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Geopolítica e Igreja: trechos traduzidos

Antonio Ferreira de Melo Junior

“Um dos erros mais cometidos quando se investiga as posições da Igreja é o de


levá-las ao pé da letra, de considerá-las como uma resposta de curto prazo
para os problemas conjunturais. Isso ignora que a Igreja não tem que arcar
com o fardo da democracia; que seu tempo não é o tempo dos indivíduos, nem
o de outras organizações da sociedade. A Igreja tem a paciência de uma
aranha, ela trabalha em perspectivas temporais que não são medidas em anos
ou décadas, mas em séculos”.
GRAZIANO, Manlio. L‟Église catholique et les “autres”: une stratégie
universelle. Outre-Terre, 2006, no. 17, p. 54. (Tradução livre minha).

“Mas a Igreja voltou a ser uma potência entre as grandes potências quando ela
passou a confiar em sua longa experiência política: notadamente, na sua
capacidade para identificar algumas das principais tendências na sociedade,
de modo a antecipá-las, representá-las publicamente e dar-lhes inspiração
espiritual. Este é o caso do processo de unificação européia e da crise
demográfica que está afetando as velhas potências industrializadas. [...] A
Igreja reivindica abertamente o retorno da religião como critério
discriminatório da vida pública, e nesta frente, ela pode dar voz a anseios
semelhantes expressos por outros líderes religiosos: cristãos, muçulmanos,
hindus e judeus. Este é o cerne da "aliança de civilidade” promovida por João
Paulo II e seu sucessor Bento XVI, é também o prisma por meio do qual se
olha para a evolução futura da Igreja Católica como grande potência na
política mundial”.
GRAZIANO, Manlio. La Chiesa cattolica. In: ATLANTI Geopolitico
Treccani. Roma: Istituto della Enciclopedia Italiana, 2007. Não paginado.
(Tradução livre minha).

“A Igreja Católica Romana é talvez um caso extremo de fé tradicional


com uma estrutura hierárquica altamente organizada que opera em
nível global, mas que precisa se ajustar aos contextos regionais e locais
que podem mudar e subverter suas doutrinas centrais, princípios
operacionais e compromissos políticos com autoridades seculares. O
dilema central da Igreja (como de todas as igrejas e demais tradições
religiosas) é que seu foco sobre a expansão e aprofundamento de seu
„espaço sagrado‟, almejando o maior número possível de pessoas em
sua comunhão antes do Dia do Juízo Final, requer uma visão imperial
que necessariamente conflita com sua garantia de plena liberdade sem
coerção dentro da comunhão com a Igreja [...]. A Igreja Católica deve,
assim, reconciliar um círculo impossível: ela é uma organização
altamente centralizada e disciplinada, que deve fundamentalmente
operar por meio da inscrição, e não da coerção, de seus membros, se é
para ser fiel ao seu evangelho".
AGNEW, John. Deus Vult: Geopolitics of the Catholic Church. Geopolitics,
2010, v. 15, p. 43. (Tradução livre minha).
“Para os críticos, é uma multinacional do sagrado, que tenta dialogar
em igualdade com os políticos para obter privilégios de isenção fiscal,
com leis em seu favor, e por manter um poder mais consciente
vinculado às leis do Estado. Para os crentes, é uma realidade fundada
sobre a Revelação de Deus aos homens e que se refere a uma dimensão
ultraterrena, impossível de classificar e compreender somente segundo
as leis da ciência humana. Desde sempre, no entanto, a Igreja é uma
instituição global, talvez a primeira verdadeiramente global da história,
capaz de radicar-se no Ocidente e no Oriente, no Norte e no Sul do
planeta”
MASTROFINI, Fabrizio. Geopolitica della Chiesa cattolica. Roma: Editori
Laterza, 2006, p. V. (Tradução livre minha).

“Minha tese é a seguinte: fala-se categoricamente de espaço e tempo


enquanto condições da possibilidade da história. Mas „espaço‟ tem
dentro de si uma história. Espaço não é somente um pressuposto
metaistórico do pensamento da história, ele também é historicidade,
porque ele mudou social, econômica e politicamente. Essa dupla função
da categoria espacial já originou inúmeros equívocos, os quais tento
esclarecer em seguida”.
KOSELLECK, Reinhart. Zeitschichten: Studien zur Historik.
Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 2000, p. 82. (Tradução livre minha).

“Em termos gerais, como a aura do papado desaparece, o caráter


institucional da Igreja enrijece sua consciente, e isso contradiz em
muitos aspectos os princípios éticos e sociais geralmente aceitos, como
o Estado de direito, a Subsidiariedade e a autonomia administrativa. A
maior religião do mundo tornou-se governada por um pequeno círculo
de homens velhos, os quais retiram em nome de Deus e de seus Bispos
a responsabilidade humana, enquanto pastores e fiéis obedientes às
decisões da Igreja Universal, sem a preocupação com a plausibilidade
disso no nível local. O questionamento à mensagem eclesiástica mesma
está mais e mais em questão”.
KAUFMANN, Franz-Xaver. Das Elend des römischen
Zentralismus. Frankfürter Allgemeine Zeitung, 3 Juli, 2012. Não paginado.
(Tradução livre minha).

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