sistema radicular.
• Reduz a superfície do solo molhada.
• Não folha as folhas.
• Reduz plantas invasoras.
• Alta eficiência de aplicação.
• Fertirrigação.
• Baixas pressões.
• Alto custo implantação.
• Sensível a entupimentos.
Sistemas de irrigação localizada

 gotejamento Superficial
Subsuperficial (enterrado)

 microaspersão
Gotejamento superficial
 Bastante utilizado em
árvores frutíferas,
morango, tomate,
café, plasticultura,
paisagismo, ...

 Indicado culturas
espaçadas ou de alto
valor.
 Gotejamento em morango
 Gotejamento em linha dupla em
banana

Gotejamento em café
Gotejamento subsuperficial
• Sistema totalmente enterrado.

• Utilizado em cana-de-açúcar,
tomate, melão, gramados e jardins.
• Aplicação de água residuária.

• Reduz perdas por evaporação na


superfície do solo.
• Reduz a incidência de plantas
invasoras.
• Estimula crescimento do
sistema radicular.
• Alto custo de instalação.
• Dificuldade de manutenção.
• Apresentas problemas com
intrusão radicular.
Gotejamento subsuperficial em tomate
Gotejamento
em vasos

Tubos exudantes
Microaspersão
• A água cobre uma pequena área
próxima ou abaixo da copa da
planta.
• Bastante utilizada em
paisagismo e campos de golf.
• Menos problemas com
entupimento.
4. Método de irrigação por
subsuperfície
 Também chamado de subirrigação

 Controle do lençol freático

 Irrigação associada à drenagem

 A ação capilar atrairá a água do solo para a zona


radicular.
Vantagens do uso da Irrigação
 suprimento em quantidades essenciais e em épocas oportunas das
reais necessidades hídricas das plantas cultivadas podendo
aumentar consideravelmente o rendimento das colheitas;
 garante a exploração agrícola, independentemente do regime das
chuvas;
 permite o cultivo e/ou colheita duas ou mais vezes ao ano (milho,
feijão, batata, frutas, etc) em determinadas regiões;
 permite um eficaz controle de ervas daninhas (arroz por
inundação); e,
 por meio da fertirrigação, facilita e diminui os custos da aplicação
de corretivos e fertilizantes hidrossolúveis; etc.
Desvantagens do uso da Irrigação
 Alto custo inicial de investimento
 Irrigação por superfície U$ 500 a 800.ha-1
 Irrigação por aspersão U$ 800 a 1.000.ha-1
 Irrigação por pivô central U$ 1.200 a 2.000.ha-1
 Irrigação localizada U$ 1.800 a 3.000.ha-1
 Mão de obra especializada
 Manutenção, operação e manejo
 Impactos ambientais
 Alteração de ecossistemas, salinização dos solos, contaminação
dos recursos hídricos (resíduos de agroquímicos, eutrofização (N,
P), assoreamento), problemas de saúde pública, esquistossomose,
proliferação de mosquitos, verminoses.
Critérios para seleção do método de
irrigação
 topografia
 características do solo,
 quantidade e qualidade da água,
 clima,
 cultura e,
 Considerações econômicas.
Irrigação: Perspectivas e desafios
 Uma mudança fundamental deverá ocorrer nas práticas de
irrigação nos próximos anos, em decorrência das pressões
econômicas sobre os agricultores, da competição pelo uso da água
e dos impactos ambientais da irrigação. Esses fatores deverão
motivar uma mudança de paradigma da irrigação, enfocando mais
a eficiência econômica do que a demanda de água para máxima
produtividade.

 A irrigação ótima implica menores lâminas aplicadas do que a


irrigação plena, com consequente redução na produtividade da
cultura, porém, com algumas vantagens significativas: aumento da
eficiência de uso de água; redução dos custos da irrigação;
aumento da receita líquida; mitigação dos riscos associados aos
impactos ambientais da irrigação plena.
Exercício
1. Pesquisar sobre os temas elencados a seguir e trazer um
resumo (1 lauda) de cada um:
 A irrigação e o meio ambiente;
 Contaminação dos mananciais hídricos;
 Cobrança pelo uso da água para irrigação.

Você também pode gostar