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Originalidade ealance da ansise textual: DELLOUR Raymond. nals op cit Pais, Albatros; “Abstons ‘umpus"em Tho dfn. Obra oletva, 1980, DOUCHET, Jean. “Aled Hitchcock", em Cais de Leme Cinéma 1947. : DELAHAYE, Michel “Jacques Demy ou es racines du ve", Cis dhe nea eB Lange agai om (OFILMEESEU ESPECTADOR Oepetardecnema 114 vas maneiras de consderaroespectador de cinema, posse interesarse por ele come public, 0 pico do ine dno pico de certs mes it uma popula (eo So sacle do rn) ese ee, segundo cera mod iden» um prin stl defn ra cinema. Esse pablico (Cet poplagt) é aalisivel em fermos estatsicon, contmion, {SnBgien Es abordagem do espectador decinema & ans, para {Boor a venladey ur aboragem ds epecodores do cinema, ¢ se atmos soo agus pols open gaumonte de uma Side une fied eons hayes ent em serviuger na perspecva “esti” dessa obra. £ daro que 80 Slurdanoe de-que hj inferagi ene evolugio do pablico de Cinema evolu tte eral dos es; as € antes 2eterion- Rae dopant de visa do scngo on 0 eonamista nara ma ‘do espectador come ile (de cada espectador com cada file) que nos conduzi a exciula de nosso campo atl de refendo Bscamente, neste capitlo,ocuparnosemos da relaio do espetador com 0 filme como experience individual, Pocllpin esitic, em sums, sj intereaamo-nes plo sujet eapetcay {opel espeadoreati. Hata a de quo mato de lida esses ttinos sas sob 0 ngulo psicanaliico, que ‘anos stordae aqui aalgumas piginss No memento, lus epi ‘apidamenteas diversas abordagen problemas qe histrcanee tee tem associa ao espectadr de le As condigies da ilustorepresentativa (© séeulo XTX, a0 mesmo tempo em que terminava, inventava ‘cinema e assistia a0 surgimente de uma nova dseipling apes, gia experimental (cujo primeica laboratsio foi fundado em 1879 por Wilhelm Wand) Ess dseiplin adguirs mt cem anos, una exer io consderivel, mas é posivel dizer que osurgimento do cinema sudo ¢, depois, sua evolugio em digo a-uma forma de atte aulonoma cada ver mais elaborada — isto ¢, 0 periodo dos anos 10 £€20 —ovincicdem com o desenvolvimento de importantes teas da percepato, principalmente da percepeio visual Em partcula com relagdoa mais cleo dessas teria Getler, devemse situa ois pesquisaores que, umem 19166 outrobem no inicio dew ano 30 exploracam o fendmeno da ius reprsentativa no cinema ea cinema veels com particular acide crn fon serorlgn Teo rel pecbid pass pla for imagem Depo esse emlembrang, 0 6 imgem degen. Oro cn coms qualquer repesenoao (par, devenko),€ un imagem de iapen. ms comoa fens imaged igen peep, mete do que «ft € uma tga ana Mo Camo representa de na epresnti iva ina cont sa-osa efersbwe omni da ode edad do Imani” (Edgar Moin plac, 177, agar Movin pate da trasormasto Sus olhos super dent do inematgrafo— inven com iaidade dence em ‘nea — miguina de produstrimagino. Eta tess dor inventors confont-acomas declares dos rete cneaan rion que desenvolvem a se de Apolinae que considers "0 inna como um crador de vida sume”, Edgar Most assume, expats ose de Bere Sauna oes ico uma espace de mara smosfrco quate congenia” Mas esamce, em sepuia, a condo imagindsa da pecepsio ‘mic, abordando-ea parti da elagto etree imageme'e hip Retomando as teses sartrianns sabre a iagem como “presen Gerausncia” do bjt, em. gue a imagem ¢ dea como smn presenga vivid e uma ausncia real, referee nto. percepyo do ‘mundo pela mentalidade arcaicae pela menaldade infant ej ‘aracteristia comum é de, a principio, nio estarem consents da auséncia do objeto € de acreditarem na realidad de seus sono tanto quanto nade suas vias. 236 ‘© espectador de cinema encontra-e em posicio idéntcs, 20 roporionat “ama” 3s coisas que vé a tela. O close-xp anima 0 Fitovea "gota de ete de Alina gon de SM. Eisenstein (1925-2, errpirase asin dotada de uma potécia derecuss ede aesio, de tama vida soberana” A perepa fnin peet k ot pectn prepto ic equ Edgar Monn. sea pecepoio¢ coma 20 piit= it fang ao neurtco E byscada em um ssa comum TWeminado pela cena no dupl, nas metamorises en bigu- igen fides universal, na alga neproca do mirocosmo © fe taco, no antopo-xmomoriamo” (p. €. Ox, todos ‘het traos coresponden evalamente ts enacteisias constitu ‘Gedo universo do crema ‘se, para Edgar Morin, as rlages entre a5 estruturas da magia e cinema foram sentdas antes dele iutvamnente, em compenss- Gfovoparentesco ene o niversodomeeodosonbw foicaptadocom Rena O filme renconta, portant, a imagem soelada,enfo (Tus, diminia, sumentada,aproximada, deformaca,obsedants, Pion sccto para onde nae reas, tanto vga como | Sono dessa va maior que a vida onde dermens os ries 0s her ‘noe ue jamais realzamos, nde fog nossa decepes ex sham nossosdesjos mais Ioucos” 0. Poin). © autor analisa, nos captulos seguines, os mecanismos co runs aos sons ao filme, abordando a projecio-identiicaso, Alurantea qual, em ver de se projtar no mundo, osueitoabsorve o| ‘mundo em si mesmo, Aprofunda oestudo da palicipagio cinema- {Ografica, constatando que a impresto de vida ede raldade prs pri das imagens cinematogrdficas 6 insepargvel de um primo [impulse de pariipacao. Vincula a utima 8 auséncia ow atofia da pptcipogio motre pritica ou aiva eestipula que esa passividade Eb espectador o colbea em stuacao regressiva, infantizado soo feito de uma neurose aifical Disso tra a concusio de que 25 tésnieas do cinema do provocacies, aceeragbes eintersificagbes da projesio-ideniicact. Ey Prolongando sua reflex, Eegat Morin koma 0 cuidado dedi tinguiraidentieacd0 com wm personagem da tela —fendmen nas ‘banal emis observado clo que im aspect das fendmenoscle proj, identficagio — das “projecde>identifengtes pliorfas” ue supe: amo context das personagens econcorem para mergular o epee {ador tanto no meio quanto na ago do lime. Essa caacerstea Pol moria da identificagio esclarece uma constatagio socioldgica Primordial bora mts vozesoqucisn diversas cos atesg Decletismo do gosto rim mesmo puiblico "Assim. a idenicaas ‘cm o semethane, como a identifcagio com o estan, 0 amb provecadas pelo filme, e € exe segunda aspecto que no combina, ritidamente, com as paricipagaes da vida el”. 10), [Noparigeao “Tenia da ati tive” — capt WA sna do cena”, Edgae Morn procede xo sumo dean Iupotese de pesqus, que apreents da sine mane ol desevavenoa magi tent ds age Sea nfo enchew de prtipies st meter ie uO ponte de prtiaas desbents toga nme Adoepmjtado vapid a ec dened um fen imagem do mundo a0 alcance da mio determinate ten ‘specu oepetseal provac formato de tana tate fat dentro do feo dina 0 pote dese poet © Dropstesentifcagtes desabrechem, ealtame no antopo. csmomodisn () Doves, bret, smear esas es ‘enor macs como o rghit de un lingo seta” (C2 cima hoe gine, Ede Mina 8 Os desenvolvimentosposterioresaprofundamn a reflexes fi- _molgias sobre a impressao derealidade eo problema da objet dlade cinematogrfics, constatando que a cimera imita as comes de nossa percepedo visual: "A chmera encontrou empiriamente juma mobulidade que @ a da visio psiclogica” (R. Zazr0). Fes (od) Omarion om a Caen 2s _ rn anon drtamente das detifieages com on paps a sitar Ao‘cuplan: dentin com o personage partadr do deseo ‘Srorrado,admurago pe hero que representa © deal doe, temor dane dura figura pater ee cr de unin sta ar nen pet vnc progigna, portant, de modo als aries, mais dea ‘Manic igesige que, no ert, «een para "preeer” © pct pra fini guests em aco, desert mane SFEintn os mes de hen e ue povavelmente dementia Spel crt gale identi come pesonage em time a icentiicag tom pp peli [Nao deixa,contudo, de ser verdade que este substato arcaico de qualquer identificsto com o personager nao pode expicar sem Pr uma simplificagio exagerada, mecanismos complexes da identifce- ‘io diggetica no cinema e em particular duas caracteristicas mais ‘peaticas dessa identifcagao. Em primelr lugar: que aiden {80 € um efit da estrutura, uma questo de Iugar mais do que de pricologia. Fm segundo gar: quea dentifieagio como personagem ho € 0 massiva e monolitca, mas, 30 contrvi, extemamente Muda, ambivalentee permatve, no decoreer da projei do me, liste 6 de ova constitigto pelo eepectador eentificag eesteutura A stuagio —Se ndo a simpatia que gera a identificagio com ‘opersonagens, mas ocoatziio,permanceaberta a questa da caus ‘edo mecanismo de identiicacio secundiea no cinems, Parece de fto,queaidenifeacio éum eeito da strata, da simacio, mais do que um efeito da velagiopsicolgicacom os perso- sagens “Tomomos um sxompl, ode uma pessoa curios que entra no quart dealguém e remexe nas gaves. Voce mostra o proprietio do quarto subindo a escada, depois oltaa pesto quest remexen- o, £0 plc tem vontade de dizer Cuidado, alguem est subindo 2s escadas- Uma pessoa que remexe, portano, no tem necessicade {eserum persoragem simpatico,o public sempre sents medo por ‘la. Esa “le” empirica da identificaga segundo Hitchcock, magis- tralmentelustrada por ele em Marie, cops de ma laa (196), tem 0 méito de ser mute cars em um ponto esencial 3 sluag#0 (aqui, alguém que corre o pergo de ser surpreendido) ea mania como ea proposta ao espectcor (a emunelag2e) que ¥20 deteni- rar quase estuturalmente a identifica com estou aquele perso- ragem em determinado memento de ime £ possvel encontrar uma confirmasio também empirica esse mecanismo estrtural da identifieagio em uma experincia que tomou totalmente banal com a tlevisio, a de ver um fragmento, uma sequéncia Qs vezes, alguns planos apenas), de um fle que jmals se viu. Quase nunca se tats do ino do le: a espectador 208 etme, eno, confrontado de mance abrupt com personagens se ace, ej pasado ace gnora, ro mes deuma eo ee ommend oe Econo, meno nessa candies ari dea cepa do fle, oerpectadr vl entar bam depress i ae iantancamente, nea sequen, cus fears € ‘ifr velagdes el gor, Val rela encontrar de imedato,seulgar®, futons : Seo eapectacr “¢ prea Wo dpresn em uma sagu senda do mee de um fie, se ela encona seu ugar, € deft rad cnc ua pare da Went gue no passa, neces Ponte orm conecrwnto picolpico das peronagens, dese re dh maa de se Gterinare, pecs ue FA rae amp bastante ange de ma famine progres ca cx perigee © ea, De fat 0 € to senitel sa esas gu pe ear vvemeneinteesads or wile, Shonen por ge em concer a ge nem mers Permit a inscrigho particular de cad pessonagem na rede dere es da stuagio apresentada dessa maneta; permite, por exempl, es Spresentar determinado personagem como uma figura ene as 0 tease até como um simples elemento do cendrio, ou, ao conta, torndo, em determinada cena 0 verdadero foco da identificasio, ‘Solando-o em ima série de primeirosplanos, para wm cara a cara interso com 0 expectador, cio interesse € assim foralizado nese ppesonagem, mem quand ele eter desempenhando umn papel {btalmente apagado na stuagtodiegéicapropetamente dita, Trata-se af, é claro, de exemplos extremes, simples em dema- sia,que no devem ocallar asutileza complexa que esse jogo insrito ho ebigoautoriza coma variagio da escala dos planos. [esses mievocrcuites da idntificaczo no cinema, oars sempre foram uin vetor eminentemente privilesiado, O jogo dos shares onganiza um cero mimerode figuras de montagem, no nivel dias menotesatculagbes, que esta, 0 mesmo tempo entre as mals frequents eas mate codificadas: rao sobre o ola, © campo- contracampo et, Nao existe nada de surproendente a, ns media fem que 2 HenfificsSo socundsria & entrada, coavo Se Vi 5 Felaghes entre os personagens era medida em que cinema com> preendew muito cdo que os alhates consttiam ma pega mess © ‘pectin de seus meios de expressio na act de implica o expecta dor nesasrlagben © tango period do cnama mu, durante 0 gual se cnt tum no see os eign ds dacopagem class, oer = tonsideacto do papel pega dow stars fats seat ‘sts perma emecra dire asus de espe. idee, de ennai de ts ns dslogo om ee. Anticulagio do lhar como deseioe com oengeco(eorizale por lacques Lacan em "Le regard comme objet 2”) predestinava 0 tthe ¢ possivel der isso, a desempenar ese papel totalmente ‘ental emt uma arte marcada pelo carter duplo de ser, 0 mesmo tempo, uma arte da narrativa (portant, das tansformagbes do de- Sejo)e uma arte visual (portato, uma arte do olka). 7 aigta emblems da sents sandra cna Ir tase dena gra, muito feoent en gum plano (apestamente vit plo persons) see diane un hive de rename au (0 compo Pot, ‘co screw aha) Nena delogagio door ent xpectador ‘personage ques vera igus poresclnl a ec ‘rae ve cup conta para deforurs gods er {rag no cinema por una smplieagio exagerads, Andie to proses degre da denies pele mario doe ey depende, sm qualquer dvd, de tna tmragso mto Innis um qual embors designs um pontine cto ‘eee ideas primi cents secunr, ‘asird sobre 0 oats desempenbars um Papel alee Spec, parca demas ar sr een entiiagao e enunciagso Bastaria retomar os termos de Alfred Hitchcock, no exemplo precedente irado de Maric, consis de wma lade (Voce masta o proprietvio. depois volta para a pessoa que ests remexendo..” para entrever que, nessa clocagto de uma situa de forte identi ‘ago, o trabalho da instncia que mostea ou que nara & tho dete rminante quanto a propria estrutura do que é mostrado ou nertado Disso, ais, todos os contadores sabem bem e io acham ervado Intervir no curso “natural” dos aconteimentas condos para faze losesperar para modells, para car efeitos desurpres, pists falbas «cut ate consis, precisaente, no dominio de una cert uni (edesua etica), cj efeitos so mais determinantes sobre as eds do autitrio do que o proprio conte do enuncado, No exemplo de Alfred Hitchcock, € completamente natural que o espectadar 56 pasa "sentir mea por aquee que esta reme xendonasgavelasse, antes, ainstinca maradona most o propre trio subindo as escadas. Ou entio, a cena age de manira bem ferent sobre o espectador e peor im puro efit de surprest, 20 phe que funciona muito menos pata a identifica com o persnagem. Keo quer dizer que, no processo de identificago, o tabalho da fragt, da *mnostragio", da enunciagso, desempenta um papel Compietamente determinants: conta amplamente para informar {Trelasto do expectador com a diegese e com os personagens ele, to nivel das grandes ariclaghes naativas, que vai modu pe anentementeo saber do espectader sobre os acontecimentos die [falcon que val contolay aceda inetante as informagies de qe Jispoe a medida que o filme progride, que vai esconder alguns “lementos da situagio ou, a0 contrrio, antcipar outros, que val regular o jogo do avango-e do atraso entre o saber do espectadore| ( suposte saber do personagem e induzirdesse modo, permanen= temente, a idenificagbo do espectador com as figuras as situaches da diegese Apartment em um el egal «is sins ‘Mbyte ara opto de choad eri pesel ‘lacy desa eglage no te ie ms enpetiea So ‘entiapt pelo bul ds nunca no propo var do fie), un Went digetca mas Bac, anos fsgadaetmramets ines ao eles cn a ‘rurcngloemenda tno de expression emcads toto parcar ‘Stipe enn camoda sas inert ds wei « pone dizer [cla depend al doen, da dees (am sua as SErcsctuuens) doque densi rope dae gue Siapreenta um carer ais pec, piano. No nivel de cada cena, o trabalho da enunciacio consist, como acabaos de ver, em deeviar a relag do expectador com a| Stuocao diegtica, em tagornela microccults pavlegiados, em frganizaro engendamento eestratiracso do processo de ident ficago, plao.8 plano. Esse trabalho de enunciagio & tanto mais ‘vsivel no enema narraiv classico quanto éassumido pelo c= i. E, deverto, € a, no nivel das pequenasariculagbes co texto de Superficie, que ociga mais se impoe, € mas estave, mais “auto- ratio” ©, portanto, mais invisivel. A decupagem de uma cena de ‘condo concertos pontos de vst, a volta eles, o campo-contra ‘mpo,o maccond sabre o ola, todasos elementos de clgoarbits ‘os que partcipam diretamenteco trabalho de enunciag, mas.que 281 ‘espectador de cinema, por costume ctl, percebe como “ogra 2210” ca enunciagdo, coma a maneira “natal” comno secon ina Fistira no cinema, F verdade que a "egras” da montagemn lisa, temparticularas dos rccord,visam precisamente spagat a marcas ‘deste tabalho da enuncagio, tornar invisive, fazer com que as situacdes Se apresentem ao espestador “por els inesmay” eco que ‘0 céigo, em detecminado gra de banalidade eusura,parega fare ‘lonar quare automatcamente« dar a aso de uma especie de ausénca ou vacincla da instanca de enuncagso Areside,evidentemente, uma das forgas do cinema narativo lissico (do tipo do cinema americano dos anos $0.50) « uma das raztes do dominio extraodindrio desse modo de narrativa flmice que a regulagem minuctosae invsivel da enunciagio mantenha a impression expectador, de que eleestaentrand por conta propria ‘na narativa de quest se dentificando por coats propria com este ‘ou com aqucle personage por simpatia, de que esta eagindo « ‘leterminada stuacao como fara na vida real, que feria por efito reforeara lusio de que cle é a0 mesmo tempo, o cent, a fonte eo tinico suit das emocdes que o ime Ihe proporiona, enegar que esa idenniicagao ¢ também o etelto de uma regulagem, de km trabalho de ennciagio. Desde o ana com vlog pipalent na Earp)

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