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2.1. GENERALIDADES
AÇÕES, COMPORTAMENTO, SEGURANÇA,
MODELAGEM E ANÁLISE ESTRUTURAL
Neste livro não são abordadas as ações variáveis nece também os fatores de majoração das forças
especiais e as ações excepcionais (as ações variáveis gravitacionais e os valores das forças horizontais
citadas a partir de agora são as de natureza e inten- decorrentes de impactos do funcionamento de
sidade normais). equipamentos móveis, como elevadores, talhas e
pontes rolantes (essas solicitações são muitas vezes
fornecidas pelos fabricantes, mas não podem ser
2.2.2. Informações sobre os valores das adotados valores inferiores aos da norma).
ações permanentes e variáveis No caso do vento usual, uma ação variável tam-
As ações permanentes são obtidas a partir dos pe- bém bastante comum, para obtenção de suas for-
sos específicos dos materiais utilizados na edifica- ças sobre a estrutura, deve ser obedecida a norma
ção. A norma brasileira ABNT NBR 6120:1980 brasileira ABNT NBR 6123:1988.
fornece os valores de muitos materiais usuais.
As ações variáveis mais comuns são as sobrecargas 2.2.3. Significado dos valores das ações
nos pisos e coberturas das edificações, decorrentes
de pessoas, móveis, utensílios e veículos. As sobre- As normas e especificações, de modo geral, for-
cargas têm os seus valores mínimos previstos pela necem os valores característicos das ações. Para
já mencionada norma ABNT NBR 6120:1980. as ações permanentes, o valor característico AG,k
é o valor médio e, para as ações variáveis, o valor
A ABNT NBR 8800:2008 fornece, em seu Ane- característico AQ,k é aquele que tem entre 25%
xo B, prescrições complementares sobre as ações e 35% de probabilidade de ser ultrapassado no
variáveis, estabelecendo, por exemplo, valores sentido desfavorável durante a vida útil da edifi-
mínimos de sobrecarga nas coberturas comuns e cação, conforme ilustra, de modo simplificado,
nas lajes em fase de construção. Essa norma for- a Figura 2.2.
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AG,k
k k2 kn 1 kn
§ S d ,1 · 1 §S · § S d ,n 1 · § S d ,n ·
Z1 ¨ ¸ Z 2 ¨ d ,2 ¸ ... Zn 1 ¨ ¸ Zn ¨ ¸ d 1,0 (2.2)
¨R ¸ ¨R ¸ ¨R ¸ ¨R ¸
© d ,1 ¹ © d ,2 ¹ © d ,n 1 ¹ © d ,n ¹
em que Sd,1 a Sd,n são os n esforços solicitantes de ações e, para as ações variáveis, também os valores
cálculo, Rd,1 a Rd,n os correspondentes esforços re- reduzidos. Observa-se que valores iguais ou su-
sistentes de cálculo e 1 a n e k1 a kn fatores e periores ao característico não estão ocorrendo no
potências de ajuste oriundos de resultados de aná- mesmo intervalo de tempo para as ações variáveis.
lises numéricas e experimentais, respectivamente. Como são duas as ações variáveis, devem ser fei-
tas as duas combinações seguintes, uma para cada
ação variável considerada como principal:
2.3.2.3. Determinação dos Esforços Solicitantes - C1 = AG,k + AQ,sc,k + AQ,ve,red
de Cálculo
- C2 = AG,k + AQ,ve,k + AQ,sc,red
2.3.2.3.1. Fundamentos da Combinação de Ações
onde AG,k é o valor característico da ação perma-
Se apenas uma ação variável solicita a estrutura, a nente, AQ,sc,k e AQ,sc,red os valores característico e re-
combinação de ações a ser utilizada pode ser ob- duzido da sobrecarga, respectivamente, e AQ,ve,k e
tida pela soma do valor característico dessa ação AQ,ve,red os valores característico e reduzido da ação
com os valores característicos das ações perma- do vento. A combinação que fornece o maior efei-
nentes, que estão sempre presentes. to deve ser adotada e a outra desprezada.
Se atuar mais de uma ação variável, é imprová-
vel que todas estejam com valor igual ou superior
ao característico no mesmo intervalo de tempo,
durante a vida útil da edificação. Por essa razão,
considera-se que o efeito mais desfavorável do
conjunto de ações ocorre quando uma das ações
variáveis encontra-se com seu valor característico
e as outras com valores chamados de reduzidos
(inferiores ao característico em até 50%, depen-
dendo do tipo da ação). Deve-se considerar o
valor característico de cada ação variável, o que
conduz a tantas combinações diferentes quantas
forem as ações variáveis, sendo que a combinação
que produz o maior valor do efeito é adotada e as
demais desprezadas. A ação variável com o valor
característico na combinação é denominada ação
variável principal. A Figura 2.3 ilustra a atuação
ao longo do tempo da ação permanente, da sobre-
carga e do vento e os valores característicos dessas
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Ações
variáveis
Obtêm-se os valores reduzidos das ações variáveis efetuando-se o produto entre o valor característico e
o fator de combinação 0. O valor desse fator depende do tipo da ação, do local em que ela atua e, em
alguns casos, do elemento estrutural, e encontra-se na Tabela 2.1.
Bibliotecas, arquivos, depósitos, oficinas e garagens e sobrecargas em coberturas 0,8 0,7 0,6
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2.3.2.3.2. Consideração dos Coeficientes de Ponde- onde:
ração na Combinação de Ações
AGi,k são os valores característicos das ações per-
No dimensionamento estrutural, as ações par- manentes;
ticipantes de uma combinação devem ser majo-
radas por coeficientes de ponderação, para que AQ1,k é o valor característico da ação variável consi-
sejam consideradas incertezas quanto aos valores derada como principal na combinação, conforme
característicos. Além disso, como o que interessa definida em 2.3.2.3.1 (lembra-se aqui que deve
na verificação do colapso estrutural são os efeitos ser uma combinação para cada ação variável con-
das ações, os coeficientes de ponderação também siderada como principal);
levam em conta incertezas relacionadas à intensi- AQj,k são os valores característicos das demais ações
dade desses efeitos obtidos da análise estrutural, variáveis, consideradas secundárias, que podem
que utiliza um modelo idealizado, especialmente atuar concomitantemente com a ação variável
no que se refere às dimensões das peças estruturais principal;
e aos graus de rigidez das ligações entre as barras e
dos apoios. Assim, os efeitos das ações, por exem- gi, q1 e qj são os coeficientes de ponderação das
plo, os esforços solicitantes de cálculo, Sd, devem ações permanentes, da ação variável principal e
ser obtidos a partir de análise estrutural feita com das demais ações variáveis, respectivamente, geral-
a seguinte combinação de ações, chamada de mente maiores que 1,0, dados na Tabela 2.2;
combinação última de ações:
0j são os fatores de combinação das ações, já
mencionados em 2.3.2.3.1 e dados na Tabela 2.1.
(2.3)
Diretas
Peso próprio de
Peso próprio
Combinações estruturas molda-
de elementos Peso próprio de ele-
Peso próprio Peso próprio de das no local e de Indiretas
construtivos mentos construtivos
de estruturas estruturas pré-mol- elementos cons-
industrializados em geral e equipa-
metálicas dadas trutivos industria-
com adições “in mentos
lizados e empuxos
loco”
permanentes
1,25 1,30 1,35 1,40 1,50 1,20
Normais
(1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (0)
1,15 1,20 1,25 1,30 1,40 1,20
De construção
(1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (0)
Jc = 1,40 (2.7)
2.3.3.2. Condição de Dimensionamento
- para o aço das barras de armadura: Para que não ocorram estados-limites de servi-
ço, certos deslocamentos da estrutura, obtidos
a partir de uma combinação de ações de serviço
Js = 1,15 (2.8)
(ver 2.3.3.3), não podem superar valores máxi-
mos permitidos, estabelecidos pela ABNT NBR
Observa-se que o coeficiente de ponderação do
8800:2008 com base em experiências pregressas
aço é menor que o do concreto, uma vez que as
(ver 2.3.3.4 e 2.3.3.5).
incertezas relacionadas ao primeiro, que é um ma-
terial homogêneo e praticamente isotrópico, são
inferiores às do segundo. 2.3.3.3. Determinação dos Deslocamentos
2.3.2.5. Segurança Estrutural 2.3.3.3.1. Combinações de Ações de Serviço
Os esforços solicitantes são grandezas probabilís- Os deslocamentos de uma estrutura, para verifi-
ticas e, conforme explicitado anteriormente, su- cação dos estados-limites de serviço, devem ser
jeitos a incertezas de diversas naturezas. Assim, determinados com base em combinações de ações
não existe garantia plena de que uma estrutura de serviço. Essas combinações, de acordo com seu
seja absolutamente segura. No entanto, via con- período de atuação na estrutura, são classificadas
ceitos e métodos da Confiabilidade Estrutural, em quase permanentes, frequentes e raras.
que não serão abordados aqui (ver Ang e Tang,
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As combinações quase permanentes são aquelas danos aos fechamentos. Nessas combinações, as
que podem atuar da ordem da metade do período ações permanentes ficam com seus valores carac-
de vida útil da estrutura e devem ser usadas quan- terísticos AG,k, a ação variável principal é tomada
do se verifica apenas a aparência, o que é feito em com seu valor característico AQ1,k e as demais ações
situações nas quais os deslocamentos não provo- variáveis com seus valores frequentes 1AQ,k:
quem danos a componentes da construção. Nes-
sas combinações, as ações permanentes ficam com
m n
seus valores característicos AG,k e as variáveis com C ra ,ser AGi ,k AQ 1,k \ 1 j AQj ,k
seus valores quase permanentes 2AQ,k (produto i 1 j 2
do valor característico pelo fator de redução 2): (2.11)
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Tabela 2.3 - Deslocamentos máximos
Descrição a)
L/180 b)
- Travessas de fechamento
L/120 c) d)
L/180 e)
- Terças de cobertura g)
L/120 f)
Vigas de rolamento: j)
- Deslocamento vertical para pontes rolantes com capacidade nominal inferior a 200 kN L/600 i)
- Deslocamento vertical para pontes rolantes com capacidade nominal igual ou superior a 200 kN, exceto pontes
siderúrgicas L/800 i)
- Deslocamento vertical para pontes rolantes siderúrgicas com capacidade nominal igual ou superior a 200 kN
- Deslocamento horizontal, exceto para pontes rolantes siderúrgicas L/1000 i)
- Deslocamento horizontal para pontes rolantes siderúrgicas L/400
L/600
Galpões em geral e edifícios de um pavimento:
- Deslocamento horizontal do topo dos pilares em relação à base H/300
- Deslocamento horizontal do nível da viga de rolamento em relação à base H/400 k) l)
Edifícios de dois ou mais pavimentos:
- Deslocamento horizontal do topo dos pilares em relação à base H/400
- Deslocamento horizontal relativo entre dois pisos consecutivos h/500 m)
a)
L é o vão teórico entre apoios ou o dobro do comprimento teórico do balanço, H é a altura total do pilar (distância do topo à base) ou
a distância do nível da viga de rolamento à base, h é a altura do andar (distância entre centros das vigas de dois pisos consecutivos ou
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Embora os deslocamentos permitidos nas vigas se máximo do piso, desprezando as possíveis contra-
refiram a barras birrotuladas, eles podem ser usa- flechas das vigas, for menor que 20 mm;
dos em vigas com outras condições de contorno.
A única exceção diz respeito às vigas em balanço, b) nos pisos em que as pessoas saltam ou dan-
em que a flecha a ser limitada é o deslocamento çam de forma rítmica, como os de academias de
vertical na extremidade livre e o vão L a ser consi- ginástica, salões de dança, ginásios e estádios de
derado é igual a duas vezes o comprimento teórico esportes, a menor frequência natural não pode
do balanço (ver nota “a” da Tabela 2.3). ser inferior a 6 Hz, ou a 8 Hz se a atividade for
muito repetitiva, como ginástica aeróbica. Essas
Adicionalmente, para galpões em geral e edifícios condições ficam satisfeitas se o deslocamento
de um pavimento com paredes de alvenaria, deve vertical máximo, desprezando as possíveis con-
ser limitado o deslocamento horizontal (perpen- traflechas das vigas, for menor que 9 mm ou
dicular à parede) da estrutura, de forma que a 5 mm, respectivamente.
abertura da fissura que possa ocorrer na base da
parede não supere 1,5 mm, considerando a parede No cálculo do deslocamento vertical máximo do
como painel rígido (Figura 2.5). piso (nível mais baixo atingido pelo piso em rela-
ção ao nível antes de atuar o carregamento, consi-
derando os deslocamentos de vigas principais, se-
cundárias e apoios, conforme ilustra a Figura 2.6),
devem-se usar combinações frequentes de ações de
serviço, por se tratar de um estado-limite reversí-
vel, e considerar todas as vigas do piso como bir-
rotuladas (mesmo que possuam outras condições
de contorno). Além disso, pode-se excluir a parcela
dependente do tempo das ações permanentes.
Nível do piso
descarregado
Figura 2.5 – Deslocamento de parede como painel rígido
Observa-se que as estruturas são, na realidade, tri- horizontais e cargas gravitacionais. A Figura 2.8
dimensionais, e precisam dispor de subestruturas mostra uma barra engastada em uma extremidade
de contraventamento que as estabilizam nas duas e livre na outra (barra em balanço), uma barra bir-
direções principais. rotulada e uma barra engastada-rotulada, exem-
plos típicos de elementos isolados.
As estruturas podem apresentar também compo-
nentes com capacidade nula ou desprezável de re-
sistir às ações horizontais, cuja função básica é de
conduzir as cargas gravitacionais até as fundações.
Esses componentes são denominados elementos
contraventados e, na Figura 2.7, são os compo-
nentes verticais que não fazem parte das subestru-
turas de contraventamento. A estabilidade lateral
dos elementos contraventados é proporcionada
pelas subestruturas de contraventamento, ou seja,
as forças que tendem a desestabilizar os elementos
contraventados são transferidas para as subestru- Figura 2.8 – Exemplos de elementos isolados
turas de contraventamento, e precisam ser consi-
deradas no dimensionamento destas últimas.
O efeito global de segunda ordem ou efeito P- , conhecido vulgarmente como efeito “pê-deltão”, é ca-
racterizado pelas respostas aos deslocamentos horizontais relativos das extremidades das barras, obtidas
com o equilíbrio na configuração deformada da estrutura. Como exemplo, será tomada a estrutura de
dois andares da Figura 2.9, constituída por um pórtico e por um elemento contraventado, submetida a
um conjunto de forças horizontais e cargas verticais, cujos primeiro e segundo andares apresentam deslo-
camentos horizontais iguais a 1 e 2, respectivamente.
Quando se considera a carga gravitacional total As forças horizontais totais resultantes nos níveis
no primeiro andar deslocada de 1 e a carga gra- inferior e superior dos dois andares são as dife-
vitacional total no segundo andar deslocada de renças entre as forças H0 nesses níveis, conforme