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Começou a guerra entre João Lourenço e José

Eduardo dos Santos

Tal como se antevia as primeiras “altercações” entre JLo e JES giram


em torno da composição do novo Governo – objecto de barganha – e
do esquema protocolar a adoptar no dia da tomada de posse

Começaram os primeiros choques e desinteligências entre os presidentes


cessante e eleito de Angola, José Eduardo dos Santos e João Lourenço, o
que a prosseguir acabará por colocá-los praticamente em barricadas
diferentes. E tal como o Correio Angolense antevia, na primeira linha dos
desaguisados estão dois assuntos incontornáveis – a composição do novo
Governo e o esquema protocolar a adoptar para o dia da tomada de posse,
aprazado para a próxima quinta-feira, 21.

Na passada sexta-feira, 15, o Bureau Político do MPLA analisou os dois


assuntos. Apreciou o calendário de investidura do Presidente da República,
do Vice-Presidente, dos deputados à Assembleia Nacional e do Executivo;
e tomou, por outro lado, conhecimento dos departamentos que vão compor
os órgãos auxiliares do novo Presidente, João Lourenço. Já se sabe, em
princípio, que a filosofia perseguida será a de “desengordurar” o Executivo,
diminuindo-se, o mais possível, o número de pastas ministeriais; mas a
declaração produzida no final da reunião de cúpula do “Maioritário” não
entra em detalhes sobre isso, nem quanto a nomes.

Contudo, a apreciação do assunto pelo BP não foi tão pacífica quanto se faz
transparecer para consumo da opinião pública. Este jornal soube que a
querela que já se antevia em relação a quem competiria o papel leonino na
elaboração do desenho departamental e na indicação de nomes para o
Executivo acabou por acontecer. Fonte familiarizada com a questão
confidenciou a este jornal que José Eduardo dos Santos, usando a
prerrogativa que lhe é conferida pelos estatutos do partido nessa matéria,
sentiu-se fortemente compelido a intervir na composição do futuro
Executivo.

Mais a mais porque os nomes escolhidos por João Lourenço não são de
todo satisfatórios para o líder do MPLA e Presidente cessante. “Os nomes
que saem da boca de JLo prenunciam um desastre”, indicou, de modo
enfático, a fonte.

"O que fica evidente em meio a tudo isso é que, provavelmente, o


Secretariado do Bureau Político do MPLA terá sido compelido a
passar a limpo e a negociar a composição do futuro Governo, tendo
diante de si duas listas: a do presidente cessante, que de acordo com os
Estatutos do MPLA tem mandato para o fazer, e a do novo Presidente,
que tem necessidade de colocar as suas impressões digitais no novo
Executivo."

O que fica evidente em meio a tudo isso é que o Secretariado do Bureau


Político do MPLA terá sido compelido a passar a limpo e a negociar a
composição do futuro Governo, tendo diante de si duas listas: a do
presidente cessante, que de acordo com os Estatutos do MPLA tem
mandato para o fazer, e a do novo Presidente, que tem necessidade de
colocar as suas impressões digitais no novo Executivo. Contudo, nessa
controversa matéria em que não transpiram nomes nem cargos, uma coisa
para já parece ser incontornável, prenunciando meia-vitória por parte do
novo Presidente da República. Na barganha havida, João Lourenço pode ter
tido “luz verde” para mudar a equipa económica do Executivo e o
Conselho de Administração da maior empresa do país, a Sonangol. Só não
se também o que terá tido de dar em troca nessa barganha.

Mas, conforme já se avançou, há desinteligências igualmente no que diz


respeito ao dia da investidura. As equipas de transição de JES e JL – que
tratam da passagem de pastas – não se estão a entender em relação ao
esquema protocolar que será adoptado na cerimónia. Até onde o Correio
Angolense sabe o pomo de discórdia começa no número de chefes de
Estado e de Governo a convidar para a investidura. A equipa da
administração cessante está a “barrar” sobretudo convites a países que
andaram distantes do presidente José Eduardo dos Santos. Curiosamente ao
que consta, é que as ordens de pagamentos para o “transporte” dos
convidados, emitidas pela administração cessante, estão a ser negadas pelos
bancos correspondentes.

Mas mais significativo ainda é o facto de José Eduardo dos Santos, pelos
vistos, nessa cerimónia pretender ser tratado com determinados privilégios
que “gozava no seu tempo”, mesmo depois do juramento de posse pelo
novo Chefe de Estado. Por outro lado, assegura a fonte, ele faz questão de
sentar-se numa cadeira distintiva, relegando João Lourenço a uma posição
de subalternizado.

“Caso contrário”, refere a fonte deste jornal, “José Eduardo dos Santos
pondera não assistir à cerimónia. E se assistir, seja como for, sairá antes do
novo Presidente da República”, quando as normas de etiqueta do
cerimonial presidencial prescrevem que prevaleça o contrário: o Chefe de
Estado é o primeiro a sair.

No entanto, com o tempo a correr veloz para o dia em causa – na verdade já


só faltam cinco dias –, pensa-se que até lá a poeira irá assentar e o bom
senso prevalecerá, quanto mais não seja por estarem em causa questões
que, embora formais, têm o seu peso em matéria de Estado.

Para já, num exercício de descompressão para fugir ao forte assédio a que
tem sido sujeito nos últimos dias na emblemática zona de Alvalade, o novo
casal presidencial irá aguardar pelo dia da investidura numa casa que é
propriedade do Ministério da Defesa e localizada no Morro da Luz. Quanto
ao Presidente cessante, este já desovou há muito o Palácio da Cidade Alta,
tendo-se mudado para aquela que é a sua residência privada de pós-
mandato – a mansão do Miramar.

Correio Angolense

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