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Em todo lugar existe esse risco. Não digo que é certo, mas eu acho
que o pessoal o subestima ; na tradição marxista, a gente está
dominado pela ideia de que as direções finalmente não vão decidir Commented [1]: Leonardo da Hora: eu acho que esse
momento que ele delineia uma outra filosofia da
historia para o marxismo, fala do processo, etc., é um
nada, ou, pelo menos, que seu peso é adjetivo, quem decide é o ponto teorico fundamental na reflexao dele, pra pensar
a ruptura. Acho que poderia ser um dos destaques.
“processo“. Mas a experiência histórica – e eu ando mergulhado no
assunto comunismo agora – mostrou que foram as direções que
decidiram. Na realidade, as piores direções. China, Rússia: as direções
“fizeram“ o movimento histórico. Uma história de horror! História
de morticínios. Mas também se poderia considerar de outro jeito. É o
“processo“ sim que decide, mas o “processo“ (a tendência dominante)
não é aquela que o marxismo, muito otimista, indicava. O “processo“
não vai lá onde a gente pensa que vai. Isso significa que eu estaria
abandonando a ideia de revolução em geral (não falo de
revolução armada, isso é mais específico e, sem excluí-la em geral,
é muito problemático)? Não sei se o nome é “revolução“, mas eu
diria: a ideia de uma ruptura eu não abandono. Até pelo
contrário. Acho que, no fundo, todo verdadeiro processo
emancipatório se apresenta como uma verdadeira ruptura no (ou
com o) processo histórico. Num sentido muito mais radical do que
o marxismo pensava. Nós não estamos caminhando para uma
sociedade emancipada; a história, abandonada a ela mesma (mas
atenção: mesmo incluindo os movimentos tais como eles se
pensam atualmente) caminha em outra direção. Há uma inércia
da história, que é mais forte do que a que o marxismo supunha. O
que eu estou dizendo implica outra filosofia da história, uma
filosofia da história não marxista, que nunca foi a nossa, até aqui.
É um pouco o que eu tenho na cabeça. Em termos mais banais, eu
diria que o pessoal é muito otimista. A turma mais jovem está
animada, mas é preciso pensar de forma crítica: participe, mas tome
certa distância, senão a crítica é impossivel. Não caia no “oba-
obismo”, critique as coisas sem perder o movimento. O movimento
está aí, o movimento é sério; você não vai se afastar dele, mas não
acredite que as coisas vão terminar bem porque o processo está indo....
Isso vale para o caso das manifestações, vale também para os
problemas da USP.
No entanto – esse ponto que eu queria abordar – esse ano você tem
uma diferença em relação às eleições anteriores porque Aécio Neves
será o candidato do PSDB e ele tem adotado uma postura bastante
mais agressiva do que as candidaturas do Geraldo Alckmin e José
Serra. Ele tem falado abertamente em ampliar a privatização, ele tem
falado abertamente em dar autonomia para o Banco Central, em
recuperar a taxa Selic para que o Brasil se torne primordialmente um
país interessante ao capital especulativo. Enfim, ele tem de fato
adotado uma plataforma muito mais aberta e muito menos tímida em
relação a Serra e Alckmin. O economista Armínio Fraga, futuro
ministro da Fazenda caso Aécio vença as eleições, disse que o salário
mínimo está muito elevado.
E o [Fernando Henrique] Cardoso topa isso tudo?
Você acha que o governo FHC ainda não teve um balanço histórico?
Eu gostaria de me informar melhor, mas tem algum bom livro crítico,
suficientemente abrangente, sobre isso? Eu acho que não tem. Para
mim, se o fanatismo privatizador é certamente um desastre, eu
gostaria de ter uma análise crítica precisa de cada uma das
privatizações, e do destino delas. Também análise das alternativas. E
dos outros aspectos dos governos Cardoso. Eu queria ter isso tudo
muito preciso, porque só assim a crítica é eficaz.
Mas uma coisa. Independentemente do juízo que se possa
fazer do governo Cardoso, na situação atual há um real perigo de que
a direita volta ao poder, com Aécio ou com outro. Quaisquer que
sejam os defeitos do PT – na medida em que ele não descambou para
um totalitarismo autoritário, o que não aconteceu – é muito melhor,
nas condições atuais, um governo petista do que um governo tucano
ou equivalente. As insuficiências da governança petista não seriam
atenuadas mas agravadas (desigualdade, condições de trabalho,
mesmo ecologia etc etc). Assim, é preciso lutar para que a direita, ou
mesmo o centro-direita, não volte ao poder. Por outro lado, me assusta
muito a direita e a extrema direita fortes. Esses jornalistas de extrema
direita estão na ofensiva, aproveitando as tolices da esquerda. Sob
pretexto de pluralismo, a Folha contrata gente notoriamente
extremista, e cujas ligações reais a gente desconhece. Um erro.