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Características do comportamento empreendedor: um estudo com homens e mulheres

empreendedores

Introdução

O empreendedorismo representa atualmente uma importante forma de inserção de homens e

mulheres no ambiente sócio econômico. A opção de indivíduos pela atividade empreendedora

resulta em um processo de empreender, o que pode se compreendido por intermédio da

análise de diversos fatores.

Um desses fatores é o comportamento de empreendedores, que constitui atualmente uma das

linhas de pesquisa em empreendedorismo, tendo em vista que parece existir uma tendência

marcante na maneira como empreendedores agem e se comportam.

Apesar da relevância do tema e do número de estudos já realizados sobre o assunto, pesquisas

nessa área indicam a necessidade de maior exploração do fenômeno, para ampliar as

conclusões sobre o assunto, bem como fornecer explicações mais precisas sobre questões de

pesquisas relacionadas à definição de empreendedores a partir do seu comportamento

(CARLAND & CARLAND, 1988). Uma dessas questões está ligada a possíveis diferenças

comportamentais entre empreendedores do sexo feminino ou do sexo masculino.

Ainda que alguns estudos tenham abordado a questão do gênero e empreendedorismo (ROSA

et al, 1994; SOLOMON & FERNALD, 1988; JOHNSON & STOREY in ALLEN &

TRUMAN, 1993; MACHADO et al, 2002; MUKHTAR, 1998; NEIDER, 1987 e SEXTON e

BOWMAN-UPTON, 1990), são insuficientes os estudos cujo foco de análise principal é o

comportamento. Deste modo, não há ainda um consenso sobre possíveis variações de gênero

no comportamento de empreendedores.
Sendo assim, o objetivo deste estudo é o de investigar características do comportamento

empreendedor em homens e mulheres empreendedores, a fim de verificar a existência ou não

de diferenças.

Inicialmente, apresenta-se uma contextualização sobre o comportamento empreendedor, bem

como o resultado de outras pesquisas que investigaram o assunto em empreendedores do sexo

masculino e feminino. Em seguida, a metodologia esclarece os procedimentos utilizados para

a realização do estudo e, após isso, os dados e a respectiva análise são apresentados.

Características do comportamento empreendedor

A literatura apresenta uma vasta descrição de características pessoais que foram observadas

no modo de agir por parte de empreendedores, tal como McClelland (1987), que encontrou

até 42 diferentes características referentes a empreendedores bem sucedidos. Convém

ressaltar que, do ponto de vista do comportamento, em geral, os empreendedores são tidos

como indivíduos criativos e, sendo assim, os traços de seu comportamento correspondem aos

de indivíduos criativos (GARDNER, 1996), pois, embora não constituindo um grupo

homogêneo, os empreendedores são tidos como "rebeldes criativos" (KETS DE VRIES in

BIRLEY e MUZYKA, 2001). Desta forma, para Filion (1999, p.19), os empreendedores são

"pessoas criativas, marcadas pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos".

Para Solomon & Fernald (1988) a necessidade de realização e a propensão a assumir riscos

estão entre as principais características presentes no modo de agir de empreendedores. A

necessidade de realização foi inicialmente apontada por um dos pioneiros no estudo do

comportamento de empreendedores (McCLELLAND, 1987), salientando que a necessidade

de realização é uma motivação social para se superar. Para McClelland (in SEXTON E

BOWMAN, 1985) esta necessidade é um traço psicológico, que se manifesta através: a) da

responsabilidade pessoal pelas decisões; b) do estabelecimento de objetivos e a realização


destes, mediante esforço e; c) o desejo de obter feedbacks. Essa necessidade de realização

está acompanhada de um desejo de ser aplaudido e reconhecido (KETS DE VRIES, 1985,

2001). Por outro lado, esse aspecto é o que contribui para que os empreendedores tenham em

geral, um otimismo contagiante, ao mesmo tempo em que não gostam de trabalhos repetitivos

e rotineiros.

Ao estudar o comportamento de empreendedores bem sucedidos McClelland (1987)

identificou três grupos de características: a) orientação a proatividade, incluindo-se aqui a

iniciativa e a assertividade; b) orientação para a realização: detectam oportunidades,

valorizam a qualidade do trabalho, bem como o planejamento sistemático e a avaliação dos

resultados; c) compromisso com os outros, reconhecendo a importância de boas relações.

Especificamente sobre características de comportamento o autor destaca a auto confiança, a

persistência e a persuasão.

No que diz respeito ao aspecto cognitivo, Baron (1998) afirma que o engajamento dos

empreendedores no trabalho resulta em que experiências afetivas ligadas ao trabalho ocorram

com maior intensidade e o pensamento do empreendedor tende assim, a ignorar situações

passadas, concentrando seus esforços mentais em eventos futuros. Ainda segundo Baron

(1990), o excesso de confiança e a ilusão de controle também são características dos

empreendedores.

No que se refere ao controle, Kets de Vries ( In BIRLEY, 2001) salienta que a necessidade de

controle por parte de empreendedores contribui para a forma como eles lidam com o poder.

Segundo o autor, os empreendedores "gostam de estar no controle, mas temem ser

controlados por outros" (p.4). Essa característica pode também ser associada ao desejo de

independência, pois os empreendedores tendem a fazer as coisas do seu jeito e no tempo que

determinam, demonstrando assim uma auto confiança e procurando convencer os outros a

seguir a maneira deles agirem (HIRSRICH, 1989).


Além desses aspectos, Sexton e Bowman (1985) afirmam que os empreendedores tendem a:

a) tolerar situações de ambigüidade e risco;

b) preferem autonomia (inclui independência);

c) resistem a conformidade;

d) gostam de assumir riscos;

e) adaptam-se facilmente a mudanças;

f) têm baixa necessidade de suporte.

Tendo em vista o predomínio dessas características no comportamento dos empreendedores,

segundo Sexton e Bowman (1985), há uma predisposição deles ao stress e à solidão. Essa

possibilidade é ainda mais reforçada considerando que, em geral, os empreendedores

dispendem um grande esforço e energia no trabalho que realizam, porque trabalham, em

geral, de forma árdua.

Outro aspecto, encontrado em outros estudos sobre o comportamento de empreendedores, diz

respeito ao elevado lócus de controle interno (SEXTON & BOWMAN, 1985; HISRICH,

1989; SOLOMON E FERNALD,1988), o que significa que eles geralmente acreditam que as

situações são muito mais o resultado de suas ações, do que devidas ao acaso. Esse traço

contribui para que eles sejam fortemente perseverantes.

Em uma perspectiva abrangente, Brockhaus (1982) considera que entre as características do

empreendedor estão: lócus interno de controle, propensão ao risco, tolerância à ambigüidade,

criatividade, necessidade de realização, visão, alta energia, postura estratégica inovadora e

criativa e auto confiança.

Apesar da literatura apontar outros traços, como por exemplo ambição, agressão, alto senso de

responsabilidade (SOLOMON & FERNALD, 1988), para fins deste estudo, elegeu-se apenas

algumas características, a partir do rol das que são encontradas na maioria dos estudos. Deste
modo, um conjunto de nove características foi considerado como as principais características

do comportamento empreendedor e são:

• Necessidade de reconhecimento;

• Necessidade de autonomia e independência;

• Necessidade de poder e status;

• Necessidade de segurança;

• Necessidade de auto realização e inovação;

• Capacidade de persuasão;

• Auto-confiança;

• Disposição ao risco;

• Perseverança.

Não obstante a intensidade com que essas características são encontradas em empreendedores,

alguns estudos debatem a possibilidade de existir diferenças entre as características do modo

de agir por homens ou mulheres empreendedores. Por essa razão, a seguir aborda-se

resultados de estudos dessa natureza.

Comportamento empreendedor e gênero

Embora existam estudos sobre o comportamento empreendedor de homens e mulheres, não há

um delineamento claro sobre a questão. Em geral, algumas diferenças têm sido constatadas,

entretanto, estas não são suficientes para uma abordagem comportamental mais ampla.

Apesar disso, algumas tendências podem ser percebidas em estudos realizados anteriormente,

tal como o de Sexton e Bowman-Upton (1990), que apontam que há mais semelhanças do que

diferenças ligadas ao gênero e características psicológicas no papel empreendedor.

Investigando o comportamento empreendedor em 105 mulheres e 69 homens eles constataram


uma significativa diferença em relação ao nível de energia e propensão ao risco, bem como

uma diferença a maior no tocante a autonomia e desejo de mudança por parte das mulheres.

Algumas diferenças de características comportamentais são assinaladas por Hisrich (1989),

como por exemplo, enquanto que os homens apresentaram um elevado nível de auto

confiança, as mulheres apresentaram um nível médio.

Carland e Carland (1991) examinaram três variáveis do comportamento empreendedor em

homens e mulheres empreendedores: a necessidade de realização, a propensão ao risco e a

preferência por inovação. Eles não encontraram diferenças significativas, embora as medidas

para as mulheres foram levemente inferiores que a dos homens. Apesar do resultado, os

autores ressaltaram a necessidade de pesquisas adicionais na área.

Outros estudos abordaram a perspectiva de gênero no empreendedorismo, porém o foco

central de análise é a estrutura dos negócios ou o estilo gerencial (MUKTHAR, 1998;

MACHADO et al., 2002; ROSA et al., 1994). Assim, Mukthar (1998), procurando responder

a questão se existiam diferenças entre as características de negócios presentes em homens e

mulheres, pesquisou 237 empreendedores e encontrou algumas diferenças, relacionadas à

idade e ao tamanho das empresas. Nesse estudo e nos demais citados, encontraram-se algumas

diferenças, por exemplo, ligadas ao estilo estratégico ou ao tamanho das empresas, que

determinam formas gerenciais diversificadas por homens e mulheres. Tendo em vista que

estas diferenças de estilo e de estrutura dos negócios podem estar associadas a características

pessoais do empreendedor, pois na pequena empresa os empreendedores tomam a maior parte

das decisões, há necessidade de explorar ainda mais essa questão das diferenças de

características comportamentais, uma vez que estas podem representar a causa de estilos

gerenciais diferenciados.
Assim, tomando como referência o grupo de nove características do comportamento

empreendedor, arroladas no item anterior, este artigo apresenta o resultado de um estudo

comparativo realizado junto a homens e mulheres empreendedores.

Metodologia

Este estudo exploratório foi conduzido junto a empreendedores no sul do Brasil, a partir de

uma amostra não probabilística, constituída de empreendedores do sexo masculino e do sexo

feminino.

Os dados foram obtidos em um banco de dados, fornecidos pelo Programa de Pós-Graduação

em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina e referem-se a uma

pesquisa conjunta, realizada pela Escola de Empreendedores da Universidade Federal de

Santa Catarina (ENE) e o SEBRAE, com o objetivo de identificar fatores de êxito e fracasso

de pequenas empresas junto a 600 empreendedores. A partir desse banco de dados, definiu-se

uma amostragem para este estudo, constituída pelos 300 empreendedores de sucesso, sendo

que 204 eram homens e 96 mulheres. Desse grupo selecionado, a representação era de 50% do

setor moveleiro e 50% do setor de confecções, sendo que todos tinham mais de cinco anos de

atividade, gerenciavam suas empresas, as quais representavam a principal fonte de renda para

as suas famílias.

O estudo foi realizado para responder a seguinte pergunta: existem diferenças nas

características do comportamento empreendedor, encontradas em homens e mulheres

empreendedores?

O instrumento que foi utilizado na coleta de dados da pesquisa inicial, realizada pela ENE e

SEBRAE, foi um questionário, composto por 130 questões. Dessas, utilizou-se 22 questões,

as quais eram relativas ao comportamento dos empreendedores. As questões foram


selecionadas para integrar um grupo de nove características do comportamento: a)

necessidade de reconhecimento; b) necessidade de autonomia; c) necessidade de poder e

status; d) necessidade de segurança; e) necessidade de auto realização; f) inovação; g)

persuasão; g) auto confiança; h) disposição ao risco e i) perseverança. Para cada uma das nove

variáveis do comportamento foram utilizadas duas questões, cujas respostas estavam

assinaladas em uma escala do tipo Likert, com opções que representavam uma escala

crescente de menor concordância com a assertiva para maior grau de concordância, iniciando

de 1 a 5.

Primeiramente, procedeu-se a uma análise descritiva dos dados, a fim de averiguar as

tendências de posicionamentos para cada um dos grupos. Posteriormente, foi realizada uma

análise discriminante, a fim de perceber, entre os dois grupos (masculino e feminino), quais as

características que distinguem os membros de um grupo dos de outro. Para essa análise, os

dados da escala Likert foram transformados em quantitativos por meio da técnica

Discriminante Qualitativa. Deste modo, os dados originais foram transformados em tabela

disjuntiva completa e levados para uma Análise Fatorial de Correspondência simples, no

aplicativo STATISTICA. Em seguida, nesses novos dados originados da Análise Fatorial, foi

então realizada a análise discriminante.

Apresentação dos dados e Análise

A tabela 1 apresenta o resumo dos dados para cada uma das variáveis do comportamento, de

acordo com as preferências dos grupos de estudo: o de homens e o de mulheres. Em cada um

dos grupos consta a freqüência por opção na escala, de 1 a 5, representando a menor

concordância para a maior concordância, respectivamente.


Tabela 1: Características do Comportamento empreendedor em homens e mulheres
H O MEN S % MU LH ERES %
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
N e ce s s idade de re conhe cime nto
A o comprar um bem opto pela utilidade e não pela moda 0.00 2.03 21.83 11.17 64.97 7.53 0.00 13.98 8.60 69.89
O principal motivo que me leva a fazer algo é a necessidade de ser reconhecido 26.73 6.44 17.82 15.84 33.17 15.56 4.44 36.67 11.11 32.22

N e ce s s idade de autonomia

A principal razão para abrir a empresa foi a oportunidade de administrar meu próprio tempo e executar as minhas decisões 12.25 0.98 14.71 15.20 56.86 1.06 0.00 17.02 21.28 60.64
É mais fácil submeter-se a modelos e procedimentos rígidos, do que a situações pouco estruturadas, onde não existam regras
previamente estabelecidas 14.21 9.64 24.87 21.32 29.95 12.22 6.67 27.68 23.33 30.00

N e ce s s idade de pode r/s tatus


O dinheiro é uma forma de demonstrar meu sucesso para outros 45.59 8.82 26.96 11.27 7.35 37.50 15.63 21.88 11.46 13.54

N a decisão de integrar um grupo, é mais importante considerar a convivência com pessoas importantes do que pensar em lazer 44.61 17.65 22.55 3.92 11.27 50.00 21.88 17.71 4.17 4.17
Ficaria satisfeito em ocupar um cargo elevado em uma empresa, pois teria a oportunidade de ter uma série de pessoas sob meu
comando 44.00 10.00 17.00 6.50 22.50 38.95 17.89 27.37 1.05 14.74

É mais importante para um chefe reservar informações estratégicas para manter o controle de seus subordinados 21.50 10.00 18.00 15.00 35.50 3.16 7.37 34.74 21.05 33.68

N e ce s s idade de s e gurança
N ão gosto de enfrentar situações novas e mudanças repentinas em minha vida 43.28 11.44 10.95 14.93 19.40 19.79 10.42 31.25 21.88 16.67
U ma caderneta de poupança é mais importante para realizar investimentos futuros do que para servir de garantia para eventuais
imprevistos 32.50 18.50 19.00 17.50 12.50 50.00 2.08 33.33 9.38 5.21

N e ce s s idade de auto re alização e Inovação


A ntes de começar qualquer negócio, defino meus objetivos pessoais 8.54 8.04 27.64 24.62 31.16 16.67 13.33 26.67 21.11 22.22
U ma boa forma para medir o sucesso individual é a riqueza acumulada 19.59 21.13 38.14 5.67 15.46 55.79 9.47 28.42 2.11 4.21
P ara ser percebido pelos outros, é preciso estar em constante mudança 39.20 11.06 21.61 9.05 19.10 40.45 1.12 40.45 10.11 7.87
Tenho uma grande tendência a fazer as coisas de modo diferente das outras pessoas 13.50 8.00 39.50 21.00 18.00 25.26 31.58 10.53 22.11 32.20

Pe rs uas ão
Tenho facilidade em convencer os outros através de minhas opiniões 8.04 8.54 37.19 22.61 23.62 9.68 11.83 39.78 20.43 18.28
Sou capaz de defender idéias nas quais eu não acredito 58.29 10.55 11.06 0.00 20.10 71.88 5.21 9.38 7.29 6.25

A uto confiança
Q uando me deparo com um desafio, penso sempre que sou capaz de superá-lo 1.97 5.91 15.76 31.03 45.32 1.05 7.37 13.68 29.47 48.42
P ara resolver alguns problemas que enfrento, nem sempre confio em minhas capacidades 32.99 17.01 20.62 21.13 8.25 35.87 18.48 20.65 16.30 8.70

D is po s içã o ao ris co
P refiro enfrentar situações nas quais as possibilidades de sucesso sejam moderadas, embora o ganho seja também moderado, do que
situações de maior risco, porém, com maiores ganhos 11.68 9.64 25.38 20.30 32.99 5.43 8.78 30.43 15.22 39.13

Se você fosse um jogador talentoso e tivesse a oportunidade de jogar com um profissional campeão, preferiria apostar uma semana
de salário na sua própria vitória, do que apostar mais para ganhar uma boa quantia 11.17 2.54 16.24 22.34 47.72 10.53 6.32 20.00 25.26 37.89

Pe rs e ve rança
Sou constante em meus projetos e acabo sempre o que comecei 9.90 3.47 23.27 24.75 38.61 6.45 5.38 22.58 19.35 46.24
P ersigo com determinação os objetivos por mim traçados 1.99 4.48 12.94 20.40 60.20 12.13 12.13 19.15 18.09 58.51
Necessidade de Reconhecimento

Ambos os grupos valorizam a utilidade de um bem e não o fato de estar em moda, o que

implica em baixa necessidade de reconhecimento. Do mesmo modo, para a segunda questão

dessa variável, não houve um nível de concordância quanto à necessidade de reconhecimento,

como tem demonstrado a literatura.

Necessidade de Autonomia

A abertura da empresa foi, na maioria das vezes, relacionada ao motivo de autonomia, sendo

levemente mais intensa para as mulheres do que para os homens. Esse resultado coincide com

o encontrado por Sexton e Bowman-Upton (1990), que constatou maior desejo de autonomia

por parte de empreendedoras do sexo feminino. Entretanto, ambos os grupos manifestaram

preferência por esquemas rigorosos, em detrimento de esquemas mais flexíveis.

Necessidade de poder e status

Os dois grupos consideram que a recompensa financeira não é necessariamente um símbolo

de sucesso. Eles também não priorizam o convívio com pessoas importantes quando precisam

decidir integrar-se a um grupo. Do mesmo modo, os grupos atribuíram baixa preferência por

cargos importantes na empresa. Esse resultado difere dos encontrados em outros estudos, pois

não foi constatada elevada necessidade de poder e status por parte desses empreendedores.

Isso nos remete à suposição que esse traço do comportamento pode sofrer variações, de

acordo com a cultura.

Por outro lado, tanto os homens quanto as mulheres julgam importante para um chefe a

atitude de armazenar informações estratégicas para obter controle. Nesse resultado os homens
apresentaram tendência levemente superior na concordância total. Entretanto, enquanto

10,53% das mulheres discordam dessa importância e, portanto, de uma ênfase no controle,

31,5% dos homens o fazem. Assim, entre os homens parece haver menor valorização do

controle no estilo gerencial, do que para as mulheres.

Necessidade de Segurança

O grupo dos homens demonstrou-se mais disposto a enfrentar situações novas, do que as

mulheres, diferente do resultado encontrado por Sexton e Bowman-Upton (1990), que

constataram maior desejo de mudança por parte de mulheres empreendedoras.

Esse resultado nos leva a supor que, entre as mulheres a necessidade de segurança era mais

forte do que no grupo masculino.

Necessidade de auto realização e inovação

Os homens demonstraram inclinação maior a definir objetivos pessoais, do que as mulheres.

Para ambos os grupos, a acumulação de riquezas não traduz a auto realização, embora os

homens a valorizem um pouco mais do que as mulheres.

Quanto à inovação, nenhum dos grupos atribuiu grande importância a constantes mudanças,

mas, mesmo assim, há uma tendência a maior ênfase por parte do grupo masculino. Contudo,

foram as mulheres que afirmaram, em maior percentual, a tendência em fazer as coisas

diferentemente dos outros e, sob esse aspecto, pode ser que algum viés relacionado ao setor de

atividades tenha contribuído para esse posicionamento.


Persuasão

Enquanto os dois grupos afirmam que têm facilidade em convencer os outros de suas idéias,

são os homens que mais são capazes de defender idéias, nas quais não acreditam. Apesar

disso, é importante salientar que os grupos estudados não atribuíram importância a essa

atitude, conduzindo a suposição que os empreendedores defendem mais as idéias nas quais

acreditam.

Auto confiança

Homens e mulheres demonstraram auto confiança, sendo que eles acreditam na sua

capacidade de resolver problemas. Embora sem distinção de gênero, esse resultado coincide

com o de outros estudos sobre comportamento de empreendedores, tais como os de

McClelland (1987), Hirsrich (1989) e Baron (1990).

Disposição ao risco

Embora o resultado esperado fosse uma eleva pré disposição ao risco, tal como apontaram

outros estudos (BROCKHAUS, 1982; SEXTON e BOWMAN, 1985), homens e mulheres

deste estudo não demonstraram disposição elevada em assumir riscos.


Perseverança

Predominou, em ambos os grupos, uma a mesma tendência em perseverar diante das situações

impostas a eles. Essa característica é apontada por McClelland (1987) como presente nos

empreendedores bem sucedidos.

Em resumo, as características do comportamento dos empreendedores deste estudo,

demonstram algumas tendências diferenciadas, associadas ao gênero, as quais provavelmente

contribuem para que estilos gerenciais diferenciados sejam adotados por homens e mulheres.

Dentre estas, destacam-se:

a) maior necessidade de segurança apontada pelas mulheres;

b) maior valorização do controle pelas mulheres;

c) objetividade e valorização da riqueza levemente mais intensa para os homens.

Além disso, em dois grupos de características do comportamento (necessidade de poder e

status e predisposição ao risco), o resultado encontrado não correspondeu ao apontado em

outros estudos, uma vez que, no presente estudo, em ambos os grupos foi encontrada baixa

necessidade de poder e status, assim como baixa predisposição ao risco.

Todavia, quanto às características: capacidade de persuasão, auto confiança e perseverança,

tidas como comuns no comportamento de empreendedores, estas também foram confirmadas

nesse estudo, porém sem diferenças de gênero.

Finalmente, a partir das características do comportamento abordadas neste estudo, foi possível

constatar que existem similaridades no comportamento empreendedor de homens e mulheres,

mas, ao mesmo tempo, há evidências de que alguns traços não seguem exatamente o mesmo

padrão para os dois grupos.


A seguir, apresenta-se a função discriminante de cada um dos grupos estudados, a fim de

conhecer a homogeneidade das características que distinguem cada um dos grupos.

Análise dos resultados da Análise Discriminante

A tabela 2 apresenta os resultados, por grupo de estudo, da análise discriminante.

Tabela 2: Análise discriminante grupos masculino e feminino

Grupo Percent Correct Mas Fem

p= ,68000 p=,32000

Mas 94,11765 192 12

Fem 45,8333 52 44

Total 78,66666 244 56

Através dos resultados, apresentados na tabela 2, pode-se observar que os dados se separam

em dois grupos, onde a função discriminante distingue o grupo masculino do grupo feminino

em um percentual mais definido, ou seja, 94% dos respondentes masculinos têm respostas

características que os colocam no grupo pré definindo de masculino e somente 45% das

mulheres podem ser enquadradas dentro das características próprias do grupo feminino.

Esse resultado demonstra a possibilidade de maior homogeneidade entre as respostas

masculinas, enquanto que as mulheres possuem outras características que as definem como

empreendedoras, tanto as igualando as dos homens, quanto as tornando distintas.


Pode-se supor que essa maior difusão das respondentes femininas esteja relacionada ao menor

tempo das mulheres na atividade empreendedora, uma vez que os homens, em geral, estão há

mais tempo atuando como empresários, do que as mulheres. Por outro lado, esse resultado

indica a necessidade de estudos sobre características do comportamento de mulheres

empreendedoras.

Considerações finais:

O objetivo deste estudo era o de estudar o comportamento de empreendedores, a fim de

verificar possíveis diferenças associadas ao gênero. Como os resultados demonstraram,

encontraram-se similaridades no comportamento dos dois grupos estudados. Mulheres e

homens empreendedores demonstraram elevado nível de auto confiança, de persuasão e de

perseverança. Do mesmo modo, embora contrariando resultados de outros estudos, os dois

grupos apresentaram baixa necessidade de status e poder, assim como baixa disposição ao

risco.

Algumas diferenças foram constatadas, as quais podem exercer influência nos estilos

gerenciais de ambos os grupos. Trata-se da necessidade de segurança, ligeiramente superior

para as mulheres, bem como maior valorização do controle. Por outro lado, o grupo dos

homens demonstrou uma ênfase maior da objetividade e valorização de riqueza por parte do

grupo masculino.

Esses resultados são bem próximos aos encontrados por Carland e Carland (1991), apesar

deles terem examinado apenas três variáveis do comportamento empreendedor em homens e

mulheres empreendedores: a necessidade de realização, a propensão ao risco e a preferência

por inovação. Eles também não encontraram diferenças significativas, embora as medidas
para as mulheres foram levemente inferiores que a dos homens. Apesar do resultado, os

autores ressaltaram a necessidade de pesquisas adicionais na área.

Nesse estudo essa necessidade torna-se ainda mais premente, principalmente com os

resultados da análise discriminante, demonstrando que as características do comportamento de

mulheres empreendedoras parecem não seguir os mesmos padrões de agrupamento, tal como

para o grupo de empreendedores do sexo masculino. Isso pode significar que as características

normalmente apontadas na literatura para explicar o comportamento de empreendedores,

podem não ser suficientes para explicar o comportamento de mulheres empreendedoras.

Além disso, acredita-se que alguns fatores contribuíram para diferenças encontradas e, entre

eles, estariam o tempo de atividade como empreendedor e o setor de atuação. O primeiro

estaria relacionado a maior ou menor segurança na atividade, enquanto que o segundo com a

valorização maior ou menor da inovação.

A limitação desse estudo está relacionada a pouca possibilidade de explorar em maior

profundidade as variáveis do estudo, pois as questões formuladas não eram muitas vezes

suficientes para explicarem o comportamento de maneira mais detalhada.

Nesse sentido, aponta-se como sugestões para outros estudos, a adoção de escalas para

mensurar aspectos do comportamento em mulheres empreendedoras, pois o conhecimento

dessas características pode contribuir para programas de treinamento gerencial mais

adaptados às necessidades desse grupo e não baseados em parâmetros gerais, que muitas

vezes não correspondem às necessidades delas.


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