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COMEÇANDO DO ZERO

Direito do Trabalho
Rafael Tonassi

3. FONTES DE DIREITO DO TRABALHO todas as demais normas encontram seu


fundamento de validade.
Em matéria trabalhista, podemos
3.1 Fontes materiais encontrar em nossa Lei Maior, dos artigos 7º a
11, um núcleo mínimo de direitos sociais a ser
A fonte material, como visto acima, respeitado pelo empregador no contrato de
constitui a reivindicação das classes trabalho, fato que evidencia a caracterização
trabalhadoras, que se baseiam, entre outros, de nossa Constituição como fonte formal do
em valores sociais, econômicos, religiosos e Direito do Trabalho.
políticos, pressionando os detentores de capital
a fim de buscar a elaboração de normas b) Lei (em sentido amplo)
jurídicas que proporcionem melhores
condições de trabalho. São inúmeras as leis brasileiras que
Objetivando atingir a paz social, o Estado versam sobre matéria trabalhista, dentre as
capitalista é chamado a atender os interesses quais se destaca a Consolidação das Leis
das classes operárias, por intermédio da Trabalhistas.
criação de regras que lhes reconheçam direitos Lei em sentido amplo pode ser
e garantias em face dos empregadores. conceituada como toda norma emanada do
Há autores, outrossim, que classificam as Poder Legislativo, dotada de caráter impessoal,
pressões exercidas pelos empregadores, na abstrato e genérico.
defesa de seus interesses econômicos, Desse modo, ficam incluídos nesse
também como fontes materiais do Direito do conceito os tratados e convenções
Trabalho1. internacionais devidamente incorporados ao
ordenamento jurídico interno, mediante decreto
3.2 Fontes formais do Presidente da República.

As fontes formais do Direito do Trabalho c) Atos do Poder Executivo


exteriorizam a vontade social no mundo
jurídico, por meio da criação de normas que O Poder Executivo também edita normas
estabelecem comandos gerais, abstratos, de observância obrigatória por seus
impessoais e imperativos, regulamentando, destinatários, constituindo estas, portanto,
portanto, a vida em comum. verdadeiras fontes formais do Direito do
Assim sendo, dentre as principais fontes Trabalho.
formais do Direito do Trabalho, podemos citar: Dentre essas normas, podemos citar a
a Constituição, a Lei (em sentido amplo), os Medida Provisória, a qual, segundo disposto no
atos do Poder Executivo (tais como os artigo 62 da Constituição da República de
decretos), a sentença normativa, a convenção 1988, terá força de lei, sendo cabível em caso
e o acordo coletivo, o regulamento de empresa, de relevância e urgência. Tem ela eficácia
a súmula vinculante e, de forma subsidiária, os plena pelo prazo de 60 dias, prorrogável por
princípios gerais de direito, a analogia, os igual período, podendo criar normas de Direito
costumes, a equidade, a doutrina e a do Trabalho.
jurisprudência. Podem ser também destacados os
decretos expedidos pelo Poder Executivo, com
a) A Constituição o fim de regulamentar, mais detidamente, os
comandos genéricos previstos em lei, não
Em sua acepção jurídica, a Constituição podendo, todavia, sob pena de nulidade, inovar
pode ser definida como o vértice da ordem no ordenamento jurídico, criando direitos e
jurídica, a norma positiva suprema na qual obrigações, tendo em vista tratarem-se de
normas derivadas.

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CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 3. ed.
Niterói: Impetus, 2009, p. 43.

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d) Sentença normativa II – Ressalva-se da regra enunciada


no item I o período compreendido
Em caso de não ser logrado um entre 23.12.1992 e 28.07.1995, em
consenso nas negociações coletivas efetuadas que vigorou a Lei 8.542, revogada
entre sindicato patronal e sindicato obreiro pela Medida Provisória 1.709,
acerca das condições de trabalho de convertida na Lei 10.192, de
determinada categoria, será ajuizado um 14.02.2001.
dissídio coletivo nos Tribunais Regionais do
Trabalho ou no TST (nos casos em que a e) Convenção e Acordo Coletivo
demanda extrapolar os limites territoriais de um
TRT). As convenções coletivas são
Do dissídio coletivo resultará a chamada negociações realizadas entre sindicato patronal
sentença normativa, a qual estabelecerá e sindicato profissional (trabalhadores),
normas gerais aplicáveis à categoria em vinculando, assim, todos os que pertencerem à
questão, em substituição à negociação coletiva categoria profissional daquela base territorial,
frustrada. não importando à qual empresa pertençam.
Tais normas, todavia, tanto no caso da Os acordos coletivos, por sua vez, são
sentença normativa como nos acordos e firmados entre um sindicato profissional e uma
convenções coletivas, possuem eficácia ou mais empresas, produzindo efeitos, então,
temporal limitada, não se incorporando ao apenas às empresas que dele participarem.
contrato de trabalho, como disposto no A finalidade de ambos os institutos é a
parágrafo único do artigo 868 da CLT e na busca por melhores condições de trabalho a
Súmula 277 do TST. Sua vigência restringe-se, um determinado grupo de empregados, nunca
assim, ao prazo máximo de quatro anos. podendo suprimir direitos trabalhistas,
admitindo-se, todavia, a flexibilização no
Art. 868 Em caso de dissídio coletivo tocante ao salário e à jornada de trabalho.
que tenha por motivo novas condições Conforme explicado anteriormente, os
de trabalho e no qual figure como direitos conquistados em convenção ou acordo
parte apenas uma fração de coletivo não se incorporam ao contrato de
empregados de uma empresa, poderá trabalho, tendo vigência pelo prazo máximo de
o Tribunal competente, na própria quatro anos.
decisão, estender tais condições de
trabalho, se julgar justo e conveniente, f) Regulamento de empresa
aos demais empregados da empresa
que forem da mesma profissão dos Existe dissenso na doutrina acerca do
dissidentes. enquadramento ou não do regulamento de
Parágrafo único. O Tribunal fixará a empresa como fonte formal do Direito do
data em que a decisão deve entrar em Trabalho, em razão de sua produção unilateral
execução, bem como o prazo de sua pelo empregador.
vigência, o qual não poderá ser A visão majoritária defende que o
superior a 4 (quatro) anos. regulamento de empresa é fonte de direito,
pois cria direitos e deveres abstratos a todos os
Súmula 277. empregados de determinada empresa,
I – As condições de trabalho disciplinando suas relações empregatícias. Não
alcançadas por força de sentença poderá, entretanto, impor condições de
normativa, convenção ou acordo trabalho menos favoráveis do que as
coletivos vigoram no prazo assinado, garantidas por Lei ou norma coletiva.
não integrando, de forma definitiva, os Diferentemente do que ocorre nas
contratos individuais de trabalho. sentenças normativas, nas convenções e nos
acordos coletivos, os benefícios estabelecidos
pelo regulamento da empresa são
incorporados ao contrato de trabalho dos seus
empregados atuais.

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Deve-se salientar o fato de que a Dentre elas, encontram-se: os princípios


alteração do regulamento, revogando ou gerais do Direito, a analogia, os costumes, a
alterando vantagens anteriormente concedidas, equidade, a doutrina e a jurisprudência.
somente poderá produzir efeitos para os
empregados admitidos após a dita mudança, Art. 8º, CLT. As autoridades
em respeito ao direito adquirido. Nesse sentido, administrativas e a Justiça do
a Súmula 51 do TST, bem como o artigo 468 Trabalho, na falta de disposições
da CLT, segundo o qual não podem ser feitas legais ou contratuais, decidirão,
alterações prejudiciais ao empregado no conforme o caso, pela jurisprudência,
contrato individual de trabalho, nem mesmo por analogia, por equidade e outros
com o seu consentimento. princípios e normas gerais de direito,
principalmente do direito do trabalho e,
Súmula 51, ainda, de acordo com os usos e
I – As cláusulas regulamentares, que costumes, o direito comparado, mas
revoguem ou alterem vantagens sempre de maneira que nenhum
deferidas anteriormente, só atingirão interesse de classe ou particular
os trabalhadores admitidos após a prevaleça sobre o interesse público.
revogação ou alteração do Parágrafo único. O direito comum será
regulamento. fonte subsidiária do direito do trabalho,
II – Havendo a coexistência de dois naquilo em que não for incompatível
regulamentos da empresa, a opção do com os princípios fundamentais deste.
empregado por um deles tem efeito
jurídico de renúncia às regras do
sistema do outro. 4. Princípios peculiares ao Direito do
Trabalho
g) Súmula vinculante
A doutrina amplamente majoritária,
A Súmula vinculante configura, também, incluindo o ilustre jurista uruguaio Américo Plá
fonte do Direito do Trabalho, tendo em vista Rodrigues2, autor da renomada obra Princípios
não produzir apenas efeito pedagógico e de do Direito do Trabalho, lista os princípios gerais
orientação, vinculando os demais órgãos do de Direito do Trabalho a seguir:
Poder Judiciário e a Administração Pública - Princípio da proteção, o qual abarcaria
direta e indireta, em todas as esferas os seguintes subprincípios: prevalência da
federativas, conforme disposto no artigo 103-A condição mais benéfica ao trabalhador;
de nossa Magna Carta (com redação dada pela interpretação in dubio pro misero (ou pro
EC nº 45/04). operario); e aplicação da norma mais favorável
ao trabalhador.
h) Princípios Gerais do Direito, a - Princípio da primazia da realidade;
analogia, os costumes, a equidade, a - Princípio da irrenunciabilidade de
doutrina e a jurisprudência direitos;
- Princípio da continuidade da relação de
Ademais das já citadas fontes principais emprego.
do Direito do Trabalho, podem ser também
mencionadas as chamadas fontes secundárias, 4.1.1 Princípio da proteção
vale dizer, aquelas que não produzem
vinculação obrigatória, mas apenas norteiam, Apesar do que possa parecer à primeira
subsidiariamente, este ramo jurídico. Sua vista, o princípio da proteção ao trabalhador
importância revela-se nas hipóteses em que as não configura afronta ao princípio
fontes principais mostram-se insuficientes à constitucional da isonomia. Pelo contrário,
resolução da questão, ou nos casos de
omissão (lacuna) das mesmas. 2
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do
Trabalho. São Paulo: LTr, 1978.

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busca exatamente alcançar uma igualdade real 4.1.1.2 Princípio da interpretação in


entre os diferentes sujeitos da relação de dubio pro misero (ou pro operario)
emprego, tendo em vista a evidente A importância desse princípio revela-se
disparidade de condições entre as classes de nas situações em que determinada norma
trabalhadores e os detentores de capital. jurídica admitir diferentes formas de
O empregado, assim, é presumido pelo interpretação, impondo ao intérprete adotar
Direito do Trabalho como a parte aquela que se mostre mais favorável ao
hipossuficiente em face do empregador, com trabalhador, protegendo seus interesses.
vistas à aplicação da máxima de Rui Barbosa, Não se trata, ressalte-se, de
“igualdade para os iguais e desigualdade para interpretação contrária à lei, mas sim de uma
os desiguais, na exata medida de suas escolha dentre diversas maneiras possíveis de
desigualdades”. se entender o significado do dispositivo
O princípio da proteção, como salientado normativo. O princípio da legalidade, o qual
anteriormente, desmembra-se em três impõe a observância obrigatória das leis por
diferentes subprincípios, os quais passam a ser toda a sociedade permanece, assim,
agora analisados. respeitado.
Há, ainda, uma posição minoritária
defendida pelo doutrinador Mauricio Godinho
4.1.1.1 Princípio da prevalência da Delgado, segundo a qual o presente princípio
condição mais benéfica ao trabalhador seria também aplicável ao processo trabalhista.
Esse entendimento mostra-se, contudo,
O referido princípio determina na incorreto, tendo em vista a obrigatoriedade do
hipótese de conflito entre uma norma e uma respeito aos princípios constitucionais do
condição específica prevista no contrato de contraditório e da ampla defesa no campo
trabalho, a prevalência desta última, caso seja processual, concedendo-se a ambas as partes
ela mais favorável ao trabalhador do que a na demanda o direito de recorrer, de produzir
norma jurídica em questão. provas (às quais se aplica o livre
Um exemplo disso seria a prática de convencimento do magistrado), dentre outras
certas empresas em conceder aos seus garantias.
empregados um “décimo quarto salário”, na No tocante ao ônus da prova no
proporção de 100% do valor do salário, processo, cabe ainda salientar a sua imputação
benefício este não imposto por nenhuma lei a quem alegar o fato, em razão da incidência
trabalhista. do disposto nos artigos 818 da CLT e 333, I do
No caso acima ilustrado, se viesse a ser CPC.
futuramente editada norma jurídica que criasse
para todos os trabalhadores brasileiros a figura Art. 818, CLT. A prova das alegações
do “décimo quarto salário”, porém na proporção incumbe à parte que as fizer.
de 50% do valor do salário, os empregados das
empresas que antes já lhes concediam esses Art. 333, CPC. O ônus da prova
benefícios no valor de 100% do salário não se incumbe:
veriam obrigados a reduzir esse valor aos 50% I – ao autor, quanto ao fato constitutivo
fixados em lei, em virtude da aplicação do do seu direito;
princípio ora estudado.

4.1.1.3 Princípio da aplicação da


norma mais favorável ao trabalhador

Nas situações em que surgir um conflito


entre duas normas jurídicas trabalhistas,
ambas em tese aplicáveis ao caso concreto, o
presente princípio nos ensina que deverá ser
escolhida aquela que se revelar mais favorável
ao trabalhador, parte presumidamente mais

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fraca da relação. Pouco importará, portanto, a escritos, estes poderão ser considerados
hierarquia formal das normas em colisão. inidôneos pelo magistrado, por se convencer
O referido princípio pode ser aplicado que não condizem com a verdade real dos
com base na teoria do conglobamento ou na fatos.
teoria da acumulação. Importante dispositivo legal utilizado pela
A primeira, adotada pacificamente pela Justiça do Trabalho, nesse sentido, consta do
doutrina e jurisprudência pátria, determina a artigo 9º da CLT, o qual considera nulos os
aplicação da norma mais favorável como um atos que tenham o intuito de fraudar ou impedir
todo, respeitado o seu conjunto, não se a aplicação de seus preceitos legais.
admitindo o seu fracionamento.
A teoria da acumulação, também Art. 9.º Serão nulos de pleno direito os
chamada de atomista, considera os benefícios atos praticados com o objetivo de
concedidos nas normas, extraindo de cada desvirtuar, impedir ou fraudar a
uma delas aquilo que for mais favorável ao aplicação dos preceitos contidos na
trabalhador, aglutinando-os. Formar-se-ia, com presente Consolidação.
isso, uma norma jurídica inexistente, fruto de
parcelas de distintos dispositivos legais, o que Deve-se ressaltar, todavia, que o
faz com que esta teoria seja muito criticada presente princípio não é sempre aplicável a
pela doutrina. favor do empregado, havendo também
situações em que este dissimula documentos,
4.1.2 Princípio da primazia da realidade tal como ocorre nos casos em que
trabalhadores, de má-fé, destroem os controles
A prática nos revela que, na maioria das de frequência, tendo por objetivo pleitear na
vezes, é o empregador quem fornece e Justiça do Trabalho horas extraordinárias que
manipula os documentos comprovadores do não foram, na realidade, prestadas.
vínculo empregatício. Assim sendo, objetivando Neste caso, incumbirá ao empregador
escapar ao campo de incidência das leis trazer ao processo outros meios de prova,
trabalhistas, muitos são os casos em que se capazes de mostrar ao julgador a real carga
dissimulam as reais condições de trabalho, horária desempenhada pelo obreiro.
forjando-se a caracterização de contratos de Ainda no tocante ao tema de controle de
direito comum. frequência e do ônus de sua prova, importante
É nesse momento, pois, que o princípio é a leitura da Súmula 338 do TST. Os
da primazia da realidade desempenha chamados controles de frequência britânicos
importante função de proteção ao empregado, (que marcam a entrada e a saída de todos os
ao determinar que, em caso de conflito entre as empregados da empresa no mesmo minuto,
provas documentais trazidas aos autos do todos os dias), por exemplo, é presumidamente
processo e as reais condições de trabalho, inidôneo, em razão de seu caráter obviamente
estas deverão prevalecer. infactível.
Destaca-se, aqui, como corolário lógico
desse princípio, o que a doutrina chama de Súmula 338. JORNADA DE
contrato-realidade, vale dizer, haverá relação TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA
jurídica de trabalho independentemente de PROVA.
convenção previamente firmada entre as I – É ônus do empregador que conta
partes, sendo relevante a forma pela qual o com mais de 10 (dez) empregados o
serviço tenha efetivamente sido prestado. registro da jornada de trabalho na
A aplicação do princípio da primazia da forma do art. 74, § 2.º, da CLT. A não
realidade não significa dizer, por óbvio, que as apresentação injustificada dos
provas documentais perdem completamente controles de frequência gera
seu valor probatório no processo trabalhista. presunção relativa de veracidade da
Ocorre que, caso sejam trazidos aos autos jornada de trabalho, a qual pode ser
outros meios idôneos de prova (por exemplo, elidida por prova em contrário.
testemunhas), contradizendo II – A presunção de veracidade da
o disposto nos documentos jornada de trabalho, ainda que

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prevista em instrumento normativo, O direito ao aviso prévio é


pode ser elidida por prova em irrenunciável pelo empregado. O
contrário. pedido de dispensa de cumprimento
III – Os cartões de ponto que não exime o empregador de pagar o
demonstram horários de entrada e respectivo valor, salvo comprovação
saída uniformes são inválidos como de haver o prestador dos serviços
meio de prova, invertendo-se o ônus obtido novo emprego.
da prova, relativo às horas extras, que
passa a ser do empregador, Não se deve, todavia, confundir as
prevalecendo a jornada da inicial se hipóteses de incidência da referida Súmula. No
dele não se desincumbir. caso de pedido de demissão pelo empregado,
ele será obrigado a cumprir o aviso prévio ou
4.1.3 Princípio da irrenunciabilidade de indenizá-lo. A renúncia, então, só será admitida
direitos nas hipóteses de aviso prévio concedido pelo
empregador, devendo o empregado, para não
O Direito do Trabalho distingue-se do sofrer prejuízo, renunciar ao cumprimento do
direito comum, dentre outros aspectos, pelo término do aviso prévio, tendo o direito a
fato de não admitir a renúncia dos direitos e receber os valores equivalentes até aquele dia
garantias de proteção ao empregado. Sendo trabalho, além das verbas rescisórias.
estas de ordem pública e de natureza A ideia aqui é obter a solução mais
alimentar, revela-se, portanto, inaceitável a sua vantajosa ao trabalhador, visto que obrigá-lo a
disponibilidade. cumprir o aviso prévio na empresa antiga,
Se um empregado vier, então, a quando ele já se encontra vinculado a outro
renunciar alguma verba trabalhista, configura- patrão, acabaria por prejudicá-lo, o que iria de
se uma presunção absoluta de coação por encontro ao próprio espírito protetor do Direito
parte do empregador, pressão esta não física, trabalhista.
porém econômica, decorrente do medo de ser
despedido.
É exatamente em razão dessa posição 4.1.3.1 Renúncia e transação no
temerosa dos empregados, dessa Direito do Trabalho
desigualdade de condições entre as partes no
contrato de trabalho, que se proíbe que eles Perfeitamente admissível, por sua vez, é
aceitem abrir mão de qualquer dos direitos a transação realizada entre empregado e
trabalhistas que o ordenamento jurídico lhes empregador em demanda trabalhista já
confere. ajuizada, desde que realizada antes do trânsito
Por força do princípio ora estudado, em julgado da decisão judicial. Isto porque a
assim, qualquer acordo de vontade entre transação, forma de extinção de obrigação
empregador e empregado que promova a mediante mútuas concessões, pressupõe a
supressão de direitos a este garantidos pela dúvida quanto aos direitos pleiteados,
CLT serão inválidos, podendo-se ajuizar ação enquanto a coisa julgada comprova sua
junto à Justiça do Trabalho a fim de pleitear as certeza.
diferenças de verbas devidas. Assim sendo, o juiz do trabalho não
Uma exceção é encontrada, entretanto, poderá, após transitada em julgado a decisão
no que se refere ao instituto do aviso prévio, o judicial, homologar eventuais acordos em que o
qual poderá ser renunciado pelo empregado, empregado abra mão de direitos por ela
caso este comprove possuir novo emprego. reconhecidos.
Nesse sentido dispõe a Súmula 276 do TST. Distinto, porém, é o instituto da
arbitragem, não sendo esta permitida no Direito
Súmula 276, TST. AVISO PRÉVIO. do Trabalho, em razão de este ramo jurídico
RENÚNCIA PELO EMPREGADO. envolver direitos individuais indisponíveis.
Qualquer acordo em sentido contrário,
portanto, será considerado nulo de pleno
direito.

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4.1.4 Princípio da continuidade da


relação de emprego

A regra geral no Direito trabalhista,


diferentemente dos contratos de direito comum,
reza que os contratos de trabalho são firmados
por prazo indeterminado, salvo expressa
disposição legal em contrário, tal como ocorre
no artigo 443, §2º, a, b e c da CLT.
As limitações dos contratos de trabalho a
certo período de tempo previamente fixado
pelo empregador serão, então, consideradas
juridicamente inválidas.
À luz do princípio em tela, esclarece a
Súmula 212 do TST que, em virtude da
presunção da continuidade da relação de
emprego, em caso de ruptura desta, caberá ao
empregador o ônus da prova do despedimento.

Súmula 212, TST. DESPEDIMENTO.


ÔNUS DA PROVA.
O ônus de provar o término do
contrato de trabalho, quando negados
a prestação de serviço e o
despedimento, é do empregador, pois
o princípio da continuidade da relação
de emprego constitui presunção
favorável ao empregado.

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