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O professor György Böhm usou a orquestra como exemplo: os músicos são responsáveis pelos sons e o regente pelo efeito
harmônico do conjunto. Nem os músicos nem o regente são capazes de compor e criar idéias musicais de qualidade. Os músicos
tocam, o regente harmoniza o conjunto: e quem compõe?
A diferença entre cientista e pesquisador é a mesma entre o compositor e o músico/regente. Todos são importantes, mas
sem o compositor trabalhando ativamente, cantaremos sempre as mesmas músicas e partituras.
Nas revistas de ciência percebe-se que os autores não produzem boas perguntas e idéias. Os trabalhos são repetitivos não pela
necessidade de comprovação, mas pela falta de novas idéias e abordagens, cumprem apenas o mínimo de publicações anuais.
Preocupam-se em colocar imediatamente sua ideia em prática, pois em outro lugar alguém poderia ter a mesma idéia. Idéia
assim é fraca e dever-se-ia conformar que outro pode executá-la primeiro! O cientista não tem essa preocupação.
Diferenças
O cientista difere do pesquisador pela aptidão de ver os problemas relevantes e fazer boas perguntas à natureza, e por isso
incomoda os outros com suas indagações. “Quem pensa opõe resistência”, afirmava o filósofo alemão Wiesengrund-Adorno.
Além da intuição aguçada e sensibilidade refinada, o cientista naturalmente é cético e crítico. Não deve ser dom, mas são
certas oportunidades e circunstâncias especiais que favorecem o desenvolvimento dessas características de um cientista.
Requer-se um esforço sobrecomum e uma mente sempre aberta para novas abordagens e experiências. A boa idéia não é fruto
do acaso, ou um incidente, mas a descoberta do novo como o fruto de um trabalho pertinaz.
Os cientistas vêem problemas de outra forma e, com uma sensibilidade diferente, acentuam o cerne do problema com
facilidade aplicando-lhe as perguntas básicas: o que? Por que? Quem? Como? Onde? Boas idéias e sacadas geram patentes e marcas:
por que temos tão poucas, hein?!
Em certos países apenas se fabricam produtos idealizados, patenteados e registrados em outros países. Não faltam mentes
criativas e cientistas, o que falta é o sistema educacional e produtivo privilegiar e aproveitar as potencialidades destas mentes
brilhantes.
O que sobra nestes países é a castração destas mentes! Os cientistas observam e pensam o tempo todo; acabam por
incomodar os outros com seus questionamentos, especialmente os carreiristas e burocratas. Seus pensamentos são lógicos, simples e
os raciocínios, precisos.
Muitos reclamam da falta de criatividade nas universidades, que carecemos de novas teorias, patentes, marcas e premiações
como o Nobel para trabalhos em solo brasileiro, chinês, coreano e outros. Trabalhos premiados e feitos no exterior não seria mérito do
país, mas do cientista.
Nestes países “não premiados” procurem nos editais dos concursos das universidades e institutos: requerem e privilegiam
candidatos com perfil de cientista ou de pesquisador? Depois ficam pedindo inovação!
Alberto Consolaro é professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC. E-mail: consolaro@uol.com.br