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Desencontro

Só quem procura sabe como há dias a


de imensa paz deserta; pelas ruas b
a luz perpassa dividida em duas: b
a luz que pousa nas paredes frias, a
outra que oscila desenhando estrias a
nos corpos ascendentes como luas b
suspensas, vagas, deslizantes, nuas, b
alheias, recortadas e sombrias. a

E nada coexiste. Nenhum gesto c


a um gesto corresponde; olhar nenhum d
perfura a placidez, como de incesto, c

de procurar em vão; em vão desponta e


a solidão sem fim, sem nome algum - d
- que mesmo o que se encontra não se encontra. f

Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'


Jorge Cândido de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919
— Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista,
dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Jorge de Sena escreveu 20 poesias(1º Perseguição em 1942 e o ultimo Poesia 3 em
1978), escreveu 6 livros ficção, 4 livros de drama.
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra
poética.
Quem diz que Amor é falso ou enganoso
Quem diz que Amor é falso ou enganoso, a
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido, b
Sem falta lhe terá bem merecido b
Que lhe seja cruel ou rigoroso. a

Amor é brando, é doce, e é piedoso. a


Quem o contrário diz não seja crido; b
Seja por cego e apaixonado tido, b
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso. a

Se males faz Amor em mim se vêem; c


Em mim mostrando todo o seu rigor, d
Ao mundo quis mostrar quanto podia. e

Mas todas suas iras são de Amor; d


Todos os seus males são um bem, f
Que eu por todo outro bem não trocaria. e

Luís de Camões

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