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2.1. GENERALIDADES
AÇÕES, COMPORTAMENTO, SEGURANÇA,
MODELAGEM E ANÁLISE ESTRUTURAL

As ações variáveis se caracterizam por apresentar


valores que se modificam significativamente du-
Neste capítulo será fornecida uma visão geral rante a vida útil da estrutura, podendo ter natureza
elementar a respeito das ações que podem atuar e intensidade normais, ou natureza ou intensida-
nas estruturas e sobre comportamento, seguran- de especial. As de natureza e intensidade normais
ça, modelagem e análise estrutural, assuntos que possuem valores significativos durante uma parte
constituem a base para o desenvolvimento de importante da vida útil da estrutura, embora, em
qualquer projeto. No seu conteúdo, procurou se alguns períodos, possam ser até nulas. É o caso
referir às prescrições incluídas nas normas ABNT das ações devidas ao uso e ocupação da edifica-
NBR 8800:2008 e ABNT NBR 16239:2013, ção como sobrecargas em pisos e coberturas e as
com destaque para as estruturas treliçadas. decorrentes de equipamentos e divisórias móveis,
do vento usual e da variação da temperatura (cau-
sada pelo clima ou por equipamentos) e, ainda,
2.2. AÇÕES as ações truncadas (ações cuja superação do valor
máximo estipulado é restringida por um dispositi-
2.2.1. Definição e classificação vo físico, como a água das caixas d’água). As ações

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


As ações, definidas como quaisquer influências variáveis de natureza ou intensidade especial são
que produzam tensões, deformações ou movimen- transitórias, com tempo de duração diminuto em
tos de corpo rígido em uma estrutura, para efeito relação à vida útil da estrutura, e possuem valores
de projeto estrutural, são usualmente classificadas mais elevados que os das outras ações variáveis,
quanto à variabilidade com o tempo. Nesse modo como é o caso das ações originadas de sismos e de
de classificação, elas podem ser permanentes, vari- transporte de equipamentos de grande peso.
áveis ou excepcionais. As ações excepcionais possuem valores importantes
As ações permanentes se caracterizam por apresen- apenas durante uma fração muito pequena da vida
tar valores praticamente invariáveis durante a vida útil da estrutura e, além disso, têm baixa probabili-
útil da estrutura, podendo ser diretas ou indiretas. dade de ocorrência. É o caso das ações decorrentes
São ações diretas o peso próprio da estrutura e dos de explosões, de choques de veículos ou embarca-
componentes da construção como pisos, paredes ções, de ventos extraordinários (furacão, tornado),
permanentes, revestimentos e acabamentos, ins- de incêndio, de sismos excepcionais, etc.
talações, equipamentos fixos, etc., e os empuxos A Figura 2.1 exemplifica o comportamento com o
devidos ao peso próprio de terras não removíveis. decorrer do tempo das ações permanentes, variá-
São ações indiretas a protensão, os recalques de veis normais e especiais, e excepcionais.
apoio e a retração dos materiais.
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Figura 2.1 - Variação das ações com o tempo

Neste livro não são abordadas as ações variáveis nece também os fatores de majoração das forças
especiais e as ações excepcionais (as ações variáveis gravitacionais e os valores das forças horizontais
citadas a partir de agora são as de natureza e inten- decorrentes de impactos do funcionamento de
sidade normais). equipamentos móveis, como elevadores, talhas e
pontes rolantes (essas solicitações são muitas vezes
fornecidas pelos fabricantes, mas não podem ser
2.2.2. Informações sobre os valores das adotados valores inferiores aos da norma).
ações permanentes e variáveis No caso do vento usual, uma ação variável tam-
As ações permanentes são obtidas a partir dos pe- bém bastante comum, para obtenção de suas for-
sos específicos dos materiais utilizados na edifica- ças sobre a estrutura, deve ser obedecida a norma
ção. A norma brasileira ABNT NBR 6120:1980 brasileira ABNT NBR 6123:1988.
fornece os valores de muitos materiais usuais.

As ações variáveis mais comuns são as sobrecargas 2.2.3. Significado dos valores das ações
nos pisos e coberturas das edificações, decorrentes
de pessoas, móveis, utensílios e veículos. As sobre- As normas e especificações, de modo geral, for-
cargas têm os seus valores mínimos previstos pela necem os valores característicos das ações. Para
já mencionada norma ABNT NBR 6120:1980. as ações permanentes, o valor característico AG,k
é o valor médio e, para as ações variáveis, o valor
A ABNT NBR 8800:2008 fornece, em seu Ane- característico AQ,k é aquele que tem entre 25%
xo B, prescrições complementares sobre as ações e 35% de probabilidade de ser ultrapassado no
variáveis, estabelecendo, por exemplo, valores sentido desfavorável durante a vida útil da edifi-
mínimos de sobrecarga nas coberturas comuns e cação, conforme ilustra, de modo simplificado,
nas lajes em fase de construção. Essa norma for- a Figura 2.2.

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AG,k

Figura 2.2 - Valores das ações considerando a variação com o tempo

Nas ações variáveis definem-se ainda os valores 2.3.2. Estados-limites Últimos


frequente, AQ,fr, e quase permanente, AQ,qp, mos-
trados na Figura 2.2. O primeiro se repete cerca 2.3.2.1. Definição
de 105 vezes durante a vida útil da estrutura, po-
Os estados-limites últimos se relacionam com a
dendo, para fins práticos, ser tomado como igual
segurança estrutural. A ocorrência desse tipo de
ao produto do valor característico AQ,k pelo fator
estado-limite significa colapso, total ou parcial.
de redução 1 dado na Tabela 2.1, fornecida no
Subitem 2.3.2.3.1. O segundo se manifesta por

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


um tempo da ordem da metade da vida útil da
estrutura, podendo ser tomado como igual ao 2.3.2.2. Condição de Dimensionamento
produto do valor característico AQ,k pelo fator de
redução 2, também dado na Tabela 2.1. Na verificação dos estados-limites últimos, deve
ser atendida a relação:


2.3. MÉTODO DOS Sd
 1,0  (2.1)
ESTADOS-LIMITES Rd
2.3.1. Fundamento 
onde Sd é o esforço  solicitante de cálculo (força
O Método dos estados-limites é um método de 
axial de tração ou compressão, momento fletor ou
dimensionamento pelo qual uma estrutura é ve- 
força cortante, ou ainda, em situações específicas,
rificada sob condições extremas, caracterizadas 
uma tensão) que causa o estado-limite, e Rd o es-
pelos chamados estados-limites últimos e estados- 
forço resistente de cálculo.
-limites de serviço. 


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Muitos estados-limites últimos podem também ser causados simultaneamente por mais de um esforço
solicitante, quando são empregadas expressões de interação do tipo:

k k2 kn 1 kn
§ S d ,1 · 1 §S · § S d ,n 1 · § S d ,n ·
Z1 ¨ ¸  Z 2 ¨ d ,2 ¸  ...  Zn 1 ¨ ¸  Zn ¨ ¸ d 1,0  (2.2)
¨R ¸ ¨R ¸ ¨R ¸ ¨R ¸
© d ,1 ¹ © d ,2 ¹ © d ,n 1 ¹ © d ,n ¹

em que Sd,1 a Sd,n são os n esforços solicitantes de ações e, para as ações variáveis, também os valores
cálculo, Rd,1 a Rd,n os correspondentes esforços re- reduzidos. Observa-se que valores iguais ou su-
sistentes de cálculo e 1 a n e k1 a kn fatores e periores ao característico não estão ocorrendo no
potências de ajuste oriundos de resultados de aná- mesmo intervalo de tempo para as ações variáveis.
lises numéricas e experimentais, respectivamente. Como são duas as ações variáveis, devem ser fei-
tas as duas combinações seguintes, uma para cada
ação variável considerada como principal:
2.3.2.3. Determinação dos Esforços Solicitantes - C1 = AG,k + AQ,sc,k + AQ,ve,red
de Cálculo
- C2 = AG,k + AQ,ve,k + AQ,sc,red
2.3.2.3.1. Fundamentos da Combinação de Ações
onde AG,k é o valor característico da ação perma-
Se apenas uma ação variável solicita a estrutura, a nente, AQ,sc,k e AQ,sc,red os valores característico e re-
combinação de ações a ser utilizada pode ser ob- duzido da sobrecarga, respectivamente, e AQ,ve,k e
tida pela soma do valor característico dessa ação AQ,ve,red os valores característico e reduzido da ação
com os valores característicos das ações perma- do vento. A combinação que fornece o maior efei-
nentes, que estão sempre presentes. to deve ser adotada e a outra desprezada.
Se atuar mais de uma ação variável, é imprová-
vel que todas estejam com valor igual ou superior
ao característico no mesmo intervalo de tempo,
durante a vida útil da edificação. Por essa razão,
considera-se que o efeito mais desfavorável do
conjunto de ações ocorre quando uma das ações
variáveis encontra-se com seu valor característico
e as outras com valores chamados de reduzidos
(inferiores ao característico em até 50%, depen-
dendo do tipo da ação). Deve-se considerar o
valor característico de cada ação variável, o que
conduz a tantas combinações diferentes quantas
forem as ações variáveis, sendo que a combinação
que produz o maior valor do efeito é adotada e as
demais desprezadas. A ação variável com o valor
característico na combinação é denominada ação
variável principal. A Figura 2.3 ilustra a atuação
ao longo do tempo da ação permanente, da sobre-
carga e do vento e os valores característicos dessas
80
Ações
variáveis

Figura 2.3 - Combinação de ações

Obtêm-se os valores reduzidos das ações variáveis efetuando-se o produto entre o valor característico e
o fator de combinação 0. O valor desse fator depende do tipo da ação, do local em que ela atua e, em
alguns casos, do elemento estrutural, e encontra-se na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Fator de combinação das ações variáveis 0 e fatores de redução 1 e 2

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Ações 0 1 2
Locais em que não há predominância de pesos e de equipamentos que perma-
necem fixos por longos períodos de tempo, nem de elevadas concentrações de 0,5 0,4 0,3
pessoas a)
Ações variáveis
causadas pelo uso e Locais em que há predominância de pesos e de equipamentos que perma-
necem fixos por longos períodos de tempo, ou de elevadas concentrações de 0,7 0,6 0,4
ocupação pessoas b)

Bibliotecas, arquivos, depósitos, oficinas e garagens e sobrecargas em coberturas 0,8 0,7 0,6

Vento Pressão dinâmica do vento nas estruturas em geral 0,6 0,3 0


Temperatura Variações uniformes de temperatura em relação à média anual local 0,6 0,5 0,3
Passarelas de pedestres 0,6 0,4 0,3
Cargas móveis e seus Vigas de rolamento de pontes rolantes 1,0 0,8 0,5
efeitos dinâmicos Pilares e outros elementos ou subestruturas que suportam vigas de rolamento
0,7 0,6 0,4
de pontes rolantes
a)
Edificações residenciais de acesso restrito.
b)
Edificações comerciais, de escritórios e de acesso público.

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2.3.2.3.2. Consideração dos Coeficientes de Ponde- onde:
ração na Combinação de Ações
AGi,k são os valores característicos das ações per-
No dimensionamento estrutural, as ações par- manentes;
ticipantes de uma combinação devem ser majo-
radas por coeficientes de ponderação, para que AQ1,k é o valor característico da ação variável consi-
sejam consideradas incertezas quanto aos valores derada como principal na combinação, conforme
característicos. Além disso, como o que interessa definida em 2.3.2.3.1 (lembra-se aqui que deve
na verificação do colapso estrutural são os efeitos ser uma combinação para cada ação variável con-
das ações, os coeficientes de ponderação também siderada como principal);
levam em conta incertezas relacionadas à intensi- AQj,k são os valores característicos das demais ações
dade desses efeitos obtidos da análise estrutural, variáveis, consideradas secundárias, que podem
que utiliza um modelo idealizado, especialmente atuar concomitantemente com a ação variável
no que se refere às dimensões das peças estruturais principal;
e aos graus de rigidez das ligações entre as barras e
dos apoios. Assim, os efeitos das ações, por exem- gi, q1 e qj são os coeficientes de ponderação das
plo, os esforços solicitantes de cálculo, Sd, devem ações permanentes, da ação variável principal e
ser obtidos a partir de análise estrutural feita com das demais ações variáveis, respectivamente, geral-
a seguinte combinação de ações, chamada de mente maiores que 1,0, dados na Tabela 2.2;
combinação última de ações:
0j são os fatores de combinação das ações, já
mencionados em 2.3.2.3.1 e dados na Tabela 2.1.

(2.3)

Tabela 2.2 - Coeficientes de ponderação das ações

Ações permanentes (g )

Diretas
Peso próprio de
Peso próprio
Combinações estruturas molda-
de elementos Peso próprio de ele-
Peso próprio Peso próprio de das no local e de Indiretas
construtivos mentos construtivos
de estruturas estruturas pré-mol- elementos cons-
industrializados em geral e equipa-
metálicas dadas trutivos industria-
com adições “in mentos
lizados e empuxos
loco”
permanentes
1,25 1,30 1,35 1,40 1,50 1,20
Normais
(1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (0)
1,15 1,20 1,25 1,30 1,40 1,20
De construção
(1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (1,00) (0)

Ações variáveis (q )


Combinações
Efeito da tem- Demais ações variáveis, incluindo as
Ação do vento Ações truncadas
peratura a) decorrentes do uso e ocupação

Normais 1,20 1,40 1,20 1,50

De construção 1,00 1,20 1,10 1,30


a)
O efeito de temperatura não inclui o gerado por equipamentos, o qual deve ser considerado como ação decorrente do uso e ocupação
da edificação.
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As incertezas variam em função do tipo de ação. ponderação igual a 1,40, quando as ações variáveis
Assim, as incertezas relacionadas às ações per- decorrentes do uso e ocupação atuando em pisos
manentes são menores que as relacionadas às e coberturas forem iguais ou inferiores, em valores
ações variáveis, e mesmo entre estas, as incer- característicos, a 5 kN/m2. O coeficiente de pon-
tezas também não são as mesmas. Dessa forma, deração das ações permanentes pode ser reduzido
diferentes coeficientes de ponderação são pres- para 1,35 se as ações variáveis superarem 5 kN/m2.
critos para diferentes tipos de ações. Existem Nas combinações de construção e especiais, os co-
ainda coeficientes diferentes para as chamadas eficientes citados devem ser tomados iguais a 1,30
“combinações últimas normais”, que são aquelas e 1,25, respectivamente.
que devem ser usadas para os estados-limites úl-
timos que podem ocorrer durante a vida útil da Caso as ações permanentes diretas que aumentam
edificação, após a obra ter sido finalizada, e para o valor do efeito procurado tenham sido agrupadas,
as “combinações últimas de construção”, que de- as ações variáveis que aumentam o valor desse efei-
vem ser usadas para os estados-limites últimos to podem, também, ser agrupadas, com coeficiente
que podem ocorrer durante a construção. de ponderação igual a 1,40, quando as ações variá-
veis decorrentes do uso e ocupação forem iguais ou
As ações permanentes possuem dois coeficientes inferiores, em valores característicos, a 5 kN/m2, ou
de ponderação. Um desses coeficientes é maior 1,50 quando isso não ocorrer. Nas combinações de
que 1,0 e deve ser usado quando a ação perma- construção e especiais, esses coeficientes são iguais
nente aumenta o valor do efeito procurado (nesse a 1,20 e 1,30, respectivamente.
caso, a ação permanente é chamada de “desfavorá-
vel à segurança”). O outro, mostrado na Tabela 2.2 Evidentemente, quando se opta por agrupar as
entre parênteses, é igual a 1,0 ou nulo e deve ser ações variáveis, pode-se ainda, para simplificar os
usado quando a ação permanente reduz o valor do cálculos, conservadoramente, tomar todos os fato-
efeito procurado (nesse caso, a ação permanente é res de combinação dessas ações como 1,0. Nesse
chamada de “favorável à segurança”). A existência caso, a combinação de ações se torna ainda mais
desses dois coeficientes para as ações permanentes simples, bastando multiplicar todas as ações per-
é essencial para a segurança, pois esse tipo de ação manentes diretas que aumentam o valor do efeito
procurado por um único coeficiente de ponde-

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


não pode ser excluído das combinações.
ração, e todas as ações variáveis também por um
As ações variáveis que reduzem o efeito procurado único coeficiente (deixa de existir a ação variável
devem ser excluídas das combinações, até porque principal e, obviamente, a necessidade de se efetu-
esse tipo de ação pode ter intensidade nula em de- ar uma combinação para cada ação variável consi-
terminados intervalos de tempo. derada como principal).

2.3.2.3.3. Consideração de Ações Agrupadas 2.3.2.4. Determinação dos Esforços Resistentes


de Cálculo
Para combinar as ações de modo mais simples,
as ações permanentes diretas podem ser ponde- Um esforço resistente de cálculo é dado por:
radas por um único coeficiente, bem como as
ações variáveis. Rk
Rd  (2.4)
Nas combinações normais, as ações permanen- J
tes diretas que aumentam o valor do efeito pro-
curado (“desfavoráveis à segurança”) podem ser onde é o coeficiente de ponderação da resis-
consideradas todas agrupadas, com coeficiente de tência, e Rk é o esforço resistente nominal para o
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estado-limite último em consideração. A divisão 1975; Ellingwood et al., 1982; Galambos et al.,
do esforço Rk pelo coeficiente permite levar em 1982; Ang e Tang, 1984; Haldar e Mahadevan,
conta o fato de que tal esforço pode ser menor que 2000; EN 1990:2002; ANSI/AISC 360-10), os
o previsto, devido à variabilidade das proprieda- coeficientes de ponderação da resistência, os co-
des mecânicas do aço, e ainda devido a incertezas eficientes de ponderação e os fatores de combi-
relativas ao comportamento das peças no colapso, nação das ações são estabelecidos de forma que a
à execução da estrutura, às dimensões das seções probabilidade de ocorrência de um estado-limite
transversais das peças, etc. seja extremamente reduzida, situando-se dentro
de limites considerados aceitáveis.
O coeficiente de ponderação da resistência do aço
dos perfis estruturais é desmembrado em dois ou-
tros coeficientes, a1 e a2, com a1 aplicável aos es-
tados-limites últimos relacionados ao escoamento 2.3.3. Estados-limites de Serviço
e à instabilidade (incluindo a flambagem) e a2 aos 2.3.3.1. Definição
estados-limites relacionados à ruptura, com os se-
guintes valores: Os estados-limites de serviço se relacionam à ca-
pacidade da estrutura de desempenhar satisfato-
Ja1 = 1,10 (2.5) riamente as suas funções. Sua ocorrência pode
prejudicar a aparência e a funcionalidade de uma
Ja2 = 1,35 (2.6) edificação, o conforto dos ocupantes e o funcio-
namento de equipamentos, além de causar racha-
duras e trincas em alvenarias e danos diversos a
No caso dos elementos estruturais mistos, adota-se:
portas, esquadrias, janelas, etc., e a materiais de
- para o concreto: acabamento.

Jc = 1,40 (2.7)
2.3.3.2. Condição de Dimensionamento

- para o aço das barras de armadura: Para que não ocorram estados-limites de servi-
ço, certos deslocamentos da estrutura, obtidos
a partir de uma combinação de ações de serviço
Js = 1,15 (2.8)
(ver 2.3.3.3), não podem superar valores máxi-
mos permitidos, estabelecidos pela ABNT NBR
Observa-se que o coeficiente de ponderação do
8800:2008 com base em experiências pregressas
aço é menor que o do concreto, uma vez que as
(ver 2.3.3.4 e 2.3.3.5).
incertezas relacionadas ao primeiro, que é um ma-
terial homogêneo e praticamente isotrópico, são
inferiores às do segundo. 2.3.3.3. Determinação dos Deslocamentos
2.3.2.5. Segurança Estrutural 2.3.3.3.1. Combinações de Ações de Serviço
Os esforços solicitantes são grandezas probabilís- Os deslocamentos de uma estrutura, para verifi-
ticas e, conforme explicitado anteriormente, su- cação dos estados-limites de serviço, devem ser
jeitos a incertezas de diversas naturezas. Assim, determinados com base em combinações de ações
não existe garantia plena de que uma estrutura de serviço. Essas combinações, de acordo com seu
seja absolutamente segura. No entanto, via con- período de atuação na estrutura, são classificadas
ceitos e métodos da Confiabilidade Estrutural, em quase permanentes, frequentes e raras.
que não serão abordados aqui (ver Ang e Tang,
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As combinações quase permanentes são aquelas danos aos fechamentos. Nessas combinações, as
que podem atuar da ordem da metade do período ações permanentes ficam com seus valores carac-
de vida útil da estrutura e devem ser usadas quan- terísticos AG,k, a ação variável principal é tomada
do se verifica apenas a aparência, o que é feito em com seu valor característico AQ1,k e as demais ações
situações nas quais os deslocamentos não provo- variáveis com seus valores frequentes 1AQ,k:
quem danos a componentes da construção. Nes-
sas combinações, as ações permanentes ficam com

m n
seus valores característicos AG,k e as variáveis com C ra ,ser ™ AGi ,k  AQ 1,k  ™ \ 1 j AQj ,k 
seus valores quase permanentes 2AQ,k (produto i 1 j 2
do valor característico pelo fator de redução 2): (2.11)

Os valores dos fatores de redução 1 e 2, que



m n
permitem chegar aos valores quase permanentes
C qp ,ser ™ AGi ,k  ™ \ 2 j AQj ,k  (2.9)
i 1 j 1
e frequentes das ações variáveis, são fornecidos na
Tabela 2.1, em função do tipo de ação variável.
As combinações frequentes são aquelas que se re- Evidentemente, ações variáveis que reduzem o
petem por volta de 105 vezes no período de vida efeito procurado devem ser excluídas das combi-
útil ou que têm uma duração de aproximadamen- nações (por exemplo, caso se esteja calculando a
te 5% desse período e devem ser usadas quando flecha de uma viga, de sentido gravitacional, ações
se verificam estados-limites reversíveis, ou seja, que causam translações de baixo para cima não
que não causem danos permanentes à estrutura entram nas combinações).
ou a outros componentes da construção, incluin-
do os relacionados ao conforto dos usuários e ao Para diversas situações, a ABNT NBR 8800:2008
funcionamento de equipamentos, tais como vi- estabelece a combinação de ações ou, às vezes, até
brações excessivas, movimentos laterais excessivos mesmo uma ação específica, que deve ser utilizada
que comprometam a vedação, empoçamentos em na verificação de um determinado deslocamento.
coberturas e aberturas de fissuras. Nessas combi- Em outras situações, a norma brasileira deixa a
nações, as ações permanentes ficam com seus va- cargo do responsável técnico pelo projeto estrutu-

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


lores característicos AG,k, a ação variável principal é ral analisar criteriosamente o problema e decidir
tomada com seu valor frequente 1AQ1,k (produto que combinação deve ser adotada. Por exemplo,
do valor característico pelo fator de redução 1) e se o único aspecto relevante a ser levado em con-
as demais ações variáveis com seus valores quase ta é a aparência, deve-se usar a combinação quase
permanentes 2AQ,k: permanente. Se um elemento estrutural suportar
somente componentes da edificação não sujeitos
à fissuração e se seu comportamento em serviço

m n
C fr ,ser ™ AGi ,k \ 1 AQ 1,k  ™ \ 2 j AQj ,k  for elástico, pode-se considerar o deslocamen-
i 1 j 2 to excessivo como um estado-limite reversível e
(2.10) usar a combinação frequente. Por outro lado, se
o elemento suportar componentes da edificação
As combinações raras são aquelas que podem atuar sujeitos à fissuração ou se seu comportamento em
no máximo algumas horas durante o período de serviço levar à ocorrência de deformações plásti-
vida útil da estrutura e devem ser usadas quando cas, deve-se entender seu deslocamento excessivo
se verificam estados-limites irreversíveis, ou seja, como um estado-limite irreversível e usar a com-
que causem consequências permanentes à estru- binação rara.
tura ou a outros componentes da construção, e
aqueles relacionados ao funcionamento adequado
da estrutura, tais como a formação de fissuras e
85
2.3.3.3.2. Valores dos Deslocamentos longa duração das ações permanentes (se houver),
3 é o deslocamento devido às ações variáveis, in-
O cálculo dos deslocamentos, usando as com- cluindo, se houver, os efeitos de longa duração de-
binações de ações de serviço, pode ser feito por vidos aos valores quase permanentes dessas ações,
procedimentos como a teoria da linha elástica max é o deslocamento máximo da viga no estágio
e o princípio dos trabalhos virtuais. Quando a final de carregamento levando-se em conta a con-
estrutura possui muitas barras ou alto grau de traflecha e tot é a soma de 1, 2 e 3 (no cálculo
hiperestaticidade, é recomendável usar um pro- dos deslocamentos verticais a serem comparados
grama de computador. com os valores máximos dados na Tabela 2.3, po-
de-se deduzir o valor da contraflecha da viga até
o limite do valor da flecha proveniente das ações
2.3.3.4. Valores dos Deslocamentos Permitidos permanentes). Os efeitos de longa duração (fluên-
e Ações a Serem Consideradas cia e retração do concreto) devem ser levados em
conta utilizando-se uma norma brasileira aplicá-
Os valores máximos para os deslocamentos verti- vel ou, na sua ausência, uma norma internacional
cais (usualmente flechas) e horizontais são dados ou, ainda, simplificadamente, multiplicando-se a
na Tabela 2.3. No caso dos deslocamentos verti- razão modular (razão entre os módulos de elastici-
cais, tais valores têm como referência uma viga dade do aço e do concreto) por 3 e ignorando-se a
birrotulada, mostrada na Figura 2.4, na qual 0 participação do concreto na zona tracionada para
é a contraflecha da viga, 1 é o deslocamento de- determinação dos deslocamentos provenientes das
vido às ações permanentes, sem efeitos de longa ações permanentes e dos valores quase permanen-
duração, 2 é o deslocamento devido aos efeitos de tes das ações variáveis.

Figura 2.4 - Deslocamentos verticais a serem considerados

86
Tabela 2.3 - Deslocamentos máximos

Descrição  a)

L/180 b)
- Travessas de fechamento
L/120 c) d)
L/180 e)
- Terças de cobertura g)
L/120 f)

- Vigas de cobertura g) L/250 h)

- Vigas de piso L/350 h)

- Vigas que suportam pilares L/500 h)

Vigas de rolamento: j)
- Deslocamento vertical para pontes rolantes com capacidade nominal inferior a 200 kN L/600 i)
- Deslocamento vertical para pontes rolantes com capacidade nominal igual ou superior a 200 kN, exceto pontes
siderúrgicas L/800 i)
- Deslocamento vertical para pontes rolantes siderúrgicas com capacidade nominal igual ou superior a 200 kN
- Deslocamento horizontal, exceto para pontes rolantes siderúrgicas L/1000 i)
- Deslocamento horizontal para pontes rolantes siderúrgicas L/400
L/600
Galpões em geral e edifícios de um pavimento:
- Deslocamento horizontal do topo dos pilares em relação à base H/300
- Deslocamento horizontal do nível da viga de rolamento em relação à base H/400 k) l)
Edifícios de dois ou mais pavimentos:
- Deslocamento horizontal do topo dos pilares em relação à base H/400
- Deslocamento horizontal relativo entre dois pisos consecutivos h/500 m)

a)
L é o vão teórico entre apoios ou o dobro do comprimento teórico do balanço, H é a altura total do pilar (distância do topo à base) ou
a distância do nível da viga de rolamento à base, h é a altura do andar (distância entre centros das vigas de dois pisos consecutivos ou

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


entre centros das vigas e a base no caso do primeiro andar).
b)
Deslocamento paralelo ao plano do fechamento (entre linhas de tirantes, caso estes existam).
c)
Deslocamento perpendicular ao plano do fechamento.
d)
Considerar apenas as ações variáveis perpendiculares ao plano de fechamento (vento no fechamento) com seu valor característico.
e)
Considerar combinações raras de serviço, utilizando-se as ações variáveis de mesmo sentido que o da ação permanente.
f)
Considerar apenas as ações variáveis de sentido oposto ao da ação permanente (vento de sucção) com seu valor característico.
g)
Deve-se também evitar a ocorrência de empoçamento, com atenção especial aos telhados de pequena declividade.
h)
Caso haja paredes de alvenaria sobre ou sob uma viga, solidarizadas com essa viga, o deslocamento vertical também não deve exceder a
15 mm.
i)
Valor não majorado pelo coeficiente de impacto.
j)
Considerar combinações raras de serviço.
k)
No caso de pontes rolantes siderúrgicas, o deslocamento também não pode ser superior a 50 mm.
l)
O diferencial do deslocamento horizontal entre pilares do pórtico que suportam as vigas de rolamento não pode superar 15 mm.
m)
Tomar apenas o deslocamento provocado pelas forças cortantes no andar considerado, desprezando-se os deslocamentos de corpo
rígido provocados pelas deformações axiais dos pilares e vigas.

87
Embora os deslocamentos permitidos nas vigas se máximo do piso, desprezando as possíveis contra-
refiram a barras birrotuladas, eles podem ser usa- flechas das vigas, for menor que 20 mm;
dos em vigas com outras condições de contorno.
A única exceção diz respeito às vigas em balanço, b) nos pisos em que as pessoas saltam ou dan-
em que a flecha a ser limitada é o deslocamento çam de forma rítmica, como os de academias de
vertical na extremidade livre e o vão L a ser consi- ginástica, salões de dança, ginásios e estádios de
derado é igual a duas vezes o comprimento teórico esportes, a menor frequência natural não pode
do balanço (ver nota “a” da Tabela 2.3). ser inferior a 6 Hz, ou a 8 Hz se a atividade for
muito repetitiva, como ginástica aeróbica. Essas
Adicionalmente, para galpões em geral e edifícios condições ficam satisfeitas se o deslocamento
de um pavimento com paredes de alvenaria, deve vertical máximo, desprezando as possíveis con-
ser limitado o deslocamento horizontal (perpen- traflechas das vigas, for menor que 9 mm ou
dicular à parede) da estrutura, de forma que a 5 mm, respectivamente.
abertura da fissura que possa ocorrer na base da
parede não supere 1,5 mm, considerando a parede No cálculo do deslocamento vertical máximo do
como painel rígido (Figura 2.5). piso (nível mais baixo atingido pelo piso em rela-
ção ao nível antes de atuar o carregamento, consi-
derando os deslocamentos de vigas principais, se-
cundárias e apoios, conforme ilustra a Figura 2.6),
devem-se usar combinações frequentes de ações de
serviço, por se tratar de um estado-limite reversí-
vel, e considerar todas as vigas do piso como bir-
rotuladas (mesmo que possuam outras condições
de contorno). Além disso, pode-se excluir a parcela
dependente do tempo das ações permanentes.

Nível do piso
descarregado
Figura 2.5 – Deslocamento de parede como painel rígido

2.3.3.5. Limites para Vibrações em Pisos

Nos pisos de edifícios, deve-se efetuar análise di-


nâmica para verificar a possibilidade de ocorrência
de vibrações excessivas. Alternativamente, a ABNT v,max= deslocamento vertical máximo
do piso, incluindo as contribuições
NBR 8800:2008 recomenda um método simplifi- das vigas principais e secundárias e
cado, advertindo que, eventualmente, seu emprego dos pisos
pode não levar a um resultado satisfatório. Esse mé-
todo é constituído pelas seguintes regras:
Figura 2.6 – Deslocamento vertical de pisos
a) nos pisos em que as pessoas caminham regular-
mente, como os de residências e escritórios, a fre-
quência natural não pode ser inferior a 4 Hz. Essa
condição fica satisfeita se o deslocamento vertical
88
A análise estrutural deve ser feita com um modelo
2.4. ANÁLISE ESTRUTURAL realista, levando-se em conta as deformações das
barras causadas por momento fletor e força axial
2.4.1. Ideias Iniciais e, quando for relevante, também a deformação
Denomina-se análise estrutural a obtenção das causada por força cortante. Quando necessário, a
respostas da estrutura, expressas usualmente em interação solo-estrutura e o comportamento das
termos de esforços solicitantes, tensões e desloca- ligações devem ser contemplados no modelo.
mentos, a uma combinação de ações, por meio do
De modo geral, são empregados programas com-
estabelecimento de relações de equilíbrio.
putacionais para a execução da análise estrutural,
A análise estrutural é classificada como elástica de pois permitem obter soluções numéricas para es-
primeira ordem se as relações de equilíbrio são es- truturas com alto grau de indeterminação. Esses
tabelecidas com base na geometria indeformada (ou programas, desenvolvidos com base em soluções
original) da estrutura, e os materiais dos elementos numéricas, são em geral associados a pré e pós
estruturais são considerados com comportamento processadores gráficos que facilitam sua interação
sempre elástico-linear. Esse tipo de análise é o mais com o usuário, tornando confortável o lançamen-
simples e bastante familiar dos profissionais que mi- to estrutural e a visualização dos resultados, esses
litam na área de engenharia de estruturas. últimos na forma de diagramas de distribuição dos
esforços solicitantes, escalas de cores das tensões e
Se as relações de equilíbrio são estabelecidas com da estrutura deformada. No entanto, eles exigem
base na geometria deformada da estrutura, com conhecimento e experiência de modo a permitir
os materiais considerados com comportamento uma avaliação criteriosa, distinguindo os resul-
sempre elástico, a análise é classificada como elás- tados válidos daqueles que não correspondem ao
tica de segunda ordem. Esse tipo de análise é mais comportamento real da estrutura.
complexo, pois como a geometria deformada da
estrutura não é conhecida durante a formulação
das relações de equilíbrio, é necessário o emprego 2.4.2. Componentes Resistentes e Não
de um procedimento incremental-iterativo. Nesse Resistentes a Ações Horizontais

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


procedimento, a geometria deformada, obtida de
um ciclo de cálculos anterior, é usada como base É possível identificar, dentro de uma estrutura, su-
para a formulação das relações de equilíbrio do bestruturas que, devido à grande rigidez lateral, su-
ciclo de cálculos seguinte. portam a totalidade ou a quase totalidade das ações
horizontais atuantes. Essas subestruturas, que esta-
Neste capítulo, será considerado que a análise bilizam a edificação, são denominadas subestruturas
elástica de primeira ordem já é conhecida. Assim, de contraventamento, e podem ser (Figura 2.7):
será dada ênfase à análise elástica de segunda or-
dem, com apresentação de alguns conceitos rele- - pórticos em forma de treliça, também chamados
vantes sobre a mesma e de um método simplifica- de sistemas treliçados ou, simplesmente, de con-
do para sua execução indicado pela ABNT NBR traventamentos;
8800:2008. Nesse contexto, como complemento
importante, procurar-se-á apresentar uma visão - pórticos nos quais a estabilidade é assegurada
geral do comportamento dos sistemas estruturais pela rigidez à flexão das barras e pela capacidade
no que tange à estabilidade lateral das edificações de transmissão de momentos das ligações, conhe-
e à necessidade de se efetuar análise elástica de se- cidos simplesmente como pórticos;
gunda ordem. Análises estruturais fora do regime
- paredes de cisalhamento, incluindo-se os núcleos
elástico não serão abordadas, uma vez que não são
de concreto.
utilizadas na maior parte dos projetos.
89
Figura 2.7 – Subestruturas de contraventamento e elementos contraventados

Observa-se que as estruturas são, na realidade, tri- horizontais e cargas gravitacionais. A Figura 2.8
dimensionais, e precisam dispor de subestruturas mostra uma barra engastada em uma extremidade
de contraventamento que as estabilizam nas duas e livre na outra (barra em balanço), uma barra bir-
direções principais. rotulada e uma barra engastada-rotulada, exem-
plos típicos de elementos isolados.
As estruturas podem apresentar também compo-
nentes com capacidade nula ou desprezável de re-
sistir às ações horizontais, cuja função básica é de
conduzir as cargas gravitacionais até as fundações.
Esses componentes são denominados elementos
contraventados e, na Figura 2.7, são os compo-
nentes verticais que não fazem parte das subestru-
turas de contraventamento. A estabilidade lateral
dos elementos contraventados é proporcionada
pelas subestruturas de contraventamento, ou seja,
as forças que tendem a desestabilizar os elementos
contraventados são transferidas para as subestru- Figura 2.8 – Exemplos de elementos isolados
turas de contraventamento, e precisam ser consi-
deradas no dimensionamento destas últimas.

Podem ainda existir elementos que não dependem


das subestruturas de contraventamento para sua
estabilidade lateral, e que também não são usados
para estabilizar outros componentes estruturais.
Esses elementos recebem a denominação de isola-
dos, possuem um comportamento independente
do restante da estrutura e podem suportar ações
90
2.4.3. Análise de Segunda Ordem
2.4.3.1. Efeitos Global e Local de Segunda Ordem

O efeito global de segunda ordem ou efeito P-, conhecido vulgarmente como efeito “pê-deltão”, é ca-
racterizado pelas respostas aos deslocamentos horizontais relativos das extremidades das barras, obtidas
com o equilíbrio na configuração deformada da estrutura. Como exemplo, será tomada a estrutura de
dois andares da Figura 2.9, constituída por um pórtico e por um elemento contraventado, submetida a
um conjunto de forças horizontais e cargas verticais, cujos primeiro e segundo andares apresentam deslo-
camentos horizontais iguais a 1 e 2, respectivamente.

Figura 2.9 – Efeito global de segunda ordem

Quando se considera a carga gravitacional total As forças horizontais totais resultantes nos níveis
no primeiro andar deslocada de 1 e a carga gra- inferior e superior dos dois andares são as dife-
vitacional total no segundo andar deslocada de renças entre as forças H0 nesses níveis, conforme
2 em relação à posição original, surgem nesses se vê na Figura 2.9. Essas forças podem alterar os

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


andares momentos de segunda ordem, respectiva- valores dos esforços solicitantes nas extremidades
mente iguais a: das barras, especialmente o momento fletor.

O efeito local de segunda ordem ou efeito P-, co-


M0,1 = (P1,2 + P2,2 + P3,2 + P1,1 + P2,1 + P3,1) '1
nhecido como efeito “pê-deltinha”, é caracteriza-
(2.12)
do pelas respostas decorrentes dos deslocamentos
transversais de cada barra da estrutura submetida
M0,2 = (P1,2 + P2,2 + P3,2) ('2  '1) (2.13)
à força axial. A Figura 2.10 ilustra esse efeito para
barras com curvatura simples e curvatura reversa.
Esses dois momentos podem ser transformados A força axial de compressão P atuante na barra
nas forças horizontais equivalentes, de sentidos provoca um aumento do momento fletor nas se-
opostos, no primeiro e no segundo andar, respec- ções transversais situadas entre as duas extremida-
tivamente, dadas por: des dessa barra, cujo valor máximo é igual ao pro-
duto P vezes onde é o máximo deslocamento
M 0,1
H 0,1  transversal provocado pela curvatura da barra (lo-
h1 (2.14) gicamente, o aumento do momento é nulo nas
M 0,2 extremidades e variável ao longo do comprimen-
H 0,2  to da barra). Se a força axial for de tração, ocorre
h2 (2.15) uma redução do momento fletor.
91
especializadas executam essa análise, fornecendo
resultados bastante precisos. Alternativamente, a
ABNT NBR 8800:2008 apresenta um método
simplificado, denominado Método da Amplifica-
ção dos Esforços Solicitantes (MAES), segundo o
qual a análise de segunda ordem é simulada, com
precisão aceitável, a partir de duas análises de pri-
meira ordem.

2.4.3.2.2. Método da Amplificação dos Esforços


Solicitantes
Figura 2.10 – Efeito local de segunda ordem, P-, em barras com
curvaturas simples e reversa Usando-se o MAES, a estrutura analisada, chama-
da de Estrutura Original, é inicialmente substitu-
Obviamente, o efeito local de segunda ordem afe- ída pela soma de duas outras, conforme se vê na
ta exclusivamente o valor do momento fletor. Figura 2.11: uma estrutura com o carregamento
total e com nós impedidos de se deslocar lateral-
mente, pela colocação de contenções horizontais
fictícias em cada andar, chamada de Estrutura
2.4.3.2. Métodos de Execução
nt (“no translation”, ou seja, indeslocável lateral-
2.4.3.2.1. Ideia Geral mente), e uma estrutura submetida às reações das
contenções fictícias aplicadas em sentido contrá-
A análise estrutural de segunda ordem pode ser rio, nos mesmos pontos onde tais contenções fo-
feita por qualquer método que considere os efei- ram colocadas, chamada de Estrutura ℓt (“lateral
tos global P- e local P-. Muitos programas translation”, ou seja, deslocável lateralmente).
computacionais comercializados por empresas

Estrutura Original Estrutura nt Estrutura ℓt

Figura 2.11 – Estrutura Original decomposta na Estrutura nt e na Estrutura ℓt

92
Em qualquer ponto da estrutura analisada, o mo- sendo Mnt,Sd,1/Mnt,Sd,2 a relação entre o menor e o
mento fletor e a força axial solicitantes de cálculo, maior dos momentos fletores solicitantes de cál-
respectivamente MSd e NSd, são dados por: culo na Estrutura nt no plano de flexão, nas extre-
midades da barra, tomada como positiva quando
 os momentos provocarem curvatura reversa e ne-
At ,Sd 
    

Sd 1 nt ,Sd 2 (2.16) gativa quando provocarem curvatura simples.

Sd nt ,Sd 


2 At ,Sd 
Observa-se que valor de B1 é tanto maior quan-
(2.17)
to maior for o deslocamento (ver Figura 2.10),
que depende do diagrama de momento fletor, re-
onde Mnt,Sd e Nnt,Sd são, respectivamente, o mo-
presentado pelo coeficiente Cm (notar, por exem-
mento fletor e a força axial solicitantes de cálculo,
plo, que Cm é maior na curvatura simples que na
obtidos por análise elástica de primeira ordem na
reversa), da força axial atuante, igual à soma de
Estrutura nt. Por sua vez, Mℓt,Sd e Nℓt,Sd são o mo-
Nnt,Sd e Nℓt,Sd (força maior provoca maior ), e da
mento fletor e a força axial solicitantes de cálculo,
rigidez da barra, representada pela força axial de
obtidos também por análise elástica de primeira
flambagem elástica Ne (quanto menor Ne, menor
ordem, na Estrutura ℓt.
a rigidez e maior ).
O coeficiente B1, que aparece na Equação (2.16),
O coeficiente B2, que aparece nas Equações (2.16)
tem o objetivo de considerar, em todas as barras
e (2.17), tem o objetivo de considerar, em todos
da estrutura (cada barra possui um B1), o efeito
os andares da estrutura (cada andar possui um B2),
local P- no valor do momento fletor (a rigor,
o efeito global P- nos valores do momento fletor
conforme foi explicitado anteriormente, esse efei-
e da força axial, e é dado por:
to é variável ao longo do comprimento da barra e
nulo nos nós, mas por simplicidade e conservado-
1
ramente, é considerado com sua intensidade má- B2 =
xima em toda a barra). Seu valor deve ser tomado 1 ∆ ∑P
1- R  h  ∑HSd
como igual a 1,0 se a força axial que atua na barra S h Sd (2.20)
for de tração e, se essa força for de compressão,

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


como igual a: onde:

h é o deslocamento horizontal relativo entre


Cm
• 1,0  os níveis superior e inferior (deslocamento in-


1
N nt ,Sd  N At ,Sd terpavimento) do andar considerado, obtido na
1
Ne (2.18)
Estrutura ℓt (se h possuir valores diferentes em
um mesmo andar, deve ser tomado um valor
onde Ne é a força axial que provoca a flambagem ponderado para esse deslocamento, em função
elástica por flexão da barra no plano de atuação da proporção das cargas gravitacionais atuantes,
do momento fletor, calculada com o comprimen- ou ser assumido, de modo conservador, o maior
to real L da barra (Ne = 2EaI/L2) e Cm é um coe- valor);
ficiente de equivalência de momentos, igual a 1,0 Rs é um coeficiente que leva em conta a influ-
se houver forças transversais entre as extremidades ência do efeito local P- na amplificação de h,
da barra no plano de flexão e, se não houver forças igual a 0,85 nas estruturas onde pelo menos
transversais, igual a: uma subestrutura de contraventamento seja

pórtico, e igual a 1,0 nas demais estruturas;
nt ,Sd ,1
0,60  0,40 


m 

h é a altura do andar;
nt ,Sd ,2 (2.19)
93
PSd é a carga gravitacional de cálculo total coeficientes B1 e B2 não entram em seu cálculo),
que atua no andar considerado, englobando as ou seja, igual ao da Estrutura Original ou igual a:
cargas atuantes nas subestruturas de contraven-
tamento e nos elementos contraventados (essa VSd Vnt,Sd  VAt,Sd
carga é obtida da Estrutura Original ou da Es- (2.21)
trutura nt);
onde Vnt,Sd e Vℓt,Sd são, respectivamente, as forças
HSd é a força cortante no andar, produzida cortantes solicitantes de cálculo na Estrutura nt e
pelas forças horizontais de cálculo atuantes na na Estrutura ℓt.
Estrutura ℓt (forças oriundas das reações das
contenções horizontais fictícias), usadas para
determinar h. 2.4.4. Consideração dos Efeitos
de Imperfeições
O valor de B2 é tanto maior quanto maiores
forem os deslocamentos e as forças gravita- 2.4.4.1. Tipos de Imperfeições
cionais PSd. Os deslocamentos têm maiores
valores quando a rigidez da estrutura a desloca- Na análise estrutural, devem também ser consi-
mentos laterais é pequena, ou seja, quando as derados os efeitos das chamadas imperfeições ini-
relações h/h são elevadas. A força cortante no ciais. Essas imperfeições são de dois tipos: geomé-
andar, HSd, não influi no resultado, uma vez tricas e de material.
que a relação h/HSd é constante.
2.4.4.2. Imperfeições Geométricas
As deduções dos valores de B1 e B2, dados pelas
O efeito das imperfeições geométricas iniciais
Equações (2.18) e (2.20), respectivamente, po-
precisa ser considerado na análise da estrutura
dem ser obtidas em diversas publicações, entre as
por causa de possíveis desaprumos de monta-
quais Salmon et al. (2009).
gem. Para tal, considera-se, em cada andar, um
A força cortante solicitante de cálculo pratica- deslocamento horizontal relativo entre os níveis
mente não sofre influência dos efeitos de segunda inferior e superior (deslocamento interpavimen-
ordem, razão pela qual seu valor pode ser tomado to) de h/333, onde h é a altura do andar, confor-
igual ao da análise elástica de primeira ordem (os me ilustra a Figura 2.12.

Figura 2.12 – Imperfeições geométricas iniciais da estrutura


94
Para facilitar a consideração prática do efeito das imperfeições geométricas iniciais na análise estrutural, esse
efeito pode ser levado em conta por meio da colocação, em cada andar, de uma força horizontal fictícia, deno-
minada força nocional (Fnd), igual 0,3% das cargas gravitacionais de cálculo totais aplicadas no próprio andar,
incluindo as das subestruturas de contraventamento e dos elementos contraventados (Figura 2.13).

Figura 2.13 – Forças nocionais para consideração do efeito das imperfeições geométricas

O efeito das imperfeições geométricas iniciais deve 2.4.4.3. Imperfeições de Material


ser considerado em todas as direções relevantes da
estrutura, mas em apenas uma direção de cada vez. As barras que compõem a estrutura são normal-

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Assim, em uma estrutura com comportamento tri- mente dimensionadas com suas propriedades
dimensional, se forem utilizadas as forças nocionais, plásticas. Por essa razão, podem sofrer plastifica-
essas forças devem ser aplicadas nas duas direções ho- ções parciais, exacerbadas pelas tensões residuais
rizontais principais, mas não simultaneamente. Em presentes no aço e pela não linearidade do diagra-
cada direção, as forças devem ser aplicadas nos dois ma tensão versus deformação do concreto, que não
sentidos, com objetivo de obter os esforços solicitan- são detectadas na análise elástica, e que causam um
tes de cálculo mais desfavoráveis em cada uma das aumento dos deslocamentos e, como consequên-
barras da estrutura. cia, alteração nos valores dos esforços solicitantes
na análise de segunda ordem. Esse efeito, chama-
Para se evitar uma condição excessivamente conser- do de efeito das imperfeições iniciais de material,
vadora, o efeito das imperfeições geométricas não deve ser levado em conta na análise estrutural.
precisa ser inserido em combinações de ações em Um procedimento simplificado para isso consis-
que existam forças horizontais, como as decorrentes te em efetuar a análise da estrutura reduzindo a
de vento e equipamentos. Esse efeito, quando consi- rigidez à flexão e a rigidez axial de todas as barras
derado, também não precisa ser levado em conta no para 80% dos valores originais. Assim, as barras
valor das reações horizontais de apoio para dimen- de aço devem ser consideradas com um módulo
sionamento das bases dos pilares e das fundações. de elasticidade reduzido, Ea,red, igual a 80% de

95
200000 MPa, ou seja, igual a 160000 MPa, valor A análise de estruturas de barras requer do pro-
que deve ser utilizado inclusive no cálculo Ne para fissional experiência não apenas no manuseio das
obtenção do coeficiente B1 (ver Subitem 2.4.4.2). ferramentas computacionais, mas, na mesma me-
No caso dos elementos mistos de aço e concreto, dida, experiência como projetista de estruturas de
a rigidez obtida conforme o Capítulo 4 deve ser modo a traduzir no modelo de análise, da forma
multiplicada por 0,8. a mais adequada possível, as condições reais da es-
trutura. Para isso, merecem destaque as condições
dos apoios da estrutura (vínculos externos) e as
2.5. MODELAGEM ESTRUTURAL condições de extremidade das barras nas juntas
soldadas ou parafusadas, de modo a traduzir no
modelo de análise as condições da estrutura real
2.5.1. Ideias Gerais decorrentes da tipologia dos elementos de ligação
entre as barras. Isso se refere aos efeitos da con-
Conforme explicitado anteriormente, a análise figuração (geometria) dos elementos de ligação,
das estruturas permite a determinação dos des- como parafusos e soldas, além dos elementos de
locamentos, esforços solicitantes e tensões nos chapa e cantoneiras que em geral constituem o
elementos estruturais, sejam barras ou superfícies projeto da ligação entre perfis de aço. Adicional-
(placas ou cascas) planas ou curvas. Em aplicações mente, é necessária atenção com possíveis desali-
típicas de estruturas de aço dirigidas à construção nhamentos entre os eixos das barras concorrentes
civil, as barras podem ser representadas nos mo- em uma junta, originados do projeto estrutural
delos de análise pelos seus eixos, e as superfícies e que podem gerar momentos fletores adicionais
pelos seus planos médios. As barras são os pilares, originados das excentricidades nas extremidades
as vigas, as escoras, os elementos de contraventa- das barras.
mento, as terças das coberturas, entre outras, en-
quanto as lajes dos edifícios são placas planas e as Embora as estruturas estejam, em sua maioria,
superfícies de silos e reservatórios metálicos de se- dispostas em três dimensões, é sabido que em
ção circular, por exemplo, placas ou cascas curvas. grande parte dos casos é possível isolar partes das
estruturas, por exemplo, partes principais e secun-
No presente contexto, voltado para estruturas for- dárias, que podem ser analisadas separadamente
madas por perfis de aço de seção tubular retangular de forma satisfatória adotando-se modelos planos
ou circular, será dado enfoque ao lançamento de (2D). A Figura 2.14 apresenta um caso de pórticos
modelos para análise de estruturas de barras, apor- resistentes de uma estrutura de edifício de anda-
ticadas ou treliçadas. Serão igualmente comentadas res múltiplos, na qual os pilares são constituídos
as possibilidades de análise mais refinada das ten- por perfis tubulares circulares (TC) e as vigas por
sões, dirigida à avaliação do comportamento loca- perfis tubulares retangulares (TR), e a Figura 2.15
lizado de estruturas de barras compostas por perfis mostra o caso de treliças principais de uma cober-
tubulares, por meio da discretização do meio con- tura em aço, ligadas por vigas transversais leves do
tínuo com auxílio do método dos elementos finitos tipo joist. Ambos os exemplos ilustram a possibi-
(MEF). Embora esse tipo de análise com base no lidade de o projetista destacar em um modelo 2D
MEF não seja usual na prática corrente de projeto os conjuntos estruturais responsáveis por garantir
de estruturas civis, cabe referir sobre a possibilidade resistência e rigidez ao conjunto estrutural.
de sua aplicação, desde que os procedimentos se-
jam acompanhados por profissional com afinidade
no manuseio de programas computacionais volta-
dos para esse método.

96
Figura 2.14(a) Estrutura de edifício aporticado: modelo 3D

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural

Figura 2.14(b) Pórtico resistente para análise: modelo 2D

Figura 2.14 - Modelos de análise de estrutura de edifício em representações 3D e 2D

97
Figura 2.15(a) Modelo 3D de estrutura de cobertura com duas vigas treliçadas principais ligadas por joists transversais

Figura 2.15(b) Modelo de análise 2D da viga treliçada principal

Figura 2.15 - Modelos de análise de estrutura de cobertura metálica em representações 3D e 2D.

98
2.5.2. Condições de Extremidade das Barras
A Figura 2.16 ilustra duas condições principais de ligação em estruturas aporticadas entre vigas em perfis
I com o pilar em perfil tubular circular (TC): rotações livres ou restringidas nas extremidades das vigas, o
que significa, respectivamente, nas Figuras 2.16-a e 2.16-b, com ou sem transferência de momentos fletores
entre as barras. Tal condição, conforme salientado anteriormente, deve ser definida pelo projetista de forma
adequada, de modo a garantir sintonia entre o modelo de análise e a estrutura de aço fabricada e montada.

Figura 2.16(a) Região nodal aporticada de ligação entre vigas e pilar, com transferência de momentos fletores entre as barras das vigas e do pilar

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural

Figura 2.16(b) Região nodal na ligação entre vigas e pilar com ligações flexíveis, sem transmissão de momento fletor
Figura 2.16 - Ligações entre vigas em perfis abertos e pilar em tubo de aço com distintas condições de comportamento estrutural da região nodal
99
Já a Figura 2.17 ilustra dois tipos de ligações em
estruturas de barras em perfis tubulares do tipo
treliça. A Figura 2.17-a mostra as ligações para-
fusadas das diagonais com o banzo, constituindo
assim uma condição de extremidade com rotações
de flexão livres no plano da estrutura, sendo, por-
tanto, adequado o modelo de barras apresentado
na Figura 2.17-b para a análise estrutural. A Figu-
ra 2.17-c mostra o tipo de ligação soldada “a toda
volta” nas extremidades das diagonais (e montan-
tes, se houver), permitindo assim a transferência
de momentos fletores entre o banzo e as diago-
nais. Embora seja essa, rigorosamente, a condição
Figura 2.17(a) Diagonais com ligação parafusada no banzo
de extremidade dessas barras soldadas, o que cor-
responde ao modelo de análise com transferência
de momentos na junta indicado na Figura 2.17-d,
esse efeito poderá ser desconsiderado no mode-
lo de análise, sendo usual e aceitável a adoção do
modelo ilustrado na Figura 2.17-e, desde que: (a)
no sistema estrutural em viga treliçada, banzos e
diagonais sejam suficientemente flexíveis (baixa
rigidez à flexão) de modo a tornar desprezável o
valor do momento fletor nessas barras; e (b) as
excentricidades nos nós obedeçam às seguintes li- Figura 2.17(b) Modelo de análise com ligação contínua entre
mitações geométricas, onde e é a excentricidade, diagonais e banzo
d0 é o diâmetro do banzo e h0 é a altura da seção
transversal do banzo no plano da treliça:
• -0,55 d0 ≤ e ≤ 0,25 d0, para tubos circulares;

• -0,55 h0 ≤ e ≤ 0,25 h0, para tubos retangulares.

Figura 2.17(c) Diagonais com ligação soldada no banzo

Figura 2.17(d) Modelo de análise com ligação continua entre


diagonais e banzo
100
Adicionalmente, mesmo que o comportamento
estrutural nas extremidades das diagonais condu-
za a combinações de forças axiais e momentos fle-
tores que resultem no desenvolvimento de regiões
plastificadas do aço, esse efeito será sempre loca-
lizado, não evoluindo ao longo do comprimento
do tubo e, como consequência, dará origem à for-
mação de rótula plástica na extremidade da diago-
nal. Tal ocorrência não afeta a segurança estrutu-
ral, resultando em uma limitação da capacidade
Figura 2.17(e) Modelo de análise de treliça ideal: Válida desde de absorção de momentos fletores por parte da
que L/d1 ≥ 6
diagonal que, em última instância, corresponde e
está de acordo com o modelo estrutural preconi-
zado na Figura 2.17-f.

Já para os banzos, embora seja facultado o uso do


modelo de treliça da Figura 2.17-e para o caso de
barras esbeltas (L/hi>6), adotá-los como contí-
nuos no modelo de análise representa uma prática
adequada em qualquer situação, conforme está
ilustrado nos modelos das Figuras 2.17-b, 2.17-d
e 2.17-f. Consequentemente, os banzos devem ser
Figura 2.17(f ) Modelo de análise com os banzos contínuos, dimensionados levando em conta a presença da
apoiados nas diagonais. Rotações liberadas nas extremidades das
diagonais desde que L/d2 ≥ 6 combinação entre forças axiais de compressão ou
de tração com momentos fletores, caso ocorram.
Figura 2.17 - Tratamento de estrutura treliçada sem excentricida-
des nos nós, com ligação parafusada ou soldada entre diagonais e Adicionalmente, as limitações das excentricidades
banzo, para modelagem e análise estrutural
nos nós citadas anteriormente e relacionadas às
dimensões dos tubos que formam os ban-

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


zos (-0,55 d0 ≤ e ≤ 0,25 d0, para tubos circulares;
A rigidez das diagonais, montantes e banzos em -0,55 h0 ≤ e ≤ 0,25 h0, para tubos retangulares)
sistemas de treliças com barras de seção tubular decorrem em última instância das condições de
pode ser representada de modo simplificado pela verificação da capacidade resistente das ligações
relação entre seu comprimento, L, e a altura da soldadas: ligações com excentricidades fora desses
seção transversal, hi ou di, para seções retangula- limites devem ser dimensionadas levando em conta
res ou circulares, respectivamente. Recomendação o momento fletor nos banzos. Para os casos em que
da ABNT NBR 16239:2013 indica que as diago- esses valores limites são respeitados não há necessi-
nais podem ser tomadas com extremidades rotu- dade de se considerar o efeito do momento fletor
ladas conforme indicado no modelo das Figuras na verificação da capacidade resistente das ligações.
2.17-e e 2.17-f, desde que L/hi ou L/di supere 6.
Nessa condição, pode-se considerar que as dia- Como se vê, a tipologia das ligações (geometria e
gonais com extremidades soldadas desenvolvem elementos de ligação empregados na junta) define
momentos fletores de pouca importância em suas as condições de transferência de esforços entre as
extremidades se comparados com as forças axiais extremidades das barras. A adequada consideração
de tração ou de compressão absorvidas por essas dessas condições no modelo de análise é crucial
barras e, consequentemente, seu dimensionamen- para que o projeto estrutural resulte em sintonia
to poderá considerar unicamente as forças axiais. com a estrutura a ser fabricada e montada.
101
Portanto, a presença de excentricidade na ligação (a rigidez nesse caso pode ser considerada como
entre diagonais e banzo acarreta no desenvolvi- EaI/L, proporcional ao módulo de elasticidade do
mento de momentos nas juntas, que devem se aço Ea e ao momento de inércia da seção transver-
distribuir para as barras concorrentes. Essa situ- sal I no plano de flexão da viga treliçada, e inver-
ação, ilustrada na Figura 2.18, embora indeseja- samente proporcional ao comprimento L de cada
da, ocorre com frequência em projetos de vigas barra concorrente no nó). Nesse caso, a adoção de
treliçadas com juntas soldadas em que a geome- um elemento auxiliar de ligação EL com a mesma
tria das barras concorrentes impede a solução da seção do banzo e módulo de elasticidade da or-
junta com a convergência dos eixos das barras dem de duas a três vezes o valor do módulo do aço
em um ponto de trabalho (PT) único. O mo- (E = 400 a 600 GPa) costuma atender na análise
delo para análise preconizado pela ABNT NBR da estrutura (considerando que a sua rigidez já é
16239:2013 para esses casos está indicado na muito elevada em comparação com as demais bar-
mesma Figura 2.18, pelo qual é possível consta- ras dado o seu pequeno comprimento L). Valores
tar a introdução de momentos fletores nos banzos do módulo de elasticidade muito maiores do que
na região da junta, ao mesmo tempo em que fica esses (ou valores de momento de inércia muito
mantida a condição descrita anteriormente para elevados) devem convergir para os mesmos resul-
as diagonais, com extremidades rotuladas. Nessa tados da análise, devendo-se, no entanto, evitar
solução, o elemento auxiliar de barra (fictício) adi- valores muito grandes da rigidez à flexão de modo
cionado na junta, aqui denominado elemento de a evitar problemas na solução numérica executada
ligação (EL), deve ser suficientemente rígido de pelo programa computacional de análise.
modo a garantir a introdução do momento no nó

Figura 2.18(a) Excentricidade positiva e modelo de análise com elemento de ligação EL

Figura 2.18(b) Excentricidade negativa e modelo de análise com elemento de ligação EL


Figura 2.18 - Viga treliçada com ligações soldadas e excentricidade nos nós
102
Outra possibilidade para a inclusão dos efeitos de tubulares de seção circular representa a solução
excentricidade nos nós de estruturas treliçadas é o mais adequada nesse caso.
recurso comumente designado nos programas co-
merciais como offset, que permite associar distin-
tos nós do modelo de análise, de modo a vincular
seus deslocamentos (graus de liberdade) tornan-
do-os comuns. A Figura 2.19 indica o modelo de
viga treliçada onde as excentricidades nos nós de-
vem ser consideradas pelo recurso offset: graus de
liberdade dos pares de nós ij devem ser vinculados
com auxílio do recurso de offset.

Figura 2.20 - Treliçado espacial

No projeto dessas estruturas formadas por bar-


ras tubulares de seção circular, o lançamento do
modelo de análise do reticulado espacial deve ser
realizado com o auxílio de recursos computacio-
nais com base na computação gráfica, permitin-
do a automatização do processo além de facilitar
modificações de geometria durante o desenvolvi-
mento da solução, com o objetivo de se obter
Figura 2.19 - Recurso offset disponível em programas comerciais uma configuração final adequada e competitiva.
de análise de estruturas vinculam os deslocamentos dos nós i e j Os recursos de computação gráfica são variados
e oferecidos por inúmeros aplicativos comerciais.
Os resultados da análise de vigas treliçadas com Sistemas computacionais identificados pela sigla
barras tubulares com excentricidades nos nós, CAD (computer aided design) são próprios para o
aplicando-se os dois tipos de soluções: (a) com desenvolvimento gráfico da estrutura e cobertos

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


elementos adicionais rígidos EL (Figura 2.18) ou por uma larga gama de aplicativos computacionais
(b) com a adoção do recurso offset (Figura 2.19), comerciais. Os programas baseados em sistemas
são praticamente iguais, podendo, portanto, serem CAD fornecem distintas facilidades e, em geral,
adotados indistintamente. oferecem uma gama bem maior de recursos do que
os pré-processadores encontrados nos programas
de análise de estruturas, identificados como siste-
2.6. CONSIDERAÇÕES SOBRE A mas CAE (computer aided engineering), podendo
ANÁLISE DOS TRELIÇADOS ser trabalhados pelo projetista para o lançamento
ESPACIAIS de estruturas do tipo treliçados espaciais, as quais
Coberturas para grandes áreas podem ser con- guardam regularidade e repetição que conduzem
cebidas com auxílio dos denominados treliçados à padronização. Portanto, seu lançamento poderá
espaciais, conforme apresentado na Figura 2.20. ser gerado a partir dos elementos geométricos de
Tais estruturas são em geral montadas no solo e um módulo básico a ser replicado. Recursos de
a seguir erguidas para serem conectadas aos pila- programação nos referidos sistemas computacio-
res. As estruturas treliçadas espaciais apresentam nais CAD podem ser de grande valia, como são
excelente desempenho para a cobertura de gran- os casos de recursos de programação interna em
des vãos, podendo resultar muito leves e suficien- macros, scripts e plug-ins, disponíveis no ambiente
temente rígidas, sendo que o emprego de barras desses programas, permitindo o desenvolvimento
103
da estrutura reticulada por meio da entrada dos axiais NSd nas barras de uma estrutura treliçada es-
parâmetros geométricos que definem a geração pacial, indicados por seus valores, com as unidades
automática do reticulado. A Figura 2.21 apresen- em kN. Já a Figura 2.22-b apresenta os resultados
ta um exemplo de estrutura de treliçado espacial do coeficiente de aproveitamento das barras, ou
gerada com auxílio de linguagem script programa- seja, a relação entre as forças axiais solicitante NSd
da no interior de uma ferramenta CAD. e resistente NRd das barras, NSd /NRd . Desse modo, é
possível avaliar rapidamente o desempenho estru-
tural das barras do treliçado espacial, onde valores
superiores à unidade na Figura 2.22-b indicam
que a segurança normativa foi violada. Embora
esse recurso esteja disponível em vários programas
computacionais do tipo CAE, o fato de serem fre-
quentemente desenvolvidos em outros países não
permite introduzir os parâmetros de resistência
adotados nas normas brasileiras (procedimentos
de design checking disponíveis nos programas de
análise CAE incluem normalmente as normas
Figura 2.21(a) Representação unifilar
mais conhecidas, americanas, europeias, japone-
sas, etc.), o que acaba estimulando os projetistas
a dispensarem o uso dos documentos da ABNT.
A solução para essa lacuna pode ser obtida com
o auxílio de planilhas auxiliares de cálculo, facil-
mente programáveis pelos engenheiros projetistas,
conforme será comentado no item a seguir.

Figura 2.21(b) ) Representação volumétrica das barras tubulares


Figura 2.21 - Treliçado espacial formado com barras tubulares
gerado com recurso CAD

Os sistemas de barras representados por unifilares


gerados em sistemas computacionais CAD são em
geral “lidos” e “compreendidos” pelos programas
de análise de estruturas, ficando, portanto, a cri-
tério do projetista se limitar às facilidades gráficas
oferecidas pelo pré-processador gráfico do sistema
de análise estrutural do tipo CAE ou se utilizar
dos recursos CAD para a geração do modelo.

O caso dos treliçados espaciais se destaca pelo


grande número de barras, sendo, portanto, es-
sencial o acesso a recursos de pós-processamento
gráfico para visualizar os resultados dos esforços
solicitantes no conjunto estrutural. A Figura 2.22-a
apresenta um exemplo de visualização das forças
104
Figura 2.22(a) Resultados das forças axiais solicitantes de cálculo NSd (kN), a partir de pós processamento gráfico

Figura 2.22(b) Resultados dos coeficientes de aproveitamento das barras (NSd/NRd), a partir de pós processamento gráfico

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Figura 2.22 - Representação gráfica dos resultados da análise estrutural da estrutura espacial ilustrada na Figura 2.13, com auxílio de pro-
grama computacional (CAE)

2.7. VERIFICAÇÃO AUTOMATIZA- é possível de ser realizado) ou, ainda, extrair os


DA DA SEGURANÇA ESTRUTURAL resultados da análise de modo a confrontar os es-
forços solicitantes de cálculo Sd com os esforços
Conforme comentado anteriormente, dentro resistentes Rd prescritos nas normas nacionais.
da família de aplicativos comerciais CAE para a
análise de estruturas se destacam os recursos de Tendo como origem a análise computacional
verificação dos estados-limites últimos das bar- (CAE) de uma estrutura de barras tubulares de
ras formadas por perfis de aço, disponíveis em aço, a Figura 2.23 apresenta os resultados da ve-
vários desses programas com base em prescrições rificação da segurança estrutural individual das
de normas para o dimensionamento de estrutu- barras de uma estrutura em perfis tubulares retan-
ras. Levando em conta que muitos dos programas gulares com aço com resistência ao escoamento
de análise de estruturas usualmente adotados não igual a 300 MPa, em modelo 2D, onde se leem
incluem as normas nacionais da ABNT, fica com os esforços internos extraídos do programa com-
os projetistas de estruturas a tarefa de incluir tais putacional de análise (força axial NSd e momen-
prescrições nesses aplicativos (o que em geral não to fletor MSd), os respectivos esforços resistentes
105
(NRd e MRd) calculados segundo os critérios das vos do tipo texto com os resultados finais dos es-
normas ABNT NBR 16239:2013 e ABNT NBR forços internos calculados) na planilha preparada
8800:2008, as respectivas razões entre esforços so- pelo projetista. Esse procedimento, de grande al-
licitantes e resistentes (NSd/NRd e MSd/MRd) e, final- cance para a racionalização do dimensionamento
mente, o resultado da segurança estrutural de cada estrutural, permite a dispensa dos procedimentos
barra segundo as equações de interação da norma do tipo “steel checking” incluídos nos programas
ABNT NBR 8800:2008 para o caso de combina- de análise com base em normas estrangeiras. Fi-
ção de esforços solicitantes (≤ 1 atende; > 1 não nalmente, como um recurso adicional para o
atende, conforme indicado na coluna identificada conforto do projetista, os resultados obtidos das
como Verificação na Figura 2.23, onde A significa equações de resistência das normas brasileiras, re-
atende e NA não atende). Trata-se, portanto, de lacionando esforços solicitantes e resistentes, po-
um recurso facilmente programável com auxílio dem ser lançados graficamente no reticulado ori-
de planilhas de cálculo, após a obtenção dos resul- ginalmente gerado em sistema CAD (gerado na
tados da análise da estrutura, bastando para isso a fase de pré-processamento gráfico do modelo da
importação dos resultados gerados no programa estrutura) conforme ilustrado anteriormente na
de análise (sistemas CAE em geral salvam arqui- Figura 2.22.

NSd MSd NRd MRd Eq de


Barra Tubo NSd/NRd MSd/MRd interação Verificação
(kN) (kN.m) (kN) (kN.m)
..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..............
110 TQ100 x 10 328,4 29,6 656,7 98,5 0,50 0,30 0,767 A
111 TQ100 x 10 525,4 39,4 656,7 98,5 0,80 0,40 1,156 NA
..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..............

Figura 2.23 - Resultados da análise e dimensionamento de estrutura formada por tubos de aço

2.8. ANÁLISE DE MEIOS (shell). Esse recurso se presta, por exemplo, para
CONTÍNUOS PELO MEF a análise de tensões em uma região de uma jun-
ta soldada conforme se pode observar na Figura
A análise das estruturas como um meio con- 2.24, onde estão apresentados os resultados da
tínuo em 3D não é aqui o enfoque principal. análise de tensões elásticas e o mecanismo de
Conforme comentado anteriormente, as estru- colapso elastoplástico (a escala de cores identifi-
turas regulares da construção civil se prestam à ca valores das tensões de von Mises em relação à
análise como estruturas de barras, exceto pela resistência ao escoamento do aço, vm/fy: em ver-
presença de lajes e paredes estruturais, as quais melho tensões da ordem de grandeza do escoa-
podem, sem dificuldades maiores, serem mode- mento do aço, indicando as regiões de avanço
ladas com elementos finitos de placa em geral da plastificação). Esse tipo de análise pode ser
disponíveis nos pacotes computacionais comer- aplicado na investigação dos fenômenos locali-
ciais para análise numérica de estruturas. No zados, incluindo as paredes dos perfis tubulares
caso de estruturas formadas por perfis tubula- e as regiões soldadas de ligação entre as barras,
res, a análise de um trecho da estrutura como permitindo a previsão do comportamento e da
contínuo pode ser realizada com base no MEF, capacidade resistente da junta.
106
utilizando para isso elementos finitos de casca
Figura 2.24 - Modelo de análise numérica de uma região nodal soldada formada por tubos de aço (corresponde à junta ilustrada na Figura
2.17) com auxílio do método dos elementos finitos

A Figura 2.25 apresenta um exemplo de colapso


de uma junta soldada formada por barras tubula- 2.9. ANÁLISE ESTRUTURAL PARA
res retangulares e circulares. A fratura no cordão ESTADOS-LIMITES ÚLTIMOS
de solda pode ser examinada com auxílio da aná-
lise pelo MEF comentada anteriormente, permi-
2.9.1. Classificação das Estruturas
tindo a identificação do mecanismo de falha. Esse O tipo de análise estrutural e os efeitos que devem
é um recurso muito útil na análise de acidentes ser considerados na determinação das respostas
estruturais desse tipo ou mesmo para auxiliar no para estados-limites últimos (essas respostas são
projeto de juntas especiais de barras tubulares, normalmente os esforços solicitantes) dependem

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


com tipologia não coberta nas normas de proje- da classificação das estruturas quanto à sensibili-
to de estruturas. No entanto, a aplicação desse dade a deslocamentos horizontais. Nesse contex-
tipo de análise numérica via MEF com programas to, as estruturas podem ser de:
computacionais comerciais requer habilitação e
experiência do profissional, de modo a adotar os - pequena deslocabilidade quando, em todos os
parâmetros de análise adequados e conduzir à so- seus andares, a relação entre o deslocamento la-
lução correta do problema. teral do andar relativo à base obtido na análise de
segunda ordem e aquele obtido na análise de pri-
meira ordem, em todas as combinações últimas de
ações possíveis, for igual ou inferior a 1,10;

- média deslocabilidade, quando a máxima relação


entre os deslocamentos supracitados for superior a
1,10 e igual ou inferior a 1,40;

- grande deslocabilidade, quando a máxima re-


lação entre os deslocamentos supracitados for
superior a 1,40.
Figura 2.25 - Ruptura de uma região nodal multiplanar soldada
formada por barras tubulares de seção quadrada e circular
107
Os limites de 1,10 e 1,40 são aplicáveis descon- binações de ações possíveis, não forem superiores a
siderando-se as imperfeições iniciais de material, 50% da força axial correspondente ao escoamento
ou seja, tomando as rigidezes originais da estrutu- (produto da área bruta da seção transversal pela resis-
ra. Se essas imperfeições são consideradas, o que tência ao escoamento do aço) dessas barras.
é feito usando-se as rigidezes reduzidas (80% das
rigidezes originais), os dois limites passam a ser A segunda opção é efetuar uma análise de segunda
1,13 e 1,55, respectivamente. ordem, como descrito no Subitem 2.4.4, levando
em conta o efeito das imperfeições geométricas, ex-
A relação entre os deslocamentos laterais da análise ceto nas combinações de ações em que atuem outras
de segunda ordem e da análise de primeira ordem forças laterais, como as devidas ao vento e a equipa-
pode ser aproximada, de maneira aceitável, pelo va- mentos (salienta-se que não é necessário colocar as
lor do coeficiente B2, dado pela Equação (2.20). imperfeições geométricas em combinações de ações
em que existam outras forças laterais), e desprezando
A classificação de uma estrutura depende da com- o efeito das imperfeições de material.
binação última de ações, o que significa que uma
mesma estrutura, sob uma combinação de ações, 2.9.2.2. Estruturas de Média Deslocabilidade
pode ser, por exemplo, de pequena deslocabilida-
de e, sob outra combinação, de grande deslocabi- Nas estruturas de média deslocabilidade, a determi-
lidade. Tal fato onera e dificulta substancialmente nação dos esforços solicitantes de cálculo deve ser
o cálculo estrutural. Para minimizar o problema, a feita como na opção de análise de segunda ordem
ABNT NBR 8800:2008 admite que a classificação das estruturas de pequena deslocabilidade, mas sem
da estrutura seja feita uma única vez, tomando a desprezar o efeito das imperfeições de material, que
combinação de ações que fornece os maiores valores deve ser considerado conforme descrito no Subitem
de B2, que é a combinação constituída pela maior 2.4.5.3, ou seja, utilizando as rigidezes reduzidas.
resultante de carga gravitacional.
2.9.2.3 Estruturas de Grande Deslocabilidade

Nas estruturas de grande deslocabilidade, deve-se


2.9.2. Procedimentos fazer uma análise rigorosa, levando-se em conta as
2.9.2.1. Estruturas de Pequena Deslocabilidade não linearidades geométricas e de material. Opcio-
nalmente, a critério do responsável técnico pelo pro-
Nas estruturas de pequena deslocabilidade, uma pri- jeto estrutural, pode ser utilizado o procedimento de
meira opção é a realização da análise estrutural sem análise apresentado em 2.9.2.2 para as estruturas de
levar em conta o efeito global de segunda ordem média deslocabilidade, mas adicionando os efeitos
P- e o efeito das imperfeições de material. No caso das imperfeições geométricas iniciais às combina-
de se usar o Método da Amplificação dos Esforços ções últimas de ações em que atuem ações variáveis
Solicitantes (MAES - ver Subitem 2.4.3.2.2), basta devidas ao vento.
que seja feita uma análise convencional de primeira
ordem, com os momentos fletores obtidos multipli- 2.9.2.4. Procedimento Unificado para Estrutu-
cados pelo coeficiente B1, dado pela Equação (2.18), ras de Pequena e Média Deslocabilidades
para consideração do efeito N- (no cálculo desse
Para fins práticos, é interessante unificar os proce-
coeficiente, na obtenção do valor de Cm, a relação
dimentos de análise para estruturas de pequena e
Mnt,Sd,1/Mnt,Sd,2 deve ser obtida da própria Estrutura
média deslocabilidades, uma vez que essas estruturas
Original, uma vez que não são criadas as Estrutu-
constituem a grande maioria das utilizadas na enge-
ras nt e ℓt). O efeito das imperfeições geométricas,
nharia civil. Assim, recomenda-se usar diretamente
como visto no Subitem 2.4.5.2, deve ser considera-
o procedimento descrito em 2.9.2.2 para estruturas
do em todas as combinações de ações. No entanto,
de média deslocabilidade, eliminando-se a etapa de
essa opção só pode ser utilizada se as forças axiais
classificação da estrutura.
108 solicitantes de cálculo das barras, em todas as com-
Com esse procedimento unificado, se a estrutura for Existem situações específicas em que pode ser feita
de pequena deslocabilidade, os resultados serão ligei- análise convencional de primeira ordem, sem ne-
ramente conservadores. No entanto, deve-se assegu- cessidade de se levar em conta os efeitos das imper-
rar que a estrutura não seja de grande deslocabilida- feições. É o caso das treliças birrotuladas de pisos e
de. Isso pode ser feito facilmente, observando-se os coberturas (Figura 2.26). Essas treliças, como são
valores dos coeficientes B2, que não podem superar, componentes estruturais horizontais (ou quase),
mesmo que uma única vez, 1,55 (valor que delimi- praticamente não sofrem influência do efeito global
ta as estruturas de média e grande deslocabilidades de segunda ordem e das imperfeições geométricas
quando se usam as rigidezes reduzidas). iniciais, e o efeito local de segunda ordem não existe,
pois as barras são sujeitas apenas à força axial. Con-
Em resumo, no procedimento unificado: sequentemente, não faz sentido considerar também
- efetua-se uma análise de segunda ordem, como as imperfeições iniciais de material.
descrito no Subitem 2.4.4, para cada uma das
possíveis combinações últimas de ações que pode
solicitar a estrutura (ver 2.3.2.3);

- leva-se em conta o efeito das imperfeições geo-


métricas por meio de forças nocionais, conforme
o Subitem 2.4.5.2, exceto nas combinações de
ações em que atuem outras forças laterais;

- leva-se em conta efeito das imperfeições de ma-


terial usando as rigidezes reduzidas dos compo-
nentes estruturais, conforme o Subitem 2.4.5.3;
Figura 2.26 – Treliças birrotuladas de pisos ou coberturas
- observa-se a máxima relação entre os desloca-
Deve-se observar que, na análise de primeira ordem,
mentos laterais obtidos nas análises de segunda e
é válido o princípio da superposição dos efeitos, o
primeira ordem, em todas as combinações últimas
que permite a opção de se obter isoladamente as res-

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


de ações (ou, caso se use o MAES, do máximo
postas da estrutura a cada ação e combinar posterior-
coeficiente B2), que não pode superar 1,55.
mente essas respostas.
É importante ainda frisar que as ações precisam ser
combinadas antes da análise de segunda ordem, pois
respostas da estrutura dependem da interação entre
essas ações.
2.10. ANÁLISE ESTRUTURAL PARA
2.9.2.5. Estruturas Indeslocáveis Lateralmente ESTADOS-LIMITES DE SERVIÇO

Se a estrutura for indeslocável lateralmente, somen- Para determinação das respostas da estrutura para
te precisa ser considerado o efeito local de segunda estados-limites de serviço (essas respostas são nor-
ordem P- nos valores dos momentos fletores. Esse malmente os deslocamentos da estrutura), pode
tipo de estrutura possui, evidentemente, deslocabili- ser feita análise estrutural de primeira ordem, des-
dade nula e, por essa razão, como nas estruturas de de que a estrutura seja de pequena ou média des-
pequena deslocabilidade, não há necessidade de se locabilidade, usando-se as combinações de ações
considerar o efeito das imperfeições de material. de serviço (ver 2.3.3.3). Não é necessário conside-
rar os efeitos das imperfeições iniciais geométricas
2.9.3. Possibilidade de Análise de e de material.
Primeira Ordem
109
- forças características decorrentes de ações per-
2.11. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO manentes, Pg,k,1, iguais a 24 kN;
- forças características decorrentes de sobrecarga,
2.11.1. Esforços Solicitantes de Cálculo Psc,k,1, iguais a 18 kN;
em Estrutura de Dois Andares
- forças características devidas ao vento, Fve,k,
A estrutura de dois andares mostrada a seguir per- iguais a 6 kN.
tence a uma edificação comercial e é constituída por
uma subestrutura de contraventamento formada No conjunto de elementos contraventados, são
por um pórtico, no qual os pilares têm perfil lamina- previstas:
do TQ 220 × 220 × 16 (Ag = 129 cm2; Ix = 7818 cm4)
e as vigas perfil laminado TR 400 × 200 × 12,5 - forças características decorrentes de ações per-
(Ag = 140 cm2; Ix = 27100 cm4), fletidos em rela- manentes, Pg,k,2, iguais a 400 kN;
ção ao eixo de maior momento de inércia (eixo x), - forças características decorrentes de sobrecar-
e por um conjunto de elementos contraventados. ga, Psc,k,2, iguais a 250 kN.
No pórtico prevê-se a atuação direta de:

Sabe-se que as vigas não se deformam axialmente, a) Tipo de análise e combinações de ações
uma vez que existem lajes de concreto ligadas me-
canicamente na face superior dessas vigas, como é Deve ser feita análise elástica de segunda ordem,
usual nos edifícios de andares múltiplos. para todas as combinações últimas de ações possí-
veis, levando-se em conta as imperfeições iniciais
Considerando as ações agrupadas e sabendo-se geométricas nas combinações sem a presença de
que as ações variáveis não superam 5 kN/m2, de- forças de vento e as imperfeições iniciais de mate-
terminar os esforços solicitantes de cálculo nas rial, por meio do MAES.
barras do pórtico para uso normal da estrutura,
usando o Método da Amplificação dos Esforços Algumas combinações últimas, possivelmente as
Solicitantes (MAES). que conduzem aos maiores esforços solicitantes
nas barras, com os coeficientes de ponderação das
Verificar ainda se os deslocamentos laterais encon- ações agrupadas conforme o Subitem 2.3.2.3.3,
tram-se dentro de limites permitidos, no que se são mostradas a seguir:
refere à ocorrência de danos permanentes a com-
ponentes da construção.
110
Hipótese 1: Carga permanente mais sobrecarga, com imperfeições geométricas e de material
(usar Ea,red = 160000 MPa)

Hipótese 2: Carga permanente mais vento, com imperfeição de material (usar Ea,red = 160000 MPa)

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Hipótese 3: Carga permanente favorável à segurança, mais vento com imperfeição de material
(usar Ea,red = 160000 MPa)

111
Hipótese 4: Carga permanente mais sobrecarga (variável principal) mais vento, com imperfeição de
material (usar Ea,red = 160000 MPa)

Hipótese 5: Carga permanente mais vento (variável principal) mais sobrecarga, com imperfeição de
material (usar Ea,red = 160000 MPa)

112
b) Valores dos esforços solicitantes de cálculo Como ilustração, a seguir será apresentada, eta-
pa por etapa, a análise apenas para a hipótese 4,
Deve ser feita análise elástica de segunda ordem usando o MAES, observando-se que foi usado um
para as hipóteses de combinações últimas de ações programa computacional para obtenção das res-
apresentadas anteriormente, adotando o módulo postas das Estruturas nt e ℓt e que a área da seção
de elasticidade do aço igual a 160000  MPa, de transversal das vigas foi tomada com valor muito
modo a obter os valores dos máximos esforços so- elevado (10.000 vezes a área real) para impedir a
licitantes de cálculo em todas as barra da estrutura. deformação axial desses elementos:

Etapa 1: Decomposição da Estrutura Original na Estrutura nt e na Estrutura ℓt

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Etapa 2: Análise estrutural da Estrutura nt

Na análise da Estrutura nt, basta que seja processada a subestrutura de contraventamento, no caso o pór-
tico, com os apoios fictícios colocados diretamente nele. As figuras seguintes mostram os diagramas de
força axial, força cortante e momento fletor obtidos. As reações nos apoios fictícios RSd,1 e RSd,2 são iguais
a 5,04 kN e 2,52 kN, respectivamente, ou seja, iguais às forças horizontais aplicadas, como era esperado
em decorrência de as vigas não se deformarem axialmente.

113
Etapa 3: Análise estrutural da Estrutura ℓt

Na análise da Estrutura ℓt processa-se o pórtico com as reações dos apoios fictícios colocadas diretamente
nele (os elementos contraventados podem ser excluídos). As figuras seguintes mostram o carregamento
com os deslocamentos obtidos e os diagramas de força axial, força cortante e momento fletor.

Etapa 4: Determinação dos valores do coeficiente B1

O coeficiente B1 deve ser obtido em cada uma das barras do pórtico, por meio da expressão:

Cm
• 1,0 


1
N nt ,Sd  N At ,Sd
1
Ne

onde Cm é igual a 1,0 se houver forças transversais entre as extremidades da barra e, se não houver essas forças


nt ,Sd ,1
0,60  0,40 


m 

nt ,Sd ,2

Logo, vem:

114


Nnt,Sd + S 2 E a ,red I x
Ne
Barra Cm + NAt,Sd L2 B1
(kN) (kN)
2
Pilar -294,00 + S u 16000 u 7818
§ 30,45 · = 0,43
esquerdo 1º. 0,6  0, 4 ¨ ¸ 0,41 + 1,90 =
400
2
andar © 62,67 ¹ = -292,10
(Usar 1,0)
= 7716
39,25 + 1,0
Viga 1,0
+ 2,52 = - (força axial
1º. andar (há forças transversais aplicadas)
= 41,77 de tração)
2
-294,00 + S u 16000 u 7818
Pilar direito § 30,45 · = 0,43
0,6  0, 4 ¨ ¸ 0,41 + (-1,90) =
400
2
1º. andar
© 62,67 ¹ = -295,90
(Usar 1,0)
= 7716
2
Pilar -147,00 + S u 16000 u 7818
§ 120,60 · = 0,29
esquerdo 2º. 0,6  0, 4 ¨ ¸ 0,28 + 0,54 =
400
2
andar © 149,67 ¹ = -146,46
(Usar 1,0)
= 7716
2
-70,09 + S u 16000 u 27100
Viga 1,0 =
+ 1,26 = 2 1,02
2º. andar (há forças transversais aplicadas) 1200
= -68,83
= 2972
2
-147,00 + S u 16000 u 7818
Pilar direito § 120,60 · = 0,29
0,6  0, 4 ¨ ¸ 0,28 + (-0,54) =
400
2
2º. andar
© 149,67 ¹ = -147,54
(Usar 1,0)
= 7716

 Etapa 5: Determinação dos valores do coeficiente B2

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


O coeficiente B2 deve ser obtido em cada andar do pórtico, por meio da expressão:

1
2
1 ǻ ™

1

R ™


onde Rs é igual a 0,85, pelo fato de a subestrutura de contraventamento ser um pórtico. Assim, pode ser
feita a tabela a seguir:

Andar i h = i  i-1 H NSd HSd B2


i (cm) (cm) (kN) (kN)
1 0,243 0,243 – 0 = 0,243 400 2408,00 (1) 7,56 (3) 1,295
(2) (4)
2 0,405 0,405 – 0,243 = 0,162 400 1204,00 2,52 1,295
(1)
PSd = 2 [(58,8  5) + 910] = 2408 kN
(2)
PSd = (58,8  5) + 910 = 1204 kN
(3)
HSd = RSd,2 + RSd,1 = 2,52 + 5,04 = 7,56 kN
(4)
HSd = RSd,2 = 2,52 kN
 115


Como o maior coeficiente B2 não supera 1,55 (no caso, os coeficientes dos dois andares foram iguais), o
procedimento utilizado na análise da estrutura, para o carregamento em consideração, é válido. Nota-se
ainda que B2, que foi determinado com Ea,red, situa-se entre 1,13 e 1,55, indicando que a estrutura é de
média deslocabilidade.

- Etapa 6: Determinação dos valores finais dos esforços solicitantes de cálculo

Os valores dos esforços solicitantes de cálculo, a serem usados na verificação dos estados-limites últimos
da estrutura, são dados nos diagramas de esforços solicitantes mostrados a seguir:

- Força axial

O diagrama de força axial na subestrutura de contraventamento é obtido usando-se a expressão


NSd = Nnt + B2 Nℓt em todas as suas seções transversais. O resultado pode ser visto a seguir:

- Força cortante

O diagrama de força cortante na subestrutura de contraventamento é obtido simplesmente somando-se


os valores obtidos nas Estruturas nt e Ct, ou seja, usando-se a expressão VSd = Vnt + VCt em todas as suas
seções transversais:

- Momento fletor

O diagrama de momento fletor na subestrutura de contraventamento é obtido pela expressão


MSd = B1 Mnt + B2 Mℓt em todas as suas seções transversais:
116
Observa-se que: exemplo, aos nós) e a variação andar por andar do
valor do coeficiente B2, que muitas vezes ocorre
- neste exemplo, como o coeficiente B1 é igual a (neste exemplo, essa variação não foi percebida);
1,0, ou muito próximo de 1,0, em todas as barras
e os valores da força axial e do momento fletor na - a análise estrutural, feita por meio de programa
Estrutura Ct são muito menores que na Estrutura de computador, levou em conta a deformação por
nt, os esforços solicitantes da análise de segunda força cortante. Caso essa deformação tivesse sido
ordem ficaram próximos dos da análise de primei- desprezada, os deslocamentos 1 e 2 seriam ligei-
ra ordem. No entanto, em muitos outros casos, as ramente menores. Para se levar em conta a defor-
diferenças podem ser significativas; mação por força cortante, de modo geral os pro-
gramas solicitam apenas que seja fornecida a área
- em casos reais, especialmente quando a subestru- que trabalha ao cisalhamento nas barras, igual a:

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


tura de contraventamento não é simétrica, deve-se
considerar a ação do vento nos dois sentidos (da • no caso de perfil tubular retangular, a área das
esquerda para direita e da direita para a esquerda). almas (elementos perpendiculares ao eixo de
Nas combinações de ações apenas com cargas gra- flexão), tomada igual a duas vezes a altura da
vitacionais, as forças nocionais também devem ser parte plana desses elementos multiplicada pela
consideradas nos dois sentidos; espessura (situação do presente exemplo);

- os esforços solicitantes ficaram ligeiramente dese- • no caso de perfil tubular circular, metade da
quilibrados em alguns nós da estrutura, por exem- área bruta da seção transversal;
plo, no encontro entre a viga do 2º. pavimento e
o pilar do lado direito, o momento fletor na viga - se fosse feita uma análise de segunda ordem
é de -156,86 kN.m e, no pilar, de -153,87 kN.m. computacional mais precisa, usando um progra-
Esses desequilíbrios são decorrentes de se estar ma desenvolvido para tal, ao invés de se usar o
usando um método de análise de segunda ordem MAES, toda a estrutura da edificação, incluindo
aproximado (MAES) mas, para fins práticos, po- os elementos contraventados, deveriam participar
dem ser considerados aceitáveis. Entre as aproxi- do processo desde o seu início;
mações, destacam-se o uso do coeficiente B1 para - os elementos contraventados, embora usual-
os valores do momento fletor em todo o compri-
mente contínuos ao longo da altura da edificação,
mento da barra (ele não deveria ser aplicado, por
como mostra a Figura 2.7, neste exemplo foram
117
simulados rotulados entre o primeiro e segundo c) Verificação dos deslocamentos laterais
andar. Esse tratamento, que pode ser usado na
prática, faz com que os elementos contraventados Supondo que B2 não supera 1,55 na verificação dos
não absorvam qualquer parcela das forças horizon- estados-limites últimos em todas as combinações
tais, que ficam todas resistidas pela subestrutura últimas possíveis (na hipótese de carregamento
de contraventamento. Se os elementos contraven- processada, isso de fato foi verdade), para verifi-
tados fossem simulados contínuos, apresentariam cação dos estados-limites de serviço, pode ser feita
uma curvatura causada pela não linearidade dos análise elástica de primeira ordem, sem considerar
deslocamentos no topo dos dois andares, e assim as imperfeições iniciais geométricas e de material.
uma parte muito pequena das forças horizontais Como se quer verificar a ocorrência de danos per-
seria resistida por eles, como mostra a figura a manentes a componentes da construção, deve-se
seguir, que ficariam submetidos, além das forças usar a combinação rara de ações de serviço, dada
axiais de compressão, a momentos fletores. No pela Equação (2.11), reproduzida a seguir:
entanto, os momentos fletores seriam de pequena

m n
intensidade e poderiam ser desprezados. C ra ,ser ™ AGi ,k  AQ 1,k  ™ \ 1 j AQj ,k 
i 1 j 2

Como no caso da estrutura em questão, a ação


decorrente do vento é claramente a mais importante
para o deslocamento horizontal, a mesma deve ser
adotada como ação variável principal. Assim, a com-
binação frequente é dada pelos valores característicos
das ações permanentes e de vento, mais os valores
característicos da sobrecarga minorados pelo fator de
combinação 1 igual a 0,6. Logo, vem:

Elemento contraventado rotulado entre pavimentos deforma-se


como um conjunto de segmentos retos e não absorve forças ho-
rizontais

Os deslocamentos laterais obtidos nos níveis dos


dois andares, lembrando que para estados-limites
Elemento contraventado contínuo flete e absorve parte extrema- de serviço o módulo de elasticidade do aço pode
mente pequena das forças horizontais ser tomado como igual a 200000 MPa, e ainda le-
vando em conta a deformação por força cortante,
são mostrados a seguir:
118
barras da subestrutura de contraventamento têm
perfil laminado TC 168,3 x 7,1, que possui área
da seção transversal de 36  cm2, obter as forças
axiais solicitantes de cálculo nas barras dessa su-
bestrutura e nos elementos contraventados para
a combinação última de ações mais desfavorável,
considerando uso normal da edificação, usando o
MAES e avaliando-se a sua validade.

Esses deslocamentos são os deslocamentos totais


no nível dos dois andares, e não apenas os desloca-
mentos provocados pelas forças cortantes. No en-
tanto, por simplicidade, de forma conservadora,
serão usados esses mesmos deslocamentos totais
para comparação com o deslocamento horizon-
tal relativo entre pisos indicado, de h/500 (se essa
condição for atendida, automaticamente a condi-
ção de deslocamento no topo limitado a H/400
fica também atendida). Assim, têm-se os seguintes
deslocamentos horizontais relativos: a) Combinação última de ações
• no andar 1: (1 - 0 = 0,232 – 0 = 0,232 cm) < A combinação última de ações mais desfavorável
(h1/500 = 400/500 = 0,8 cm)  Atende! é constituída pela carga permanente e pela sobre-
carga, e possui a seguinte resultante gravitacional
• no andar 2: (2 - 1 = 0,386 – 0,232 = 0,154 cm) < nos nós, para uso normal da edificação:
(h2/500 = 400/500 = 0,8 cm)  Atende!

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Pd = 1,35 (Pg,k) + 1,50 (Psc,k) =
1,35 (180) + 1,50 (120) = 423 kN
Salienta-se que essa verificação deve ser feita nas
prumadas dos dois pilares (em nenhuma prumada Como não atuam forças laterais, a essa resultante
os limites podem ser superados). No caso desse gravitacional deve ser acrescida a força nocional
exemplo, no entanto, os deslocamentos laterais Fnd, que simula as imperfeições iniciais geométri-
nas duas prumadas são praticamente iguais. cas, conforme se vê a seguir:

2.11.2. Análise de Sistema Treliçado como


Subestrutura de Contraventamento
A figura a seguir mostra a estrutura de uma edifi-
cação com uma subestrutura de contraventamen-
to, formada pelo sistema treliçado ABC, e com
dois elementos contraventados. Nessa estrutura,
Pg,k e Psc,k são forças características decorrentes ba-
sicamente de peso próprio de equipamentos fixos
e sobrecarga, respectivamente. Sabendo-se que as
119
b) Forças axiais solicitantes de cálculo nas barras da subestrutura de contraventamento

Deve ser feita a análise estrutural elástica de segunda ordem para a combinação última de ações apresentada
anteriormente por meio do MAES. Decompondo a Estrutura Original na Estrutura nt e na Estrutura ℓt, vem:

Estrutura nt

Estrutura Original

Estrutura nt

- Estrutura nt

Na Estrutura nt (basta que seja processado o sistema treliçado ABC, com o apoio fictício colocado dire-
tamente no mesmo), como as barras AC e BC têm o mesmo ângulo, em sentidos opostos, em relação a
uma linha vertical, RSd é igual a 3,81 kN, e apenas a carga gravitacional de 423 kN provoca forças axiais
nessas barras, conforme se vê a seguir:

120
Estabelecendo as condições de equilíbrio do nó C a forças horizontais e verticais, respectivamente, tem-se:

–Nnt,Sd,AC senD + Nnt,Sd,BC senD = 0 Ÿ Nnt,Sd,BC = Nnt,Sd,AC


423
–Nnt,Sd,BC cosD – Nnt,Sd,AC cosD – 423 = 0 Ÿ -2 Nnt,Sd,AC cosD = 423 Ÿ N nt ,Sd , AC - -208,71 kN
2 u 0,9868

Nnt,Sd,BC = –208,71 kN

- Estrutura ℓt

A Estrutura ℓt está submetida apenas à reação de apoio RSd de sentido contrário, como se vê a seguir:

Estabelecendo o equilíbrio do nó C a forças verticais e horizontais, respectivamente, tem-se:

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


–NAt,Sd,AC cosD – NAt,Sd,BC cosD= 0 Ÿ NAt,Sd,AC = – NAt,BC

3,81
3,81 + NAt,Sd,BC senD – NAt,Sd,AC senD = 0 Ÿ 2 NAt,Sd,AC senD= 3,81 Ÿ N At ,Sd , AC 11,58 kN
2 u 0,1645

NAt,Sd,BC = -11,58 kN

 - Valor do coeficiente B2

Com a força horizontal no nó C de 3,81 kN, deve-se calcular o deslocamento horizontal desse nó (C)
tomando o módulo de elasticidade do aço como igual a Ea,red , ou seja, 16000 kN/cm2, para consideração
das imperfeições iniciais de material. Para isso será usado o Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV), se-
gundo o qual:
2
ni N i
'C ™ Li 
i
E A
1 a ,red i

121
onde ni são as forças axiais nas barras AC e BC decorrentes de uma força horizontal unitária aplicada no
nó C (obviamente, essas forças axiais são iguais, respectivamente, a Nℓt,Sd,AC e Nℓt,Sd,BC divididas por 3,81)
e Ni são as forças axiais nas barras AB e BC decorrentes da força de 3,81 kN atuante no nó C (Nℓt,Sd,AC e
Nℓt,Sd,BC, respectivamente). Logo, tem-se:

Com h = 600 cm, Rs = 1,00, h = C  = 0,074 cm, e com

NSd = 3 × 423 = 1269 kN


HSd = 3,81 kN
vem
1 1
1,043 


2
1 ' ™ 1 0,074 1269


1
 

1


1,0 600 3,81


R ™


 

 

- Valores das forças axiais solicitantes de cálculo

Os valores das forças axiais solicitantes de cálculo, a serem usados na verificação dos estados-limites últi-
mos da subestrutura de contraventamento, são obtidos conforme segue:

NSd,AC = Nnt,Sd,AC + B2 NCt,Sd,AC = 208,71 + 1,043 × 11,58 = -196,63 kN




NSd,BC = Nnt,Sd,BC + B2 NCt,Sd,BC = 208,71 + 1,043 (-11,58) = -220,79 kN




c) Forças axiais solicitantes de cálculo nos ele- 2.11.3. Esforços Solicitantes e Verifica-
mentos contraventados ção da Flecha em Barra Birrotulada
Os elementos contraventados ficam submetidos A barra birrotulada mostrada, com 6  m de vão,
à força axial de compressão solicitante de cálculo funciona como viga de cobertura e está subme-
igual a 423 kN. tida às forças gravitacionais características uni-
formemente distribuídas qcp,k e qsc,k, decorrentes
d) Verificação da validade do procedimento de principalmente de peso próprio de elementos
análise estrutural utilizado construtivos industrializados com adições in loco
Como o coeficiente B2 é igual a 1,043, não supe- e de sobrecarga, iguais a 4 kN/m e 2 kN/m, res-
rando, portanto, 1,55, o uso do MAES é válido. pectivamente, e a uma força axial característica
Observa-se ainda que B2, calculado com o módu- de compressão, causada pelo vento, Nve,k, igual a
lo de elasticidade do aço igual a 160000 MPa, é 2000  kN. Sabe-se que a barra é constituída por
inferior a 1,13, o que significa que a estrutura é de um perfil laminado TR 320 × 200 × 10, fletido
pequena deslocabilidade. em relação ao eixo de maior inércia (eixo x), que
122
possui momento de inércia (Ix) igual a 13250 cm4. Pede-se:

- considerando a sobrecarga como ação variável principal, determinar os máximos esforços solicitantes
de cálculo;

- verificar se a flecha atende aos limites permitidos, para estados-limites de serviço reversíveis, sabendo-
se que foi dada uma contraflecha igual a 80% da flecha causada pela carga permanente.

a) Determinação dos Esforços Solicitantes de Cálculo Máximos

A combinação última de ações, com a sobrecarga como ação variável principal, é mostrada na figura seguinte:

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Como os dois nós extremos da barra são indes- O momento fletor máximo ocorre na seção cen-
locáveis transversalmente, pode-se aplicar o dis- tral da barra e, na sua obtenção, como se afirmou
posto no Subitem 2.9.2.4 para estruturas com anteriormente, deve-se considerar o efeito local
deslocamentos laterais impedidos em que exis- P-, ou seja, a influência da força axial no seu va-
tam momentos fletores. Assim, basta considerar lor. Pelo MAES, tem-se que:
na análise o efeito local P- nos valores dos mo-
mentos fletores, sem levar em conta as imper- MSd = B1 M0
feições iniciais geométricas e de material. Dessa com
forma, a força axial de compressão solicitante q d L2 8,6 u 6 2
38,7 kN.m


de cálculo máxima (Nc,Sd) é própria força axial 0


8 8
de 1680 kN aplicada à barra e a força cortante
solicitante de cálculo máxima ocorre junto aos e, como, nesse caso, Nnt,Sd mais Nℓt,Sd é igual a Nc,Sd,
apoios e é dada por: "

• 1,0 
#

1 !

q d L 8,6  6
 

1
 

VSd = = = 25,8kN !

2 2 

123

onde Cm é igual a 1,0 por existir forças transversais entre as extremidades da barra, Nc,Sd é a força axial de
1680 kN, e

S 2 Ea I x S 2 u 20000 u 13250
7265 kN
$

e
L2 600 2

Nota-se que neste cálculo de Ne, como a imperfeição de material não precisa ser considerada, usou-se Ea
(igual a 20000 kN/cm2).
Finalmente:
1,00
1,301 
%

1
1680
1
7265
e

MSd = 1,301 × 38,7 = 50,35 kNm

É interessante ainda destacar que, conforme a teoria apresentada, o valor de MSd calculado é a soma dos
momentos causados na seção central da barra pela carga distribuída qd e pela força axial de compressão
Nc,d, este último momento decorrente do efeito local P-.
Se a força axial fosse de tração, o coeficiente de amplificação B1 deveria ser tomado como 1,0 e o momento
fletor seria apenas aquele causado pela carga transversal concentrada (M0), ou seja, igual a 38,7 kNm.
b) Verificação da Flecha

Inicialmente, devem ser obtidas as flechas máximas causadas pela carga permanente e pela sobrecarga, em
valores característicos. Essas flechas, que ocorrem no meio do vão, são iguais, respectivamente, a:

5 u q cp ,k u L4 5 u 0,04 u 600 4
G cp 0,25 cm
384 u E a u I x 384 u 20000 u 13250

5 u q sc ,k u L4 5 u 0,02 u 600 4
G sc 0,13 cm
384 u E a u I x 384 u 20000 u 13250


A contraflecha da viga será igual a:
c = 0,80 × 0,25 = 0,20 cm
Como deve ser usada a combinação frequente de serviço, uma vez que o estado-limite é reversível, com
base na Equação (2.10), a flecha total será:
t = 0,25 + 0,7 (0,13) – 0,20 = 0,14 cm

124
Comparando com a flecha máxima permitida (p) para vigas de cobertura, igual a L/250, vem:

L 600
Gt 0,14  G p 2,40 cm
250 250

Portanto, a flecha da viga encontra-se dentro de limites aceitáveis. Observa-se, nesse caso, que mesmo que
não fosse dada contraflecha às vigas, não haveria problemas, pois a flecha total seria:
t = 0,14 + 0,20 = 0,34 cm
valor ainda bastante inferior ao limite de 2,40 cm.

2.11.4. Análise e Dimensionamento de


Viga Treliçada de Planta Industrial
As estruturas de suporte para correia transporta-
dora são equipamentos típicos de plantas indus-
triais para o transporte de granulados (carvão,
minérios, grãos ou brita em usinas de concreto).
A figura a seguir apresenta dois exemplos de siste-
mas de transporte, o primeiro elevado e o segun-
do de uma retomadora de minério, a qual inclui
um sistema de correia transportadora no interior Lança de uma recuperadora de minério com correia trans-
da sua lança, fabricada em perfis tubulares de aço. portadora no seu interior
Nessa figura observa-se também a seção transver-
sal da lança com a correia transportadora e a junta
soldada multiplanar da lança formada por tubos
de aço.

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Junta soldada multiplanar da lança formada por tubos de aço

Correia transportadora elevada

Seção transversal da lança com a correia transportadora 125


A estrutura a ser analisada é formada por duas treliças planas verticais laterais, que suportam o sistema
de correias transportadoras e demais equipamentos, sendo carregada nos nós superiores e inferiores. Esse
sistema implica em ligações no plano horizontal entre os banzos inferiores e superiores das duas treliças
principais verticais, garantindo desse modo a contenção lateral das vigas treliçadas verticais e aumentan-
do sua capacidade resistente à flambagem lateral. O modelo de análise adotado, que considera uma viga
treliçada isolada (2D), e o carregamento atuante, já em valores de cálculo, estão apresentados na figura
seguinte (Requena, 2013).

Geometria da treliça principal vertical lateral da transportadora (unidade: milímetro)

Geometria e dimensões da treliça principal vertical lateral da transportadora (unidade: milímetro)

Carregamento total em valor de cálculo, sem o peso próprio da treliça (unidade: tf )

126
Esses carregamentos correspondem às ações de cálculo (já majoradas). Nesses valores não está incluído o
peso próprio da treliça, porém, na análise da estrutura esse peso próprio foi levado em consideração pelo
programa computacional de análise, sendo majorado em 1,25.

As barras das treliças foram adotadas com aço estrutural VMB350, com resistência ao escoamento
fy=350 MPa e módulo de elasticidade Ea=200 GPa.
Serão explorados dois modelos de análise, conforme resumido na tabela a seguir:

Condições das ligações entre


Modelo de análise Excentricidades nos nós Tipo de ligação
diagonais e banzos
1) Treliçado ideal com as
As ligações com sobreposição ou com
diagonais concorrendo com os Sobrepostas ou com chapas
Inexistente chapa de ligação são mais complexas do
banzos no ponto de trabalho, de ligação
que as ligações com afastamento
PT
As ligações com afastamento podem ser
2) Treliça modelada
executadas com maior facilidade através
considerando as excentricidades Existente Com afastamento
de um único corte nas extremidades
das ligações
das diagonais

Será considerado inicialmente o modelo 1 sem excentricidades nos nós, sendo para isso necessário adotar
detalhe de ligação soldada sobreposta ou com chapas de ligação (passante ou de topo), conforme pode ser
observado na figura que segue (Requena, 2013).

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Posteriormente, será considerado o modelo 2 para análise, com adoção de junta soldada com afastamento,
sem, no entanto, anular as excentricidades nos nós, conforme ilustrado na figura a seguir (Requena, 2013).

O modelo 1, sem excentricidades nos nós, considera os banzos como barras contínuas apoiadas nas diago-
nais que, por sua vez, encontram-se com as extremidades sem restrições a rotações (rotuladas). Observa-se
que a condição real das ligações de extremidade das diagonais não garante a liberação da rotação nessas
posições, mas, no entanto, a esbeltez elevada desses elementos torna o efeito de extremidades desprezável,
condição essa que pode ser assegurada pela relação geométrica L/h > 6, onde L é o comprimento da barra
e h a altura da seção transversal. Os resultados obtidos da análise e dimensionamento das barras estão
incluídos na figura seguinte, onde se observam: (a) os perfis tubulares adotados, considerando o aço es-
trutural com resistência ao escoamento fy = 350 MPa, (b) o coeficiente de aproveitamento (relação entre
127
esforços solicitante e resistente de cálculo) levando-se em conta o coeficiente de flambagem K = 1,0 para
o banzo comprimido e as diagonais, e (c) o coeficiente de aproveitamento considerando o coeficiente de
flambagem K = 0,9 para o todas as barras (Requena, 2013). Mais detalhes a respeito do dimensionamento
podem ser encontrados no Capítulo 3.

A numeração das barras adotada no modelo de análise está ilustrada a seguir. A análise da estrutura foi
excutada com auxílio de programa computacional.

Para o dimensionamento das barras comprimidas fo- Com relação às condições de extremidade das
ram adotados dois critérios distintos: (i) segundo a cur- barras, o banzo comprimido, tomado como con-
va de flambagem da norma ABNT NBR8800:2008 e tínuo e apoiado nos pontos de ligação com as dia-
(ii) segundo a curva de flambagem da norma brasi- gonais, permite o desenvolvimento do modo de
leira ABNT NBR 16239:2013, dirigida a tubos de flambagem por flexão, formando uma meia onda
aço laminados a quente, sem costura, ou tubos com senoidal. O efeito da continuidade da barra afe-
ou sem costura desde que tratados termicamente ta o modo de flambagem, o qual não reproduz
para alívio de tensões residuais de fabricação. (embora sua deformada pareça análoga) o caso
clássico da “coluna de Euler”, para a qual as ex-
O uso de procedimentos de verificação automática tremidades devem estar apoiadas em rótulas ide-
da segurança estrutural disponível em programas ais, com liberação completa das rotações. O efeito
de análise estrutural, como é o caso do recurso Steel da continuidade promove condições de extremi-
Checking disponibilizado no programa SAP2000 dade com restrição parcial das rotações nos nós
[CSI, 2015], por exemplo, pode ser realizado se- intermediários do banzo, sendo possível calcular
guindo os critérios acima referidos das normas o valor teórico da força crítica de flambagem des-
brasileiras, desde que o usuário tome as seguin- sa barra com apoios intermediários. No entanto,
tes precauções, considerando que as prescrições para fins práticos, é considerado aceitável que os
das normas ABNT não estão incluídas em mui- trechos sob compressão axial do banzo de viga
to desses programas de análise: (i) para o caso da treliçada formada por tubos de aço sejam dimen-
ABNT NBR 8800:2008, adotar as prescrições da sionados tomando o coeficiente de flambagem
norma norte americana ANSI/AISC360-10, cuja K = 0,9, conforme a ABNT NBR 16239:2013.
curva de flambagem na compressão é a mesma, (ii)
para o caso da ABNT NBR 16239:2013, adotar os Adicionalmente, conforme preconizado pela
critérios da norma canadense CAN/CSA-S16-01, to- ABNT NBR 16239:2013, as diagonais e mon-
mando o cuidado de especificar o valor adequado do tantes tubulares, desde que ligados por solda a
expoente da equação da curva de flambagem válida toda a volta aos banzos, devem ser dimensiona-
para tubos de aço laminados a quente, sem costura, ou dos levando em conta os seguintes coeficientes
tubos com ou sem costura desde que tratados termica- de flambagem, em função do valor do parâmetro
mente (1/2,24), conforme a equação a seguir. geométrico G (relação entre larguras ou diâmetros
de diagonais e banzos - mais detalhes encontram-
ͳ se no Subitem 3.3.2.2.4):
߯ൌ ଵΤଶǡଶସ
ൌ ͲǡͻͲ
൫ͳ ൅ ɉସǡସ଼
଴ ൯
128
K = 0,9 para G >0,6;

K= 0,75 para G ≤ 0,6.

As seguir estão indicados os tubos de aço adotados (tubos quadrados TQ e retangulares TR) e os
coeficientes de aproveitamento resultantes da análise estrutural para as seguintes condições: (i) coe-
ficiente de flambagem K das barras dos banzos igual a 1,0 ou 0,9, (ii) dimensionamentos das barras
comprimidas segundo a curva de flambagem da norma ABNT NBR 8800:2008 ou ABNT NBR
16239:2013, que coincidem com aqueles das normas ANSI/AISC 360-10 e CAN/CSA-S16-01,
respectivamente, conforme referido anteriormente.

Coeficiente de aproveitamento, no dimensionamento das barras, considerando o coeficiente de flambagem K = 1,0 em todas as barras.

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Segundo a norma ABNT NBR 8800:2008 (e ANSI/AISC 360-10).

Segundo a norma ABNT NBR 16239:2013 (e CAN/CSA-S16-01).

129
Coeficiente de aproveitamento, no dimensionamento das barras, considerando o coeficiente de flamba-
gem K = 0,9 em todas as barras.

Segundo a norma ABNT NBR 8800:2008 (e ANSI/AISC 360-10).

Segundo a norma ABNT NBR 16239:2013 (e CAN/CSA-S16-01).

Percebe-se dos resultados acima que a considera- de barra adicionais, rígidos (elementos de ligação
ção dos critérios da norma brasileira ABNT NBR EL, conforme apresentado na Figura 2.18), con-
16239:2013, combinados com o coeficiente de forme se observa na figura seguinte. Nesse caso,
flambagem K=0,9, conduz a uma verificação ade- os elementos adicionais são adotados com a seção
quada do dimensionamento (coeficiente de apro- dos tubos do banzo superior, módulo de elastici-
veitamento inferior a 1,0 em todas as barras), ao dade igual a 4 vezes o módulo convencional do
contrário das demais soluções apresentadas. aço Ea, ou seja, 800 GPa, e massa específica nula
(Requena, 2013).
Finalmente, comparando os resultados com a
adoção de K = 1,0 e K =0,9, confirma-se o bene- A consideração da treliça sem excentricidade re-
fício de se adotar uma restrição parcial na rotação sulta em ligações sobrepostas tanto no banzo
de extremidade dos banzos, resultando em uma superior quanto no banzo inferior. Para evitar a
redução dos coeficientes de aproveitamento. execução das ligações sobrepostas foi aplicado um
afastamento de 15 mm entre as barras das diago-
Já o Modelo 2, com ligações soldadas com afasta-
nais, tanto no banzo superior quanto no banzo
mento, certamente se beneficia da tipologia ado-
inferior. Esse afastamento resultou nas seguintes
tada para o processo de fabricação, mas resulta
excentricidades: banzo superior: 107,5 mm; e
em uma estrutura com excentricidades nos nós. A
banzo inferior: 82,5 mm.
análise dessa viga treliçada foi executada com a in-
clusão das excentricidades por meio de elementos
130
Coeficiente de aproveitamento, no dimensionamento das barras, considerando o coeficiente de flambagem K = 1,0 em todas as barras.

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


Segundo a norma ABNT NBR 8800:2008 (e ANSI/AISC 360-10).

Segundo a norma ABNT NBR 16239:2013 (e CAN/CSA-S16-01).


131
Coeficiente de aproveitamento, no dimensionamento das barras, considerando o coeficiente de flamba-
gem K = 0,9 em todas as barras.

Segundo a norma ABNT NBR 8800:2008 (e ANSI/AISC 360-10).

Segundo a norma ABNT NBR 16239:2013 (e CAN/CSA-S16-01).

Levando-se em conta as considerações anteriores e aplicando-se os mesmos critérios de análise descritos


para o Modelo 1, os resultados finais indicam algumas barras da treliça com aproveitamento superior a
1,0, ou seja, não compatíveis com os esforços atuantes. Portanto, para permitir a utilização da treliça com
excentricidades nos nós, foi necessário trocar algumas barras, conforme indicado a seguir.

Como apenas as duas barras das extremidades do banzo superior da treliça foram aprovadas com o perfil
TQ 150X150X8,2, considerando K = 1,0, foi adotado o mesmo perfil para todo o banzo superior da tre-
liça (TQ 150X150X12,7), de modo a uniformizar, resultando na estrutura ilustrada a seguir.

132
Nessa condição, as análises considerando todas as hipóteses dotadas (K=1,0 ou 0,9 e normas ABNT
NBR 8800:2008 ou ABNT NBR 16239:2013) resultaram sempre adequadas conforme ilustrado a seguir.

Coeficiente de aproveitamento, no dimensionamento das barras, considerando o coeficiente de flamba-


gem K = 1,0 em todas as barras.

Segundo a norma ABNT NBR 8800:2008 (e ANSI/AISC 360-10).

Segundo a norma ABNT NBR 16239:2013 (e CAN/CSA-S16-01).

Coeficiente de aproveitamento, no dimensionamento das barras, considerando o coeficiente de flamba-


gem K = 0,9 em todas as barras.

Segundo a norma ABNT NBR 8800:2008 (e ANSI/AISC 360-10). Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural

Segundo a norma ABNT NBR 16239:2013 (e CAN/CSA-S16-01).


133
Esses exemplos serviram para apresentar a se- 2.11.5. Análise de Vigas Treliçadas
quência usual na definição da estrutura (geome- Invertidas de Passarela para Pedestres
tria, tipologia das ligações e perfis estruturais),
análise, verificação do atendimento da segurança Este exemplo apresenta uma passarela projetada
e eventuais adaptações do sistema estrutural ori- em perfis tubulares com ligações soldadas, ilustra-
ginal até o atendimento da segurança requerida da na figura a seguir, com sete vãos de 22 m e dois
das barras. Além disso, apenas foram indicados os balanços extremos de 3,35 m cada. A estrutura
resultados das verificações da resistência das bar- foi concebida com duas vigas treliçadas do tipo
ras, não estando no seu escopo a verificação das Warren, invertidas e contínuas (sem juntas), sem
ligações propostas. Os procedimentos para di- contraventamento superior, com piso formado
mensionamento de barras de viga treliçada estão por laje mista de aço e concreto com fôrma de aço
detalhados no Capítulo 3 e os procedimentos para incorporada, sendo essa laje ligada às transversinas
dimensionamento de ligações estão no Capítulo 5. por conectores de cisalhamento pinos com cabeça.

A figura seguinte apresenta a vista lateral típica de um vão. Verifica-se que as ligações são projetadas com
afastamento, resultando nas seguintes excentricidades nos nós: diagonal-banzo superior e  =  59,8  mm;
diagonal-banzo inferior e = -30mm (convenção de sinais das excentricidades nos nós: para fora da treliça
e > 0, para dentro da treliça e < 0).

134
A seção transversal da passarela, no apoio e no vão, está ilustrada na próxima figura, com banzos superiores
e diagonais em tubos circulares, respectivamente TC 141,3 × 10,0 e TC 101,6 × 6,3, e banzos inferiores
em tubos retangulares TR 360 × 210 × 8,8. As transversinas que ligam os banzos inferiores são formadas
por tubos de seção quadrada TQ 150 × 6,3. As travessas de apoio são formadas por dois tubos retangulares
justapostos e ligados por solda. Os pilares são formados por tubos de aço de seção circular.

Seção transversal típica no apoio

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural

A seção transversal típica no vão caracteriza viga treliçada invertida do tipo pony truss. 135
Será examinada a condição julgada a mais desfa- O modelo de análise deve contemplar as excen-
vorável no presente caso, tomando o carregamen- tricidades nos nós seguindo o mesmo tipo de
to de multidão em vãos alternados. A ação variá- solução adotada no exemplo anterior. Na figu-
vel principal é, portanto, de QS =  5 kN/m2 sobre ra seguinte encontra-se a distribuição de for-
a laje, valor preconizado para o carregamento de ças axiais e momentos fletores nas barras (no
multidão em passarelas de pedestres pela ABNT plano da viga treliçada), com destaque para os
NBR 7188:2013. A combinação última de ações momentos no banzo superior, que deverão ser
para análise da flambagem inclui a ação perma- levados em conta nos cálculos da capacidade re-
nente de peso próprio da estrutura, GS, e a ação sistente das barras desses componentes de aço
variável de multidão: da treliça (flexocompressão). Adicionalmente,
percebe-se na mesma figura que o banzo in-
QS = 1,25GSa + 1,35GSc + 1,5QS ferior da viga treliçada, por servir de suporte
sendo GSa e GSc, respectivamente, as ações de peso para a laje através das transversinas (a laje se
próprio da estrutura de aço e do concreto lança- apoia sobre as transversinas, conforme referido
do no local para a execução da laje mista. Adicio- anteriormente), desenvolve momentos fletores
nalmente, como já explicitado, a ação variável QS muito importantes, devendo ser dimensionado
deve ser aplicada na condição mais desfavorável, de forma adequada como elemento estrutural
em vãos alternados. Outras combinações devem tubular sob efeitos combinados de flexotração
ser examinadas (incluindo o vento e efeito de va- ou flexocompressão, respectivamente na região
riação de temperatura), mas, a título de exemplo, central do vão ou sobre o apoio.
será tomada apenas essa condição de carregamen-
to da estrutura.

Resultado da análise estrutural: forças axiais NSd

Forças axiais NSd (kN) para combinação normal: 1,25GSa + 1,4 GSc + 1,5QS
Barra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nsd -5,5 -206,9 -376,7 -484,2 -532,6 -521,7 -451,6 -322,0 -133,7 119,3
136

Resultado da análise estrutural: momentos fletores MSd

No presente exemplo, no entanto, o interesse reside recurso permite a identificação dos modos de
na investigação da flambagem lateral do banzo supe- flambagem elástica de forma precisa, sendo
rior, que se encontra destravado lateralmente. Con- em muitos casos indispensável na análise de
forme Ziemian (2010), esse tipo de sistema treliçado estruturas metálicas;
é conhecido como pony truss, sendo a flambagem do
banzo comprimido um estado-limite último a ser 2. análise de forma aproximada da flambagem
verificado. Nesse caso, como se trata de viga treli- do banzo comprimido, utilizando para isso
çada contínua, os esforços de compressão no banzo procedimentos sugeridos na literatura por
superior na região central dos vãos podem conduzir Ziemian (2010) e outros autores para esses
à flambagem lateral do conjunto, cabendo às dia- casos, adotando-se modelos simplificados do
gonais contribuírem para a estabilidade dos banzos banzo como uma barra contínua e contida
comprimidos (no caso de treliça com montantes ver- lateralmente por apoios elásticos (como mo-
ticais esses elementos também devem ser considera- las de translação), que representam a ação das
dos na estabilização do banzo superior). As diagonais barras diagonais (e montantes, se houver).
encontram-se soldadas nos banzos inferiores, sendo Esse procedimento encontra-se atualmente
esses parcialmente impedidos de sofrerem torção bastante ultrapassado pelas soluções numéri-

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


pela sua própria rigidez à torção como elementos de cas de autovalor oferecidas por vários progra-
tubo, assim como pela contribuição das transver- mas computacionais de análise de estruturas
sinas, que atuam como elementos mistos de aço e (buckling analysis citado anteriormente).
concreto, condição essa garantida pelos conectores A figura a seguir apresenta o primeiro modo de
de cisalhamento. A eficiência desse sistema estrutural flambagem obtido do modelo completo de aná-
depende da rigidez à flexão do banzo comprimido, lise (3D), sendo possível identificar a flambagem
diagonais e transversinas mistas, de modo a evitar a lateral do conjunto das treliças planas. Esse mo-
ocorrência da flambagem lateral no banzo superior delo inclui as vigas treliçadas Warren (formada
comprimido. A verificação desse estado-limite de- por elementos de barra espaciais - seis graus de
pende fundamentalmente da análise da flambagem liberdade) e a laje (elementos de placa), essa úl-
elástica do sistema estrutural. Para isso, é possível tima devidamente conectada nas barras transver-
analisar o problema de duas formas distintas: sinas (elementos de barra). O valor calculado do
1. análise da flambagem do conjunto estrutu- autovalor para esse primeiro modo de flambagem
ral, adotando para isso o recurso de “análise é igual a 4,2. Esse resultado indica que o modo
de flambagem” (solução de autovalores na de flambagem lateral identificado na figura ocorre
opção buckling analysis) em geral disponível para um carregamento, nomeado como “crítico”1,
nos programas de análise de estruturas for- igual a 4,2 vezes a combinação de ações aplicada
madas por barras, placas e cascas (CAE). Esse originalmente na estrutura.
137
1 - Da teoria da estabilidade, “carregamento crítico” indica condição de equilíbrio neutro em uma estrutura sem imperfeições geométricas iniciais, ou seja, para carregamento imediatamente
inferior a condição é de equilíbrio estável e, ao contrário, para carregamento imediatamente superior a estrutura encontra-se em equilíbrio instável.
Esse resultado, embora indique carregamento dos resultados da análise de flambagem, sendo
crítico de flambagem superior ao da combinação essa a parcela da contribuição elástica na resis-
escolhida como exemplo de análise do presente tência, à qual deve ser adicionada a contribui-
caso, não garante a segurança estrutural, sendo ção da evolução da plasticidade que, em última
ainda necessário verificar o estado-limite último instância, vai definir a formação do mecanismo
de resistência do conjunto estrutural associado ao de colapso estrutural.
modo de flambagem lateral identificado.
A solução do problema acima descrito passa pelas
A capacidade resistente da estrutura (das barras seguintes opções para a verificação do estado-li-
do banzo superior que desenvolvem o modo de mite último:
flambagem ilustrado na figura anterior) depende
138
a) A verificação realista implica na análise não linear da estrutura, levando em conta:

i. o desenvolvimento do modo de flambagem (amplificação gradual dos deslocamentos, esforços inter-


nos e tensões);

ii. o comportamento elastoplástico da estrutura, introduzindo para isso o efeito da ductilidade do aço
com base no modelo idealizado do material elastoplástico.

b) A verificação aproximada da capacidade resistente, segundo a qual é possível considerar o modo de


flambagem calculado numericamente, conforme a figura anterior, ao qual estão associadas as forças axiais
solicitantes de cálculo NSd, vistas anteriormente, multiplicadas pelo coeficiente de flambagem (buckling
factor) igual a 4,2. Desse modo, o carregamento crítico de flambagem do banzo superior comprimido
ocorre para as forças axiais indicadas na tabela seguinte.

Forças axiais no banzo superior na configuração crítica de flambagem e coeficiente de flambagem igual a 4,2 (unidade kN).
Barra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
NSd -23,1 -869,0 -1582,1 -2033,6 -2236,9 -2191,1 -1896,7 -1352,4 -561,5 501,1


A primeira opção, descrita na alínea “a”, deve per- é recomendado para o presente caso, pois permite
mitir a identificação do mecanismo de colapso, o cálculo da capacidade resistente de forma simpli-
desde que: ficada e aproximada. Desse modo, pode-se tomar a
força axial solicitante máxima no trecho considera-
1. o programa de análise (CAE) esteja habilitado do como a força crítica de flambagem elástica Ne 
para esse tipo de análise (em geral, programas = NSd = 532,6 x 4,2 = 2236,9 kN (ver tabela ante-
de análise dedicados a projetos de engenharia rior) e, a seguir, aplicar o fator de redução associado
civil não incluem a não linearidade do material à resistência à compressão preconizado nas normas
– plasticidade – com base em modelos realistas brasileiras ABNT NBR 16239:2013 e ABNT NBR

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


de plasticidade distribuída, apenas permitem 8800:2008 para estruturas formadas por tubos es-
a consideração dos efeitos de grandes desloca- truturais (ver esse assunto detalhadamente no Subi-
mentos em regime elástico na opção “análise tem 3.3.2.2 do Capítulo 3). Para os tubos laminados
incremental”). É necessário, portanto, o aces- a quente (sem costura), ou, ainda, laminados a frio
so a programas comerciais de análise mais ge- ou soldados e submetidos a tratamento térmico de
ral pelo método dos elementos finitos, como alívio de tensões residuais, o fator de redução apre-
o Ansys (Ansys Reference Manual, 2004) e o senta valores mais elevados do que para os tubos
Abaqus (Simulia Corp., 2013), entre outros; laminados a frio ou soldados sem tratamento para
2. o responsável pela análise esteja habilitado alívio de tensões residuais. Os resultados dos cálcu-
(tenha conhecimento e experiência) no ma- los da força de compressão resistente de cálculo do
nejo dessas rotinas computacionais. A análise banzo comprimido (TC 141,3 × 10,0) da viga treli-
não linear de estruturas, se implementada de çada, bem como do coeficiente de aproveitamento,
forma inadequada, pode levar a incorreções estão indicados na tabela seguinte para os dois casos
importantes, difíceis de serem identificadas comentados: (i) tubos laminados a quente e tubos
por usuários inexperientes. laminados a frio ou soldados com tratamento de
tensões residuais e (ii) tubos laminados a frio ou sol-
Já e segunda opção, descrita na alínea “b”, que dados sem tratamento de alívio das tensões residuais
considera as forças axiais associadas à flambagem, de fabricação.
139
Tubo laminado a quente Tubo soldado, sem alívio de tensões residuais

Ag = 4120 mm2 Ag = 4120 mm2


fy = 300 MPa fy = 300 MPa
Ne = 2236,9 kN Ne = 2236,9 kN
Q = 1,0 Q = 1,0
QAf y QAf y
0 = = 0,74 0 = = 0,74
Ne Ne
 = 0,658 = 0,79
2
1 0
= = 0,90
(1 + 0 )
4,48 1/2,24
Q  Af y
Q  Af y N cRd = = 891,6 KN
N cRd = = 1012,0 KN a1
a1 Coeficiente de aproveitamento:
Coeficiente de aproveitamento: N Sd 532,6
N Sd 532,6 = = 0,60
= = 0,53 N cRd 981,6
N cRd 1012,0



Viu-se, portanto, que a opção sugerida e comen- seguinte também ilustra a diferença entre os mo-
tada na alínea “a” (verificação realista) conduzem a dos de flambagem para as fases de serviço e cons-
cálculos fora da prática corrente em projeto de es- trutiva da estrutura, com destaque para a defor-
truturas, enquanto a opção sugerida na alínea “b” mação lateral das vigas treliçadas. Esses resultados
(verificação aproximada da capacidade resistente confirmam a importância da modelagem adequa-
do banzo superior) resultaram adequados no caso da do sistema estrutural com o objetivo de identi-
do presente exemplo. Essa última opção é julgada ficar, de forma realista, os modos de flambagem e
aproximada pelo fato de as forças axiais apresen- as respectivas combinações de carregamentos crí-
tarem variação no trecho considerado, sendo essa ticos em distintas fases construtivas.
a razão de se tomar a força solicitante máxima nas
barras 4, 5 e 6.

A figura seguinte mostra o resultado da análise de


flambagem elástica (buckling analysis) para com-
binação de ações na fase construtiva - primeiro
modo de flambagem da estrutura de aço para a
combinação de ações de construção quando do
lançamento do concreto da laje (1,15GSa+1,30GS-
c
+1,3QS ; QS=1KN/m2, em vãos alternados). O
autovalor calculado foi igual a 8,9, associado ao
modo de flambagem apresentado. Nessa condição
a estrutura de aço não conta com a contribuição
da laje mista e a flambagem lateral das vigas treli-
çadas conduz ao modo indicado na figura, sendo
evidente que a deformação lateral inclui o banzo
inferior das vigas treliçadas invertidas. A figura
140
Autovalor: 4,2
1,25GSa + 1,4GSc + 1,5QS Fase de serviço: estrutura mista
QS = 5KN/m2

A figura a seguir mostra a vista em planta dos distintos modos de flambagem da estrutura mista e da es-
trutura de aço, respectivamente nas fases de serviço e de construção durante o lançamento do concreto.

Autovalor: 8,9
1,15GSa + 1,3GSc + 1,3QS
QS = 1KN/m2

Fase de montagem e concretagem.


Estrutura de aço
Apoio

Capítulo 2 - Ações, comportamento, segurança, modelagem e análise estrutural


No caso estudado das vigas treliçadas Warren in- flambagem lateral do banzo superior, poderá ser
vertidas, para o caso da solicitação nas barras se considerada a troca por tubos de maior rigidez e
apresentar superior à capacidade resistente estima- resistência à compressão axial.
da, a solução deverá ser o aumento da rigidez dos
tubos que constituem as diagonais (e montantes Finalmente, conforme comentado anteriormente,
verticais, se houver) conferindo desse modo con- a estabilidade lateral das vigas treliçadas recebe im-
tenção lateral mais eficiente, com o consequente portante contribuição da rigidez à torção do banzo
aumento do carregamento crítico (buckling fac- inferior, sendo desse modo recomendado adotar
tor). Se, ainda assim, não for possível garantir a tubos de paredes mais espessas nessas barras.
segurança com relação ao estado-limite último de

141

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