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Artigo apresentado no14º Encontro Internacional de Arte e Tecnologia - #14.

ART (Aveiro-Portugal)

"O intervalo da Invenção: a duração como potência e singularidade


nas artes enquanto Recombinantes Arquitetônicos"
Sidney Tamai1

Resumo: o artigo busca uma abordagem de invenção artística onde a


questão do tempo é entendida enquanto duração. Coloca como molas
impulsionadoras a desmaterialização da cultura, o campo ampliado e
transdisciplinar, além do tempo como duração em Bérgson. O intervalo
enquanto duração permite uma autoria da ausência que relaciona essas
questões em um campo experimental nomeados de Recombinantes
Arquitetônicos e desenvolvidos com alunos de cursos de Arquitetura.
Palavras chave: duração, arte, arquitetura, invenção

A espera
Esse artigo surgiu primeiro da implicação do Tempo nos trabalhos
que desenvolvo na universidade e na necessidade de abordagem específica
via temporalidade em um mundo cada vez mais desmaterializado, que
transita do objeto para a escala do evento. Proponho a geração de
Intervalos como Invenção em uma realidade de narrativas contínuas sem
cortes, de temporalidade formada por instantes fragmentados desvinculada
do emaranhado heterogêneo e complexo da memória e da própria vida. O
presente é esvaziado, onde tudo é volátil e efêmero de roupas a ideologias.
A espacialidade torna-se rasa, ríspida. Espacializa-se tudo inclusive o
tempo, objetualizando tudo, tornando visível e manipulável o mundo dos
objetos e das relações. Se vive assim e assim se inventa estruturado nessa
e para essas convicções que nomeamos de realidade.
A segunda origem que incorpora a primeira, foi da observação de
como rapidamente meus alunos dos cursos de Arquitetura e Artes resolviam
os problemas a eles apresentados e perceber que quase sempre essa
solução estava na primeira e única ideia que tiveram a respeito do
problema. Não havia a Espera ou Demora reflexiva com possível
aparecimento de novas ideias e o imbricamento nessas ideias provocadas e
resultadas por desenhos, maquetes, falas e até a invenção de outras formas
possíveis de pensar e projetar. A primeira solução quase sempre
apresentada pelos alunos era de baixa complexidade, redundante e
geralmente simbólica/figurativa. O estudante apresentava o que se
esperava dele, ou o que ele acreditava que se esperava dele e que seria um
consenso aprovável. O objetivo era acertar o que o professor queria como
resultado, não havendo Tempo para o Erro, produzindo no aluno uma
ausência anônima impositiva ao objeto e não uma autoria ausente, mas não
alienada.

O esperar transitivo
A hipótese pensada é que para esse mundo de baixa adesão material,
de eventos signados dever-se-ia entender a mobilidade das coisas do
mundo e procurar produzir estratégias a partir do eixo de temporalidade.
Temporalidade essa que estabelecesse continuidade, apoiado na memória
viva e dinâmica, fazendo aparecer diferenças e potencializando o devir.
Que permitisse ao sujeito ser articulador de seu eixo de singularidade.
1
Professor Doutor, Unesp, Faac/Darg sidneytamai@faac.unesp.br
Essa estratégia temporal de diferenças permite gerar intervalos ou
esperas que podem ser suporte para repensar as artes n dimensionais que
se apresentam e articulam cada vez mais como tempo. Portanto, a
presença do Intervalo ou Tempo complexo tanto na produção do mundo
material/espacial como no processo de invenção desse próprio mundo.
Essas preocupações e dúvidas apresentadas andaram juntas e
descompassadas às estratégias didáticas que desenvolvi nos cursos de
Arquitetura e Artes em algumas universidades nas últimas duas décadas.
Experimentalmente propus prolongar os termos de decisões em projeto
lentificando as etapas projetivas. Tive como referência Louis Kahn em seu
conceito de deformações contínuas e progressivas e que foram se
transformando enquanto proposta. Passa-se a dialogar arquitetura com
outras artes tridimensionais e isso trouxe mudança nos resultados. São
essas mudanças no berço das tensões e diferenças que o artigo também
procura entender e articular como Espera através da ideia de Intervalo, ou
seja a temporalização, como articulador transitivo essencial dos processos
projetivos de invenção.

O intervalo como duração


Para entender a posição da proposta algumas considerações sobre o
contexto cultural, produtivo e tecnológico ajudam a esclarecer o percurso,
tais como a desmaterialização da cultura; o transdisciplinar e o transensual
bidirecional; o caráter do Tempo e Intervalo para só depois apresentar
como isso resultou em experiência didática concreta.
Ha em curso um processo de forte desmaterialização da cultura, com
descolamento da informação de uma base material densa. A baixa adesão
do material reprogramada em bits propõe um mundo omnipresente, em
rede ponto a ponto, de infraestrutura e superestrutura móvel e sustentável,
enfim do objeto rumo ao evento ampliando o caráter de signagem da
cultura.
Do ponto de vista histórico as tecnologias desmaterializantes
funcionam como mediadoras e aceleradoras da nossa percepção do tempo.
O tempo do homem artesanal, é o tempo ligado aos ritmos da natureza,
desde a sua respiração, pulsação, aos ciclos de vida e morte, das marés, do
dia, das estações etc. O tempo desse homem é sincrônico com o da
Natureza. A produção industrial nos colocou o tempo técnico, tempo
fragmentário dentro de um ritmo corporal fragmentário com jornadas de
trabalho e movimentos específicos e repetitivos nas máquinas. A Partir daí
em direção ao pós-industrial ocorre que o tempo ficou reduzido a objeto, ele
foi espacializado funcionalmente nas máquinas e entorno humano. É um
tempo mensurável, isotrópico quantificável, objetivado, ou seja foi criada
uma categoria de Tempo separada do sujeito.(1)
David Harvey coloca essas crises e transformações espaço-temporais,
são frutos da necessidade de o Capital girar e ter retorno o mais rápido
possível.
"Com efeito, o progresso implica a conquista do espaço, a derrubada
de todas as barreiras espaciais e a aniquilação (última) do espaço através
do tempo" (2).
Harvey especifica dizendo que o que há é a racionalização da
organização espacial para 1. produção eficiente, estabelecer redes de
circulação e 3. redes de consumo. Sendo o tempo lembrado, memorizado
não como um fluxo, mas como lembranças de lugares vividos,
esperimentados ocorre por esse efeito um colapso na cadeia significativa
cujo objetivo é reduzir a experiência a "uma série de presentes relacionados
no tempo" (3). A resultante é que os eventos são lisos, sem profundidade
temporal.
Essa intensa compressão do espaço-tempo, que nos traz um presente
permanente, que de acordo com Harvey é pela ação generalizado do giro do
capital cria volatilidade e efemeridade de tudo (moda, ideias,ideologias
etc.) e também a descartabilidade, de produtos, valôres, lugares e edifícios,
já que não há relações significantes entre ser e lugar.
Trocamos o firme pelo fluído e o espaço pelo tempo sem alterar as
formas de produção e abordagem metodológica.
Sob essa pressão do processo de desmaterialização e a construção do
tempo como vertigem há o deslocamento valorativo para a qualidade da
leveza. leveza que com novas técnicas construtivas nos traz o
impermanente, o ágil, o transparente, o nômade e a fluidez através das
formas mais líquidas.
Por outro lado a desmaterialização da cultura favorece a
compreensão do conceito de campo expandido entre artes/arquitetura
como um lugar de continuidade e potência. Um lugar de troca das
qualidades de linguagem disciplinar de uma arte para outra, ou entre meios
e metameios que modificam/qualificam a carga poética, portanto, lugar de
apropriação de outros procedimentos que aderem e modificam a prática e a
resultante de outra arte ou linguagem. Qualidades geradas por contato e
conflito entre meios e por outros procedimentos inter e transdisciplinares.
(4).
O Campo Expandido então, incorpora o transdisciplinar, traz potência
na especificidade, faz conexões e continuidades entre campos disciplinares.
(5) Nessa forma de pensar e agir, o artista propõe diversos arranjos
espaços-temporais que estão articulados através de origens
transdisciplinares. Onde se inventa o novo uma ação é parâmetro de outra
em outra parte do campo.
Essa posição Trans permite a mudança de um olhar perspectivado
para um olhar tátil através dos desenhos e da produção das maquetes de
estudos que trazem essa mudança. O espaço visual de um olhar
perspectivado separa os objetos uns dos outros e uniformiza tempo e
espaço pelo isolamento como canal receptor, tende a fazer uma leitura
homogênea e continua, valorizando os objetos dentro de um campo
preenchido e cheio. Já o espaço tátil sinestésico, promovido por outro olhar
comprometido com outros sentidos e atento aos vazios, aos intervalos,
separa o sujeito dos objetos mas é bidirecional, portanto nos faz perceber o
espaço entre os objetos e a relação heterogênea dos percebidos e de quem
percebe. Ao mesmo tempo estabelece uma continuidade úmida entre eles o
que subjetiva os objetos e de certa forma barra a dicotomia sujeito/objeto
Essa condição do observador atuante trouxe-me a memória uma fala
em sala de aula nos anos da década de 70 da professora de semiótica Roth
Nielba Turin, ao dizer que "alterando a forma de comunicação, alteramos o
sistema de representação, que por sua vez altera o conteúdo comunicado".
A desalienação bidirecional entre sujeito e objeto é dada pela
incorporação do vazio e portanto uma maior implicação do sujeito que
desestabiliza o sistema de representação e o conteúdo comunicado. De
certa forma nós olhamos o objeto que nos vê e nos lança além. Essa
argumentação é reforçada pela posição de Fenollosa e Pound no pequeno
livro “El caracter de La escritura china como médio poético” escrito em 1913
(6) que nos fala da diferença entre a língua ocidental não isolante e a língua
ideográfica chinesa. A estrutura ocidental opera por contigüidade linear,
garantida por uma separação entre tempo e espaço. As palavras são
reduzidas a menor possibilidade de significado, são ríspidas. É abstrata e
tem uma estrutura de subordinação para amarrar as ações de tempo que
foram explodidas. O pensamento é sempre um fio amarrado a linearidade
temporal, tal qual o princípio da perspectiva.
No carácter ideográfico um objetivo é mostrar a ação. É ambíguo e
aberto como um mosaico e apto a comunicar, dependendo do contexto,
uma multiplicidade de significados. É sempre contextual. O caráter
ideográfico da língua a dispõe espacialmente e, portanto oposta a uma
sequência discursiva. Seu signo não é arbitrário e nos remete as imagens
temporais da natureza. Essa poética fica em uma zona ambígua entre
escrita e pintura. É verbico-visual, assim como a poesia Concreta brasileira
que inicia no final dos anos 50. Essa escrita é concreta e nos fornece
múltiplas percepções, pois não há separação entre forma e tempo. As
palavras são plásticas e não separam a coisa da sua ação.
As implicações mais contundentes entre espaço e tempo até agora
abordadas nos leva a um afunilamento para melhor compreensão do
Tempo, ou das temporalidades que procurarão dialogar com as experiências
didáticas que serão apresentadas.
Para Allan Watts "os objetos são também acontecimentos" e nosso
mundo é mais um conjunto de processos que de entidades (7). Isso nos põe
diante dos elementos básicos da ordem temporal assim como são
entendidos: duração, ritmo, frequência, proximidade, repetição,
permanência, aceleração, transladação e ressonância que sempre são vistos
como uma dimensão complementar e a serviço da espacialidade.
A questão é que a temporalidade, como apresentado pelo filósofo
Bergson (8) é sempre entendida e mensurada através da espacialidade,
como já dito. Para ele o tempo não pode ser medido pois o que
normalmente se mede é o deslocamento de algo no espaço. Quando se
mede o tempo está se medindo de verdade o espaço, com suas unidades
estanques, fragmentárias, regulares como as de um relógio. O tempo é
transformado em espaço para se tornar visível e mensurável. É também
entendido como uma extensão e portanto com as qualidades e
características do espaço. Por isso Bergson lança o conceito de tempo como
Duração que não se coloca como mensurável.
O Tempo enquanto Duração é subjetivo e se faz presente pela
Memória viva, e dinâmica de todos e de cada um. Memória que viva repleta
de traços intensos que produz diferença ao selecionar o que deve ou não
ser esquecido. Memória não homogênea que inunda o presente com
resíduos do passado preparando o devir como um desdobramento
encorpado e singular. A Duração é também o Tempo como Diferença,
diferença dada pela multiplicidade dos tempos e sua heterogeneidade, do
tempo de vida e experiências do sujeito, do mundo ao redor e do presente
que contrai e presentifica essas diferenças.
O Intervalo que se apresenta como Duração é sempre a construção
da Diferença. Aqui marca o início para o entendimento das experiências que
realizei e realizo com estudantes de arquitetura no sentido de tornar
presente a leitura e transformações de elementos espacios-temporais a
partir da temporalidade, estimulando as transformações e mutações de os
espaços de caráter arquitetônicos em sua própria dimensão de vida fluída.
Mas como chegar, como entrar no objeto tema?
Para Bérgson há duas maneiras de se conhecer algo. A primeira é
analítica e ocorre por rodeamento da coisa em busca de pontos fixos e
redundantes e isso depende do nosso ponto de vista ao rodear e de nosso
repertório simbólico. Assim são gerados a maioria dos procedimentos
científicos. A segunda, é o que chama de intuitivo e pressupõe que
entremos na coisa sem nenhuma ponte referenciada por valores simbólicos,
mas espera atenta o que o objeto tem a oferecer. O pensador da fotografia
Mauricio Lissovsky chama essa atitude de Expectação como a "dimensão
pontual do tempo transformada em imagem" (9). Isso evidencia as
diferenças claras, sendo no que o espaço pode-se enquadrar a partir de um
ponto de vista, mas o tempo deve-se Expectar, esperar para que os
aspectos apareçam.
O intervalo enquanto duração permite uma autoria da ausência. Esse
intervalo durável é lugar móvel de contatos por similaridades no modo de
pensar, projetar e construir. As qualidades, antes certas de seu lugar,
flutuam e procuram outras conexões; conexões paratáticas, sem
hierarquias simbólicas e lineares. Não se pré-concebe o que e onde se
encaixará e posteriormente se desenha e projeta. O que ver e como ver ao
desenhar é um aprendizado pois as linguagens são imbricadas.
Lembrando que a forma é um aspecto em geral entendido como e
através de um ponto de vista, instante fragmentado e fixado da coisa
movente, que de fato está em constante transformação no tempo.
Para dar um exemplo compreensível dessas posições remeto a
experimentação didática: quando reduzo as variáveis de projeto
arquitetônico pra se pensar os Recombinantes Arquitetônicos (página 6)
São propostas variáveis e abertas tais como: o caráter arquitetônico do
modelo; a gravidade como uma linguagem articuladora; as portas não são
portas, mas aberturas; escalas são relativas ao material, ao caráter do
espaço; cheios e vazios contínuos e descontínuos; deslocamentos animados
pela gravidade ou pela repetição do piso e assim por diante. Minimizo a
carga simbólica dos elementos do conjunto espaço/tempo significantes,
deixando-os mais abertos a mudanças ou metamorfoses para a construção
de significados. Questões essas pensadas por desenhos e maquetes
adequadas.
Nesse primeiro processo de análise, ao espacializar o tempo, como se
o tempo tivesse as característica do espaço e assim analisado, perde-se a
qualidade da mudança e portanto a duração no tempo. Perde-se o antes e o
depois permanente do objeto. Por outro lado a opção de perceber o
movente do objeto como um recombinante arquitetônico é a que propõe-se
nos experimentos didáticos.
Para finalizar esse tema é preciso entender para concluir que hoje se
apresenta um mundo e especialmente uma arquitetura, como nos diz Ignasi
Morales, “cujo objetivo seja não o de ordenar a dimensão extensa, sim o
movimento e a duração”...”e de dar forma física ao tempo”(10).

Os recombinantes artísticos/arquitetônicos
Estamos trilhando a ideia de que a arquitetura desde o projeto até
sua execução segue o mesmo percurso em direção a desmaterialização,
passando do clássico firmitas de Vitruvio para a materialidade líquida da
temporalidade que nos traz a transparência, a leveza, o mutável de uma
arquitetura que se desloca com eixo do espaço para o do tempo. A crítica
que se faz é ao tempo arquitetônico enquanto sucessão de imagens
estetizadas e idealizadas e com as abordagens de projeto arquitetônico e
seus meios nessa mesma linha de compreensão.
A questão apresentada pensada enquanto professor de um curso de
arquitetura era como trazer as questões do Tempo pra estudantes iniciantes
do curso de arquitetura através dos limites das linguagens escrita, falada,
desenhada ou construída em escalas. No decorrer das práticas foi e está
sendo articulados os entendimentos estratégicos: 1º Trazer como agentes
provocadores a produção de arte espacio-temporais, em várias formas,
escalas e contextos a partir da Arte Concreta, passando pelo Minimalismo
até os Contemporâneos (A). De Vladimir Tatlin, Hélio Oiticica, Gordon Mata
Clark, Jesus Rafael Soto, Robert Smithson até Dan Graham. O aluno
pesquisa, acolhe o que identifica, o que o mobiliza entre infinitas escolhas
pode ser o Imaterial e o Invisível em Soto e Gego ou a diferença das
materialidade-temporalidade da Luz em Moholy-Nagy, Dan Flavin e James
Turrel. 2º Valorizar caráter arquitetônico do projeto e não a arquitetura
como tipologia, deixando-a como signo aberto, não redundante, não
dualista tipo forma/função e não simbólica. Nesse momento de pergunta ao
conjunto de caráter arquitetônico o que ele deseja ser, como faria Louis
Kahn. 3º Desenhar (B,C) a partir dos desejos da arquitetura, de quem
arquiteta e adequado a proposta de temporalidade enquanto duração
valorizando o fluir no tempo e a diferença que emergirá, utilizando croquis e
diagramas. 4º Na mesma linha do desenho produzir em todas as etapas
maquetes de estudos (D,E,F). Maquetes volumétricas, fáceis de fazer, que
respondam com qualidade aos elementos básicos propostos e abertas a
mudanças e metamorfoses para fazerem sentidos.

A- obras referenciais B- Desenhos dos alunos: croquis/diagramas


Esse trabalho dos Recombinantes Arquitetônicos dura cerca de sete
semanas com sete aulas de quatro horas. Parte-se de dois poliedros
divergentes que serão colocados em conflito espaço temporal em que
semana após semana serão abordadas novas questões do campo ampliado
da arquitetura, mas deriváveis controladas e que alterarão o rumo do
projeto. Toda aula os alunos apresentam para a turma o caderninho de
desenho, maquete com apresentação individual e aberta a problematização
por todos com intensas trocas.
Nesse percurso das aulas ocorrem transformações lentas que
arrastam traços não gêmeos de outras memórias artísticas antes estudadas
ou metamorfoses sem aparência com os artistas vistos e que revelam-se de
outras maneiras como na interação habitante/habitado ou no entendimento
da materialidade e ou temporalidade. O importante é que os recombinantes
arquitetônicos se retroajam pela diferença, como uma invenção dissimétrica
entre todas as origens que geram potências pela diferença de forças na sua
estrutura. A diferença dada por dissimetria nos conflitos tanto dos artistas
em relação aos recombinantes arquitetônicos, como dos conflitos dos dois
poliedros a procura de uma solução, vistos pelo intervalo como duração,
permitem que os desenhos (C) ou as maquetes (D,E,F) de estudos dos
alunos sejam singulares, frutos de quem escolhe e faz como ato. Nesse
conjunto de abordagem, de protométodo, o eixo é a potência nas diferenças
de linguagens e nos meios projetivos através de intervalos entendidos como
Duração e pontos de mudança que provocam a reinvenção de códigos e do
próprio objeto tema que apresenta sua mobilidade durante as sete
semanas.

C- Desenhos dos alunos: croquis/diagramas D- Maquetes recombinantes de estudos

E- Maquetes recombinantes de estudos F- Maquetes recombinantes de estudos

Conclusões:
É na incerteza da Função que a Arquitetura produz um sujeito. Esse
argumento só é possível de entender pois os trabalhos apresentados não se
representam como uma Arquitetura de um instantâneo temporal, de um
dualismo estanque e previsível como a relação clássica onde para cada
Função haverá uma Forma. O movente está nos processos de invenção
abertos, dos croquis as maquetes, também na forma como esses trabalhos
são problematizados pelo conjunto alunos/professor e ainda como
resultados em possíveis arquiteturas. Esses três entendimentos do movente
estão nos procedimentos propostos pela diferenças que apresentam no
percurso, diferenças essas que funcionam como molas impulsionadoras que
lançam para o devir que também se apresentará incompleto na sua
característica de signo assim mantendo a mobilidade do que está em
aparente mas não em redundante repouso.
O intervalo enquanto duração permite uma autoria da ausência e
inédita, sendo essa expectação de lenta espera, de observação e tomadas
de decisão sobre os trabalhos, apresentam-se cada vez mais semelhante a
algo como a arquitetura contemporânea de base temporal que se procura
resolver. Essas atitudes põem por terra a perspectiva de sucessão contínua
que faz a arquitetura em todos seus procedimentos parecer instantes
fotográficos que aprisionam o tempo e seu fluxo evitando a própria
correnteza da arte da arquitetura.
O entendimento dessas questões estão em compasso com Os
processos de SLOWER da sociedade, de lentidão e interação dos
procedimentos, seja nas cidades, arquitetura, alimentação, projetos
participativos, processos coletivos diretos de produção, articulação como o
DIY, do it yourself que alteram o processo produtivo. Muda a ideia de
consumo fácil, alienante e incentiva a produção/participação mais intensa e
responsável sobre sua ação.
Essas conjunções permitem articular uma abordagem onde o tempo
seja estruturante e faça a diferença. Abordagem que se apresenta preciosa
pois é sempre escolha única e que define o sujeito como potência em sua
singular complexidade.

Notas:
(1) TAMAI, S. Mestrado I.A. Unicamp - páginas 20/21.
(2) HARVEY, D. Condição Pós Moderna - página 190.
(3) Ibidem - página 54.
(4) TAMAI, S. Potência signica na passagem dissimétrica entre artes. Sobre campo
ampliado e desmaterialização da cultura.
(5) KRAUSS, E. R. A escultura no campo ampliado página 93.
(6) FENOLLOSA, E. e POUND, E. El carácter de la escritura china como medio poético.
(tradução pessoal).
(7) WATTS, Allan. O Zen - página 24.
(8) BERGSON, Henri. Duração e simultaneidade.
(9) LISSOVSKY, M. A máquina de esperar - página 7, sobre o conceito de Expectar.
(10) SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Territórios - página 126.

Bibliografia
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2006.
DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. Tradução Luiz B. L. Orlandi. Coleção Trans, Editora 34,
1999.
FENOLLOSA, Ernest e POUND, Ezra. El carácter de la escritura china como medio
poético. Libro II de la coleccion Visor Literário. Madrid, Editor Alberto Corazon, 1977.
HARVEY, David Condição Pós Moderna - Ed. Loyola - 345 pgs - Brasil 1994.
KAHN, Louis I. Forma y Deseño. E. Nueva Visión, Buenos Aires Argentina 63 páginas -
1974
KRAUSS, E. Rosalind. A escultura no campo ampliado. Tradução de Elizabeth Carbone
Baez. In: Revista Gávea nº.1, Rio de Janeiro, ed. Puc RJ, 1978.
LISSOVSKY, M. A máquina de esperar. Rio de Janeiro RJ - UFRJ - capturado web 2010.
http://www.pos.eco.ufrj.br/docentes/publicacoes/mlissovsky_5.pdf
WATTS, Allan. O Zen Ed. Clivagem - Portugal 235pgs 1978
SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Territórios. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2002.
____________________. Diferencias – topografia de La arquitecture contemporânea.
Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2003.
TAMAI, Sidney. Potência signica na passagem dissimétrica entre artes, Brasília - UNB
artigo apresentado no #10Art, 2011.
____________________.Mudanças de sistema projetivo do espaço e tempo através
da computação gráfica e suas ressonâncias na sintaxe arquitetônica. Mestrado -
Campinas, Instituto de Artes e Multimeios, Unicamp, SP, 1995.

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