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INSTITUTO DE ARTES
Introdução
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O conceito de espaço melódico aplicado neste contexto vem do pensamento de Pousseur, quando classifica a
organização de um certo dado harmônico em quatro categorias, sendo uma delas denominada espaço melódico.
“É aqui que se constitui o espaço fictício no qual as escalas musicais permitem que nos movamos, onde podemos
ascender, descer, efetuar passos de diversas grandezas, medir entre pontos diferentes distâncias de variações
consideráveis” (POUSSEUR, 2009, p.177) Ao falar em espaço fictício, Henri Pousseur refere-se à essência da
melodia, a espacialidade dos intervalos, distância espacial entre uma nota e outra.
Materiais harmônicos
Para gerar material harmônico, foram usadas duas das principais técnicas da
segunda metade do século XX: redes harmônicas de Pousseur e a multiplicação de acordes
de Boulez. As redes harmônicas é uma técnica de estruturação de alturas e surge da vontade
do compositor de “rimar” Monteverdi com Webern, muito por consequência de uma crítica
Como pode ser observado nas imagens acima, primeiramente a melodia de
Gesualdo foi projetada em uma rede harmônica composta por eixos de oitavas, quintas e
terças menores, os quais conseguem comportar a estrutura do material a ser manipulado de
forma a representa-lo. Em seguida tais eixos foram distorcidos, os de oitava passaram ser
sétimas maiores, os de quinta transformaram-se em quartas justas e os de terça menor foram
mantidos, dessa forma obtemos um novo material, porém, mantendo-se certas características
do original, como mostra a figura abaixo.
O próximo passo foi dividir o aglomerado gerado pela rede harmônica em dois
outros aglomerados e aplicar a multiplicação de Boulez afim de expandir o acorde e gerar
um aglomerado mais complexo.
Construção do material inicial
Live-Electronics
Harmonizer: Composto por oito pitch shifter, esse subpatch utiliza o objeto
gzimo~ dentro de um subpatch que calcula FFT. Gzimo~ implementa um pitch shifter no
domínio da frequência. Este objeto funciona através de uma análise dos bins de frequência
de um sinal passando por FFT, encontrando os picos no espectro e deslocando-os no eixo da
frequência e assim transpondo o som. Esse processamento possui seis tipos de multiplicação
intervalar, o primeiro transpõe para as notas Sib, Dó, Mi, Fá#, Ré, Si, Ré# e Fá, ou seja, são
as oito primeiras notas do material harmônico-melódico do trombone. A partir do segundo
preset o harmonizer vai contraindo e expandindo os intervalos em relação às oito primeiras
notas do material original do trombone. Para isso calcula-se a distância em semitons da
frequência mais grave até a mais aguda contidas no material do trombone, após isso é
definido um âmbito para alocar o material distorcido, calcula-se então a razão entre esse
âmbito, em seguida faz-se a raiz da distância entre frequência grave e aguda, multiplicada
pela razão entre o âmbito escolhido, como resultado tem-se o coeficiente que equivale ao
semitom dentro do âmbito escolhido. Portanto, se multiplicarmos cada frequência do material
original pelo coeficiente temos a projeção do material original em outro espaço melódico,
seja ele dilatado ou contraído. Portanto, além do primeiro preset que transpõe o som
instrumental para as notas do material original, temos o segundo que transpõe dentro de um
âmbito de sétima maior (Mi3 até Ré#4); o terceiro, sexta maior (Fá4 até Ré5); quarto preset,
oitava + sétima (Ré5 até Dó7); quinto, trítono (Sol4 até Ré#5) e sexto, oitava + terça (Ré#4
até Sol4).
Considerações finais
Nesta peça, a eletrônica em tempo real age diretamente em três níveis estruturais,
o primeiro é o espectral, onde trabalha de forma a alterar o espectro do som instrumental com
base no material harmônico e melódico, seja na expansão e contração do mesmo, assim
desdobrando características especificas e gerando aglomerados densos, seja na criação de
linhas de delays em bandas de frequência, ou mesmo na granulação do som do trombone. No
nível estrutural e formal, a eletrônica ao interagir com a escritura instrumental acaba por gerar
uma estrutura formal, onde os processamentos ativados na penúltima sessão da peça se
desdobram ao ponto de criar uma outra sessão, ou seja, este tipo de interação opera no nível
macroestrutural e formal da obra. E por fim, o nível espacial, o qual todos os sons processados
são espacializados compondo um espaço sonoro através de trajetórias.
Bibliografia
POUSSER, Henri. Apoteose de Rameau e outros ensaios. Sao Paulo: Editora Unesp, 2009.